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Capítulo 0
Preliminares


A Cabana (Cura da Psique)
William P. Young
Livro Acessível na Internet
Preliminares
    0.1  Índice Original
    0.2  Prefácio

    

A CABANA
William P. Young
com a colaboração de
Wayne Jacobsen e Brad Cummings

Editora Sextante, 2008
FICÇÃO

     Créditos: Lewry Diboys

     Reedição: Susana Cap

www.semeadores.net

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Semeadores da Palavra, e-books evangélicos
Título original: The Shack
Copyright © 2007 por William P. Young
Copyright da tradução © 2008 por Editora Sextante Ltda.
Música usada no Capítulo 1: "One Way", de Larry Norman.
Música usada no Capítulo 10: "New World", de David Wilcox.
Tradução: Ivanir Alves Calado
Capa: Marisa Ghiglieri, Dave Aldrich e Bobby Downes.
Adaptação da capa: Miriam Lerner
ISBN 978-85-99296-36-3

     1. Mudança de vida - Ficção. 2. Crianças desaparecidas - Ficção. 3. Ficção americana. I. Alves Calado, Ivanir, 1953-. II. Título.

Todos os direitos reservados, no Brasil, por
Editora Sextante Ltda.
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22270-000 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 2286-9944 - Fax: (21) 2286-9244
E-mail: atendimento@esextante.com.br
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ESTA HISTÓRIA FOI ESCRITA PARA MEUS FILHOS
Chad - o Profundo Gentil,
Nicholas - o Explorador Sensível,
Andrew - o Afeto Generoso,
Amy - a Alegre Conhecedora,
Alexandra (Lexi) - o Poder Luminoso,
Matthew - o Belo Prodígio,
E DEDICADA EM PRIMEIRO LUGAR A
Kim, minha amada - obrigado por salvar minha vida -,
E EM SEGUNDO A
"... todos nós, falhos, que acreditamos que o Amor governa.
Levantemo-nos e deixemos que ele brilhe".

0.1  Índice Original

     Prefácio     6

     1. Uma confluência de caminhos     12

     2. A escuridão se aproxima     21

     3. O mergulho     30

     4. A grande tristeza     38

     5. Adivinhe quem vem para jantar     55

     6. Aula de voo     73

     7. Deus no cais     89

     8. Um café da manhã de campeões     100

     9. Há muito tempo, num jardim muito, muito distante     112

     10. Andando sobre a água     123

     11. Olha o juiz aí, gente     134

     12. Na barriga das feras     153

     13. Um encontro de corações     167

     14. Verbos e outras liberdades    178

     15. Um festival de amigos     193

     16. Manhã de tristezas    201

     17. Escolhas do coração     214

     18. Ondulações se espalhando    221

     Posfácio     229

     Agradecimentos     231

0.2  Prefácio

     Quem não duvidaria ao ouvir um homem afirmar que passou um fim de semana inteiro com Deus e, ainda mais, em uma cabana? Principalmente naquela cabana.

     Conheço Mack há pouco mais de 20 anos, desde o dia em que nós dois fomos à casa de um vizinho para ajudá-lo a embalar feno para suas poucas vacas. A partir de então a gente se encontra compartilhando um café - ou, para mim, um chá tailandês superquente, com soja. Nossas conversas nos dão um prazer profundo e são sempre salpicadas de muito riso e de vez em quando de uma ou duas lágrimas. Francamente, quanto mais velhos ficamos, mais a gente se dá bem, se é que você me entende.

     O nome completo dele é Mackenzie Allen Phillips, mas a maioria das pessoas o chama de Allen. É uma tradição de família: todos os homens têm o primeiro nome igual, mas são conhecidos pelo nome do meio, provavelmente para evitar a ostentação do I, II e III ou Júnior e Sênior. Assim, ele, o avô, o pai e agora o filho mais velho têm o nome de Mackenzie, mas só Nan, a mulher dele, e os amigos íntimos o chamam de Mack.

     Ele nasceu em uma fazenda do Meio-Oeste, numa família irlandesa-americana de mãos calejadas e regras rigorosas. Ainda que aparentemente religioso e exageradamente rígido, seu pai bebia muito, sobretudo quando a chuva não vinha ou quando vinha cedo demais, e quase sempre entre uma coisa e outra. Mack nunca fala muito sobre o pai, mas quando O menciona a emoção abandona seu rosto, como se fosse uma maré vazante, deixando seus olhos sombrios e sem vida. Pelo pouco que Mack me contou, sei que seu pai não era o tipo de alcoólatra que cai num sono rápido e feliz, e sim um bêbado perverso que batia na mulher e depois pedia perdão a Deus.

     A coisa chegou a tal ponto que, aos 13 anos e com certa relutância, Mack abriu o coração para um líder da igreja durante um encontro de jovens. Dominado pelo clima do momento, Mack confessou chorando que nunca fizera nada para ajudar a mãe nas várias vezes em que testemunhara o pai bêbado lhe dar uma surra até deixá-la inconsciente. O que Mack não pensou foi que seu confessor frequentava a mesma igreja que seu pai. Quando chegou em casa, o pai o esperava na varanda e a mãe e as irmãs não estavam. Mais tarde, Mack ficou sabendo que elas tinham sido mandadas à casa da tia May para que o pai pudesse ter liberdade para dar ao filho rebelde uma lição inesquecível. Durante quase dois dias, amarrado ao grande carvalho nos fundos da casa, ele foi castigado com um cinto e com versículos da Bíblia todas as vezes que o pai acordava de sua bebedeira e largava a garrafa.

     Duas semanas depois, quando enfim conseguiu ficar em pé, Mack simplesmente se levantou e foi embora de casa. Mas antes de partir colocou veneno de rato em cada garrafa de bebida que conseguiu encontrar na fazenda. Depois desenterrou de perto da latrina externa a pequena lata onde guardava todos os seus tesouros: uma foto da família em que o pai estava meio afastado, uma figurinha de beisebol do Luke Easter de 1950, uma garrafinha com mais ou menos 30ml de Ma Griffe (o único perfume que sua mãe havia usado), um carretel de linha e duas agulhas, um pequeno jato F-86 da Força Aérea americana em metal fundido e todas as economias de sua vida: 15 dólares e 13 centavos. Esgueirou-se pela sala e enfiou um bilhete debaixo do travesseiro da mãe, enquanto o pai roncava, curtindo mais um porre. O bilhete dizia simplesmente: "Um dia espero que você possa me perdoar." Jurou que nunca mais olharia para trás e não olhou - durante um longo tempo.

     Treze anos é muito pouco, porém Mack não tinha muitas opções e se adaptou rapidamente. Ele não fala muito sobre os anos seguintes. A maior parte foi passada fora do país, trabalhando pelo mundo, mandando dinheiro para os avós, que o repassavam à mãe. Acho que num desses países distantes chegou a pegar em armas e participar de algum conflito terrível; desde que o conheço, ele odeia a guerra com um fervor sinistro. Seja lá o que for que tenha acontecido, aos 20 e poucos anos foi parar num seminário na Austrália. Quando Mack se fartou de teologia e filosofia, retornou aos Estados Unidos, fez as pazes com a mãe e as irmãs e se mudou para o Oregon, onde conheceu Nannete A. Samuelson e se casou com ela.

     Neste mundo de faladores, Mack é pensador e fazedor. Não diz muita coisa, a não ser que alguém pergunte, o que pouca gente faz. Quando fala, dá a impressão de ser uma espécie de alienígena que vê a paisagem das ideias e experiências humanas de modo diferente de todas as outras pessoas.

     O que acontece é que as coisas que ele diz causam um certo desconforto em um mundo onde a maioria das pessoas prefere escutar o que está acostumada a ouvir, o que frequentemente não é grande coisa. Os que o conhecem geralmente gostam muito de Mack, desde que ele mantenha guardados seus pensamentos. Porque as coisas que Mack diz nem sempre deixam as pessoas muito satisfeitas com elas mesmas.

     Uma vez Mack me contou que quando era jovem costumava se abrir com mais liberdade, mas admitiu que a maior parte dessas conversas era um mecanismo de sobrevivência para encobrir suas feridas. Frequentemente acabava derramando a dor sobre quem estivesse por perto. Disse que tinha prazer em apontar as falhas das pessoas e humilhá-las para manter seu sentimento de falso poder e controle. Nada muito elogiável.

     Enquanto escrevo estas palavras, reflito sobre o Mack que sempre conheci: um sujeito bastante comum e certamente sem nada de especial, a não ser para os que o conhecem de verdade. Vai fazer 56 anos e não chama a atenção, está ligeiramente acima do peso, é meio careca, baixo e branco - uma descrição que serve para muitos homens dessas redondezas. Você provavelmente não o notaria numa multidão nem se sentiria incomodado sentado ao seu lado enquanto ele cochila no trem que o leva à cidade para a reunião semanal de vendas. Faz a maior parte de seu trabalho num pequeno escritório em sua casa na Wildcat Road, Vende alguma engenhoca de alta tecnologia que eu não pretendo entender: trecos eletrônicos que de algum modo fazem tudo andar mais depressa, como se a vida já não fosse rápida demais.

     Você só percebe como Mack é inteligente quando, por acaso, escuta diálogo dele com um especialista. Já vivi algumas situações dessas quando a língua falada mal parecia com a nossa e eu me via lutando para captar os conceitos que jorravam como um rio de joias despencando de uma cachoeira. Ele consegue falar com inteligência sobre quase tudo e, apesar da força de suas convicções, Mack tem um modo gentil e respeitoso que deixa você manter as suas.

     Seus assuntos prediletos são Deus, a Criação e por que as pessoas acreditam em determinadas coisas. Seus olhos se iluminam e seu sorriso repuxa os cantos dos lábios para cima. De repente, como se fosse um garotinho, o cansaço se dissolve e ele rejuvenesce, praticamente incapaz de se conter. Mas, ao mesmo tempo, Mack não é muito religioso. Parece ter uma relação de amor e ódio com a religião e talvez até com Deus, que ele imagina como um ser mal-humorado, distante e altivo. Pequenas gotas de sarcasmo escorrem às vezes pelas rachaduras de seu reservatório, como dardos cortantes cheios de veneno. Embora algumas vezes nós dois vamos juntos à mesma igreja, dá para ver que ele não se sente muito à vontade lá.

     Mack está casado com Nan há pouco mais de 33 anos - na maior parte do tempo, eles são felizes. Diz que ela salvou sua vida e pagou um preço alto por isso. Por algum motivo que não dá para compreender, Nan parece amá-lo agora mais do que nunca, apesar de eu ter a sensação de que ele a magoou de algum modo terrível nos primeiros anos. Acho que, assim como a maior parte das nossas feridas tem origem em nossos relacionamentos, o mesmo acontece com as curas, e sei que quem olha de fora não percebe essa bênção.

     De qualquer modo, Mack se casou. Nan é a argamassa que mantém juntos os ladrilhos de sua família. Enquanto Mack lutou num mundo com muitos tons de cinza, o dela é principalmente preto e branco. O bom senso é tão natural para Nan que ela nem consegue perceber o dom que isso representa. Ter uma família a impediu de realizar seu sonho de ser médica, mas ela se destacou como enfermeira e obteve um reconhecimento considerável em seu trabalho com pacientes terminais com câncer. Enquanto o relacionamento de Mack com Deus é amplo, o de Nan é profundo.

     Esse casal contraditório teve cinco filhos de beleza incomum. Mack gosta de dizer que todos pegaram a beleza dele, "... porque Nan ainda conserva a dela". Dois dos três meninos já saíram de casa: Jon, casado há pouco, trabalha como vendedor de uma empresa local, e Tyler, recém-formado na faculdade, está fazendo mestrado. Josh e uma das duas garotas, Katherine (Kate), cursaram a escola comunitária local. E a que chegou por último é Melissa - ou Missy, como gostávamos de chamá-la. Ela ... bem, você vai conhecer melhor alguns dos filhos de Mack ao longo deste livro.

     Os últimos anos foram ... como é que posso dizer ... notavelmente peculiares. Mack mudou: agora está ainda mais diferente e especial. Durante todos os nossos anos de convívio ele sempre foi bastante gentil e amável, mas desde a estada no hospital há três anos ficou ... bem, melhor ainda. Tornou-se uma daquelas raras pessoas que estão totalmente à vontade dentro da própria pele. E eu também me sinto mais à vontade perto dele do que de qualquer outra pessoa. Cada vez que nos separamos, tenho a sensação de ter tido a melhor conversa da minha vida, mesmo que eu tenha falado mais. E, a respeito de Deus, Mack não é mais simplesmente amplo. Ficou muito profundo. Mas o mergulho custou caro.

     Os dias de hoje são muito diferentes de há sete ou oito anos, quando a Grande Tristeza entrou em sua vida e ele quase parou de falar. Mais ou menos nessa época, e por quase dois anos, nossos encontros foram interrompidos, como se por um acordo mútuo não verbalizado. Eu só via Mack de vez em quando na mercearia ou, mais raramente ainda, na igreja. E, embora em geral trocássemos um abraço educado, não falávamos de muita coisa importante. Para ele era até difícil me encarar. Talvez não quisesse entrar numa conversa capaz de arrancar a casca de seu coração ferido.

     Porém tudo isso mudou depois de um acidente feio com ... Mas lá vou eu outra vez botando o carro na frente dos bois. Vamos chegar lá no devido tempo. Basta dizer que estes últimos anos parecem ter devolvido a vida de Mack e tirado o fardo da Grande Tristeza. O que aconteceu há três anos mudou totalmente a melodia de sua vida e é uma canção que mal posso esperar para tocar.

     Apesar de se comunicar bastante bem verbalmente, Mack não se sente seguro sobre sua capacidade de escrever - algo que ele sabe que me apaixona. Por isso, perguntou se eu escreveria esta história, a história dele "para as crianças e para a Nan". Queria uma narrativa que o ajudasse a expressar para eles a profundidade de seu amor e que os ajudasse a entender o que havia se passado em seu mundo interior. Você conhece o lugar: é onde você está sozinho - e talvez com Deus, se acredita Nele. É claro que Deus pode estar lá, mesmo que você não acredite. Isso seria bem o jeito de Deus. Não é à toa que ele é chamado de O Grande Intrometido.

     A história que você vai ler é resultado de uma luta minha e do Mack para, durante muitos meses, colocar em palavras o que ele viveu. Tem um lado um pouco ... digamos, muito fantástico. Não vou julgar se algumas partes são verdadeiras ou não. Prefiro dizer que, mesmo que algumas coisas não possam ser cientificamente provadas, talvez sejam verdadeiras. Mas preciso afirmar honestamente que fazer parte desta história me afetou de modo profundo, desvendando detalhes meus que eu desconhecia. Confesso que desejo desesperadamente que tudo o que Mack me contou seja verdade. Na maioria das vezes eu me sinto próximo dele, mas em outras - quando o mundo visível de concreto e computadores parece ser o real - perco o contato e tenho dúvidas.

     Algumas observações finais. Mack gostaria que eu lhe transmitisse o seguinte recado: "Se você odiar esta história, desculpe, ela não foi escrita para você." Mas eu quero acrescentar: afinal, talvez tenha sido. O que você vai ler é o máximo que Mack consegue recordar daquilo que aconteceu. Esta é a história dele, não a minha. Por isso, nas poucas vezes em que apareço, vou me referir a mim mesmo na terceira pessoa - e do ponto de vista de Mack.

     Às vezes a memória pode ser uma companheira enganosa, em especial com relação ao acidente, e eu não ficarei surpreso se, apesar de nosso esforço conjunto para contar a história com exatidão, alguns fatos e lembranças aparecerem distorcidos nestas páginas. Não é intencional. Garanto que as conversas e eventos foram registrados do modo mais fiel possível, de acordo com as lembranças de Mack. Portanto, por favor, tente não se aborrecer com ele. Como você verá, essas coisas não são fáceis de contar.

- Willie