Índice Superior Vai para o próximo: Capítulo 25
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Embora pareça extremamente fácil o emprego do silogismo, é nesse sector que encontramos freqüentemente erros e dos mais graves.
Grandes filósofos, pelo menos famosos, e que atravessam os anos com o aplauso de muitos, cometeram erros gravíssimos, e caíram em sofismas ou paralogismos dos mais vulgares. Se o silogismo não é uma forma natural do nosso raciocinar não deve ser desprezado por isso, porque, na verdade, sem êle, é impossível construir uma filosofia sã e bem fundada, pois nenhum filósofo, que o tenha desprezado, realizou obra que primasse pela regularidade, coerência e consequência nos raciocínios.
Sabem muito bem os escolásticos que o silogismo não é uma forma natural do pensar humano. O homem é ainda muito animal, e o racional, nêle, é em menor grau, como não são poucos os momentos em que raciocinamos com regularidade e rigor lógicos. E por que propunham, então, o silogismo em suas disputas? Por ser o único meio seguro de evitar erros. Quem raciocina silogìsticamente, quem se preocupa em reduzir suas idéias a silogismos, fàcilmente verificará seus erros e suas virtudes, bem como poderá, com mais facilidade, notar os erros e virtudes nos argumentos dos adversários.
Mas, a verdade é muito outra. Abra-se uma obra de escolástica, examine-se a maneira cuidadosa com que são feitos os raciocínios, verifique-se como se realizam as distinções, e desde logo se verá que tal trabalho exigiu esforço, exigiu paciência, exigiu devoção, esmero, rigorosa disciplina mental. Ora, isso não é do agrado de muitos e, na verdade, a êstes é bem difícil realizá-lo. Não é de admirar, portanto, que muitos prefiram combater o silogismo e cair num irracionalismo extremo ou, então, vegetar em torno de opiniões duvidosas, ao sabor das preferências estéticas, do que realmente fazer filosofia sob bases sólidas, com argumentação segura e rigorosa, e com demonstrações apodíticas, que não dêem lugar a erros nem a refutações sérias.
Alguns, na impossibilidade total de poderem realizar algo de proveitoso e disciplinado no pensamento, aproveitam ainda dos resquícios de lógica e de racionalidade, que lhes restam, para combater a Lógica e a racionalidade, negando, assim, ao homem, o único valor e dignidade que lhe sobra, que é a racionalidade, que o distingue dos animais. Desse modo, querem destruir a única perfeição que ainda os afasta dos irracionais. E tal atitude é um verdadeiro demitir da humanidade. Mas, o que ela verdadeiramente oculta é a deficiência mental, que não permite examinar com profundidade os temas lógicos, que são realmente difíceis.
O desinterêsse dos modernos pelos estudos lógicos permite-nos compreender as grandes confusões que avassalam a modernidade. Não era de admirar que a sem-razão, o cepticismo, o agnosticismo, o nihilismo, o positivismo, o materialismo, o idealismo, o racionalismo vicioso vingassem no mundo moderno e facilitassem o surgimento de tantas brutalidades históricas, que já derramaram bastante sangue e aceleraram o desespêro da juventude actual, sem fé, sem esperança, sem um ideal qualquer que a possa nortear. A precipitação da decadência é simplesmente apavorante. Impõe-se que se faça um exame dos erros lógicos fundamentais das doutrinas que, em todos os tempos, foram doutrinas de decadência. Impressionados com essa situação, dedicamo-nos, hoje, o tempo que nos resta, na confecção de uma obra "Origem dos Grandes Erros Filosóficos", onde, pondo de lado o renome e o brilho de certas personalidades escusas da filosofia, apontaremos os erros palmares que cometeram, as confusões elementares que fizeram, e que geraram tantos erros posteriormente, e uma vasta sequência de livros que, além de inúteis, são prejudiciais e destructivos, por só terem servido para aumentar a confusão em vez de guiar o espírito humano para roteiros mais nobres e mais dignos, que permitissem ao homem, não só conservar o que de mais alto foi realizado no passado, mas levar avante o conhecimento para estágios mais elevados, sem renunciar seu mais alto valor, a racionalidade.
Outro preconceito moderno é julgar que a Lógica é apenas uma arte prática, e para alguns até arbitrária. Não há a menor arbitrariedade na Lógica. As leis, que nela são estabelecidas, são captadas do rigor das consequências e decorrem do exame dos processos lógicos. Por outro lado, a Lógica não é algo que se opõe à vida, como o desejam fazer ver aqueles que gostariam de imergir na plena irracionalidade para dar vazão, assim, aos seus ímpetos mais primitivos.
O exame dialéctico mostra-nos que há uma logicidade na realidade, que é o nexo de idealidade que há em toda realidade, o que nos permite ver que a Lógica é também vital, porque também a vida a revela e, por meio dela, quando bem empregada, podemos penetrar nos mistérios da vida e da existência. Outro argumento comum consiste em afirmar que é ela estéril. Seria o mesmo que afirmar a esterilidade da Matemática, que é especìficamente Lógica. Esta não é criadora quando se cinge apenas à parte formal, mas o exame dialéctico dos juízos, buscando-se o têrmo médio, partindo-se do sujeito ou do predicado para alcançar aquele, desde logo se desdobram os juízos que estavam virtualizados. São juízos virtuais, que a análise dialéctica permite revelar, como o demonstramos nas análises dialéctico-concretas que realizamos em nosso "Filosofia Concreta". Aí se pode comprovar, de modo definitivo, que a Lógica é criadora, que é poiétika no genuíno sentido do têrmo, que é ela um manancial de prazeres intelectuais incomparáveis, como ainda veremos.
Só desejamos devotar o nosso esforço, nos anos que ainda nos restam de vida, para demonstrar, através de exemplos, o poder criador da Lógica e da Dialéctica, esta no seu verdadeiro e puro sentido, de Lógica Total, de Lógica Concreta, de Lógica que emprega, não só as regras estabelecidas por aquela, mas já acrescida das teses demonstradas, das verdades adquiridas, que vão servir de instrumentos para uma penetração mais profunda nas várias esferas da realidade.