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Capítulo 13
Princípios Psicológicos para Ajudar a Si Próprio e aos Outros sem Recorrer à Medicamentos Psiquiátricos


A Droga Psiquiátrica pode ser o Problema
Como e Por Que Parar de Tomar
Medicamentos Psiquiátricos
Edição revista e atualizada, 2007

Peter R. Breggin, M.D.
David Cohen, Ph.D.

Veja este livro em inglês-português
13  Princípios Psicológicos para Ajudar a Si Próprio e aos Outros sem Recorrer à Medicamentos Psiquiátricos
    13.1  Princípios de ajuda
        13.1.1  Identifique e supere os seus sentimentos de desamparo auto-destrutivos
        13.1.2  Concentre-se nas suas reações emocionais únicas a uma crise ou estresse
        13.1.3  Esteja feliz por você estar vivo, e encontre alguém que esteja feliz por estarem ambos vivos
        13.1.4  Evite entrar no "modo de emergência", e rejeite intervenções desesperadas ou soluções extremas
        13.1.5  Resista ao impulso de ter algo feito para ou por você, em vez disso, procure ajuda no fortalecimento de si mesmo
        13.1.6  Não use drogas psiquiátricas para evitar seus sentimentos dolorosos
        13.1.7  Tenha em mente que a maioria das crises emocionais e sofrimentos se embasam em uma cadeia de estresse e traumas anteriores
        13.1.8  Evite convidar outras pessoas a assumirem sua vida por você
        13.1.9  Seja gentil com qualquer um que esteja tentando ajudá-lo, incluindo o seu terapeuta
        13.1.10  Saiba que a empatia e o cuidado estão no coração de qualquer relação de ajuda
        13.1.11  Lembre-se de ouvir uns aos outros!
        13.1.12  Perceba que as crises emocionais e o sofrimento são oportunidades de crescimento pessoal acelerado
    13.2  Conclusão

     Existem vários princípios psicológicos básicos para lidar com crises emocionais e sofrimento emocional extremo, em nós próprios e nos outros, sem recorrer a drogas psiquiátricas159. Estes princípios lhe serão úteis independentemente de você estar ou não em terapia. Eles também podem ser úteis para seu terapeuta, já que agora muitos "médicos psicoterapeutas" necessitam de encorajamento e inspiração para lidar com situações difíceis sem recorrer a drogas psiquiátricas.

     Como podem os mesmos princípios serem úteis para você e para seu terapeuta? Não há nada mágico sobre a terapia. É uma relação profissional baseada em princípios psicológicos e éticos para te empoderar e melhorar a tua vida. A terapia é única, em parte, porque ela estabelece limites e éticas protetoras para o cliente160; mas os mesmos princípios psicológicos que funcionam na terapia também podem funcionar para você, sem terapia. Além disso, podem lhe permitir melhor ajudar um amigo ou um indivíduo querido durante crises emocionais.

13.1  Princípios de ajuda

13.1.1  Identifique e supere os seus sentimentos de desamparo auto-destrutivos

     Identifique e supere os seus sentimentos de desamparo auto-destrutivos. Na raiz de quase todas as reações emocionais deficientes encontra-se um sentimento de desamparo infantil. No momento em que você está desesperado o suficiente para procurar ajuda ou considerar tomar drogas psiquiátricas, este sentimento se manifestou como uma perda de fé em si mesmo e nas outras pessoas. Você começou a sentir-se pessoalmente oprimido e alienado, e incapaz de obter o apoio adequado de qualquer outra pessoa. Neste estado, você pode tentar obter de outros a confirmação do quão ruim a sua situação se tornou. Você pode até querer que eles sintam pena de você e cuidem dos seus sentimentos de desamparo. Todos esses resultados são compreensíveis, mas eles também são muito auto-destrutivo.

     Caso você esteja ou não em psicoterapia, uma de suas primeiras metas deve ser o de identificar e superar seus sentimentos de desamparo, alienação e desconfiança. Você necessita se focar em recuperar a fé em si mesmo e em qualquer outra pessoa que você queira que te ajude. A base de qualquer relacionamento de ajuda bem sucedido é a atitude de cuidado da outra pessoa para contigo, o que por sua vez te encoraja a cuidar de você mesmo.

     Não tente arrastar seu terapeuta, ou qualquer outra pessoa, para seu estado mental de desamparo e medo. Como descrevemos no capítulo anterior, os terapeutas são pessoas também, e seus sentimentos de desamparo podem estimular sentimentos semelhantes neles. Pode ser muito útil discutir abertamente estes seus sentimentos de impotência e medo sem agir como se eles tivessem te sobrepujado. Também pode ajudar relacionar esses sentimentos com as suas experiências quando criança, quando você realmente estava desamparado.

13.1.2  Concentre-se nas suas reações emocionais únicas a uma crise ou estresse

     Concentre-se nas suas reações emocionais únicas a uma crise ou estresse. Se algo terrível está acontecendo em sua vida, é fácil de se concentrar nos detalhes que parecem estar fazendo você se sentir impotente e sobrepujado. Você pode estar dizendo a si mesmo: "Quem não gostaria de desmoronar", quando confrontado com câncer, divórcio, a morte de um ente querido, ou a perda de um emprego.

     As pessoas variam enormemente em termos de suas respostas até mesmo as ameaças e perdas mais devastadoras. Mesmo quando uma ameaça é muito real, é a resposta subjetiva do indivíduo a ela, que continua a ser a chave para o resultado. Algumas pessoas ficam desmoralizadas quando descobrem, por exemplo, que tem câncer, outros se mobilizam para maximizar suas chances e aproveitar ao máximo suas vidas. Em casos de divórcio ou separação, uma pessoa pode ficar devastada, enquanto outra, em última análise se sente liberta e renovada.

     Pode lhe ser inspirador perceber que os seres humanos são capazes de perseverar e até mesmo crescer em face da adversidade aparentemente esmagadora. Você pode tornar-se capaz de responder a sua crise como se fosse a um desafio, até mesmo um presente.

     Tenha a expectativa de que o seu conselheiro esteje menos focado, em ajudá-lo com os detalhes específicos do que você está passando, do que em guiá-lo para ver como você pode melhorar suas reações pessoais a eles. Você estará muito melhor capacitado para lidar com as crises, quando você se concentrar em compreender suas respostas emocionais subjetivas e únicas, em vez de os fatos da própria crise. Seu objetivo deve ser o de crescer em face da crise - para transformá-la em uma experiência criativa.

13.1.3  Esteja feliz por você estar vivo, e encontre alguém que esteja feliz por estarem ambos vivos

     Esteja feliz por você estar vivo, e encontre alguém que esteja feliz por estarem ambos vivos. Como muitos outros, quando você passa por uma crise, você pode ressentir-se de estar vivo. Mas o ressentimento inibe sua vontade de usar todos os seus recursos para superar seus problemas. Procure por um conselheiro ou terapeuta que vai cumprimentá-lo com alegria por você estar vivo. Se você não se sentir acolhido, com entusiasmo e alegria, alguma coisa está faltando no relacionamento. Ao longo do tempo, isto pode acabar causando mais mal do que bem, por diminuir o seu senso de auto-estima e suas expectativas de uma vida sólida.

     Em contraste, quando recebido por outra pessoa que está feliz que você esteja vivo, você vai descobrir que a sua crise emocional não é tão esmagadora quanto você pensava anteriormente. Você não estará sozinho, e até mesmo tem algum valor para outra pessoa. É o início da recuperação.

13.1.4  Evite entrar no "modo de emergência", e rejeite intervenções desesperadas ou soluções extremas

     Evite entrar no "modo de emergência", e rejeite intervenções desesperadas ou soluções extremas. Quando confrontado com sentimentos de desesperança e condenação, você (e qualquer um que esteja te ajudando) pode ser tentado a direcionar a situação para o modo de emergência. Mas é importante que você não tente levar o seu psicoterapeuta junto contigo para os seus sentimentos de desespero. Drogas psiquiátricas, hospitalização desnecessária, e mesmo tratamento de eletrochoque podem resultar disto.

     Evite reações exageradas aos clientes, medo e desespero, os terapeutas precisam entender suas próprias vulnerabilidades. Se eles estão aterrorizados com câncer ou AIDS, então, eles devem permanecer especialmente alertas para não encorajar o terror em seus clientes em face dessas crises de saúde. Similarmente, se eles se sentem desconfortáveis com seus próprios impulsos agressivos, os terapeutas devem fazer um esforço para evitar estimular nos seus clientes um medo maior da sua própria raiva.

     Algumas emergências podem exigir uma ação rápida, mas estes casos são relativamente raros. Quase sempre, se o terapeuta pode manter seu próprio senso de calma e conexão, você também, vai começar a se sentir mais protegido e seguro, mais racional, e mais capaz de encontrar novas abordagens positivas.

     Se focalize em encontrar um centro racional, amoroso, e confiante em si mesmo que possa elevar-se acima de suas crises ou sofrimento emocional. Tente não ser pego na "emergência". Tenha expectativa de que o seu terapeuta possui uma perspectiva saudável, que comunica uma confiança de que o problema pode ser tratado. O termo presença curativa (Breggin, 1997b [56]) descreve a capacidade do ajudante terapêutico de ser empático, independentemente do medo e desamparo, angústia e alienação, que são experimentados pelos clientes durante uma emergência aparente.

13.1.5  Resista ao impulso de ter algo feito para ou por você, em vez disso, procure ajuda no fortalecimento de si mesmo

     Resista ao impulso de ter algo feito para ou por você, em vez disso, procure ajuda no fortalecimento de si mesmo. Consistentemente com a superação de seus sentimentos de desamparo, e evitando o "modo de emergência", não peça ao seu terapeuta para fazer qualquer coisa por você. Embora possa ser tentador tentar envolver seu terapeuta em sua vida - por exemplo, pedindo-lhe para ele ou ela falar com sua família ou empregador a seu favor - é geralmente melhor encontrar a força para seguir por você mesmo. Similarmente não peça ao seu terapeuta para fazer qualquer coisa para você em termos de lhe dar drogas psiquiátricas ou pedir-lhe para fazer um "checkup" em um hospital. Procure fortalecer seu próprio ser, e procure um terapeuta que queira ajudar nesse processo.

13.1.6  Não use drogas psiquiátricas para evitar seus sentimentos dolorosos

     Não use drogas psiquiátricas para evitar seus sentimentos dolorosos. Durante os períodos de dor emocional e tumulto, dê a sua mente uma chance de funcionar sem desequilíbrios induzidos por estas drogas. Esse é o único caminho para transformar essas experiências aparentemente negativas em oportunidades de crescimento. Nesses momentos, você precisa de faculdades mentais intactas e uma gama completa de emoções. Você precisa receber os seus sentimentos dolorosos como sinais de vida e como sinais que indicam o caminho para a auto-compreensão e mudança, de fato, ao acolher os seus sentimentos mais dolorosos, você estará habilitado para ver essas emoções sob uma óptica muito mais positiva, uma perspectiva que transforma sofrimento desesperado em energia positiva.

     A idéia de dar "boas vindas" as emoções dolorosas, pode parecer além da capacidade de muitas pessoas, quando elas estão severamente aflitas. No momento que elas estão irritadas o suficiente para pensar em terapia ou drogas psiquiátricas, elas usualmente querem se livrar de suas emoções. É desafortunado e potencialmente trágico que muitos terapeutas e médicos concordem com este desejo de auto-destruição dos sentimentos fortes. Para serem genuinamente de ajuda, eles deveriam lembrar seus pacientes de que as emoções fortes, de qualquer tipo, são sinais necessários e potencialmente libertadores ou reflexos de seu estado psicológico ou espiritual.

     Frequentemente, a terapia é de ajuda precisamente porque ela pode dar suporte a suas tentativas de sentir os seus "piores" sentimentos. Em última análise, todas as pessoas necessitam de outras pessoas - profissionais ou não - para ajudar na compreensão, bem sucedida e triunfante, das emoções dolorosas. Todas as pessoas necessitam de outras para lidar com os desafios e revoltas emocionais inevitáveis da vida.

     Medicamentos, não apenas suprimem e confundem alguns sentimentos, eles podem estimular sentimentos perigosos. Como discutido nos capítulos 3 e 4, antidepressivos e tranquilizantes menores podem causar agitação e mania, bem como, desinibição com perda de controle dos impulsos. Se um indivíduo já está oscilando à beira de perder o controle, as drogas podem se tornar ainda mais perigosas.

13.1.7  Tenha em mente que a maioria das crises emocionais e sofrimentos se embasam em uma cadeia de estresse e traumas anteriores

     Tenha em mente que a maioria das crises emocionais e sofrimentos se embasam em uma cadeia de estresse e traumas anteriores. Embora uma crise atual possa parecer ser a causa de sua aflição, é mais provável que seja a proverbial "palha que impediu o camelo de carregar a carga nas costas". Mas quando você está se sentindo sobrecarregado, pode ser muito difícil ver além dos eventos imediatos. Por esta razão, você pode querer procurar ajuda para compreensão de eventos anteriores, a fim de obter uma melhor perspectiva sobre a sua crise atual.

13.1.8  Evite convidar outras pessoas a assumirem sua vida por você

     Evite convidar outras pessoas a assumirem sua vida por você. Quando você está se sentindo desamparado e desesperado, você pode ser tentado a dar sinais que convidem outras pessoas a assumirem sua vida. Mas a menos que você realmente queira alguém para intervir, não aga como se você não podesse cuidar de si mesmo. Não diga coisas que podem enganar os outros fazendo-os pensar que você pode machucar a si mesmo ou alguém mais. Se você está se sentindo tão desesperado, então é melhor assumir a responsabilidade por si mesmo - por exemplo, pedindo mais ajuda ou encontrando um lugar seguro para ficar, onde outras pessoas podem dar-lhe suporte no momento presente.

     Esperamos que os terapeutas, ao ler este livro, irão também se aperceber de que o uso de ameaças emocionais ou até mesmo força direta, tal como internação involuntária a um hospital psiquiátrico, é raramente, talvez nunca, a melhor maneira de lidar com uma crise. De fato, nós acreditamos que o tratamento involuntário é errado, em princípio, e contrário as abordagens genuinamente terapêuticas. Tais intervenções podem afastar o risco imediato de um suicídio, por exemplo, mas no longo prazo, por enfraquecer e humilhar o indivíduo, geralmente estas intervenções fazem mais mal do que bem. Às vezes, um terapeuta pode achar que é necessário mencionar para um cliente que existem alternativas voluntárias, tais como centros de crise e hospitais psiquiátricos, mas trazer à tona essas alternativas pode indicar ao cliente que o terapeuta está aflito de que a situação não possa ser tratada através de seus recursos pessoais mútuos. Contudo, os clientes também necessitam entender que qualquer contato com instituições psiquiátricas, especialmente em tempos de crise, pode levar a um tratamento involuntário.

     Não há estudos confirmando a utilidade de intimidação emocional ou de medidas mais formais, tais como tratamento psiquiátrico involuntário. Eles também ofendem os direitos humanos básicos. E, em qualquer caso, a intuição e a auto-reflexão são susceptíveis de nos convencer de que as pessoas não se beneficiam de serem forçadas a se conformar com as expectativas de um terapeuta. Claramente, o desenvolvimento de uma relação empática requer respeito mútuo, em vez de coerção.

13.1.9  Seja gentil com qualquer um que esteja tentando ajudá-lo, incluindo o seu terapeuta

     Seja gentil com qualquer um que esteja tentando ajudá-lo, incluindo o seu terapeuta. Demasiadas vezes, indivíduos acabam atacando, emocionalmente, as próprias pessoas para as quais pediram ajuda. Eles amotinam-se nesses assaltos por muitas razões diferentes: porque eles se sentem vulneráveis em pedir ajuda, ou envergonhados por "terem problemas" ou "serem um paciente", ou tem medo da rejeição, intimidade ou autoridade. Uma série de questões, da infância e das circunstâncias atuais, podem vir à tona em vários momentos na relação terapêutica.

     Às vezes o ataque é um golpe preemptivo que visa colocar outras pessoas fora de equilíbrio antes que elas possam montar seu próprio ataque. Mas, ironicamente, quanto mais eles atacam seu terapeuta - ou qualquer outra pessoa - mais medo eles terão de contra-ataques.

     Seja qual for a causa, qualquer tendência persistente para atacar, usualmente, reflete um padrão persistente de comportamento auto-destrutivo que pode ser rastreada até as coisas que eles aprenderam a fazer para sobreviver na infância.

     Terapeutas, lembre-se, são pessoas comuns em si mesmos. Eles são mais capazes de oferecer seus cuidados e compreensão quando se sentem seguros e valorizados. Por outro lado, eles vão achar mais difícil de cuidar de ti se você fizer eles se sentirem na defensiva, humilhados ou rejeitados. O trabalho profissional do seu terapeuta é criar um bom relacionamento com você, mas ele ou ela não pode fazer isso sozinho. Ajude fazendo o seu melhor para construir a confiança.

     A terapia deve ser um lugar de segurança e de securidade no qual você pode expressar suas mais profundas dores e sentimentos mais ternos, um lugar onde você pode examinar seus sonhos e ideais mais importantes. Deve ser um lugar onde você pode expressar tudo o que você sente - e, inevitavelmente, algumas vezes você vai querer expressar raiva para pessoa que está tentando ajudá-lo. Mas se você persistentemente se comunicar de maneiras que ameaçam, assustam, ou humilham essa pessoa, você vai acabar repetindo padrões auto-destrutivos que precisam mudar. Você também vai tornar mais difícil para o seu terapeuta ajudá-lo. Você pode até mesmo erroneamente encorajar o seu terapeuta a recomendar drogas psiquiátricas ou outras soluções drásticas - por medo agudo ou frustração.

     Nada do que foi dito acima deve minar quaisquer reclamações razoáveis que tu possas ter sobre o seu terapeuta. Como temos enfatizado, ao longo deste livro, os terapeutas são pessoas, e os bons são tão difíceis de encontrar como são os amigos de toda vida. Você pode ter que procurar nos arredores para encontrar o terapeuta certo. Mas você nunca vai conseguir o melhor que qualquer um deles tem para oferecer, se você atacá-los.

13.1.10  Saiba que a empatia e o cuidado estão no coração de qualquer relação de ajuda

     Saiba que a empatia e o cuidado estão no coração de qualquer relação de ajuda. Quando as pessoas procuram por ajuda, elas usualmente estão se sentindo tão mal sobre si mesmas que não esperam que alguém se preocupe com eles de uma maneira pessoal que diga: "Eu entendo e simpatizo com seus sentimentos e sua situação. Eu não me sinto superior a você. Dado o que você passou, eu não tenho certeza que eu poderia ter lidado com isso melhor do que você".

     Tenha a expectativa que o seu terapeuta irá trabalhar duro para cuidar e compreender você. Você também deve trabalhar dura para entender e cuidar de si mesmo. Encontrar alguém que sinta empatia por ti é talvez o aspecto singular mais importante da sua cura.

     Provavelmente nenhum trabalho pessoal é mais importante para nós, terapeutas, que abrir nossos corações para aqueles que estamos tentando ajudar161. Mas por que tantas vezes a empatia é sentida como um "trabalho", mesmo para os terapeutas experientes? Há muitas razões. Como terapeutas, podemos estar assustados com o grau de aflição do outro. Além do medo pelo paciente, podemos ser excessivamente focados em resolver rapidamente crises ou emergências. Podemos nos tornar preocupados com o que os outros vão pensar de nós se as coisas derem errado. Podemos sentir que nos falta a experiência necessária para ajudar a pessoa.

     Mais provavelmente, talvez, achemos difícil ter empatia com o sofrimento do outro, porque ela evoca nosso próprio sofrimento pessoal. Em nosso esforço para controlar nossos próprios sentimentos, nós desligamos a fonte de estímulo - o sofrimento da outra pessoa.

13.1.11  Lembre-se de ouvir uns aos outros!

     Lembre-se de ouvir uns aos outros! No momento em que as pessoas acabam buscando ajuda ou se voltando para as drogas psiquiátricas, elas podem ter começado a pensar, "eu tenho que fazer isso sozinho". Muitas pessoas chegaram a essa conclusão falsa depois de se sentirem tão decepcionadas e traídas por outros que elas acreditam que não têm outra escolha senão retirar-se para dentro de si mesmas.

     Quando as pessoas vão a um médico, elas estão susceptíveis de serem reforçadas em sua crença de que o problema é para ser resolvido estritamente por elas próprias. O processo de receber um diagnóstico, tal como depressão maior ou desordem do pânico, e de tomar uma droga psiquiátrica, enfatiza o quão sozinhas elas estão em sua luta. Na realidade, contudo, a maioria dos problemas crescem a partir de relacionamentos - indo por todo o caminho de volta à infância. O bem-estar psicológico ou espiritual exige relações melhorados e novas.

     A psicologia popular muitas vezes enfatiza a responsabilidade das pessoas por si próprias excluindo a importância de outras pessoas em suas vidas. Se diz a elas, por exemplo, "Você não pode ser amado até que você ame a si mesmo" ou "Ninguém pode fazer ninguém feliz". As pessoas são encorajadas a não "necessitar muito dos outros". Mas, enquanto pode haver alguma verdade nessas admoestações, elas perdem o ponto central da vida - o de que as pessoas são todas enormemente dependentes umas das outras para quase tudo de bom na vida. Desde a infância em diante, elas são moldadas por suas relações umas com as outras. Na idade adulta, elas são tão fortes como são as suas relações com os outros. Ninguém nunca se tornou verdadeiramente bem sucedido, baseando-se no princípio de que "Eu posso fazer isso sozinho".

     Nestes momentos em que você está emocionalmente perturbado, seu julgamento - especialmente no que diz respeito a escolher amigos ou ajudantes - pode estar nublado. Você pode se voltar para a pessoa errada. Não há solução fácil para este problema, ele deve ser uma preocupação maior quando você procura ajuda, porque você pode acabar escolhendo o terapeuta errado também. Mas não "desista das pessoas", as pessoas são o que a vida é como um todo.

     Se você estiver em tratamento, você pode querer pensar sobre envolver um ente querido no processo. Qualquer melhoria na comunicação e carinho entre você e um ente querido provavelmente irá frutificar em um longo caminho no sentido de fortalecer sua habilidade de superar o seu sofrimento e construir uma vida melhor162.

13.1.12  Perceba que as crises emocionais e o sofrimento são oportunidades de crescimento pessoal acelerado

     Perceba que as crises emocionais e o sofrimento são oportunidades de crescimento pessoal acelerado. Crises e sofrimento extremo fornecem uma janela para a sua maior vulnerabilidade. Eles dão a oportunidade de você explorar seus piores medos. Eles trazem para fora e confrontam-no com o material nu de sua existência humana. A auto-compreensão adquirida com esta realização pode ser aplicada em toda a sua vida, permitindo-lhe desenvolver uma consciência psicológica mais profunda de seu próprio ser e de outros. Você ganha não só um novo entendimento de suas próprias vulnerabilidades, mas uma genuína visão interior e respeito pela condição humana.

     Quando você enfrenta e compreende seus piores medos, e então supera-os, você vai se sentir muito empoderado. Já não mais empurrado para trás por reações emocionais auto-destrutivas, você vai ganhar fé em si mesmo. Você vai descobrir que tu podes triunfar sobre ameaças aparentemente impossíveis de serem vencidas e de alcançar novos patamares de transformação psicológica e espiritual.

     De fato, crises emocionais e sofrimento oferecem um potencial para crescimento escalonado na medida que você aprende a manusear suas maiores vulnerabilidades e as emoções mais dolorosas. Na medida que a sua confiança é recuperada, qualquer crise que experimentares irá se transformar em oportunidades de crescimento ainda mais excepcionais. Você vai descobrir que mesmo os seus piores medos podem ser manuseados, superados, e transformados em oportunidades. Uma vez que sua confiança seja restaurada, melhores abordagens, até mesmo soluções, quase sempre podem ser encontradas. Você vai culminar se sentindo mais forte do que você se sentia antes da crise começar.

13.2  Conclusão

     Nós introduzimos este livro com uma discussão sobre a necessidade humana da fé. Nós conversamos sobre as muitas maneiras diferentes em que as pessoas procuram orientação ou ajuda para lidar com o sofrimento inevitável da vida. Agora, queremos enfatizar que a escolha não é entre as drogas psiquiátricas e outras formas de "terapia", incluindo as orientações psicológicas ou terapêuticas sugeridas neste livro. Em vez disso, a escolha é entre as drogas psiquiátricas e toda a vida com seus inumeráveis e ricos recursos.

     A psicoterapia é apenas uma das muitas abordagens psicológicas, sociais, educacionais, políticas e espirituais que as pessoas podem utilizar quando estão tentando lidar com a dor emocional e o sofrimento. Nossa abordagem de terapia, também, é apenas uma entre muitas. Uma vez que as pessoas se tornem livres do ponto de vista psico-materialista e das drogas psiquiátricas, a vida apresenta um espectro infinito de alternativas para lidar com o sofrimento emocional e para viver uma existência mais plena. Acima de tudo, nós acreditamos que todas as pessoas necessitam de um conjunto de éticas, princípios e ideais com as quais possam guiar suas vidas, incluindo dependência em um cérebro não prejudicado por agentes tóxicos.

     Contudo, quando as pessoas tornam-se focadas em especialistas médicos e drogas psiquiátricas como sendo a "solução", a vida torna-se compulsivamente angustiante. Suas opções se tornam ainda mais limitadas a medida que estas drogas inevitavelmente começam a prejudicar a sua consciência, tornando as pessoas menos capazes de compreender ou redirecionar suas vidas. Eventualmente, elas se sentem como se não tivessem outra alternativa senão a dependência perpétua em uma ou outra droga psiquiátrica.

     Neste livro nós apresentamos as limitações das drogas psiquiátricas. Destacamos o porquê e como parar de depender delas. Nosso objetivo, não é apresentar uma filosofia de vida completa, e sim ajudá-lo a abordar a vida de sua própria maneira original - vida não prejudicada, em sua jornada, por substâncias tóxicas.

Referências Bibliográficas

[56]
Breggin, P.R. (1997b). The Heart of Being Helpful: Empathy and the Creation of a Healing Presence [O Coração do Ser Ajudante]. New York: Springer.
[59]
Breggin, P.R. (1998c). Psychotherapy in Emotional Crises without Resort to Psychiatric Medications [Psicoterapia em Crises Emocionais, sem Recorrer à Medicação Psiquiátrica]. The Humanistic Psychologist [O Psicólogo Humanista], 25, 2-14.
[51]
Breggin, P.R. (1992b). Beyond Conflict: From Self-Help and Psychotherapy to Peacemaking [Além do Conflito: Da Auto-Ajuda e Psicoterapia para Pacificação]. New York: St. Martin's Press.

Notas de Rodapé:

159 Muitas das idéias neste capítulo foram desenvolvidas primeiramente por Peter Breggin em "Beyond Conflict [Além do Conflito]" (St. Martins Press, 1992) [51], "The Heart of Being Helpful [O Coração do Ser Ajudante]" (Springer Publishing Company, 1997) [56], e "Psychotherapy in Emotional Crises Without Resort to Psychiatric Medication [Psicoterapia durante Crises Emocionais sem Recorrer a Medicação Psiquiátrica]" (The Humanistic Psychologist [O Psicólogo Humanista], de 1998) [59]. Embora tenha sido apresentado em uma nova forma, o material neste capítulo baseia-se em todas as três fontes, e nós queremos agradecer aos editores por terem proporcionado oportunidades anteriores para desenvolver essas idéias em edições impressas.
160 A psicoterapia é uma relação de ajuda. A experiência e o treinamento do terapeuta são obviamente importantes, mas o que realmente faz a terapia única é a configuração, especialmente estabelecida, cujo foco é limitado aos problemas e necessidades dos clientes e não os do terapeuta, e todo o contato pessoal é limitado ao relacionamento profissional e as sessões. Esses limites tornam mais seguro para o cliente e o terapeuta se concentrarem nos detalhes íntimos da vida do cliente. Eles permitem um relacionamento cuidadoso, sem complicações adicionais. E eles fazem a terapia muito diferente dos relacionamentos pessoais, mesmo aqueles em que as pessoas oferecem ou recebem ajuda. Embora esses limites protegam a relação terapêutica, eles também circunscrevem seus objetivos: A terapia não pode ser tão curativa como uma relação de amor mutuamente satisfatória. Por outro lado, certamente pode ajudar uma pessoa a alcançar um relacionamento amoroso.
161 Breggin (1997b [56]) descreve a empatia como o "coração do ser ajudante". Em particular, ele introduz o conceito de auto-transformação empática para explicar a tarefa do terapeuta ou ajudante de se tornar aberto para a pessoa que está sofrendo.
162 Terapia de família e vida familiar também são discutidos em Breggin (1997b [56]).