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Capítulo 5
Do Têrmo


Métodos Lógicos e Dialécticos
Mário Ferreira dos Santos
I Volume
3a Edição (1962)
Enciclopédia de Ciências
Filosóficas e Sociais

Livro Original na Internet
Do Têrmo
    5.1  Divisões dos termos
    5.2  Do nome e do verbo

     Manifesta o homem os seus conceitos através de sinais vocais (vocabulários), que constituem a sua linguagem oral. Expressa o que pensa e o que sente por sinais significativos orais, que constituem os têrmos orais, e por sinais escritos, que se chamam têrmos escritos.

     Diz-se sinal do que, pelo qual, algo se torna conhecido de outro. O sinal indica, aponta a algo que se torna conhecido por êle, sem ser êle. Desse modo, está em lugar de outro, ao qual aponta, indica. O sinal, portanto, requer: a) alguma coisa significante; b) a coisa significada; c) o nexo entre êle e a coisa significada; d) o sujeito cognoscente, apto a compreender o que aponta o sinal.

     Dêste modo, o sinal une por meio de algo uma coisa significada ao cognoscente.

     O têrmo oral é um sinal constituído de uma voz significativa (vocábulo) para comunicar uma idéia, uma emoção, alguma coisa.

     A divisão dos sinais em naturais e arbitrários deve ser considerada. Natural é o sinal que se dá na natureza, como a fumaça, que é sinal do fogo. Arbitrário ou convencional é o estabelecido pela vontade de um ser inteligente. Êste pode ser especulativo e prático, segundo a sua intencionalidade.

     O têrmo oral é, pois, uma voz (um som), ou não, articulado, que significa alguma coisa. O têrmo oral é expresso na linguagem escrita pelos têrmos escritos.

5.1  Divisões dos termos

     Chamavam os antigos lógicos de têrmos categoremáticos os que tinham em si mesmos plena significação, que significam de per si, como homem, casa, árvore; sincategoremáticos, aqueles que não possuem de per si significação, mas modificam algum têrmo significante, como todo, algum, com, pois, e, daí etc., chamados pelos modernos funcionais.

     Esta classificação tem grande importância, sobretudo se considerarmos que uma idéia pode ser tomada categoremàticamente ou não. Categoremàticamente, quando tem um conteúdo positivo de per si, e poder-se-ia dizer que o Ser Supremo é infinito, sendo a infinitude a sua natureza. Tomado sincategoremàticamente, a infinitude seria funcional, um modo de ser. Nas discussões filosóficas, esta distinção é importante.

     Os têrmos podem ser unívocos, análogos e equívocos. Unívoco é o que significa um conceito simplesmente (simpliciter) um e uma razão simpliciter uma, como homem. Análogo é o que significa um conceito relativamente (secundum quid) ou proporcionalmente um e com uma razão objectiva relativamente uma, ou, em outras palavras, o que se predica de muitos, segundo uma significação em parte a mesma e em parte diversa (analogia intrínseca), ou significa muitas razões entre si coerentes (analogia extrínseca) ... . O têrmo ente é análogo do primeiro modo, porque significa intrinsecamente, enquanto o têrmo são se diz da medicina ou do alimento extrinsecamente, como ridente, que se pode dizer de um rosto e de um prado. Têrmo equívoco é o têrmo ambíguo, de dúplice significação, que significa simplesmente muitas coisas, como o têrmo cão, que pode significar o animal, uma peça de arma, uma constelação, etc.

     Note-se, porém, que se os têrmos podem ser equívocos, não o podem ser os conceitos, que são apenas unívocos ou análogos, porque um conceito equívoco seria outro conceito. Assim o têrmo cão, que é, como têrmo oral e escrito, o mesmo, quanto ao seu conteúdo conceitual é vário, e cada conceito é outro conceito, e não o mesmo. Os têrmos significam os conceitos, mas êstes significam a si mesmos. Não confundir o têrmo com o conceito é fundamental na Lógica, e poder-se-á ver, mais adiante, quantos sofismas surgem dos têrmos equívocos, não pròpriamente dos conceitos.

     Segundo a compreensão da idéia significada, segundo o conceito, os têrmos podem ser positivos ou negativos, quando significam alguma coisa positiva, ou a privação de uma perfeição. Assim homem e não-homem, sábio e ignorante. Há, contudo, têrmos que são aparentemente negativos, mas significam alguma coisa positiva, como Não-eu e átomo. O têrmo negativo é chamado também indefinido, quando sua significação é indeterminada, como não-homem, que significa indeterminadamente tudo quanto não é homem.

     Têrmo concreto é o que significa o sujeito com a forma, como homem, sábio.

     Têrmo abstracto o que significa apenas a forma como humanidade, sapiência.

     Têrmo simples é o que é composto de um só vocábulo; complexo, o que consta de muitos. No primeiro caso, temos casa; no segundo, engenheiro mecânico.

     O têrmo é explicativo, quando convém ao conceito em toda a sua extensão, como homem mortal; e restrictivo, ao contrário, como homem sábio.

     Segundo a extensão das idéias (dos conceitos), o têrmo é próprio, quando significa apenas uma coisa singular, como Sócrates. É comum, quando significa vários, segundo a mesma significação, como é o conceito universal, como mesa, árvore; colectivo, quando não se refere a indivíduos singulares mas tomados simultâneamente numa coleção, como batalhão.

5.2  Do nome e do verbo

     Define-se nome como a voz significativa para a comunicação falada, sem tempo (intemporal), da qual nenhuma parte tem significação separada, finita, recta.

     Por ser sem tempo, distingue-se do verbo, que é com tempo, exclui a oração e têrmos complexos; é finita, porque exclui os têrmos infinitos e indefinidos; recta porque excluí os casos oblíquos, que são sincategoremáticos.

     Verbo é, pois, a voz significativa com tempo, possuindo as outras mesmas características do nome.

     O verbo, na oração, exerce o papel de medium que une, a expressa a existência actualmente exercida ou possível nos juízos afirmativos; ou o contrário, nos negativos.

     O verbo ser é chamado freqüentemente cópula, quando realiza uma função copulativa entre o sujeito e o predicado; do contrário, é meramente um verbo substantivo, que afirma o acto de ser actual ou possível do sujeito.