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A qualidade é tomada: 1) como diferença essencial, que é chamada a qualidade do gênero; 2) como um accidente qualquer; 3) estrictamente como algo especial de algum accidente, que responde à pergunta qualis?, endereçada à substância, e que convém absolutamente à substância distinguida e determinada esta. Separa-se da quantidade, que também convém absolutamente à substância, que, contudo, não a distingue nem a determina.
São Tomás define como o accidente modificativo ou determinativo da substância em si-mesma, e que se distingue dos outros accidentes, porque êstes não determinam absolutamente em si mesmo a substância, mas em ordem a outro têrmo, como a relação, ou em ordem de adjacentes extrínsecos, como se vê em outros predicamentos. Tomada estritamente, a qualidade, enquanto gênero supremo, divide-se em quatro espécies, que são: hábito e disposição, potência e impotência, paixão e qualidade de sofrer, forma e figura.
A qualidade determina a substância em seu ser ou como quanta.
Como quanta, determina a posição das partes da substância, é forma e figura. Se determina a substância no seu próprio ser, determina em si mesma, pelo qual ela é constituída como hábito e exposição, ou em ordem à sua actividade e passividade, pelo qual é constituída em potência e impotência, etc.
O têrmo habitus predica-se da coisa não enquanto esta tem algo, porque isso é o que constitui pròpriamente o predicamento hábito, mas enquanto a coisa se há (habet) em si-mesma, ou seja como ela se há em si mesma.
A disposição é definida como o accidente fàcilmente móvel, que dispõe o sujeito a bem ou mal haver-se em si mesmo. Hábito e disposição diferem intrínseca e especìficamente, porque uma pode ser fácil e outra difícil, assim como a opinião, por sua natureza, é fácil, enquanto a ciência é difícil, e, no obstinado, a opinião pode ser dificilmente removível, enquanto a ciência, ao contrário. O hábito pode ser entitativo e operativo. Ambos determinam a substância, mas o operativo determina por ordem à actividade o hábito meramente entitativo. O hábito operativo pode ser tomado estrictamente ou não. O primeiro consiste, por modo de inclinação, a indeterminação da potência, que impede operar no bem ou no mal. A segunda consiste na acção cognoscitiva e operativa.
A potência é definida como o accidente que dispõe o sujeito a operar ou a resistir. A resistência, contudo, também é uma operação. Divide-se a potência em activa e passiva. Activa é a que realiza uma acção transeunte, que transita fora da potência do sujeito para algo. E passiva, a que permanece imanentemente. Assim se diz que a potência activa é transeunte ou transitiva, e a passiva é imanente.
A capacidade de sofrer alterações de uma qualidade a uma outra oposta, por exemplo de uma côr a outra côr, diz-se paixão, que é a capacidade de alteração, de ser alterado. Chamam-se qualidades passivas aquelas que estão sujeitas a mudanças de graus de intensidade, como as côres, os sons, o odor, o sabor, etc. Estas são imediatamente por si sensibiles, sensíveis.
As côres, como o vermelho, o azul, são distintas por diferenças próprias, já o branco e o negro são diferenças de intensidade na luz, uma o grau máximo de intensidade e a outra o mínimo de intensidade. As qualidades químicas não são sensíveis imediatamente per se, como por exemplo, a afinidade química, a densidade, a raridade.
A figura define-se como a determinação da quantidade pela qualidade e é accidental; a forma é tomada qualitativamente como a proporção devida à figura, como se observa nas coisas artificiais.
1) tem contrários. Esta propriedade convém unicamente à qualidade, mas nem todas as qualidades admitem contrários. Assim, na Física, o calor não tem contrário, embora tenha graus, pois o frio é um grau de calor.
2) Admite o mais e menos. É outra propriedade que convém à qualidade. Mas nem todas qualidades a admitem.
3) Segundo a qualidade, as coisas podem ser ditas semelhantes ou dissemelhantes.
Tomada em sentido lato, relação é a ordem de um a outro.
A relação pode ser segundo se diz (secundum dici), que é a relação no ser absoluto ou pura, e relação segundo o ser (secundum esse), que se refere a outro, como a relação de paternidade. A relação secundum esse pode ser real e de razão. É real quando se dá nas coisas da natureza independentemente da consideração da mente, como a entre pai e filho; e de razão, quando apenas subsiste no intelecto, como a relação de predicado a sujeito. A relação secundum dici chama-se transcendental, quando se refere aos predicamentos. Assim a matéria, em relação ao gênero da substância, refere-se, transcendentalmente, à forma, e a forma à matéria. A relação real secundum esse é a relação predicamental quando é accidente real, cujo ser se dá totalmente em relação a outro. Como accidente real, distingue-se da relação de razão e distingue-se da relação transcendental, porque, nesta, todo ser não se dá ante outro, como numa entidade absoluta, na qual não se inclui ordem a outro. Na verdade, a relação predicamental consiste em ser ad aliud (a outro).
A relação secundum dici é a ordem inclusa na essência da coisa absoluta. A relação secundum esse é a ordem de uma outra essência da coisa adveniente, ou seja, aquela em que todo ser se refere a outro.
A relação divide-se accidentalmente em mútua e não mútua.
A primeira é aquela que corresponde a outra relação real, como a paternidade corresponde a filiação; a não-mútua é o contrário.
Assim, a relação de ciência a seu objecto é não-mútua.
Entre as relações, podemos notar: a relação de conveniência e desconveniência, que pode ser segundo a quantidade ou a qualidade e a substância.
Segundo a substância, temos a identidade e a diversidade (distinção).
Segundo a quantidade, temos a igualdade e a desigualdade, e segundo a qualidade temos a semelhança e a dessemelhança. A distinção ou diversidade pode ser genérica ou específica ou numérica, segundo a espécie, o gênero ou o número. Nesta última, a distinção pode dar-se segundo a posição, a distância, a indistância, ou segundo a ordem de prioridade e posterioridade, etc.
A relação de causalidade é a que surge entre causa e efeito.
1) A relação não tem contrários. A razão é porque os estritamente contrários não podem estar no mesmo sujeito.
2) A relação de per si não está sujeita a mais e menos, mas apenas por accidente.
3) É relativa ou mútua (correlativa) quando uma é explicada pela outra.
Define-se a acção como o acto pelo qual uma causa eficiente é causante em acto. É a acção o exercício da causalidade eficiente. É o que diferencia as causas extrínsecas das intrínsecas. Estas causam imediatamente, enquanto as outras não, mas apenas por meio de uma realidade distinta de si mesmas.
Assim, a causa final, que é extrínseca, causa mediante a petição, e a eficiente, que é intrínseca, causa mediante a acção.
Paixão (ou capacidade de determinabilidade) é o accidente pelo qual o sujeito é constituído como acto recipiente da acção do sujeito. A paixão (passio) corresponde à acção.
A acção pode ser productiva de uma substância ou de um accidente. A primeira chama-se geração da substância; a segunda realiza apenas uma mutação na substância, é a geração do accidente.
Em sentido lato, entende-se por ubi (o onde) a presença no local. O local pode ser circunscriptivo ou extenso, ou não circunscriptivo, ou inextenso. O ubi predicamental é a presença em local circunscriptivo. O onde é o local em que é colocado o corpo no ambiente.
O lugar é o accidente que dispõe as partes no onde.
É o accidente que consiste na disposição de algo simultaneamente no tempo ou não simultâneamente, segundo o seu movimento ou a sua quietação. Daí poder-se, segundo o tempo, dizer que uma coisa é simultânea, ou tem prioridade ou posterioridade, que são divisões do tempo (instante, agora, que equivale à simultaneidade, e passado, à prioridade, e futuro, à posterioridade).
Hábito é o que imediatamente nos corpos resulta de um adjacente extrínseco, não mensurante. Quando é mensurante resulta o ubi, onde; quando não é mensurante, resulta o hábito. Assim, as vestes, que são extrínsecas ao homem, tomam o nome de hábito.
Demos essas categorias aristotélicas por serem muito usadas na Lógica clássica. Ademais, convém lembrar que elas favorecem as distinções, que decorrem nitidamente da maneira segura de considerá-las.
Chamam-se de postpredicamentos as propriedades comuns dos predicamentos.
Temos a oposição, a prioridade, a simultaneidade, a moção e o haver, que se referem a todos os predicamentos.
Diz-se que há oposição entre muitos, quando entre si não convém.
Há prioridade, quando um precede a outro em qualquer ordem (cronològicamente, axiològicamente, ontològicamente, etc.).
Simultaneidade é a negação de prioridade e posterioridade.
O haver é o modo, segundo o qual uma coisa se ordena a outra. Temos, assim, o modo de haver por inerência, que é o modo, a modal, pelo qual o accidente se há em relação à substância; por continência, quando contido na substância por posse, quando é um haver da substância, por relação como a que se dá entre pai e filho e por justaposição, quando se diz que algo tem outro posto ao lado, como a Itália tem a Suíça ao norte.
Moção se diz do estado de tendência e da via, pelo qual um sujeito se transfere de um modo de haver para outro. Entre as moções, temos a corrupção, o devir.
Quando a moção é substancial, temos a corrupção se há perda da forma; geração, quando adquire uma forma; alteração, quando há moção de qualidade para qualidade; movimento local, quando há transferência, transladação de um ubi para outro ubi; aumento, quando passa de menor para maior quantidade; diminuição, ao inverso.