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Capítulo 26
Da Eqüipolência


Métodos Lógicos e Dialécticos
Mário Ferreira dos Santos
I Volume
3a Edição (1962)
Enciclopédia de Ciências
Filosóficas e Sociais

Livro Original na Internet
26  Da Eqüipolência
    26.1  Das ilações

     Genèricamente, eqüipolência, em Lógica, tem o mesmo significado de eqüivalência. Diz que são orações eqüipolentes as que têm o mesmo significado. Ex.: "Pedro é um homem virtuoso", tem por eqüipolência "Pedro é um homem que pratica habitualmente o bem."

     Se eqüipolência e eqüivalência são, no universo de discurso da Lógica, sinônimos, não o são, porém, no de outras ciências, como na Físico-química, onde se distinguem.

     Há eqüipolência, especìficamente lógica, quando, em duas orações, há a mesma eqüivalência de significação, as quais são constituídas dos mesmos sujeitos e dos mesmos predicados, distinguindo-se uma de outra negativamente. Assim: "nem todo homem é sábio" e "algum homem não é sábio"

26.1  Das ilações

     É uma ilação imediata o acto pelo qual a mente, de uma proposição, afirma conseqüentemente outra, imediatamente, por força do nexo que há entre elas. Ao nexo chama-se consequência, o qual consiste no conter uma a outra. A consequência é imediata se não há um terceiro têrmo, do contrário, havendo um terceiro têrmo, é mediata.

     As ilações imediatas são de três classes:

     1) ilação por eqüipolência é a que já examinamos ao estudar a eqüipolência. Nas proposições eqüipolentes, ambas são simultâneamente verdadeiras ou simultâneamente falsas. Da verdade ou da falsidade de uma, infere-se a verdada ou a falsidade da outra. Ex. de "nem todos os homens são sábios", infere-se imediatamente "alguns homens não são sábios".

     2) Ilação por conversão. Nesta, cada proposição tem significado diverso, embora com os mesmos têrmos.

     As regras são as seguintes: Nas proposições simpliciter convertíveis (que é a conversão legítima), as proposições são ou simultâneamente verdadeiras ou simultâneamente falsas. Da verdade ou da falsidade de uma, infere-se a verdade ou a falsidade da outra. Ex.: "nenhum homem é mineral, logo nenhum mineral é homem." Nas conversões por accidente (per accidens) da universal vale a ilação da particular; da verdade da universal infere-se a verdade da particular; da falsidade da particular infere-se a falsidade da universal, não porém da verdade da particular a verdade da universal. Assim: "todo homem é animal, logo algum animal (nem todo animal) é homem."

     3) Outra classe de ilação imediata é a que se dá entre proposições de significação diversa com têrmos também diversos. A esta classe pertence as ilações por oposição, a de predicado a predicado e a de sujeito a sujeito, e a de modalidade.

     Ilação de oposição é aquela que se verifica pela oposição. Da verdade da proposição, infere-se a falsidade da contrária ou da contraditória; da falsidade da proposição, a verdade da contraditória.

     Ilação de predicado a predicado sugere as seguintes regras:

     a) É válida a ilação afirmativa do têrmo inferior ao têrmo superior, não porém quanto à negativa. Assim: "Pedro é homem, logo é animal." Contudo, não é válido inferir: "Pedro não é mineral, logo não é substância."

     b) É válida a ilação negativa do têrmo superior ao inferior, não, porém, a afirmativa. Assim: "mineral não é vivente, logo não é animal." Contudo, não é válida a inferência: "mineral é substância, logo é homem."

     c) É válida a ilação de predicado privativo ao negativo. Assim: "É cego, logo não vê", e não: a "pedra não vê, logo é cega."

     Ilação de sujeito a sujeito, que consiste em inferir de uma suposição do sujeito a outro.

     a) É válida a ilação, tanto afirmativa quanto negativa, de uma suposição distributiva à particular. Assim: "todo homem é substância, logo algum homem é substância." Não é válida a ilação de uma particular a uma universal.

     b) Não é válida a ilação ratione formae (segundo a razão da forma) só, porém, de uma suposição distributiva à colectiva e vice-versa, apenas, quando é válida ratione materiae (em razão da matéria).

     Assim: "todo o grupo realizou êste itinerário, logo algum do grupo realizou êsse itinerário." Não é válida: "cem anos são um século, logo algum ano é um século", porque o predicado refere-se à colectividade apenas.

     Ilação de modalidade é a que decorre do nexo entre acto, potência, necessidade. O acto supõe apenas a potência; a necessidade supõe a potência e o acto; a potência, por si mesma, nada supõe.

     É válida a ilação que parte do ser para o poder (do acto para a potência). Não é válida a ilação do poder para o ser.

     É válida da potência para o agente nas causas necessárias, não nas causas livres.