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Capítulo 3
O Objetivo do Ser Humano


Dianética:
A Ciência da Saúde Mental

Livro Um
O Objetivo do Ser Humano

L. Ron Hubbard
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O Objetivo do Ser Humano

     O objetivo do ser humano, o mínimo denominador comum de todas as suas atividades, o Princípio Dinâmico da sua Existência, tem sido procurado durante muito tempo. Se essa resposta fosse descoberta, seria inevitável que dela fluíssem muitas outras respostas. Ela explicaria todos os fenômenos do comportamento, levaria à solução dos maiores problemas humanos e, acima de tudo, deveria ser funcional.

     Considere todo o conhecimento como estando abaixo ou acima de uma linha de demarcação. Tudo o que está acima dessa linha é desnecessário para a solução das aberrações humanas e dos seus defeitos gerais e não é conhecido com precisão. Pode-se considerar que esse campo de pensamento abrange coisas como a metafísica e o misticismo. Pode-se considerar que, abaixo dessa linha de demarcação, está o universo finito. Todas as coisas do universo finito, sejam elas conhecidas ou ainda desconhecidas, podem ser sentidas, experimentadas ou medidas. Os dados conhecidos no universo finito podem ser classificados como verdade científica, depois de terem sido sentidos, experimentados e medidos. Todos os fatores necessários à resolução de uma ciência da mente foram encontrados dentro do universo finito e foram descobertos, sentidos, medidos e experimentados, e tornaram-se verdade científica. O universo finito contêm Tempo, Espaço, Energia e Vida. Descobriu-se que não eram necessários outros fatores à equação.

     O Tempo, o Espaço, a Energia e a Vida têm um único denominador em comum. Como analogia, poder-se-ia considerar que o Tempo, o Espaço, a Energia e a Vida tiveram início em algum ponto de origem e foram mandados continuar na direção de algum destino quase infinito. Só lhes foi dito o que fazer. Eles obedecem a uma única ordem e essa ordem é: "SOBREVIVER!"

O princípio dinâmico da existência é a SOBREVIVÊNCIA.

     Pode-se considerar que o objetivo da vida é a sobrevivência infinita. Pode-se demonstrar que o ser humano, como uma forma de vida, obedece em todas as suas ações e propósitos a um só comando: SOBREVIVER!

     Não é novidade que o ser humano está a sobreviver. Que ele seja motivado apenas pela sobrevivência é uma idéia nova.

     Que o seu único objetivo seja a sobrevivência não significa que ele seja o mecanismo de sobrevivência ótimo que a vida alcançou ou desenvolverá. O objetivo do dinossauro também era a sobrevivência e ele já não existe.

     A obediência a este comando: SOBREVIVER! não significa que toda a tentativa para lhe obedecer seja uniformemente bem-sucedida. Mudanças de ambiente, mutações e muitas outras coisas militam contra qualquer organismo que tente alcançar técnicas ou formas infalíveis de sobrevivência.

     As formas de vida mudam e morrem, à medida que novas formas de vida se desenvolvem, tão seguramente como um organismo vivo, carecendo de imortalidade em si próprio, cria outros organismos vivos e, em seguida, morre como ele próprio. Um método excelente, se alguém quisesse fazer com que a vida sobrevivesse durante um período muito longo, seria estabelecer meios pelos quais ela pudesse assumir muitas formas. E a própria morte seria necessária para facilitar a sobrevivência da própria força vital, uma vez que só a morte e a decadência poderiam eliminar as formas velhas quando novas alterações no ambiente exigissem formas novas. A vida como uma força existindo durante um período quase infinito, necessitaria de um aspecto cíclico nas suas formas e organismos unitários.

     Quais seriam as características de sobrevivência ótimas das várias formas de vida? Elas precisariam de ter várias características fundamentais, diferindo de uma espécie para outra, tal como um ambiente difere de outro.

     Isto é importante, pois outrora deu-se muito pouca atenção ao fato de que um conjunto de características de sobrevivência em uma espécie não seria as características de sobrevivência em outra espécie.

     Os métodos de sobrevivência podem ser resumidos sob os títulos de alimentação, proteção (defensiva e ofensiva) e procriação. Não existem formas de vida que careçam de soluções para estes problemas. Cada forma de vida erra, de um modo ou de outro, ao manter uma característica durante demasiado tempo ou ao desenvolver características que poderão levar à sua extinção. Mas os desenvolvimentos que resultam no êxito da forma são muito mais impressionantes do que os seus erros. O naturalista e o biólogo estão constantemente a explicar as características desta ou daquela forma de vida ao descobrirem que é a necessidade, mais do que o capricho, que governa esses desenvolvimentos. As dobradiças na concha da amêijoa e a admirável cara nas asas da borboleta têm um valor de sobrevivência.

     Assim que a sobrevivência foi isolada como sendo a única dinâmica2 de uma forma de vida que explicaria todas as suas atividades, foi necessário estudar ainda mais a ação da sobrevivência. E descobriu-se que, quando se considerava a dor e o prazer, tinha-se à mão todos os ingredientes necessários para formular a ação que a vida empreende no seu esforço para sobreviver.

     Como veremos no gráfico à seguir, concebeu-se um espectro de vida para abranger desde o zero da morte ou da extinção até ao infinito de imortalidade potencial. Considerou-se que este espectro contêm uma infinidade de linhas, estendendo-se como uma escada em direção ao potencial de imortalidade. Cada linha, à medida que a escada subia, foi espaçada com uma largura um pouco maior do que a anterior, em uma progressão geométrica.

     O impulso da sobrevivência é para longe da morte e em direção à imortalidade. A dor suprema poderia ser concebida como existindo imediatamente antes da morte e o prazer supremo poderia ser concebido como imortalidade.

     Poder-se-ia dizer que a imortalidade tem um tipo de força atrativa, e que a morte tem uma força repulsiva, na consideração do organismo unitário ou da espécie. Mas a medida que a sobrevivência sobe cada vez mais em direção à imortalidade, encontram-se espaços cada vez mais amplos até que os intervalos são finitamente impossíveis de transpor. O impulso é para se afastar da morte, que tem uma força repulsiva e para ir em direção a imortalidade, que tem uma força atrativa; a força atrativa é o prazer, a força repulsiva é a dor.

     Para o indivíduo, o comprimento da seta poderia ser considerado como estando em um potencial elevado dentro da quarta zona. Aqui, o potencial de sobrevivência seria excelente e o indivíduo desfrutaria da existência.

     Os anos poderiam ser traçados da esquerda para a direita.

     O impulso para o prazer é dinâmico. A recompensa é o prazer; e a busca da recompensa - objetivos de sobrevivência - seria um ato de prazer. E para assegurar que a sobrevivência é alcançada pela ordem SOBREVIVER!, parece que se estipulou que o decréscimo de um potencial elevado traria dor.

     A dor é proporcionada para repelir o indivíduo da morte; o prazer é proporcionado para o atrair para a vida ótima. A busca e obtenção do prazer não são menos validas na sobrevivência do que o evitar da dor. Na verdade, segundo algumas provas observadas, o prazer parece ter um valor muito maior no esquema cósmico do que a dor.

Imortalidade Potencial - Prazer Supremo
Figura 3.1: Gráfico Descritivo da Sobrevivência

     Linhas numa progressão geométrica de espaços, sendo as larguras interiores tanto a quantidade de prazer possível como a sobrevivência prevista para o organismo. Mostra graus de sobrevivência cada vez maiores à medida que se aproxima da imortalidade.

     O Supressor de Sobrevivência são todas as coisas contrárias a vida e a sobrevivência.

     A Dinâmica de Sobrevivência como um nível de ser físico ou mental. Todo o impulso vai na direção ascendente como uma repulsão da dor e uma atração para o prazer.

     Seria bom definir-se o que se quer dizer com prazer completamente à parte da sua ligação com a imortalidade. O dicionário diz que o prazer é "agrado; emoções mentais ou físicas agradáveis; satisfação transitória; oposto de dor". O prazer pode ser encontrado em tantas coisas e atividades, que só um catálogo de todas as coisas e atividades que o ser humano tem, faz ou poderá considerar agradáveis, poderia completar a definição.

     E o que queremos dizer com dor? O dicionário diz: "sofrimento mental ou físico; punição".

     Estas duas definições, por acaso, são demonstrativas de um tipo de pensamento intuitivo que permeia a linguagem. Assim que se tem uma coisa que leva a resolução de problemas que até então não estavam resolvidos, vê-se que até mesmo os dicionários "sempre o souberam".

     Se desejássemos fazer este gráfico para um ciclo de uma forma de vida, este seria idêntico, exceto que o valor dos anos seria ampliado para medir éones, pois, ao que parece, não há qualquer diferença, exceto em magnitude, no âmbito do indivíduo e no âmbito da espécie. É possível chegar a essa conclusão mesmo sem evidências tão extraordinárias como o fato de um ser humano, desenvolvendo-se de zigoto até adulto, evoluir através de todas as formas pelas quais se supõe que a espécie inteira evoluiu.

     Contudo, neste gráfico há mais do que aquilo que foi comentado até agora. O estado físico e mental do indivíduo varia de hora para hora, de dia para dia, de ano para ano. Sendo assim, o nível de sobrevivência formaria uma curva diária ou a curva de uma vida, com medidas da posição horária ou anual nas zonas. E isto possibilitaria fazer duas curvas: a curva física e a curva mental. Quando chegarmos ao fim deste livro, veremos que as relações entre estas duas curvas são vitais e também veremos que, geralmente, uma decaída na curva mental precederá uma decaída na curva física.

     As zonas podem, então, ser aplicadas a duas coisas: o ser físico e o ser mental. Sendo assim, essas quatro zonas podem ser chamadas zonas dos estados de ser. Se uma pessoa é mentalmente feliz, o nível de sobrevivência pode ser colocado na Zona 4. Se a pessoa está muito doente fisicamente, ela poderá, com base na estimativa da sua doença, ser situada na Zona 1 ou próximo da morte.

     Foram atribuídas designações muito imprecisas, porém descritivas, a essas zonas:

     A Zona 3 é de felicidade e bem-estar geral.

     A Zona 2 é um nível de existência tolerável.

     A Zona 1 é de ira.

     A Zona 0 é a zona de apatia.

     Estas zonas podem ser usadas como uma Escala de Tom pela qual é possível classificar o estado mental. Logo acima da morte, que é 0, estaria a apatia mental mais baixa ou o nível mais baixo de vida física, 0,1. Um Tom 1, em que o corpo está a lutar contra a dor ou doença física ou em que o ser está a lutar em ira, poderia ser classificado a partir de 1,0, que seria ressentimento ou hostilidade, passando pelo Tom 1,5, que seria uma ira furiosa, até 1,9, que seria simplesmente uma inclinação conflituosa. Do Tom 2,0 até 3,0, haveria um interesse crescente pela existência e assim por diante.

     Acontece que o estado do ser físico ou do ser mental não permanece estático durante muito tempo. Por conseguinte, há várias flutuações. No decurso de um só dia, um aberrado poderá passar de 0,5 a 3,5, para cima e para baixo, como ser mental. Um acidente ou doença poderia causar uma flutuação semelhante em um dia.

     Estes números podem, então, ser atribuídos a quatro coisas: o estado mental numa base aguda e o estado mental numa base geral ou média, o ser físico numa base aguda e o ser físico numa base geral. Em Dianética, não empregamos muito a Escala de Tom física. No entanto, a Escala de Tom mental é de uma importância vasta e vital!

     Estes valores de felicidade, existência tolerável, ira e apatia não são valores arbitrários. São deduzidos da observação do comportamento de estados emocionais. Em um dia médio, normalmente encontra-se um Clear a variar, mais ou menos, à volta do Tom 4. Ele é um Tom 4 geral, que é uma das condições inerentes a ser Clear. A norma na sociedade atual, em um palpite feito à sorte, está provavelmente por volta de um Tom geral de 2,8.

     Neste gráfico descritivo, que é bidimensional, os dados vitais para a solução do problema da dinâmica da vida estão combinados de modo funcional. As linhas horizontais estão traçadas em termos de progressão geométrica, começando com a linha zero, imediatamente acima da morte. Há dez linhas para cada zona e cada zona denota um estado de ser físico ou mental, como já foi mencionado. A progressão geométrica, usada desta forma, deixa espaços cada vez maiores entre as linhas. A largura deste espaço é o potencial de sobrevivência existente no momento em que a ponta superior da seta da dinâmica de sobrevivência está dentro desse espaço. Quanto mais longe da morte estiver a ponta superior da seta da dinâmica de sobrevivência, mais possibilidade o indivíduo tem de sobrevivência. A progressão geométrica estende-se para cima até ao impossível do infinito e não pode, naturalmente, alcançá-lo. O organismo está a sobreviver através do tempo, da esquerda para a direita. A sobrevivência ótima - a imortalidade - encontra-se em termos de tempo para a direita. Só o potencial é medido verticalmente.

     A dinâmica de sobrevivência reside de fato dentro do organismo, tal como foi herdada da espécie. O organismo faz parte da espécie, tal como se pode dizer que uma travessa faz parte de um caminho-de-ferro quando vista por um observador que vai no comboio, estando o observador sempre no "agora" - embora esta analogia talvez não seja a melhor.

     O organismo possui, dentro de si, uma força repulsiva em relação às fontes de dor. A fonte de dor, tal como o espinheiro que fere a mão, não é uma força impulsionadora, pois o organismo repele o potencial de dor de um espinho.

     Ao mesmo tempo, o organismo tem em ação uma força que o atrai para as fontes de prazer. Não é o prazer que magnetiza o organismo para fazê-lo aproximar-se. É o organismo que possui a força de atração. Esta é-lhe inerente.

     A repulsão de fontes de dor une-se a atração pelas fontes de prazer para operar como um impulso combinado para longe da morte e em direção à imortalidade. O impulso para longe da morte não é mais poderoso do que o impulso em direção à imortalidade. Por outras palavras, em termos da dinâmica de sobrevivência, o prazer é tão válido como a dor.

     Não se deve deduzir daqui que a sobrevivência é sempre uma questão de estar de olho no futuro. A contemplação do prazer, a pura satisfação, a contemplação de prazeres passados, todas estas coisas se combinam em harmonias que, embora funcionem automaticamente como uma subida em direção ao potencial de sobrevivência pela sua ação física dentro do organismo, estas não exigem o futuro como uma parte ativa da computação mental nessa contemplação.

     Um prazer que reage para ferir o corpo fisicamente, como no caso de deboche, mostra que há uma relação entre o efeito físico (que é deprimido em direção à dor) e o efeito mental do prazer experimentado. Há um enfraquecimento consequente da dinâmica de sobrevivência. Normalmente, a possibilidade de tensão futura devida ao ato, acrescentada ao estado de ser no momento em que o deboche foi experimentado, também deprime a dinâmica de sobrevivência. Devido a isto, vários tipos de deboche têm sido mal vistos pelo humano ao longo da sua história. Esta é a equação dos "prazeres imorais". E qualquer ação que tenha provocado a supressão da sobrevivência ou que possa provocá-la, quando exercida como prazer, tem sido condenada em diferentes épocas da história humana. Originalmente põe-se o rótulo de imoralidade a algum ato ou classe de ações porque elas deprimem o nível da dinâmica de sobrevivência. A imposição futura de estigmas morais poderá depender em grande parte do preconceito e da aberração, havendo, consequentemente, uma querela contínua sobre o que é moral e o que é imoral.

     Porque certas coisas praticadas como prazer são, na realidade, dores - e será muito fácil descobrir porquê quando tiver acabado de ler este livro - e por causa da equação moral acima, o prazer em si, em qualquer sociedade aberrada, pode vir a ser condenado. Uma certa maneira de pensar, sobre a qual daremos mais detalhes posteriormente, permite uma péssima diferenciação entre um objeto e outro. Um exemplo disso seria confundir-se um político desonesto com todos os políticos. Nos tempos antigos, o Romano apreciava os seus prazeres e algumas das coisas a que ele chamava prazer eram um pouco extenuantes para outras espécies, como os Cristãos. Quando o Cristianismo derrubou o Estado pagão, a antiga ordem de Roma passou a ter um papel de vilão. Por isso, qualquer coisa que fosse romana era detestável. Isto atingiu tamanha proporção, que o prazer do Romano pelo banho tornou o banho tão imoral que a Europa ficou sem tomar banho durante quase mil e quinhentos anos. O Romano transformara-se numa fonte de dor tão geral que tudo o que era romano era mau, e assim permaneceu muito depois de o paganismo romano ter perecido. Deste modo, a imoralidade tende a tornar-se em um assunto complexo. Neste caso, esta tornou-se tão complexa que estigmatizou o próprio prazer.

     Quando metade do potencial de sobrevivência é riscada da lista das coisas legais, há realmente uma redução considerável na sobrevivência. Considerando este gráfico numa escala racial, a redução do potencial de sobrevivência para metade faz prever que coisas medonhas aguardam a raça. Na realidade, porque o ser humano é, afinal de contas, o ser humano, nenhum conjunto de leis, por mais que seja imposto, pode apagar completamente a atração do prazer. Mas neste caso, foi removido e proibido o suficiente para ocasionar precisamente o que aconteceu: a Idade das Trevas e a recessão da sociedade. A sociedade só se reavivou nos períodos em que o prazer se tornou menos ilegal, como na Renascença.

     Quando uma raça ou indivíduo desce para a segunda zona como está marcado no gráfico, e o tom geral vai da primeira zona e mal chega a terceira, segue-se uma condição de insanidade. Insanidade é irracionalidade. É também um estado em que se chegou tão próximo da não-sobrevivência, tão continuamente, que a raça ou o organismo se entrega a todo o tipo de soluções vulgares.

     Numa interpretação adicional desse gráfico descritivo, existe a questão do supressor de sobrevivência. Este, como veremos, empurra a raça ou organismo, representado como a dinâmica de sobrevivência, para baixo, forçando-o a afastar-se da imortalidade potencial. O supressor de sobrevivência é uma combinação de ameaças variáveis à sobrevivência da raça ou organismo. Essas ameaças vêm de outras espécies, do tempo e de outras energias. Estas também estão empenhadas na luta da sobrevivência para a imortalidade potencial em termos das suas próprias espécies ou identidades. Sendo assim, isto envolve um conflito. Todas as outras formas de vida ou energia poderiam ser representadas em um gráfico descritivo como a dinâmica de sobrevivência. Se usássemos a dinâmica de sobrevivência de um pato em um gráfico descritivo, veríamos o pato a procurar um nível de sobrevivência elevado e o ser humano seria uma parte do supressor do pato.

     O equilíbrio e a natureza das coisas não permitem que se alcance o infinito do objetivo de imortalidade. Em um equilíbrio flutuante e numa complexidade quase ilimitada, a vida e as energias fluem e refluem, saindo do nebuloso para as formas e, através da decadência, novamente para o nebuloso3. Seria possível retirar muitas equações disto, mas isso está fora da esfera do nosso interesse atual.

     Em termos das zonas do gráfico descritivo, é de importância relativa saber qual é a extensão da força do supressor contra a dinâmica de sobrevivência. A dinâmica é inerente aos indivíduos, grupos e raças, que evoluíram através de éones para resistir ao supressor. No caso humano, ele traz consigo outro nível de técnicas ofensivas e defensivas: as suas culturas. A sua tecnologia primária de sobrevivência é a atividade mental que governa a ação física no escalão senciente. Mas cada forma de vida tem a sua própria tecnologia, formada para solucionar os problemas de alimentação, proteção e procriação. O grau de funcionalidade da tecnologia desenvolvida por qualquer forma de vida (carapaça ou cérebros, rapidez de locomoção ou modo de se disfarçar) é um índice direto do potencial de sobrevivência, a imortalidade relativa, dessa forma de vida. Houve grandes perturbações no passado: o ser humano, quando se transformou no animal mais perigoso do mundo (ele pode matar e mata ou escraviza qualquer forma de vida, não é?), sobrecarregou o supressor em muitas outras formas de vida e estas diminuíram em número ou desapareceram.

     Uma grande alteração climatérica, igual à que prendeu tantos mamutes no gelo siberiano, poderá sobrecarregar o supressor numa forma de vida. Em tempos não muito distantes, uma longa seca no sudoeste dos Estados Unidos eliminou a maior parte de uma civilização dos índios.

     Um cataclismo, como uma explosão do centro da Terra, se tal fosse possível, ou a bomba atômica ou a cessação súbita da combustão no sol, eliminaria todas as formas de vida que existem na Terra.

     E uma forma de vida pode até sobrecarregar o seu próprio supressor. Um dinossauro destrói todo o seu alimento e assim destrói o dinossauro. O bacilo da peste bubônica ataca tão violentamente as suas vítimas e com tal apetite, que toda uma geração de Pasteurella pestis desaparece. O suicida não pretende que estas coisas sejam suicidas: a forma de vida deparou-se com uma equação que possui uma variável desconhecida e esta, infelizmente, continha valor suficiente para sobrecarregar o supressor. Esta é a equação de "eu não sabia que a arma estava carregada". E se o bacilo da peste bubônica sobrecarrega o seu próprio supressor numa área e depois deixa de incomodar o seu alimento e abrigo (os animais), então os animais consideram-se beneficiados.

     Temerário, esperto e quase indestrutível, o ser humano seguiu um caminho que está longe de ser "unhas e dentes" em todas as esferas. E o mesmo fizeram a sequóia e o tubarão. Simplesmente como forma de vida, o ser humano, como todas as formas de vida, é "simbiótico". A vida é um esforço de grupo. Os líquenes, plâncton e algas poderão satisfazer-se apenas com a luz solar e minerais, mas eles são os elementos construtivos. Acima dessa existência, à medida que as formas se tornam mais complexas, existe uma tremenda interdependência.

     Talvez, alguém argumente que certas árvores matam voluntariamente todas as outras espécies de árvores à volta delas e depois deduza que as árvores têm uma "atitude" especiosa. Ele que olhe novamente. O que é que fez o solo? O que é que fornece os meios para manter o equilíbrio do oxigênio? O que é que torna possível a queda de chuva em outras áreas? E os esquilos plantam árvores. E o ser humano planta árvores. As árvores abrigam árvores de outros tipos. E os animais fertilizam as árvores. E as árvores abrigam os animais. E as árvores prendem o solo de modo que plantas menos enraizadas possam crescer. Observe em qualquer lugar e em todo o lugar, e verá a vida a ajudar a vida. A multiplicidade de complexidades da vida, como afinidades pela vida, não é dramática. Mas elas são a razão constante, prática e importante pela qual a vida pode sequer continuar a existir.

     Uma sequóia poderá estar a favor das sequóias como prioridade e embora faça um excelente trabalho de parecer existir apenas como sequóia, um exame mais minucioso mostrará que ela depende de outras coisas e que outras coisas dependem dela.

     Assim sendo, pode ver-se que a dinâmica de qualquer forma de vida é auxiliada por muitas outras dinâmicas e que se combina com elas contra os fatores supressivos. Nenhuma sobrevive sozinha.

     Tem-se afirmado que a necessidade é uma coisa muito maravilhosa. Mas a necessidade é uma palavra que muito descuidadamente se tem tomado como certa. Parece que a necessidade tem sido muitas vezes interpretada como oportunismo. O que é a necessidade? Além de ser a "mãe da invenção", será também uma coisa dramática e súbita que instiga guerras e assassínios, que apenas toca em um humano quando ele está prestes a morrer de fome? Ou será que a necessidade é uma quantidade mais suave e menos dramática? Segundo Leucipo: "Tudo é impulsionado pela necessidade". Esta é a tônica de muita teorização através dos tempos. Impulsionado, essa é a chave do erro. Impulsionado, as coisas são impulsionadas. A necessidade impulsiona. A dor impulsiona. A necessidade e a dor, a dor e a necessidade.

     Recordando o dramático e ignorando o importante, o ser humano tem-se imaginado, de tempos a tempos, como sendo o objeto de perseguição da necessidade e da dor. Estas eram as duas coisas antropomórficas (semelhantes ao humano) que, completamente armadas, atiravam as suas lanças sobre ele. Pode-se dizer que este conceito está errado, simplesmente porque não funciona para produzir mais respostas.

     Toda e qualquer necessidade está dentro dele. Nada o está a impulsionar, exceto o seu ímpeto original para sobreviver. E ele transporta este dentro de si próprio ou do seu grupo. Dentro dele está a força com que se defende da dor. Dentro dele está a força com que atrai o prazer.

     Acontece ser um fato científico que o ser humano é um organismo autodeterminado dentro dos limites máximos em que qualquer forma de vida o pode ser, pois ele ainda depende de outras formas de vida e do seu ambiente geral. Mas ele é autodeterminado. Este é um assunto que será abordado mais adiante. Mas é necessário indicar aqui que ele não é inerentemente um organismo determinado no sentido de que ele é impulsionado nesta base de estímulo-resposta maravilhosa que fica tão bem em certos livros e que não funciona de modo nenhum no mundo humano. As infelizes ilustrações sobre ratos, não servem quando estamos a falar do humano. Quanto mais complexo for o organismo, menos fiavelmente funciona a equação do estímulo-resposta. E quando se atinge essa complexidade humana mais elevada, alcançou-se um grau elevado de variabilidade em termos de estímulo-resposta. Quanto mais senciente e racional for um organismo, mais esse organismo é autodeterminado. Como todas as coisas, o autodeterminismo é relativo. Contudo, comparado com um rato, o ser humano é realmente muito autodeterminado. Este é apenas um fato científico porque pode ser facilmente provado.

     Quanto mais senciente for o ser humano, menos ele será um instrumento de "botão de pressão". Aberrado e reduzido é natural que ele possa, em um grau limitado, ser levado a agir como uma marioneta; mas nesse caso entende-se que quanto mais aberrada for uma pessoa, mais ela se aproxima do quociente de inteligência de um animal.

     É interessante notar aquilo que um humano faz com o autodeterminismo quando este lhe é dado. Embora ele nunca possa escapar à equação de "não sabia que a arma estava carregada" em termos de cataclismo ou do ganho inesperado de alguma outra forma de vida, ele opera numa zona, de nível elevado, do potencial de sobrevivência. Mas aqui ele é autodeterminado, racional, com a sua arma primária, a mente, em excelente estado de funcionamento. Quais são os seus instintos de necessidade?

     De acordo com o dicionário, esse objeto muito senciente, embora de assuntos muito variados, a necessidade é "o estado de ser necessário; aquilo que é inevitável; compulsão". Este também acrescenta que a necessidade é uma "pobreza extrema", mas nós não queremos essa. Nós estamos a falar de sobrevivência.

     A compulsão mencionada pode ser reavaliada em termos de dinâmica de sobrevivência. Essa está no interior do organismo e da raça. E o que é "necessário" à sobrevivência?

     Vimos, e podemos provar clinicamente, que há dois fatores em ação. A necessidade de evitar a dor é um fator porque, pouco a pouco, pequenas coisas que em si mesmas não são muito, podem tornar-se grandes dores que, combinadas nessa rápida progressão geométrica, trazem a morte. Dor é a tristeza de se ser repreendido por um mau trabalho, porque isso poderá levar à perda do emprego, que poderá levar à fome, que poderá levar à morte. Resolva qualquer equação em que a dor tenha entrado e pode ver-se que ela se reduz à possível não-sobrevivência. E se isto fosse tudo o que houvesse em relação a sobreviver, e se a necessidade fosse um pequeno gnomo maldoso com uma forquilha, parece bastante óbvio que haveria pouca razão para continuar a viver. Há, porém, a outra parte da equação: o prazer. Esta é uma arte mais estável do que a dor ao contrário do que diziam os estóicos, como o provam os testes clínicos em Dianética.

     Há, por conseguinte, uma necessidade de prazer; de trabalho - como se pode definir a felicidade - na direção de objetivos conhecidos através de obstáculos que não são incognoscíveis. E a necessidade de prazer é tal que é possível suportar uma grande quantidade de dor para o alcançar. O prazer é algo positivo. E o prazer do trabalho, a contemplação das coisas bem feitas; é um bom livro ou um bom amigo; é esfolar os joelhos ao escalar o Matterhorn; é ouvir o bebê dizer "papá" pela primeira vez; é uma zaragata no Bund em Xangai ou o assobio do amor à porta; é aventura e esperança e entusiasmo e "algum dia aprenderei a pintar"; é comer uma boa refeição ou beijar uma bela rapariga ou jogar um renhido jogo de "bluff" na bolsa. E aquilo que o ser humano faz e gosta de fazer; é o que ele faz e gosta de contemplar; é o que ele faz e gosta de lembrar; e poderá ser apenas falar de coisas que ele sabe que nunca fará.

     O humano suportará muita dor para obter um pouco de prazer. Leva muito pouco tempo para confirmar isto no laboratório do mundo.

     E como é que a necessidade se encaixa neste quadro? Há uma necessidade de prazer, uma necessidade tão viva, palpitante e vital como o próprio coração humano. Quem disse que um humano com dois pães deve vender um para comprar jacintos brancos, falou a verdade. O criativo, o construtivo, o belo, o harmonioso, o aventuroso e sim, até mesmo escapar das garras do oblívio, essas coisas são prazer e são necessidade. Houve uma vez um homem que caminhou milhares de quilômetros só para ver uma laranjeira e houve outro, que era um monte de cicatrizes e de ossos mal arranjados, que estava ansioso por ter uma oportunidade de "domar mais um cavalo".

     É muito bonito viver em algum cume olímpico e escrever um livro de penalidades e é muito bonito ler para descobrir aquilo que os escritores dizem que os outros escritores disseram, mas isso não é muito prático.

     A teoria do estímulo pela dor não funciona. Se alguns destes fundamentos de Dianética fossem apenas poesia sobre o estado humano idílico eles poderiam ser justificados como tal. Mas acontece que estes fundamentos funcionam no laboratório do mundo.

     O ser humano, em afinidade com o ser humano, sobrevive. E essa sobrevivência é prazer.


Notas de Rodapé:

2 De modo a estabelecer uma nomenclatura em Dianética que não fosse demasiado complexa para o propósito, as palavras normalmente consideradas como adjetivos ou verbos foram ocasionalmente usadas como substantivos. Isto foi feito com base no princípio válido de que a terminologia existente, significando tantas coisas diferentes, não poderia ser usada por Dianética sem tornar necessário esclarecer significados antigos para criar um significado novo. Para remover o passo de explicar o significado antigo e depois dizer que não é isso que se quer dizer - emaranhando assim, inextricavelmente, as nossas comunicações - e para evitar o velho costume de combinar sílabas ponderosas e trovejantes a partir das línguas grega e latina, adotou-se este e alguns outros princípios para a nomenclatura. Dinâmica é usada aqui como substantivo e continuará a sê-lo neste volume. Somático, percéptico e alguns outros serão objeto de uma nota, e definidos quando usados.
3 Os Vedas; também "Da Natureza das Coisas" de Lucrécio.