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Capítulo 2
Derrotando os Radicais Químicos Livres: O Segredo da Longevidade


A Revolução Antienvelhecimento
Um Programa Radical de Rejuvenescimento
Evite Doenças Cardiovasculares
Aumente a Sua Energia a Cada Ano
Melhore Sua Capacidade Mental

Timothy J. Smith, M.D.
Derrotando os Radicais Químicos Livres: O Segredo da Longevidade
    2.1  Doenças Causadas por Danos Impostos pelos Radicais Químicos Livres
    2.2  Radicais Químicos Livres: O Inimigo Mais Temível da Longevidade
    2.3  Sabotagem Celular
    2.4  Células do Sistema Imunológico: Defensores Dedicados
    2.5  A Ligação com o Envelhecimento
    2.6  Conheça os Formadores de Radicais Químicos Livres
    2.7  A Fonte Mais Surpreendente
    2.8  Os Suspeitos Habituais
        2.8.1  A alimentação norte-americana típica
        2.8.2  Uma alimentação rica em gordura
        2.8.3  Gorduras do tipo trans
        2.8.4  Substâncias químicas
        2.8.5  Pesticidas
        2.8.6  Radiação
    2.9  A História de Joe Six-Pack
    2.10  Fontes de radicais químicos livres
    2.11  Antioxidantes: Nosso Aliado Número Um
    2.12  Preparando o Alicerce para a Renovação
    2.13  Bibliografia do Capítulo 2

     Pouquíssimos indivíduos, se é que existem,
alcançam seu tempo máximo de vida; em geral,
morrem prematuramente em decorrência
de uma ampla variedade de doenças - provocadas,
em sua grande maioria, pelos "radicais químicos livres".

     - DR. DENHAM HARMAN, PH.D., que, em 1954, foi o primeiro a propor a teoria do envelhecimento em consequência dos radicais químicos livres.

     "Querido, dê uma olhada nisso. Talvez você ache interessante."

     Grandes momentos da história do homem muitas vezes começam de maneira desfavorável. Assim aconteceu em dezembro de 1945, quando a esposa de Denham Harman lhe entregou a última edição do Ladies' Home Journal. Estava aberto em um artigo chamado "Amanhã, você pode estar mais jovem", escrito por William L. Laurence, editor da área de ciências do New York Times. Esse artigo, que anunciava o trabalho de um gerontologista russo sobre um "soro citotóxico anti-reticular", despertou o interesse de Dr. Harman em encontrar uma resposta para o enigma do envelhecimento - assunto sobre o qual os cientistas da época absolutamente nada sabiam.

     Durante os nove anos seguintes, o Dr. Harman, jovem e brilhante químico orgânico com doutorado pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, refletiu sobre o processo de envelhecimento. Por ser um fenômeno universal, ele acreditou que o envelhecimento poderia ter uma única causa básica. Mas que causa seria essa? Ele não encontrava a resposta.

     Embora ainda obcecado pela questão, o Dr. Harman teve que deixá-la para depois, até que concluísse a faculdade de medicina e a residência na Universidade de Stanford. Foi então que, certa manhã de novembro de 1954, durante um período em que completava simultaneamente a residência em medicina clínica e realizava pesquisas no Donner Laboratory, em Berkeley, sua busca chegou ao fim. Naquele dia, enquanto lia em sua sala, ele teve uma experiência bem-sucedida que revolucionaria a ciência médica:

     "De repente, ocorreu-me que as reações dos radicais químicos livres, independentemente de como se iniciavam, poderiam ser responsáveis pela deterioração progressiva de sistemas biológicos."

     Obviamente, às vezes até mesmo as melhores idéias demoram a ser aceitas. Essa idéia não inspirou o que se poderia chamar de palavras de elogio - não de início. Depois de estudá-la durante um mês, o Dr. Harman percorreu o campus da Berkeley, batendo de porta em porta e apresentando aos colegas sua recém-formulada Teoria dos Radicais Químicos Livres. Dizer que foi difícil não bastaria. Talvez tivesse mais sucesso vendendo aspiradores de pó na rua.

     Os cientistas procurados pelo Dr. Harman não se impressionaram. Na verdade, apenas dois não rejeitaram terminantemente a sua idéia. Batiam a porta na cara do jovem pretensioso que ousara desafiar o status quo com a idéia absurda de que todas as doenças degenerativas - e o próprio processo de envelhecimento - poderiam ser explicadas pela presença de radicais químicos livres.

     Destemido, o Dr. Harman sustentou sua teoria. Nos anos seguintes, mostrou como os nutrientes conhecidos como antioxidantes revertem os efeitos dos radicais químicos livres, como os antioxidantes ampliam o tempo de vida de animais de laboratório e como oferecem proteção contra doenças cardíacas, o câncer, doenças cerebrais senis e todas as outras doenças degenerativas associadas ao envelhecimento. O Dr. Harman provou que a deficiência imunológica relacionada à idade é causada por radicais químicos livres e que pode ser revertida pelos antioxidantes.

     Em termos de importância científica, a Teoria dos Radicais Químicos Livres do Dr. Harman está no mesmo nível que a invenção do telescópio por Galileu, a descoberta da gravidade por Newton e a teoria da relatividade de Einstein. Nenhum avanço teve implicações mais profundas para a saúde e a longevidade dos seres humanos.

     Hoje, com seus oitenta e poucos anos e ainda ativo profissionalmente, o Dr. Harman merece o Prêmio Nobel por seu trabalho revolucionário.

2.1  Doenças Causadas por Danos Impostos pelos Radicais Químicos Livres

     Com o passar do tempo, os danos dos radicais químicos livres podem impor um tributo a praticamente todos os órgãos e sistemas do organismo. Isso, por sua vez abre caminho para todos os tipos de doenças degenerativas, como mostramos aqui. As seguintes doenças são causadas por danos impostos pelos radicais livres:2

2.2  Radicais Químicos Livres: O Inimigo Mais Temível da Longevidade

     A Teoria dos Radicais Químicos Livres do Dr. Harman surgiu como a explicação do processo de envelhecimento mais compreendida e de maior aceitação. Depois de resistir ao teste do tempo e a incontáveis validações de pesquisas, tornou-se não apenas uma teoria do dano, mas a teoria do dano. (Você deve estar lembrado, do Capítulo 1, que, segundo a teoria do dano, os danos celulares cumulativos determinam a idade em que a pessoa morre.) Na verdade, segundo os médicos especializados em medicina antienvelhecimento, a Teoria dos Radicais Livres transcendeu a posição de simples teoria, sendo considerada um fato biológico da vida.

     Afinal, o que são esses radicais químicos livres? Compreender a sua origem, por que e como eles causam tantos danos requer uma breve lição sobre bioquímica.

     As moléculas são constituídas de átomos unidos por ligações químicas. Cada ligação consiste em um par de elétrons. Quando uma ligação se desfaz, restam dois fragmentos moleculares, cada qual contendo um dos elétrons, agora não-pareado. Esses fragmentos moleculares são altamente carregados e instáveis, pois contêm apenas um elétron, e não dois. Essas partículas altamente carregadas, instáveis e reativas são o que conhecemos como radicais químicos livres.

     Infelizmente, para nós, seres humanos, a saga bioquímica dos radicais químicos livres não termina aqui. Lembre-se, cada radical contém um elétron não-pareado. E elétrons não-pareados, assim como seres humanos sem par, detestam ficar sozinhos. Querem um parceiro e são capazes de romper outra ligação para obter o que desejam. Cientistas chamam esse processo de oxidação, e os radicais livres são mestres nisso. Eles também não são particularmente discriminadores quanto ao local onde obterão seus novos parceiros. Oxidam praticamente tudo o que encontram pelo caminho - perfurando membranas celulares, destruindo enzimas fundamentais e fragmentando o DNA.

     Além disso, os radicais químicos livres são notavelmente prolíficos. Um radical livre descontrolado pode ocasionar a formação de outros. Esses radicais livres, por sua vez, dão origem a muitos mais. Como isso ocorre?

     Devido à sua grande energia, um radical livre se movimenta rapidamente até bater em uma molécula próxima com uma ligação estável. A colisão parte a molécula estável em duas, liberando um de seus dois elétrons. Esse radical livre agarra o elétron como parceiro para seu próprio elétron não-pareado e os dois formam uma ligação estável. Tudo isso acontece, literalmente, em nanossegundos.

     A boa notícia é que o radical livre se estabilizou. A má notícia é que, ao fazê-lo, pode ter ocasionado a formação de dois outros radicais químicos livres ao romper uma ligação estável, deixando os dois átomos da molécula, anteriormente estável, com um elétron não-pareado. Assim, inicia-se uma nova reação em cadeia que produz milhares de fragmentos moleculares com elétrons não-pareados. E cada um desses fragmentos fica à deriva, procurando surrupiar um elétron de uma molécula estável.

     Para entender com mais clareza como os radicais químicos livres se multiplicam, imagine um estádio de futebol cheio de ratoeiras até a borda, cada qual carregada com uma bola de pingue-pongue. Se você jogar uma bola de pingue-pongue no estádio, ela desarma uma ratoeira, fazendo-a arremessar sua bola no ar. Assim, você tem duas bolas de pingue-pongue, que levantam mais duas ratoeiras. Em questão de segundos, todas as ratoeiras serão desarmadas e todas as bolas estarão soltas.

     Se todas essas ratoeiras fossem moléculas estáveis e todas as bolas de pingue-pongue fossem radicais químicos livres, você teria acabado de presenciar uma desordem generalizada de radicais livres.

2.3  Sabotagem Celular

     Em sua busca afoita por elétrons, os radicais químicos livres causam muitos danos estruturais a células saudáveis. Células danificadas não conseguem funcionar adequadamente, podendo até morrer.

     A membrana que envolve cada célula e protege seu interior, semelhante a uma geléia, é altamente vulnerável ao ataque dos radicais químicos livres. A membrana celular é uma barreira sofisticada, altamente seletiva, cuja tarefa, importantíssima, é controlar o acesso à célula. Ela decide o que entra, o que fica e o que é expelido (à força, se necessário). Se as células fossem danceterias, as membranas celulares seriam os leões-de-chácara.

     Dentro de cada célula existem muitas estruturas subcelulares chamadas organelas. Cada organela é envolvida por sua própria membrana externa protetora e desempenha uma função altamente especializada. A mitocôndria, por exemplo, transforma o oxigênio e o alimento em energia, que é utilizada pela célula para realizar suas tarefas. Os lisossomos englobam e digerem o lixo celular, que depois é reciclado ou jogado fora. O núcleo da célula também é uma organela. Ele abriga o DNA, o mapa genético da célula.

     Quando sofre danos provocados pelos radicais químicos livres, a membrana de uma célula ou de uma organela perde suas características protetoras. Isso coloca em risco a saúde de toda a célula.

     A membrana celular é alvo fácil para o ataque dos radicais químicos livres, pois é composta basicamente de ácidos graxos facilmente oxidáveis. Como balas de revólver finas, porém poderosas, as partículas altamente carregadas de radicais livres rompem a membrana celular, literalmente fazendo buracos nela. Uma membrana celular danificada perde sua seletividade. Quando isso ocorre, o transporte de nutrientes, oxigênio e água para a célula e a remoção de produtos residuais da célula ficam comprometidos.

     De modo bem semelhante, danos dos radicais químicos livres na membrana de uma organela sabotam sua função. Quando a mitocôndria sofre danos, por exemplo, essas usinas elétricas submicroscópicas não podem produzir a energia necessária para impulsionar o mecanismo da célula. Se os danos na membrana da mitocôndria forem grandes, a célula morre.

     Os radicais químicos livres podem até atacar a membrana protetora que cerca o núcleo, obtendo acesso às moléculas de DNA que se alojam dentro dele. Se os radicais livres romperem as moléculas de DNA para roubar elétrons, a célula morre ou perde sua capacidade de duplicação ou, ainda, duplica-se de modo anormal - processo conhecido como mutação. A mutação pode originar células anormais, processo que conhecemos como câncer.

     Assim, o choque de um radical livre pode impossibilitar o funcionamento adequado da célula, dependendo de onde ocorrer. Por exemplo, danos na membrana celular prejudicam a oferta de nutrientes à célula e a remoção de produtos residuais da célula. Danos na mitocôndria esgotam o suprimento de energia da célula. Quando os lisossomos sofrem danos, a célula não pode mais se desintoxicar adequadamente. O mais devastador de todos é o ataque de um radical livre às moléculas de DNA, no núcleo da célula. Isso pode fazer com que a célula se duplique de modo anormal ou não se duplique, causando câncer ou a morte da célula.

     Mas o câncer não é o único problema de saúde causado pelos radicais químicos livres. Danos cumulativos de radicais livres contribuem para todos os tipos de doenças específicas dos órgãos e dos tecidos, incluindo alergias, mal de Alzheimer, artrite, aterosclerose (enrijecimento e obstrução das artérias), câncer, catarata, infecções, degeneração macular, esclerose múltipla e doença de Parkinson. Na verdade, pesquisadores hoje concordam em que as enfermidades mais comuns, incluindo praticamente todas as doenças degenerativas, são causadas diretamente por danos provocados pelos radicais livres, ou estão estreitamente associadas a eles.

2.4  Células do Sistema Imunológico: Defensores Dedicados

     De todas as células do corpo, as células do sistema imunológico são as vítimas mais propensas ao ataque dos radicais químicos livres. Ironicamente, elas se arriscam ao realizar a tarefa que lhes é designada.

     As células do sistema imunológico são varredoras de radicais químicos livres. Se sofrerem danos, tornam-se menos capazes de realizar sua tarefa. A curto prazo, sua deterioração, em geral, não produz sintomas. Com o tempo, a fadiga persistente, as infecções recorrentes e alergias podem estar entre os primeiros sinais do desgaste imunológico.

     Se os radicais químicos livres continuarem a atacar as células do sistema imunológico e se as células nunca tiverem uma chance de cura, o acúmulo de danos enfraquecerá ainda mais o sistema imunológico. Isso acaba abrindo uma possível caixa de Pandora de doenças causadas pela função imunológica alterada. Os danos dos radicais livres na membrana protetora externa de uma célula do sistema imunológico ou no DNA podem ser especialmente ameaçadores.

     Depois de sofrer danos, a célula do sistema imunológico perde sua capacidade de distinguir mocinhos de bandidos. Mais tarde, há duas possibilidades, nenhuma delas boa. Na primeira, as células do sistema imunológico acham que amigos são inimigos e começam a atacar tecidos saudáveis. É o que conhecemos como doenças auto-imunes, cujos exemplos seriam o lúpus, a esclerose múltipla e a artrite reumatóide. Na segunda, as células acham que inimigos são amigos. Por exemplo, talvez não consigam reconhecer células cancerosas e, em vez de destruí-las, as ignoram, deixando que se multipliquem.

2.5  A Ligação com o Envelhecimento

     A exposição prolongada aos radicais químicos livres realmente acelera o processo de envelhecimento. Uma das manifestações mais evidentes dos danos cumulativos dos radicais livres é um fenômeno conhecido como ligação cruzada.

     A ligação cruzada afeta as moléculas de proteína, as enzimas, o DNA e o RNA. Como se fosse uma algema, impede que seus reféns moleculares desempenhem a tarefa que lhes foi designada. Dessa maneira, a ligação cruzada prejudica o organismo como um todo - especialmente se esse organismo for o seu. Devido à ligação cruzada, o tecido elástico e flexível da juventude dá lugar à pele enrugada, às articulações inflexíveis e às artérias enrijecidas da velhice.

     Além disso, a ligação cruzada piora com a idade, à medida que o desgaste celular de várias décadas se acumula e o organismo passa a reconhecer menos os radicais químicos livres varredores. O resultado é a deterioração funcional, que afeta todo o organismo, sinônimo de doenças degenerativas e envelhecimento.

     Nas células da pele, a ligação cruzada das moléculas causa as rugas, características do envelhecimento. Nas células das artérias, a ligação cruzada reduz a flexibilidade, que, por sua vez, aumenta a pressão arterial e impõe uma pressão adicional ao coração, que precisa então bombear mais para manter o fluxo contínuo de sangue. No cérebro, a ligação cruzada impede a transmissão de mensagens entre as células nervosas - o que não é bom se você prefere um raciocínio nítido e um fluxo de idéias rápido. Há uma demora nos processos de pensamento e um aumento da probabilidade de problemas de memória e concentração.

     De todo o trabalho sujo da ligação cruzada, o mais problemático podem ser seus efeitos sobre as moléculas de DNA. Quando sofrem danos, essas moléculas comprometem a capacidade da célula de interpretar corretamente seu mapa genético codificado no DNA. Isso resulta na duplicação do DNA não-pareado e na reunião de proteínas. Todo o processo de Renovação depende da precisão no processo de duplicação celular. Por isso, a incapacidade de proteger o código genético de uma célula gera consequências particularmente profundas.

2.6  Conheça os Formadores de Radicais Químicos Livres

     É evidente que precisamos saber não apenas de onde vêm esses radicais químicos livres, cujos danos causam doenças e encurtam a vida, mas também como evitá-los - ou pelo menos limitar a nossa exposição a eles.

     Infelizmente, os radicais químicos livres estão em toda a parte. Estão nos alimentos que comemos, na água que bebemos, no ar que respiramos. Até os nossos organismos produzem radicais livres.

     Nosso organismo está equipado para controlar os radicais químicos livres e desfazer-se deles. O problema é que, em geral, temos mais desses desordeiros dentro de nós do que o organismo é capaz de controlar. É quando surgem os problemas.

     Qualquer combinação de fatores que produza um excesso de radicais químicos livres (ou uma varredura menos eficiente) pode, em última instância, causar destruição em massa dentro do corpo humano. Essa destruição tem sido relacionada ao desenvolvimento de doenças e à aceleração do envelhecimento.

     É verdade que não podemos controlar algumas fontes de radicais químicos livres. Mas podemos controlar muitas delas. A seguir, apresento um resumo dos principais agressores.

2.7  A Fonte Mais Surpreendente

     No momento em que você estiver lendo essa frase, seu organismo está gerando enormes quantidades de radicais químicos livres. E, acredite se quiser, trata-se de um processo bastante normal.

     Veja bem, esses radicais químicos livres são um tipo de "escapamento" celular - um subproduto do metabolismo. São produzidos quando as células utilizam oxigênio para transformar o alimento em energia. A única maneira de evitá-los seria parar de queimar oxigênio. Mas, desse modo, o metabolismo também ficaria paralisado.

     Esses radicais químicos livres são, na verdade, fruto do próprio organismo e, por isso, são aguardados pelo organismo, que está preparado para lidar com eles. Ele tem maneiras altamente eficientes de agarrar e neutralizar essas partículas renegadas, antes que elas causem danos. Assim, as células simplesmente continuam a produzi-los.

2.8  Os Suspeitos Habituais

     Os radicais químicos livres que ocorrem naturalmente no organismo não devem ser motivo de preocupação. É o excesso de radicais livres, para o qual o organismo não está preparado, que causa danos, encurtando o tempo de vida. Essa carga extra resulta de dois fatores básicos: a superabundância de toxinas e uma escassez de antioxidantes (voltaremos ao assunto mais adiante).

     Uma lista completa de todas as fontes externas de radicais químicos livres provavelmente tomaria várias páginas. Assim, apresento alguns dos piores agressores.

2.8.1  A alimentação norte-americana típica

     A alimentação típica dos norte-americanos é um fracasso radical. É generosamente repleta de alimentos com alto teor de gordura, processados, em conserva, carregados de pesticidas e tratados quimicamente. É repleta de conhecidos formadores de radicais químicos livres como carne, manteiga, margarina, açúcar, farinha e álcool. Enfatiza métodos como fritura e outros que aumentam exponencialmente a contagem de radicais livres. E, o mais importante, é perigosamente deficiente em frutas e vegetais, ricos em antioxidantes e opositores dos radicais livres.

2.8.2  Uma alimentação rica em gordura

     Consumir mais que 10% de suas calorias em forma de gordura aumenta drasticamente a carga de radicais químicos livres no organismo. O motivo: quando bombardeadas por radicais livres, as moléculas de gordura separam-se facilmente. As ligações fracas que unem as moléculas de gordura poliinsaturada são especialmente sensíveis ao calor, à luz e ao oxigênio e facilmente rompidas por eles. Quanto mais gordura você ingerir, mais radicais livres seu organismo gera. Por isso, doenças cardíacas e câncer, duas doenças associadas aos danos cumulativos de radicais químicos livres, são mais comuns em pessoas que seguem uma alimentação rica em gorduras.

2.8.3  Gorduras do tipo trans

     Também conhecidas como gorduras estranhas ou gorduras más (devido ao que causam ao organismo), as gorduras do tipo trans são um caldeirão fervente de radicais químicos livres em atividade. São geradas pelo cozimento em alta temperatura e pela hidrogenação (processo utilizado para enrijecer óleos vegetais líquidos). A maioria das pessoas ingere as gorduras do tipo trans na margarina que passam na torrada do café da manhã, na gordura utilizada na maioria dos produtos assados e no óleo hidrogenado dos alimentos processados e prontos (como bolachas, batata frita e nozes). O norte-americano típico ingere 45 quilos de gorduras do tipo trans por ano, uma tremenda carga de radicais livres.

2.8.4  Substâncias químicas

     Alguns dos piores e mais penetrantes radicais químicos livres se originam no grande e crescente conjunto de substâncias químicas tóxicas que são liberadas no meio ambiente. A cloração das fontes de abastecimento de água gera, muitas vezes, níveis perigosos de clorofórmio e trialometano, ambos poderosos formadores de radicais químicos livres. O ar também é impregnado de formadores de radicais livres: óxidos de enxofre e nitrogênio, ozônio (benéfico para os seres humanos somente se permanecer na camada superior da atmosfera), cloro, hidrocarbonetos aromáticos (como o benzeno e o tolueno), formaldeído, monóxido de carbono, chumbo, amianto e fumaça de tabaco. Só a combustão do tabaco produz milhares de diferentes substâncias químicas geradoras de radicais livres. Mesmo que você não fume, é difícil escapar da fumaça indireta.

2.8.5  Pesticidas

     Os pesticidas são conhecidos formadores de radicais químicos livres. Também são muito solúveis na gordura. Isso significa que são encontrados em alimentos de origem animal, naturalmente ricos em gordura, em quantidades muito maiores do que nos alimentos de origem vegetal. Por quê? Bem, um animal ingere, todos os dias, durante toda a vida, alimentos que contêm pesticidas. Resíduos de pesticidas concentram-se no tecido adiposo do animal, resultado de uma inútil tentativa do organismo do animal de remover as substâncias tóxicas. Assim, se você ingerir um alimento desse animal - seja ele carne vermelha, frango, leite, queijo ou manteiga - seu organismo, da mesma maneira, tenta livrar-se das toxinas armazenando-as no tecido adiposo. Incógnitas, as moléculas de pesticida acabam iniciando reações em cadeia de radicais livres. Esse fenômeno ajuda a explicar a epidemia de doenças cardíacas e câncer entre os aficcionados por carne.

2.8.6  Radiação

     A radiação ionizante - incluindo os raios X utilizados na medicina e na odontologia, o gás radônio e a radiação ultravioleta do sol - fratura moléculas estáveis. Ao fazê-lo, gera radicais químicos livres. As células são extremamente sensíveis à radiação, e quem tem maior risco de sofrer danos são as membranas da célula e os cromossomos do núcleo. E não é preciso uma radiação forte para causar danos: uma pequena exposição destrói apenas uma molécula em 100 milhões, mas pode desencadear reações em cadeia de radicais livres capazes de matar uma célula inteira. E se a radiação bater diretamente no núcleo da célula, seu DNA - o mapa para a duplicação celular - fica danificado.

2.9  A História de Joe Six-Pack

     Neste momento, você provavelmente está pensando que a única maneira de evitar a exposição aos radicais químicos livres é desistir de comer, beber e até de respirar pelo resto da vida. É desnecessário dizer que sua vida terminaria bem rapidamente. Não é preciso tomar atitudes radicais. Lembre-se de que seu objetivo é reduzir a sobrecarga de radicais livres.

     Para ajudá-lo a colocar isso em perspectiva, permita-me contar a história de Joe Six-Pack. Joe é, sem dúvida, um norte-americano típico. Em uma manhã de sábado, Joe acorda com ressaca por ter ficado um pouco alegre demais na happy hour do dia anterior. Bebe um ou dois copos de água clorada para se reidratar e depois uma xícara de café (com creme e açúcar). No café da manhã, come ovos fritos e torrada com margarina.

     Depois de uma rápida chuveirada e de passar no rosto as mãos cheias da sua loção após barba favorita (que contém álcool, perfume e outras substâncias químicas), Joe entra no carro e vai para a praia. O dia está tão lindo que ele abre todo o vidro do carro e respira fundo o ar "fresco" - que já foi contaminado por fortes doses de poluentes. Na praia, Joe compra um saquinho de batatas fritas e um refrigerante na lanchonete e depois fica conversando com os amigos (ambos fumantes) antes de cair no sono, debaixo de um solão, por algumas horas.

     Joe já havia aumentado sua sobrecarga de radicais químicos livres e ainda nem era hora do almoço. Se mantiver seu estilo de vida, Joe enfrentará graves problemas. Com 60 anos, Joe - sem dúvida um típico norte-americano - sofrerá de uma doença coronariana e passará por uma cirurgia para colocação de ponte de safena, sem dúvida típica.

2.10  Fontes de radicais químicos livres

     Evitar os formadores de radicais químicos livres pode parecer uma tarefa bastante fácil. Mas a verdade é que eles estão praticamente por toda a parte. A lista a seguir é uma simples amostra de substâncias e outros fatores que podem causar uma sobrecarga de radicais livres. Quantos desses você encontra diariamente?

2.11  Antioxidantes: Nosso Aliado Número Um

     Joe pode mudar muitos de seus hábitos formadores de radicais químicos livres. E quanto mais cedo o fizer, melhor ficará. Pois, enquanto não puder erradicar cada um dos últimos radicais livres de seu organismo, deve se esforçar para permanecer vários passos à frente deles, pelo tempo que puder. Esse é o segredo da longevidade.

     Por sorte, Joe tem uma arma poderosa na guerra contra os radicais químicos livres. Equivalentes a esses vilões são os sistemas de defesa dos radicais livres desenvolvidos pelo organismo. Sem esses sistemas, os seres humanos estariam fritos - nossa vida seria medida em minutos e não em décadas.

     O organismo conta com dois sistemas de defesa específicos para neutralizar os radicais químicos livres: o sistema de nutrientes antioxidantes e o sistema de enzimas antioxidantes. Os nutrientes podem ser utilizados sem qualquer mudança, diretamente dos alimentos e suplementos que consumimos. As enzimas devem ser sintetizadas ou produzidas pelo organismo.

     O que torna os antioxidantes tão eficazes contra os radicais livres é a sua disposição de desistir de seus próprios elétrons pela causa. Os radicais químicos livres aceitam vorazmente a oferta do antioxidante, como crianças ávidas por uma bala. Obviamente, se um radical livre encontra um parceiro para seu elétron não-pareado, perde imediatamente sua posição de radical livre. Daí em diante, comporta-se e permanece fora do problema. E a melhor parte é que os antioxidantes são capazes de doar seus elétrons sem que eles mesmos gerem radicais livres.

     Como prova do papel crucial exercido pelos antioxidantes ao eliminar radicais químicos livres e prolongar a vida, considere as descobertas de um dos primeiros experimentos realizados pelo Dr. Harman. Nesse experimento, um grupo de ratos se alimentou de comida para ratos, enquanto o outro grupo se alimentou da comida fortalecida com antioxidantes. Os ratos do último grupo viveram 40% mais que os do primeiro grupo. No caso de seres humanos, isso corresponde a aproximadamente 40 anos de vida a mais. Conforme o Dr. Harman teorizou e as pesquisas subsequentes comprovaram, os antioxidantes protegeram os ratos dos danos causados por radicais livres, ampliando assim seu tempo de vida.

     Mas, assim como a abundância de antioxidantes pode acrescentar anos à sua vida, a escassez pode lhe tirar anos. Os radicais químicos livres continuam a percorrer seu sistema e a danificar células saudáveis. Por isso, é tão importante ingerir grandes quantidades de alimentos ricos em antioxidantes e ingerir suplementos antioxidantes adequados. Quanto mais antioxidantes estiverem em nossa corrente sanguínea protegendo nossas células, mais tempo poderemos viver.

2.12  Preparando o Alicerce para a Renovação

     Assim, o estilo de vida que melhor promove a longevidade tem dois componentes básicos: primeiro, maximiza a ingestão de antioxidantes através de alimentos e suplementos; segundo, diminui os fatores que promovem a formação de radicais químicos livres. Abordaremos esses dois componentes em mais detalhes em capítulos posteriores. Agora, apresento os pontos básicos.

****

     Agora que você já foi formalmente apresentado aos radicais químicos livres e aos antioxidantes, vamos investigar seus respectivos papéis no esquema maior da Teoria da Renovação.

2.13  Bibliografia do Capítulo 2

Referências Bibliográficas

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Notas de Rodapé:

2 É indiginador como através das drogas e alimentos a população está sendo literalmente envenenada. Talvez, os defensores da lei e os amantes da vida pudessem elaborar um processo legal padrão, enumerando todas as substâncias que provocam as doenças degenerativas. Isto seria usado para processar as empresas e orgãos governamentais responsáveis toda vez que um cidadão sofresse de uma destas doenças aqui listadas.