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Capítulo 8
Alguns Tipos de Engramas


Dianética:
A Ciência da Saúde Mental

Livro Três
A Terapia

L. Ron Hubbard
Ponte para liberdade dos engramas da mente reativa
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Alguns Tipos de Engramas
    8.1  Engrama contra-sobrevivência
    8.2  Engrama pró-sobrevivência
    8.3  Engrama de compaixão
    8.4  Engrama de emoção dolorosa

     São dados dois exemplos de cada tipo de engrama, para que o auditor possa compreender claramente as suas diferenças.

8.1  Engrama contra-sobrevivência

     Este é qualquer tipo de engrama que se atravessa nas dinâmicas e que não tem nenhum alinhamento com o propósito.

     Uma luta entre a mãe e o pai, pouco depois da concepção. O pai atinge a mãe no estômago. Ela grita (os primeiros perceptos são a dor, a pressão, o som do golpe e o grito) e ele diz: "Que Deus te amaldiçoe, eu odeio-te! Tu não prestas. Vou-te matar!" A mãe diz: "Por favor, não me batas mais. Por favor. Estou ferida. Estou ferida. Estou aflita com dores!" O pai diz: "Fica aí e apodrece, maldita! Adeus!"

     Neste engrama, nós temos uma situação severamente aberrativa: primeiro porque ocorre bastante cedo; segundo, porque o seu conteúdo diz que a pessoa que o possui está ferida e aflita; terceiro, porque contêm um segurador e, portanto, tem uma tendência para se tornar crônico ("Fica aí"); quarto, porque pode produzir doença ("e apodrece"); quinto, porque tem uma conotação religiosa a respeito de Deus e ser amaldiçoado; sexto, porque dá ao indivíduo um sentimento de que as outras pessoas não prestam ("tu" normalmente aplica-se a outras pessoas); sétimo, porque pelo conteúdo, este tem um tom emocional de hostilidade ("eu odeio-te"); e oitavo, porque o indivíduo, após o nascimento, tem de viver com estas pessoas restimuladoras: o seu pai e a sua mãe. Isto tem outros efeitos adicionais, dando ao indivíduo, como todos os engramas, duas valências adicionais e desnecessárias, uma das quais, a da mãe, é uma valência covarde e a outra, a do pai, é uma valência ameaçadora. O indivíduo poderá dramatizar isto de diversos modos: se não o dramatiza, ele sente a dor (pois nesse caso estará na sua própria valência) sempre que o engrama seja restimulado; se dramatiza a mãe, ele sentirá a dor que ela recebeu com a pancada no estômago (enquanto que a sua própria dor é na cabeça e no coração); se dramatiza o pai, ele terá problemas com a sociedade, já para não falar da sua própria mulher e filhos. Não há nada a ganhar com qualquer engrama de qualquer espécie, mas enquanto uma pessoa tem engramas, alguns tipos, particularmente o engrama de compaixão, servem para manter os engramas antagônicos afastados.

     O segundo exemplo de contra-sobrevivência é um engrama de enjoo matinal, no qual a mãe está a vomitar com tanta força, que há uma severa compressão da criança que a põe "inconsciente". A mãe está a vomitar, arquejando e dizendo para si própria, entre os espasmos: "Oh! Porque é que eu nasci? Sabia que não devia tê-lo deixado vir-se dentro de mim. Eu sabia, eu sabia. Era um erro, mas mesmo assim ele tinha de fazê-lo. Ai! Que horror! O sexo é nojento. É terrível. Odeio o sexo. Odeio os homens. Odeio-os. Oh! Ai, isto não vem para cima, isto não vem para cima. Estou tão mal do estômago e isto não sai."

     Neste engrama, temos algo que uma mulher poderá dramatizar se estiver grávida, mas que um homem jamais poderia dramatizar como gravidez, exceto ao ficar enjoado do estômago. Muitos dos enjoos matinais parecem ser uma aberração que provém de engramas: algures lá atrás no tempo, alguma mãe poderá ter vomitado por ter comido comida estragada e foi aí que tudo começou, talvez no tempo em que o ser humano ainda andava nas árvores. Agora note que a mãe está a vomitar, que o conteúdo do seu estômago está a ser regurgitado; no entanto, o engrama diz que isto não vem para cima. Quando isto é dramatizado, com o indivíduo na sua própria valência, ele experimenta pressão em cima de si e "inconsciência" e, consequentemente, tal dramatização é impossível; quando isto é dramatizado, tem de ser dramatizado como a mãe, mas a ação não é dramatizada tanto como o comando e surge uma condição em que o indivíduo com tal engrama, quando enjoado, não pode vomitar. O comando do engrama é mais importante do que as ações que as pessoas fazem dentro deste. Num nível reativo não há qualquer racionalidade. Se isto fosse em um nível consciente, no qual não seria aberrativo, é claro que a ação poderia ser imitada e de fato conteria vômito, visto que no nível consciente a ação é mais importante do que o conteúdo verbal.

     Em terapia, quando encontramos este engrama, poderemos ter dificuldade em entrar nele, pois este diz que: "Não o devia ter deixado vir-se dentro de mim", o que é um negador. Encontramos também o "Isto não vem para cima", um segurador. O engrama irá com toda a certeza levantar-se assim que estas palavras e o somático se levantarem, e estas palavras já não possam interromper o engrama. Se o engrama não se levanta, é porque há um engrama prévio com um conteúdo muito semelhante (o aberrado tem um padrão de dramatização que ele repete, vez após vez, após vez, apresentando às pessoas que o rodeiam muitos incidentes que são mais ou menos iguais, com a excepção do seu ponto no tempo). Isto poderia ser restimulado no ambiente (mas não na terapia) até um ponto em que causasse loucura, pois "isto" também poderá referir-se à criança que, identificando-se com a palavra "isto", depois não consegue subir para tempo presente. Em terapia, o poder do engrama é esgotado até certo ponto, só por ser tocado com a mente analítica retornada; além disso, o auditor descobre que o paciente não se está a mover na linha do tempo e uma exploração da situação depressa encontra um segurador, pois o paciente, mais cedo ou mais tarde, dirá que "não pode vir para cima", mesmo que o auditor não o tenha adivinhado.

     Na esfera aberrativa, este engrama provavelmente colocaria um bloqueio pesado em toda a Segunda Dinâmica e a pessoa, em cuja mente reativa isto estivesse, seria frígida, afetada e áspera com crianças (todas estas coisas podem juntar-se em várias combinações). Além disso, encontraríamos uma apreensão de que "ele" teria de fazer alguma coisa quando verificasse que algo era um erro. Na esfera psicossomática, isto poderá causar dores de cabeça durante ou por causa do coito, ou uma tendência para ficar enjoado sempre que praticasse o coito. Qualquer uma das frases deste engrama, como quaisquer outras frases em qualquer outro engrama, tenderia a dar-lhe o somático e a aberração, desde que o indivíduo estivesse em um estado de baixo poder analítico, como sucede no cansaço ou doença ligeira. Assim, este fica à espera até que alguém diga, durante um período futuro de "inconsciência", de preferência numa voz parecida com a da mãe quando esta soava através das paredes do abdômen e do útero: "Ai! Que nojento!", ou alguma outra frase que lhe fizesse key-in. "Nojice", por acaso, não lhe faria key-in. "Aí", apesar de ser semelhante a "Ai", não lhe faria key-in. Mas o barulho do vômito provavelmente far-lhe-ia key-in.

8.2  Engrama pró-sobrevivência

     Este poderia ser qualquer engrama que, só pelo conteúdo, não por qualquer auxílio real que este dê ao indivíduo que o tenha, fingisse contribuir para a sobrevivência.

     Tomemos um engrama de coito: a mãe e o pai estão a realizar o ato sexual que, pela pressão, é doloroso para o nascituro e deixa-o "inconsciente" (isto é uma ocorrência comum, como o enjoo matinal, que normalmente está presente em qualquer banco de engramas). A mãe está dizer: "Oh! Não posso viver sem isto. É maravilhoso! É maravilhoso! Oh! Como é bom. Oh! Faz isso outra vez!" E o pai está a dizer: "Vem-te! Vem-te! Oh! Tu és tão boa! Tu és tão maravilhosa! Ahhhh!" O orgasmo da mãe dá o toque final na "inconsciência" da criança. A mãe diz: "É tão bonito". O pai, que agora acabou, diz: "Levanta-te", o que significa que ela deve fazer uma irrigação (eles não sabem que ela está grávida) e então começa a ressonar.

     Este é obviamente um incidente valioso, porque a pessoa "não pode viver sem isto". Além do mais, este "é tão bonito". E também "é maravilhoso". Mas também é extremamente doloroso. Este incidente não pode ser seguido porque começa por ter uma coisa que chama de volta parte da mente, "Vem-te!" e depois, mais tarde diz-lhe "Levanta-te". Coisas que são "bonitas" e "maravilhosas" podem causar um orgasmo à nossa paciente, fora da terapia, quando ela olha para coisas bonitas e maravilhosas, desde que tenham sido rotuladas como tal.

     A dramatização disto pode ser feita na valência do pai ou da mãe: dramatizá-lo na sua própria valência significaria dor física. Assim, o indivíduo que tem este incidente modificado apenas pelos outros engramas de coito que ele tem, encontrar-se-á como o pai, enojado após o ato e a dizer à sua parceira para "Levantar-se". A emoção está contida na maneira como a palavra "Levanta-te" foi proferida: isto é uma emoção transmitida pelos tons de voz, não pelo conteúdo verbal: os engramas contêm sempre ambas as coisas.

     Na terapia, nós verificamos que a mente reativa está a ser muito cautelosa quanto a deixar que este engrama apareça à vista porque, afinal de contas, a pessoa "não pode viver sem isto". Há classes inteiras destas frases de avaliações favorável nos engramas e sempre que esbarra com uma, o auditor encontrará a mente reativa do preclear a resistir-lhe. "Não quero perder-te", "Segura-te a isto", "Não posso largar isto, senão caio" e assim por diante. Mas isto é, afinal de contas, simplesmente outro engrama e é aberrativo, quer seja "agradável" ou não.

     Os impulsos masoquistas e sádicos provêm, frequentemente, de engramas de coito que contêm essas coisas específicas. Mas o auditor não deve supor que, só porque este coito é doloroso para a criança, isso fará dela um masoquista ou um sádico. Se há masoquismo ou sadismo no paciente, este é causado por engramas que contêm violações, bater para obter satisfação sexual, desfrute da dor, etc., e por engramas que, homonimicamente, parecem declarar que o sexo e a dor são semelhantes, tal como um coito "normal" que diz: "É tão bom que até dói! Magoa-me outra vez, Pedro. Magoa-me outra vez! Oh! Enfia-o dentro de mim, até acima! Faz doer para que eu me possa vir." Dramatizado por um rapaz, isto poderá muito bem dar origem a sodomia, porque o engrama não é uma ação observada, mas uma série de comandos tomados literalmente.

     Assim, o engrama de coito pró-sobrevivência, como o primeiro exemplo que demos aqui, é relativamente inocente no padrão aberrativo de uma pessoa. Porém, por um acaso de palavras, este poderia ser muito diferente no seu efeito aberrativo.

     O segundo exemplo de pró-sobrevivência refere-se a outro engrama pré-natal. (Um auditor comentou, enquanto estava a ser clareado: "Eu tinha pensado que a minha vida, antes de Dianética, era um gráfico de anos em que o tempo que ia da concepção ao nascimento ocupava a quinquagésima parte da distância linear entre a concepção e o tempo presente, mas agora penso no período pré-natal como ocupando dois terços da distância entre o princípio e o agora." A área pré-natal, depois de clareada, voltou a ser a quinquagésima parte.)

     A mãe, sujeita a tensão arterial alta, provocava continuamente uma condição de grande dor no nascituro, particularmente quando ela estava agitada. (Esta é a principal fonte da enxaqueca.) Desconhece-se aquilo que a deixou agitada ao ponto de ter a tensão arterial alta no momento em que este engrama foi recebido - e muito do "enredo" da vida pré-natal poderá permanecer desconhecido, pois os dados explicativos poderão vir antes da dor e do engrama, e uma gravação completa só ocorre após o instante de dor, quando surge algum grau de "inconsciência". A mãe, no começo do engrama, quando a tensão começou a subir e a fazer pressão no nascituro, estava a chorar. Estava sozinha. "Oh! Como é que eu vou alguma vez conseguir sair disto? Parece-me tudo tão sombrio e sem cor. Oh! Por que é que eu fui começar isto; é-me impossível levar isto até ao fim. Mas tenho de conseguir, tenho de conseguir. Ficaria doente se não conseguisse. Oh, Senhor, acontece-me tudo ao mesmo tempo. Estou totalmente aprisionada. Mas agora vou com isto até ao fim, vou sentir-me melhor. Vou ter coragem e conseguir. Tenho de ter coragem. Sou corajosa. Eu sou a pessoa mais corajosa do mundo. Tenho de ser e sou." A tensão baixou.

     O que isto era exatamente permanecerá um mistério para o auditor que o reduziu, para o paciente que o tinha, para o autor e para o leitor: muitas vezes é isso que acontece com os engramas. Estes são concebidos em incompreensão e não são para ser compreendidos, exceto mecanicamente, e apenas apagados do banco de engramas.

     É particularmente perigoso ter este engrama, pois contêm um maníaco nas palavras: "A pessoa mais corajosa do mundo". É claro que o "Eu" normalmente é usado pelo nascituro como sendo ele próprio, quando o engrama for finalmente capaz de afetar um analisador em que existe a fala. Antes desse momento, há apenas uma gravação sem o significado das palavras, embora o engrama possa ser aberrativo, mesmo antes de as palavras receberem o seu significado. Este é ainda mais perigoso, porque diz: "Estou aprisionada" e porque diz: "Acontece-me tudo ao mesmo tempo". "Aprisionada" é o nosso inimigo, o segurador. Mas "acontece-me tudo ao mesmo tempo" é um agrupador. Além disso, o resto do conteúdo, como engrama, não é computável no analisador. Este diz que "tenho de ir com isto até ao fim", mas que "não consigo levar isto até ao fim", que "ficaria doente se não conseguisse", mas que isso "é impossível". Visto que tudo é igual a tudo, segundo computa a nossa inimiga idiota, a mente reativa, este engrama não só repele como atrai a terapia: isto cria uma condição de indecisão insuportável na mente analítica.

     O indivíduo que tem este engrama poderá encontrar-se - quando isto atua como aberração - primeiro, na porção maníaca de ser a pessoa mais corajosa do mundo e depois, regredindo um pouco devido a uma ligeira mudança de restimuladores como o agravamento da enxaqueca, encontrar-se totalmente indeciso sobre qualquer curso de ação e com a emoção transmitida, contida nas lágrimas, de estar muito deprimido. Mas isto é pró-sobrevivência, porque aparentemente impõe uma maneira de sair de uma situação. Como fator adicional - devido à sua frase acerca de "parece-me tudo tão sombrio e sem cor" - isto causa daltonismo, pelo menos na recordação, de modo que a mente "vê" as imagens recordadas do passado como não tendo cor. Se sofrer o acréscimo de suficientes dramatizações subsequentes, este engrama pode causar um daltonismo percéptico real. É bastante provável que o engrama inteiro, quando combinado com outros fatores, leve o indivíduo a ser internado em um manicômio com o seu somático completamente ligado (enxaqueca) e, devido ao agrupador, com todas as outras dores que sentiu na sua vida, igualmente ligadas. Este agrupador junta toda a linha do banco de engramas em um só lugar e depois põe o indivíduo precisamente nesse ponto.

     Em terapia, quando isto foi contatado, um caso que tinha sido classificado como "insano" veio para um estado Liberado de "normal". A paciente tinha estado internada, estava na posição fetal e tinha regredido fisicamente. O fato de que ela estava sempre a gritar essas palavras exatas, e a chorar, tinha sido anotado na sua ficha como a manifestação de uma delusão de infância. O caso foi aberto pela Técnica de Repetição, usando as palavras que ela estava sempre a gritar, depois de a sua atenção ter sido fixada no auditor através de barulho alto e monótono. Havia alguns incidentes mais antigos, que continham essas palavras, que tiveram de ser alcançados antes que o incidente em dramatização se atenuasse. Contudo, normalmente contata-se engramas como este em pessoas mais ou menos "normais", e estes são aliviados de forma rotineira. Esta paciente tinha experimentado um grau muito elevado de restimulação e tinham ocorrido vários engramas de perda graves que mantiveram o key-in do conteúdo anterior.

     Também se poderá comentar acerca de todos estes casos de "aprisionado", "apanhado", "não consigo sair disto" (ou seja, onde há alguns seguradores e também uma grande quantidade de emoção dolorosa) que certos aspectos fetais são visíveis, mesmo quando o caso é "normal". Uma pele brilhante, uma curvatura da coluna, gônadas só parcialmente desenvolvidas - todas estas coisas são comuns e um ou muitos desses sinais poderão estar presentes.

8.3  Engrama de compaixão

     O primeiro exemplo é uma doença que um paciente teve quando era um menino. Aos dois anos e meio de idade, ele ficou doente com pneumonia. Ele tinha um passado considerável de tentativas de aborto e a carga engrâmica usual recebida de pais aberrados. Ele estava extremamente preocupado com as discussões e os transtornos do seu próprio lar; muitos dos seus engramas tinham feito key-in e entre estes estava a sua pneumonia. A avó veio e levou-o para a sua casa, pois sempre que ele ficava doente a mãe ia-se embora e deixava-o. O incidente estava extremamente ocluso e só foi alcançado depois de alguns engramas de emoção dolorosa, mais recentes na vida, terem sido descarregados e depois de quase cem engramas pré-natais de dor física terem sido liberados. A avó, quando ele chorava no delírio, interpretou a sua atividade como uma prova de que ele estava "consciente", o que não era verdade, e procurou chamá-lo à razão. Ela disse: "Essas pessoas não querem realmente ser tão más para ti, querido. Sei que elas na verdade têm um bom coração. Simplesmente faz o que elas te mandam, acredita no que elas te dizem e ficarás bem. Agora promete-me que farás isso, querido." A criança, nas últimas profundidades da reação, respondeu e prometeu que acreditaria nelas e faria o que lhe dissessem. "Eu amo-te muito", continuou a avó, "e tomarei conta de ti. Agora, não te preocupes, querido. Esquece isso agora. Apenas descansa um pouco."

     As frases contidas neste engrama, por estarem em um nível de transe e por poderem ser mantidas no lugar pela sua febre e dor, produziram um efeito muito profundo no miúdo. Ele tinha de acreditar em tudo o que lhe dissessem. Isto significa uma crença literal e custou-lhe, entre outras coisas, muito do seu sentido de humor. Por querer estar bem, ele tinha de acreditar naquilo que os pais diziam; as coisas que eles tinham dito, no período pré-natal, continham toda a espécie possível de dados negativos a respeito de quem mandava, de como era divertido bater na mãe e por aí fora. Tudo isto foi, então, transformado em "dados verdadeiros", nos quais ele tinha de acreditar, porque o seu engrama de compaixão assim o dizia. Não é possível rogar uma praga pior a alguém do que aquelas dos engramas de compaixão que dizem: "Acredita no que te dizem", "Acredita no que lês", "Acredita nas pessoas", porque esse engrama significa, literalmente, que o coitado do analisador nunca mais será capaz de avaliar os seus próprios dados daí em diante, a menos que, por meio de uma rebelião total, o indivíduo se volte contra o mundo inteiro, o que ocasionalmente pode ser feito. No entanto, deixe que o indivíduo se case, como este fez, com uma mulher que tenha características semelhantes às da sua avó (uma pseudo-avó) e ele torna-se vítima de: (a) a dor e doença crônicas que experimentou nos engramas de compaixão da avó (necessárias para conseguir e manter a compaixão dela); e (b) todos os seus pré-natais, visto que a pseudo-avó atira-o para a sua própria valência. Isto fá-lo discutir, o que faz a sua mulher ripostar e, subitamente, esta mulher não é a pseudo-avó, mas a pseudomãe. Lá se vai a sanidade.

     Em terapia, quando finalmente encontramos este engrama de compaixão, verificou-se que este permaneceu enterrado de duas maneiras;

  1. Este estava alinhado com o propósito.
  2. Este continha um mecanismo esquecedor.

     Por causa de (1), a autoproteção da mente só lhe permitiu entregar o engrama depois de se ter retirado tensão suficiente do caso, para permitir que a mente passasse sem este engrama.

     Em (2), temos um dispositivo que é comum nos engramas. Sempre que tentamos percorrer um engrama que tem somáticos suficientes, até mesmo para fazer o preclear rebolar-se no divã, mas que não tem conteúdo verbal, nós suspeitamos de um mecanismo esquecedor. Existem, evidentemente, pessoas neste mundo que pensam que o esquecimento é a panaceia para todo o desconforto mental. "Tira isso da cabeça", "Se eu me lembrasse disso ficaria maluco", "Filho, tu nunca te lembras de nada do que eu te digo", "Ninguém se pode lembrar de nada", "Não me consigo lembrar" e o simples "Eu não sei", assim como o mestre de toda essa família de frases, "Esquece isso!" são todas frases que barram a informação ao analisador. Um caso inteiro, recém-aberto, poderá estar sempre a responder a tudo com um desses negadores (há muitos outros tipos de negadores, como se deve recordar). A Técnica de Repetição acabará por começar a liberar a frase de vários engramas e começará a apresentar incidentes. Ter uma avó que diz: "Esquece isso!" continuamente, todas as vezes que uma criança se magoa, é ser mais amaldiçoado do que Macbeth. Um esquecedor, usado por um aliado, irá, por si só e sem praticamente qualquer dor ou emoção presente, submergir dados que, ao serem recordados não seriam aberrativos, mas que enterrados deste modo - por um esquecedor - tornam as coisas ditas, logo antes deste, aberrativas e literais.

     Foi por esta razão que este engrama permaneceu totalmente escondido até o caso estar quase terminado e assim que este foi contatado, o banco reativo, já desintensificado, desmoronou-se e o paciente foi Clareado.

     O segundo exemplo do engrama de compaixão tem a ver com uma experiência de infância de um paciente que, no começo da terapia, era um indivíduo notavelmente confuso. Eis um exemplo de um engrama de compaixão que não é invulgar. (Não será o principal em qualquer computação de aliado, mas por ser frequentemente repetido no mesmo caso, este torna-se aberrativo.) Este incidente ocorreu quando a criança foi gravemente ferida em um acidente. Teve uma fratura no crânio e uma concussão, ficando muitos dias em coma. O paciente nunca soubera que este incidente lhe havia acontecido, embora um exame posterior revelasse a evidência da fratura. Este exame também revelou que ele, conquanto soubesse que tinha um sulco no crânio, nunca se tinha interrogado acerca disso, nem por um instante. O pai e a mãe estavam, na altura, à beira do divórcio e, na presença da criança que estava só parcialmente consciente, discutiram várias vezes nesses poucos dias, evidentemente transtornados pelo acidente e acusando-se mutuamente sobre quem teve a culpa. A primeira parte da série de engramas incluídos neste grande engrama não é importante como exemplo, exceto na medida em que ocasionou uma condição em que a mãe se apresentou como uma defensora da criança, que nem sequer estava a ser atacada pelo pai. A conversa da mãe indicava aberrativamente que o pai estava a atacar a criança (e são as palavras contidas em um engrama, mais do que a ação, que importam como fatores aberrativos). Finalmente, o pai foi-se embora e saiu de casa. A mãe sentou-se ao lado da cama do menino e, chorando, disse-lhe que não o deixaria morrer, que "trabalharia como uma escrava e gastaria os dedos até aos ossos" para mantê-lo vivo e: "Eu sou a única razão por tu estares vivo. Defendi-te contra aquela besta, aquele monstro. Se não fosse por mim, tu terias morrido há muito tempo e eu vou cuidar de ti e proteger-te. Por isso, não prestes atenção a nada do que as pessoas te digam. Sou uma boa mãe. Tenho sido sempre uma boa mãe. Não os escutes. Por favor, querido, fica aqui e fica bom, por favor!"

     Tantos disparates saíram, sem dúvida, diretamente da mente reativa dela. Não se sentia culpada pelo modo como estava a cuidar do bebê embora, ciclicamente, tivesse feito coisas terríveis a esta criança desde a concepção. (Não existe tal coisa como culpa, ou um complexo de culpa, que não saia diretamente de um engrama que diga: "Sou culpado" ou alguma frase semelhante.)

     Aqui está a ambivalência em ação. Por ambivalência queremos dizer poder em dois lados. Seria melhor chamar-lhe multivalência, pois pode-se demonstrar que as pessoas têm muitas valências e não é invulgar que um "normal" tenha vinte ou trinta. Esta mãe, com as suas súplicas loucas e sentimentalismo piegas, trocava de valências como um dervixe rodopiante. Ela foi capaz de ser tremendamente cruel, torturando o seu filho, conforme se diz na Marinha, com "castigos caprichosos e invulgares", embora uma dessas valências, que infelizmente para o paciente só aparecia quando ele estava doente, protegesse a criança ferozmente e lhe assegurasse que a amava e que nunca a deixaria morrer de fome, etc. A mãe formou neste miúdo, devido ao seu próprio padrão reativo e às suas incapacidades, perto de mil engramas antes de ele ter dez anos de idade. Este exemplo particular era bastante normal.

     O aspecto aberrativo deste engrama era uma "convicção" de que, se a mãe não estivesse por perto e se ele não estivesse de boas relações com ela, ele passaria fome, morreria ou sofreria de um modo geral. Significava também, por causa do momento em que foi dado, ter uma forte dor de cabeça se ele quisesse viver. A série inteira desses engramas criou um padrão altamente complexo de doenças psicossomáticas, incluindo sinusite, uma erupção crônica, alergias e numerosas doenças físicas reais, apesar de o paciente ter sempre tentado ser tão reto quanto possível relativamente ao seu ser físico e não ser de modo algum um hipocondríaco.

     Em terapia, a cadeia inteira de lutas nesta área, grande parte da área pré-natal e a maioria dos engramas de emoção dolorosa que surgiram mais tarde na vida foram aliviados antes que este engrama de compaixão se manifestasse.

     Como uma nota sobre o assunto de engramas de compaixão, acrescenta-se que estes não se encontram exclusivamente na infância: existem antes e depois do nascimento, e às vezes bastante tarde na vida. Qualquer pessoa que defenda a criança contra mais tentativas de aborto torna-se parte das cadeias de engramas de compaixão e, logicamente, é um aliado cuja perda é algo a temer. Engramas de compaixão tardios foram descobertos na idade de cinquenta anos. Um, descoberto aos trinta anos, consistia numa enfermeira ninfomaníaca que, durante o período em que o paciente estava ainda sob o efeito do éter e ainda com dor, falou com ele obscenamente, brincou com os seus órgãos genitais e ainda conseguiu, pelo conteúdo dos seus comentários, plantar um engrama de compaixão que produziu uma condição psíquica muito séria no paciente. (Não é de modo algum verdade que existam muitos casos de brincadeira sexual enquanto o paciente está sob anestesia ou narcotizado, mas só por isto ser uma reação psicótica típica da delusão, não é razão para excluir a possibilidade de o incidente ocorrer ocasionalmente.)

     O engrama de compaixão só tem de soar como um engrama de compaixão para que se torne num: a mente reativa não faz qualquer avaliação da intenção real.

8.4  Engrama de emoção dolorosa

     Seguem-se três exemplos para ilustrar um tipo de cada. Estes podem acontecer em qualquer período, inclusive no pré-natal, mas são mais fáceis de tocar na vida mais recente, onde depois conduzirão a incidentes mais antigos de dor física, engramas de compaixão e outros.

     O primeiro exemplo é um caso de perda por morte de um aliado. Uma rapariga, na idade de dezoito anos, recebeu um engrama de emoção dolorosa quando os pais lhe disseram que a sua tia tinha morrido. A tia era um aliado principal. A paciente, tratada quando tinha trinta e um anos, recordou a morte da tia, mas atribuiu a sua tristeza a outras coisas, tais como uma restimulação daquilo a que chamava o seu próprio "instinto de morte" (que, na realidade, era conversa engrâmica da mãe sobre desejar morrer e acabar com tudo). De fato, a tia tinha sido um grande fator em dissuadir a mãe de "livrar-se" da criança e tinha feito a mãe prometer que não o faria. A tia também tinha cuidado da criança, após o nascimento, no decurso de doenças e era, de fato, o único refúgio da menina quando uma mãe megera e um pai religiosamente fanático investiam contra ela, pois nenhum deles a tinha desejado e tinha havido alguns esforços para pôr fim à gravidez antes do tempo.

     O pai transmitiu a informação à rapariga, com uma voz sonora e ar apropriadamente grave. "Quero que tu sejas muito respeitadora no funeral, Ágata." ("Qual funeral?") "A tua tia acaba de passar para o mundo do além." ("Ela morreu?") "Sim, a morte vem para todos nós e precisamos de estar preparados para algum dia encarar o destino que espera por nós no fim da estrada, pois a vida é um longo caminho e Deus e o Inferno em chamas esperam no outro extremo e algum dia todos temos de morrer. Não te esqueças de ser muito respeitadora no funeral." Ela tinha começado a empalidecer com a palavra "funeral", para todos os efeitos ela estava "inconsciente" quando ouviu a primeira menção da palavra "morte" e permaneceu "inconsciente", apesar de andar de um lado para o outro, durante dois dias inteiros. O caso foi muito lento, até que este engrama foi descoberto e percorrido. Ocorreu uma enorme descarga de pesar, que nunca antes se tinha manifestado. Esta foi reduzida até ao tom de aborrecimento com oito recontagens, nas quais o primeiro momento da intervenção da tia nas tentativas de aborto foi automaticamente contatado e liberado. A partir daí, o caso progrediu na área pré-natal, tendo a proibição de "livrar-se disso" sido removida e, havendo unidades de vida disponíveis, de acordo com a teoria, a carga saiu da área pré-natal. Havia outros cinco aliados neste caso; pois a rapariga (com pais que tinham sido tão maldosos para ela) tinha-se ligado a qualquer pessoa que mostrasse interesse por ela e lhe desse refúgio. À medida que a dor física mais profunda vinha ao de cima, apareceriam mais aliados e foram descarregados mais engramas de emoção dolorosa, permitindo que novos engramas de dor física se manifestassem.

     O exemplo seguinte é um engrama de um paciente que tinha sido criado e cuidado, durante toda a vida, por "pais endinheirados". Ele tinha uma área pré-natal muito severa que, no entanto, não aparecia. Foi descoberto, após muito tempo, que as suas amas tinham sido a única fonte de amor e afeição, e que a mãe, sendo uma mulher que gostava de destabilizar a vida doméstica tão frequentemente quanto possível, despedia uma ama todas as vezes que verificava que a criança se tinha afeiçoado a ela, embora a própria mãe tornasse claro que ela considerava a criança "horrível".

     O engrama: o menino vê a ama a sair da casa com a mala na mão. Ele para de brincar no pátio e corre para ela para "a assustar". Ela - uma rapariga irlandesa - está muito zangada por causa da cena que acaba de ter e, no entanto, suaviza a expressão e ajoelha-se ao lado dele. "Vou-me embora, Bruno. Já não posso mais ficar aqui. Não, agora já não posso ser a tua ama. Mas pronto, pronto, depois vais ter outra. Não chores. Não é bom que os meninos chorem. Adeus, Bruno. Eu amo-te." E ela vai-se embora e desaparece.

     Ele ficou aturdido logo a partir do primeiro momento em que ela disse que se ia embora. A proibição de chorar veio de um aliado. Aquilo que um aliado diz deve ser bom e acreditado, pois os aliados são sobrevivência e é preciso sobreviver, portanto, deve-se acreditar nos aliados. Ele não chorou, exceto em raras ocasiões de enorme tristeza, durante todos os anos seguintes. Oito destas partidas foram tocadas sem resultado, mas com esta, todas se soltaram e descarregaram, uma após a outra.

     Qualquer partida de um aliado ou qualquer afastamento da pessoa de um aliado contêm uma carga emocional que, se não se manifestar, está suprimida noutro lugar.

     O terceiro exemplo do engrama de emoção dolorosa é o terceiro tipo, a perda de um aliado por inversão. Uma esposa amava muito o seu marido. Tinham-se dado bem juntos, até que os pais dele vieram para a vizinhança e começaram a maldizer a esposa. Ele ficou furioso e zangou-se com eles. A mulher era um pseudo-aliado e, infelizmente, esse aliado tinha dito à criança que acreditasse nos seus pais. (Isto é bastante crônico com os aliados: se dessem à criança dados corretos, quando ela estava emocionalmente perturbada ou doente, haveria menos dificuldades. Um comentário como: "Bem, tu um dia crescerás e serás capaz de cuidar de ti próprio" é muito melhor do que um monte de lugares-comuns Emersonianos.) Isto ocasionou uma inversão trágica. A mente reativa, restimulada pela visão da mulher (o marido estava emocionalmente perturbado e já estava muito restimulado pelos pais), introduziu o dado de que se deve acreditar nos pais. Isto fez com que a esposa não prestasse, de acordo com a sua conversa aberrativa. Ele entrou na valência do pai para fugir a esta situação imponderável e essa valência batia nas mulheres. Ele bateu na mulher repetidamente, dramatizando um dos engramas do pai: "Eu odeio-te. Tu não prestas. Eu devia ter-lhes dado ouvidos mais cedo. Tu não prestas."

     A mulher estava em terapia. Esta carga reprimia-se, não por vergonha das ações do marido, mas pela razão mecânica de que a área antiga tinha de ser aliviada, antes que esta pudesse ser descarregada (arquivista esperto). O seu caso tinha abrandado até um ponto em que a área parecia inteiramente limpa, embora ainda se manifestassem somáticos (que ela atribuía a causas naturais) e aberrações (que ela dizia serem reações razoáveis). Subitamente, este incidente apareceu, quando se usou a Técnica de Repetição com um palpite do auditor: "Eu odeio-te", pois sabia-se que ela dizia isso, uma vez por outra, ao marido. Três recontagens descarregaram essa emoção dolorosa, apesar da sua violência (isto fê-la chorar quase até sufocar). Apareceram imediatamente doze pré-natais, todos de lutas entre a mãe e o pai dela (um aliado, do qual o marido era um pseudo-aliado), em que a mãe batia no abdômen e amaldiçoava a criança, estes foram apagados e o caso progrediu até Clear.

     A perda de cães, bonecas, dinheiro, posição, mesmo a ameaça de uma perda - qualquer coisa poderá ocasionar um engrama de emoção dolorosa, contanto que seja uma perda. Poderá ser perda por morte, perda por partida, perda por inversão. Qualquer coisa ligada com a vida do paciente e associada por ele à sua própria sobrevivência, quando perdida, parece ser capaz de aprisionar unidades de vida. Uma condição necessária para essa emoção dolorosa é que esta tenha engramas de dor física anteriores aos quais se prender. O engrama fisicamente doloroso ainda é o vilão, mas este tem um cúmplice no engrama de emoção dolorosa.