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Capítulo 14
Da Terceira Operação do Espírito


Métodos Lógicos e Dialécticos
Mário Ferreira dos Santos
I Volume
3a Edição (1962)
Enciclopédia de Ciências
Filosóficas e Sociais

Livro Original na Internet
14  Da Terceira Operação do Espírito

Do Raciocínio

     Escrevemos em "Lógica e Dialéctica": "A definição clássica de raciocínio é dada por Aristóteles: `operação discursiva, pela qual se mostra que uma ou diversas proposições (premissas) implicam uma outra proposição (conclusão) ou, pelo menos, tornam esta verossimilhante."'

     Só há raciocínio quando inferimos um pensamento de outro pensamento. Podemos começar de um facto singular para chegar a uma conclusão geral, ou de uma conclusão geral para concluir que o singular está contido nesta. Podem ser diversos os raciocínios, mas, em todos êles, há sempre a derivação de um pensamento de outro, o qual contém aquele.

     Já por diversas vezes, referindo-nos ao conhecimento, vimos que êle pode ser dado por actos de apreensão imediata, ou então provir de processos mais complexos, mediatos (por meio de ...). No primeiro caso, temos o conhecimento intuitivo, e, no segundo, o conhecimento discursivo.

     O primeiro é dado pela experiência directa, como ao verificar que esta mesa é maior que o livro. O saber discursivo, ou saber racional, é o que resulta de conhecimentos anteriores, e podemos dar como exemplo: "todo o homem é mortal."

     Só chegamos a êste conhecimento, depois de feita a verificação de uma série de factos e de uma conclusão posterior.

     Os processos discursivos são simples ou complexos:

     a) simples, quando de um conhecimento se infere directamente outro; também se chama inferência ou ilação imediata;

     b) complexos, quando a passagem de um a outro é feita através, pelo menos, de um membro intermediário, como os raciocínios deductivos, os matemáticos, os inductivos, e os por analogia.

     Nos processos discursivos complexos (raciocínios mediatos, inferência ou ilações mediatas, como já vimos), a passagem de um conhecimento a outro é feita através de, pelo menos, um membro intermediário.

     São conhecidos tradicionalmente por duas classes: inducção e deducção. Geralmente se define a inducção como a passagem do particular ao geral, enquanto a deducção é a passagem do geral para o particular.

     No raciocínio, há apreensões de pensamentos e de suas significações, e êstes formam um todo, uma unidade. É o que se dá no raciocínio intuitivo.

     No raciocínio discursivo, há a inferência de um pensamento de outro. Desta forma, o raciocínio discursivo reduz-se ao primeiro, pois é apenas uma forma complexa daquele.

     A deducção funda-se nos princípios lógicos (princípios de identidade, de não-contradição, do terceiro excluído e de razão suficiente, dos quais já falamos), que são verdadeiros axiomas para a Lógica Formal, os quais regem todos os entes lógicos e os objectos ideais.

     A deducção não se baseia em princípios lógicos, mas na opinião da regularidade do curso da natureza, em certa homogeneidade da sucessão dos factos, regularidade hipotética para muitos, mas que é fundamental para a inducção, que nela se fundamenta. As chamadas leis científicas, as inducções da Ciência partem da repetição dos factos singulares e da regularidade daquela.

     Não há intuição sensível do universo; a intuição sensível é só do singular, do individual, como já vimos tantas vezes. O universal é fundado nos factos singulares. Dessa forma, a deducção se baseia numa inducção prévia. Mas, a formulação de um universal implica a aceitação da possibilidade de formular o universal. Então temos de admitir que, para formularmos de uma inducção um universal, impõe-se previamente a aceitação da possibilidade do universal. E como nos é dada essa possibilidade? Ela decorre da repetição dos factos, cujo acontecer, no passado e no presente, faz-nos admitir a possibilidade de se reproduzirem no futuro. Como o futuro vem a evidenciar a actualização dessa possibilidade, formulamos, sob a influência da parte racional do nosso espírito, que deseja a homogeneidade (que se funda no semelhante), que existe uma regularidade nos factos cósmicos. Fundados nessa regularidade, conseguimos dar o salto da inducção ao universal, ponto de partida da deducção posterior. Por isso, o alcançar do universal não é apenas uma decorrência da inducção, pois esta é corroborada pela aceitação do princípio, hipotético ou não (o que não cabe por ora discutir), de uma regularidade universal, de certa legalidade universal, de que o cosmos é realmente ordenado por constantes que não variam (invariantes), e que permitem a formulação de princípios universais. Oportunamente volveremos a êste ponto.