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Quando nós, seres humanos, colocamos um mito em nossas cabeças, é quase impossível retirá-lo - mesmo quando fatos visíveis, audíveis e mensuráveis estão em direta oposição ao mito; ainda que a verdade seja muitas vezes melhor, mais importante, fácil e substancialmente mais agradável do que o mito.
Ainda que seres humanos tenham olhado do alto, por milhares de anos, podendo ver nos oceanos a curvatura da linha do horizonte, continuaram convencidos de que a terra era chata, isso há quinhentos anos. Alguns ainda acham que é plana.
Quase todos os mitos prejudicam bastante a verdade.
Nenhum deles prejudica mais a verdade do que os referentes às mães, bebês e gênios.
Mães, bebês e gênios têm má publicidade.
Um dia nós vamos descobrir por que os nossos mitos precisam desacreditar mães, bebês e gênios.
Se algum dia formos capazes de saber por que isso acontece, iremos ver que algumas pessoas de nossa sociedade parecem sentir-se ameaçadas pelas mães, bebês e gênios. Descobriremos que existem pessoas que talvez sintam-se um pouco inferiores a eles.
Em alguns casos nossas vidas são dominadas e empobrecidas pelos mitos com que convivemos.
Quase todos eles são negativos e foram inventados originalmente para prejudicar e destruir um certo grupo de pessoas.
Como podemos forte e devotadamente ter centenas e até milhares de crenças indestrutíveis quando a evidência de que são claramente mentirosas está ao nosso redor diariamente, ou a cada hora?
Muito do que eu ouço não vem do som para o meu ouvido e cérebro, como deveria ocorrer fisiologicamente, se é que tenho que entender o que escuto.
Em vez disso, sou vítima dos meus próprios mitos e preconceitos, portanto escuto precisamente o que quero ouvir.
Assim, decido antecipadamente o que você vai dizer, e não interessa o que diga, eu vou ouvir exatamente o que eu pensei que ia escutar (de fato, o que eu queria ouvir).
O que você disse não veio da sua boca para o meu ouvido e para o meu cérebro, como dita a fisiologia às criaturas inferiores.
Porque eu sou humano, sou amaldiçoado pelos mitos que me influenciam, sou capaz de subverter até a função fisiológica, e assim, o que você disse veio do meu cérebro para meus ouvidos e para o cérebro e você acabou dizendo exatamente o que eu achava que você ia dizer desde o começo.
Assim também não vejo o que está diante de mim, mas pelo contrário, o que eu achava que ia ver.
Posso dar-lhes um exemplo simples?
Eu gostaria de desenhar um rosto.
Até agora, completo com orelhas, nariz e boca poderia ser um rosto qualquer.
Agora eu gostaria de desenhar duas linhas adicionais e com estas duas linhas vai se tornar um tipo de rosto muito característico.
Com a simples adição de duas pequenas linhas retas, eu desenhei um rosto japonês. Isso porque (como todos sabem) os japoneses têm os olhos oblíquos.
Feche os seus olhos e imagine um rosto japonês.
Pode ver aqueles olhos oblíquos? Não são estes olhos a coisa mais característica num rosto japonês?
Isso equivale a dizer que são - a não ser que você seja japonês.
A verdade é que os japoneses não têm olhos oblíquos. Seus olhos são chatos como uma panqueca.
Eu aprendi este fato desconhecido quando almoçava com meu amigo japonês em Tóquio.
Estava discutindo esse assunto e pensando alto como era possível olhar para a realidade e ver exatamente o oposto.
"Exatamente", disse o meu amigo, "e um perfeito exemplo disso é a sua crença ocidental de que os japoneses têm olhos oblíquos."
"Oh, mas os japoneses têm olhos assim."
E diante de mim comecei a ver os seus Olhos tornarem-se extremamente retos.
"Mas seus olhos são chatos," eu disse acusadoramente como se de fato ele não fosse japonês.
Eu olhei para os lados no restaurante lotado e descobri que todos os clientes do restaurante tinham olhos bastante retos. Minha reação instantântanea foi perguntar a mim mesmo como é que tinham conseguido colocar todos os japoneses vivos, com olhos atípicos, dentro de um mesmo restaurante?
Senti-me extremamente desconfortável.
Nunca havia me incomodado destruir os mitos dos outros de maneira gentil e bem-humorada, mas achei que era uma atitude rude da parte de meu bem educado amigo japonês, mostrar-me com tanto ênfase o quanto eu estava errado em relação aos olhos oblíquos dos japoneses.
Dê uma boa olhada no próximo amigo japonês que encontrar e constate o quanto os seus olhos são paralelos ao solo.
Até que você tenha a chance de fazer isto de perto, feche os olhos e tente uma experiência aqui comigo agora.
Feche os seus olhos novamente e imagine um rosto japonês. Vê os olhos oblíquos?
Os mitos resistem até o fim, mesmo tratando-se de pessoas de mente aberta. É quase impossível livrar-se deles e substituí-los pela realidade na grande maioria de nós.
Tratando-se de olhos ou do nosso planeta, nós, humanos, temos dificuldade em diferenciar superfícies planas de linhas curvas ou oblíquas.
O principal objetivo deste livro é diferenciar mitos estabelecidos de fatos, especialmente os relacionados às crianças, pais em geral e mães em particular, inteligência, cérebro humano e gênios.
Existem mitos sem fim acerca de crianças, mães e inteligência. Ocorre que o fato desses mitos serem claramente absurdos não diminuiu em nada a sua aceitação universal - especialmente por parte dos profissionais que deveriam saber melhor das coisas.
Estes mitos são tão ridículos e absurdos que seriam cômicos, se as suas conseqüências não fossem tão trágicas.