Livro de Urantia

Grupo de Aprendizes da Informação Aberta

Contato

Índice Superior    Vai para o próximo: Capítulo 7

Arquivos de Impressão: Tamanho A4.

Livro em Texto (txt).

Capítulo 6
Argumentos contra a Dieta Carnívora: Por que Mudar


A Revolução Antienvelhecimento
Um Programa Radical de Rejuvenescimento
Evite Doenças Cardiovasculares
Aumente a Sua Energia a Cada Ano
Melhore Sua Capacidade Mental

Timothy J. Smith, M.D.
Argumentos contra a Dieta Carnívora: Por que Mudar
    6.1  O que Significa Ser Vegan
        6.1.1  Em boa companhia
    6.2  O Fator Gordura
        6.2.1  As gorduras abastecem a produção de colesterol
        6.2.2  As gorduras favorecem as doenças cardíacas
        6.2.3  As gorduras alimentam o câncer
        6.2.4  Gordura engorda
    6.3  Os Problemas da Proteína
        6.3.1  A proteína destrói os ossos
        6.3.2  A proteína sobrecarrega os rins
    6.4  Pesticidas: Venenos Disfarçados
        6.4.1  Os pesticidas aumentam o risco de câncer
        6.4.2  Os pesticidas comprometem a fertilidade
        6.4.3  Os pesticidas contaminam o leite materno
        6.4.4  Coma alimentos que estão na parte mais baixa da cadeia alimentar
    6.5  Onde Estão as Fibras?
        6.5.1  As fibras acabam com o colesterol
        6.5.2  As fibras são responsáveis pela remoção dos resíduos
        6.5.3  As fibras expulsam as toxinas do seu sistema
    6.6  As Vantagens dos Alimentos de Origem Vegetal
    6.7  Bibliografia do Capítulo 6

     Sócrates: E haverá animais de muitas
outras espécies, se as pessoas os comerem?
Glauco: Certamente.
Sócrates: E vivendo dessa maneira precisaremos
muito mais de médicos do que antes?
Glauco: Muito mais.

     - PLATÃO, A REPÚBLICA

     Quando entrevisto um cliente pela primeira vez, pergunto sempre como anda sua alimentação.

     A resposta é, não raro: "Sou vegetariano" ou "Sou praticamente vegetarinano."

     Indo mais a fundo, pergunto: "Certo, mas o que você come?"

     "Bem doutor, vegetais - e às vezes peixe ou galinha."

     Com frequência, espanto-me ao ver quantas pessoas acreditam que uma dieta vegetariana inclui peixe, para não falar de frango. Percebi outra coisa: embora não comam carne vermelha, esses "vegetarianos" se empanturram de laticínios, ovos e manteiga. Na verdade, esse tipo de dieta contém tanta gordura saturada e colesterol que, embora essa não seja a minha recomendação, se a pessoa substituísse o leite, o queijo e os ovos por um bife magro diminuiria significativamente a ingestão de gordura saturada e colesterol.

6.1  O que Significa Ser Vegan

     Antes de continuar, vamos definir exatamente o que é ser vegetariano. Normalmente, os vegetarianos enquadram-se em uma das três categorias a seguir.

     A Dieta Antienvelhecimento, uma das bases do programa de Renovação, é uma dieta do tipo vegan, o que significa que exclui todos os alimentos de origem animal. Entenda-se por "origem animal" não apenas carne, frango, peru, porco, cordeiro e peixes, mas também ovos e todos os laticínios, inclusive leite, queijo e manteiga.

     Nesse momento você deve estar pensando: "Puxa, não sobrou nada! Um hambúrguer de vez em quando não vai me matar, vai? Que graça terá a vida se eu não puder comer queijo uma vez ou outra? Eu retiro a pele do frango - e mesmo assim terei que abrir mão de comer frango? E quanto ao peixe? Se não posso usar manteiga, o que vou colocar na torrada?" E, é claro, a pergunta final: "Vale a pena viver sem sorvete?"

     São perguntas razoáveis. E, para ser franco, se a consequência fosse apenas menos tempo nesse planeta, eu também poderia optar pelo hambúrguer com sorvete. Infelizmente - e por isso tornei-me vegetariano - uma dieta de alimentos de origem animal carregados de toxinas, ricos em gordura, pobres em fibras e pobres em substâncias fitoquímicas não apenas diminui o tempo de vida como também tende a transformar os últimos anos de vida em uma experiência extremamente desagradável. O que deveriam ser os anos dourados de nossa vida tornam-se um pesadelo, onde o indivíduo gasta uma quantidade enorme de tempo e dinheiro pulando de médico em médico em busca de soluções para problemas de saúde debilitantes. Essas doenças degenerativas - hipertensão, problemas circulatórios, doença das artérias coronárias, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, derrame, câncer, diabetes, artrite, osteoporose, catarata e doenças cerebrais senis - mantêm cheios os leitos dos hospitais e diminuem radicalmente a qualidade de vida de dez milhões de idosos.

     Como médico que tratou muitos desses pacientes - as vítimas inconscientes de doenças auto-infringidas -, testemunhei de perto a lenta deterioração da saúde, e posso garantir que não é uma coisa bonita. O processo sempre me entristece profundamente porque, com uma dieta vegan, suprimentos alimentares apropriados e a prática regular de exercícios, seria possível evitar com facilidade grande parte do sofrimento dessas pessoas.

6.1.1  Em boa companhia

     Caso você não saiba, o vegetarianismo está fazendo sucesso. É in! Está na moda! É o máximo! Assim, da próxima vez que seus parentes e amigos carnívoros rirem de você por ter pedido um prato vegetariano no restaurante, surpreenda-os citando o nome de alguns vegetarianos famosos.

     Se gostam de música, mencione Paul McCartney, Tina Turner, Johnny Cash e Chubby Checker. Se apreciam os grandes cientistas, mencione Charles Darwin, Leonardo da Vinci, Isaac Newton, Albert Einstein e Albert Schweitzer. Se tendem para o lado da literatura, tente George Bernard Shaw, H. G. Wells, Henry David Thoreau, Leon Tostoi e Louisa May Alcott.

     Se se interessam por filosofia, fale de nomes como Sócrates, Platão, Pitágoras, Ovídio e Plutarco. E se o negócio deles é o esporte, mencione Martina Navratilova (tenista campeã), Dave Scott (6 vezes campeão do Iroman Triatlon), Paavo Nurmi (20 vezes recordista mundial de corrida) e Bill Pearl (4 vezes Mr. Universo, campeão de fisiculturismo).

6.2  O Fator Gordura

     Por mais que desejemos, a dieta norte-americana típica - ou seja, uma alimentação repleta de alimentos de origem animal - simplesmente não apóia a Renovação. Inúmeras pesquisas interessantes sugerem que os alimentos de origem animal não apenas causam as doenças degenerativas como também pioram a qualidade de vida geral e diminuem a expectativa de vida. Como observou o falecido Dr. Benjamin Spock, um famoso pediatra, escritor e humanista, "o número de mortes por aterosclerose coronariana, câncer e derrame aumentam cada vez mais. Não há dúvida de que essas doenças estão ligadas às dietas ricas em gordura - sobretudo gordura animal."

     A dieta norte-americana típica, por exemplo, é composta de 40% a 50% de gordura, a maior parte proveniente de carnes, aves, peixes, laticínios e ovos - todos alimentos de origem animal. Estudos associam a ingestão excessiva de gorduras a uma série de doenças, inclusive nível de colesterol alto, doenças cardíacas e obesidade.

6.2.1  As gorduras abastecem a produção de colesterol

     Nem toda gordura é ruim. Algumas gorduras, denominadas ácidos graxos essenciais, ajudam a defender o organismo contra as doenças. (Vamos discuti-las em mais detalhes no Capítulo 8.)

     Por outro lado, as gorduras saturadas, o tipo vindo dos alimentos de origem animal, foram condenadas mundialmente por serem prejudiciais à saúde. O organismo usa as gorduras saturadas para produzir colesterol. Assim, quanto mais gordura desse tipo se consome, mais alto será o nível de colesterol.

     Os alimentos de origem animal também aumentam o colesterol total de outra maneira. Todos os animais, sejam vacas, galinhas ou peixes, fabricam seu próprio colesterol. Dessa maneira, quando você se alimenta de carne vermelha, aves, peixe, laticínios ou ovos, não só está consumindo gorduras saturadas como também colesterol.

     Essa vil combinação pode causar muitos problemas aos níveis de colesterol. Nas pessoas que ingerem alimentos de origem animal, 114 do colesterol provém da alimentação: o organismo fabrica o resto. Os vegans, por outro lado, não obtêm colesterol da alimentação. Lembre-se: os vegans comem apenas alimentos derivados de vegetais, e as plantas não produzem colesterol.

     Isso confere aos vegans uma vantagem decisiva com relação aos níveis de colesterol. O organismo de um vegan produz apenas a quantidade de colesterol necessária para o seu sustento e nas proporções corretas. Os vegetarianos têm níveis baixos de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), o colesterol "ruim", e níveis altos de lipoproteínas de alta densidade (HDL), o colesterol "bom". No caso das pessoas que ingerem alimentos de origem animal, em geral o contrário também é verdadeiro: os níveis de LDL são altos e os de HDL são baixos.

     Muitos médicos dizem a seus pacientes que não precisam se preocupar com os níveis totais de colesterol se estiverem dentro de um limite "normal", em geral definido entre 200 mg/dl (isto é, miligramas de colesterol por decilitros de sangue). Esse "normal", entretanto, é tudo, menos isso: é um artefato estatístico, derivado do estudo de pessoas que adotam uma dieta composta principalmente de carne e de laticínios, rica em gordura. Para as pessoas que se alimentam dessa maneira, o nível "normal" do colesterol total é, em média, 210 mg/dl. Para os vegetarianos, o "normal" é 150 mg/ dl. Essa pequena diferença pode ter algumas consequências bastante desagradáveis.

     Quem me dera receber um centavo por cada vez que ouvi um paciente dizer "Graças a Deus, meu colesterol está 'normal'. Pelo menos não preciso me preocupar com isso." As pessoas com leituras baixas do colesterol total são facilmente enganadas por uma falsa sensação de segurança, acreditando que não correm o risco de desenvolver doenças cardíacas. A verdade é que, quanto mais alto o consumo de colesterol (ou seja, quanto mais alimentos de origem animal são consumidos), maior é o risco de doenças cardíacas - não importando o nível do colesterol total.

     As pessoas com níveis baixos de colesterol também sofrem ataques cardíacos, embora não com tanta frequência quanto as que têm níveis altos de colesterol. De fato, aproximadamente metade de todas as vítimas de ataques cardíacos tem níveis "normais" de colesterol.

     E esqueça a idéia errada de que se pode diminuir o colesterol total- e provavelmente o risco de ataque cardíaco - substituindo-se as gorduras saturadas da dieta por gorduras poliinsaturadas dos óleos vegetais (como óleos de canola, milho, amendoim e girassol) ou, Deus nos livre, margarina. Seria ótimo se funcionasse, mas não funciona. De fato, as gorduras poliinsaturadas geram muitos radicais químicos livres causadores de doenças, pois esse tipo de molécula de gordura é unido por ligações duplas sensíveis à oxidação. (Lembre-se de que a oxidação é o processo que produz os radicais livres.) Assim, em termos da atividade dos radicais livres, as gorduras "sem colesterol" são ainda mais perigosas do que as gorduras saturadas que pretendem substituir.

6.2.2  As gorduras favorecem as doenças cardíacas

     Como aumenta os níveis de LDL e do colesterol total, a ingestão excessiva de gordura também aumenta o risco de doenças cardíacas. O LDL é a substância que adere às paredes arteriais, obstruindo-as e enrijecendo-as.

     Para entender o que acontece, vamos imaginar que o seu sistema cardiovascular seja uma auto-estrada. O sangue desliza pela estrada, transportando nutrientes e oxigênio até as células e recolhendo os resíduos gerados pelas células. É então que o LDL cria uma barreira. De uma hora para outra, os suprimentos essenciais não podem mais chegar às células. A remoção dos resíduos torna-se impossível, e eles se acumulam e obstruem ainda mais a passagem. As células não apenas morrem de fome como também são forçadas a chafurdar no seu próprio excremento. Não é um quadro muito agradável.

     Quando esse processo, denominado aterosclerose, ocorre em uma das artérias que fazem parte do músculo cardíaco, estabelecem-se as bases para um ataque cardíaco. Os ataques cardíacos são a principal causa de morte nos Estados Unidos. A cada 25 segundos ocorre um ataque cardíaco e a cada 45 segundos um deles é fatal. O homem norte-americano médio tem 50% de chance de morrer de ataque cardíaco.

     A melhor maneira de enfrentar as estatísticas? Adotar uma dieta vegan com pouca gordura e praticamente eliminar qualquer possibilidade de morte por doença cardíaca. Como sua dieta é naturalmente pobre em todos os tipos de gordura, os vegans radicais têm apenas 4% de chance de morrer de ataque cardíaco.

6.2.3  As gorduras alimentam o câncer

     Os alimentos de origem animal são ricos em gorduras, e uma dieta rica em gordura causa o câncer. As pessoas que consomem esses alimentos diariamente durante muitos anos têm taxas altas de câncer de mama, estômago, pâncreas, bexiga, próstata, ovário e útero. Uma dieta vegan pobre em gorduras, por outro lado, reduz radicalmente o risco desses tipos de câncer.

     Se você ainda não está convencido da ligação entre a ingestão de gorduras e o risco de câncer, os fatos apresentados a seguir podem convencê-lo.

     Os alimentos de origem animal contribuem para todos os tipos de câncer mais comuns. Não é apenas a alta concentração de gorduras que causa problemas. São também a ausência de fibra, os altos níveis de pesticidas, os hormônios acrescentados e mais. (O Capítulo 12 contém informações sobre a relação entre a gordura na alimentação e o câncer.)

6.2.4  Gordura engorda

     A ingestão excessiva de gordura é também responsável por outro problema que encurta a vida: o excesso de peso. De fato, estar apenas 20% acima do peso ideal- uns meros 10 ou 15 quilos - é um fator de risco responsável por vários problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas e certos tipos de câncer.

     A crença popular de que os carboidratos complexos, o tipo encontrado em grãos, legumes, frutas e vegetais, são responsáveis pelo aumento de peso não é verdadeira. Na maioria das vezes, as pessoas engordam por causa da gordura. Isso ocorre porque, grama por grama, as gorduras têm duas vezes mais calorias (nove, para ser exato) do que os carboidratos (apenas quatro). E mais: as calorias das gorduras são rápida e eficientemente transformadas em gordura corporal e armazenadas como tal, enquanto as calorias dos carboidratos não são. (As calorias dos carboidratos refinados simples, como o açúcar branco, a farinha refinada e o mel, são metabolizadas como gorduras e prontamente armazenadas em forma de gordura.)

     Portanto, uma certa quantidade de alimentos ricos em gordura contribui duas vezes mais para flacidez física de uma pessoa do que a mesma quantidade de alimentos ricos em carboidratos complexos. E quando são estocadas nos tecidos adiposos do organismo, as calorias das gorduras são muito mais difíceis de queimar do que as calorias provenientes dos carboidratos.

     Assim, deixe a manteiga e o creme de leite longe da batata cozida, as porções de queijo e os molhos longe da salada, a manteiga longe da torrada, o molho longe da massa, a maionese longe do sanduíche e os molhos cremosos longe de tudo. (E não se deixe enganar pelos alimentos sem gordura que são sobrecarregados de açúcar: no seu organismo, eles se comportam como os alimentos altamente gordurosos.)

6.3  Os Problemas da Proteína

     A dieta norte-americana típica não é apenas rica em gorduras, é rica também em proteína. "Mas o que há de errado com as proteínas?", você pergunta. Muita coisa. Assim como no caso das gorduras, o organismo precisa de proteínas para certas funções básicas. Mas a ingestão excessiva abre as portas para as doenças e elimina anos de sua vida.

     Talvez você se surpreenda ao descobrir a quantidade de proteína considerada "demais". O National Research Council (que estabelece a RDA - Recommended Dietary Allowances, a ingestão diária de nutrientes recomendada) defende uma ingestão de proteína de não mais de 8% de calorias, e o Conselho de Nutrição e Alimentação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (que estabelece os Valores Diários) recomenda 6%. E a Organização Mundial de Saúde sugere apenas 4,5%. Em comparação, o norte-americano médio obtém 15% de calorias das proteínas.

     Algumas pessoas - por exemplo, as mulheres grávidas ou as que estão amamentando, os atletas de provas de resistência em treinamento e os pacientes que se recuperam de queimaduras ou cirurgias - podem necessitar de um pouco mais de proteínas em sua alimentação. A maioria de nós, entretanto, consome muito mais do que precisa.

6.3.1  A proteína destrói os ossos

     Entre os problemas de saúde mais sérios relacionados com uma alta ingestão de proteína está a osteoporose, uma doença que enfraquece os ossos e que afeta dez milhões de pessoas - sobretudo mulheres - somente nos Estados Unidos. Como o excesso de proteínas pode tornar os ossos frágeis e suscetíveis a fraturas?

     Quando se ingere muita proteína, o excesso é transformado pelas enzimas digestivas nos seus componentes, denominados aminoácidos. Cada molécula de um aminoácido deve ser neutralizada antes de ser expelida pelos rins. O organismo apela para o cálcio para realizar o trabalho. Mas o cálcio é eliminado pela urina, juntamente com os aminoácidos. Esse processo acaba com o suprimento de cálcio da corrente sanguínea, de modo que o organismo precisa drenar os estoques existente nos ossos.

     Os cientistas da área médica chamam essa condição de hipercalciúria induzida por proteína. Para os leigos, significa que uma grande quantidade de cálcio, um mínimo valioso, está sendo jogada fora na urina pelo excesso de proteínas desnecessárias. Para se ter uma idéia da seriedade desse problema, as mulheres que comem carne perdem cerca de 35% da massa óssea antes dos 65 anos, enquanto as mulheres vegetarianas perdem apenas 18%.

     Essa descoberta questiona a antiga crença de que a deficiência de cálcio é a única causa da osteoporose. É verdade que a deficiência de cálcio acelera a perda de massa óssea. Mas a ingestão excessiva de proteína também desempenha papel importante nesses casos.

     Você deve estar imaginando onde os laticínios se encaixam em tudo isso. Afinal, são alimentos protéicos que, por acaso, são ricos em cálcio. Infelizmente, as proteínas dos laticínios também causam a perda de cálcio. Assim, se você quiser elevar a ingestão de cálcio, os laticínios não são uma boa escolha. Em países como a China, onde as pessoas consomem poucos produtos derivados do leite e obtêm as proteínas e o cálcio dos alimentos de origem vegetal, a ocorrência de osteoporose é rara.

     É claro que o organismo usa o cálcio para muitos outros propósitos além de construir e preservar a massa óssea. Esse mineral versátil ajuda a manter o batimento cardíaco regular, ajuda na coagulação do sangue e evita problemas de saúde como a hipertensão e o câncer de cólon. Uma boa coisa para se ter por perto!

     Como a dieta vegetariana tem baixo teor protéico, ela protege contra a perda de cálcio. Isso é especialmente importante à medida que envelhecemos, porque a capacidade de absorção de cálcio (e seus nutrientes essenciais) diminui com a idade.

6.3.2  A proteína sobrecarrega os rins

     A ingestão excessiva de proteínas está ligada a outra doença de proporções epidêmicas: a falência renal crônica. Essa erosão silenciosa e gradual do funcionamento renal não tem sido muito divulgada, talvez porque não tenha sinais externos - ao contrário da osteoporose, que se manifesta como problemas de coluna em algumas pessoas e fraturas dolorosas em outras. Ainda assim, a falência renal crônica pode incapacitar e é potencialmente letal. E é muito comum: há dez milhões de casos apenas nos Estados Unidos. Em estudos com animais com falência renal crônica, a mera restrição da ingestão de proteínas aumentou seu tempo de vida em mais de 50%.

6.4  Pesticidas: Venenos Disfarçados

     Além da alta concentração de proteínas e gorduras, as carnes e os laticínios têm outro problema criado pelo homem. Em conjunto, esses alimentos são responsáveis por mais de 75% de todos os resíduos de pesticidas ingeridos pelos norte-americanos. Em comparação, apenas uma pequena fração dos pesticidas encontrados na dieta dos norte-americanos vem de outros produtos alimentares - até mesmo do tipo inorgânico.

     Na verdade, os alimentos de origem animal dominam o que passou a ser conhecido como os "15 Lixos". Essa lista, compilada pela National Academy of Sciences (um grupo de cientistas razoavelmente meticulosos e pouco dados ao exagero) dos Estados Unidos, identifica os alimentos que contêm os piores e os mais perigosos pesticidas.

     Bem, você pode estar imaginando que os maiores infratores seriam eliminados pelo processo de inspeção de alimentos. Mas isso não acontece. Veja o caso da carne, por exemplo: embora o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos sustente que faz a inspeção, o teste para resíduos de pesticidas é realizado em apenas um entre os 250.000 animais abatidos - isto é, 0,00047%.

     Então, por que as carnes e os laticínios têm concentrações tão altas de resíduos de pesticidas? Bem, os animais ingerem os pesticidas através do que comem. Levando-se em consideração que são necessários cerca de 7 quilos de feijão ou de grãos de soja para produzir apenas cerca de 50 gramas de carne, a vaca ou a galinha médias consomem uma enorme quantidade de alimentos cheios de pesticidas durante suas vidas.

     Um vez ingeridos, os pesticidas, por serem lipossolúveis, são armazenados nos tecidos adiposos do animal - uma tentativa que o organismo do animal faz para se livrar das toxinas. Mas os pesticidas permanecem nesses locais de armazenagem das células adiposas e acabam sendo ingeridos pelas pessoas.

     Em seguida o corpo humano faz o mesmo: tenta livrar-se dos pesticidas perigosos para a saúde, guardando-os nos tecidos adiposos, mas as toxinas permanecem, envenenando o sistema imunológico, sabotando as estruturas celulares e atrapalhando os processos de Renovação.

     Os pesticidas são ainda mais prejudiciais aos seres humanos do que aos animais, pois estão altamente concentrados quando entram em nosso sistema. Na verdade, trata-se de um processo que ocorre em duas etapas. Primeiro, as toxinas dos alimentos são concentradas no organismo do animal. Depois, quando um ser humano ingere aquela carne, as toxinas concentram-se mais ainda em suas células adiposas.

     Os cientistas da área médica estão começando a entender que tipos de danos os pesticidas podem causar ao organismo humano. Eis aqui alguns exemplos do que já foi descoberto. (Para obter mais informações sobre os pesticidas, consulte o Capítulo 11.)

6.4.1  Os pesticidas aumentam o risco de câncer

     Os pesticidas são carcinógenos. Aumentam direta e radicalmente as chances de uma pessoa desenvolver um câncer durante a vida.

6.4.2  Os pesticidas comprometem a fertilidade

     O diclorodifeniltricloroetano (DDT), o dioxano e outros pesticidas comumente usados são responsáveis pela diminuição da contagem de espermatozóide e por outros indicadores da redução de fertilidade. A contagem de espermatozóide para o homem norte-americano médio hoje é 30% mais baixa do que há 30 anos. Além disso, mais de 25% dos estudantes universitários do sexo masculino são considerados estéreis hoje em dia, comparados com apenas 0,5% em 1950. É um aumento de 5.000%.

6.4.3  Os pesticidas contaminam o leite materno

     Esse talvez seja o sinal mais assustador da permanência dos pesticidas. Nos Estados Unidos, 99% do leite materno contêm níveis de DDT acima dos limites estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental (EPA), bastante conservadores. Mães que comem carne têm seu leite 35 vezes mais contaminado do que as mães vegetarianas. Isso significa que praticamente todos os bebês amamentados por mães que comem carne estão sendo expostos a níveis de DDT que a EPA julgou prejudiciais aos adultos. Geralmente se reconhece que os órgãos em desenvolvimento do bebê são muito mais sensíveis aos efeitos nocivos dessas substâncias químicas do que os órgãos do adulto.

6.4.4  Coma alimentos que estão na parte mais baixa da cadeia alimentar

     O Earth Day Committee de 1990 adotou a seguinte resolução: "Coma os alimentos da parte de baixo da cadeia alimentar". O que é a cadeia alimentar e por que devemos comer os alimentos da sua parte inferior?

     Na parte de baixo da cadeia alimentar estão as plantas, que se nutrem da luz do sol, do dióxido de carbono, dos minerais e da água. Os herbívoros, o elo seguinte da cadeia, comem as plantas. E os carnívoros, o elo final, não só comem os herbívoros como também outros carnívoros.

     Isso é importante porque, quanto mais se sobe na cadeia alimentar, mais concentradas se tomam as toxinas. Por exemplo, o gado se alimenta de milho e soja que foram borrifados com pesticidas. Os pesticidas se concentram na pele dos animais. Os resíduos dos pesticidas passam para a água que irriga as plantações e para água que o gado bebe, aumentando ainda mais a carga tóxica. Assim, quando um humano carnívoro come essa carne, os pesticidas concentram-se mais ainda em seu organismo.

     O mesmo processo acontece nos oceanos, onde pequenos peixes comem plâncton e os peixes maiores devoram os peixes menores. Nossos oceanos se transformaram em depósitos de lixo tóxico. Os peixes normalmente estão contaminados por uma variedade de poluentes, inclusive o metilmercúrio e outros metais pesados, por resíduos de pesticidas, por hidrocarbonetos clorados e pela radiatividade. Esses venenos podem ser encontrados em todos os peixes, mas estão mais concentrados em peixes maiores, tais como o peixe-espada e o atum, que estão no topo da cadeia alimentar aquática.

     A conclusão é a seguinte: quanto mais descemos na cadeia alimentar em busca de alimentos, menos toxinas ingerimos. E como as plantas são a parte mais baixa da cadeia, elas são a melhor opção. Ingerindo-as, faremos a nós mesmos - e à Terra - um grande favor.

6.5  Onde Estão as Fibras?

     Além de nos fornecerem muita coisa ruim - gorduras, proteínas, pesticidas -, os alimentos de origem animal carecem de uma substância muito importante: as fibras. De fato, esses alimentos não têm fibra. Isso causa verdadeiros problemas para os não-vegetarianos, porque as fibras exercem papel essencial na boa nutrição e são responsáveis por uma saúde perfeita. Eis aqui algumas maneiras de a fibra ajudar o funcionamento do organismo.

6.5.1  As fibras acabam com o colesterol

     As fibras absorvem o colesterol e o retiram do organismo. Consumir pouca fibra acelera o desenvolvimento da aterosclerose, lançando as bases para o desenvolvimento de hipertensão, ataque cardíaco, derrame e outras doenças cardiovasculares.

6.5.2  As fibras são responsáveis pela remoção dos resíduos

     Absorvendo água e aumentando o volume do bolo fecal, as fibras estimulam os resíduos a se movimentarem com mais rapidez no sistema digestivo. Sem fibras suficientes na alimentação, corre-se um risco maior de ter prisão de ventre crônica e câncer de cólon. Pense nisso: nas populações do mundo com altas taxas de ingestão de carne, a incidência de câncer de cólon é alta, enquanto nas populações com baixa ingestão de carne a incidência de câncer de cólon é baixa.

6.5.3  As fibras expulsam as toxinas do seu sistema

     As fibras encharcam as substâncias químicas tóxicas causadoras do câncer, impedindo assim sua absorção pelo intestino grosso e seu transporte para a corrente sanguínea. Um estudo holandês revelou que as mortes por todos os tipos de câncer - não apenas o câncer de cólon - eram três vezes mais frequentes entre homens cuja alimentação era pobre em fibras do que entre homens com uma alimentação rica em fibras.

6.6  As Vantagens dos Alimentos de Origem Vegetal

     O interessante é que o errado nos alimentos de origem animal é o certo nos alimentos de origem vegetal. Os cereais, feijões, as hortaliças e frutas são naturalmente pobres em gorduras e livres de colesterol. São ricos em substâncias fitoquímicas e fibras. Fornecem quantidades generosas de saudáveis ácidos graxos essenciais. De preferência, são cultivados organicamente e, portanto, são isentos de pesticidas. Mas, mesmo que fossem cultivados comercialmente, conteriam muito menos pesticidas que as carnes e os laticínios.

     A substituição dos alimentos de origem animal por alimentos de origem vegetal supernutritivos em sua alimentação promove a saúde, evita doenças e gera longevidade. Em suma, alimenta a Renovação.

     Agora você sabe por que deve seguir a Dieta Antienvelhecimento, que é uma dieta vegan, baseada em vegetais. A questão é: como fazer isso?

     Para ajudá-lo a fazer a mudança, você encontrará planos de cardápios e receitas a partir do parágrafo 0.3.2_3. Mas, se você ainda não estiver pronto para desistir completamente dos alimentos de origem animal, lembre-se: quanto mais você seguir a Dieta Antienvelhecimento, mais se beneficiará dela. Tente optar pelos laticínios desnatados (não os semidesnatados) já que eles são os menos problemáticos. Eles compreendem leite desnatado, iogurte desnatado (sem açúcar, é claro), queijo cottage sem gordura e o creme de leite light. Adote-os até se sentir pronto para aboli-los.

     Você poderia se beneficiar consultando um médico que apóie e estimule os hábitos alimentares saudáveis adquiridos recentemente. Infelizmente, a maioria dos médicos não tem muitos conhecimentos sobre nutrição e a relação desta com a saúde. Na verdade, na faculdade de medicina eles têm uma média de apenas 21/2 horas por semana de aulas sobre nutrição. O pior é que, se os próprios médicos comem carne e laticínios, é provável que defendam seu hábito não-saudável. Encontrar um médico vegetariano pode ser difícil. Mas não é impossível - e vale o esforço.

     Estou convencido de que, se você experimentar a Dieta Antienvelhecimento, gostará porque se sentirá melhor do que imaginava ser possível. Com o tempo, passará a encarar esse plano de alimentação não como um exercício de abnegação, mas sim como uma série de deliciosos alimentos saudáveis que você realmente sentirá desejo de comer. Você se surpreenderá ao ver como foi fácil a transição para o veganismo, embora no momento isso lhe pareça impossível. E se espantará por, um dia, ter sido atraído por alimentos que causam tantas doenças.

****

     Agora é hora de aprender mais sobre as gorduras - em especial, como certas gorduras nos mantêm literalmente vivos, enquanto outras literalmente nos matam.

6.7  Bibliografia do Capítulo 6

Referências Bibliográficas

[102]
Allen, L. "Protein-Induced Hypercalciuria: A Longer Term Study". American Journal of Clinical Nutrition 32 (1979): 741.
[103]
American Dietetic Association. "Position of the American Dietetic Association on Vegetarian Diets". Journal of the American Dietetic Association 93 (1993): 1317-19.
[203]
Anderson, J. W., e Johnstone, B. M. "Meta-Analysis of the Effects of Soy Protein Intake on Serum Lipids". New England Journal of Medicine 333 (1995): 276-82.
[105]
Barnard, N. D. "The Power of Your Plate" (Summertown, Tenn.: Book Publishing Company, 1990).
[106]
Barnard, N. D. "Eat Right, Live Longer" (Nova York: Hannony Books, 1995).
[107]
Barnard, N. D. "The Pyramid Crumbles: Rewriting U.S. Dietary Guidelines". Good Medicine 4 (2) (verão de 1995).
[206]
Brenner, B. "Dietary Protein Intake and the Progressive Nature of Kidney Disease: The Role of Hemodynamically Mediated Glomendar Injury in the Pathogenesis of Progressive Glomerular Sclerosis in Aging, Renal Ablation and Intrinsic Renal Disease". New England Journal of Medicine 307 (1982): 652.
[109]
Brockis, J. "The Effects of Vegetable and Animal Protein Diets on Calcium, Urate, and Oxalate Excretion". British Journal of Urology 54 (1982): 590.
[110]
Carpenter, B. "Investigating the Next Silent Spring: Why Are Sperm Counts Falling So Precipitously?" U.S. News and World Report 120 (10) (11 de março de 1996): 50.
[111]
Check, W. "Switch to Soy Protein for Boring but Healthful Diet". Journal of the American Medical Association 247 (1982): 3045-46.
[112]
Diamond, H., e Diamond, M. "Fit for Life" (Nova York: Wamer Books, 1985).
[113]
Garrison, R. H., e Somer, E. "The Nutrition Desk Reference" (New Canaan, Conn.: Keats Publishing, 1985).
[114]
Kushi, M. The "Book of Macrobiotics" (Japan Publications, 1977).
[115]
Lappé, F. M. "Diet for a Small Planet" (Nova York: Ballantine Books, 1975).
[116]
Leonard, J., Hofer, J. L., e Pririkin, N. "Live Longer Now: The First One Hundred Years of Your Life" (Nova York: Charter Books, 1974).
[117]
Liebman, B. "Are Vegetarians Healthier Than the Rest of Us?" Nutrition Action Health Letter (dezembro de 1988).
[118]
Marsh, A. G. "Cortical Bone Density of Adult Lacto-Ovo-Vegetarian and Omnivorous Women". Journal of the American Dietetic Association (fevereiro de 1980): 148-5 1.
[119]
Masrerson, M. "The Poison Within: A Special Report". Phoenix: Arizona Republic, 29 de jan. - 3 de fev. de 1989.
[120]
McDougall, J. "McDougall's Medicine" (Clinton, N.J.: New Win, 1985).
[121]
McDougall,J. "The McDougall Plan" (Clinton, N.J.: New Win, 1983).
[122]
Mott, L., e Snyder, K. "Pesticide Alert" (San Francisco: Sierra Club Books, 1988).
[123]
Quillan, P. "Safe Eating" (Nova York: M. Evans and Company, 1990).
[124]
Rath, M. "Eradicating Heart Disease" (San Francisco: Health Now, 1993).
[125]
Robbins, J. "Diet for a New America" (Walpole, N.H.: Stillpoint Publishing, 1987).
[126]
Robbins, J. "May All Be Fed: Diet for a New World" (Nova York: William Morrow and Company, 1992).
[127]
Sacks, F. M. et al. "Effect of Ingestion of Meat on Plasma Cholesterol of Vegetarians". Journal of the American Medical Association 246 (1981): 640-44.
[128]
Sanchez, I. V. et al. "Bone Mineral Mass in Elderly Vegetarian Females". American Journal of Roentgenology 131 (1978): 542.
[129]
Sirtori, C. R., Even, R., e Lovati, M. R. "Soybean Protein Diet and Plasma Cholesterol: From Therapy to Molecular Mechanisms". Annals of the Nova York Academy of Sciences 676 (1993): 188-201.
[130]
Steinman, D. "Diet for a Poisoned Planet" (Nova York: Ballantine Books, 1990).
[131]
Steinman, D. "Gender-Bending Foods". Natural Health 27 (1) (jan.-fev. de 1997): 48ss.
[132]
Steinmetz, K. A. "Vegerables, Fruit, and Cancer". Epidemiology. Cancer Causes Control2 (S) (1991): 325-57.
[133]
Warrick, Pamela. "Wheres the BeeP Not on Dr. Spock's List". Los Angeles Times, 3 de fevereiro de 1995.
[134]
Wehrbach, M. "Nutritional Influences on Illness" (Tarzana, Calif.: Third Line Press, 1987).
[135]
Yuesheng, Z. et al. "A Major Inducer of Anticarcinogenic Protective Enzymes from Broccoli: Isolation and Elucidation of Strucrure". Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 1992.