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Nascido da necessidade de repensar a escola e de um conjunto de situações interligadas, que provocaram interrogações quanto à sua organização, à relação entre escola e família e às relações estabelecidas com as instituições locais, o projeto "Fazer a Ponte" orienta-se por dois princípios básicos:
A realização destes princípios passou por uma valorização dos modos como se aprende e dos contextos onde se aprende. Perspetivando uma escola não uniformizadora, foram instituídos dispositivos (pedagógicos) promotores de uma autonomia responsável e solidária, com a finalidade de permitir à criança formar-se num processo de socialização criadora de uma consciência de si como ser social-com-os-outros e, bem assim, a agir como participante de um projeto comum.
Estes dispositivos comportam uma dinâmica de trabalho realizada num espaço de área aberta, onde não há séries. Os alunos organizam-se em grupos formados à medida das necessidades de formação, sempre que surjam novos projetos. Movimentam-se entre espaços da escola em função das áreas de saber que em cada momento exploram, trabalhando com diferentes professores, desenvolvendo um trabalho que valoriza a reflexão, a capacidade de análise crítica e a componente de investigação.
É neste contexto que a avaliação é considerada um momento de oportunidade de aprendizagem e acontece quando o aluno quer, ou seja, quando este se sente pronto para explanar os saberes por si adquiridos/trabalhados através de diferentes instrumentos de avaliação. Para que tudo isso se tornasse possível, o regime de professor por turma ou disciplina foi substituído pelo trabalho em equipa de projeto.
A reunião em Assembleia é um momento de trabalho coletivo onde cabe a introdução de temas de estudo, a discussão de alterações às regras instituídas, o debate de projetos e a resolução de conflitos. Os contactos com os pais são feitos sempre que o requeiram e/ou os professores considerem importante acontecer.
Pretendendo uma prática educativa afastada de um modelo dito "tradicional" a escola organiza-se segundo uma lógica de equipa e de projeto, estruturando-se a partir das interações entre os seus membros e de uma forte horizontalidade de relações. Acreditamos que uma prévia leitura aos documentos anexos a este livro (Projeto Educativo "Fazer a Ponte", Regulamento Interno, Perfil do Orientador Educativo, Inventário dos dispositivos pedagógicos) permitirá ao nosso leitor uma maior compreensão da complexidade do espaço escolar, das formas de negociação envolvidas na procura de um sentido coletivo e, numa lógica mais profunda, da articulação das intenções e dos desejos de mudança na ação. E, deste modo, interpretar com maior profundidade tanto as perguntas quanto as respostas elencadas neste livro, fruto de cursos feitos online, tendo como objeto de estudo o próprio projeto, sendo que muitos educadores se prontificaram a refletir sobre a sua práxis e partilhar seus saberes.
Enquanto organizadores, o nosso papel apenas pretende estabelecer pontes entre os diálogos produzidos e que andavam dispersos. É neste sentido, que gostaríamos que este livro fosse visto: como obra de um coletivo muito diverso, que reflete múltiplos olhares, múltiplas linguagens, porque são reflexo de vivências cotidianas. Gostaríamos de referir que os autores são alunos, ex-alunos, orientadores educativos, pais, pesquisadores. Todos vivenciaram diferentes momentos, diferentes sentidos, e o que nos poderá parecer à priori contraditório deverá ser lido como complementar.
Algumas das perguntas são mais extensas do que as respostas que lhes correspondem. Outras são ricas de conteúdo e dado conterem em si, por vezes, até as respostas foi para nós, mais do que evidente, a missão de não as transfigurar. O exercício de escrita suscitou momentos de muita reflexão, traduzidos em inúmeras palestras e trabalhos acadêmicos sobre a Ponte, um pouco por todo o mundo. Esses autores permanecem anônimos. Importará para nós que esse anonimato se mantenha, uma vez que, enquanto projeto humano, não reflete um esforço individual de um "ser providencial", é fruto de pessoas que se encontraram e partilharam propósitos comuns.
Neste trabalho, foi nossa intenção dar a palavra a todos àqueles que, ao longo de muitos anos, contribuíram, num discreto labor de trabalho em equipe, para transformar em realidade o que se afigurava um sonho. Dar voz aos que viveram, vivem e sofrem a Ponte, afirmando que a Escola da Ponte existiu e existe, num tempo e lugar de muitos encontros, desencontros, independentemente do devir.
Das perguntas que foram formuladas uma fica sempre pairando no nosso espírito: "Quais os sonhos sonhados por vocês para o futuro da Escola da Ponte? O que falta realizar?" E a isso só poderemos responder: O projeto da Ponte é vida que recomeça em cada dia, em cada gesto ...