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Capítulo 7
Planeje a Redução da Droga Psiquiátrica


A Droga Psiquiátrica pode ser o Problema
Como e Por Que Parar de Tomar
Medicamentos Psiquiátricos
Edição revista e atualizada, 2007

Peter R. Breggin, M.D.
David Cohen, Ph.D.

Veja este livro em inglês-português
Planeje a Redução da Droga Psiquiátrica
    7.1  Decida por si mesmo
    7.2  Tente obter ajuda de um médico experiente
    7.3  Como pode um clínico ajudar?
    7.4  Informando o seu médico de suas intenções
    7.5  Fique encarregado da retirada
    7.6  O melhor e o pior à se esperar do seu médico
    7.7  Configure uma rede de suporte
    7.8  Como um amigo pode ajudar
    7.9  Redes de suporte na Internet
    7.10  Saber o que advem das drogas psiquiátricas pode ajudar
    7.11  Antecipe as reações de abstinência
    7.12  Entenda o que influencia a facilitação do período de abstinência
        7.12.1  Preveja o retorno de seu problema original
        7.12.2  Antecipe a possibilidade de um período longo de abstinência
        7.12.3  Esteja preparado para mudar suas rotinas
        7.12.4  Espere o reavivamento de sentimentos
        7.12.5  Manejando o sono interrompido
        7.12.6  Lidando com fortes reações de amigos e familiares
        7.12.7  Não reaja com raiva e culpa
        7.12.8  Seja flexível em relação a retirada
        7.12.9  Configure um plano de ação
    7.13  Enfrentando o medo da abstinência

     Podemos resumir o caminho mais prudente e sensato de parar de tomar drogas psiquiátricas em uma sentença curta: planeje bem a retirada e vá devagar. Independentemente da droga que você esteje usando e dos problemas que ela pode ter criado em sua vida, uma retirada bem planejada e gradual tem as melhores chances de ser bem sucedida. Por outro lado, uma retirada não planejada e abrupta aumenta o risco de grandes dificuldades e pode levá-lo à retornar, de forma igualmente não planejada, a tomar estas drogas.

     Neste capítulo, oferecemos um programa, de retirada das drogas psiquiátricas, que é racional e centrado na pessoa. Por "racional", queremos dizer que ele repousa em princípios e evidências clínicas fortes. Por "centrado na pessoa", queremos dizer que ele procura ajudar os indivíduos à se encarregarem do processo de retirada. Qualquer um que esteja considerando sair das drogas psiquiátricas, ou aconselhar um parente, um amigo, um cliente, ou um paciente sobre esta questão, deve ler este capítulo cuidadosamente. No Capítulo 8, nós discutiremos o processo real de reduzir o consumo destas drogas até zero. Então, no Capítulo 9, nós revisaremos as reações de abstinência específicas associadas com vários tipos de drogas psiquiátricas. No Capítulo 10, discutiremos como ajudar sua criança à sair destas drogas.

     O processo de retirada pode ser comparado com uma jornada. Antes de empreender uma jornada, especialmente uma com um destino não familiar, você provavelmente achará que é útil planejar seus passos, fazer um inventário dos elementos essenciais para levar contigo, e antecipar possíveis obstáculos, aliados e recursos. Você não será capaz de prever todas as surpresas difíceis ou agradáveis, mas poderá certamente estar preparado para muitas das mais óbvias.

     Antes de dar o primeiro passo, porém, será melhor se você souber aonde realmente quer ir com esta jornada.

7.1  Decida por si mesmo

     A escolha de sair das drogas psiquiátricas deve ser uma decisão pessoal própria sua. Seria imprudente que qualquer outra pessoa decidisse por ti se você deve tomar estas drogas ou parar de tomá-las.

     Opiniões sobre a utilidade das drogas psiquiátricas variam muito. Como o leitor já deve saber, nós acreditamos que tomar estas drogas para resolver problemas emocionais, psicológicos e sociais é no máximo uma solução temporária superficial enganadora. Mas outras pessoas acreditam que estas drogas são muito úteis, até mesmo para salvar vidas, e alguns não conseguem jamais se ver sem elas. Nós encontramos muitos indivíduos que acreditam profundamente em drogas psiquiátricas. Alguns, eventualmente, sairam delas e encontraram outras maneiras de superar as dificuldades da vida. Acreditamos que, até que as pessoas decidam por si mesmas qual curso de ação à ser tomado, o melhor que nós podemos fazer é fornecer informações precisas e partilhar a nossa experiência.

     Tomar drogas psiquiátricas é muito mais do que uma simples questão médica ou técnica. Tomar estas drogas pode parecer dar sentido à vida de uma pessoa; se feito pelo pedido urgente de uma autoridade, pode ser a coisa mais próxima a um ritual religioso que você já experimentou. Seus valores e idéias sobre a natureza humana e crescimento pessoal, e sobre as fontes de sofrimento psicológico, vão influenciar se você escolhe ou não tomar drogas psiquiátricas. Por sua vez, tomar estas drogas virá a colorir seus valores e idéias (ver Capítulo 12).

     Como notado, a decisão de tomar ou parar de tomar drogas psiquiátricas deve ser pessoal. Não deve ser trivializada pela aceitação loquaz de pseudo-argumentos médicos do seu psiquiatra ou de outros, tais como "Esta droga é o tratamento mais eficaz para a sua séria doença" ou "Esta droga corrige desequilíbrios bioquímicos no cérebro" ou "Nunca deixe de tomar este medicamento, é apenas como a insulina para o diabetes".

     No campo da saúde mental, não há uma única explicação física que tenha sido confirmada para qualquer uma das centenas de "distúrbios" psiquiátricos listados no DSM-IV. Um recente editorial no American Journal of Psychiatry [Jornal Americano de Psiquiatria] indica o caso claramente: "Até agora, nós não identificamos os agentes etiológicos dos distúrbios psiquiátricas" (Tucker, 1997 [374], p. 159). Mesmo nesta era de soluções biológicas rápidas, um número crescente de pesquisadores estão documentando a observação de que abordagens sem drogas psiquiátricas produzem resultados equivalentes ou melhores do que com elas. Isto é verdadeiro mesmo para os problemas considerados extremamente sérios, como a "esquizofrenia"114. As alegações de alguns médicos, em contrário, têm pouca ou nenhuma base científica.

     Contudo, mesmo pessoas bem-educadas podem ficar profundamente impressionadas pela propaganda psiquiátrica que apele para as suas inseguranças. Precisamente porque há tão pouca base científica sólida para o uso de drogas psiquiátricas, mistificações e slogans são frequentemente comunicados aos médicos pela propaganda destas drogas, e depois aos pacientes pelos médicos115.

     Portanto, o primeiro princípio da retirada racional de drogas psiquiátricas é o de decidir por si mesmo que você quer fazer isso. Mesmo que tomar estas drogas tenha se tornado um modismo, promovido pelas empresas farmacêuticas e os médicos, a retirada destas drogas deve ser uma decisão individual bem pensada.

     Decidir por si mesmo requer que você assuma a responsabilidade pelo resultado da sua retirada. Independentemente das dificuldades que tu possas encontrar, você não deve culpar os outros. Da mesma forma, você deve se orgulhar de suas próprias realizações. Sair destas drogas pelo caminho mais racional possível, frequentemente exige planejamento, preparação, força, determinação e paciência.

     Se os outros te influenciaram à tomar estas drogas, em um primeiro momento, e se seus desejos não foram respeitados, você pode achar mais difícil de decidir por si mesmo sair delas. Se você depende de outros para o seu sustento econômico ou físico - como o fazem muitas pessoas que tomam neurolépticos, tais como Risperdal, Seroquel, Zyprexa, e Haldol - a decisão de sair das drogas psiquiátricas pode ser mais difícil de ser feita. Se você tomou estas drogas durante muitos anos, talvez você não se lembre exatamente quando e por que você começou com elas. Ou se os membros da sua família ou o seu médico estão inflexivelmente te pressionando à permanecer nas drogas psiquiátricas, é compreensível que você possa querer não arriscar se afastar dessas pessoas. Estas são circunstâncias difíceis, e pode não haver uma solução fácil.

7.2  Tente obter ajuda de um médico experiente

     Verdadeiras emergências de saúde apenas ocasionalmente ocorrem durante uma retirada gradual e bem planejada. Nossa impressão é que a maioria das pessoas, que pararam de tomar drogas psiquiátricas, fizeram isso com sucesso por conta própria, sem supervisão clínica ativa. No entanto, às vezes pode ser perigoso tentar parar sem supervisão profissional. Acreditamos que a maioria das pessoas se beneficiarão com o apoio de um terapeuta experiente e qualificado ou um clínico que é simpático aos seus desejos. Esta pessoa pode ser um psiquiatra, um clínico geral ou outro especialista médico, um farmacêutico, um assistente social, um psicólogo, um enfermeiro, ou um conselheiro com treinamento ou experiência em trabalhar com pessoas que tomam drogas psiquiátricas receitadas.

     Um terapeuta deve sentir-se livre para comunicar de forma clara para os pacientes ou clientes, e frequentemente para as suas famílias, que a retirada dos medicamentos psiquiátricos é uma escolha razoável com grandes benefícios para muitas pessoas. O terapeuta deve também comunicar que a escolha permanece sendo do cliente ou paciente, que o caso de cada pessoa é único, e que qualquer estratégia de retirada deve ser extensiva às necessidades do indivíduo, muitas vezes com o envolvimento de amigos e familiares. A ênfase sempre permanece no direito dos pacientes de escolher se querem permanecer nos medicamentos ou parar de consumi-los. Algumas pessoas podem precisar de encorajamento para romper com um ciclo destrutivo do uso de medicação; outras podem precisar da garantia de que elas não serão pressionadss à parar a medicação, a menos que elas estejam enfrentando sérios riscos de toxicidade (Cohen, sendo impresso).

     Nós descobrimos que pacientes e clientes muitas vezes querem aprender em detalhes sobre a experiência dos profissionais de saúde em ajudar as pessoas à retirar-se de drogas psiquiátricas específicas. Eles esperam que os praticantes de saúde sejam capazes de prover respostas aprofundadas sobre seu próprio conhecimento e experiência.

7.3  Como pode um clínico ajudar?

     A maioria dos médicos não são bem versados nas técnicas para ajudar as pessoas a retirar-se das drogas psiquiátricas. Alguns são claramente hostis à idéia, especialmente nos casos envolvendo neurolépticos, lítio, ou antidepressivos. De fato, se você estiver lendo este livro para obter ajuda objetivando parar de consumir estas drogas, é possível que você já tenha discutido essa intenção com o seu médico ou médica, mas não foi capaz de "sensibilizar" ele ou ela.

     Um terapeuta experiente pode ser útil precisamente porque ele ou ela tem observado reações de abstinência e sabe que a maioria tende a desaparecer dentro de uns poucos dias ou semanas. Ouvir que você está experimentando uma reação de abstinência, em vez de estar "perdendo sua mente", pode ser enormemente encorajador. Em adição à isso, o terapeuta pode ser capaz de identificar uma reação de abstinência potencialmente severa.

     Um terapeuta cuidadoso e empático também pode trabalhar com você nas questões psicológicas e práticas que provavelmente irão surgir à medida que você reduzir o seu consumo de drogas psiquiátricas, começar a experienciar os seus problemas de maneira diferente, e procurar soluções para eles que não o uso destas drogas. Um dos principais desafios da retirada da droga não é a retirada em si, mas sim como você vive sua vida após a retirada. Um bom terapeuta pode te prover do encorajamento e conselhos que você provavelmente precisará na medida que reconstruir sua vida em fundações mais seguras, sem drogas psiquiátricas.

     Ter um médico ao seu lado também pode aliviar a ansiedade que os amigos ou familiares estão sentindo à respeito dos seus planos. E uma vez que os profissionais de saúde mental estão frequentemente conectados à uma rede de colegas os quais podem dar-lhes conselhos sobre problemas específicos que surgam, eles aparentemente têm acesso imediato à informação médica ou psicológica e são capazes de ajudá-lo a dar sentido à ela.

7.4  Informando o seu médico de suas intenções

     Como um primeiro passo, você pode querer informar ao seu médico de suas intenções a respeito da retirada. Você pode pedir ajuda para o desenvolvimento de um cronograma de diminuição das doses e uma lista de prováveis reações físicas e emocionais. Se você está tomando tranquilizantes benzodiazepínicos (ie, drogas "ansiolíticas" tais como Ativan, Klonopin, Valium, ou Xanax), o seu pedido deverá ser facilmente satisfeito. As chances são de que o seu médico irá apoiar ativamente o seu desejo de parar de tomar sedativos, comprimidos para dormir, ou tranquilizantes. Essas drogas são menos populares, de fato, elas são vistas decididamente como perigosas por muitos médicos informados. Mesmo os médicos, que acreditam que sua ansiedade é uma doença crônica requerendo medicação ao longo da vida, podem ser simpáticos com o seu desejo de parar de tomar benzodiazepínicos. Muitos médicos têm visto muitos pacientes viciados em benzodiazepínicos, eles percebem que esses pacientes estão sofrendo de "depressão benzo" (Drummond, 1997 [135]) ao invés de sua ansiedade ou estresse original.

     Se o seu relacionamento com o seu médico não se baseia na confiança, você provavelmente vai achar angustiante abordar o assunto da retirada da droga. Se você não está acostumado a ser honesto com o seu médico ou geralmente expor apenas uma quantidade limitada de informações sobre si mesmo por medo de que o seu médico vá aumentar a dose ou acrescentar novas drogas, então expressar sua intenção de sair das drogas pode estressar o relacionamento.

     Se você está tomando drogas psiquiátricas que não são tranquilizantes, e especialmente se você teve uma ou mais internações psiquiátricas ou uma tentativa de suicídio no passado, o seu médico pode ficar muito hesitante em apoiá-lo e pode até se tornar antagônico. Tente manter a calma, contudo. Exibir agitação sobre a reação negativa do seu médico pode ser contraproducente no planejamento de seu processo de retirada. Em vez disso, tente entender a perspectiva do seu médico.

     O seu médico está provavelmente comprometido em acreditar que pílulas são indispensáveis, especialmente se ele ou ela não tem conhecimento sobre aconselhamento e escuta empática. As chances são de que a maior parte de seu treinamento recente ou educação continuada tem se focalizado em classificar os pacientes em categorias de diagnóstico, de modo a prescrever drogas psiquiátricas para eles. Além disso, se seu médico é um clínico geral, ele ou ela provavelmente assiste à conferências anuais em que os médicos são instados a reconhecer "casos escondidos de depressão" e "ansiedade subjacente" e rapidamente prescrever estas drogas. Transferir a habilidade dos médicos de resolver problemas, para opções sem drogas psíquicas, pode representar grandes desafios para a perícia e identidade profissional destes médicos. Muitos tipos diferentes de profissionais de saúde mental oferecem serviços psicológicos, mas apenas os médicos prescrevem drogas farmacêuticas. Se você chegou a ver um médico, há uma expectativa implícita de que você quer e precisa - e muito provavelmente obterá - uma droga psiquiátrica116.

     Precisamente porque muitos médicos expressam uma atitude negativa ou antagônica sobre a retirada de drogas psiquiátricas - especialmente a retirada que o paciente inicia, controla e avalia - eles não estão propensos a aceitar ou acolher relatos de resultados positivos. Nossa experiência clínica indica que quando os pacientes com sucesso param de tomar drogas psiquiátricas por conta própria, eles geralmente não falam para seus médicos anteriores. Os pacientes são ainda menos propensos a contar aos seus médicos se o relacionamento foi superficial ou centrado em torno da prescrição destas substâncias. Frequentemente os pacientes estão muito zangados ou aflitos para comunicar com o médico, ou sentem-se insuficientemente cuidados. Assim, os médicos simplesmente não aprendem que a retirada pode ser realizada eficientemente e frequentemente resulta em benefícios substanciais.

     Contudo, se seu médico é uma pessoa de mente aberta e genuinamente interessado em seu bem-estar, você definitivamente deve discutir o assunto com ele ou ela. Você vai precisar de descrever calmamente os objetivos que você está tentando alcançar e a natureza do seu programa de retirada e reabilitação. Se você detectar resistência do seu médico, você pode tentar negociar certas condições sob as quais o médico vai concordar em supervisionar sua retirada.

     Você pode indicar para o seu médico que tu tens estado "estável" durante algum tempo, e explicar que, uma vez que as drogas psiquiátricas não curam qualquer problema, mas apenas ajudam a suprimir alguns sintomas, você sente que é hora de você tentar controlá-las por si mesmo. Você também pode lembrar ao seu médico que, quando as coisas vão bem, é a sua droga que é elogiada, mas quando as coisas dão errado, é a sua "doença" que é culpada. Se você insistir em discutir o assunto, calmamente, mas com firmeza, e se você compartilhar os planos que você está fazendo para assegurar que a retirada será bem sucedida, há uma boa chance que você será capaz de ganhar o apoio do seu médico.

7.5  Fique encarregado da retirada

     Isto não quer dizer que você deve deixar seu médico controlar a retirada. Mesmo se você tiver tido todas as razões possíveis para acreditar que ele ou ela entende o processo de retirada, você tem que sentir a participação do médico como uma colaboração.

     E considerando que os médicos muitas vezes retiram os pacientes muito abruptamente das drogas psiquiátricas, acima de tudo, você deve se sentir livre para desacelerar o processo.

     Às vezes, como discutimos no Capítulo 9, os médicos cortam a dose pela metade de um dia para o outro, enquanto continuam a chamar isto uma retirada "gradual". Tal redução abrupta é uma estratégia imprudente na maioria dos casos. Por causa da ignorância, falta de experiência na retirada centrada no paciente, ou mesmo um desejo não reconhecido para sabotar o seu esforço, o médico pode correr na frente e criar complicações desnecessárias. O resultado desafortunado, então, será usado para provar à você que a retirada foi uma decisão ruim.

     Algumas das etapas discutidas em capítulos posteriores deste livro, tais como a busca de soluções alternativas e a mestria em técnicas para lidar com várias manifestações do seu problema, vão ajudar você à mostrar ao seu médico que você está motivado, responsável e capaz de retirar a droga psiquiátrica com sucesso.

     Uma mulher para quem foi prescrito um antidepressivo e dois tranquilizantes por três anos nos disse: "Eu disse à minha médica que se ela não me ajuda-se [à retirar a droga], eu simplesmente iria fazê-lo sozinha. Ela não desaprovou minha determinação e se tornou muito cooperativa. Ela olhou por cima algumas referências, me deu conselhos para ir devagar, e me chamou uma vez por semana. Mais tarde, ela me disse que aprendeu muito de mim".

     Se falharem as tentativas de contar com a colaboração ou assistência de seu médico, você não deve ficar surpreso nem desencorajado. Lembre-se que você, e mais ninguém, vai fazer o "trabalho" real de sair fora das drogas psiquiátricas. Você vai sentir - a dor, e você vai experimentar as recompensas. Você vai ter que lidar com as objeções e medos das pessoas à sua volta que resistem à idéia de que pelo menos alguns de seus problemas atuais são de fato induzidos por estas drogas. Você deve então tentar estar encarregado de todo o processo desde o início, desde o primeiro momento que você decidir por si mesmo que sair das drogas é o seu objetivo.

7.6  O melhor e o pior à se esperar do seu médico

     Na melhor das hipóteses, o seu médico irá apoiar e até mesmo encorajar o seu desejo de viver uma vida livre de drogas psiquiátricas; te fornecer informações médicas factuais sobre os efeitos da retirada; recomendar um cronograma de retirada sensato, prático e gradual; prescrever, se necessário, outra droga cuja retirada possa ser menos desagradável do que a que você está tomando atualmente; permanecer disponível para vindoura supervisão médica durante a retirada; fazer referência de você para um colega, com mentalidade de psicólogo, para aconselhamento durante o processo de retirada; e, se você tem estado a tomar doses muito altas de tranquilizantes por vários anos, possivelmente interná-lo para desintoxicação.

     Na pior das hipóteses, o seu médico irá demitir ou ridicularizar o seu desejo de retirar-se das drogas psiquiátricas, encorajar a sua dependência destas drogas, minar sua confiança em si mesmo, fornecer informações incorretas, ameaçá-lo com consequências terríveis, e sabotar seus esforços.

     Se o seu próprio médico se recusa a ajudá-lo, consulte outro médico ou terapeuta. Tenha em mente, contudo, que os profissionais de saúde mental são propensos a ajudá-lo a se retirar das drogas psiquiátricas somente no contexto de uma relação sustentada e somente se eles são capazes de abraçar para si próprios a idéia de que soluções sem estas drogas são realistas, opções desejáveis para uma faixa de problemas.

     Os farmacêuticos estão, por vezes, com boa vontade em oferecer aos pacientes conselhos para retirada destas substâncias, especialmente de tranquilizantes. Incitada a partir de dentro e de fora, a profissão de farmácia como um todo, mudou ao longo das últimas duas décadas, com os farmacêuticos aumentando a sua visibilidade e competência como conselheiros e como avaliadores dos tratamentos com prescrições médicas117. Hoje em dia, porque os médicos que receitam medicamentos muitas vezes não informam seus pacientes adequadamente, muitas pessoas aprendem primeiro sobre os efeitos adversos na drogaria, diretamente do farmacêutico, ou de um impresso ou panfleto sobre a droga recebida com a apresentação da sua receita médica.

     Quando os farmacêuticos proveêm assessoria aos pacientes para retirar a droga psiquiátrica, eles não estão contradizendo a prescrição médica. Quando eles respondem as perguntas dos pacientes sobre as formas mais seguras de se retirar, eles estão dando informações vitais necessárias para os pacientes tomarem decisões inteligentes sobre o seu futuro bem-estar. De fato, embora os farmacêuticos sejam muitas vezes pressionados a aumentar a concordância dos seus pacientes em tomar drogas farmacêuticas, algumas pessoas acham neles um ouvido muito mais simpático do que em seus médicos. Em qualquer caso, devido ao seu treinamento específico em farmacologia existem chances de que os farmacêuticos estejam mais informados e sensíveis sobre questões de abstinência do que a maioria dos outros profissionais de saúde.

     Cada vez mais profissionais de saúde mental sem formação médica estão intimamente envolvidos na situação de prescrição. Assistentes sociais, conselheiros e psicólogos estão hoje frequentemente sendo chamados para informar os seus clientes sobre os efeitos de medicamentos e para monitorar esses efeitos quando os pacientes são medicados, e discutir as idéias destes pacientes sobre medicamentos. Eles servem como educadores, orientadores, monitores, defensores, advogados e pesquisadores. Esses profissionais, por vezes, buscam à formação especializada sobre drogas psicotrópicas. Assim, muitos na profissão de psicologia estão ativamente fazendo lobby nas legislaturas estaduais para que estas concedam aos psicólogos alguma forma de autoridade para prescrever estas drogas psicotrópicas118 - um movimento com forte oposição pela psiquiatria organizada. Enquanto estamos ambivalentes sobre novos aumentos no número de indivíduos com o poder de prescrever drogas psiquiátricas, nós também podemos ver alguns benefícios potenciais. Durante a última década muitos profissionais não-médicos da saúde mental ganharam mais conhecimento especializado sobre as drogas psiquiátricas. Esperamos que isto possa dar aos clientes mais opções sobre o tipo de conselhos que recebem quando estão tentando decidir se devem tomar, ou continuar a tomar, ou parar de tomar medicamentos. Mas no momento, a maioria dos profissionais exercercem o poder de prescrever com perigoso abandono.

7.7  Configure uma rede de suporte

     Mais do que um médico ou um terapeuta, sua rede de amigos e conhecidos de confiança pode se tornar seu recurso mais valioso durante todo o processo de retirada. Sair das drogas psiquiátricas é uma tarefa feita melhor com apoio de outros, especialmente se você tem estado a tomar estas drogas por vários anos e tenha entorpecido ou perdido algumas de suas outras reações de enfrentamento.

     Embora os membros da família e amigos possam oferecer uma ajuda inestimável, nós descobrimos que os pares de conselheiros ou membros de um grupo de auto-ajuda muitas vezes oferecem o melhor apoio. Muitos grupos de auto-ajuda, incluindo os Alcoólicos Anônimos (AA), ajudam os seus membros a parar de consumir substâncias psicoativas. Apesar de nós não conhecermos pessoalmente qualquer programa de apoio, de "Doze Passos"119, projetado especificamente para usuários de drogas psiquiátricas, nós acreditamos que tais grupos poderiam ser úteis. Contudo, cuidado com os grupos de auto ajuda nos quais o objetivo principal é fazer com que os membros aceitem a idéia de que seu problema emocional é uma doença, que devem consultar um médico para ele, e que estas drogas são o melhor remédio. Quando esses grupos discutem questões da medicação e efeitos adversos, o objetivo é diminuir a resistência dos membros, em tomar estas drogas farmacêuticas.

     Grupos de auto-ajuda menos estruturados, tais como aqueles funcionando em pares nos centros de saúde mental, são susceptíveis de colocar você em contato com pessoas que tiveram sucesso em parar de consumir drogas psiquiátricas e que permanecem disponíveis para discutir suas experiências e dar conselhos. Independentemente dessas pessoas terem se libertado totalmente ou parcialmente destas drogas, elas podem ser de extrema ajuda para você.

     As pessoas que já passaram pelo processo de parar de consumir drogas psicoativas geralmente não farão pré-julgamentos e aceitarão seu pedido. Elas rapidamente vão entender por que você quer parar de tomar estas drogas. Elas não precisam ser convencidas de que esta é uma alternativa sensata para o seu tratamento. Possivelmente, elas terão uma visão geral mais positiva, do que outras pessoas, sobre as suas chances de ser bem sucedido. Mesmo que as motivações e experiências delas tiverem sido diferentes das suas, falar com elas pode te mostrar que sair das drogas psiquiátricas pode ser realizado sem grandes retrocessos, enquanto fará de você uma pessoa mais forte.

7.8  Como um amigo pode ajudar

     Discutir informalmente os seus desejos, metas e apreensões, com pessoas sem preconceitos e empáticas - não importando se elas são novatas em aconselhamento ou se lhes falta credenciais profissionais - pode ser muito benéfico. Uma maneira de ajuda das pessoas, as quais tu podes recorrer, é concordando em ficar em contato com você durante o período do processo de parar de consumir as drogas psiquiátricas. Mas isso não quer dizer que elas têm de ser confrontadas com a responsabilidade de "vê-lo durante" este processo. Afinal, você deve assumir a responsabilidade por suas decisões. E em qualquer caso, não importa quão bem-informadas e bem-intencionadas as outras pessoas estão, elas podem quebrar suas promessas. Então, ao invés de ficar desapontado com indivíduos específicos e se sentindo desencorajado, procure - e faça uso - do tanto de apoio social o quanto você puder.

     Organize, para sua ajuda, pessoas para falar com você no telefone em uma base regular - uma vez por dia ou algumas vezes por semana - independentemente de você estar se sentindo bem ou não. Talvez elas também possam concordar em encontrá-lo ocasionalmente para oferecer segurança e aconselhamento, ou simplesmente para te dispor com uma audição. Se elas próprias passaram por uma retirada destas drogas, elas saberão que, se você não estiver se sentindo bem, há uma razão válida. Elas sabem que emoções dolorosas e sensações corporais são esperadas. Elas saberão que as pessoas submetidas à esta experiência potencialmente difícil, muitas vezes perdem a perspectiva, desesperam devido à retrocessos menores ou exageram nas pequenas vitórias. Elas vão saber que algumas palavras asseguradoras podem fazer maravilhas em momentos críticos. Elas serão capazes de ver se você precisa de ajuda adicional, especialmente se a sua reação devido a retirada é mais séria do que você imagina. Elas também irão ajudá-lo a evitar fazer decisões bruscas ou insensatas sobre sua vida.

     Idealmente, você deve ser ajudado, ao parar de consumir drogas psiquiátricas, no contexto de um relacionamento seguro e de confiança com um ajudante experiente e informado. Um princípio muitas vezes aplicado em centros de tratamento de dependência de drogas é estabelecer uma relação de confiança com um indivíduo que tenha passado através do mesmo processo e possa prover certificações, bem como antecipar algumas das dificuldades envolvidas.

     Em suma, o processo de parar de consumir as drogas psiquiátricas necessita que você construa uma rede de apoio social. Procurar alianças com os indivíduos apoiadores e de mentalidade parecida, irá fortalecer não apenas sua resolução, mas, muito provavelmente, suas habilidades em outras áreas também. Você vai sentir os efeitos benéficos de aprender a buscar apoio de outras pessoas além da questão da retirada destas drogas.

     Inúmeras pessoas têm sido muito estigmatizadas, isoladas, amedrontadas, ou confundidas para alistar este tipo de apoio. Forçadas a confiar em seus próprios recursos, elas têm, no entanto, administrado com sucesso o parar de tomar drogas psiquiátricas. Contudo, na ausência de supervisão médica, muitas destas pessoas tem incorrido em riscos crescentes de sofrer reações de abstinência desagradáveis e até perigosas.

7.9  Redes de suporte na Internet

     O grau em que os recursos de auto-ajuda tem tomado posição no "mundo online" atesta a sua utilidade para muitas pessoas ao redor do mundo. Nenhuma discussão sobre a criação de uma rede de apoio para lidar com situações difíceis seria completa sem uma referência aos recursos disponíveis na Internet.

     Em seu guia dos recursos on-line de saúde mental, o psicólogo e pioneiro da Internet John Grohol escreve: "É fácil esquecer que o mundo online oferece não apenas a capacidade de `navegar', mas também para participar de uma comunidade interativa de apoio" (Grohol, 1997 [190], p. 244). De fato, através da Internet, dezenas de milhares, senão milhões de pessoas discutem questões de interesse, e tentam apoiar uns aos outros em tempos difíceis.

     A Internet tem sido particularmente útil no estabelecimento de conexões entre ex-pacientes psiquiátricos e os atuais. Como Grohol indica, o suporte on-line é indispensável para as pessoas que vivem em áreas remotas ou rurais. Também é especialmente útil para pessoas que têm dificuldades com as relações interpessoais face-a-face. Ainda outros podem descobrir que seus problemas emocionais são menos estigmatizados no mundo online. Acima de tudo, a Internet oferece uma forma imediata de "falar" com pessoas em todo o país e ao redor do mundo, que são susceptíveis de ter experimentado problemas muito semelhantes ao seu próprio.

     Milhares de grupos de discussão de auto-ajuda e fóruns florescem na Internet. As pessoas discutem suas dificuldades pessoais, que vão desde o alcoolismo à perda de peso, e oferecem conselhos aos outros. Em alguns grupos, as pessoas discutem a retirada de drogas psiquiátricas.

     Tudo o que é necessário para você começar uma tal discussão é entrar em um forum obtendo uma senha e enviando uma mensagem. Com toda probabilidade, você receberá várias respostas empáticas e encorajadoras dentro de uns poucos dias. Se você tiver sorte, você vai receber algumas respostas bem informativas também. Tenha em mente, é claro, que a maioria dos participantes irá expressar seus pontos de vista e opiniões pessoais, que são muito parecidas com aquelas expressas em qualquer outro contexto. De fato, todos os comentários on-line devem ser recebidos cautelosamente, pois os participantes usualmente permanecem anônimos e você não terá o feedback que provê uma conversa face-a-face ou mesmo de telefone.

     A miríade de sites na Internet devotados às questões de saúde mental e de drogas psiquiátricas exige cautela. Obviamente, a qualidade das informação na Internet, relacionadas com estas drogas, é muito variada. Alguns dos comumente mais usados e altamente respeitados sites, tais como WebMD, são patrocinados por empresas de drogas farmacêuticas. Quando se chega no tópico da retirada destas drogas, encontramos as seguintes características associadas com as informações de melhor qualidade na Internet: (1) o proprietário ou o autor do site é claramente identificado, (2) o site é de fácil leitura (3), referências exatas para a literatura são fornecidas, bem como os reconhecimentos de que a maioria do conhecimento sobre a retirada repousa sobre relatos de casos e na responsabilidade de pessoas em primeiro pronome, e que a maioria das recomendações, sobre estratégias específicas de diminuição das doses, são as opiniões de especialistas, (4) o site não vende ou endossa produtos "de ervas", "nutricionais", ou outros que alegam apressar a retirada ou a reduzir muito os efeitos da retirada (sem induzir efeitos psicotrópicos ou criando a possibilidade para dificuldades futuras de retirada), e (5) o site não é patrocinado por empresas fabricantes de drogas psiquiátricas, centros médicos, ou outros grupos altamente investidos na indústria farmacêutica e médica.

     O curso de um diálogo muitas vezes se desenvolve entre dois ou mais indivíduos na Internet. As seguintes mensagens, são apenas algumas dentre centenas sobre a retirada de antidepressivos, postadas durante a primavera de 1998 no painel de mensagem do Health for Life Center [Centro de Saúde para Vida] (www.lexmall.com). Elas não foram editadas (com exceção da ortografia) e, na maior parte, se referem a retirada do antidepressivo Zoloft.

     Isso é o que eu tenho estado procurando, me sinto muito melhor agora que li que outras pessoas tem o mesmo tipo de abstinência que eu estou tendo. Eu posso quase chorar porque como você me disseram que não haveria problemas, bastava parar ...  sim, certo!! Eu pensei que estava passando por algo pior do que deveria passar. Obrigada por haver esta mensagem aqui. Eu estava tomando 100 mg de Zoloft por 6 meses, e isso ajudou. Contudo eu parei duas semanas atrás e essa retirada [abrupta] é mortífera, eu tenho uma dor de cabeça constante, sinto-me como se estivesse elevada, mas a mente ainda está aqui, meu corpo formiga, eu sinto contrações, fico esgotada na maior parte do tempo, não posso mais suportar isso. Estou tonta, tenho dores de estômago, estou doente. Meu apetite, bem, por alguns dias eu estava com fome constantemente; não conseguia parar de comer, e agora, apesar de ainda estar com fome, não posso comer. Gostaria de saber quando isto vai parar, espero que em breve! [Postado por Tanya em 26 de março]
 

     Sim ...  eu também. Contudo, penso que tive uma abordagem mais segura do que esta recomendada por seus médicos. Eu diminui a dose gradualmente ...  de 200 miligramas até 125 mgs, e depois 100, 75, 50, e daí para 33,3, 25, e agora finalmente 0 miligramas. Todo o processo durou cerca de 3 meses. Quando eu usei a droga psiquiátrica pela primeira vez, eu fui aumentando aos poucos até 200 miligramas. Eu experimentei uma disfunção sexual TOTAL, e sabia integralmente que eu não queria isso ...  se eu quisesse ser castrado eu teria pedido! A parte final da retirada foi a mais difícil ...  de 25 para 0 mgs ...  e me pergunto se eu não deveria ter ido para 10 ou 15 primeiro. Mas agora que eu estou aqui, estou indo para falência. ...  tenho tido tonturas e mudanças de humor nos últimos dias, mas elas não parecem tão severas como aquelas sobre as quais li acima. Eu não acredito que exista nenhuma outra maneira de reduzir os sintomas de abstinência. ...  Sinta-se livre para me escrever sobre qualquer coisa deste assunto. Cuide-se e fique ligado! [Postado por Ed em 5 de Abril]
 

     Eu realmente quero parar de tomar Zoloft, mas eu estou tão assustada. A abstinência sempre me causou uma experiência de depressão mais profunda. Eu quero parar, mas não sei como. Alguém tem alguma idéia? [Postado por Kristin em 12 de abril]
 

     Eu estive reduzindo a dose, de 100mg/dia de Zoloft, por três semanas até agora. A vertigem é pior, não melhor. Eu posso praticamente cair apenas por girar minha cabeça. Eu provavelmente não estarei segura ao volante de um carro. Tenho dores de cabeça constantes, não posso pensar claramente não posso focar meus olhos, e uma miríade de outros sintomas. Estou cansada, com sono, resmungona e emocionalmente instável. Meu apetite é história. Eu não tenho feito nada no trabalho ou em casa. Meu temperamento e paciência está tão curta que é praticamente inexistente.

     Quando o meu médico e eu decidimos que iria tentar a vida sem Zoloft novamente, eu perguntei sobre os sintomas de abstinência e ele disse: "Não há problemas - é só parar de tomá-lo". Eu não quero tomar drogas psiquiátricas todos os dias. Mas, para evitar sentimentos como estes, eu poderei rever minhas decisões sobre o assunto! Quando isso vai acabar? Nunca? [Postado por Kate em 13 de abril]
 

     Eu recebi uma prescrição de Zoloft há apenas 2 meses atrás (50mg). Após o primeiro frasco ter acabado, eu não podia esperar para comprar outro até se passarem duas semanas. O que eu experimentei nessas 2 semanas foi horrível! Eu não sabia o que estava errado comigo. Agora, ao ler esses e-mails, eu sei que eu estava experimentando a abstinência de Zoloft. Se eu apenas soubesse disso! Por que o médico não me falou sobre isso? Agora eu estou aflita por que eu vou me sentir pior tentando chutar esta droga psiquiátrica. Nesse período de 2 semanas, comecei a sentir tonturas e mal do meu estômago. A tontura foi tão ruim, em um dado momento quando eu estava dirigindo, que eu tive que parar e estacionar o carro por alguns minutos. Eu pensei que tinha uma gripe. Então meus dedos, mãos e parte do meu braço começaram a formigar. A tontura durou cerca de 7 dias. Nos 4 últimos dos 7 dias, eu tive que começar a tomar o Zoloft novamente. Agora eu voltei a consumir Zoloft por 6 dias. Não há mais tonturas e os formigamentos estão lentamente desaparecendo. Eles estão praticamente inexistentes hoje. Eu disse ao médico sobre estes sintomas. Ele me disse que eu provavelmente tenho uma virose. Ele também me disse para acompanhar os formigamentos e outros sintomas. Ele me disse que poderiam ser os sinais de aviso iniciais de uma doença. Aparentemente, os médicos estão desinformados e meu médico muito casualmente fez uma prescrição para mim. Como eu vou conseguir parar de consumir esta droga? [Postado por Joyce em 16 de abril]

     Estas mensagens ilustram vividamente, em linguagem comum, a grande variedade e gravidade potencial de reações de abstinência das drogas antidepressivas tais como Zoloft. Elas também expressam os juízos dos escritores de que seus médicos estavam desinformados, prescreviam e retiravam estas drogas com muita facilidade e informavam mal aos pacientes sobre o processo de retirada. Como nós temos notado, e continuaremos a discutir, embora os problemas de abstinência de antidepressivos não sejam raros, nem moderados, eles receberam escassa atenção até muito recentemente.

     De particular interesse, contudo, são as expressões de alívio de alguns dos escritores ao descobrir que seu desconforto é induzido pelas drogas psiquiátricas e que eles não estão sozinhos. Claramente, eles receberam conforto e encorajamento ao ter sua experiência validada por outros, mesmo sendo pessoas completamente estranhas.

7.10  Saber o que advem das drogas psiquiátricas pode ajudar

     Para ter sucesso na sua retirada, você deve ter uma boa idéia da "jornada" à sua frente e os eventos e situações que são susceptíveis de encontrar. Você deve antecipar possíveis problemas e entender, de antemão, que passos concretos devem ser dados para reduzir esses problemas.

     A boa notícia é que a energia, vigor, e memória muitas vezes voltam quando as pessoas param de tomar drogas psiquiátricas. De fato, você pode muito bem descobrir que você é capaz de pensar e concentrar-se mais claramente, que você é capaz de sentir uma ampla gama de emoções, e que você é mais sensível a estímulos de seu meio social e físico.

7.11  Antecipe as reações de abstinência

     Você deve se lembrar da primeira vez que começastes a tomar drogas psiquiátricas, seu corpo reagiu de várias maneiras. Por exemplo, você pode ter se sentido mais sonolento, suado mais, tido crises de tontura ou náusea, notado um tremor em seus braços ou pernas, perdido o apetite, ou experimentado várias disfunções sexuais. Possivelmente uma ou duas destas reações foram de alguma forma severas, colocado-te fora do trabalho em grupo por alguns dias, e depois desapareceu rapidamente quando seu corpo se tornou tolerante à droga ou quando a dose foi alterada.

     Você pode também ter reagido emocionalmente a essas mudanças. Talvez você tenha se sentido aliviado de que a droga estivesse realmente suprimindo um efeito e, assim, tu começastes a se sentir melhor sobre algumas das dificuldades em sua vida. Ou talvez você estivesse ansioso ou deprimido por ter de se adaptar às reações físicas envolvidas, preocupado sobre a possibilidade de tomar estas drogas por um longo tempo, ou se sentiu apático sobre o prospecto de lidar com as pessoas ao seu redor que parecem ter contribuído para as suas dificuldades pessoais.

     Similarmente, ir deixando de tomar uma droga psiquiátrica costuma criar reações físicas e psicológicas. Seu corpo vai começar a se ajustar à abstinência da substância. Ao mesmo tempo, o conhecimento de que você está largando uma destas drogas e as mudanças físicas pelas quais você está passando vão despertar várias emoções e pensamentos. Essas reações físicas e psicológicas podem ser bastante sutis ou muito óbvias, ou ambos. Elas, muitas vezes se assemelham aos problemas que te levaram à tomar estas drogas na primeira vez.

     Vai ajudar muito descobrir o que puder sobre os sintomas de abstinência associados com a droga psiquiátrica que você está tomando. No Capítulo 9, revisamos essa informação em detalhe.

7.12  Entenda o que influencia a facilitação do período de abstinência

     A severidade das suas reações de abstinência vai depender do tipo de droga psiquiátrica que você está tomando. Por exemplo, drogas de menor meia-vida (a quantidade de tempo que leva para o corpo eliminar metade da droga) tendem a produzir sintomas de abstinência mais intensos, mesmo durante a retirada gradual. Seus efeitos de abstinência também são usualmente sentidos mais cedo após a última dose do que aqueles deste tipo de drogas com meia-vida mais longa. Informações sobre as meias-vidas destas drogas são quase sempre incluídas nas suas bulas oficiais publicadas na Referência de Mesa dos Médicos [Physicians' Desk Reference]120.

     A intensidade de sua abstinência também vai depender de quanto tempo você tem estado a tomar a droga psiquiátrica e a quantidade que você estava tomando em uma base diária. Em geral, é mais difícil de parar de consumir estas drogas, quando elas foram tomadas em doses elevadas e por vários meses ou anos.

     O processo de retirada também será influenciado pelo seu estado de saúde geral. O avanço da idade e e condições médicas crônicas, que tornam as pessoas mais vulneráveis aos efeitos adversos das drogas psiquiátricas, também podem aumentar a dificuldade de parar de tomá-las. Às vezes, porém, os pacientes mais jovens relatam mais dificuldades do que os mais velhos.

     Em adição a isso, vários fatores subjetivos, vão sem dúvida, desempenhar um papel. Sua atitude para com a abstinência é particularmente significativa. Como nós discutiremos a seguir, o medo psicológico da abstinência, a não ser que diretamente encarado, pode representar um obstáculo poderoso. Sua atitude para com o desconforto físico também é importante. Por exemplo, a urgência de aliviar, mesmo pequenos desconfortos com pílulas pode limitar a sua vontade de enfrentar os desconfortos induzidos pela abstinência. O seu conhecimento das reações de abstinência também irá influenciar a maneira pela qual você lida com essas reações. Saber antecipadamente que você pode enfrentar um sintoma de abstinência temporário vai ajudar a certificar-te de que o processo é previsível. Finalmente, o apoio e encorajamento que você receber pode ser decisivo. Um estudo mostrou que mesmo uma única carta encorajadora de um médico pode ajudar os pacientes a reduzir significativamente o seu consumo de drogas psiquiátricas, mesmo nos casos envolvendo drogas que tenham sido tomadas por anos e que sejam amplamente consideradas viciantes121.

7.12.1  Preveja o retorno de seu problema original

     Sair das drogas psiquiátricas é muitas vezes acompanhado do retorno de alguns dos sentimentos e comportamentos aflitivos originais que te levaram a tomar estas drogas pela primeira vez. Na literatura psiquiátrica, esse fenômeno é geralmente referido como uma "recaída". Uma vez que os efeitos destas drogas começam a diminuir, seus problemas originais podem começar a ressurgir se as raízes psicológicas ou situacionais deles tiverem sido negligenciadas. Lembre-se também a nossa discussão (no Capítulo 1) de quão difícil pode ser distinguir entre uma recorrência de seus problemas originais e uma reação de abstinência efetiva.

     O retorno de seus problemas originais representa um teste crucial da sua determinação e habilidades, na medida em que você será desafiado a aceitar e lidar com estas emoções e comportamentos através de meios construtivos que não as drogas psiquiátricas.

7.12.2  Antecipe a possibilidade de um período longo de abstinência

     Assim como os sintomas de abstinência variam, o mesmo acontece com a amplitude do tempo que estes sintomas duram. Dependendo da droga que você está tomando, e de outros fatores tais como o seu estado de saúde, o processo de retirada pode durar várias semanas, até meses. Renovada energia e vigor, bem como sutis e desagradáveis efeitos, podem ser experimentados ao longo deste período. Em nossa experiência clínica, as reações de abstinência de muitas drogas psiquiátricas, incluindo os antidepressivos IsRSS [SSRIs] como Paxil e os tranquilizantes como Xanax, podem ser bastante prolongadas, com duração de um ano ou mais, às vezes deixando efeitos adversos permanentes.

     A menos que um medicamento tenha sido tomado por somente poucos dias ou semanas, a interrupção abrupta nunca é aconselhável. Como uma regra geral, ela pode exigir um mês de diminuição para cada ano de exposição à droga psiquiátrica. Por exemplo, uma pessoa que tenha tomado antidepressivos por dois anos pode requerer, pelo menos, uma diminuição gradual de dois meses. Contudo, não há diretrizes rígidas e, como enfatizado no capítulo seguinte, cada indivíduo precisa achar um ritmo confortável para diminuir o consumo de uma droga. O próximo capítulo também examina o processo de retirada com mais detalhes e com recomendações específicas em relação à segurança.

7.12.3  Esteja preparado para mudar suas rotinas

     Se você tem estado a tomar drogas psiquiátricas por um longo tempo, seu estilo de vida pode ficar profundamente perturbado quando você parar de tomá-las. Por algumas poucas semanas, você poderá ter dificuldades em aderir a suas rotinas regulares. Às vezes, simplesmente saber que você está tentando algo diferente pode preocupar os seus pensamentos em um grau incomum e deixá-lo incapaz de realizar seus deveres normais de forma tão eficiente como antes.

7.12.4  Espere o reavivamento de sentimentos

     Sair das drogas psiquiátricas - especialmente de depressivos fortes, como tranquilizantes, neurolépticos, ou lítio - muitas vezes envolve potencialmente um dramático despertar dos sentidos. Este despertar pode levar a sentimentos de pânico em pessoas que não percebem a extensão em que sua audição, tato, paladar, ou sensações de frio e calor podem tornar-se inesperadamente agudas depois de terem estado insensíveis ou anestesiadas por longos períodos.

7.12.5  Manejando o sono interrompido

     A retirada de várias drogas psiquiátricas - especialmente de depressores do sistema nervoso central (SNC) como tranquilizantes, muitos antidepressivos, lítio e antipsicóticos - muitas vezes provoca crises de insônia severa. A retirada de estimulantes, e dos antidepressivos mais estimuladores, tais como drogas do tipo Prozac, pode induzir "perturbações" com sonolência e fadiga. Raramente a insônia ou sonolência excessiva durará várias semanas.

     A falta de sono pode ser assustadora e emocionalmente perturbadora. Algumas noites de sono interrompido podem ser suficientes para fazer você perder sua resolução. É importante que você consiga se disciplinar para dormir entre cinco e oito horas todos os dias com sonecas durante o dia, se necessário. Os esforços mentais e físicos envolvidos na retirada da droga exigem que você descanse e renove sua energia todo dia.

     Se você tem uma tendência a tornar-se exaltado ou eufórico ("maníaco"), a inabilidade de dormir pode ser um sinal de que você está à beira de uma crise emocional mais séria. Neste caso, você pode necessitar de retomar temporariamente uma dose maior da droga psiquiátrica que estiver tomando ou procurar ir à uma consulta. Além disso, a perda de sono persistente pode torná-lo impaciente, irritado, e enrraivecido rapidamente. Isto pode trazer à tona qualquer problema que você tenha tido dificuldade em controlar. Em geral, porém, um período temporário de dificuldades para dormir não vai ser prejudicial a longo prazo.

     Se você encontrar-se excessivamente sonolento durante a abstinência, descanse bastante e tente ser cauteloso em suas atividades físicas. Exercício moderado e seguro pode ser útil. Não recorra excessivamente a cafeína ou estimulantes para ficar acordado. Seu cérebro necessita de uma pausa das drogas psicoativas. A fadiga e sonolência devem diminuir com a eliminação gradual da droga psiquiátrica do seu corpo e o seu cérebro voltará ao funcionamento normal.

7.12.6  Lidando com fortes reações de amigos e familiares

     Os que estão ao seu redor podem ter medo de que quaisquer sentimentos incomuns ou sintomas de abstinência são um sinal de que você está se deteriorando ou tendo uma "recaída" sem os seus medicamentos, e necessita de reiniciá-los imediatamente. Eles podem até mesmo pressionar uns aos outros para "fazer alguma coisa" a respeito do que está acontecendo com você.

     Muitas vezes, os parentes estão preocupados com os efeitos nocivos das drogas psiquiátricas sobre seus entes queridos. Muitos dos pedidos de ajuda e informações que recebemos sobre a retirada destas drogas vêm de membros da família preocupados. Contudo, porque eles também são bombardeados com propaganda pró-droga e tem pouco acesso a opções sem drogas, seus parentes podem acreditar que eles devem pressioná-lo a ficar com estas drogas. Antecipamos que as escolhas deles, por vezes, serão mais restritas do que as suas.

     Se você está vivendo com membros da família, ou permanece dependente ou intimamente envolvido com eles, naturalmente eles vão ter sérias preocupações sobre sua retirada das drogas psiquiátricas. Os problemas que levaram você a tomar estas drogas podem ter causado a eles uma grande dose de estresse e preocupação dando-lhes uma boa razão para temer que você perca o controle de suas emoções ou comportamento. Se você quiser o encorajamento deles, o que depende em parte de dissipar os seus temores, você necessita ser honesto a respeito das consequências de seu comportamento passado.

     Conflitos embutidos dentro da própria família são muitas vezes injustamente responsabilizados inteiramente na pessoa que recebeu um diagnóstico psiquiátrico e está tomando estas drogas farmacêuticas. Assim, quando você decide não aceitar o seu papel anterior, como um "paciente psiquiátrico", outras pessoas da família podem se sentir ameaçadas. Talvez elas tenham se acostumado a focar em você em vez de em seus próprios problemas, ou sobre as formas pelas quais elas têm contribuído para os conflitos com você. Qualquer coisa que você faz para perturbar esse equilíbrio pode ser fortemente resistido por parte de sua família. Seus parentes podem estar especialmente resistentes se sua retirada parece casual, descuidada, ou não planejada. Em suma, os membros da família podem ajudar ou dificultar a sua retirada, mas de qualquer forma eles são obrigados a estar bastante preocupados.

     Não há receita fácil para transformar seus parentes em aliados durante esta fase. Contudo, a partilha detalhada de seus planos sobre a retirada, e sobre a vida após a retirada, pode ajudar. Deixar claro a sua determinação de agir com responsabilidade será importante para os seus familiares - e para você. Você também deve reconhecer abertamente as dificuldades que o seu comportamento passado pode ter causado a eles, bem como a si mesmo. Pedir o seu apoio em tempos potencialmente difíceis vai ser certificador para eles e valioso para você.

     Em última análise, os medos ou apreensões de sua família serão melhor dissipados ao vê-lo funcionando bem sem drogas psiquiátricas.

7.12.7  Não reaja com raiva e culpa

     A medida que você parar de consumir drogas psiquiátricas, tu podes te tornar irritado com o tratamento que você recebeu baseado nestas substâncias, especialmente se você foi enganado ou forçado a tomá-las. Os efeitos destas drogas podem ter afastado você de algumas de suas emoções mais poderosas, incluindo o seu senso de indignação, injustiça e auto-preservação. Algumas dessas emoções podem ressurgir quando você parar de tomá-las. É muito importante manter sua raiva sob controle durante a retirada.

7.12.8  Seja flexível em relação a retirada

     Você e somente você deve decidir o que você pode suportar ao passar pela abstinência. Nós acreditamos que não há cronogramas rígidos e rápidos. Você não deve parar a um ritmo mais rápido do que você deseja ou se sente confortável a respeito.

     Alguns clínicos podem estar céticos quanto a possibilidade de pequenas doses de um medicamento psiquiátrico poder realmente ajudar a administrar ou controlar as reações de abstinência. Apesar de nosso próprio ceticismo inicial, temos visto pacientes efetivamente usando doses minúsculas nas últimas semanas e até meses de abstinência. Alguns indivíduos estiveram tomando tão pouco quanto um dezesseis avos da menor pílula disponível, durante várias semanas, como um meio de controlar os seus últimos sintomas remanescentes de abstinência de tranquilizantes, antidepressivos e antipsicóticos. Por exemplo, doses pequenas manejaram a náusea associada com a abstinência de Zyprexa (ver Capítulo 9). Para algumas pessoas, uma sensibilização às drogas122 durante o último estágio da retirada parece explicar o impacto de doses minúsculas. Nossa experiência com estas pessoas confirma a importância de cada indivíduo parar em seu próprio ritmo.

     Você e somente você deve escolher como você vai passar pelo seu cronograma de retirada quando as situações estressantes e provocadoras de ansiedade surgirem. Você deve decidir se deve ou não tomar pílulas ou aumentar as doses nos dias "duros" ou difíceis. Você deve determinar quando você está apto em usar estas situações para praticar suas habilidades de viver sem recorrer as drogas psiquiátricas. A coisa importante é não se levar para qualquer extremo enquanto para de consumir estas drogas.

     Por exemplo, quando as reações inesperadamente severas são produzidas pela abstinência, você poderá reinstituir a dose anterior e então prosseguir com uma diminuição mais gradual (ver Capítulo 8). Se este processo for bem planejado, provavelmente você não estará susceptíveis de tornar-se excessivamente desencorajado. Pelo contrário você estará praticando uma resposta apropriada e ponderada para os sinais do seu corpo.

7.12.9  Configure um plano de ação

     Um plano de ação detalhado aumenta suas chances de sucesso. Aqui estão algumas sugestões:

  1. Planeje como você vai discutir o tema da retirada com seus ajudantes profissionais, o que você acha que precisa deles, e o que você intenciona fazer se não poder receber a sua cooperação.
  2. Planeje como você vai discutir o tema com seus amigos ou família e como você vai lidar com qualquer possível resistência.
  3. Certifique-se de estar em contato com amigos ou parentes de confiança que possam lhe prover feedback sobre como você está indo durante todo o processo de retirada.
  4. Escreva um planejamento de retirada detalhado ou um cronograma de diminuição que especifique doses diárias de sua droga ou drogas psiquiátricas, o número de semanas que planeja se submeter a esse processo, e o final no qual espera parar de tomar estas substâncias (novamente, ver Capítulo 8).
  5. Comece a sua retirada em um ambiente tão seguro quanto possível.
  6. Melhore vários de seus hábitos específicos relacionados com a dieta e exercício, de modo a reforçar a sua capacidade física para lidar com a abstinência e a vida após a retirada.
  7. Prepare-se para se adaptar as interrupções de rotina, que a abstinência da droga psiquiátrica provoca algumas vezes, talvez suspendendo temporariamente algumas atividades estressantes ou preocupações.
  8. Desenvolva soluções alternativas ao uso de drogas psiquiátricas. Antes de iniciar o processo de retirada, pratique relaxamento e técnicas de redução de estresse que irão diminuir os sintomas de ansiedade ou agitação que você é obrigado a experimentar em algum grau ou outro (Ver Otto, Pollack e Barlow, 1995 [298]).

7.13  Enfrentando o medo da abstinência

     Muitos indivíduos continuam a tomar drogas psiquiátricas não porque eles achem que elas ajudem genuinamente, mas porque eles estão aflitos em parar de tomá-las. Nossas entrevistas com os pacientes frequentemente revelam que estas drogas não mantem as suas aflições bem controladas. Muitos pacientes de fato tornam-se insensíveis ou desesperançosos a respeito do seu sofrimento continuado.

     Você pode ficar desconcertado se, imediatamente depois de iniciar o processo de redução gradual, você se sentir mais ansioso e nervoso do que antes. O mero conhecimento de que tu estais parando de tomar drogas psiquiátricas, ou tem reduzido o seu consumo delas, pode causar ansiedade123. Você pode se sentir compelido a reassumir o consumo destas drogas farmacêuticas, mesmo antes de ter experimentado de fato os efeitos de abstinência induzidos por elas.

     O medo da abstinência, muitas vezes vai além do medo de experimentar sensações físicas desagradáveis. A abstinência da droga psiquiátrica apresenta um desafio potencialmente assustador de viver sua vida de forma diferente, sem uma garantia de que você estará à altura da tarefa. Esse medo, natural quase inevitável pode piorar ao longo dos anos em que disseram para você que tu tens uma doença incurável causada por desequilíbrios bioquímicos que devem ser corrigidos pelas panacéias médicas modernas124.

     A abstinência também requer que você enfrente o reaparecimento de emoções familiares dolorosas do passado - as emoções que são melhor entendidas como sinais para que você possa lidar com as consequências de conflitos anteriores, abusos ou traumas. O processo de parar de consumir drogas psiquiátricas pode confrontá-lo com a constatação do quanto sua vida tem sido dirigida por emoções dolorosas - como culpa, vergonha e ansiedade - em vez de princípios bem escolhidos e um amor de outras pessoas e da vida.

     Em suma, decidir sair das drogas psiquiátricas "força" você a examinar o seu comportamento e estilo de vida, sua moral e seus valores, sua história pessoal. Isto te compele a ir além do verniz do argumento de droga-para-uma-doença. A abstinência requer que você examine o papel que estas drogas têm desempenhado em suprimir sua vida e subjugar suas emoções. Estes não são os tipos de problemas sobre os quais você pode refletir facilmente, mas ter que pensar sobre eles e, talvez, discuti-los com um conselheiro compassivo, pode se tornar um inesperado e grande benefício da abstinência. A vida auto-consciente e apaixonada é a vida de maior valor; a abstinência das drogas pode empoderá-lo a viver essa vida mais rica e mais plena.

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Notas de Rodapé:

114 Ver Fisher e Greenberg (1989 [153], 1997 [156]), dois dos melhores relatos sobre a eficácia comparativa de drogas psiquiátricas e psicoterapia para toda a gama de problemas emocionais. A psicoterapia se saiu surpreendentemente bem. Uma pesquisa recente realizada pela Consumer Reports [Reportagens de Consumidores] (Novembro de 1994) indica que os clientes de psicoterapia estavam tão satisfeitos como, e, geralmente, achavam a experiência mais gratificante do que, aqueles que foram tratados somente com estas drogas ou que tomaram elas, além do aconselhamento. Este achado se manteve verdadeiro, independentemente dos problemas para os quais o tratamento foi procurado. Assistentes sociais, psicólogos e médicos classificaram as duas abordagens como igualmente eficazes nesta pesquisa, a maior de seu tipo já realizada.
115 Aqui estão alguns dos slogans das propagandas de drogas psiquiátricas que apareceram na edição de julho de 1998 do American Journal of Psychiatry [Jornal Americano de Psiquiatria]: "Paxil significa paz", "Faça do Prozac a sua primeira escolha para ambos: noites repousantes e dias produtivos", "Dias mais suaves à frente" (Risperdal), "Eu consegui minha mamãe de volta" (Effexor), "Coloque ela à prova" (Bemeron), "Poder antipsicótico para uso de rotina" (Zyprexa), "Receite Adderall - ele poderá fazer a diferença", "Obtenha o melhor da natureza " (comprimidos de lítio Eskalith), "Do caos vem o controle" (Seroquel), e "Sim!" (Zoloft).
116 Tal como documentado por Sherman (1998) [342], a proporção de visitas a um psiquiatra, que incluiu uma prescrição de antidepressivo cresceu de 53,5 por cento em 1985 para 70,9 por cento em 1994. Totalizando tudo, o número de visitas em que uma droga psiquiátrica foi prescrito saltou de 33 milhões em 1985 para 46 milhões em 1994.
117 Veja, em geral, Morris et al. (1997) [288] e Schommer e Widerholt (1997) [335].
118 NT: Na verdade essas drogas psiquiátricas são psico-supressoras. Trópico significa alimento. Psicotrópico significa que alimenta a psique. Contudo muitas destas drogas como os neurolépticos, matam as células cerebrais provocando apatia e suprimindo a psique da vítima. Alguns pesquisadores chamam este efeito de lobotomia química. E alguns experimentos comprovam indubitavelmente este efeito tóxico que chega a provocar a morte de células cerebrais com uma diminuição da massa encefálica de até 10% em cerca de dois anos.
119 NT: A Associação de Alcoólicos Anônimos (AAA), e outras associações semelhantes, possuem um programa de recuperação baseado em doze passos. Seria de extremo valor uma associação destas para ajudar os usuários das drogas psiquiátricas que desejam parar de utilizar estes meios não naturais para resolver os problemas psicológicos.
120 Edições anuais da Referência de Mesa dos Médicos [Physicians' Desk Reference] são publicadas pela Medical Economics [Economia Médica], em Nova Jersey. Elas podem ser encontradas em livrarias e bibliotecas.
121 Cormack et al. (1994) [122] relatam que, dentro de um período de acompanhamento de seis meses, os idosos, usuários de longo prazo de benzodiazepínicos, reduziram seu uso de drogas psiquiátricas, em média, de dois terços (em comparação com um grupo de controle), após receberem uma carta de seu médico descrevendo os riscos do uso destas drogas e sugerindo que o uso seja diminuído gradualmente e, com o tempo, parado. Quase um quinto dos que receberam a carta pararam completamente seu uso destas drogas. Veja também Wylie (1995) [395].
122 Aqui está um exemplo de sensibilização: Quando administrada anfetaminas, que são então retiradas ao longo de um período de tempo, muitos animais respondem com maior sensibilidade à futuras administrações da droga.
123 Moncrieff (2006a) [279] sugere que um tipo distinto, e por vezes intenso, de ansiedade ou medo da abstinência podem de fato precipitar uma recaída.
124 Breeding (1998) [45] sugere que "dentro do quadro da psiquiatria materialista, a desesperança é uma resposta racional", ele também enfatiza que as qualidades de esperança e coragem são necessárias para superar o medo da abstinência das drogas psiquiátricas.