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Capítulo 3
"A Droga Psiquiátrica pode ser o Problema" - Mas Você Pode Ser o Último a Saber


A Droga Psiquiátrica pode ser o Problema
Como e Por Que Parar de Tomar
Medicamentos Psiquiátricos
Edição revista e atualizada, 2007

Peter R. Breggin, M.D.
David Cohen, Ph.D.

Veja este livro em inglês-português
"A Droga Psiquiátrica pode ser o Problema" - Mas Você Pode Ser o Último a Saber
    3.1  A variabilidade das respostas individuais às drogas psiquiátricas
    3.2  Os efeitos adverso de "Entorpecimento"
    3.3  O risco de disfunção cerebral permanente causada por drogas psiquiátricas
    3.4  Médicos reforçam uso de longo prazo sem justificativa
    3.5  O perigo específico das drogas psiquiátricas
    3.6  Efeitos adversos em como você pensa, sente e age
        3.6.1  Psicoses tóxicas induzidas por drogas psiquiátricas
        3.6.2  Confie na sua própria percepção de si mesmo - até um certo ponto
        3.6.3  Os efeitos adversos comuns no seu pensamento, sentimento e comportamento
    3.7  Você pode ser o último a saber

     Se você ou um ente querido está a tomar drogas psiquiátricas, você pode ficar chocado ao descobrir quantos "sintomas psiquiátricos" podem ser causados ou agravados pelo uso dessas drogas. De fato, quase todos os sintomas psiquiátricos, incluindo os mais severos, como alucinações e delírios, podem ser produzidos por essas drogas. O presente capítulo descreve os caminhos gerais pelos quais estes medicamentos psiquiátricos podem afetar seu pensamento, sentimento e ação. O capítulo 4 fornece informações detalhadas sobre os efeitos adversos de drogas específicas.

3.1  A variabilidade das respostas individuais às drogas psiquiátricas

     Não se deixe enganar por um médico ou um amigo que diz que você está tomando somente uma "pequena dose" de uma droga psiquiátrica. Embora o risco dos efeitos nocivos destas drogas usualmente aumentem com o tamanho da dose, algumas pessoas são muito sensíveis às drogas que alteram a mente e podem sofrer reações ruins mesmo com pequenas doses. Uma das observações mais importantes da psicofarmacologia é que todas as drogas psicotrópicas têm efeitos complexos e variáveis, e não vão afetar a todos da mesma maneira. O efeito de uma droga comumente varia em uma mesma pessoa ao longo do tempo, e entre pessoas diferentes. Reações adversas severas ocorrem frequentemente quando a dose foi alterada para cima ou para baixo ou quando outra droga foi adicionada, mas elas podem aparecer pela primeira vez, em qualquer momento durante o tratamento.

     Considere a grande variedade de respostas que as pessoas têm a cafeína, um estimulante relativamente suave. Alguns indivíduos podem beber seis ou mais xícaras por dia, sem qualquer efeito dramático sobre a sua psique. Mas outros são tão sensíveis que até mesmo uma pequena quantidade de cafeína no café descafeinado pode fazê-los sentirem-se nervosos e ansiosos. Para eles, um copo cheio de café seria uma receita para os sintomas físicos equivalentes a um "ataque de pânico" espontâneo.

     Da mesma forma, algumas pessoas não podem beber café no final do dia sem serem mantidas acordadas toda a noite pelos efeitos estimulantes, enquanto outras rotineiramente tomam café no jantar, ou mesmo mais tarde, à noite, sem experimentar qualquer interferência aparente em seu sono. Algumas pessoas sofrem de dor de barriga por beber uma ou duas xícaras de café, enquanto outros nunca experimentaram qualquer mal estar no estômago, mesmo tendo bebido quantidades muito maiores. Algumas pessoas conseguem parar de beber café, sem quaisquer efeitos de abstinência majoritários, enquanto outras desenvolvem dores de cabeça e tornam-se temporariamente cansadas e letárgicas, até mesmo deprimidas.

     Os efeitos das drogas psiquiátricas são igualmente variáveis. Uma pessoa pode não "sentir nada" após uma dose de 10-20 mg de Prozac, enquanto outra pessoa pode desenvolver agitação severa e insônia, e até mesmo se tornar psicótica. Uma pessoa com insônia dificilmente poderá notar o impacto de 5 mg de Valium tomadas antes de deitar, enquanto outra vai dormir como um tronco e depois se sentir "lerda" e "irritada" por um dia ou dois. Algumas crianças podem parecer não afetadas por uma dose de 5 mg de Ritalina, outras se tornam como zumbis.

     Respostas individuais as drogas psiquiátricas também variam ao longo do tempo. Alguns efeitos tendem a aparecer depois de uma semana ou duas, enquanto outros podem não aparecer durante meses ou anos. Similarmente, uma pessoa pode reagir de uma maneira a uma droga e, em seguida, de uma forma completamente diferente em uma data posterior, após reiniciá-la.

3.2  Os efeitos adverso de "Entorpecimento"

     Infelizmente drogas, que afetam o cérebro e a mente, podem prejudicar seriamente a sua função mental antes de você reconhecer que alguma coisa está errada. Você pode não perceber que seu pensamento está retardado, suas emoções entorpecidas, ou sua coordenação prejudicada. Você pode acreditar que seus sentimentos recém-desenvolvido de ansiedade ou depressão são devidos a eventos em sua vida e não devido a droga que você está tomando. Se você se sentir eufórico ou "elevado" ao tomar a droga, você pode pensar que está indo "melhor do que nunca" quando, de fato, seu julgamento foi prejudicado.

     O seu médico pode falhar, e não notar esses efeitos colaterais destas drogas, ou erroneamente atribuí-los a outra coisa, tal como, seus problemas psicológicos. A família ou os amigos podem tornar-se cada vez mais desanimados com a deterioração de sua memória, atenção curta, sensibilidade ou resposta emocional, enquanto você e seu médico permanecem aparentemente sem saber que algo está errado.

     Os pacientes frequentemente sofrem de efeitos adversos comuns das drogas psiquiátricas sobre os quais os seus médicos nunca os advertiram. A fim de incentivar seus pacientes a começar a consumir estas drogas ou continuar consumindo-as, os médicos frequentemente desinformam, seus pacientes, inflando os benefícios e minimizando os perigos destes medicamentos psiquiátricos. Muitos médicos, hoje em dia, acham que devem persuadir ou incentivar seus pacientes a tomar esses medicamentos contrariamente ao melhor julgamento deles.

     Mesmo quando os pacientes desenvolvem sérias reações adversas induzidas por drogas psiquiátricas - tais como depressão ou psicose, perda de peso e fadiga, ou movimentos anormais do corpo - os médicos tendem a atribuir os efeitos a outra coisa que não a droga que estão prescrevendo. Em uma ocasião especial, um de nós estava apresentando uma "grande conferência" - um seminário especial de ensino para médicos em um hospital - quando a história de um caso chegou ao nosso conhecimento. Se tratava de um executivo de meia-idade que se tornou violento, pela primeira vez que começou a tomar Prozac39. Em uma briga menor, num posto de gasolina, ele agrediu um estranho com um pé de cabra.

     Experiência, prudência e razão sugerem que a droga psiquiátrica deve ser suspeita da causa do problema, quando comportamento irracional e incomum irrompe pela primeira vez depois que o paciente começou a tomá-la. No entanto, alguns dos médicos da "grande conferência" rejeitaram totalmente a possibilidade de que a violência do paciente, bizarra, extrema, e sem precedentes, tinha sido causada ou agravada pelo Prozac. Eles recomendaram elevar a dose do Prozac, em vez de interrompê-la40.

     Muitos profissionais de saúde ficam relutantes ou resistentes em reconhecer os efeitos adversos das drogas psiquiátricas, especialmente aquelas que afetam o estado emocional do paciente. Eles acham mais fácil aparentemente, culpar destes efeitos, a "doença mental" dos pacientes. No entanto, a recusa de um médico, para enfrentar os perigos da medicação, pode causar danos irreversíveis e, por fim, trágicas reações adversas a estas drogas de drogaria.

     Nas nossas consultas, nós descobrimos que raramente se diz aos pacientes tudo o que eles precisam saber sobre as drogas psiquiátricas que estão tomando. É claro, alguns pacientes ficam relutantes em saber com antecedência sobre os perigos a que estão sendo expostos, mas permanece sendo responsabilidade do médico insistir em informá-los. Mas os médicos não estão sozinhos no acobertamento de fatos sobre os perigos destas drogas, manuais impressos dos consultórios médicos ou das farmácias, bem como livros texto e propagandas de drogas farmacêuticas, também muitas vezes falham por não dar ênfase suficiente para os efeitos perigosos das drogas psiquiátricas41. (Veja o Capítulo 6 para uma discussão sobre as possíveis motivações que levam alguns profissionais de saúde a minimizar os riscos dessas drogas).

3.3  O risco de disfunção cerebral permanente causada por drogas psiquiátricas

     Poucos estudos têm examinado o risco de alterações, potencialmente permanentes, na química do cérebro, causadas pelo uso prolongado de medicação psiquiátrica. Contudo, é conhecido e suspeito o bastante, sobre estes perigos, para fazer uma pessoa ponderada cautelosa sobre o uso de qualquer droga psiquiátrica.

     Prozac, Zoloft, Paxil, e Luvox são exemplos recentes de drogas psiquiátricas feitas sob medida, em laboratório, para estimular a atividade do sistema da serotonina. No caso do Prozac, os mecanismos compensatórios do cérebro foram documentados desde o início da pesquisa envolvendo essa droga.

     Todas as quatro drogas, conhecidas como inibidores de reabsorção seletivos de serotonina (IsRSS [SSRIs]), bloqueiam a remoção normal do neurotransmissor serotonina da fenda sináptica - espaço entre as células nervosas. A superabundância resultante de serotonina, então, faz com que o sistema se torne hiperativo. Mas o cérebro reage contra essa hiperatividade, induzida por estas drogas, destruindo sua capacidade de reagir à estimulação pela serotonina. Este processo compensatório é conhecido como "downregulation [regulação diminutiva]". Alguns dos receptores de serotonina realmente desaparecem ou se extinguem.

     Para compensar ainda mais o efeito da droga psiquiátrica, o cérebro tenta reduzir sua produção de serotonina. Este mecanismo é ativado por cerca de 10 dias e depois começa a falhar, enquanto a "regulação diminutiva [downregulation]" continua indefinidamente, e pode se tornar permanente. Assim, nós sabemos com algum detalhe sobre duas das formas pelas quais o cérebro tenta contrabalançar os efeitos das drogas psiquiátricas. Existem outros mecanismos compensatórios sobre os quais nós sabemos menos, incluindo ajustes compensatórios em outros sistemas neurotransmissores. Mas, sobre tudo, o cérebro se coloca em um estado de desequilíbrio em uma tentativa de prevenir ou superar a superestimulação devido a estas drogas de drogaria.

     O cérebro provavelmente tem mecanismos compensatórios para evitar ou reverter os efeitos de todas as drogas psiquiátricas. Alguns desses mecanismos já foram reconhecidos e estudados. Por exemplo, "regulação diminutiva [downregulation]" de sistemas de neurotransmissores superestimulados ocorre com todos os antidepressivos "tricíclicos" mais antigos, tais como: a amitriptilina (Elavil) e imipramina (Tofranil). A regulação diminutiva também ocorre com as drogas estimulantes tais como: Ritalina e as anfetaminas Dexedrine e Adderall.

     Drogas psiquiátricas nem sempre superestimulam os sistemas de neurotransmissores. Algumas destas drogas inibem ou bloqueiam a transmissão nervosa no cérebro. Quando isso acontece, o cérebro novamente tenta compensar pela reação em sentido oposto - desta vez por "regulação aditiva [upregulation]" do sistema de neurotransmissores suprimido. As drogas "antipsicóticas" - tais como Thorazine, Haldol, Permitil, Risperdal, e Zyprexa - tendem a suprimir o sistema da dopamina. O cérebro tenta superar este efeito, fazendo o sistema de dopamina hipersensitivo. Como discutido abaixo, esta "regulação aditiva [upregulation]" pode levar a desordens neurológicos severas, até mesmo permanentes.

     Em suas tentativas de superar os efeitos das drogas psiquiátricas, o funcionamento do cérebro torna-se distorcido. E, como já foi salientado, o cérebro não pode recuperar imediatamente as suas funções originais no momento que o consumo destas drogas é interrompido. Em alguns casos, o cérebro pode nunca se recuperar.

3.4  Médicos reforçam uso de longo prazo sem justificativa

     Os médicos que prescrevem drogas psiquiátricas, para uso de longo prazo, acreditam que estas drogas são úteis, mas suas perspectivas são baseadas, em impressões pessoais e suposições não comprovadas, ao invés de evidências científicas. Doutores em medicina dependem fortemente de medicamentos e tendem a ser muito tendenciosos em favor do seu uso. Por exemplo, muitos médicos que prescrevem estas drogas de drogaria recomendam-as, para o uso de longo prazo, assim que estão disponíveis no mercado. Eles recomendam que os pacientes tomem uma nova droga psiquiátrica por meses ou anos, mesmo que os estudos da FDA, utilizados para a aprovação, normalmente durem apenas algumas semanas42.

     O uso generalizado do Zyprexa exemplifica como as drogas psiquiátricas novas, e potencialmente perigosas, são muitas vezes prescritas com injustificado entusiasmo sobre sua segurança e eficácia. Em 1996, o Zyprexa foi aprovado pela FDA para o tratamento de psicose, e alguns anos mais tarde, foi aprovado para o tratamento de desordem bipolar. Drogas aprovadas para tais manifestações são chamadas de neurolépticos ou antipsicóticos. Todos elas são extremamente perigosas.

     Conforme requerido pela FDA, todos os neurolépticos, incluindo os mais novos, como Zyprexa, devem conter um "aviso", sobre esta classe de drogas psiquiátricas, alertando dos perigos de discinesia tardia (DT)43. Discinesia tardia é uma desordem neurológica usualmente permanente, desfigurante e potencialmente desabilitadora, caracterizada por tiques, espasmos e movimentos anormais. Essas drogas também causam a síndrome neuroléptica maligna (SNM), uma doença do cérebro potencialmente fatal com efeitos semelhantes aos associados com encefalites virais severas44. Para os neurolépticos, que têm sido extensivamente estudados, como documento no Capítulo 4, as taxas de discinesia tardia e síndrome neuroléptica maligna são muito elevadas.

     Os testes clínicos controlados utilizados para a aprovação do Zyprexa duraram apenas seis semanas e foram realizados em adultos diagnosticados com esquizofrenia. No entanto, imediatamente após o Zyprexa tornar-se disponível no mercado, os médicos começaram a recomendá-lo para uso indefinido, por tempo indeterminado, mesmo por toda vida. Os médicos também começaram a prescrevê-lo para as pessoas sem sintomas psicóticos, até mesmo para crianças com problemas de comportamento.

     Apesar da ausência de estudos de longo prazo e da novidade desta droga psiquiátrica, os médicos aceitaram o tom promocional dos fabricantes desta droga neuroléptica, de que o Zyprexa é mais seguro do que outros medicamentos utilizados para o mesmo propósito. De fato, quase todas as drogas psiquiátricas começam em meio a alegações de serem "mais seguras" e "mais eficazes". Raramente em psiquiatria este entusiasmo é confirmado em avaliações realistas mais sóbrias, e baseadas no tempo e experiência.

     No caso do Zyprexa e de outros novos antipsicóticos, o uso a longo prazo revelou que muitos pacientes ficaram com um risco maior de desenvolver concentrações elevadas de açúcar no sangue, diabetes, pancreatite, colesterol elevado, e um ganho de peso considerável. Alguns pacientes ganharam mais de 60 quilos por ano, e vários morreram devido a essas complicações. Em sua prática clínica e forense, Peter Breggin avaliou vários casos de morte súbita, provocada pela diabetes e pancreatite aguda, induzida pelo Zyprexa.

     Em 2004, a FDA determinou que os novos antipsicóticos contenham, na bula, uma advertência sobre o risco de hiperglicemia e diabetes. Além disso, uma análise sistemática também revelou que pacientes idosos, debilitados, e com demência, para os quais se prescreveram antipsicóticos atípicos, tinham quase o dobro do risco de morrer. E aqui novamente a FDA, em 2002, ordenou uma "tarja preta" alertando sobre o risco de morte prematura devido a tais drogas psiquiátricas. Algumas revisões recentes descobriram que os antipsicóticos antigos também parecem aumentar significativamente o risco de morte prematura, entre os idosos frágeis, e nós acreditamos que o alerta, de "caixa preta" da FDA, deve ser aplicado igualmente a essa classe inteira de drogas psiquiátricas neurolépticas (Trifiro et al., 2006 [372]).

     Mesmo quando se comprova mais tarde que as drogas psiquiátricas são inúteis ou altamente perigosas, quando prescritas por longo prazo, muitos médicos continuam a induzir os pacientes a tomá-las continuadamente por muitos meses ou anos. Em relação a Ritalina e outros estimulantes, por exemplo, não há evidências substanciais sobre os efeitos positivos, além das primeiras semanas, em qualquer comportamento, incluindo a hiperatividade45. Essas drogas podem temporariamente subjugar o comportamento das crianças e torná-las mais obedientes, conformadas, e quietas na sala de aula. Mas elas são rotineiramente prescritas por meses e anos, mesmo por vidas inteiras. Similarmente, embora a Ritalina seja conhecida por interromper a produção do hormônio de crescimento, causando inibição significativa do crescimento, ela é rotineiramente prescrita durante toda a infância.

     Todos as drogas psiquiátricas chamadas ansiolíticas - tais como Xanax, Ativan, Klonopin, Valium, e Librium - são conhecidas por serem altamente viciantes. Depois de apenas algumas semanas de tratamento com Xanax, muitos pacientes sofrem de sintomas de abstinência severos quando deixam de tomar esta droga psiquiátrica. Outros sentem-se incapazes de parar sem ajuda46. De fato, após várias semanas de tratamento, muitos pacientes consumindo Xanax, desenvolvem uma ansiedade que é mais severa do que antes de começarem o seu consumo.

     Apesar destes limites para o uso de longo prazo de drogas psiquiátricas, tais como estimulantes e tranquilizantes menores, um grande número de médicos continuam a prescrevê-las por meses ou mesmo anos sem interrupção. Alguns médicos confiam em seu "julgamento clínico" mais do que nos dados científicos, outros simplesmente não têm acompanhado a literatura científica. Em adição a isso, a maioria dos seminários que os médicos frequentam são patrocinados por empresas de drogas farmacêuticas que muitas vezes provêem opiniões tendenciosas para o uso de longo prazo destas drogas. Os médicos nunca vêem comentários negativos, sobre o uso de longo prazo destas substâncias, na publicidade farmacêutica atraente que lêem em quase todos os jornais profissionais. Nem eles estão propensos a ouvir esse tipo de informação crítica dos vendedores que regularmente vêm visitá-los em seus consultórios. Os médicos podem também falhar em perceber que seus pacientes tornaram-se viciados e querem ficar consumindo suas drogas de drogaria, a fim de evitar as reações de abstinência. Sobre tudo, os médicos muitas vezes tomam a rota mais fácil de escrever prescrições ao invés da rota mais árduo de ajudar os seus pacientes a encontrarem soluções, mais complexas de longo prazo, para suas dificuldades emocionais.

     Enquanto isso, como foi notado, os próprios pacientes podem se sentir compelidos a tomar as drogas psiquiátricas para evitar as reações de abstinência amedrontadoras, tais como: ansiedade, agitação, insônia, depressão, fadiga e sensações anormais na cabeça ou no corpo. Dependendo da droga de drogaria, um ou mais sintomas de abstinência podem se desenvolver dentro de horas ou dias após cessado o consumo da medicação. Estas reações podem se tornar severas o suficiente para que os pacientes comecem a pressionar o seu médico para que ele continue a prescrever estes produtos farmacêuticos. Com efeito, o médico prescritor mantém ou "permite" a dependência de drogas psiquiátricas dos seus pacientes.

     Alguns defensores das drogas psiquiátricas acreditam que anos de uso clínico, por milhares de pacientes, podem provar a utilidade e segurança de uma droga a longo prazo. E alguns médicos individuais sentem que a sua própria prescrição, durante muitos anos, de uma destas drogas, pode demonstrar a sua segurança. Estas crenças têm levado milhões de pacientes a resultados trágicos. Um destes já foi descrito - milhões de pacientes que sofrem de dependência, ao longo da vida, de drogas tranquilizantes viciantes tais como: Xanax, Valium, Ativan, Klonopin e Librium.

     O excesso de confiança no julgamento clínico, sobre a segurança a longo prazo de drogas psiquiátricas, levou a um desfecho ainda mais trágico. Milhões de pacientes foram afligidos, com desordens neurológicas grosseiras, por terem consumido drogas antipsicóticas. Esta classe de drogas de drogaria - começando com Thorazine, e agora, incluindo muitas outras, como Haldol, Permitil, Navane, Risperdal, Leponex, e Zyprexa - foi usada por duas décadas antes de ter sido reconhecido generalizadamente que todo o grupo frequentemente causa discinesia tardia e síndrome neuroléptica maligna. Ainda hoje, 55 anos após os primeiros neurolépticos terem sido introduzidos, muitos médicos falham, em perceber a frequência ou a gravidade destes perigos, e prescrevem estas drogas sem monitoramento adequado do seu uso ou sem avisar os pacientes e suas famílias.

3.5  O perigo específico das drogas psiquiátricas

     O cérebro é o "órgão-alvo" das drogas psiquiátricas. Todas as drogas aprovadas para fins psiquiátricos afetam diretamente o cérebro, causando uma variedade de sintomas mentais ou psiquiátricos. Efeitos comumente relatados incluem confusão, dificuldades de memória, emoções embotadas, sentimentos artificiais de euforia, depressão, ansiedade, agitação, alterações de personalidade, e psicose. Uma revisão dos manuais ou livros didáticos, bem como as discussões no Capítulo 4, vão confirmar que sintomas psiquiátricos ou desordens também podem ser causados por estas drogas.

     Por lei, todas as drogas psiquiátricas devem ter um rótulo, aprovado pela FDA, listando todos os efeitos colaterais mentais e comportamentais, incluindo, por vezes, suicídio e violência. Esta informação é baseada em reportagens de efeitos adversos feitas durante o processo de teste destas drogas, bem como após a droga ter sido comercializada. Contudo, em seus esforços para se acomodar politicamente, e em parte devido às suas limitações administrativas, a FDA costuma falhar em forçar as empresas de drogas farmacêuticas a listar os já bem conhecidos efeitos adversos sérios no rótulo oficial destas drogas. Somente depois de 1986, a FDA exigiu que as empresas de drogas psiquiátricas incluissem a síndrome neuroléptica maligna nos rótulos (e bulas) de todas as drogas antipsicóticas ou neurolépticas - quase três décadas após esta desordem ter sido inicialmente descrita47.

3.6  Efeitos adversos em como você pensa, sente e age

     Como temos enfatizado, qualquer droga psiquiátrica pode e vai prejudicar a função mental. Os prejuízos associados com a maioria destas drogas também podem ser causados por uma variedade infinita de outros tipos de trauma, incluindo fadiga extrema lesionadora da cabeça, doença crônica ou estresse, falta de oxigênio no cérebro, uso crônico de álcool, ou a exposição a toxinas, tais como chumbo ou monóxido de carbono.

     Algumas vezes, esses sintomas de disfunção mental são agravados por problemas emocionais. Contudo, se os problemas se desenvolvem pela primeira vez, ou pioram, depois que você iniciou o consumo de uma droga psiquiátrica, tu deves suspeitar desta droga. Mesmo nos casos dos sintomas que parecem piorar quando você está chateado, a causa subliminar pode ser a droga de drogaria. Muitas reações adversas induzidas por estas drogas, desde a agitação até os problemas de memória e tremores neurológicas, podem piorar sob estresse. Por outro lado, estes problemas podem melhorar durante o repouso e relaxamento.

3.6.1  Psicoses tóxicas induzidas por drogas psiquiátricas

     O termo psicose tóxica ou, mais simplesmente a psicose é muitas vezes usado para descrever o impacto negativo extremo que as drogas psiquiátricas frequentemente têm sobre o cérebro. Embora a psicose tenha muitos significados, em geral, refere-se a uma perda de contato com a realidade, muitas vezes acompanhada de alucinações ou delírios48.

     Desequilíbrios, induzidos por drogas psiquiátricas, sobretudo da função cerebral, podem também serem chamados de confusão ou delírio. Delírio é um distúrbio da consciência e da cognição (processo de pensamento) que usualmente se desenvolve ao longo de um curto período de tempo49. Termos relacionados são: síndrome cerebral orgânica e demência. Finalmente, o termo: mania, é frequentemente usado para descrever uma psicose, especialmente perigosa, que é comumente causada por drogas psiquiátricas (como discutido abaixo e no Capítulo 4).

     Inicialmente essas desordens frequentemente se manifestam como problemas de memória e desorientação, mas eventualmente envolvem desequilíbrios de todas as funções mentais superiores, tais como julgamento, visão interior e raciocínio abstrato. O humor, ou os sentimentos, podem ficar instáveis, perturbados, ou inconvenientes. Alucinações e delírios podem se desenvolver.

     Uma porcentagem significativa de pacientes que tomam drogas psiquiátricas irão desenvolver psicoses tóxicas ou delírios plenamente aflorados, mas muitos outros irão desenvolver variações mais amenas destes sintomas induzidos por estas drogas.

3.6.2  Confie na sua própria percepção de si mesmo - até um certo ponto

     Na tentativa de decidir se você tem um sintoma induzido por drogas psiquiátricas - tais como problemas de memória, raciocínio lento, ou sentimentos embotados - a sua própria percepção de si mesmo é o instrumento mais sensível que existe para detectar quando o seu cérebro e sua mente não estão trabalhando direito. Se você percebe que uma destas drogas está interferindo com os seus processos mentais normais, leve as suas percepções a sério. Você pode estar errado - e outras pessoas podem tentar te reassegurar de que "não há nenhum problema" ou que "você está indo bem". Mas você também pode estar certo sobre a sofrimento devido aos efeitos doentios do medicamento.

     Mantenha o monitoramento, das mudanças de suas respostas mentais, logo depois que você toma uma dose do medicamento, comparar com o momento que o efeito destas drogas tiver desvanecido, pode ajudá-lo a determinar se você está tendo um problema induzido por droga psiquiátrica. Se os sintomas se tornam piores logo após tomar a droga farmacêutica, você pode estar sofrendo de um efeito destas drogas tóxicas. Se eles pioram quando o efeito destas drogas tiver desvanecido, você pode estar sofrendo de sintomas de abstinência. Pode ser difícil, é claro, distinguir entre os efeitos da droga de drogaria e suas próprias reações psicológicas.

     Por outro lado, drogas psiquiátricas podem confundir o seu raciocínio e julgamento, levando-te a crer que você está sendo ajudado, quando de fato você está sendo mentalmente prejudicado.

3.6.3  Os efeitos adversos comuns no seu pensamento, sentimento e comportamento

     Se você está tomando uma droga psiquiátrica, você pode eventualmente experimentar uma ou mais das seguintes anormalidades mentais induzidas por estas drogas:

     Concentração prejudicada. Quase toda droga psiquiátrica pode tornar mais difícil para você prestar atenção às conversas, se focar na leitura de qualquer coisa complicada, ou trabalhar de forma consistente em um projeto. A consciência subjetiva da dificuldade de concentração é um sinal sutil, mas importante, de toxicidade induzida por estas drogas.

     Memória fraca. Drogas psiquiátricas podem tornar difícil para você se lembrar de coisas, tais como: uma lista de itens ao ir para mercearia, a hora que suas crianças disseram que viriam jantar, ou o nome da pessoa que acabou de deixar uma menssagem de telefone para sua esposa ou marido. Você poderá achar mais difícil: executar programas ou operações simples em seu computador, encontrar a palavra ou frase que você quer, ou lembrar o nome de algum objeto familiar. Como no caso da dificuldade de concentração, você pode notar a sua pouca memória antes da sua família ou psiquiatra o fazer, e mesmo antes disso poder ser detectado por testes psicológicos.

     Confusão ou desorientação. Este é um sinal mais sério de disfunção cerebral causada por drogas psiquiátricas. Pode ser mais difícil para você encontrar o caminho ao redor dos edifícios ou dentro de locais onde você esteve antes. Você pode descobrir que esteve andando ou dirigindo para um lugar familiar sem perceber isto ou que você teve dificuldades de dirigir para algum lugar usando instruções escritas. Shoppings e outros espaços largos ficam mais confusos do que costumavam estar. Você pode perder sua carteira com mais facilidade.

     Funcionamento mental retardado ou simplificado. Você pode achar que é mais difícil de seguir direções ou perguntas complicadas, de pensar sobre mais do que uma coisa ao mesmo tempo, ou de conduzir uma sequência lógica de pensamento. Você pode encontrar a si mesmo desejando que as pessoas desacelerem e não fiquem na expectativa de tais respostas rápidas. Enquanto você usualmente pensava que tu eras "rápido", agora tu pareces "lento". Você pode tornar-se confuso com conversas que envolvam mais de uma pessoa, ou você pode ficar inapto de conduzir mais de uma tarefa ao mesmo tempo, tal como: falar ao telefone enquanto você prepara o jantar.

     Respostas exageradas ao estresse. Você pode se achar cada vez menos apto de manusear o estresse diário, e fazer coisas tais como: aprontar as crianças para a escola, tentar chegar ao trabalho a tempo, ter um conflito com amigos ou colegas de trabalho, chegar atrasado para um compromisso, falhar diante de um projeto, ou ser interrompido.

     Aumento da irritabilidade, raiva ou agressividade. De forma embaraçosa, você pode se encontrar inusualmente aborrecido, frustrado ou irritado, e às vezes você poderá ferir os sentimentos das pessoas sem querer. Você também pode se encontrar inesperadamente irritado ou agressivo. No caso do pior cenário, você pode fazer algo perigoso ou nocivo que de outra maneira nunca faria, colocando-se em apuros no trabalho, em casa, ou na rua. Estes problemas induzidos por drogas psiquiátricas são chamados de "reações paradoxais" ou "desinibição".

     Dificuldades para dormir. Você pode ter problemas para cair no sono ou continuar dormindo. No geral, você pode não estar dormindo tão profundamente quanto antes, e quando você dorme, você pode não acordar renovado. Algumas drogas psiquiátricas podem fazer você dormir durante o dia, desequilibrando suas atividades diárias. Outras destas drogas de drogaria podem estimular-te à noite, mantendo-te acordado e deixando-te sonolento e exausto no dia seguinte.

     Embotamento emocional e insensibilidade. Os altos e baixos de suas emoções podem ter sido diminuídos pela droga psiquiátrica que tu estais consumindo. Você não se importa mais, com qualquer indivíduo ou qualquer coisa, tanto quanto você usualmente se importava; seus sentimentos muitas vezes parecem embotados; sua paisagem interna é insossa e menos colorida; você se sente "blá". Esta diminuição de responsividade e perda de vitalidade, induzida por drogas psiquiátricas, recebe muitos rótulos diferentes na literatura médica, incluindo indiferença, apatia letárgica e afeto diminuído ou embotado. Outros rótulos para este achatamento geral da mente, espírito e nível de energia incluem fadiga, mal-estar, e depressão.

     Fadiga. Você se encontra, sem a mesma quantidade de energia mental ou física que já teve, e tu ficas cansado e desencorajado com muito mais facilidade. Você pode estar lento ou letárgico, quando se levanta de manhã, e exausto pela noite.

     Mal-estar. Você se sente não apenas letárgico ou fatigado, mas "mal", "desgastado", "blá" - como se você estivesse com a gripe ou alguma outra debilidade física. Essas reações induzidas por drogas psiquiátricas são muitas vezes referidas como "sintomas do tipo gripe" na literatura médica.

     Depressão. Muitas drogas psiquiátricas podem levar à depressão, envolvendo uma perda da alegria de viver, sentimentos de tristeza e desesperança, e até mesmo sentimentos ou tentativas de suicídio. Na versão final do rótulo do Prozac - a descrição incluída na bula - se dizia inicialmente que a "depressão" era "frequentemente" relatada como um efeito adverso desta droga. Contudo, a referência a depressão foi retirada no último minuto. Documentos secretos nos arquivos da Eli Lilly, o fabricante do Prozac, revelam que, em comparação com placebos e outros antidepressivos, esta droga causou um aumento da taxa de tentativas de suicídio em testes clínicos controlados50. Pacientes frequentemente tornam-se mais deprimidos com antidepressivos, mas os médicos, em seguida, erroneamente aumentam a dose.

     Quase todas as drogas psiquiátricas - desde os tranquilizantes menores até os estimulantes como a Ritalina - podem causar depressão51 Por exemplo, a depressão é geralmente reconhecida como um resultado potencial de tomar Antabuse, anticonvulsivantes, antidepressivos, barbitúricos, tranquilizantes benzodiazepínicos, beta-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, narcóticos, neurolépticos, e estimulantes.

     Imaginação e criatividade reduzidas. Você sente, como se tivesse perdido a sua antiga "chama", quando se trata de pensar em soluções para os problemas, em novas formas de olhar as coisas, ou até mesmo no que fazer com seu tempo livre no sábado à tarde. Muitas vezes, você se sente entediado.

     Autopercepção, auto-compreensão, ou auto-conhecimento prejudicados. Você não se sente mais confiante a respeito de suas avaliações do seu próprio comportamento, e outras pessoas dão pistas ou sinais de que elas acham que você não está se comportando apropriadamente como você pensa que está. Tu tens dificuldades para configurar seus próprios sentimentos, e porque você está se sentindo assim, tu não tens certeza se a droga psiquiátrica está te ajudando ou te causando problemas. Amigos ou familiares podem comentar que você não está aparentemente bem, ou podem perguntar se você está se sentindo mal, quando você nem sequer notou nada de errado.

     Sentimento de "falta de contato" consigo mesmo ou outras pessoas. Você se sente desconectado, remoto, ou fora de contato consigo mesmo e seus sentimentos, e talvez com os sentimentos de outras pessoas também. É como se houvesse um vidro escuro ou uma grande distância entre você e outras pessoas, de tal forma que você não é mais exatamente a mesma pessoa que costumava ser. Essas reações são chamadas de "despersonalização" ou "desrealização".

     Mudanças de personalidade. Mesmo se você não notar, outras pessoas, que se preocupam contigo, podem dizer que tu não estais agindo como você mesmo. Tu podes ter se tornado menos sensível ao humor, mais irritável, mais descuidado, retirado, "alto" ou levemente eufórico, ou um pouco "por fora das coisas". Nos relatórios das reações as drogas psiquiátricas, este sintoma de toxicidade é muitas vezes chamado de "desordem de personalidade".

     Instabilidade emocional. Seus sentimentos parecem ir para cima e para baixo sem qualquer razão, e tu tens mais dificuldade para controlar o que você sente, e quando e como mostrar isso. Esta condição é muitas vezes referida, como "instabilidade aumentada", nos relatórios de reações adversas as drogas psiquiátricas.

     Ansiedade. Muitas drogas psiquiátricas diferentes podem fazer você sentir agitação, ansiedade e pânico. Para aumentar a sua confusão, estes sintomas são geralmente causados pelas drogas usadas para tratar desordens de ansiedade e de pânico. Tranquilizantes, de ação relativamente curta como Xanax ou Ativan, podem causar episódios de ansiedade, quando o efeito destas drogas desaparece e o cérebro reage várias horas após cada dose52. A maioria dos antidepressivos e estimulantes também podem causar ansiedade e agitação. E as drogas do tipo Prozac, bem como as drogas antipsicóticas, podem causar uma síndrome particularmente aflitiva conhecida como akatisia, que envolve ansiedade e irritabilidade interior e que leva a necessidade compulsiva de se mover. A akatisia pode ser sentida como uma tortura de dentro para fora.

     Euforia e mania. Se você se sente "maravilhoso" enquanto está tomando uma droga psiquiátrica, o sentimento pode não ser realista. Ao invés disto, você pode estar tão "alto" que seu julgamento está sem parâmetros. Muitas drogas psiquiátricas podem produzir sentimentos irrealistas de bem estar e confidência. Quando este efeito se torna obviamente anormal, ele é chamado de euforia ou hipomania (mania leve). Euforia temporária pode ser seguida pelo seu oposto, desespero e depressão.

     A euforia induzida por drogas psiquiátricas, por vezes, progride para uma psicose chamada mania. Provavelmente, todos os antidepressivos e estimulantes são capazes de causar mania, que é caracterizada por sentimentos exagerados ou irrealistas de felicidade ou "elevação", excitabilidade, insônia, energia ilimitada, pensamentos rápidos, esquemas grandiosos, e sentimentos de extrema auto-importância e onipotência. Irritabilidade insensível aos outros, paranóia, e agressividade muitas vezes vão junto com o estado maníaco. Durante a mania, uma pessoa pode tornar-se "fisicamente agressiva ou suicida"53.

     A mania pode arruinar a vida de qualquer um. Pessoas maníacas podem se tornar muito paranóicas e reagir com violência contra vítimas inocentes, incluindo os entes queridos. Os maníacos têm sido conhecidos por ofender pessoas importantes, sair de empregos, deixar casamentos, cometer atos criminosos, ou fazer algo tão bizarro ou prejudicial que resulte em prisão ou internação involuntária em um hospital psiquiátrico.

     Mania, depressão e outras anomalias de controle emocional, normalmente resultam devido ao consumo de drogas psiquiátricas. Estas "desordens do humor" induzidas por drogas farmacêuticas são mencionadss muitas vezes no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders [Manual Estatístico de Diagnóstico das Desordens Mentais], quarta edição (DSM-IV), que é a fonte de todos os diagnósticos oficiais em psiquiatria. O manual deixa claro que uma série de drogas psiquiátricas, incluindo antidepressivos, podem causar mania54.

     Taxas de mania causada por antidepressivos frequentemente alcançam ou ultrapassam 1 por cento dos pacientes. Estas taxas são, provavelmente, várias vezes maior para crianças que recebem drogas psiquiátricas55.

     Problemas neurológicos, incluindo espasmos e convulsões. A maioria das drogas psiquiátricas podem causar uma variedade de anormalidades neurológicas e musculares, incluindo dores de cabeça, desequlíbrio do sono, sonhos anormais e pesadelos, incoordenação ou descontrole, fraqueza, espasmos musculares (algumas vezes chamados espasmos mioclônicos), tiques, tremores, percepções visuais ou auditivas anormais, e desconfortos estranhos na pele ou na cabeça. Muitas drogas psiquiátricas também podem causar uma variedade de ataques ou convulsões. As crises mais sérias são as convulsões malignas com perda de consciência. Convulsões podem ser causadas pela ação direta, no cérebro, de drogas tais como: antidepressivos, estimulantes e agentes antipsicóticos, bem como pela abstinência de muitas drogas psiquiátricas, especialmente aquelas que acalmam ou sedam o cérebro, tais como: drogas ansiolíticas (tranquilizantes benzodiazepínicos menores), pílulas para dormir, e medicamentos antiepilépticos.

     Todos os sintomas psiquiátricos causados pelos efeitos químicos das drogas psiquiátricas também podem ser considerados sintomas neurológicos, já que eles são causados por desequilíbrios da função cerebral.

     Abstinência e rebote. A maioria, se não todas, as drogas psiquiátricas podem causar reações de abstinência. Normalmente, o efeito de abstinência é o oposto do efeito direto da droga. Abstinência de tranquilizantes menores sedativos, tais como Xanax, tipicamente irão produzir ansiedade, agitação, insônia, e, em casos extremos, convulsões. Abstinência de estimulantes, tais como a Ritalina e Adderall, podem produzir fadiga, sono excessivo, e depressão, mas também efeitos opostos, tais como hiperatividade, agitação e insônia. No Capítulo 9 nós consideramos os tipos de reações de abstinência, que são típicas de drogas psiquiátricas individuais, ou de classes destas drogas.

3.7  Você pode ser o último a saber

     A maioria de nós sabemos que as drogas recreacionais podem desequilibrar a habilidade dos indivíduos para avaliar como eles realmente estão indo. Nós temos visto ou ouvido falar de casos em que os bebedores de álcool ou de usuários de cocaína ficam sem nenhum juízo sobre como eles se tornaram desequilibrados. Similarmente, drogas psiquiátricas podem comprometer a habilidade de uma pessoa para avaliar como ele ou ela está se portando.

     Georgia estava tomando antidepressivos durante anos e sentia que eles eram "salva vidas". Ela duvidava que pudesse sobreviver sem eles. Mas seu marido estava preocupado com a possibilidade de que estes antidepressivos estivessem tornando-a menos presente emocionalmente. Ele pediu a ela para consultar um médico, que estaria disposto a oferecer a psicoterapia enquanto tentava reduzir ou eliminar seu uso de drogas psiquiátricas. Ela relutantemente decidiu tentar.

     Quatro meses depois, não mais tomando antidepressivos, Georgia sentiu como se estivesse "viva" pela primeira vez em muitos anos. Ela havia esquecido completamente o quanto de gosto que tinha em viver. A droga psiquiátrica tinha suprimido sua vitalidade sem que ela percebesse isso. Ela tinha erroneamente pensado que estava cronicamente deprimida e com necessidade desesperada de medicação contínua.

     Um exemplo mais extremo é a discinesia tardia, a desordem envolvendo contrações musculares permanentes e espasmos causados por neurolépticos ou drogas antipsicóticas, como Haldol e Risperdal. Numerosos estudos têm mostrado que a maioria dos pacientes com essas contrações induzidas por drogas psiquiátricas negam que eles estão tendo qualquer problema desse tipo, especialmente enquanto estão tomando estas drogas56.

     Prozac, Zoloft, Paxil, Luvox, Effexor, e outras drogas que superestimulam o sistema da serotonina frequentemente produzem mudanças de personalidade tais como: irritabilidade, agressividade, instabilidade de humor, e graus variados de euforia. A pessoa consumindo a droga psiquiátrica pode se sentir "melhor do que nunca", enquanto membros da família podem sentir que o indivíduo tornou-se uma "pessoa diferente", com muitos traços negativos de personalidade.

     Os pacientes podem se tornar dependentes de tranquilizantes menores, tais como Xanax ou Valium, sem perceber o que está acontecendo com eles, até que meses ou anos tenham se passado. Eles podem acreditar que necessitam tomar mais e mais da droga psiquiátrica para controlar a sua ansiedade e insônia quando, de fato, as drogas estão piorando a sua condição. Mesmo quando as pessoas percebem que se tornaram viciadas, elas costumam achar o problema muito difícil de enfrentar. Elas muitas vezes acabam por negar que têm um vício, continuando a consumir as drogas psiquiátricas.

     Muitos pacientes que estão consumindo drogas psiquiátricas podem achar que perderam a nitidez da sua função de memória. Este resultado é comumente associado com lítio, tranquilizantes, e uma variedade de antidepressivos. Ambos os pacientes e os médicos podem erroneamente atribuir o problema a "depressão", ao invés de atribuí-lo a droga e, no caso de pacientes mais idosos, podem erroneamente atribuir as dificuldades de memória ao envelhecimento. Vale ressaltar que a droga psiquiátrica que você está tomando pode estar desequilibrando o sua atenção, acuidade mental de percepção emocional, sensibilidade social, ou criatividade, sem que tu percebas isso. Ela pode estar causando efeitos adversos físicos ou mentais os quais você é incapaz de reconhecer ou perceber. Além disso, uma vez que estes sintomas, induzidos por estas drogas de drogaria, se assemelham as deficiências associadas aos problemas psiquiátricos, é fácil para você, seu médico, ou a sua família de culpá-los erroneamente pelos problemas emocionais.

     O comprometimento do juízo causado pela disfunção cerebral é chamado de anosognosia57, uma condição que foi notada pela primeira vez em pacientes com AVC58 que negavam estar sofrendo de uma paralisia parcial. De uma perspectiva mais psicológica, a anosognosia é chamada de negação - a rejeição do desequilíbrio mental óbvia.

     As drogas psiquiátricas são especialmente perigosas porque podem tornar você inapto em reconhecer os efeitos nocivos destas substâncias. Você pode ficar seriamente prejudicado sem perceber o que está acontecendo. Em muitos casos, as pessoas não ficam conscientes dos efeitos prejudiciais destas drogas até que se recuperem depois de parar de tomá-las.

     Agora você aprendeu sobre como as drogas psiquiátricas, em geral, podem prejudicar o seu cérebro e a sua mente. O próximo capítulo focaliza-se nos efeitos específicos de drogas individuais. Se você ou alguém com quem tu se preocupas está tomando uma droga psiquiátrica, você pode querer aprender tudo que puder sobre os efeitos adversos potenciais destas substâncias.

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Notas de Rodapé:

39 Relatado por Peter R. Breggin, M.D., que apresentou esta "grande conferência" no Hospital Suburban, em Bethesda, Maryland, por volta de 1993-1994. A violência, induzida por Prozac, é documentada em detalhes em Breggin e Breggin (1994 [53]) e atualizada em Breggin (1997a [55]).
40 Em várias ocasiões, Peter Breggin foi consultor em casos nos quais os pacientes tentaram suicídio ou cometeram homicídio pela primeira vez após o início do consumo de uma droga psiquiátrica. Este resultado deve ser um sinal vermelho, indicando que a droga psiquiátrica pode ter causado ou contribuído para o comportamento destrutivo. Apesar disso, em muitos desses casos, os médicos continuaram ou até aumentaram a dose, da droga ofensora, após a tentativa de suicídio ou assassinato.
41 Cohen e Jacobs (1998) [115] propuseram um "Formulário de Consentimento Modelo" para o tratamento com drogas psiquiátricas.
42 Ver a discussão e as notas relacionadas no Capítulo 2.
43 Esses avisos podem ser encontradas em qualquer edição recente da Referência de Mesa dos Médicos [Physicians' Desk Reference].
44 Estas desordens, bem conhecidas, induzidas por drogas psiquiátricas, são discutidas na maioria dos livros textos de psiquiatria e farmacologia, inclusive as drogas listadas no Apêndice A. Mais detalhes são fornecidos no Capítulo 4.
45 Documentado em detalhes em Breggin (1998a [57]).
46 As bulas oficiais, aprovadas pela FDA, para os tranquilizantes menores benzodiazepínicos - tais como Xanax, Ativan, e Valium - agora reconhecem que essas drogas são destinados somente para uso de curto prazo (veja as bulas individuais destas drogas reproduzidas em qualquer edição recente da Referência de Mesa dos Médicos [Physicians' Desk Reference]). A bula do Xanax, por exemplo, deixa claro que esta droga não só pode piorar a ansiedade, mas também causar dependência. Xanax, como um exemplo dessas drogas, é discutido em detalhes em Breggin (1991 [49]), Jacobs (1995) [211], e Marks et al. (1989) [265].
47 Breggin (1997a [55]) discute os eventos que levaram à inclusão da síndrome neuroléptica maligna aos rótulos das drogas psiquiátricas, bem como o processo geral da FDA.
48 Veja Associação de Psiquiatria Americana [American Psychiatric Association] (1994 [6], p. 273) para uma breve discussão sobre alguns dos diferentes significados de psicose.
49 Associação de Psiquiatria Americana [American Psychiatric Association] (1994) [6], p. 123.
50 Discutido em detalhe em Breggin (1997a [55]). Breggin (1994 [53]) testemunhou sobre esses documentos secretos no caso Wesbecker.
51 A este respeito, consulte o Capítulo 4, bem como os Medical Letter on Drugs and Therapeutics [Informes Médicos sobre Drogas e Terapêutica] (1998) [274] e Bender (1998a) [34].
52 Nos testes clínicos utilizados para aprovação do Xanax para desordem de pânico, a maioria dos pacientes teve mais ansiedade, depois de algumas semanas consumindo estas drogas, do que antes de consumí-las pela primeira vez. Para uma discussão sobre a piora da condição de ansiedade dos pacientes tratados com Xanax, ver Marks et al. (1989) [265] e Breggin (1991 [49], 1998b [58]).
53 Associação de Psiquiatria Americana [American Psychiatric Association] (1994) [6], p. 330, ver também p. 329.
54 Para uma definição do diagnóstico de "desordem de humor induzida por substância", ver Associação de Psiquiatria Americana [American Psychiatric Association] (1994) [6], pp 374-375. Para referências específicas de antidepressivos causando mania, ver a mesma fonte (pp. 331, 371).
55 Veja Capítulo 4 para as taxas de mania induzidas por drogas psiquiátricas. Um teste clínico recente, do Prozac para crianças e adolescentes com depressão, demonstrou uma taxa de 6 por cento (Emslie et al., 1997 [142]).
56 Discutido com citações da literatura em Breggin (1991 [49]) e Breggin (1997a [55]), p. 57. Veja também Myslobodsky (1986) [292].
57 Anosognosia é discutido em Breggin (1989a, 1989b, 1991 [49], 1997a [55]); Fisher (1989) [152], e Myslobodsky (1986) [292]. O artigo de Fisher é especialmente importante no estabelecimento de que a anosognosia, bem como a dificuldade de memória de curto prazo, é uma característica comum de qualquer tipo de disfunção cerebral generalizada.
58 NT: AVC - Acidente Vascular Cerebral.