Arquivos de Impressão: Tamanho A4 (pdf), Tamanho A5 (pdf), Texto (txt).
SELO-Sol é a abreviação de Sistema Econômico Local Solidário. Ele pode ser visto como uma "economia entre amigos". Possui um papel moeda próprio, pessoalizado, denominada Ritmo, que vale um minuto de trabalho e intermedia as trocas entre os membros do grupo. O SELO-Sol floresceu no festival de cultura consciente Puroritmo de 2007. Desde então, sob os auspícios do Instituto de Permacultura: Organização Ecovilas e Meio Ambiente (IPOEMA), a Cooperativa de Turismo, Cultura e Meio Ambiente (Trilha Mundos) e a Associação dos Trabalhadores do Ministério do Meio Ambiente (AMMA), esta proposta para uma nova sociedade e uma nova economia do SELO-Sol, tem sido movimentada. Esta é uma visão pessoal da história do SELO-Sol, e por isso muito menor que a plena história deste grupo pioneiro, que é da dimensão das pessoas que dele participam. Esperamos que este registro, possa contribuir para multiplicar a iniciativa do SELO-Sol, em vários Sistemas Econômicos Locais de diversos grupos, para variadas necessidades, neste tempo de crise financeira global.
No final do ano de 2007, no início das chuvas, numa feira de troca de sementes na Escola da Natureza, no Parque da Cidade, tivemos o prazer de conhecer o SELO-Sol: Sistema Econômico Local Solidário. Numa sala da Escola da Natureza, aproximadamente 30 pessoas assistiam a apresentação do SELO, feita por expoentes do PuroRitmo1, IPOEMA2, Trilha Mundos3 e AMMA4.
Neste dia foi feita uma apresentação no computador do SELO-Sol. Fomos informados que na Internet, no Yahoo Groups, podemos acessar o grupo selo-sol. E então quem se interessou teve acesso à cartilha deste Sistema Econômico Local Solidário que transcrevo a seguir:
O SELO SOL é um espaço aberto para diferentes manifestações consideradas fundamentais para conceber uma nova sociedade. E como não existe uma outra sociedade sem uma outra economia, vamos pensar a economia ...
O consumo consciente, a troca direta, a troca com moeda social e o sistema de troca por crédito virtual são atualmente as práticas foco desse grupo auto-gestionado.
O SELO SOL está aberto à toda a comunidade, que concorde com os seus princípios éticos. É por acreditar que a forma como atualmente vivemos em sociedade não é a única forma possível que todos aqueles que concordam com os princípios éticos do SELO SOL estão convidados a participar deste projeto coletivo que tem por principal objetivo a revalorização do indivíduo e das relações humanas.
As próximas páginas têm por objetivo explicar o funcionamento do sistema de trocas por crédito virtual.
Existe uma lista de oferta e demanda.
A pessoa consulta a lista e identifica quem é a pessoa que oferece o serviço que ela procura. Ela entra em contato para acordar o montante da transação, para escolher entre várias pessoas que oferecem o mesmo serviço ou para marcar um encontro. Existe negociação.
Uma vez a troca decidida ela deve ser registrada pelas pessoas que efetuam a troca e deve ser centralizado na Central de Ritmos (C.R.). O registro é feito no recibo de trocas.
O recibo de trocas é dividido em três partes. Uma parte fica com o debitante (aquele que usa o bem, serviço ou conhecimento), e as outras duas para o credor (aquele que oferece o serviço). Um papel o credor pode guardar para o seu controle pessoal e o outro ele deve enviar para a C.R.
SELO SOL | SELO SOL | SELO SOL |
Data: | Data: | Data: |
Eu recebi: | Eu ofertei: | Ofertou: |
Recebeu: | ||
Ritmos: | Ritmos: | Atividade: |
Ritmos: | ||
Parceiro: | Parceiro: | Assinatura: |
(de quem recebeu) |
Uma pessoa interessada por uma proposição do catálogo é levada a seguir os procedimentos regulamentados: entrar em contato com a pessoa que oferece o serviço, o bem ou o conhecimento, verificar que ela está autorizada a trocar (que ela ainda é membro do SELO, que o saldo da sua conta está sinalizando autorizado), negociar o montante, preencher o recibo de troca e remeter para a central de ritmos(C.R.).
Neste sistema se você quer algo que está sendo ofertado por alguém que não precisa de nada que você está ofertando, a troca não fica impossibilitada. O recibo registra a troca e o crédito daquele que ofertou pode ser usado com outra pessoa, e o seu débito pode ser compensado também com outra pessoa. Cria-se uma rede de trocas onde a palavra chave é circular e o gesto simbólico um aperto de mão.
Só é utilizado para a transparência das trocas e para a organização de uma reciprocidade multilateral. Além de mediador das trocas, a unidade de conta do SELO deve ser compreendida como mediador social e como uma relação ao grupo por inteiro. Em todas as sociedades, o dinheiro, na suas diversas formas permite tomar consciência deste pertencimento ao grupo por inteiro, explorando e descobrindo assim as dimensões culturais e sociais do dinheiro.
O primeiro objetivo é favorecer as trocas e colocar em funcionamento um sistema que permite acelerá-las. A acumulação, moeda retirada do circuito econômico, gera vários problemas, dentre eles o da desigualdade. É desta forma que damos espaço para uma nova lógica, uma lógica que vê na moeda um instrumento para intermediar as relações humanas e não como um motivador central dessas relações.
Os sistemas de troca devem agir localmente. Conhecer e confiar nas pessoas com que estabelecemos uma relação de troca é fundamental. A diferença de uma loja onde a relação entre as pessoas se encerra no ato do pagamento, as trocas são circulares, os encontros se repetem, é criado um ciclo de reciprocidade permanente e duradouro no tempo. Conhecer, confiar e valorizar os produtores e consumidores locais.
O tempo gasto para executar uma tarefa é a mesma em qualquer lugar do planeta e para qualquer pessoa ou profissão. Ao considerar o tempo como unidade de medida criamos assim um ambiente favorável para a diminuição das desigualdades sociais que é atualmente de 60 vezes entre o mais rico e o mais pobre. A ausência de dinheiro permite não somente uma outra valoração como também uma valorização de bens, serviços e conhecimentos que não são valorizados no sistema atual.
As motivações podem ser múltiplas.
De ordem social: entrar em contato com pessoas diferentes, romper com o isolamento, se integrar, ...
De ordem prática: necessidade de serviços que não estão disponíveis no mercado, encontrar soluções práticas para problemas do cotidiano, achar um destino para objetos parados em casa ...
De ordem política: é uma forma de fugir das regulamentações do mercado, enfraquecer o sistema de dinheiro, dar ao trabalho um valor diferente daquele que existe.
Não devemos impor para as pessoas uma visão de mundo; a qualidade, a originalidade do SELO, é de pegar as pessoas lá onde elas estão, com as suas idéias e seus hábitos.
Não é porque somos solidários ou responsáveis pelos nossos atos que participamos de um SELO. É porque decidimos participar de um SELO que nos tornamos responsáveis e solidários.
O SELO não é um catálogo de pequenos anúncios. Alguns olhares vêem no SELO mais um exemplo de ação utilitarista, ou seja, um instrumento para satisfazer os desejos predeterminados, estritamente individuais.
Ora, o projeto do SELO se encontra como antídoto desta análise: o SELO tenta fazer nascer uma nova articulação do pessoal para o coletivo através dos laços de solidariedade, de reconhecimento e de confiança. A diferenciação se faz em vários momentos:
É por isso, e por outros princípios que o SELO não deve ser confundido como um mecanismo utilitarista.
Uma boa economia que coloque o homem no centro das trocas, que respeite a igualdade dos membros-cidadãos e que favoreça o (re) aprendizado da democracia.
IPOEMA - Instituto de Permacultura: Organização, Ecovilas e Meio Ambiente
Trilha Mundos - Cooperativa de Turismo, Cultura e Meio Ambiente
AMMA - Associação dos Trabalhadores do Ministério do Meio Ambiente
Então as reuniões do SELO-Sol começaram a acontecer uma vez por mês, aos sábados na escola da natureza no parque da cidade. É uma opinião, que o grupo tinha um atrativo todo especial, devido a vivacidade e autenticidade das pessoas que o frequentavam. Talvez, algumas pessoas não entendessem direito, a proposta do Sistema Econômico Local Solidário: o SELO-Sol. Contudo continuavamos participando, porque era tanta gente bonita, de espírito jovem e inovador, que nas reuniões fortificavamos laços de amizade e as vezes aconteciam alguns diálogos transcendentais. Em resumo, o SELO-Sol se tornou para alguns um encontro mensal de amigos.
De certa forma, a proposta era de uma "economia entre amigos", com um papel moeda válido entre as pessoas do grupo. Contudo, o número de pessoas que frequentava as reuniões, foi cada vez mais diminuindo, até o ponto em que não houve mais nenhuma reunião em 2009. Cada um passou a colocar energia em outros projetos. Onde erramos? Será que vamos morrer na praia depois de nadar muito, justamente na crise financeira do mundo, quando este tipo de iniciativa é mais necessário? Se depender de algumas pessoas isso não ocorrerá. Contudo a idéia do grupo é também de construir uma nova economia do interior para o exterior, de dentro para fora, do pequeno para o grande, da semente para o ventre. O espírito do SELO-Sol é o do diálogo, da igualdade e do valor das pessoas e do trabalho. Seria contraditório tentar impor algo para alguém. E como uma pioneira colocou, estivemos numa construção coletiva, errando e aprendendo. Assim este pequeno texto objetiva o aprendizado pela história do grupo, para que possamos dar a luz a vários Sistemas Econômicos Locais, filhos do original SELO-Sol!
"A necessidade é a mãe da invenção". Assim, um Sistema Econômico Local com papel moeda válido no grupo, deve nascer de uma necessidade. Como ressaltado no livro "Após o Capitalismo" a primeira diretriz para o sucesso deste tipo de iniciativa é:
Atender a uma necessidade real
Inúmeros artigos da Internet sobre "Clubes de Troca" com papel moeda social ressaltam a importância das reuniões acontecerem em torno de uma necessidade, uma demanda do grupo. O dinheiro é usado como meio de troca, qualquer economia, mesmo com moeda válida localmente, tem que partir de uma necessidade de troca. Na minha opinião o SELO-Sol se esvaziou porque as trocas não ocorriam com frequência, e a única necessidade real que atraia os membros era a da "troca no diálogo" com os amigos, o que acabou acontecendo em outras situações distintas da reunião mensal do grupo.
Houveram reuniões nas quais se realizou uma feira de trocas, talvez estas tenham sido as melhores. Por isso, depois da aprendizagem, fica a sugestão para qualquer grupo que organizar um Sistema Econômico Local (SELO), que faça as reuniões periódicas no contexto de uma feira de troca. Numa feira de troca os participantes levam objetos pessoais, "excedentes" para trocar por outros que lhe interessem mais. Numa feira de trocas como a Escambau5 ocorre a troca direta, o escambo. O SELO é mais que escambo, pois existe um papel moeda que pode intermediar as trocas. Contudo a idéia é fazer a reunião do grupo, entregar os cheques para a pessoa da "Central de Ritmos", e fazer uma feira de trocas no mesmo encontro do grupo. Assim plantamos três flores com uma semente só: amigos, trocas, e compensação dos cheques do papel moeda do SELO.
Talvez, a necessidade ideal que um SELO poderia satisfazer, é a de troca de conhecimentos, em outras palavras, aulas pessoalizadas. Afirma-se isso porque, a moeda do SELO, o Ritmo, vale um minuto de trabalho. Ensinar alguém é trabalho puro, não um bem material. Além disso, geralmente, o estudante tipicamente não costuma ter muito o "dinheiro global convencional". Por isso, um Sistema Econômico Local com moeda própria, poderia organizar uma estrutura de aulas em um colégio, de forma que todos ensinassem e aprendessem na mesma proporção. Estes são os dois motivos de se estar trabalhando sob a máxima: cada sala um SELO. Ou seja, em cada sala de aula, um Sistema Econômico Local com moeda própria.
Além disso, pela própria natureza de uma sala de aula, as pessoas já se encontram regularmente para estudar. Os dois pré-requisitos para um SELO funcionar: 1 encontros periódicos; 2 satisfação de uma necessidade (de estudo); existem em uma sala de aula de uma escola, colégio ou universidade.
É memorável que em uma reunião do Sistema Econômico Local Solidário na escola da natureza, um casal comentou sobre uma experiência com economia local em Alto Paraíso de Goiás. Havia uma feira, só que alguns participantes questionavam os valores relativos, atribuidos ao que era dado e recebido na troca solidária.
Uma das idéias do SELO e do Ritmo, sua moeda social, é a de valorizar o trabalho. Por isso, se associa um 1 Ritmo ao valor de 1 minuto de trabalho. Contudo em numerosas situações as atribuições de valor não são tão simples assim. Assim em 2008 escreveu-se bastante para o grupo, sobre "Valores". Resume-se a seguir, a conclusão prática destes escritos.
Embora o Sistema Econômico Local seja uma construção coletiva, na qual incentiva-se cada membro a repensar os valores nas trocas econômicas, sugeriu-se que em caso de dúvida, se associe a cada Real da moeda corrente o valor de dois Ritmos do SELO. Assim um produto que tenha o valor de 20 Reais no mercado, valeria em 2x20=40 Ritmos. Esta conversão, considera que uma hora de trabalho humano, vale em média 60 Ritmos. Em alguns países, a média ganha por hora, é uma grama de ouro, em torno de 12 dólares, ou 30 Reais no Brasil. Assim temos em média 60 Ritmos por 30 Reais, uma grama de ouro, em uma hora de trabalho. Por isso, a sugestão do câmbio de 2 Ritmos por 1 Real.
Na primavera de 2008, tivemos a oportunidade de assistir um documentário chamado Zeitgeist. O documentário explica o controle exercido pelos que monopolizam a emissão de dinheiro no banco central. O filme assistido, mostra como este esquema financeiro é uma equação sem saída de endividamento da população. Nos EUA, órgão que emite o dinheiro, Federal Reserve (FED), empresta-o com juros ao governo. Todos ficam endividados com o órgão emissor do dinheiro, e para pagar os juros deste dinheiro emprestado e emitido, precisam de mais dinheiro. Assim a moeda impessoal e global, é atrelada a uma dívida. Por isso, é fundamental e libertador que tenhamos a nossa própria moeda honesta.
Quem realmente entender este filme concordará que é literalmente verdade o que Thomas Jefferson afirmou:
"Se vocês querem continuar escravos dos banqueiros e pagar pelos custos da sua própria escravatura, que eles continuem a criar dinheiro e controlar o crédito da nação."
Um Sistema Econômico Local, com moeda própria válida no grupo, é uma alternativa para tudo isso. Em um primeiro momento, a moeda pode ser utilizada para troca de conhecimento visando uma integridade intelectual e uma consciência mais holística dos membros do grupo. Em um segundo momento, o SELO pode buscar satisfazer todas as necessidades vitais dos membros através do trabalho das pessoas participantes, assim teríamos os vários profissionais de diversas áreas formando uma célula econômica o mais auto-suficiente possível. Na terceira etapa, o grupo de pessoas que aprenderam e trabalharam juntas, pode harmonizadamente formar uma comunidade auto-sustentada alternativa, uma verdadeira família.
O principal organizador do SELO-Sol, descreveu o IPOEMA como uma comunidade intencional. Visualiza-se todo o grupo de amigos que formar um Sistema Econômico Local, formando uma futura comunidade auto-sustentada. Sequencialmente cada SELO floresce na sabedoria da troca de conhecimentos, na força do trabalho de seus membros e finalmente no amor da grande família que se forma, na face da mãe terra, no terreno que o grupo adquirir para realizar sua versão de "Auroville"6, no terceiro milênio.
Como o empresário do restaurante Terra Viva, compartilhou em um diálogo sobre o livro "Após o Capitalismo": "não podemos nos libertar de uma vez do capitalismo como está sem cair em um caos social, a idéia é ir construindo pequenas unidades econômicas auto-suficientes". Pois exatamente assim, vemos um SELO, uma célula econômica auto-suficiente expandindo como um grupo de estudo, trabalho e finalmente um grande condomínio familiar.
Já na segunda metade de 2008, concordamos em transferir as reuniões do SELO-Sol para Universidade da Cidade. Na época acreditava-se que um Sistema Econômico Local com moeda própria, poderia ser muito útil na troca de saberes e conhecimentos entre estudantes, geralmente com os bolsos vazios da "moeda convencional". Assim, conjuntamente com algumas pessoas que trabalhavam com economia solidária na universidade, organizamos uma palestra sobre o SELO-Sol.
Dialogamos sobre o significado da palavra solidário. Foi explicado que estas iniciativas eram chamadas de economia popular, e hoje são chamadas de economia solidária. Contudo, além de solidário, podemos ver um Sistema Econômico Local (SELO), como um grupo íntegro e capacitado a ponto de criar toda uma atividade microeconômica, com papel moeda próprio e uma central de compensação e cheque das trocas que ocorrem, itermediada por esta moeda local. Um SELO é uma evolucionária e nova economia, uma economia local que valoriza a pessoa e o trabalho. Uma economia que cresce do indivíduo para o corpo social, e coexiste com a economia global impessoal.