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Capítulo 7
O Regime Dietético de Paracelso


Uma Terapia do Câncer
Resultados de Cinquenta Casos
A Cura do Câncer Avançado pela Terapia da Dieta
Um Resumo de Trinta anos de Experimentação Clínica
Max Gerson, M.D.
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O Regime Dietético de Paracelso
    7.1  Conclusão

     Em suas palavras, Paracelso1 (1490-1541) enfatiza que o homem é um microcosmo no macrocosmo do universo, dependendo de todas as leis que funcionam nele. Tanto o homem quanto a natureza têm uma influência frequente e recíproca um no outro que alcança as menores partículas através da água, terra, sol, estação, movimento das estrelas, alimento, solo, etc. Acima de tudo temos que entender que nada existe no céu ou na terra que também não exista no próprio homem. Podemos dizer, portanto, que o sistema que governa o próprio ser humano é a "Grande Natureza" (Vol. 1, p. 25). O corpo precisa de nutrição pela qual está ligado à natureza. No entanto, aquilo que temos que dar ao corpo como nutrição também contém toxinas e substâncias danosas. De modo a lidar com as coisas prejudiciais que temos que usar para o nosso infortúnio, o Senhor nos deu um alquimista (o estômago) não para absorvermos os venenos que comamos junto com os alimentos que nutram beneficamente, mas para separá-los das substâncias favoráveis.

     O ser humano tem que adquirir conhecimento quanto ao que comer e beber, e aquilo que tem que tecer e vestir, porque a natureza lhe deu o instinto da autopreservação. Porque as coisas que se fazem para o prolongamento da vida estão ordenadas pela Grande Natureza. Se alguém come o que é útil para a sua saúde e evita outras coisas que podem abreviar sua vida, então é um homem de sabedoria e autocontrole. Tudo o que fazemos deveria servir para prolongar a nossa vida.

     Muitas qualidades não reveladas estão ocultas em nossa nutrição e elas são capazes de contrariar as forças prejudiciais das estrelas (como a queimadura solar). Segundo Paracelso, algumas das forças da Grande Natureza ajudam a produzir ímpetos animais e maus instintos no homem cuja razão e discernimento dados por Deus podem contrariar e vencer. Comida e bebida podem causar condições mórbidas; ele acredita que a nutrição fomenta o desenvolvimento de todas as características boas ou más, brandas ou ruins. O homem, em seu caráter e disposição, reage ao seu alimento como o solo ao fertilizante. Do mesmo modo que um jardim pode ser melhorado com o fertilizante adequado, também o homem pode ser ajudado com o alimento certo. Nas mãos do médico, a nutrição pode ser o melhor e mais elevado remédio. (Remédio secreto) A dieta tem que ser a base de toda terapia médica, todavia a dieta não deveria ser um tratamento em si. Mas ela permitirá que a Grande Natureza desenvolva e plenamente gere seu próprio poder curativo. Mas até a nutrição está sujeita à influência do céu e da terra; portanto, o médico tem que estar suas combinações de maneira a aplicá-las no momento certo e quebrar o poder da doença. (II, p. 699)1

     A dieta também deveria ser prescrita diferentemente para cada sexo, porque não deveria servir para acumular sangue e carne. Deveria antes efetuar a eliminação dos resíduos alimentares que estragaram e envenenaram carne e sangue. Portanto, a medicação e nutrição especial são necessárias. No tratamento de um paciente, o médico tem que considerar que a nutrição, assim como a medicação, esteja de acordo com o sexo do paciente, isso não será necessário no caso de uma pessoa saudável.

     Paracelso atribui a maior consideração à dieta em doenças constitutivas, as quais, em sentido mais lato, também poderiam ser chamadas de doenças do metabolismo (ele chama-as de ácido tartárico ou doenças que formam pedras). Os ácidos tartáricos estão contidos na nossa comida mas não pertencem aos seres humanos. Estas partículas são minúsculos pedaços de minerais, areia, barro ou cola que no corpo humano se transformam em pedra. O estômago humano não foi criado com a capacidade de separar essas substâncias. Essa separação é conseguida pelos "estômagos sutis" que estão incorporados no mesentério, fígado, rins, bexiga e todas as outras vísceras. Se sua função cessar, isso resultará em várias doenças nos órgãos respectivos por meio da coagulação dessas substâncias tartáricas pelo espírito animal do homem (o esperma ou "Spiritus des Salzes"). A partir daí, Paracelso coloca neste grupo de doenças aquelas que formam pedras, assim como os flebolitos, câimbras vasculares, doenças dentárias, perturbações digestivas crônicas, úlceras estomacais e intestinais, doenças do fígado e do baço, gota e artrite, bronquiectasia e bronquite (não tuberculose, porque ele a separa deste grupo, pelo menos nas formas mais graves) e finalmente doenças cerebrais. Nessa época remota, Paracelso havia reconhecido que os estimulantes endógenos e exógenos estão intimamente associados em doenças constitucionais. Ele coloca os estimulantes exógenos exclusivamente na nutrição, e com isso ele se aproxima das nossas ideias modernas com respeito a uma terapia da nutrição. Nós consumimos ácido tartárico principalmente em plantas e grãos leguminosos, talos e raízes. Esses transformam-se em um muco rijo e doce, enquanto os alimentos lácteos, carne e peixe contêm uma massa parecida com barro, o vinho forma um tártaro (cálculo de vinho) e a água um cálculo lodoso.

     Como profilaxia contra doenças de tártaro, o médico deve prestar atenção especial à preparação dos alimentos. (I, p 138). "A nutrição do homem - comida e bebida - devem ser especialmente limpos de tártaro." Além disso, os tártaros, especificamente culpados, nas diferentes regiões deve ser verificados e excluídos da comida. Por exemplo, o "vinho Kehlheimer faria com que o corpo de fizesse uma grande quantidade de trabalho de separação do tártaro, mas não o vinho Neckar, portanto, o Kehlheimer deve ser proibido."

     Dentre muitas observações que eu gostaria de mencionar uma: "tanto quanto eu esteja informado, eu nunca vi um país onde há tão poucas doenças de tártaro como em `Veltlin' (um vale nos Alpes Italianos, ao sul do Lago de Como) onde há menos do que na Alemanha ou na Itália, na França ou no Ocidente e no Oriente Europeu. Neste país, Veltlin, os habitantes não têm nem podagra nem côlica, contracturam nem cálculo. É um país tão saudável que até o que cresce lá é saudável, e não muitos locais melhores, e mais saudáveis, puderam ser encontrados em todas as minhas viagens distantes." (I, p. 600)

     Para a cura de algumas doenças, Paracelsus sugere prescrições dietéticas especiais. Em primeiro lugar, para as pedras na bexiga e nos rins (I, p. 849), os seguintes alimentos são proibidos: produtos lácteos, queijos, águas alcalinas ou contendo chumbo, a água da chuva, água azeda do mar morto, vinagre, carne de caranguejos e peixe. Substâncias ricas em minerais e contendo putrefações são intuitivamente proibidas para previnir formação de pedras de ácido fosfático e ácido úrico. (Quando dores estão presentes, semente de papoila (morfina) é recomendado para tornar a bexiga insensível.) Por outro lado, existem os seguintes remédios (I, p. 152) que reduzem e não transmutam ou precipitam, para a prevenção das pedras na bexiga e na vesícula biliar: "Não há muito a recomendar como manteiga e azeitonas." Ázia (II, p. 593) deriva de vinho, carne salgada e carne de veado. Estes devem ser evitados; como um remédio ele sugere muito leite, pão de São João, giz (alcalino!), "terra de vedação" (magnésio?), argila armênia e cretácio do mar. Em seguida, ele prescreve doses de vitaminas diárias através do consumo de suco de melão e de frutas, cujo uso contínuo deverá prevenir a formação de pedras no trato intestinal.

     Em um concílio, (II, p 472) Paracelsus recomendou, contra a podagra e acidente vascular cerebral iminente, ao lado das curas médicas dos bauneários tais como Pfeffer e Wildbad (Gastein), o seguinte: "quando você está tomando os banhos você deve se abster de comida e bebida, e você deve ter pouca ou nenhuma relação sexual com as mulheres." "O peixe é proibido - mas quando frito ele provoca o menos dano, nenhuma carne dura e nada do porco é permitido. Como bebida, um velho, suave e claro vinho tinto serve melhor; cerveja deve ser tomada apenas raramente, e ela não deve ser consumida sem noz-moscada e pão fermentado." Como profilaxia, ele recomenda: (II, p 487). "Este é o meu conselho para você se proteger, nomeadamente, há quatro coisas que você deve evitar - vinho de cheiro forte - comida lasciva - raiva - mulheres; e quanto mais tu viveres se abstendo destas coisas, melhor." Para a prevenção contra acidente vascular cerebral ou da medula espinhal, tonturas e pleurisia, ele informa que as seguintes comidas devem ser evitadas tanto quanto possível: especiarias, vinho forte, vinho de ervas, alho, mostarda, vinagre e peixes, especialmente as comidas fritas. Abstenção é bom, mas o indivíduo não deve sofrer fome ou sede, e deve manter os hábitos diários toda hora. Esta não é uma recomendação para curas com jejum.

     Em um certo contraste etiológico às doenças de tártaro, ele coloca as doenças infecciosas. No tempo de Paracelso um ataque de doença através de infecção por bacilos ainda não era conhecida; em seu tipo de concepção astrológica ele traça a origem das doenças infecciosas até como efeito das estrelas. Estas consomem o paciente através de seu fogo, elas fazem o corpo secar e murchar; portanto, o arcanum nesses pacientes é comida húmida e consumo de grandes quantidades de humidade. Para o paciente doente com a peste, diz ele (I, p. 729) que não se deve dar-lhes qualquer tipo de carne, ovos, peixe e nada frito. Como bebida, se deve dar para eles apenas sopa de água ou de cevada com molho de vinagre de rosa. A bebida mais útil é a água da cevada (a maior parte disto está no ensinamento original de Hipócrates).

7.1  Conclusão

     Em si mesmas, as afirmações de Paracelso sobre dieta não são uniformes, mas pode-se notar em todos os lugares nelas o pensamento que as combinam; o seu efeito químico. Em todos os lugares nos seus escritos pode ser percebido como ele tenta dissecar tudo nas menores partículas (átomos) e encontrar uma interpretação; parece que ele gostaria de ter um poder penetração que lhe permita olhar para as coisas microscopicamente. O leigo vê apenas a superfície; o médico deve ser capaz de visualizar o interior e os fatos ocultos que se combinam para formar o conjunto, independentemente de se tratar de um pedaço de madeira ou de osso. Maravilhosas são as suas ideias sobre as reações químicas e seu amor apaixonado para todas as ocorrências químicas que ele aplica às reações do corpo muito antes de seu tempo. Paracelso procura desenvolver tudo, desde a sua origem. Nisto ele sempre observa três coisas: o céu, a terra e o microcosmo; ele aborda de maneira semelhante a cura. O homem só pode ser compreendido através de um macrocosmo; não através si mesmo sozinho. Somente o conhecimento sobre essa harmonia aperfeiçoa o médico.

     Este curto resumo não toma uma posição crítica no sentido histórico na direção de medir as afirmações de Paracelso em relação ao conhecimento de seu tempo. Limitou-se a procurar mostrar como são estimulantes seus escritos e a riqueza de ideias que brilha em todos os lugares, como é intensa a sua urgência de encontrar conexões causais ou, pelo menos se aproximar delas de maneira apaixonada e trazê-las ao acordo com as leis eternas na natureza exterior ao corpo e as mesmas leis que regem o interior do microcosmos.


Notas de Rodapé:

1 Extraído da tradução do Dr. B. Aschner, New York - Verlag von Gustav Fischer. Stuttgart de 1930.