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A Psicossíntese é uma abordagem para o auto-crescimento, que foi desenvolvida pelo psiquiatra italiano Roberto Assagioli (1888-1974) por volta de 1910, e que vem evoluindo até os dias de hoje.
Um dos pontos importantes de sua obra foi trazer a "vontade" para a psicologia. Com seus estudos, foi possível superar a visão determinista, como um conjunto de forças competitivas sem nenhum centro, mas que em um determinado momento de crise ou ameaça e pela abertura de consciência para a necessidade de evolução inerente do homem é capaz de descobrir a sua vontade.
A Psicossíntese, no seu arcabouço teórico e metodológico, propõe uma re-educação à luz da consciência, possibilitando a conexão com o EU Superior, em que o Self e a Vontade estão:
"A revelação de que o Self e a Vontade estão intimamente ligados pode mudar a concepção da pessoa sobre si própria e sobre o mundo. Ela vê que é um sujeito vivo, um agente dotado com o poder de escolher, relacionar e gerar mudanças em sua própria personalidade, em outras pessoas, nas circunstâncias. E esta consciência leva ao sentimento de totalidade, segurança e à alegria" (ASSAGIOLI [3], Revista Psychology Today 1931).
Este processo está embasado em uma concepção do ser humano em sua realidade viva e concreta. Este conhecimento é básico para o aprofundamento teórico e pode ser apresentado através do seguinte diagrama.
Segundo o autor, trata-se naturalmente de um quadro estrutural, estático, quase "anatômico", da constituição interna do homem, que ao mesmo tempo deixa de fora o seu aspecto dinâmico, que é o mais importante e essencial. Como em toda a ciência, passos graduais e aproximações progressivas devem ser dados. Eis o mapa proposto:
As linhas do modelo são pontilhadas demonstrando que elas não são limites rígidos e que existe fluxo entre elas.
Representa os automatismos biológicos e memórias individuais: a) as atividades psicológicas elementares que dirigem a vida do corpo, a coordenação inteligente de funções corporais; b) os instintos fundamentais e os impulsos primitivos; c) muitos complexos carregados de intensa emoção; d) sonhos e imaginação de uma espécie inferior; d) processos parapsicológicos inferiores e não controlados; e) várias manifestações patológicas, como fobias, obsessões, compulsões e falsas crenças paranóides e, ainda, f) o passado individual na forma de memórias há muito esquecidas e partes reprimidas, por exemplo: a raiva. Pode ser uma fonte de problemas, armazenando ações reprimidas, controlando as ações, mantendo algumas pessoas prisioneiras do seu passado.
É formado por elementos psicológicos semelhantes aos da consciência humana em processo de acordamento e podem ser tranquilamente acessados. Nesta região interior são assimiladas as várias experiências, elaboradas e desenvolvidas as atividades mentais e imaginativas comuns, numa espécie de gestação psicológica antes de virem à luz da consciência. É composta por memórias recentes, pensamentos e sentimentos, elaboração criativa de informações da vida do dia-a-dia. Contudo, pode-se ainda, deliberada e conscientemente, deslocar pensamentos e sentimentos (como a fome no meio da tarde). Isto é diferente de reprimi-los como é feito no inconsciente inferior.
O repositório das nossas aspirações mais elevadas, intuições e energia espiritual, incluindo "insights" artísticos, filosóficos, científicos ou éticos e os impulsos, ações e desejos altruístas. Isto é a fonte de relâmpagos de inspiração e aonde é experienciado um sentimento de ligação com o verdadeiro Eu. É a fonte dos sentimentos superiores, como o amor incondicional, do gênio e dos estados de contemplação, iluminação e êxtase.
É usado para designar a parte da personalidade de que se têm uma percepção direta. O fluxo incessante de sensações, imagens, pensamentos, sentimentos, desejos e impulsos imediatos que podem ser observados, analisados, julgados e atuados sobre eles em qualquer momento. Está em constante mudança e é influenciado pelo Inconsciente Médio. Isto está ligado à capacidade de uma pessoa estar presente na experiência de cada momento.
Este é o centro da consciência, o ponto onde a pessoa está consciente de si própria como um "Eu" e o qual mantém-se o mesmo para além do constante fluxo à sua volta formado por sensações, pensamentos e sentimentos variáveis. Muitas pessoas não experienciam este "Eu" de uma maneira claramente definida, mas quanto mais trabalham sobre si próprias mais estarão em contacto com o mesmo. Este "Eu" é o ponto de autoconsciência pura. Frequentemente confundido com a personalidade consciente acima descrita, na realidade é muito diferente dela. Isto pode ser apurado pelo uso de cuidadosa introspecção.
O eu superior é o o eu mais elevado, espiritual, e real. Um ponto de puro Ser, não afetado por nenhuma experiência consciente. O "Eu" do Eu Consciente é uma reflexão deste e, pode ser descrito como transpessoal ou Espírito. Pode-se não estar consciente dele ou pode-se ter acesso a ele através de uma longa prática espiritual ou através de experiências espirituais espontâneas. O "Eu" consciente está geralmente não somente submerso no incessante fluxo do conteúdo psicológico e parece desaparecer completamente quando a pessoa adormece, quando desmaia, quando está sob o efeito de um anestésico ou narcótico, ou em estado hipnótico. E quando desperta, o "Eu" reaparece misteriosamente, não se sabe como ou quando - um fato que examinado de perto é realmente desconcertante e perturbador. Isso leva-nos a supor que o reaparecimento do "Eu" consciente ou "Ego" se deve à existência de um centro permanente, de um "Eu" verdadeiro situado além ou acima daquele. Esse "Eu" está acima do fluxo da corrente mental, não sendo afetado por ela nem pelas condições corporais; e o "Eu" consciente pessoal deve ser considerado meramente como um reflexo: sua projeção no campo da personalidade.
A linha exterior do oval do diagrama deve ser vista como "delimitadora", mas não como "divisora". Pode ser interpretada como análoga à membrana que delimita uma célula, a qual permite o constante e ativo intercâmbio com o corpo todo a que a célula pertence. Os processos de "osmose psicológica" prosseguem o tempo todo, com outros seres humanos e com o ambiente psíquico geral. Este último corresponde ao que Jung chamou de "inconsciente coletivo", mas ele não definiu claramente este termo, em que inclui elementos de naturezas diferentes, até opostas, notadamente, estruturas arcaicas primitivas e atividades superiores, dirigidas para o futuro, de um caráter superconsciente. Isto pode ser chamado o caldo da experiência coletiva da família, cultura e humanidade no geral. Isto influencia de modo sutil, como por meio de imagens arquetípicas e as modas e movimentos do tempo.
O diagrama precedente ajuda a conciliar os seguintes fatos: a aparente dualidade entre o "eu" pessoal, quando este não toma consciência do verdadeiro "Eu" e a real unidade e unicidade do "Eu". Inconsciente dessa unicidade, muitas vezes vai-se em busca de liberdade e satisfação, para se livrar de sua luta interior, jogando-se de cabeça numa vida de atividade febril, excitação constante, emoção tempestuosa e temerária aventura.
A aparente dualidade, a aparente existência de dois "eus" acontece porque o "eu" pessoal não toma geralmente conhecimento do outro, chegando mesmo ao ponto de negar a existência dele. Ao passo que o outro, o verdadeiro "Eu", está sempre presente e não se revela diretamente à consciência. Mas, na realidade não existem dois "eus", duas entidades independentemente e separadas. O "Eu" é uno, manifesta-se em diferentes graus de consciência e auto-realização. A reflexão parece ser auto-existente, mas na realidade, não tem substancialidade autônoma. Por outras palavras, não é uma nova e diferente luz, mas uma projeção de uma fonte luminosa.
Na vida cotidiana, todos são limitados e atados de mil maneiras - presas de ilusões e fantasmas, escravos de complexos irreconhecidos, empurrados de um lado para outro por influências externas, ofuscados e hipnotizados por aparências enganadoras. Não admira que, num tal estado o homem se mostre frequentemente insatisfeito, inseguro e variável em seu estado de espírito, em seus pensamentos e ações.
Com um sentimento intuitivo de que é "uno" e, no entanto, descobrindo que está "dividido em si mesmo", ele fica perplexo e não consegue entender-se e nem entender os outros. Não causa surpresa, o fato de que o homem não se conhece e nem se entende, não tenha autocontrole e esteja continuamente envolvido em seus próprios erros e fraquezas; que tantas vidas sejam fracassadas ou, pelo menos, estejam limitadas e entristecidas por doenças do corpo e do espírito, ou atormentadas por dúvidas, desânimo e desespero. Não admira que o homem em sua busca apaixonada e cega de liberdade e satisfação, se rebele violentamente, por vezes, tente sustar seu tormento interior, jogando-se de cabeça em uma vida de atividade febril, excitação constante, emoção tempestuosa e temerária aventura.
Uma das formas de compreender esta confusão é trazer a luz da consciência estas partes internas, que Assagioli (1927) chama de sub-personalidades, que estão ocultas no inconsciente, mas que reagem instintivamente nas situações do cotidiano, sem que se tenha nenhum controle sobre elas. Sub-personalidades são um conjunto de pensamentos, sentimentos, posturas físicas, que podem lançar mão de várias formas de manifestação opostas ou excludentes com formas de manifestação de outras sub-personalidades ou de outras pessoas para satisfazer a necessidades mal trabalhadas do ego.
A saída dessa escravização é via processo de identificação e desindentificação, onde o "eu" fortalecido procura atender a necessidade que deu origem a sub-personalidade e possibilita que ela expresse a sua qualidade, que é uma emanação da essência. A necessidade é transcultural. O amor tem várias necessidades que precisam ser atendidas para manifestar o amor. Estas necessidades são atendidas pelas formas de expressão. As formas de expressão são relativas ao ambiente, à cultura, ao paradigma e aos papéis. Elas são transmissíveis, corrigíveis e podem ser transformadas.
Em uma determinada situação, tendo o Centro o controle de todas as suas partes, pode até utilizar uma sub-personalidade, se naquele momento ela é útil. E por este uso ser consciente, tem-se o controle. Caso contrário, se for à sub-personalidade que fizer a escolha, ela utilizará o Centro para se manifestar e terá o controle. O Centro é o lugar de maiores perspectivas. Dependendo do nível de consciência, a visão da realidade será mais ampliada ou parcial, favorecendo ou não as suas escolhas.
As sub-personalidades, ao procurar atender as suas necessidades podem ser divididas em dois grupos básicos: tipos de amor e tipos de poder.
Uma analogia utilizada por Assagioli (1927) que favorece a compreensão do processo de identificação e desindentificação das sub-personalidades e o reconhecimento das necessidades e qualidades, é o da orquestra. Os músicos são as sub-personalidades; a orquestra é a personalidade; o maestro, o "eu" pessoal ou o ego; e o compositor é o Self ou o eu divino. À medida que os músicos vão se aprimorando, a partitura vai sendo expressa de acordo com o que o compositor deseja. Cada músico pode se desenvolver para atingir o máximo do que o compositor idealizou. Quanto mais o ego sintoniza-se com o Self, mais próximo ele encontra-se dele. A Unidade ocorre quando o ego e o Self forem um só. Quando conseguir espelhar a verdadeira essência, alcançou a iluminação
Uma das alternativas possíveis para resolver este problema central da vida humana, curar sua enfermidade fundamental, libertá-lo dessa escravidão e realizar uma harmoniosa integração interior, uma verdadeira realização do "Eu" e um relacionamento correto com os outros é proposta pela Psicossíntese, por meio de três estágios:
Para alguém conhecer-se realmente é necessário efetuar um inventário dos elementos que formam o ser consciente, com uma extensa exploração das vastas regiões do inconsciente. Tem-se que penetrar corajosamente no poço do inconsciente inferior, a fim de descobrir as forças sombrias que espreitam e ameaçam - os "fantasmas", as imagens ancestrais ou infantis que obcecam ou silenciosamente dominam, os medos que paralisam, os conflitos que exaurem as energias. E além destas, vai também descobrir a poderosa fonte da força vital: aquela que Assagioli (1927) chama eros, que não indica somente a sexualidade, mas a fonte que ele compara ao fogo de um vulcão. Esta busca pode ser empreendida pela própria pessoa, mas é realizada facilmente com a ajuda de outra.
As regiões do Inconsciente Médio e Superior devem ser igualmente exploradas. Desse modo, pode-se descobrir dentro de si, capacidades até então ignoradas, as verdadeiras vocações, potencialidades mais elevadas que procuram expressar-se, mas que frequentemente são repelidas e reprimidas por falta de compreensão, por meio do medo e do preconceito. É possível descobrir a imensa reserva de energia psíquica que normalmente está latente.
No momento que se descobrem estes elementos é preciso tomar posse deles e adquirir o controle. O método mais eficaz é o da desindentificação, que se baseia em um princípio psicológico fundamental que pode ser assim formulado: O ser humano é dominado por tudo aquilo com que o eu se identificou. E pode dominar e controlar tudo aquilo do qual se desidentificou. É o processo de auto-identificação que consiste em progressivas identificações e desidentificações: para experimentar e compreender profundamente, precisa identificar-se, para tomar posse e, posteriormente, desidentificar-se. Não é possível desidentificar-se daquilo no qual não se está identificado. Esta é a verdade para todos os níveis do inconsciente. Nesse princípio reside o segredo da escravidão ou da liberdade.
Quando que alguém se identifica com uma fraqueza, um defeito, um medo ou qualquer emoção ou impulso pessoal, pode ficar limitado ou paralisado. Toda a vez que admite "eu estou desencorajado" ou "estou irritado", fica mais e mais dominado pela depressão ou ira. Aceitando estas limitações, coloca em si mesmo os grilhões.
Se pelo contrário, diante das mesmas situações, puder dizer: "Uma onda de desencorajamento está tentando submergir-me" ou "um impulso de cólera está tentando subjugar-me", a situação fica bem diferente. Têm-se então duas forças que se defrontam: de um lado o "eu" vigilante e do outro o poder do inconsciente que impele ao desânimo ou ira. E se o "eu" vigilante não se submete a esta invasão, ele pode, objetiva e criticamente, examinar estes impulsos de desânimo ou ira; pode averiguar a origem deles, prever seus efeitos deletérios e perceber até que ponto são infundados.
Este exame é muitas vezes suficiente para sustar um ataque de forças e vencer a batalha. Encontra-se isso no inconsciente inferior. Como ele é o mais intrigante para muitas pessoas, não pode ser esquecido aquele coletivo e superior para quem quer um caminho espiritual e de verdadeiro Serviço. Quando se descobrem qualidades transpessoais, deve-se identificar, para conhecê-las e expressá-las na vida do dia a dia, mais integradas que sejam, deve-se também desidentificar-se para ficar no caminho evolutivo e não no orgulho espiritual.
Mas mesmo quando estas forças no íntimo são temporariamente mais fortes, quando a personalidade consciente é, no começo, sobrepujada pela violência delas, o "eu" vigilante não é realmente conquistado. Ele pode retirar-se para um reduto interior e aí preparar-se e aguardar o momento favorável ao contra-ataque. Ele pode perder algumas batalhas, mas se não se render, o resultado não está comprometido e a vitória será obtida no final.
Depois, de repelir um a um os ataques que provêm do inconsciente inferior, pode-se aplicar um método mais fundamental e decisivo; enfrentar as causas profundas desses ataques e cortar as raízes da dificuldade. Este procedimento pode ser dividido em duas fases:
A psicanálise demonstrou que o poder dessas imagens e complexos reside principalmente no fato de não se ter consciência delas, e de não os reconhecer como tal. Quando estas imagens ou complexos são desmascarados, compreendidos e resolvidos em seus elementos, deixam frequentemente de obcecar as pessoas; em todo o caso elas estarão mais aptas a defender-se contra eles. Deve-se criar uma distância psicológica, entre as pessoas e estas imagens ou complexos, mantendo-os, por assim dizer, a uma certa distância, para que elas possam, então, examinar serenamente a sua origem, sua natureza e - sua estupidez! Isto não significa a supressão ou repressão das energias inerentes nessas manifestações, mas o seu controle a fim de que possam ser redirecionadas para canais construtivos; atividade criativa de várias espécies; reconstrução da personalidade, contribuindo para a psicossíntese pessoal. Mas para que isso possa ser feito, é necessário partir do centro, devendo estabelecer e proporcionar eficiência ao princípio unificador e controlador da vida.
Com base no que foi escrito acima acerca da natureza e do poder do "Eu", não é difícil assinalar teoricamente como alcançar essa finalidade. O que tem de ser realizado é a expansão da consciência pessoal até que se integre na consciência do "Eu" - a ascensão. A união do "eu" inferior com o superior. Mas, isso, que se expressa tão facilmente em palavras, é na verdade um tremendo empreendimento. Constitui um esforço grandioso, mas certamente árduo e demorado e nem todos estão preparados para isso. Mas entre o ponto de partida na planície da consciência ordinária e o pico refulgente da auto realização existem fases intermediárias, platôs em várias altitudes em que um homem pode descansar ou até fixar moradia, se a falta de forças o impedir de continuar a escalada ou a sua vontade preferir dar aí por finda a ascensão.
Os estados intermediários subentendem novas identificações. Os homens e as mulheres que não puderam atingir seu verdadeiro "Eu", em sua essência pura, podem criar uma imagem e um ideal de personalidade aperfeiçoada e adequada ao calibre deles, ao seu estágio de desenvolvimento e ao seu tipo psicológico; e, por conseguinte, podem tornar esse ideal praticável na vida real. É aqui que a desidenticação é particularmente importante para que, ao final, um ideal elevado não se torne uma ilusão.
Esses "modelos ideais" implicam como é evidente, relações vitrais com o mundo exterior e com outros seres humanos; logo subentendem certo grau de extroversão. Mas existem pessoas que são extrovertidas num grau extremo e chegam a projetar, por assim dizer, o centro vital de sua personalidade fora delas próprias.
Esta projeção no exterior do próprio centro da pessoa, essa excentricidade (na acepção etimológica da palavra) não deve ser subestimada. Embora não represente o caminho mais direto ou a realização suprema, pode apesar das aparências, constituir de momento uma forma satisfatória de auto-realização indireta. Nos melhores casos, não se perde realmente no objeto externo mas, liberta-se desse modo dos interesses egoístas e das limitações pessoais; ele realiza-se por meio do ideal ou ser externo. Este último converte-se num elo indireto, mas verdadeiro, num ponto de conexão entre o homem pessoal e o seu "Eu" superior, o qual é refletido e simbolizado nesse objeto.
Ao ser encontrado ou criado, o Centro Unificador pode-se construir em torno dele uma nova personalidade - forte, unificada, coerente e organizada.
Dessa forma realiza-se a psicossíntese, que também tem diversos estágios. O primeiro ponto essencial é decidir o plano de ação e formular o "programa interior". O objetivo é a visualização da finalidade a ser alcançada - ou seja, a nova personalidade a ser desenvolvida - e ter uma etapa clara das várias tarefas que isso acarreta.
Em algumas situações, pode se ter uma visão nítida do propósito desde o início. Surge a possibilidade de formar um quadro claro de si mesmas, tal como pretendem vir a ser. Este quadro deve ser realista e autêntico e não uma "imagem idealizada". Um modelo ideal, genuíno e dinâmico, facilita a tarefa ao eliminar incertezas e equívocos, concentra as energias e utiliza o grande poder sugestivo e criador de imagens.
Outras apresentam uma constituição psicológica mais plástica, vivem espontaneamente, têm dificuldade de formular tal programa, em construir de acordo com tal modelo. Eles tendem a se deixar guiar pelo Espírito interior ou pela vontade de Deus, ampliando o canal de comunicação por meio da aspiração e da devoção e deixando a critério divino a decisão do que devem vir a ser.
Ambos os métodos são eficazes e cada um é apropriado ao tipo correspondente. Mas é conveniente conhecer, apreciar e usar ambos, em certa medida para evitar limitações e exageros de cada método, corrigindo e enriquecendo um com os elementos tomados do outro. Desta forma, quem segue o primeiro método deve ter o cuidado para não fazer um "quadro ideal" excessivamente rígido; deve estar disposto a modificá-lo ou ampliá-lo. E quem segue o segundo método deve tomar cuidado para não se tornar excessivamente passivo ou negativo, aceitando como inspirações superiores certas sugestões que na verdade são determinadas por forças, desejos e anseios inconscientes.
Os "modelos ideais" ou imagens ideais que pode-se criar são numerosos, mas podem dividir-se em dois grupos principais. O primeiro é formado de imagens representativas de um desenvolvimento harmonioso, de uma perfeição pessoal e espiritual irretocável. O segundo grupo representa a eficiência especializada. Neste caso, a finalidade é o desenvolvimento máximo de uma aptidão ou qualidade correspondente à linha particular de auto expressão e ao papel ou papéis sociais que o indivíduo escolheu.
Uma vez feita à escolha da forma ideal começa a psicossíntese prática, a construção efetiva da nova personalidade. Esse trabalho pode ser dividido em três partes principais:
Utilização das energias disponíveis: estas são as forças libertadas pela análise e desintegração dos complexos inconscientes e tendências latentes, que existem em vários níveis psicológicos. Tal utilização requer a transmutação de muitas dessas forças inconscientes, o que é possibilitado pela plasticidade e imutabilidade inerente nelas. Esse é um processo que está continuamente ocorrendo.
Desenvolvimento dos aspectos da personalidade que estão deficientes ou inadequados para os fins que deseja-se atingir. Esse desenvolvimento pode ocorrer de duas maneiras: por meio da evocação, auto-sugestão, afirmação criativa ou pelo treinamento metódico de funções subdesenvolvidas (memória, imaginação, vontade).
Coordenação e subordinação das várias energias e funções psicológicas, a criação de uma sólida organização da personalidade. Esse ordenamento apresenta analogias interessantes e sugestivas com o de um modelo moderno, com vários agrupamentos de cidadãos em comunidades, classes sociais, profissões, ofícios, e os diferentes escalões de funcionários municipais, distritais, estaduais e estatais.
Este é roteiro do processo pelo qual a psicossíntese é realizada. Mas é importante deixar claro que todos os vários estágios e métodos acima mencionados estão intimamente inter-relacionados.