Arquivos de Impressão: Tamanho A4 (pdf), Tamanho A5 (pdf), Texto (txt).
Esta é uma pequena compilação do livro "Após o Capitalismo". Ressaltou-se as partes interessantes para elaboração dos Sistemas Políticos e Econômicos Locais. Assim mostra-se como uma moeda local pode sanar o problema do desemprego e depressão. Como uma economia entre amigos restaura a importância espiritual das relações de troca. Apresenta-se vários exemplos de cooperativas onde o valor do trabalho é ressaltado. É importante lembrar que a Teoria da Utilização Progressiva (PROUT) foi concebida pelo pensador indiano Prabhat Ranjan Sarkar, que é antes de tudo um espiritualista. É nossa esperança que este trabalho possa lhe ser informativo e que possamos cooperar na construção de uma nova economia mais humana e espiritualizada.
PROUT: Espiritualidade, Cooperativismo, Auto-Suficiência. Para o bem-estar de todos os seres vivos.
Quando a alucinante busca pelo lucro terminar, o que faremos?
A excessiva voracidade da globalização está causando terrível sofrimento humano e grave degradação ambiental. Necessitamos, urgentemente, de uma alternativa viável ao capitalismo das empresas multinacionais.
PROUT, a Teoria da Utilização Progressiva, oferece a visão de um futuro mais sustentável: um novo modelo sócio-econômico, desenvolvido pelo pensador indiano Prabhat Ranjan Sarkar (1921-1990), baseado nas cooperativas, no equilíbrio ecológico e nos valores espirituais universais.
P.R. Sarkar explica que há quatro causas principais para as depressões econômicas: 1) concentração da riqueza; 2) bloqueio na circulação de dinheiro; 3) redução do poder de compra; e 4) desvalorização da moeda.
Nota do Compilador: É interessante observar que em um Sistema Econômico Local - SELO, com moeda trina pessoalizada e própria, estes quatro problemas ficam resolvidos. 1) Não existe concentração de riquezas pois não faz sentido acumular a moeda trina do SELO, válida somente localmente. 2) Não existe bloqueio na circulação de dinheiro porque um Sistema Econômico Local (SELO) com moeda válida localmente, pode ser criado à qualquer momento. 3,4) não existe redução do poder de compra nem desvalorização da moeda já que nos Sistemas Econômicos Locais (SELOs) não se emite dinheiro nem se modifica o montante em circulação, o trinheiro (moeda trina) pessoalizado é um meio de troca e não controla o poder de compra.
Concluímos que se os Sistemas Econômicos Locais (SELOs) se tornarem populares não haverá mais depressão!
Considerar a economia como o fundamento da vida é como adquirir uma doença fatal, porque o crescimento ilimitado não se ajusta a um mundo finito. A advertência de que a economia não deveria ser tomada como o fundamento da vida foi passada para a humanidade por todos os professores de economia; e hoje está evidente que ela não pode ser ... Se o valor espiritual, que é inerente aos seres humanos, for negligenciado, então o egoísmo do capitalismo ditará a ordem, em vez de um sistema voltado para o amor entre os seres humanos. - E.F. Schumacher
Essa visão, que domina o mundo de hoje, é extremamente oposta aos valores e à visão dos índios das Américas, ou das sociedades tradicionais da África, Ásia e Austrália. Eles não achavam que a terra pertencia a eles; pelo contrário, eles pensavam que eles é que pertenciam à terra! Essas culturas tradicionais eram mais cooperativas por natureza e normalmente utilizavam a maior parte da terra como uma fonte comum de recursos.
1. "A nenhum indivíduo deve ser permitido acumular riqueza sem a permissão ou a aprovação clara do corpo coletivo".
Este princípio preconiza que, tendo em conta que os recursos físicos do planeta são limitados, a acumulação ou o uso desregrado de qualquer recurso restringirá a oportunidade para os outros. O acúmulo de riquezas ou o seu uso especulativo, em vez do investimento na produção, reduz diretamente a chance de outros na sociedade. Sendo assim, deverão existir tetos máximos para os salários, para a herança e para a posse de terras e outras propriedades.
Este princípio é baseado no conceito da Herança Cósmica, mencionado no capítulo anterior, o qual diz que os seres humanos têm direito de utilizar e compartilhar, mas não o de acumular ou fazer uso indevido dos recursos providos pelo Criador.
Os salários deveriam possuir um teto racional. No cálculo do salário máximo, deveriam ser considerados todos os benefícios extra-salariais, tais como a participação em ações, os incentivos, os bônus por desempenho, a cobertura de despesas pessoais etc.
A diferença entre o salário mínimo e salário máximo deverá ser gradualmente reduzida. Essa diferença, no entanto, nunca deverá ser próxima ou chegar a zero. (Tema também explicado no tópico "Fatores que Motivam as Pessoas a Trabalhar", neste capítulo).
Há uma crescente aceitação da idéia de que a distância entre os salários mínimo e máximo em um empreendimento deveria ser controlada. O renomado economista John Kenneth Galbraith escreveu: "O modo mais franco e efetivo de aumentar a igualdade dentro da empresa seria estabelecer um teto para as recompensas média e máxima." Algumas companhias japonesas e européias já têm tais políticas.
Sarkar usou o termo "Corpo Coletivo" para se referir a sociedade. Ele indicou que o governo teria que assumir a responsabilidade de fixar limites à acumulação de riqueza. Faria isto por meio de juntas econômicas. Ele insistiu que os membros das junta deveriam ser "honestos e realmente querer o bem-estar humano ... por meio do serviço social coletivo ... " Além de determinar políticas e os padrões econômicos, as juntas econômicas de PROUT também deverão escutar e decidir os critérios para as exceções, para os tetos salariais e outras particularidades, como por exemplo prover cadeira de rodas computadorizadas aos paraplégicos.
Esse princípio só se aplica às posses materiais, já que o conhecimento intelectual e a sabedoria espiritual são ilimitados.
Mark L. Friedman é professor de Economia da Universidade do Estado de Minnesota, nos EUA. Ele fez uma avaliação compreensiva do sistema de incentivos da economia de P.R. Sarkar, dando-lhe o título "Em Rumo ao Ponto Ótimo dos Diferentes Níveis Salariais". Começando com o trabalho de Maslow e incluindo a análise dos economistas Harvey Leibenstein e John Tomer, Friedman apresenta uma fórmula econômica para identificar oito fatores que motivam o trabalhador a ser produtivo. Ele expressa isso numa fórmula econômica, onde Pr representa a produtividade, sendo uma função (f) da interação dos seguintes fatores:
H é habilidade individual. Friedman pressupõe que existem diferenças entre as habilidades e os talentos inatos de cada um.
P representa a pessoalidade, incluindo a capacidade individual, a maturidade, o trabalho ético e a saúde psíquica.
Ex é a experiência no trabalho
AT representa o ambiente de trabalho, que inclui muitos componentes. Por exemplo, o trabalho e a organização satisfazem o indivíduo? É um trabalho solitário, que alguns preferem, ou envolve uma interação social? Utiliza habilidades técnicas ou literárias? Objetivos significativos fazem parte do trabalho? O supervisor e os colegas de trabalho são justos e cooperativos?
CF significa crescimento futuro, o potencial percebido pelo trabalhador para crescer e aprender no presente trabalho. Isso aumenta a auto-estima, aumenta a satisfação no trabalho e a motivação.
CS representa a cultura de servir, o grau em que cada trabalho e o auto-sacrifício são encorajados na cultura. Se o objetivo organizacional for nobre, a pessoa ficará inspirada a realizar um serviço ético, despenderá um esforço maior para alcançar seu objetivo, sem expectativas de recompensa pessoal.
IM representa o incentivo material
O dinheiro foi desenvolvido para facilitar o comércio, que antigamente era feito com base na troca de mercadorias. Ele é uma ferramenta social para facilitar a atividade econômica de uma comunidade. Quanto mais ele circular, maior será o número de pessoas beneficiadas.
Um exemplo interessante de uma moeda local aconteceu em 1931 em Worgl, Áustria. Aquela cidade, bem como toda a Europa e a América do Norte estavam sofrendo com a depressão econômica da época. Havia um alto índice de desemprego, estradas e pontes necessitando de reformas, e os cofres públicos estavam vazios porque as pessoas não podiam pagar os impostos. O burgomaster ("prefeito") local, percebendo que o único problema era a falta de dinheiro, decidiu emitir "certificados de trabalho" numerados, apoiados por uma reserva de moeda austríaca no banco local. Quase imediatamente a economia da cidade reagiu, e dentro de dois anos Worgl se tornou a cidade mais próspera da Áustria. Tão bem sucedido foi o esquema que mais de 300 outras cidades começaram a emitir suas próprias moedas locais. Naquele ponto, o Banco Nacional Austríaco, vendo seu monopólio em risco, forçou o governo a proscrever todas as moedas locais.
Vários sistemas de moeda local foram experimentados com diferentes graus de sucesso desde aquela época. No Canadá, o Sistema de Troca de Empreendimento Local (LETS) foi desenvolvido em 1986 como um sistema de contabilidade que registra todas as transações entre os sócios. Outros sistemas de comércio sem dinheiro surgiram com diferentes nomes, para estimular a atividade econômica, em comunidades ao redor do mundo.
Certamente, o maior sistema atual é o Clube de Trocas da Argentina. Foi fundado em 1995 por mais ou menos 30 "prosumidores" (produtores - consumidores ) que se encontraram para trocar produtos em uma feira livre num bairro de classe média-baixa de Buenos Aires. Como a economia entrou em recessão, as trocas tornaram-se cada vez mais comuns, e uma moeda de troca, chamada "crédito", foi criada. Hoje, mais de 10 milhões de pessoas participam desse sistema em mais de 8000 locais ao redor do país.
O maior problema dos esquemas locais de comércio é a limitação da moeda usada: ela, normalmente, se restringe ao uso local e a certos produtos e serviços. Consequentemente, PROUT defende a necessidade de uma moeda nacional conversível com um valor estável para evitar a inflação. Isto pode ser alcançado mantendo-se reservas em ouro ou outras commodities estáveis, na mesma proporção da moeda impressa.
PROUT apoia a implementação do sistema de cooperativas, porque o seu espírito é o da cooperação coordenada. Somente o sistema de cooperativas pode garantir o progresso integrado e saudável da humanidade e estabelecer a unidade completa e duradoura entre os seres humanos. - P.R. Sarkar
O ex-secretário-geral das Nações Unidas, General Boutros Boutros-Gali, em seu Relatório à Assembléia Geral, disse: "As cooperativas fornecem os meios que permitem a uma parcela significativa da humanidade a possibilidade de assumir com as próprias mãos a responsabilidade de gerar emprego produtivo, superar a pobreza e alcançar a integração social."
Um grande número de cooperativas bem sucedidas opera atualmente ao redor do mundo, o que nem sempre é conhecido. Mais de 760 milhões de pessoas são membros de cooperativas e pertencem à maior organização não-governamental do mundo: a International Cooperative Alliance (ICA), que representa mais de 250 organizações nacionais e internacionais. Nos Estados Unidos a Associação Nacional de Negócios Cooperativos agrega 47000 cooperativas, que atendem a um total de 100 milhões de pessoas ou 37% da população.
Cooperativas administram a produção de 99% do leite e seus derivados, na Suécia; 99% da pesca e 95% do arroz no Japão; 75% dos grãos e do óleo comestível no Canadá; e 60% do vinho na Itália. Alguns dos maiores bancos comerciais europeus são adquiridos ou organizados em sistemas de cooperativas, incluindo o DF Bank, alemão, o Rabobank holandês e o Credit Agricole, francês. Em Quebec, Canadá, encontra-se a maior cooperativa de crédito ao consumidor, a Désjardins Movement.
O grupo de cooperativas Mondragón da região Basca, no norte da Espanha, é geralmente considerado o melhor modelo de cooperativa do mundo. Josá Maria Arizmendiarrieta, um padre católico trabalhador, chegou naquela região na década de 1940 e encontrou as pessoas arruinadas pela Guerra Civil Espanhola e vítimas do desemprego generalizado. Em busca de uma solução prática para melhorar a vida daquelas pessoas, ele estudou os movimentos bem sucedidos de cooperativas da Grã-Bretanha e da Itália e viu neles uma forma não-violenta de unir trabalhadores e proprietários.
O padre Arizmendiarrieta, entusiasticamente, introduziu seus alunos no estudo de cooperativas. Em 1956, alguns de seus formandos atuaram como pioneiros na primeira cooperativa industrial bem sucedida criada para manufaturar eletrodomésticos de alta qualidade, ferramentas e peças de máquinas. Os bascos, nacionalistas ferrenhos e com profunda consciência social, apoiaram a iniciativa desde o início. Essa companhia cresceu imensamente, dando origem a mais de cem novas cooperativas. Na década de 70, tinha se tornado uma das dez maiores companhias da Espanha, tendo construído a história de maior sucesso em matéria de cooperativas no mundo.
O maior desafio de Mondragón veio quando a Espanha associou-se à União Econômica Européia. De repente, as taxas de 18 a 35% aplicadas sobre bens importados desapareceram e os produtos de corporações multinacionais invadiram o mercado espanhol, levando à bancarrota muitas pequenas empresas e cooperativas. Em resposta a essa ameaça, a Cooperativa Mondragón Corporacion optou por centralizar sua administração e competir agressivamente no mercado global. A corporação abriu fábricas em outros países e hoje emprega mais de 60000 pessoas e tem vendas anuais de aproximadamente US$ 8 bilhões.
Dos três níveis da economia proutista - as pequenas empresas privadas, as cooperativas e as indústrias estratégicas de larga escala - as cooperativas são as que mais empregam. As empresas cooperativas - industriais, agrícolas, de serviços, de consumidores e de crédito - constituem o âmago da sociedade proutista. Como tal, elas são o setor privilegiado, porque estimulam os seres humanos a trabalharem juntos, uma aspiração-chave de PROUT.
Hoje, muitas cooperativas em países capitalistas administram coletivamente o capital de investimento e partilham as sobras; em PROUT, somente os bancos cooperativos funcionarão dessa forma. No restante das cooperativas proutistas, cada membro trabalhará ativamente para a empresa, o que proporcionará melhor ambiente de trabalho e aumentará a produtividade. Nessas cooperativas, o trabalho contratará o capital, e não o contrário, como ocorre no capitalismo. Com o trabalho no comando, e não mais sendo submetido ao capital, o sentimento de valor e auto-estima será resgatado nas pessoas.
Diferentemente do que ocorre no capitalismo, a produtividade nas cooperativas é medida não apenas em termos da produção e da rentabilidade, mas também em termos da segurança no trabalho e da satisfação dos trabalhadores.
Apenas quem trabalha numa cooperativa de trabalhadores pode ser seu membro. Os novos trabalhadores associam-se à cooperativa experimentalmente, antes de tornarem-se membros permanentes. O controle da firma e o direito aos ativos e as sobras residuais são baseados na contribuição em termos de trabalho e não de valor de capital ou de propriedade.
O controle está baseado no princípio "a cada membro, um voto" e não na quantidade de cotas-partes ou capital de uma pessoa na cooperativa. Se um investidor não-trabalhador for autorizado a tornar-se membro, isso levará a conflitos de interesse e poderá desestabilizar o sistema de incentivos ao trabalhador. As chamadas de capital somente poderão ser feitas se elas não influenciarem a tomada de decisão.
O sistema de incentivos na forma de salário e participação nas sobras deve ser justo e atraente, de modo a fazer com que pessoas competentes associem-se à cooperativa. PROUT advoga a premiação de trabalhadores por seu desempenho, de acordo com suas qualificações e contribuições, mas isso dentro de uma renda mínima e máxima. Numa economia baseada em PROUT, a proporção entre a renda mais baixa e a mais alta será determinada de acordo com o tempo e o lugar, mas a diferença diminuirá naturalmente na medida em que o padrão de vida aumentar. Os prêmios podem também ser oferecidos de outras formas, de modo a estimular a produtividade e aumentar a satisfação do trabalhador, como, por exemplo, melhores equipamentos, educação e treinamento, designação de outros trabalhadores para ajudar num determinado setor, bem como a concessão de viagens a serviço.
As cooperativas de PROUT serão estruturadas de acordo com o modelo de Mondragón relativo à propriedade coletiva, que proporciona equilíbrio nos incentivos. O inovador sistema de "contas internas de capital" em Mondragón permite que os ganhos e as perdas no patrimônio líquido da cooperativa sejam conduzidos para as contas dos trabalhadores. A cooperativa restringe a retirada indiscriminada de seus saldos pelos trabalhadores, para que possa utilizar os ativos como reinvestimento na cooperativa. Anualmente os juros são pagos. Os saldos da conta de cada membro são pagos em um período de tempo determinado (por exemplo, cinco anos), ou quando o empregado deixa a cooperativa.
Maleny é uma pequena cidade com 7000 habitantes, situada ao norte de Brisbane, em Sunshine Coast, Austrália. Lá funcionam dezessete cooperativas prósperas, interligando cada aspecto da vida comunitária. Entre os empreendimentos cooperativos incluem-se: um banco, uma cooperativa de alimentos, um clube, uma cooperativa de trabalhadores, uma cooperativa de trocas (sem o uso da moeda corrente), uma estação de rádio, um clube de cinema, quatro cooperativas de proteção ambiental e diversas comunidades rurais.
Em 1980, um pequeno grupo de pessoas que queriam alimentos integrais, legumes e verduras cultivados por fazendeiros locais formaram a "Maple Street Food Cooperative". Hoje, ela opera um mercado de alimentos orgânicos e integrais na rua principal de Maleny, aberto sete dias por semana e com 450 membros ativos. Embora funcione como uma cooperativa para associados, vende também para o público.
A primeira prioridade da cooperativa é fornecer alimentos orgânicos. Dá preferência ao alimento produzido no local, mas se isso não for possível, obtém produtos de outras áreas da Austrália. Recusa-se a vender qualquer produto que contenha material modificado geneticamente, ou produtos de empresas que se utilizem da exploração de pessoas ou do meio ambiente. Tem como princípio que a tomada de decisões seja feita por consenso.
Manleny tem um dos sistemas mais bem sucedidos, o Sistema de Troca de Energia Humana Local (LETS). Esse é um esquema que funciona como uma cooperativa de trocas sem o uso de dinheiro, envolvendo produtos e serviços. No lugar do dinheiro, eles usam uma moeda local, abunya, assim nomeada para lembrar uma castanha nativa com esse nome. Isso permite que as pessoas com pouco ou nenhum dinheiro possam participar da economia local.
Em Maleny há quatro cooperativas ambientais. A Maleny Wastebusters é uma cooperativa comunitária de reciclagem, que acompanha as pessoas na redução, reutilização e reciclagem do seu lixo e já conta com 20 empregados. Barung Landcare é um entre centenas de grupos comunitários australianos, que administra um viveiro de plantas, fornece educação ambiental e promove a comercialização sustentável de madeira nativa. Booroobin Bush Magic administra um viveiro na floresta tropical, enquanto o Green Hills Fund trabalha para reflorestar o interior de Maleny.
O sucesso das cooperativas de Maleny foi conseguido com muita luta no decorrer das duas últimas décadas. Os proutistas de lá, em consenso com outros membros dos comitês de administração, estabeleceram as diretrizes que consideram importantes na construção de empresas cooperativas de sucesso:
Regras de ouro para iniciar uma estratégia econômica comunitária:
- Começar com pequeno porte, pessoas qualificadas e recursos da comunidade.
- Tomar como exemplo pessoas com experiência em desenvolvimento comunitário, sempre que possível.
- Certificar-se de que o empreendimento envolverá o maior número possível de pessoas.
A meta de PROUT para um novo mundo é restabelecer no ambiente o princípio pramá - equilíbrio dinâmico (explicado no Capítulo 2). Este conceito é semelhante ao que David Suzuki chama "o equilíbrio sagrado". PROUT propõe que utilizemos as dádivas da natureza de um modo equilibrado e renovável, preservando as florestas e as áreas selvagens e recuperando as áreas degradadas. A diferença entre "utilizar" e "explorar" o ambiente pode ser comparada à diferença entre "usar" e "abusar" de algo.
Sarkar pediu uma "revolução agrária" e considerou a agricultura como o setor mais importante da economia. Ele enfatizou que toda região deveria se esforçar para produzir o alimento necessário para a sua população. Esta simples idéia de seguridade alimentar regional é radicalmente diferente da proposta da agricultura empresarial de hoje. Os alimentos nos EUA viajam em média 3000 quilômetros até chegar ao prato do consumidor! A cada ano, o Brasil importa o equivalente a US$ 5 bilhões em alimentos, ocasionando uma terrível perda de divisas para a nação.
PROUT afirma que as práticas de cultivo devem ser sustentáveis, para preservar o futuro do planeta. Estas técnicas incluem a agricultura orgânica, a agricultura biológica, a permacultura, o gerenciamento integrado, o controle natural de pragas, a compostagem, a rotação de culturas e o sistema de plantio consorciado.
Além da questão da segurança no fornecimento de alimentos para uma região, os seres humanos precisam manter uma ligação com a natureza. Quando muitas pessoas são afastadas da terra e da experiência de viver e trabalhar em contato com a natureza, é comum ocorrerem deslocamentos de pessoas e alienação coletiva. Tanto os povos indígenas, como os ecopsicólogos, indicam que muitos dos males e das doenças da sociedade estadunidense são causados por esse distanciamento em relação à Mãe Terra. Sarkar advertiu: "As prejudiciais consequências internas da superindustrialização não afetam somente a saúde pessoal, social e nacional da população; elas também precipitam a gradual degeneração psíquica, individual e coletiva".
Nos países desenvolvidos do mundo, há uma demanda crescente por alimentos orgânicos, e os fazendeiros locais não conseguem supri-los. Surpreendentemente, em muitos países tropicais subdesenvolvidos, mesmo em áreas rurais, as pessoas costumam reclamar que as frutas e os legumes são muito caros, porque não são cultivados na localidade. As cooperativas agrícolas, tanto em países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos, podem ajudar a resolver esses problemas, oferecendo treinamento, apoio, melhores condições para um trabalho eficiente e auxílio ao desempregado.
Há crescente iniciativas comunitárias em vários países: nos EUA chama-se de "Comunidade da Agricultura Sustentável" (cuja sigla em inglês é CSA); e no Japão, de "Encarando a Agricultura". São iniciativas de consumidores que se unem com fazendeiros para produzir alimentos orgânicos localmente. A cada primavera, consumidores fazem o pagamento adiantado de uma parte de suas futuras despesas, para ajudar o fazendeiro com os custos de produção, evitando assim a tomada de empréstimos bancários com juros altos. Em troca deste investimento, eles recebem uma cesta semanal de produtos frescos ao longo do período da produção. As CSA apoiam a agricultura local auto-sustentável e também encorajam os consumidores da cidade a visitarem e a ajudarem durante o período da colheita. Existem hoje centenas destes tipos de fazendas; este é um exemplo maravilhoso do benefício econômico mútuo de cooperativas de produtores que vendem a cooperativas de consumidores.
Gradualmente essa bio-pirataria está começando a mudar. O étno-botânico Mark J. Plotkin passou anos vivendo com os índios de Tiriós, no Sul do Suriname, e com outras tribos amazônicas, aprendendo sobre suas plantas medicinais. Depois ele ajudou na organização da Shaman Pharmaceuticals, que reserva uma porcentagem de todos os lucros para o Healing Forest Conservancy - uma organização sem fins lucrativos para ajudar os índios. Plotkin também traduziu suas pesquisas para o idioma Tirió e as publicou com o nome "Manual Tirió das Plantas Medicinais" - antes disto, o povo só tinha um livro escrito no seu próprio idioma: a Bíblia. O trabalho dele também inspirou alguns jovens da tribo, que se tornaram estudantes, tendo como professor o último xamã sobrevivente da tribo.
Todos os choques, todas as dúvidas e toda a violência que abalam a sociedade humana resultam de um só defeito: intelectos desvirtuados, ou seja, os intelectos sem conexão com a Benevolência Suprema, que não podem seguir o caminho da virtude ...
A menos que haja uma mudança na mente humana, nenhuma solução permanente para qualquer problema poderá ser encontrada. Através de pressões circunstanciais, podemos disciplinar as pessoas imorais, os exploradores e os elementos anti-sociais, mas esta não seria uma solução permanente. Simultaneamente ao esforço coletivo para atingir esse objetivo, teremos que nos esforçar para fazer brotar pensamentos benevolentes na mente humana, de forma que as pessoas sejam encorajadas a seguir o caminho da retidão, integrando seu intelecto com o espírito de benevolência. Caso utilizemos somente um desses métodos, não será suficiente. Ambos são necessários: um é temporário; e o outro, permanente. - P.R.Sarkar