Livro de Urantia

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Capítulo 4
Ciência Experimental e Religião

Diálogos baseados no
Livro de Urantia

Livro Um
uma apresentação de
religião, filosofia e ciência unificadas
de acordo com a revelação nos
Documentos de Urantia
Escrito a partir de 2012
Ciência Experimental e Religião
    4.1  Vida eterna: a motivação deste diálogo
    4.2  As três etapas da aprendizagem do conhecimento: instrução, lógica e experiência
    4.3  Experiência interior, mente, alma e espírito
        4.3.1  Visão da ciência de Freud, Steiner e Ken Wilber
    4.4  Conciliando a experiência interior e a exterior
    4.5  Desenvolvendo nossa amizade aqui e agora
    4.6  Conflito advindo do crescimento

     Estes são os primeiros de uma série de diálogos imaginários entre pessoas diversas unidas em espírito e que, com fé, buscam a vida eterna pela graça de Deus. Os diálogos objetivam engrandecer a amizade entre os seres humanos e harmonizar filosoficamente os pontos de vista da ciência e da religião. É nossa esperança que cada vez mais, em unidade e harmonia, possamos estar nos dedicando à vida, iluminação e felicidade de nossa família humana, nossa família em urantia (terra) e nossa família universal.

4.1  Vida eterna: a motivação deste diálogo

     Pai: Qual o motivo deste diálogo?

     Filho: Compartilhar contigo o que for possível da verdade espiritual que tenho experimentado no íntimo de minha própria alma nos momentos em que minha mente está tranquila e minha pessoa está carregada de amor, devoção e gratidão ao espírito divino, que vive e cresce em nós na proporção de nossa receptividade.

     Pai: E qual o objetivo desta partilha de suas experiências espirituais?

     Filho: Contribuir para maximização das chances de sobrevivência da nossa pessoalidade humana, através da ressurreição de nossas almas, quando nossos corpos mortais falecerem.

     Pai: Ressurreição da alma, vida eterna! Que bom, ficarei muito feliz se você me convencer que este é nosso destino e que re-encontraremos as pessoas que amamos nos mundos celestiais.

4.2  As três etapas da aprendizagem do conhecimento: instrução, lógica e experiência

     Filho: Eu posso contribuir com o primeiro passo do seu convencimento. Contudo é a sua experiência pessoal com Deus, nosso Pai Espiritual, que irá te convencer da possibilidade real e verdadeira de sobrevivência de nossas pessoas e ressurreição de nossas almas.

     Pai: Experiência! Esta é a base do método científico. O conhecimento é aprendido em três fases: instrução, lógica e experiência. Primeiramente somos instruídos, ouvimos ou lemos a respeito de um conhecimento. Então analisamos a lógica e coerência do que ouvimos. Porém, somente quando experimentamos é que comprovamos a veracidade de um ensinamento ouvido e analisado.

     Contudo, creio que temos que fazer uma distinção da experiência objetiva com os objetos materiais do mundo exterior e a experiência subjetiva com os sujeitos espirituais da realidade interior. Você acha que é razoável discernir entre a ciência dos fatos materiais exteriores e a ciência e consciência das experiências subjetivas interiores?

4.3  Experiência interior, mente, alma e espírito

     Filho: Existem três pensadores importantes que fizeram esta distinção entre a ciência das experiências exteriores e das experiências interiores.

     Pai: Quem são estes pensadores? E qual a relação disto com a sobrevivência da alma e a vida eterna que motivaram este diálogo inicialmente?

     Filho: Os pensadores são Segismund Freud, Rudolf Steiner e Ken Wilber. A relação disto com a sobrevivência da alma, é que a experiência interior motivada pela fé é o "ventre amoroso" que engrandece nossa própria alma imortal. De acordo com o que foi revelado no livro de urantia, a nossa alma é filha do espírito divino e de nossa mente humana:

     "Livro de Urantia", parágrafo 0.5_10:  ...  A alma do homem é uma aquisição experiencial. À medida que uma criatura mortal escolhe "cumprir a vontade do Pai dos céus", assim o espírito que reside no homem torna-se o pai de uma nova realidade na experiência humana. A mente mortal e material é a mãe dessa mesma realidade emergente. A substância dessa nova realidade não é nem material, nem espiritual - é moroncial. Essa é a alma emergente e imortal que está destinada a sobreviver à morte física e iniciar a ascensão ao Paraíso.

     Pai: Meu amigo, quer dizer então que a vida é uma oportunidade!? Em cada momento, podemos estar decidindo, pensando, falando e fazendo o que é da vontade de nosso "eu divino", o "espírito de Deus" em nós. E ao procedermos assim, o que é decidido, pensado, dito e falado será uma criação conjunta da criatura humana e do espírito divino. E esta criação conjunta é exatamente o que tu estais chamando de alma, com a qual nossa pessoa sobreviverá quando nosso corpo falecer. Então a vida é uma oportunidade de engrandecer nossa própria alma moroncial. Se pensarmos, falarmos e fizermos coisas divinas, mais experiências reais serão tecidas na memória eterna de nossa alma imortal e do espírito divino em nós!

     Filho: Sim. Além disso, é a mente que faz a interface entre o espírito e a matéria. A alma nasce entre a mente e o espírito. Os fatores da individualidade unificados pela nossa pessoalidade são: corpo, mente, alma e espírito. Nosso principal objetivo é que todas as pessoas de nossa família sobrevivam. Deus, a Pessoalidade Infinita, é o nosso Pai Espiritual. Sua principal dádiva é o espírito divino e a pessoalidade. Como revelado no:

     "Livro de Urantia", parágrafo 0.5_11:  ...  A pessoalidade do homem mortal não é corpo, nem mente, nem espírito; e também não é a alma. A pessoalidade é a única realidade invariável em meio a uma experiência constantemente mutável da criatura; e ela unifica todos os outros fatores associados da individualidade. A pessoalidade é o único dom que o Pai Universal confere às energias vivas e associadas de matéria, mente e espírito, e que sobrevive junto com a sobrevivência da alma moroncial.

4.3.1  Visão da ciência de Freud, Steiner e Ken Wilber

     Pai: Creio que entendi os objetivos deste diálogo: contribuir para sobrevivência de nossa pessoalidade. Talvez demore um pouco até eu me convencer à buscar, em minha própria mente, um contato com "meu Deus": Deus único em mim. Creio que seria mais simples aprender mais sobre as experiências interiores de acordo com a visão elaborada dos três pensadores que você citou anteriormente: Freud, Steiner e Ken Wilber. Você poderia resumir, e dar referências, a respeito do que estes três pensadores falam sobre a ciência dos fatos não pessoais e sobre a consciência das experiências subjetivas interiores?

     Filho: Sim, vou tentar resumir o pensamento destes três ilustres seres humanos. Existe um livro chamado "Freud e a alma humana". Nele, é explicado que Segismund Freud utilizava duas palavras para ciência: "naturwissenshaft" e "geisteswissenshaft". Poderíamos traduzi-las respectivamente como "ciência da natureza" e "ciência do espírito". Freud dizia que a psicanálise era uma "ciência do espírito", uma "geisteswissenshaft"! É esclarecedor lembrar que a palavra alemã "geist" é algumas vezes traduzida como espírito e outras como mente.

     Rudolf Steiner escreveu uma tese de doutorado intitulada "Truth and Knowledge [Verdade e Conhecimento]" e elaborou uma ciência espiritual. Basicamente ele argumentou que o ser humano tem contato com uma realidade interior e uma realidade exterior. Ele observou que estamos sempre tentando harmonizar estas duas faces da realidade. Steiner afirmou que é o ato de pensar que vai harmonizando nossas experiências interiores e exteriores e frutificando em um conhecimento experimental cada vez maior sobre a realidade total dos sujeitos humanos.

     O filósofo Ken Wilber elaborou uma teoria integral que contêm um quadro conceitual da realidade organizada em quatro quadrantes: interior individual, interior coletivo, exterior individual e exterior coletivo. Ken Wilber afirma que o que normalmente chamamos de ciência natural é uma "ciência superficial" do exterior objetivo dos objetos não pessoais da realidade não-deificada. Definiu também uma "ciência profunda" que inclui o interior subjetivo dos sujeitos pessoais da "realidade deificada"13. Ken Wilber explicita que o que caracteriza a ciência é o método experimental. O conhecimento científico advindo do método experimental pressupõe uma 1 - descrição do experimento, 2 - a realização do experimento e 3 - a comparação dos resultados do experimento realizado com outros pesquisadores.

     Nós podemos utilizar o método da experiência na religião. Através desta prática almejamos alcançar a união da atitude científica e do discernimento religioso, pela intermediação da filosofia experiencial.

     Pai: Entendi, então Freud, Steiner e Ken Wilber falam das experiências interiores dos seres humanos. Concebem a análise da psique, a psicanálise, mencionam a ciência do espírito e da mente, e falam numa ciência profunda que abarca a realidade total, interior e exterior dos sujeitos humanos. Estes são conhecimentos evolucionário concebidos por seres humanos, mas o que você sabe sobre isso de acordo com o conhecimento revelado no livro de urantia?

     Filho: De acordo com a revelação, há um espírito que reside em nossa mente, o Ajustador dos Pensamentos, o Pai de nossas almas:

     "Livro de Urantia", parágrafo 0.5_9:  ...  O espírito divino que reside na mente do humano - o Ajustador do Pensamento. Este espírito imortal é pré-pessoal - não é uma pessoalidade, se bem que esteja destinado a transformar-se em uma parte da pessoalidade da criatura mortal, quando da sua sobrevivência.

4.4  Conciliando a experiência interior e a exterior

     Pai: Do meu ponto de vista as experiências interiores são muito subjetivas e pessoais para chamarmos de ciência. O que você acha?

     Filho: Você tem razão, normalmente podemos falar de uma ciência dos fatos materiais, uma filosofia dos significados intelectuais e uma religião dos valores espirituais. E quiçá possamos falar de uma busca da verdade baseada na experiência. Eu pessoalmente vivencio a possibilidade da experiência de comunhão com a Verdade do Ser que nos criou. Contudo esta experiência humana, com a Pessoalidade Suprema, Última, Absoluta e Infinita de Deus, será sempre pessoal. É também importante lembrar com humildade, que a Verdade Infinita do Criador não cabe na mente finita da criatura, muito menos nas palavras de nossa linguagem humana limitada. Assim a experiência e a consciência de Deus é em grande parte inexplicável embora seja o fato mais real que um ser humano possa experimentar. Como revelado no coerente:

     "Livro de Urantia", parágrafo 103.7_14: Há uma prova factual da realidade espiritual, na presença do Ajustador do Pensamento, mas a validade dessa presença não é demonstrável para o mundo externo, apenas o é para aquele que tem essa experiência da presença da residência de Deus. A consciência da presença do Ajustador é baseada na recepção intelectual da verdade, na percepção supramental da bondade e na motivação da pessoalidade para amar.

     Pai: Talvez então o que unifique a ciência e a religião seja a busca da Verdade baseada nas experiências exteriores e interiores, impessoais e pessoais, materiais e espirituais.

     Filho: Eu concordo. Tanto o cientista quanto o religioso buscam a verdade. É importante discernir os fatores de individualidade unificados pela nossa pessoalidade: corpo, mente, espírito e alma. Alguns filósofos falam do olho da carne, o olho da mente e o olho do espírito. É preciso entender a busca da verdade na ciência, na filosofia e na religião. É preciso discernir os conhecimentos científicos dos fatos materiais, os significados mentais da filosofia e os valores espirituais da religião. Matéria, mente e espírito são níveis diferentes da realidade. Contudo podemos experimentar e aprender em todos estes níveis.

     Pai: Puxa, muito grato por esta visão unificadora da realidade. Eu sempre admirei a ciência e a busca da verdade. Mas a ciência sempre me pareceu fria e impessoal. Embora não entenda ainda plenamente o que queres dizer, tenho o "feeling" em suas palavras de um conhecimento, uma sabedoria capaz de unificar nossa experiência humana pessoal com o conhecimento científico sobre as coisas. Grato.

     Filho: Agradeça à revelação do livro de urantia. Veja que texto incrível sobre a coordenação filosófica entre ciência e religião:

     "Livro de Urantia", parágrafos 103.6_2-6: Quando o homem aborda o estudo e o exame do seu universo, pelo lado de fora, ele traz à existência as várias ciências físicas; quando ele aborda a pesquisa dele próprio e do universo, do seu interior, ele dá origem à teologia e à metafísica. A arte mais recente da filosofia desdobra-se em um esforço de harmonizar as muitas discrepâncias que estão destinadas a aparecer, a princípio, entre as descobertas e os ensinamentos dessas duas vias diametralmente opostas de abordagem das coisas e seres do universo.

     A religião tem a ver com o ponto de vista espiritual, a consciência do lado interno da experiência humana. A natureza espiritual do homem proporciona-lhe a oportunidade de virar o universo de fora para dentro. E, consequentemente, é verdade que, vista exclusivamente do lado interno da experiência da pessoalidade, toda a criação parece ser espiritual na sua natureza.

     Quando o homem inspeciona analiticamente o universo, por meio dos dons materiais dos seus sentidos físicos e da percepção mental a eles associada, o cosmo parece ser mecânico e composto de energias materiais. Tal técnica de estudar a realidade consiste em virar o universo de dentro para fora.

     Um conceito filosoficamente lógico e consistente do universo não pode ser elaborado sobre os postulados, quer sejam do materialismo quer sejam do espiritualismo; pois esses dois sistemas de pensamento, quando aplicados universalmente, são ambos compelidos a ver o cosmo com distorção; o primeiro, contatando um universo virado de dentro para fora, e o último, compreendendo a natureza de um universo virado de fora para dentro. Nunca, então, nem a ciência nem a religião, em si e por si próprias, permanecendo sozinhas, podem esperar conquistar uma compreensão adequada das verdades universais e das relações, sem a orientação da filosofia humana e sem a iluminação da revelação divina.

     O espírito interior do homem dependerá sempre, para a sua expressão e auto-realização, do mecanismo e da técnica da mente. Do mesmo modo, a experiência externa do homem com a realidade material, deve basear-se na consciência mental da pessoalidade que está experimentando. Portanto, as experiências humanas, a espiritual e a material, a interior e a exterior, estão sempre correlacionadas com a função da mente, e condicionadas, quanto à sua realização consciente, pela atividade da mente. O homem experimenta a matéria na sua mente; ele experiencia a realidade espiritual na alma, mas torna-se consciente dessa experiência na sua mente. O intelecto é o harmonizador, é o condicionador e o qualificador, sempre presentes, da soma total da experiência mortal. Ambos, as coisas da energia e os valores do espírito, quando passam ao âmbito da consciência mental, por meio da interpretação, são coloridos por esta.

4.5  Desenvolvendo nossa amizade aqui e agora

     Pai: Me perdoe, parceiro de diálogo, é muita informação. Estou mais preocupado com os problemas práticos da vida. Realmente eu ficarei feliz se a vida for eterna, se uma parte nossa ressuscitar e nossa pessoalidade sobreviver. Contudo, creio que devo cuidar de resolver os problemas práticos aqui e agora.

     Filho: Está escrito na revelação que: a maneira mais rápida de um girino tornar-se uma rã é vivendo lealmente cada momento como um girino. Por isso, acredito na praticidade e na nossa sabedoria de olhar nossa vida como um todo e agir de acordo com as prioridades. Lembremos que o ser humano primeiro vive e depois pensa sobre o seu viver. Veja este texto com a intenção de melhorar nosso diálogo, continuar uma nova etapa de nossa amizade, e engrandecer nosso respeito, compreensão e amor mútuo. Eu sei que tu gostas da ciência e da busca da verdade, tu sabes como eu me importo com as pessoas e a vida eterna de todos de nossa família. É fácil perceber que estamos tentando unificar e fortificar nossas visões complementares da realidade.

     Para engrandecer nosso amor, enfatizo que as coisas humanas devem ser conhecidas, para serem amadas, mas as coisas divinas devem ser amadas, para que sejam conhecidas. Ao longo de sua vida ponderada e de bom senso, tu desenvolvestes a capacidade de ouvir, compreender e amar as pessoas humanas, eu, diante de muito sofrimento me voltei para meu próprio interior buscando amar e conhecer cada vez mais nosso Criador Espiritual. Por isso, acredito que desenvolvemos visões complementares da realidade. Os opostos se atraem porque unidos formam um todo mais completo e íntegro. Mas é preciso um mínimo de disposição para o diálogo.

     Pai: Amor, conhecimento mútuo e diálogo. Afinidade, realidade e comunicação. Precisamos deste trinômio para melhorar nossa relação de amizade. Realmente creio que ainda não nos compreendemos como deveríamos. Eu acredito que este texto pode ser o início do re-estabelecimento de nosso diálogo.

     Filho: Sim eu também tenho esta esperança. Gostaria de adicionar à nossa vivência que até mesmo os conflitos podem gerar crescimento e amadurecimento.

4.6  Conflito advindo do crescimento

     Pai: Tudo bem, lembremos que Rudolf Steiner enfatizou o importância do pensar para harmonizar a percepção interior e exterior da realidade total. Precisamos de um tempo para pensar estas coisas e harmonizar nossos pontos de vista complementares. Vamos "digerir" este diálogo e nosso esforço reconciliador será recompensado.

     Filho: Gostaria de fazer uma última citação antes de concluir este capítulo do diálogo. Esta citação explica que as perplexidades religiosas são inevitáveis, e que não pode haver nenhum crescimento sem conflito psíquico e sem agitação espiritual. E para estimular nosso diálogo enfatizo também que uma vez que tenhamos compreendido um ao outro, nos tornaremos tolerantes, e tal tolerância amadurecerá a amizade transformando-a em amor.

     A próxima citação é de um documento muito significativo do "Livro de Urantia". Trata-se do documento 100, intitulado "A Religião na Experiência Humana". Nesta citação se fala como o amor genuíno pode se disseminar na humanidade ao ponto de realizarmos a irmandade dos seres humanos.

     Pai: Qual é a citação conclusiva desta etapa do nosso diálogo?

     Filho: Leia com atenção!

"Livro de Urantia", Item 100.4:
Os Problemas do Crescimento

     O viver na religiosidade é o viver devotado, e o viver devotado é o viver criativo, original e espontâneo. Novas percepções religiosas surgem de conflitos que dão início à escolha de novos e melhores hábitos de reação, no lugar de formas antigas e inferiores de reação. Novos significados emergem apenas em meio a conflitos; e o conflito persiste apenas em face da recusa de esposar os valores mais elevados, portadores dos significados superiores.

     As perplexidades religiosas são inevitáveis; não pode haver nenhum crescimento sem conflito psíquico e sem agitação espiritual. A organização de um modelo filosófico de vida requer uma perturbação considerável nos domínios filosóficos da mente. A lealdade não é exercida em nome daquilo que é grande, bom, verdadeiro e nobre, sem uma batalha. O esforço é seguido do esclarecimento da visão espiritual e da ampliação do discernimento de visão cósmica. E o intelecto humano reluta contra ser desmamado da alimentação das energias não espirituais da existência temporal. A mente animal indolente rebela-se contra exercer o esforço exigido pela luta na solução dos problemas cósmicos.

     Entretanto, o grande problema do viver religioso consiste na tarefa de unificar os poderes da alma da pessoa, por meio da predominância do AMOR. A saúde, a eficiência mental e a felicidade surgem da unificação dos sistemas físicos, mentais e espirituais. De saúde e sanidade o homem entende bastante, mas de felicidade ele só entendeu de fato pouquíssimo. A felicidade mais elevada está indissoluvelmente ligada ao progresso espiritual. O crescimento espiritual gera um júbilo duradouro, uma paz que ultrapassa qualquer entendimento.

     Na vida física, os sentidos dizem sobre a existência das coisas; a mente descobre a realidade das significações; mas a experiência espiritual revela ao indivíduo os verdadeiros valores da vida. Esses altos níveis de vida humana são alcançados no supremo amor a Deus e no amor não-egoísta pelo homem. Se amais o vosso semelhante, deveis ter descoberto os seus valores. Jesus amou tanto os homens porque atribuía a eles um valor muito elevado. Vós podeis melhor descobrir os valores dos vossos companheiros, descobrindo a sua motivação. Se alguém vos irrita, causando a sensação do ressentimento, deveríeis buscar discernir compassivamente o seu ponto de vista e as suas razões para uma conduta de tal modo censurável. Uma vez que tenhais compreendido o vosso semelhante, vos tornareis tolerantes; e tal tolerância amadurecerá a amizade transformando-a em amor.

     Com os olhos da vossa mente, trazei à vossa lembrança o quadro de um dos vossos ancestrais primitivos dos tempos das cavernas - um pequeno rosnador, disforme e sujo; um homem pesado, de pernas arqueadas, de porrete levantado, respirando ódio e animosidade, enquanto olha ferozmente para frente. Esse quadro dificilmente retrata a dignidade divina do homem. Contudo, ele nos permite ampliar o retrato. Em frente a esse ser humano, animado, um tigre dente-de-sabre encontra-se em posição de ataque. Atrás dele, uma mulher e duas crianças. Imediatamente, vós reconhecereis que esse quadro representa o começo de muito daquilo que é bom e nobre na raça humana, mas o homem é o mesmo nos dois quadros. Apenas, no segundo arranjo, fostes favorecidos com um horizonte amplo. E, nele, podeis discernir a motivação desse mortal em evolução. A sua atitude torna-se louvável, porque o compreendeis. Se apenas pudésseis penetrar os motivos dos vossos semelhantes, quão melhor os entenderíeis! Se vós pudésseis apenas conhecer os vossos semelhantes, iríeis finalmente encher-vos de amor por eles.

     De fato, não podeis amar os vossos semelhantes por um mero ato de vontade. O amor nasce apenas de uma compreensão enérgica dos motivos e sentimentos do vosso próximo. Não é tão importante amar a todos os homens hoje quanto é importante que aprendais, a cada dia, a amar um ser humano a mais. Se a cada dia ou a cada semana alcançardes a compreensão de mais um dos vossos irmãos, e se for esse o limite da vossa capacidade, então certamente estareis socializando e verdadeiramente espiritualizando a vossa pessoalidade. O amor é contagiante e, quando a devoção humana é inteligente e sábia, o amor é mais cativante que o ódio. Todavia, apenas o amor genuíno e não-egoísta é verdadeiramente contagioso. Se cada mortal pudesse apenas tornar-se o foco de uma afeição dinâmica, tal vírus benigno do amor penetraria logo a corrente da emoção sentimental da humanidade, numa extensão tal que toda a civilização seria abraçada pelo amor, e isso seria a realização da irmandade dos homens.


Notas de Rodapé:

13 O livro de urantia discerne três fases primordiais da realidade do universo: 1 - Realidade não-deificada; 2 - Realidade deificada; 3 - Realidade interassociada. A realidade deificada abrange todos os potenciais infinitos da Deidade, indo de baixo para cima, por todos os domínios da pessoalidade, do finito menos elevado ao mais alto infinito, abrangendo, assim, o domínio de tudo o que é pessoalizável, e mais, indo até mesmo à presença do Absoluto da Deidade.