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O excesso de proteína
pode causar sérios danos à nossa saúde.
- DR. JOHN A. McDOUGALL, THE McDOUGALL PLAN
Imagine as proteínas como sendo os canivetes suíços dos nutrientes. São os elementos principais em todos os tipos de processos orgânicos, inclusive o crescimento, a manutenção, a cura e o reparo. Sem elas, não poderia haver processo de Renovação.
As proteínas atuam como blocos básicos de tecidos conjuntivos, como os ligamentos e os tendões. Transportam oxigênio, nutrientes e outras substâncias vitais para onde quer que sejam necessários no organismo. Muitas proteínas funcionam como hormônios, que regulam a atividade celular; como anticorpos, que defendem o organismo das doenças; e como enzimas, que digerem o alimento e facilitam todas as reações químicas do organismo.
Como as proteínas são muito importantes para nós, quanto mais alimentos ricos em proteína consumirmos, melhor estaremos ... certo? Bem, é uma premissa lógica. Mas, infelizmente, errada.
Sim, precisamos de quantidades modestas de proteína em nossa alimentação. Porém, ingerir mais definitivamente não é melhor. Na verdade, a maioria das pessoas ingere muito mais, em vez de muito menos. E, em consequência, a saúde sofre.
As proteínas consistem em várias configurações de substâncias chamadas aminoácidos. A tarefa de montar a combinação correta de aminoácidos na sequência adequada cabe às estruturas celulares conhecidas como ribossomos. O processo funciona mais ou menos assim: o DNA no núcleo de uma célula emite uma cópia que mostra como deveria ser uma determinada proteína. Um ribossomo lê essa cópia e depois reúne os aminoácidos adequados e os liga na ordem apropriada, formando uma molécula completa de proteína.
Cada tipo de proteína apresenta uma sequência ou cadeia de aminoácido única. É interessante o fato de o organismo precisar exatamente de 20 aminoácidos para produzir as milhares de proteínas diferentes de que necessita. Ainda mais interessante é que ele pode produzir sozinho doze desses aminoácidos (com a ajuda das enzimas produzidas a partir das proteínas). Os oito aminoácidos restantes devem vir diretamente dos alimentos e, portanto, são nutrientes essenciais na alimentação de um adulto.
Qualquer alimentação em que haja uma falta constante de um ou de mais dos oito aminoácidos essenciais causará desnutrição por deficiência de proteína, doença que afeta muitas pessoas no mundo, mas extremamente rara nos Estados Unidos. Lá, o problema é o consumo excessivo de proteína. O norte-americano médio ingere aproximadamente o dobro da proteína necessária.
Sendo assim, qual a quantidade de proteína necessária? Em geral, um adulto médio, homem ou mulher, deve consumir por dia aproximadamente 0,6 grama de proteína por quilo de peso corporal. Para uma pessoa que pese 68 quilos, isso significa 40 gramas por dia.
Certos segmentos da população têm necessidades um pouco maiores. Mulheres grávidas ou que estejam amamentando, por exemplo, precisam de mais proteína, pois comem literalmente por dois. Atletas em treinamento precisam de mais proteína, pois seu corpo deve trabalhar mais para recuperar tecidos danificados (a proteína, como você deve estar lembrado, é o componente estrutural básico dos músculos e do tecido conjuntivo). Por motivos semelhantes, pessoas que convalescem de uma cirurgia, lesão ou doença precisam de mais proteína enquanto seu organismo se recupera.
Além disso, algumas pessoas têm dificuldade de decompor proteínas em seus componentes, os aminoácidos. O organismo não produz mais ácido clorídrico e enzimas proteolíticas suficientes, substâncias responsáveis pela digestão de proteínas. (O ácido clorídrico é secretado pelo estômago e as enzimas proteolíticas são segregadas pelo pâncreas.) Essa doença é bastante comum, sobretudo em pessoas idosas, podendo causar sintomas digestivos, assim como alergia aos alimentos.
O excesso de proteína pode realmente piorar a situação de quem sofre dessa doença. A melhor alternativa é experimentar suplementos para corrigir deficiências. Recomendo cápsulas de ácido clorídrico (em forma de cloreto de betaína) e um produto de uma enzima digestiva vegetal. É possível encontrar os dois suplementos em lojas de produtos naturais. Se você não souber que marca escolher, peça ajuda ao vendedor. Siga a dosagem recomendada nos rótulos.
Se adotarmos a alimentação norte-americana típica, completando-a com quantidades generosas de carne e laticínios, provavelmente estaremos ingerindo muito mais proteína do que necessitamos. Considere que uma única porção de 170 gramas de carne, hambúrguer, frango ou peixe fornece mais de 100 gramas de proteína - mais do que o dobro de sua cota de proteína por um dia inteiro. Isso sem contar com queijo, ovos, leite e outros alimentos ricos em proteína que você também pode estar consumindo.
Exagerar dessa maneira na proteína, como muitos de nós fazemos, nos priva da boa saúde e da vida longa. Estudos realizados com populações estabeleceram uma ligação incontestável entre o consumo de proteína e a longevidade. De modo bem simples, pessoas que seguem uma dieta rica em proteína têm, em média, expectativas de vida mais curtas do que pessoas que seguem dietas com baixo teor de proteína. Estudos com animais revelam resultados similares: comparando-se grupos alimentados com o mesmo número de calorias, os que fazem uma dieta rica em proteína morrem mais cedo do que aqueles que fazem uma dieta pobre em proteína.
Lembre-se, seu organismo precisa de proteína para funcionar. É o excesso que obstrui o funcionamento. Como?
Em primeiro lugar, o excesso de proteína esgota o suprimento de cálcio do organismo, causando perda de massa óssea e, por fim, osteoporose. Veja o que acontece: a decomposição de grandes quantidades de proteína produz praticamente uma inundação de aminoácidos. Seu organismo não pode utilizar todos os aminoácidos disponíveis. Por isso, para neutralizar o excesso, ele recruta a ajuda do cálcio, retirando o mineral dos ossos. (Os antiácidos seguem esse mesmo princípio, exceto pelo fato de usarem seu próprio suprimento de cálcio para neutralizar a acidez do estômago.) O cálcio "gasto" é então expelido na urina.
Quando esse processo se repete sucessivamente, uma vez que é necessário em uma alimentação sobrecarregada de proteína, a escassez de cálcio resultante faz com que os ossos se tornem frágeis e se desintegrem aos poucos. Isso causa a osteoporose, doença caracterizada por ossos que se quebram facilmente e vértebras que desmoronam ao peso do corpo, justamente quando sua função seria sustentá-lo.
Obviamente, existem outros fatores de risco para a osteoporose - alguns que não podemos controlar (sexo, idade, predisposição genética) e outros que podemos (baixo consumo de cálcio, falta de exercícios regulares, consumo de drogas e álcool). Acrescente a essa mistura uma alimentação rica em proteína e você se tornará um provável candidato a sofrer uma fratura relacionada à osteoporose.
A propósito, se quiser aumentar seu consumo de cálcio, esqueça o leite, queijo, iogurte e outros produtos derivados do leite. Esses alimentos possuem alto teor de proteína. Assim, qualquer cálcio que forneçam é anulado pelo processo de neutralização do aminoácido descrito anteriormente.
Uma alimentação com alto teor de proteína sobrecarrega não apenas seu esqueleto como também seus rins. Quando você consome muita proteína, seus rins levam muito mais tempo para limpar o excesso de seu sistema.
Resultado: desgastam-se mais cedo do que devem - uma doença chamada insuficiência renal.
Os norte-americanos são o povo que ingere mais proteína - sobretudo proteína animal - do que qualquer outra população no mundo. E o fato de terem também o índice mais alto de fraturas relacionadas à osteoporose não é mera coincidência. A classificação é a seguinte:
PAÍS | FRATURAS DE BACIA (POR 100.000 PESSOAS) | CONSUMO DE PROTEÍNA ANIMAL (GRAMAS por DIA) |
País | Fraturas/100.000 | Superior | Inferior |
Estados Unidos | 98 | 106 | 72 |
Suécia | 59 | 105 | 57 |
Finlândia | 44 | 93 | 61 |
Reino Unido | 43 | 90 | 54 |
Hong Kong | 32 | 82 | 50 |
Cingapura | 20 | 82 | 39 |
África do Sul | 6 | 55 | 11 |
As carnes sempre tiveram a reputação de serem as melhores fontes de proteína existentes. Isso ocorre por serem ricas em proteínas completas - em outras palavras, fornecem todos os aminoácidos que o organismo não produz sozinho.
Infelizmente, quando comemos carne, não estamos apenas ingerindo proteínas completas, mas também gordura saturada, colesterol e pesticidas - substâncias não muito boas para o organismo. A gordura saturada e o colesterol obstruem e enrijecem as artérias, abrindo caminho para doenças cardíacas. E os pesticidas e outras toxinas enfraquecem o sistema imunológico e sobrecarregam os órgãos de eliminação.
Além disso, as carnes são completamente desprovidas de ácidos graxos essenciais e fibras, substâncias muito importantes. No Capítulo 8, vimos como as deficiências de ácidos graxos essenciais podem causar ou agravar sinais de problemas de saúde. Quando o suprimento de fibras é baixo, as toxinas não são varridas do aparelho digestivo de modo eficiente. Isso aumenta a sobrecarga para o fígado, para os rins e para o cólon, os três órgãos responsáveis pela purificação.
A conclusão é que a carne prejudica o processo de Renovação de várias maneiras. Podemos obter toda a proteína necessária a partir de outras fontes mais saudáveis - fontes que não irão sobrecarregar o organismo nem minar a saúde.
Cereais, feijões, frutas e hortaliças - os quatro principais "ingredientes" da dieta antienvelhecimento - têm naturalmente um baixo teor de proteína. Ingerindo-os em diversas combinações, obtemos um suprimento equilibrado de todos os aminoácidos necessários ao organismo, sem correr o risco da sobrecarga de proteínas.
As proteínas vegetais tratam o organismo muito melhor do que as proteínas animais. Enquanto as proteínas animais elevam o colesterol, as proteínas vegetais - especialmente a da soja - comprovadamente reduzem o colesterol. Na verdade, o serviço nacional de saúde da Itália fornece gratuitamente a proteína da soja aos médicos para o tratamento de pacientes com colesterol elevado.
Além disso, a proporção de cálcio para a proteína é muito maior em alimentos derivados de vegetais do que em alimentos derivados de animais. O cálcio "extra" é então armazenado nos ossos, em vez de ser gasto para neutralizar aminoácidos. Assim, as proteínas vegetais apóiam a saúde do esqueleto - ao contrário das proteínas animais, que contribuem para a osteoporose.
Com exceção da soja7, nenhum outro alimento de origem vegetal fornece proteína completa. Em outras palavras, nenhum alimento de origem vegetal fornece todos os oito aminoácidos essenciais. Basta a deficiência de um único aminoácido para impedir que as células formem as proteínas necessárias à cura e ao crescimento. (Lembre-se de que as células formam proteínas ligando aminoácidos para formar cadeias.)
Para evitar deficiências, você precisará consumir alimentos de origem vegetal em combinações que forneçam todos os aminoácidos necessários. Muitas vezes, chamamos esses alimentos de proteínas vegetais complementares. Por exemplo, cereais e feijões funcionam como proteínas vegetais complementares. Os cereais, em geral, são ricos nos aminoácidos triptofano e metionina, mas têm baixo nível dos aminoácidos lisina e isoleucina. Com os feijões, ocorre o oposto: geralmente eles contêm pouco triptofano e metionina, mas muita lisina e isoleucina. (Uma exceção notável é o feijão-soja, no qual todos os quatro aminoácidos são abundantes.) Assim, combinando qualquer grão e qualquer cereal e feijão, você obtém um complemento perfeito desses aminoácidos essenciais.8 Desse modo, seu organismo dispõe de toda a matéria-prima de que necessita para produzir as proteínas completas.
E, ao contrário da crença popular, você não precisa ingerir proteínas vegetais complementares na mesma refeição. Pesquisas mostraram que o organismo recicla aminoácidos com grande eficiência. Assim, desde que você alimente regularmente seu organismo com uma variedade de proteínas vegetais complementares, ele terá quantidades ideais de todos os aminoácidos necessários.
Alimentos de origem vegetal têm condições de ser os maiores aliados da Renovação. Como vimos até agora, não apenas eles contêm pouca gordura e proteína como também são ricos em vitaminas, minerais, substâncias fitoquímicas e fibras. Mas nem os alimentos de origem vegetal estão imunes aos efeitos corruptores dos pesticidas, de aditivos e de outras substâncias químicas. O próximo capítulo explica como proteger seus alimentos dessas toxinas produzidas pelo homem.