Índice Superior Vai para o próximo: Capítulo 7
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Etimològicamente, o têrmo universal (universalis, universum, uni-versum) indica um que versa sôbre muitos, um que diz respeito a muitos. Conseqüentemente, tudo quanto é um na qüididade, que versa sôbre muitos, toma o nome de universal. E como há variados modos de versar um sôbre muitos, podemos assinalar o universal significante (in significando), que é o têrmo universal, e universal representante (in repraesentando), que é o conceito universal; universal causante (in causando), como Deus, e universal em ser (in essendo), que é uma natureza que se refere a muitos, existente nêles, e que pode ser predicado dêles, também chamado de universal predicante (in praedicando). Chamam-se inferiores os que são predicados pelo universal in praedicando, como os indivíduos humanos são inferiores em relação ao universal homem.
O universal em ser é um, uma natureza, que é comunicada a muitos, que se dá em muitos (inest in multis), e que com êle se identifica e com êles se multiplica.
A natureza do universal é abstracta em relação aos inferiores, como homem o é em relação aos indivíduos humanos. Essa natureza se multiplica nos diversos indivíduos, mas é uma unidade, enquanto tal, de abstracção, que se comunica (de comum) com êles.
É freqüente a confusão entre universal e comum. Mas, há uma distinção importante: comum diz-se do que de certo modo convém a muitos, mas universal é o que convém a muitos também, mas que se identifica com êstes, e nestes se multiplica.
A justificação filosófica do universal foi por nós realizada, em outros trabalhos.
Universal em ser (in essendo) é definido como um (uma natureza) em muitos e de muitos (in multis et de multis); ou seja, uma natureza que está em muitos por identidade com êles, e que é predicada de muitos.
A definição implica os seguintes elementos constitutivos do universal: 1) o sujeito, ao qual é dirigida a intenção natural (intentio-natura); 2) o fundamento próximo dessa intenção-uma; 3) a própria intenção de universalidade, ou seja, a relação aos inferiores; 4) a própria passionem universal, ou seja a predicabilidade de muitos.
O universal em ser pode ser distinguido: a) universal material, que, como natureza, é denominado universal; b) universal fundamental, que é o fundamento próximo da relação de universalidade, que é a unidade precisa, com aptidão ou não-repugnância a ser nos inferiores; c) universal formal, que é a própria forma relativa, cuja natureza abstracta dá-se em acto nos inferiores.
Daí podem-se distinguir: universal metafísico, o universal que usa toda ciência, tomado abstractamente dos singulares, que é um universal fundamental nêles; universal lógico, que se refere à intenção ou forma, que é chamada universal, que é uma segunda intenção, e relação de relação. Esta é fundada na primeira.
Os conceitos universais, tomados formalmente, em sua intenção de predicabilidade e de universalidade, podem ser divididos em cinco classes.
O conceito universal formalmente considerado é o que os escolásticos chamavam de universale reflexum, que já examinamos. As cinco classes, que tomam o nome de predicáveis (em latim predicabilia, e que correspondem ao grego categorema) são o gênero, a espécie, a diferença específica, o próprio e o accidente. Ora, todo conceito, como se pode fàcilmente ver, em sua referência intencional, aponta uma dessas classes universais, ou seja, considerado em sua universalidade, o conceito aponta uma dessas cinco classes.
Essa classificação não é arbitrária e, ademais, é de suma importância para a análise lógica, pois favorece a melhor compreensão do habitas (do haver) entre o conceito-sujeito e o conceito-predicado. São, pois, êsses predicáveis cinco modos de universalidade do conceito tomado formalmente.
Mas o conceito não é tomado apenas formalmente, mas também materialmente. E materialmente se diz do universal directum que está na coisa, em sua natureza, como vimos. Êsse universale directum permite outra classificação, que são as categorias, que eram dez para Aristóteles.
Dizia Tomás de Aquino que o predicado unìvocamente de muitos é o gênero, ou a espécie, ou a diferença, ou o próprio ou o accidente.
São, pois, os predicáveis os modos de universalidade ou de predicação. Tantos são os modos de predicação quantos são os modos de conexão dos extremos (sujeito e predicado). Portanto, a predicação consiste formalmente na conjunção ou conexão dos extremos. E a predicação é essencial, total ou parcial, é accidental intrínseca ou necessária, ou, então, extrínseca ou contingente. O predicado, quando significa a essência do sujeito ou a significa parcialmente apenas quanto à sua parte material (potencial), temos, então, o gênero; ou significa a essência totalmente, temos a espécie; ou significa apenas a formal (actual), temos a diferença. Se significa algo adveniente à essência, pode ser ela necessária, e é então o próprio; ou contingente, e temos o accidente, tomado aqui o têrmo em sensu stricto.
Não se inclui o indivíduo entre os predicáveis por não ser êle um universal.
O universal lógico como o metafísico dividem-se também nesses cinco predicáveis. Foram êles estudados por Porfírio em sua famosa Isagoge eis tás kategorias, "Introdução ao estudo das categorias", de Aristóteles, obra clássica no assunto.
Definia Aristóteles o gênero como o que é predicado de muitas espécies diferentes no que se refere à sua qüididade. O que se predica de muitos não é a sua natureza, mas a sua universalidade. O gênero predica "in quid", porque enuncia a qüididade a muitos especìficamente diferentes. Assim animal predica-se de muitas espécies diferentes. O gênero contém, formalmente, suas espécies. O gênero é um todo potencial, porque inclui, indeterminadamente, todas as suas espécies.
Correlativo ao gênero é a espécie. Quando dois têrmos universais estão contidos em extensão um no outro, o menor é chamado espécie e o maior de gênero. Assim homem é uma espécie do gênero animal; o triângulo é uma espécie do gênero polígono.
Diz-se diferença específica o carácter pelo qual uma espécie se distingue de outras pertencentes ao mesmo gênero. Assim racional é uma diferença específica de homem, que, por êste modo, se distingue das outras espécies que pertencem ao gênero animal.
A diferença pode ser essencial ou accidental. A accidental pode ser inseparável ou separável. A diferença essencial é a principal, como racional em homem. Se é accidental, mas inseparável, temos o próprio (proprium).
É o accidente inseparável de uma espécie, como a risibilidade (a capacidade de rir) no homem. Mas, o próprio pode emanar também do gênero. Se emana da espécie é um próprio específico; se do gênero, é um próprio genérico. No primeiro caso, temos o exemplo dado da risibilidade; no segundo, a mortalidade, que é próprio do gênero animal, portanto, também, no homem.
É o que sobrevêm, o que não é nem constante nem essencial ao sujeito. "Pedro está sentado", o estar sentado é apenas um accidente que acontece com Pedro.