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Algumas das teorias sobre como a aprendizagem ocorre em um nível neurológico, não são confirmadas diretamente. Vimos alguns indícios neurológicos da correção destas idéias, contudo a maior confirmação está em mostrar como estes princípios fisiológicos e de plasticidade do sistema nervoso, explicam as teorias psicológicas existentes. Recapitulamos aqui a idéia básica de que a atividade eletroquímica dos neurônios constitui na "substância" dos símbolos e signos, representados fisicamente no cérebro, correspondendo às informações e aos significados da consciência. A aprendizagem neuronal se constitui na modificação das conexões sinápticas. Estas modificações são função da correlação entre as frequências de pulsos eletroquímicos dos neurônios conectados, e de um fator "hemocional" codificado na concentração de substâncias bioquímicas capazes de indicar estados favoráveis ou desfavoráveis do organismo em relação a sua sobrevivência.
Antes de adentrarmos nos aspectos mais fisiológicos do cérebro, na base da mente material, é ponderado citar uma visão mais integral da psicologia. Se buscamos conhecer a integridade da pessoa humana, devemos considerar também o espírito Ajustador e a alma, além do corpo e da mente humana que evoluiu.
Em certo sentido, tanto Ken Wilber, quanto a Psicologia Integral51 baseada nos ensinamentos e na ciência interior de Sri Aurobindo, buscam integrar o corpo, a mente, a alma e o espírito em uma personalidade unificada. Contudo este enfoque espiritualizado não é comum no meio acadêmico da ciência materialista. Por isso, Wilber ficou perplexo em descobrir que Fechner, pioneiro das medidas psicofísicas, também considerava com profundidade o eu espiritual que, pela graça da Pessoa Divina, vive no centro causal da pessoa humana. A seguir citamos este filósofo [92]:
... Graças ao trabalho de Fechner, os cientistas, pela primeira vez, puderam mensurar a mente; por volta de meados do século XIX, os métodos da ciência estavam sendo aplicados aos fenômenos mentais. ...
Parecia que todos os manuais concordavam com o fato de que Gustav Fechner fora uma das figuras revolucionárias mais importantes para a fundação da psicologia moderna, e os textos se sucediam cantando louvores ao humano que concebeu uma maneira de aplicar à mente a medida quantitativa, tornando finalmente, deste modo, a psicologia "científica". ...
Isso é tudo o que eu tinha ouvido a respeito de Gustav Fechner até que, vários anos atrás, quando eu explorava uma livraria cheia de livros de filosofia maravilhosamente antigos, fiquei perplexo ao deparar com um livro de título surpreendente - "Life after Death [Vida após a Morte]" - escrito em 1835 por um autor que não era outro senão Gustav Fechner. Suas linhas de abertura eram de causar espanto:
"O humano vive na terra não apenas uma vez, mas três vezes: o primeiro estágio de sua vida é um sono contínuo; o segundo, sono e vigília alternados; o terceiro, vigília eterna."
E assim prosseguia este tratado sobre a vigília eterna.
"No primeiro estágio, o humano vive no escuro, sozinho; no segundo, ele vive associado aos companheiros, e no entanto deles separado, numa luz refletida pela superfície das coisas; no terceiro, sua vida, entrelaçada com ... o espírito universal ... é uma vida superior."
"No primeiro estágio, seu corpo se desenvolve a partir do seu germe, elaborando orgãos para o segundo estágio; neste, sua mente se desenvolve a partir do germe desta, elaborando orgãos para o terceiro estágio; neste, o germe divino se desenvolve, o qual permanece oculto em cada mente humana."
"Ao ato de deixar o primeiro estágio e partir para o segundo nós chamamos de Nascimento; ao de deixar o segundo rumo ao terceiro, de Morte. Nosso caminho do segundo para o terceiro não é mais escuro do que o nosso caminho do primeiro para o segundo: um dos caminhos nos leva a ver o mundo externamente, o outro nos leva a vê-lo internamente."
Do corpo para a mente e daí para o espírito, os três estágios do crescimento da consciência; ...
O próprio Fechner explicava que:
"assim como o nosso corpo pertence ao corpo individual da terra, maior e superior, o nosso espírito pertence ao espírito individual da terra, maior e superior, e que abrange todos os espíritos das criaturas terrestres, de maneira muito parecida com aquela pela qual a terra-corpo abrange os corpos dessas criaturas. Ao mesmo tempo, a terra-espírito não é uma mera reunião de todos os espíritos da terra, mas sim, uma união superior, individualmente consciente, desses espíritos".
E a terra-espírito - Fechner estava traçando um perfil preciso de Gaia - é, ela mesma, simplesmente parte do espírito-divino, e
"o espírito divino é uno, onisciente e realmente todo-consciente, isto é, ele contém toda a consciência do universo e, desse modo, compreende cada consciência individual ... numa ligação superior, a mais elevada das ligações" [29].
A maneira como Fechner aborda a psicologia era, pois, um tipo de abordagem integral: ele queria utilizar a medição empírica e científica não para negar a alma e o espírito, mas para ajudar a elucidá-los.
"Olhar todo o universo material como internamente vivo e consciente é adotar o que Fechner chamava de visão à luz do dia. Considerá-lo como matéria inerte, carente de qualquer importância teleológica, é adotar o que ele chamava de visão noturna. Fechner defendia ardorosamente a visão à luz do dia e esperava que ela pudesse ser embasada indutivamente por meio dos seus experimentos psicofísicos." [95]
Psicologia Integral
Consciência, Espírito,
Psicologia e Terapia
Nota ao Leitor
Uma visão à luz do dia
Ken Wilber
Uma psicologia integral precisa considerar todos os fatores de individualidade unificados pela personalidade humana íntegra. Citamos a seguir algumas abordagens psicológicas que valorizam o espírito:
Além destes conhecimentos evolucionários dispomos também de conhecimentos revelados sobre o espírito que é a realidade pessoal básica:
"Livro de Urantia", Item 12.9, parágrafos 1, 5 e 6: As Realidades Pessoais O espírito é a realidade pessoal básica nos universos; e a personalidade é básica para toda a experiência de progresso com a realidade espiritual. Cada fase da experiência da personalidade, em cada nível sucessivo da progressão no universo, está cheia de pistas para a descoberta de realidades pessoais fascinantes. O verdadeiro destino do humano consiste na criação de novas metas espirituais e, então, em responder aos atrativos cósmicos dessas metas supernas, de valor não-material.
... A vossa religião está-se tornando real porque está emergindo da escravidão do medo e da prisão da superstição. A vossa filosofia luta pela emancipação do dogma e da tradição. A vossa ciência está empenhada em uma disputa antiga entre a verdade e o erro, enquanto luta para libertar-se da limitação da abstração, da escravidão da matemática e da relativa cegueira do materialismo mecanicista.
O humano mortal tem um núcleo espiritual. A mente é um sistema de energia pessoal, que existe em torno de um núcleo espiritual divino e que funciona em um ambiente material. Essa relação viva entre a mente pessoal e o espírito, constitui, pois, o potencial da personalidade eterna no universo. O problema verdadeiro, o desapontamento duradouro, a derrota séria, ou a morte inescapável só podem advir depois que os conceitos egocêntricos tiverem tido a arrogância de deslocar totalmente o poder dominante do núcleo espiritual central, destruindo assim o esquema cósmico de identidade da personalidade.
Infelizmente esta abordagem espiritual da pessoa humana frequentemente é desvalorizada pelo modernismo. No livro "Psicologia Integral", na conclusão da Parte Um, Ken Wilber fala da falta de integridade do materialismo científico que nega a realidade da alma, da espiritualidade e a qualidade da divindade unificadora da Deidade. Em sua linguagem evolucionária impactante, Wilber escreve:
"Psicologia Integral" [92] - Conclusão da Parte Um Ondas, correntes e o eu. Na Parte Um, examinamos rapidamente os níveis básicos, ou ondas básicas, de desenvolvimento (da matéria até o espírito, passando pelo corpo, pela mente e pela alma), as linhas ou correntes individuais de desenvolvimento (cognição, princípios morais, identidade, visões de mundo, valores, etc.) e o eu que navega por ambos. Vimos a importância de "transcender e incluir" e, desse modo, a importância de levar em conta e de abarcar toda e qualquer onda, corrente ou nível no Grande Ninho do Ser.52
Porém, à medida que examinamos com mais cuidado os níveis globais da consciência, não podemos deixar de notar que, com algumas exceções, a imensa maioria dos pesquisadores modernos não inclui, ou nem mesmo reconhece, os níveis superiores, transpessoais, espirituais. Correndo os olhos pelos mapas, que abrangem todo o espectro, vemos que é surpreendente como muitos pesquisadores modernos param em algum ponto em torno do centauro e da visão-lógica e ignoram, ou até mesmo negam, as ondas transpessoais e transcendentais do desenvolvimento superconsciente.
Em épocas pré-modernas, embora seja verdade que grande parte, ou até mesmo a maior parte, da espiritualidade era mágica, mítica e pré-racional, não obstante os iogues, os santos e os sábios mais evoluídos terem tido acesso aos domínios transracionais, transpessoais, transcendentais - eles abarcaram, à sua própria maneira e em seus próprios termos, todo o Grande Ninho do Ser, do subconsciente ao autoconsciente e ao superconsciente. Essas almas muito raras evidenciaram não apenas uma capacidade para o pensamento de segunda-ordem (como demonstram seus amplos modelos de desenvolvimento; veja o Capítulo 12), como também transcenderam totalmente a mente pensante nos estados superconsciente e supramental. E, de modo geral, foram apoiados por toda cultura ao tentar fazer isso. É por isso que dizemos que a sabedoria da pré-modernidade foi incorporada ao Grande Ninho do Ser. E mesmo que o indivíduo médio não tivesse despertado para os níveis superiores no Ninho, era evidente que estes potenciais superiores estavam ao alcance de qualquer pessoa que quisesse seguir o caminho do despertar, da libertação ou da iluminação. A pré-modernidade reconhecia estes domínios superiores, transpessoais, espirituais, ao passo que a modernidade, em sua maior parte, os nega totalmente.
... Se deve haver, de fato, uma psicologia realmente integral (ou qualquer tipo de estudo integral), essa extraordinária ruptura entre a pré-modernidade e a modernidade - espiritual e material - precisa ser confrontada com seriedade. Embora tenha havido um lento movimento nos mundos moderno e pós-moderno para reintroduzir algum tipo de espiritualidade, a visão de mundo "oficial" e mais difundida no Ocidente moderno é, não obstante, a do materialismo científico. E, claramente, não podemos ter uma visão integral dos níveis da consciência se a modernidade e a ciência moderna negam a existência da maioria dos níveis. "Integral" significa, se é que significa alguma coisa, a integração de tudo que é proporcionado à humanidade; e se a modernidade insiste, em vez disso, em considerar inútil tudo que surge à sua frente, então o empreendimento integral está fora dos trilhos desde o princípio. Ao mesmo tempo, não fará bem nenhum, como queriam os românticos, tentar voltar ao passado, numa tentativa de "ressuscitá-lo" por meio de um "ressurgimento do real", pois a modernidade trouxe as suas próprias verdades importantes e introvisões profundas, que também precisam ser levadas em conta; e o ano passado, verdade seja dita, não foi exatamente aquela perfeição toda.
Se precisamos seguir em frente, rumo à brilhante promessa de uma abordagem integral, precisamos de uma maneira de respeitar tanto os pontos fortes como os pontos fracos da modernidade e também da pré-modernidade. Se pudermos descobrir uma maneira coerente de respeitar ambas as verdades, a antiga e a moderna, uma abordagem verdadeiramente integral pode se tornar mais do que um sonho passageiro.
Ken Wilber
Uma das primeiras teorias psicológicas foi chamada de associacionismo53. O seu princípio está sub-entendido nas outras. Basicamente esta teoria afirma que os eventos mentais estão associados de uma forma aprendida na nossa interação com o meio. Por exemplo, as pessoas que sabem ler em geral fazem uma associação entre a imagem da letra "O" e o som que ela representa. Isto ocorre porque o som e a imagem da letra estão associados nas convenções de linguagem da fala e da escrita.
Nossa memória é associativa. Quando eventos ocorrem temporalmente associados no tempo, eles se associam em nossa lembrança também. Outro fato, que comprova este princípio, é a dificuldade de lembrarmos dos sonhos. Durante a vigília o encadeamento espacial do mundo físico constrói uma sequência de associações em nosso cérebro. Por isso conseguimos com alguma facilidade lembrar os ambientes onde estivemos durante o dia. Durante a noite por outro lado as idéias dos sonhos possuem muitas vezes uma associação somente subconsciente. Por não haver uma sequência de imagens relacionadas temos dificuldade de lembrar dos sonhos. Contudo quem logo no início da manhã busca lembrar o seu sonho, percebe como a lembrança de uma parte facilita lembrar outras partes associadas. Assim nossas percepções, idéias e movimentos que ocorrem simultaneamente são associadas em nosso cérebro.
O princípio neurológico que está por trás deste fato psicológico é a equação da aprendizagem que prevê que neurônios com atividade eletroquímica correlacionadas no tempo são associados pelo reforço de inter-conexões sinápticas. Suponha que a atividade eletroquímica de um conjunto de neurônios represente a imagem da letra "O". Suponha que outro conjunto represente o som desta letra. Suponha agora que a imagem e o som desta letra existam simultaneamente em um certo período de aprendizagem. Neurologicamente a atividade dos neurônios que representam a imagem da letra ocorrerá simultaneamente com a dos que representam o seu som. Segundo a equação da aprendizagem estes grupos de neurônios com atividades correlacionadas se conectarão por sinapses. A consequência destas novas conexões é que quando o grupo de neurônios que representam a imagem da letra, estiver ativo, seus pulsos eletroquímicos se propagarão pelas conexões sinápticas recém formadas e ativarão o grupo de neurônios cuja atividade representa o som da letra. Desta forma, a associação de eventos será aprendida, comprendida na rede de interconexões neuronais. Exteriormente quando pensarmos na imagem da letra pensaremos no seu som associado.
A teoria comportamentalista constata que, a medida que o organismo vivo se comporta, ocorrem situações favoráveis e desfavoráveis para sobrevivência. Exemplo de situações favoráveis para sobrevivência são a respiração e ingestão de água e alimentos. Exemplos de situações desfavoráveis são aquelas que provocam feridas e dor. A teoria comportamentalista prevê o aumento da probabilidade de um comportamento que antecede uma situação favorável e uma diminuição desta probabilidade quando o comportamento antecede uma situação desfavorável para vida. Em outras palavras, os estímulos favoráveis e em geral prazeirosos, reforçam os comportamentos e percepções que levaram a ele. Contrariamente os estímulos desfavoráveis e em geral dolorosos, enfraquecem a probabilidade dos comportamentos associados ocorrerem.
De certa forma a teoria comportamentalista é uma generalização da teoria associacionista. A primeira teoria fala explicitamente da associação de eventos captados por nosso cérebro. Já a teoria comportamentalista pressupõe também uma associação dos estados mentais com estados do organismo favoráveis ou desfavoráveis para sobrevivência.
Supomos que o que ocorre bioquimicamente é que a cada estímulo favorável ou desfavorável corresponde uma substância endógena do corpo. A concentração destas substâncias participam da equação geral da aprendizagem. Isso significa que a variação da efetividade das conexões sinápticas é função de um termo dependente da correlação das frequências eletroquímicas e outro termo dependente da concentração de substâncias endógenas que codificam estados do organismo favoráveis ou desfavoráveis para vida (equação 3.2). Chamamos este termo bioquímico de fator "hemocional". Ele representa uma influência do sistema endócrino através do sistema circulatório na plasticidade do sistema nervoso do organismo.54
Vamos ilustrar com um exemplo. Quando comemos, o alimento digerido promove um aumento da concentração de alguma substância que codifica a satisfação do organismo. Esta substância reforça as conexões sinápticas dos neurônios em atividade anteriormente, que codificam as percepções, consciência e ações que levaram à satisfação alimentar. Este reforço conectará as percepções com os movimentos que culminaram com a refeição. Desta forma quando a situação percebida se repetir, a atividade eletroquímica dos neurônios que representam as percepções, se propagarão para o grupo de neurônios que representa as ações realizadas no passado, através das conexões sinápticas recém-criadas. O resultado exterior é que quando diante de uma situação similar a que antecede a refeição, o organismo realizará a ação de se alimentar. Isto é exatamente o que previa a teoria comportamentalista, ou seja, a probabilidade de realização de um comportamento aumenta, se as consequências do comportamento naquela situação são favoráveis para vida.
Intuitivamente associamos o pensamento com o sistema nervoso e o cérebro. Associamos o sentimento com o sistema circulatório e o coração. Biologicamente cada pensamento corresponde a um padrão de atividade eletroquímica de nosso cérebro e cada sentimento a um estado bioquímico de nosso sangue. A teoria associacionista prevê uma associação de pensamentos e sentimentos. Os sentimentos são como um sentido, uma direção, uma valoração do ambiente e de nossas ações. A equação da aprendizagem 3.2 explica, em um nível neurológico, estas teorias psicológicas sobre a aprendizagem cognitiva e motora. Contudo as consequências da compreensão desta teoria sobre nós mesmos é fundamental para o autoconhecimento e amadurecimento saudável de nossa consciência e até para defesa de nossa psique.
Os publicitários usam os conhecimentos da psicologia para "fazer nossa cabeça" de forma a comprarmos o que eles querem. Uma propaganda de cigarro em geral coloca o cigarro e sua marca lado a lado com outras coisas boas. Em nosso cérebro fazemos uma associação do cigarro com estas coisas. Esta associação, as vezes subconsciente, nos faz lembrar das coisas boas quando vemos o cigarro. Além disso o princípio das substâncias que causam o vício é ser funcionalmente como um fator positivo na equação da aprendizagem. Substâncias como a nicotina do cigarro e a cafeína dos refrigerantes e café, de alguma forma reforçam as conexões sinápticas dos neurônios ativos nos momentos anteriores a sua ingestão. Isto aumenta a probabilidade de realizar o comportamento que levou a ingestão dos refrigerantes ou inalação da nicotina. Tudo se processa de forma que cada vez mais a pessoa tome o refrigerante e fume o cigarro. Isto é exatamente o que caracteriza os vícios.
Acreditamos que é possível que as substâncias, reforçadoras das conexões sinápticas que representam os estímulos favoráveis inplícitos na teoria comportamentalista, sejam conhecidas em detalhes por muitas indústrias fabricantes de "alimentos". Esta informação é entretanto mantida secreta nas fórmulas dos fabricantes porquê o seu uso viciante é em certo sentido ilegal. Cabem aos neuro-cientistas determinar exatamente quais são estas substâncias e aos engenheiros eletrônicos projetar instrumentos de medida acessíveis capazes de medir a presença destas substâncias nos alimentos consumidos pela população humilde de conhecimentos neurológicos.
Jean Piaget foi um biólogo e epistemólogo que observou as crianças, e teorizou sobre a gênese do conhecimento no ser humano. Ele escreveu um livro chamado "Epistemologia Genética" [62]. Neste livro Piaget verbaliza a lei de aprendizagem com as seguintes palavras: "O que é forma em uma etapa do conhecimento passa a ser conteúdo na outra".
Uma analogia sugere porque sua teoria sobre a aprendizagem se chama construtivismo. Primeiro aprendemos o que é um tijolo, o conceito de tijolo se forma em nossa consciência, o tijolo é forma nesta etapa do conhecimento. Depois aprendemos o que é uma parede. Uma parede é formada de tijolos. Por isso o tijolo que era forma na etapa anterior passa a ser conteúdo das paredes que são o novo conceito formado. Na próxima etapa de aprendizagem as paredes que eram forma passam a ser conteúdo das casas que são o novo conceito formado. Assim sucessivamente forma-se o conceito de bairro que contém casas e de cidades que contém bairros. Sempre o novo conceito formado em uma etapa da aprendizagem passa a ser um elemento contido nos conjuntos que como um todo formam os novos conceitos.
Piaget observou esta lei, não somente na gênese do conhecimento de uma criança, o próprio conhecimento da humanidade obedece esta lei. Por isso, pegando como exemplo a matemática, Piaget observa a gênese epistemológica desta linguagem. Primeiro desenvolve-se o conceito de número. Depois surgem as operações elementares com os números. Surgem as equações algébricas e funções compostas por números, incógnitas numéricas e operações. Surgem então os sistemas de equações algébricas. Por fim, surgem teoremas, como o da incompletude de Gödel [35], que se referem aos sistemas lógico-matemáticos como um todo.
A explicação neurológica para teoria construtivista de Jean Piaget é simples. O cérebro se divide em diferentes níveis hierárquicos de interconexões e realimentações. Os estímulos eletroquímicos nos neurônios sensoriais representam o primeiro nível de conceitos. Com o tempo os elementos, desta percepção básica, que ocorrem conjuntamente com frequência, tenderão a se conectar por sinapses. Estas conexões convergentes de elementos que aparecem sempre conjuntamente são neurologicamente a realização da aprendizagem de um novo conceito. O novo conceito é representado pelo neurônio que emerge das conexões sinápticas convergentes do nível anterior. Este novo conceito é o conjunto de elementos convergentes. O novo conceito é formado pelos conceitos anteriores nele contidos. Quando os elementos neuronais do primeiro nível estiverem em atividade eletroquímica, esta atividade se somará no ponto de convergência e estará contida na atividade do neurônio do nível seguinte que representa o conjunto como um todo. A próxima etapa de aprendizagem ocorrerá entre os neurônios do segundo nível de interconexões. Estes neurônios também se interconectam de acordo com a lei da aprendizagem. Os que ocorrem conjuntamente se interconectarão sinapticamente em pontos de convergência formando novos conceitos representados pelos neurônios que emergem destes pontos em direção ao terceiro nível de convergência como representado analogamente na próxima figura.
Piaget também observou que a ação e a parte motora do cérebro é fundamental na aprendizagem. Vimos anteriormente que a realimentação é importante na memória de sequências. No item anterior vimos como a lei de aprendizagem explica a formação de conceitos cada vez mais abrangentes. Contudo estes conceitos aprendidos estão no espaço de possibilidades dos sentidos e cognição. A realimentação é fundamental para aprender as relações temporais entre os eventos da consciência. Podemos visualizar cada nível de conexões sinápticas do sistema nervoso como contendo neurônios aferentes vindos dos sentidos, neurônios eferentes cujos impulsos se propagam para região motora, "conexões em arco" para a região motora e de realimentação desta para região sensorial. Conexões para os níveis superiores e vindas destes níveis como representado na próxima figura.
As realimentações ocorreriam não apenas internamente ao sistema nervoso, mas podemos visualizar as consequências de nossas ações no meio ambiente como uma realimentação do universo no indivíduo. Existe um fato observado pelos comportamentalistas, que pode ser explicado pelas realimentaçãos e memorização de sequências fundamentais na aprendizagem segundo o construtivismo.
Observa-se que o estímulo condicionador e o condicionado devem estar defasados para que ocorra a associação. Se forem apresentados simultaneamente não ocorre a aprendizagem. O motivo é que a aprendizagem de sequências necessita o intervalo de tempo pelo qual o estímulo condicionador é realimentado e chega simultaneamente ao estímulo seguinte na região de realimentação. Se os dois estímulos forem simultâneos, as conexões formadas não serão capazes de codificar a relação de causalidade temporal entre o estímulo antecedente e o estímulo consequente.
A teoria psicanálitica é o resultado da observação de Freud primeiramente de si mesmo e depois dos sujeitos que procuravam sua ajuda para resolução de seus problemas psicológicos. O pai da psicanálise falou sobre muitas coisas, como não poderia deixar de ser quando o assunto é a mente humana. Algumas destas coisas são explicáveis pelo que já foi falado. Primeiramente o nome da técnica de análise é "livre associação". Freud constatou, assim como na teoria associacionista, que as lembranças, o discurso, a fala dos psicanalisandos é sempre um encadeamento de fatos psicológicos associados. Quando a associação não é consciente ela existe em uma outra esfera que chamamos aqui de subconsciente. Na hipótese de que a nossa fala seja uma sequência de idéias associadas, e no fato de que estas associações nem sempre são aparentes, está a gênese do conceito de subconsciente, ou inconsciente inferior.
Mas porque se formam estas associações subconscientes, estes "buracos" na fala dos sujeitos? É neste ponto que a teoria comportamentalista vem contribuir. De acordo com ela quando o sujeito vive situações dolorosas, traumatizantes e desfavoráveis para sobrevivência, as lembranças e ações envolvidas são como que deprimidas, pois as conexões sinápticas que correspondem aquelas associações são enfraquecidas ou até se tornam inibitórias. O subconsciente muitas vezes esconde uma fase dolorosa e traumática de nossa vida. Quando a fala e o discurso do sujeito se aproxima destes traumas psíquicos ela se desvia e toma rumos sintomáticos que são cruciais para análise do psicanalista.
A depressão das associações sinápticas relacionadas com eventos traumáticos, pode ser forte o suficiente para fazer com que a vítima pareça estar fugindo de entrar em contato com estes complexos subconscientes. Freud chamou de resistência, esta atitude não premeditada. A cura psicanalítica vem algumas vezes com o conhecimento destes complexos subconscientes traumáticos, e depois com o preenchimento deste vazio com entendimentos e vivências favoráveis sabiamente escolhidas. Isto ocorre quando, pacientemente e com a ajuda do outro, conseguimos lembrar, recontar e reviver os traumas antes submersos no subconsciente reativo, que se tornam lembranças, sem tensão, da nossa experiência de vida.
Nesta vivência terapêutica, de clareamento dos traumas obscurescidos no subconsciente, pode ocorrer o fenômeno da trasferência. O psicanalisando vê a si, e outros personagens da sua vida, no "espelho psicológico" do psicanalista. A resistência pode ser explicada pela lei da aprendizagem. A resistência e o subconsciente são o resultado da depressão das conexões sinápticas diante dos eventos traumáticos e dolorosos da vida. A aminésia por trauma, a resistência e a dificuldade de lembrar dos traumas vividos no passado são explicados pelo fato neurológico de que as conexões sinápticas e neurônios, ativos nos momentos que atecederam o evento traumático, são enfraquecidos. Isto explica porque as percepções, memórias e comportamentos, ao redor de uma vivência traumática, são obscurescidos e submersos no subconsciente de dor da vítima.
O livro "A Interpretação dos Sonhos" [The Interpretation of Dreams], escrito por Freud [32], e sua técnica de interpretação, é outro exemplo de como a teoria associacionista, e consequentemente a equação 3.2 da aprendizagem neurológica, explica um conceito psicológico.
Cada evento onírico é relembrado e depois se pergunta à quem sonhou, que lembranças estão associadas a eles. Por associação aos poucos o significado de cada evento dos sonhos é explicado. É importante dizer que, em cada experiência dos sonhos, as relações, associações e significados são pessoais do indivíduo que sonhou. Isto sugere mais uma vez que os eventos psíquicos estão associados ou conectados um com outro de uma forma particular em cada sujeito. Ou seja, as associações plasmadas nas conexões sinápticas se desenvolvem de acordo com a experiência pessoal de cada um, mas sempre obedecendo a equação da aprendizagem dentro do espectro de vivências impressas na mente de cada sujeito. Nas palavras do próprio Sigmund Freud:
Interpretação dos sonhos, Psicologia, Freud Você desconsidera inteiramente as conexões aparentes entre os elementos no sonho manifesto e coleta as idéias que lhe ocorrem em conexão com cada elemento separado do sonho através da livre associação de acordo com o procedimento psicoanalítico padrão. Deste material você chega aos pensamentos-sonho latentes, justamente como você chega aos complexos escondidos do paciente à partir de suas associações com seus sintomas e memórias ... [Freud, Cinco Palestras sobre Psicanálise (1909); Terceira Palestra]
Dream interpretation, Psychology, Freud You entirely disregard the apparent connections between the elements in the manifest dream and collect the ideas that occur to you in connection with each separate element of the dream by free association according to the psychoanalytic rule of procedure. From this material you arrive at the latent dream-thoughts, just as you arrived at the patient's hidden complexes from his associations to his symptoms and memories ... [Freud, Five Lectures on Psycho-Analysis (1909); Lecture Three]
Dianética é uma técnica de psique-terapia e clareamento da mente. A dianética se baseia na ciência de que as vivências de dor e inconsciência são registradas em uma parte subconsciente da mente que foi chamada de mente reativa por L. Ron Hubbard. Através dos procedimentos da dianética, e de algumas psico-terapias, é possível com a "luz da consciência" clarear estas memórias traumáticas escondidas na "sombra subconsciente". Em um procedimento chamado audição, a vítima de traumas passados acessa e reconta estas experiências de dor e inconsciência. Assim, o que antes era um registro com tensão subconsciente na chamada mente reativa, passa a ser uma memória vivencial na consciência racional de uma parte da mente a qual é chamada na dianética de mente analítica.
Há uma possível explicação neurológica e psicológica na ciência que baseia a prática da dianética. Nós já vimos neste trabalho que a plasticidade reforça as conexões sinápticas entre os neurônios ativos durante os comportamentos que antecedem experiências favoráveis a sobrevivência. Estudamos como a mente aprende, a aumentar as chances de sobrevivência, reforçando os pensamentos e comportamentos que antecedem as experiências de prazer, felicidade e vida. Vimos também, de acordo com a equação de aprendizagem neuronal 3.2, que as experiências traumáticas, desfavoráveis a sobrevivência, desestimulam as memórias e comportamentos que antecedem os momentos de dor e sofrimento. Devido à este mecanismo de sobrevivência, característico da mente animal, as experiências traumáticas ficam submersas no subconsciente podendo acontecer até uma aminésia por trauma. Esta é a explicação da mente reativa subconsciente. A cura psicológica acontece quando, estes registros subconscientes de dor, se tornam conscientes na mente mais amadurecida e sábia do pré-claro55. É esta cura que se busca na psique-terapia da dianética e em outras terapias psicológicas.