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Capítulo 5
Razões Pessoais e Psicológicas para Não Usar Drogas Psiquiátricas


A Droga Psiquiátrica pode ser o Problema
Como e Por Que Parar de Tomar
Medicamentos Psiquiátricos
Edição revista e atualizada, 2007

Peter R. Breggin, M.D.
David Cohen, Ph.D.

Veja este livro em inglês-português
Razões Pessoais e Psicológicas para Não Usar Drogas Psiquiátricas
    5.1  Uma aversão natural de tomar drogas alteradoras do humor
    5.2  Outras preocupações comuns ao se tomar drogas psiquiátricas
    5.3  Convencendo-te que você é "doente mental"
    5.4  Definindo emoções intensas ou dolorosas como doença
    5.5  Como a psiquiatria toma vantagem
    5.6  Boa terapia versus diagnóstico psiquiátrico e medicação
    5.7  Mantendo suas faculdades mentais
    5.8  Mantendo contato com seus sentimentos
    5.9  O efeito placebo
    5.10  Dependência psicológica de drogas psiquiátricas, médicos, e soluções médicas para problemas pessoais
    5.11  Aprendendo a viver sem drogas psiquiátricas

     Agora nós já revisamos vários dos riscos médicos associados ao uso de drogas psiquiátricas. Este capítulo examina as razões pessoais, psicológicas e filosóficas que você pode ter para limitar ou rejeitar o uso terapêutico de agentes psicoativos.

5.1  Uma aversão natural de tomar drogas alteradoras do humor

     Em nossos workshops e em outros contatos com o público, nós descobrimos que a maioria das pessoas tem uma aversão natural a adulteração de sua função cerebral por meio da ingestão de drogas psicoativas, especialmente como um método de lidar com problemas de longo prazo. E se elas aceitam medicamentos psiquiátricos prescritos, em geral elas querem limitar a duração do consumo.

     As pessoas que usam drogas recreativas, em geral não as vêem como "terapêuticas". Em vez disso, elas tendem a usar essas substâncias para relaxar ou socializar. Mesmo aquelas pessoas que consomem estas drogas para aliviar a ansiedade, depressão ou alterações de humor, não são propensas a considerar esta atitude uma solução satisfatória. Em vez disso, elas tendem a ver o seu uso de drogas como um mau hábito. A maioria das pessoas sentem o mesmo sobre o uso de drogas psiquiátricas, muitas das quais são semelhantes ou idênticas às drogas recreativas.

5.2  Outras preocupações comuns ao se tomar drogas psiquiátricas

     Você pode se perguntar se alguma melhoria que você sentiu, ao consumir drogas psiquiátricas, foi causada pelas drogas em si, ou por mudanças pessoais que você fez em sua vida. Ou você pode alternativamente, estar se sentindo cada vez pior com estas drogas e se perguntando se elas não são parte do problema. O título de um livro recente, que consiste em entrevistas em profundidade de usuários de antidepressivos, diz isso bem: Is It Me or My Meds? [Sou Eu ou Meus Medicamentos?] (Karp, 2006 [220]). Nesse ínterim, o médico pode estar sugerindo que você precisa de doses maiores ou medicações adicionais, enquanto você suspeita que tu necessitas de reduzi-las ou interrompê-las totalmente.

     Você pode acreditar que estar "livre de drogas psiquiátricas" vai ajudar você a se beneficiar mais da terapia ou outras formas de ajuda. Você também pode acreditar que isso vai te ajudar a se sentir mais responsável por si mesmo, a avaliar o seu estado mental, a entrar em contato com os seus recursos espirituais mais profundos, a viver um estilo de vida mais saudável, e a encontrar por si mesmo o que realmente importa em sua vida.

     Você pode se perguntar se as drogas psiquiátricas estão causando alguns de seus problemas, tais como dificuldades de memória e concentração, dores de cabeça e de estômago, problemas de sono, vários tipos de disfunções da bexiga e do intestino, problemas de pele, disfunções sexuais, perda ou ganho de peso, cansaço ou apatia, sentimentos de ansiedade ou depressão, irritabilidade e impaciência. Você pode necessitar parar de consumir todos as drogas psiquiátricas para descobrir as causas destes problemas.

     Você pode estar percebendo que as drogas psiquiátricas, como o álcool ou a maconha, podem interferir com a sua habilidade de perceber a sua condição mental. Talvez você esteja sofrendo menos, mas ao custo de se sentir emocionalmente ou mentalmente embotado e fisicamente fatigado.

     Depois de consumir drogas psiquiátricas por muitos meses ou mesmo anos, você pode estar preocupado de que elas podem estar fazendo mais mal do que bem. Tendo descoberto que existem poucos estudos sobre os riscos a longo prazo, você pode querer evitar os perigos potenciais.

     Você pode agora suspeitar ou perceber que seus fracassos passados, em interromper o consumo das drogas psiquiátricas, tinha mais a ver com os efeitos de abstinência e rebote destas substâncias do que com seus próprios problemas emocionais ou psiquiátricos.

     Se você é uma mulher que está se preparando para engravidar, já grávida, ou amamentando, você definitivamente deve considerar a interrupção do consumo de todas as drogas psiquiátricas. Este assunto foi discutido no Capítulo 3. Tenha em mente que a ausência de deformidades óbvias em um recém-nascido não pode ser considerada prova de que uma determinada droga de drogaria é segura. A ciência moderna não tem capacidade de testar tipos sutis de danos ao crescimento e desenvolvimento do cérebro das crianças. Não menos importante, o bom senso e um conhecimento elementar de neurologia do desenvolvimento indicam múltiplos perigos potenciais da exposição do feto a medicamentos psiquiátricos.

     Similarmente, você deve ter certeza de que não está consumindo uma droga psiquiátrica que pode danificar seus genes. Também, a este respeito, resultados negativos de testes não podem ser tomados como prova de que danos genéticos não irão ocorrer. No Capítulo 4, nós mencionamos descobertas anteriores de danos genéticos em crianças após o tratamento com Ritalina, bem como sugestões de alguns especialistas de que efeitos sexuais adversos irreversíveis do uso de IsRSS [SSRIs] podem ser o reflexo de danos genéticos.

     Mesmo se você não planeja parar o consumo por completo, tu podes querer reduzir a dose da medicação ou o número de medicamentos que você está consumindo. Como você pode perceber agora, poucas destas drogas psiquiátricas são aprovadas ou totalmente avaliadas em combinação com outras, por isso, ao consumir mais de uma delas de cada vez, você se torna essencialmente um cobaia experimental.

5.3  Convencendo-te que você é "doente mental"

     Nos últimos anos, o Instituto Nacional de Saúde Mental [National Institute of Mental Health (NIMH)] vem colaborando com empresas de drogas farmacêuticas para promover os medicamentos psiquiátricos. Chamando suas campanhas de "Semana da Consciência da Ansiedade" ou "Semana da Consciência da Depressão", o NIMH lhes dá uma aura "educacional" aparentemente benigna. Enquanto isso, as próprias empresas de drogas farmacêuticas têm ajudado a financiar essas atividades.

     Algumas dessas empresas fazem propaganda diretamente ao público para convencer as pessoas que elas estão deprimidas ou "bipolar" e, portanto, "necessitam" de drogas psiquiátricas. A propaganda de medicamentos prescritos, direta ao consumidor, (na televisão, em jornais e revistas, e na Internet) aumentou quase 30 por cento ao ano entre 1996 e 2001, para uma gritante quantia de $2,7 bilhões de dólares, e foi estimado que chegaria a $7,5 bilhões em 200597 Como o escritor Peter Carlson do jornal Washington Post (1998) [83] comentou:

     Minha propaganda favorita, de droga psiquiátrica, é de um medicamento anti-ansiedade chamado BuSpar. A manchete pergunta, "Será que a sua vida tem sinais persistentes de ansiedade?"

     "É claro que sim", respondo: "Sou o pai de uma garota adolescente".

     Desafortunadamente, BuSpar tem alguns efeitos colaterais que podem tender a causar ansiedade persistente - alucinações, convulsões, estupor, sangramento retal, perda de cabelo, soluços, e uma "sensação de rugindo na cabeça".

     A noção, de que as pessoas "mentalmente doentes" necessitam de medicamentos, também é promovida pelos grupos de "consumidores", patrocinados pelas empresas de drogas farmacêuticas, tais como a Aliança Nacional para o Doente Mental [National Alliance for the Mentally Ill (NAMI)] e Crianças e Adultos com Desordem de Déficit de Atenção [Children and Adults with Attention Deficit Disorder (CHADD)] e claramente, esta noção é também promovida por organizações patrocinadas pelo governo tais como: o Instituto Nacional de Saúde Mental [National Institute of Mental Health]. Estes grupos mantem encontros nacionais que reúnem os defensores de drogas farmacêuticas para falar diretamente aos consumidores. Eles também enviam boletins e outros informativos que louvam estes medicamentos de farmácia. Algumas vezes, eles suprimem ativamente pontos de vista que são críticos sobre as drogas psiquiátricas - por exemplo, desencorajando a mídia de "colocar no ar" pontos de vista opostos.

     Uma técnica de marketing efetiva envolve a tentativa de convencer as pessoas que agora elas necessitam precisamente do produto que acabou de ser criado. De fato, assim como os fabricantes de roupas gastam milhões de dólares tentando convencer as pessoas de que elas necessitam de roupas novas para permanecerem na moda, as empresas de drogas farmacêuticas estão investidas em convencer as pessoas de que elas necessitam de medicamentos psiquiátricos - porque elas têm "desordens mentais". Muitas vezes isso é chamado de "mercantilização das doenças"98.

     Algumas pessoas, quando ouvem pela primeira vez sobre uma "doença", começam a temer que elas estejam "doentes". Por exemplo, é sabido que os estudantes de medicina tendem a pensar que eles estão desenvolvendo uma ou mais das doenças sobre as quais elas leram ou observaram durante a sua formação. Campanhas de "conscientização" governamentais, e de empresas tendenciosas de drogas farmacêuticas, jogam com essa vulnerabilidade natural do ser humano. Dificilmente existe uma pessoa viva que não experimentou momentos ou até mesmo horas e dias de depressão ansiosa, ou outros "sintomas" emocionais, tornando mais fácil para os defensores das drogas psiquiátricas de reivindicar, por exemplo, que metade de todos os americanos vão sofrer uma desordem psiquiátrica em algum momento de suas vidas. Contudo na prática, estas campanhas - incluindo aquelas dirigidas para depressão e ansiedade - são estigmatizadoras e desmoralizadoras das pessoas, as quais, por sua vez, acabam acreditando que elas devem ter uma doença mental.

     É tudo uma questão de definição - de denominação e de rotulagem. Quando o desconforto ou sofrimento emocional é definido como uma "desordem", ele cria um negócio comercial para os médicos e empresas de drogas psiquiátricas. As campanhas para promover a "doença mental" tem sido tão bem sucedidas que, em questão de poucos anos, milhões de americanos passaram a acreditar que eles têm um "desequilíbrio bioquímico", uma "desordem de pânico", ou uma "depressão clínica", e que suas crianças tem "DHDA (TDAH) (Desordem de Hiperatividade e Déficit de Atenção)", e desordem bipolar, e desordem desafiadora de oposição.

     Como resultado das campanhas de marketing bem sucedidas, os consumidores tendem a identificar nomes comerciais com produtos genéricos. Nós pedimos um "Kleenex" quando queremos dizer qualquer lenço facial de tecido. Pedimos uma cópia Xerocada quando queremos dizer uma "fotocópia". E nós falamos da "nação Prozac" quando estamos nos referindo aos antidepressivos ou as drogas psiquiátricas em geral. Esta identificação do Prozac com "antidepressivos" levou os médicos, e da mesma forma os pacientes, a pensar nele como sua primeira escolha entre as drogas psiquiátricas.

     Tu podes ter começado a consumir drogas psiquiátricas porque pensou, ou te disseram, que você tinha "desordem do pânico", "depressão clínica", ou alguma outra manifestação de um suposto "desequilíbrio bioquímico". Agora, contudo, tu podes estar se perguntando se você estava de fato experimentando reações compreensíveis de estresse, desapontamento, perda, ou frustração em sua vida. Você pode ter começado a duvidar da validade das campanhas nacionais para convencer os americanos de que eles são doentes mentais e necessitados dos produtos de empresas de drogas farmacêuticas. E como parte do seu ceticismo crescente, tu podes estar questionando, depois de tudo isso, se você deve consumir estas drogas psiquiátricas.

5.4  Definindo emoções intensas ou dolorosas como doença

     Quando você tentou parar de consumir drogas psiquiátricas, suas emoções podem ter se tornado muito mais fortes do que antecipado. Tu podes ter se sentido como se estivesse em uma montanha russa emocional. A psiquiatria e a indústria farmacêutica tiveram sucesso em definir emoções intensas e dolorosas como "doenças" ou "desordens". Mas emoções intensas e dolorosas são melhor compreendidas como sinais de aflição.

     Se você fosse abandonado em uma ilha, tu poderias levantar seus braços selvagemente na direção de qualquer navio que estivesse passando. Tu poderias berrar e gritar também. Você provavelmente tentaria quase qualquer coisa para chamar a atenção para si mesmo - para compelir uma resposta ao seu pedido desesperado e sua necessidade de resgate. Quando tu expressas sentimentos de angústia, você está enviando sinais de emergência que necessitam ser ouvidos, e não suprimidos.

     Frases como "desordem do pânico" e "depressão clínica" intencionam dar uma aura médica para as emoções poderosas. Com efeito, contudo, elas estigmatizam tais emoções. Elas fazem as emoções fortes parecerem perigosas, patológicas, não naturais, ou fora de controle. Mas especialmente as emoções fortes são melhores vistas como sinais fortes, enviados por uma alma, especialmente poderosa, que tem necessidade de uma nova direção ou realização especial.

     Mesmo quando você se sente vencido ou arrastado por uma emoção, você não necessita fazer algo imediatamente para parar a emoção. Tu podes aprender a ter sentimentos sem ser levado a fazer qualquer coisa sobre eles.

     Quando tu suprimes sentimentos fortes, rejeitando-os ou arrastando-os para o esquecimento, você essencialmente cega a si mesmo do seu próprio estado psicológico ou espiritual. Você se deixa ficar cambaleando erraticamente no escuro, sem direção. Os sentimentos podem depois estourar, fora de controle, de alguma forma grosseiramente prejudicial. Ou eles podem permanecer submersos, minando a sua força. E com os seus sinais de aflição reprimidos, você pode permanecer indefinidamente abandonado ou embaraçado.

     Muitas pessoas sucumbiram a enxurrada de propaganda pró droga comercial. É difícil de sustentar a fé, no próprio julgamento individual, quando confrontado por uma investida das relações públicas da medicina organizada da indústria farmacêutica, das agências governamentais de psiquiatria, das fundações privadas, e da mídia. Como notamos em nossas introduções, esta maré às vezes parece estar virando, a medida que mais e mais americanos percebem que a psiquiatria materialista simplesmente não cumpriu suas promessas. Ainda assim, a venda de drogas psiquiátricas é um negócio robusto nos Estados Unidos hoje em dia, e nós não esperamos um corte acentuado na venda destas drogas psiquiátricas no futuro próximo.

5.5  Como a psiquiatria toma vantagem

     Quando as pessoas procuram ajuda psiquiátrica ou psicológica, elas normalmente tem medo de que seus próprios recursos não estão sendo suficientes. Muitas vezes elas se sentem assustadas e impotentes diante dos conflitos internos ou tensões externas. Dúvidas e até constrangimentos podem acompanhar a sua decisão de procurar ajuda. Novos pacientes ou clientes estão propensos a dizer: "eu queria lidar com meus problemas sozinho".

     Muitas vezes elas acreditam que: "há algo errado dentro da minha cabeça. Eu não consigo pensar direito. Eu não posso controlar minhas emoções". Pensamentos irracionais ou sentimentos podem parecem surgir do nada, fazendo com que elas se sintam vulneráveis a forças além de seu controle.

     Na psicologia existe um conceito útil chamado "locus de controle". Pessoas que buscam ajuda, de profissionais de saúde mental, muitas vezes acreditam que o locus de controle de suas vidas está fora delas mesmas. Elas podem se sentir à mercê de seu cônjuge ou dos pais, ou até mesmo de suas próprias crianças. Elas podem se sentir impotentes em relação ao trabalho. Ou podem sentir-se oprimidas e não mais responsáveis por si mesmas ou por suas vidas.

     Muitas vezes, tudo isso é agravado quando as pessoas procuram a ajuda de um psiquiatra. Primeiramente, elas recebem um sonoro diagnóstico médico. Muitas vezes, elas são informadas de que têm "ataques de pânico" ou "desordem obsessiva-compulsiva" ou "depressão maior" ou "desordem maníaco-depressiva (bipolar)". Imediatamente este rótulo confirma seus sentimentos de desamparo. O locus de controle se move para mais longe nas mãos do "médico".

     O diagnóstico psiquiátrico, um sistema de pensamento que é alienado do própiro senso cotidiano dos indivíduos, é imposto de fora para dentro. Ser diagnosticado implica que o problema é uma desordem ou mesmo uma doença do cérebro dentro deles, mas totalmente fora de seu controle. É dentro dos indivíduos, até mesmo uma parte deles, mas eles não podem fazer nada a não ser consumir a medicação prescrita. Essencialmente, então, eles estão sendo informadas de que, como um tumor no cérebro, os seus sentimentos dolorosos não podem ser controlados ou modificados através da compreensão ou esforços pessoais. Os sentimentos originais de desamparo e de "estar fora de controle" são agora confirmados por um diagnóstico médico oficial.

     Muitas vezes se diz aos pacientes que: "O problema é biológico e genético". Não importa que não hajam evidências substanciais de que qualquer diagnóstico psiquiátrico tenha uma base física, o pronunciamento é feito com tanta certeza e autoridade que os pacientes são propensos a acreditar nele. Paralelamente a isso, eles ouvem esta afirmação repetida novamente de tempos em tempos na grande mídia.

     Assim o processo de diagnóstico tira vantagem dos piores temores dos pacientes sobre si mesmos. Ele confirma pensamentos auto-destrutivos sobre "estar fora de controle", "estar doente", "ser inapto de ajudar a si próprios", "estar à mercê de forças além de seu controle". Intencionalmente ou não, o processo de diagnóstico psiquiátrico manipula os sentimentos de desamparo pessoal dos pacientes.

     Hoje em dia, o diagnóstico muitas vezes é imediatamente seguido por uma prescrição de medicamentos psiquiátricos. Desafortunadamente, a oferta de uma droga psiquiátrica move o locus de controle para mais longe do indivíduo. É o gesto simbólico último que coloca a autoridade no "médico" e, ainda mais impessoalmente na "pílula".

     O efeito farmacológico da droga psiquiátrica leva o processo de desumanização a dar outro passo gigantesco. A droga prejudica a função mental reforçando, no paciente, o senso de sentir-se impotente e necessitado de supervisão médica. Como resultado, ele se torna ainda menos apto de se responsabilizar por sua própria vida de maneiras novas e criativas.

     A psiquiatria materialista toma vantagem do pior medo dos pacientes - o de que eles estão emocionalmente desamparados. Psiquiatria materialista mina ainda mais o seu senso de eficácia pessoal, substituindo-o pela apoio do doutor e das drogas psiquiátricas. O locus de controle, já instável nas pessoas que estão buscando ajuda, é totalmente deslocado para o doutor. Então, a medida que estas drogas prejudicam a função mental dos pacientes, eles se tornam cada vez mais dependentes do doutor99.

5.6  Boa terapia versus diagnóstico psiquiátrico e medicação

     A boa terapia ou aconselhamento não reforçam os sentimentos dos clientes de impotência e indecisão. Em vez disso, e em contraste com as tradições da psiquiatria materialista, ela visa estimular nos clientes a capacidade de se encarregar de suas próprias vidas. Para este fim, nada é mais importante do que a habilidade do terapeuta de ser empático e cuidadoso - para trazer um espírito compassivo para a terapia100.

     Ao invés de enfatizar a "patologia" ou a "doença mental", o aconselhamento e a terapia devem empoderar os clientes para recorrerem ao seu próprio potencial humano e recursos naturais. Desafortunadamente, contudo, esta abordagem está sendo corrompida na medida que os "terapeutas que conversam" cada vez mais se voltam, para soluções médicas e psiquiátricas, diante dos problemas que eles enfrentam ao trabalhar com os clientes mais difíceis ou desafiadores.

     Os conselheiros e terapeutas devem encorajar seus clientes a restabelecer o "locus de controle" dentro de si mesmos. Eles também devem reforçar em seus clientes, o senso de autonomia pessoal, auto-compreensão e tomada de decisão. Mas esses fins não podem ser alcançados através de diagnóstico e medicação. De maneira contrária a isso, o diagnóstico e a medicação empurram o paciente, para dependência de "técnicas", e para intervenções que se originam de fora e estão além do controle deles.

5.7  Mantendo suas faculdades mentais

     Ao se deparar com dificuldades emocionais, nós muitas vezes somos tentados a mitigar ou atrasar nosso sofrimento, através do emperramento da nossa função cerebral. Para este fim, nós podemos usar cigarros, álcool, maconha, ou outras substâncias. Nós podemos nos esgotar com trabalho, sexo, ou esportes. Ou podemos nos voltar para comida em excesso ou para televisão.

     No momento em que nós procuramos ajuda de um profissional de saúde mental, podemos acreditar que nossos recursos pessoais se esgotaram. Nós podemos nos sentir como se tivessemos sofrido muito ou que já se esgotou a nossa capacidade de lidar com a vida ou pelo menos com alguns problemas importantes. Ou podemos nos sentir "queimados", como se tivessemos um fusível estragado ou direcionado as nossas mentes para a morte. Nesses momentos é realmente tentador procurar uma solução, que exiga um mínimo trabalho mental ou emocional, para nublar nossa dor.

     Porém, esta opção, apesar de sua atratividade de curto prazo, inevitavelmente se torna auto-destrutiva. Quando nós estamos diante de uma crise pessoal, seja aguda ou crônica, necessitamos de todo o nosso poder cerebral, toda a nossa acuidade mental, toda a nossa habilidade de sentir e de pensar. Em vez de entorpecer a nossa dor, suprimindo os nossos sinais emocionais, nós necessitamos ser mais conscientes deles e mais aptos de compreendê-los. Só então poderemos adotar soluções melhores para nossos conflitos e problemas.

5.8  Mantendo contato com seus sentimentos

     Muitas pessoas intuitivamente reconhecem que consumir drogas psiquiátricas pode colocá-las fora de contato com seus sentimentos. Elas querem ter um cérebro e uma mente clara, mesmo que isso signifique experimentar emoções dolorosas.

     Os efeitos destas drogas, em termos leigos, são "artificiais". Muitos indivíduos, compreensivelmente, querem aprender a conduzir suas vidas sem estar sob a influência de drogas psiquiátricas que afetam a mente e o espírito, criando uma tranquilidade ou uma euforia artificial.

     Consumir drogas psiquiátricas pode tornar muito difícil, para você, saber o que realmente tu estais sentindo. Você pode ter se sentido melhor em um primeiro momento enquanto consumia um antidepressivo, estimulante, ou tranquilizante; mas agora você se pergunta se a melhora foi devido aos seus próprios esforços pessoais para melhorar sua vida ou, talvez, a mudanças nas suas circunstâncias ou mesmo a passagem do tempo. Ou você pode sentir como se estivesse piorando enquanto consome estas drogas de drogaria, mas você não sabe o porquê. Quem é o culpado - as drogas em si ou os problemas emocionais não resolvidos e o contínuo estresse na sua vida? Ou será que estas drogas te previnem de ficar pior do que você já se sente? O seu médico provavelmente lhe dirá que você precisa de um aumento da dose, uma nova droga farmacêutica, ou uma combinação de vários medicamentos para ajudá-lo a se sentir melhor, mas você tem suas dúvidas.

     Quando você está consumindo drogas psiquiátricas, torna-se difícil reconhecer seus próprios sentimentos e de descobrir sua fonte. Tu podes até não saber como você está confuso, sobre seu altos e baixos emocionais, até parar de consumir estas drogas que afetam seus sentimentos.

     Os sentimentos são os sinais pelos quais nós guiamos nossas vidas. Se estamos felizes o sentimento positivo pode confirmar que estamos no caminho certo. Se nós estamos persistentemente tristes, sozinhos, deprimidos, ansiosos ou raivosos, o sentimento negativo pode ser um importante sinal de que algo está em questão. Claro, pode ser muito difícil conhecer a nós mesmos o suficiente para interpretar e agir diante desses sinais. Mas sem os nossos sinais emocionais, nós garantidamente não experimentaremos plenamente ou faremos progresso com nossas vidas.

     Drogas psiquiátricas embotam e confundem estes sinais emocionais essenciais. Nossas emoções dependem da nossa função cerebral, e o cérebro é um órgão, intrincado e delicado, que pode facilmente ser nocauteado por estas drogas.

     Algumas vezes as drogas psiquiátricas nos dão sinais "positivos falsos", tais como uma elevação ou euforia artificial. Quando eufóricos, nós podemos permanecer presos em situações insatisfatórias frustrantes ou assumir riscos irrealistas ou até mesmo grandiosos.

     Algumas vezes as drogas psiquiátricas nos dão sinais "negativos falsos", nos fazendo sentir deprimidos, desapontados, fora de ordem, ou mesmo suicidas ou violentos. Considerando que a tendência é tentar atribuir nossos sentimentos negativos a algo ou alguém, esses sinais negativos falsos podem nos levar a tomar atitudes muito irracionais e destrutivas, como ferir um ente querido.

     Entrar em contato melhor, com nossos sentimentos reais ou genuínos, é uma das razões mais importantes para parar de consumir drogas psiquiátricas. O capítulo 13 descreve mais como os clientes e os terapeutas podem trabalhar juntos para superar crises emocionais, sem recorrer a drogas psiquiátricas.

5.9  O efeito placebo

     A fé ou expectativa desempenha um papel fundamental na forma como nós respondemos aos medicamentos. Independentemente da causa do nosso sofrimento ou da real eficácia de uma droga psiquiátrica em particular, a maioria de nós se sente melhor, pelo menos por um tempo curto, quando nos é dado uma destas drogas que supostamente será útil.

     Muitos pacientes com dores severas devido ao câncer, ou lesões físicas, sentem-se melhor por um tempo após uma injeção de somente água esterilizada, se for dito a eles que é um analgésico. Similarmente, em testes clínicos de drogas psiquiátricas, quarenta por cento ou mais dos pacientes com ansiedade ou depressão geralmente se sentem melhor quando lhes é dada uma pílula de açúcar sobre a qual lhes é dito ser de utilidade para eles. Se as condições forem propícias - isto é, se os pacientes têm muita fé no que eles estão recebendo - uma pílula de açúcar pode produzir melhora emocional em 60 a 90 por cento dos pacientes. Este é o efeito placebo - melhoria que vem de uma expectativa positiva ou fé na droga farmacêutica ou no médico, ao invés de qualquer impacto químico da substância101.

     O efeito placebo pode ser útil. A humilde pílula de açúcar, que raramente causa algum dano físico, mas pode aliviar o sofrimento físico ou emocional, tem a melhor relação risco/benefício da psiquiatria materialista. O efeito placebo também explica grande parte da eficácia das drogas psiquiátricas. Contudo, quando um indivíduo atribui as melhoras às características físicas de uma pílula, e à expectativa de que ela vai funcionar, a crença desta pessoa, em seu próprio poder psicológico ou espiritual, pode estar prejudicada. Esta experiência pode encorajar a confiança na pílula, em vez de nos esforços pessoais.

     Drogas psiquiátricas como os IsRSS [SSRIs] podem se tornar placebos venenosos de alta poder. Elas recebem tantos elogios da mídia e, das promoções das empresas de drogas farmacêuticas, que a expectativa de ajuda torna-se enorme. A antecipação de alívio pode produzir um alívio - por causa da expectativa de que nós vamos nos sentir melhor.

     Independentemente do efeito placebo ocorrer em resposta, a um antidepressivo amplamente divulgado, ou a uma pílula de açúcar, tal efeito pode criar a falsa impressão de que os problemas emocionais originam-se de causas físicas, e a falsa expectativa de que os produtos químicos são a resposta para os problemas pessoais. O efeito placebo é complicado, mas demonstra claramente o poder que as pessoas têm sobre seu próprio estado emocional, se for dado o encorajamento adequado. Mas as pessoas não sabem que elas estão experimentando um efeito placebo. A medida em que elas pensam que estão respondendo ao impacto químico da droga psiquiátrica em seus cérebros, é a medida que estas pessoas podem se tornar convencidas de que o controle sobre suas vidas está fora delas mesmas, e que este controle está na medicação.

     Quando as pessoas acreditam erroneamente que elas estão sendo ajudadas pelo efeito químico de uma droga de drogaria, elas desenvolvem idéias distorcidas sobre como viver suas vidas. Em vez de reconhecer o poder da esperança, da fé, ou do otimismo em suas vidas, elas dão um reconhecimento falso ao poder destas drogas. Em vez de desenvolver formas mais eficazes de viver, o que irá prover resultados mais genuínos, realistas e duradouros, as pessoas consomem uma pílula. Reforçados pelo efeito placebo inicial, muitos pacientes passam anos tentando uma e depois outra pílula para satisfazer as suas necessidades, ao invés de melhorarem suas vidas através da auto-compreensão e princípios de vida melhores.

5.10  Dependência psicológica de drogas psiquiátricas, médicos, e soluções médicas para problemas pessoais

     A dependência psicológica nas drogas psiquiátricas tende a minar a nossa auto-estima, confiança, força de vontade, e princípios de vida importantes. Voltamo-nos para os médicos e para estas drogas em vez de nos voltar para mais recursos pessoais tais como: auto-conhecimento, responsabilidade pessoal, o amor, a vida familiar, o trabalho criativo e princípios ou ética melhorados.

     Um problema ainda maior, o uso de drogas psiquiátricas reforça a dependência de médicos, e da sua abordagem médica, para resolver problemas essencialmente psicológicos, sociais, econômicos e espirituais, tais como sentir-se deprimido ou ansioso. Esta dependência, por sua vez, nos aliena das fontes mais importantes de sabedoria humana, bem como de outros serviços humanos, que poderiam ser fontes de força e de direção.

5.11  Aprendendo a viver sem drogas psiquiátricas

     Defensores de drogas psiquiátricas muitas vezes afirmam que os medicamentos melhoram a aprendizagem e a habilidade de se beneficiar da psicoterapia, mas o contrário é verdadeiro. Não existem drogas de drogaria que melhorem a função mental, a auto-compreensão, ou as relações humanas. Qualquer destas drogas que afete os processos mentais faz isso desequilibrando estes processos.

     Uma vez mais, este princípio pode ser melhor compreendido em relação às pessoas que usam as chamadas drogas recreativas. Muitos indivíduos bebem álcool, fumam maconha, ou consomem outras drogas sem prescrição, para "passar o dia", para "lidar com o estresse no trabalho", ou para se "relacionar melhor". Quando as pessoas param de consumir álcool, ou drogas de rua, o tempo suficiente para se recuperarem um pouco de seus efeitos, elas provavelmente irão descobrir que estas substâncias psicoativas estavam de fato retardando a sua habilidade para lidar com a vida. Embora influenciadas pelas drogas, elas aceitaram equivocadamente, ou se adaptaram, a um menor nível de funcionamento mental e social. Agora estas pessoas devem aprender tudo de novo, como lidar com a vida, com uma mente livre de drogas. Após muitos anos de funcionamento prejudicado, sob a influência da maconha ou do álcool, elas podem necessitar de muitos meses ou mesmo anos de vida, livres de drogas, para aprender como lidar com a vida com um cérebro em pleno funcionamento.

     Pacientes que têm estado a consumir drogas psiquiátricas continuamente por anos, podem enfrentar os mesmos problemas que os alcoólatras, ou usuários de maconha, em recuperação. Sob a influência destas drogas, eles se adaptaram ao estresse, conflito e desafio, aumentando as doses dessas drogas ao invés de aumentando a sua capacidade para viver. E quando as emoções negativas se tornam insuportáveis, eles embotam-nas ao invés de aprender a utilizá-las de forma criativa. Quando o consumo das drogas psiquiátricas é interrompido, essas emoções podem, em pouco tempo, vir rugindo de volta à vida - mas sem que haja a experiência necessária para entendê-las e canalizá-las.

     Esse problema é tragicamente aparente em crianças que crescem consumindo drogas psiquiátricas, tais como estimulantes e antidepressivos, e que nunca puderam amadurecer de uma forma normal. De forma nuito parecida com as drogas psicoativas ilícitas, os medicamentos psiquiátricos podem retardar o desenvolvimento psicológico e social das crianças.

     O uso a longo prazo de drogas psiquiátricas tende a ensinar as pessoas como se relacionar em um nível inferior - emocional, psicológico e cognitivo. Então, quando o consumo destas drogas é interrompido, há uma realização gradual e crescente de que elas estiveram funcionando, apesar das deficiências induzidas por estas drogas. Pode levar tempo, e ajuda dos outros, para aprender a viver com um cérebro intacto e uma maior sensibilidade, bem como com a capacidade de resposta emocional que segue a isso.

Referências Bibliográficas

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Fisher, S., & Greenberg, R. (Eds.). (1989). The Limits of Biological Treatments for Psychological Distress: Comparisons With Psychotherapy and Placebo [Os Limites dos Tratamentos Biológicos para a Aflição Psicológica: Comparações Com a Psicoterapia e Placebo]. Hillsdale, N.J.: Lawrence Erlbaum.
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Karp, D.A. (2006). Is it me or my meds? Living with antidepressants [Vem de mim ou dos meus remédios? Vivendo com antidepressivos]. Cambridge, M.A., and London: Harvard University Press.

Notas de Rodapé:

97 "O Impacto da Publicidade Direta ao Consumidor" (2003).
98 O jornal revisto por pares, PLoS Medicine, publicou em 2006 uma coleção de seis artigos sobre mercantilização das doenças, dos quais três discutiam como as empresas farmacêuticas "vendem" DHDA (TDAH) (Desordem de Hiperatividade e Déficit de Atenção), desordem bipolar, e disfunção sexual em machos e fêmeas. Livremente disponível no endereço: www.ploscollections.org/downloads/ plos_medicine_diseasemongering.pdf
99 Ver Breggin (1983b [47], 1997a [55]) para uma descrição mais detalhada deste processo de "desamparo iatrogênico" - o reforço, da negação nos pacientes, através do dano ou disfunção cerebral causado por estas drogas, eletrochoque, ou psicocirurgia, combinado com os próprios médicos que negam a ambos: os problemas dos pacientes, e suas disfunções cerebrais iatrogênicas.
100 A empatia na terapia é o tema do livro "The Heart of Being Helpful [O Coração do Ser Ajudante]" (Breggin, 1997b [56]).
101 Para uma discussão dos placebos, incluindo as taxas altamente variáveis e por vezes extremamente elevadas do efeito placebo, ver Fisher e Greenberg (1989) [153].