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Capítulo 3
Teoria da Renovação: Uma Nova Visão do Envelhecimento


A Revolução Antienvelhecimento
Um Programa Radical de Rejuvenescimento
Evite Doenças Cardiovasculares
Aumente a Sua Energia a Cada Ano
Melhore Sua Capacidade Mental

Timothy J. Smith, M.D.
Teoria da Renovação: Uma Nova Visão do Envelhecimento
    3.1  A Viagem da Minha Vida
    3.2  Uma Muralha Ainda Maior
    3.3  O que é a Renovação?
    3.4  Os Ingredientes Básicos
        3.4.1  Aminoácidos
        3.4.2  Carboidratos complexos
        3.4.3  Ácidos graxos essenciais
        3.4.4  Vitaminas
        3.4.5  Minerais
        3.4.6  Substâncias fitoquímicas
        3.4.7  Programa genético
    3.5  Uma Aventura Celular
        3.5.1  Membranas Celulares: Uma Ótima Proteção
        3.5.2  Mitocôndria: Essencial para a Energia
        3.5.3  Lisossomos: Especialistas na Eliminação de Resíduos
        3.5.4  Núcleo: O Centro das Ações
        3.5.5  Um Banquete Adequado para a Célula
    3.6  A Renovação em Funcionamento
    3.7  Um Processo Extraordinário
        3.7.1  Quando os Danos já Existem
        3.7.2  Proteção: O Melhor Sistema
            3.7.2.1  Nutrientes antioxidantes
            3.7.2.2  Enzimas antioxidantes
            3.7.2.3  O sistema imunológico
        3.7.3  Reparo: Uma Caixa de Ferramentas Celular
        3.7.4  Regeneração: A Proeza Mais Interessante da Natureza
    3.8  Bibliografia do Capítulo 3

     "o médico do futuro não receitará remédios,
mas estimulará seus clientes a cuidarem de si
mesmos adequadamente, terem uma
boa alimentação e prestarem atenção
às causas e à prevenção de doenças."

     THOMAS EDISON

     "Você poderia segurar isso e tirar minha foto quando eu estiver voltando?"

     Dei minha câmera à minha colega Ellen, depois afastei-me lentamente do nosso grupo, para subir a ladeira íngreme. Era o desafio da minha vida. Ganhei confiança, retomei o passo, passando no meio dos grandes grupos de turistas próximos à entrada, chegando finalmente à área desocupada. A cada passo, minha animação crescia. Lembrei-me de como Ellen e os outros haviam comentado sobre minha obsessão durante semanas: "Não se preocupe, Tim. Você terá sua chance de correr na Grande Muralha."

     Ellen e eu, junto com outras oito pessoas, estávamos fazendo uma viagem pela China a convite do governo chinês - membros da primeira delegação de médicos norte-americanos praticantes da medicina tradicional chinesa a visitar a República Popular da China. Estenderam o tapete vermelho para nós e viajávamos de uma cidade a outra, visitando hospitais, universidades e clínicas, observando, em primeira mão, como proporcionavam a assistência médica.

     No dia anterior, todo o corpo docente da Faculdade de Medicina Tradicional Chinesa de Xangai assistira a minha palestra sobre algumas pesquisas que eu havia realizado sobre acupuntura. Como aprendi acupuntura no Ocidente, durante anos imaginei como minhas habilidades nesse antigo método de cura seriam comparadas às habilidades dos meus companheiros chineses. Fiquei surpreso e satisfeito ao descobrir que não tinha motivos para me envergonhar. Eu estava praticando medicina chinesa da mesma forma que os médicos na China e poderia discutir com facilidade os melhores aspectos da teoria médica tradicional. Na verdade, tinha algo para lhes ensinar, motivo pelo qual me haviam convidado para dar a palestra. A palestra fora um sucesso e, agora, ainda entusiasmado com essa emoção, eu achava que seria impossível ficar mais entusiasmado.

     No início de nossa viagem, tive a oportunidade de participar de uma cirurgia cardíaca realizada apenas com a anestesia da acupuntura. Inacreditavelmente, o paciente sorria e conversava comigo enquanto os cirurgiões mexiam no interior do seu tórax.

     Essa grande emoção, porém, não chegou aos pés da que vou narrar agora. À minha frente estava a Grande Muralha da China, fazendo suas curvas em cima das montanhas distantes, antes de desaparecer de vista. Continuaria 800 quilômetros para leste até o golfo de Chihli, parte do mar Amarelo. Atrás de mim, causava uma sensação em mais de 1.600 quilômetros para oeste até os portões da Ásia Central, bem na província de Gansu.

     Durante minha vida, eu havia atravessado correndo a ponte de Golden Cate, subido até o topo da torre Eiffel, passado pelo mercado de Marrakech, pelas ruas de Tóquio, Londres, Hong Kong e Los Angeles. Mas nada disso me preparara para esse momento.

3.1  A Viagem da Minha Vida

     À medida que eu passava pelo grande caminho de pedra, meus pensamentos retrocediam dez anos, até uma noite que literalmente mudara minha vida. Na época, eu era médico residente do Hospital Geral de San Francisco e, naquela noite específica, estava de plantão. Enquanto esperava o próximo atendimento de emergência, peguei uma cópia do The Yellow Emperor's Classic of Internal Medicine (Huang Ti Nei Ching Su Wen) e comecei a lê-lo. O livro me tocou ao falar sobre as deficiências da medicina tradicional. Descrevia um sistema baseado na saúde e na cura e não na patologia e na doença, um sistema que restaurava o equilíbrio e a harmonia no organismo, utilizando terapias naturais e não drogas tóxicas.

     Na minha opinião, as medicinas oriental e ocidental têm muito a oferecer uma à outra, pois complementam bem as deficiências mútuas. Juntas, elas formariam um sistema de medicina muito mais perfeito. Naquela noite, percebi que deveria aprender medicina chinesa para oferecer aos meus pacientes o melhor dos dois mundos.

     Nem todos os meus anos de preparação, durante a faculdade de medicina, estágio e residência, haviam me preparado para essa mudança fundamental em minha filosofia de saúde e cura. E, ainda assim, ela ocorreu sem dificuldades, como se eu tivesse sido médico chinês em alguma vida passada. Meus professores chineses apresentaram sua medicina como um sistema rico em símbolos e altamente eficaz, desenvolvido até a mais absoluta sofisticação, há mais de 3.000 anos. Eles viam a cura como a tentativa do organismo de corrigir um desequilíbrio de energia e ficavam horrorizados com a prática ocidental, que tratava as doenças envenenando o organismo com drogas. Segui seus ensinamentos, pois eu também estava frustrado com a mentalidade predominante na medicina ocidental, que mascarava os sintomas.

     Comecei a receitar remédios nutricionais, ervas e acupuntura aos meus pacientes e observei, em primeira mão, quanto esses medicamentos naturais estimulavam o organismo a se curar. Talvez fosse inevitável que minha admiração pelos poderes de cura inatos do organismo influenciasse minhas pesquisas sobre medicina antienvelhecimento. Na minha opinião, proteger o organismo contra as doenças ativando naturalmente seus próprios sistemas de defesa já era uma realidade. Até hoje, resisto a qualquer terapia que exponha o organismo às substâncias químicas estranhas ou perturbe seu equilíbrio natural.

     Enquanto corria, percebi que a Grande Muralha representava o destino simbólico da minha jornada na medicina chinesa, que começara uma década antes. Correr ali, de certa forma, tornara-se uma vingança pessoal para com os críticos bitolados, que certa vez haviam me perguntando por que eu jogara fora um futuro brilhante na medicina, trocando-o pelo que eles consideravam charlatanismo. O tempo favoreceu minha visão e provou que meus caluniadores estavam errados.

3.2  Uma Muralha Ainda Maior

     A Grande Muralha é uma visão extraordinária - um lendário testemunho do poder da proteção. A maior estrutura feita pelo homem no mundo e a única que pode ser vista da Lua, a muralha foi construída há mais de dois milênios para defender a fronteira norte da China dos saqueadores hunos. Tem 7,5 metros de altura e é larga o bastante para acomodar cinco cavalos lado a lado. Em seu apogeu, facilitou o rápido transporte de soldados e suprimentos para onde quer que precisassem. Hoje em dia, multidões de turistas viajam para se maravilhar diante da sua magnitude.

     Continuando meu percurso, subi uma parte muito íngreme da muralha, chegando até as torres das guarnições, que ficavam a 180 metros umas das outras. Através de uma janelinha da torre, olhei atentamente para a zona rural, imaginando-me como um soldado da dinastia chinesa, fugindo de lanças e flechas para defender minha terra natal. Como teria sido há 22 séculos, quando os nômades invasores do norte ameaçavam a muralha?

     Foi então que as coisas tomaram um rumo surreal. Comecei a observar alguns paralelos interessantes entre a Grande Muralha e a parede da célula, a membrana externa inflexível que envolve todas as células do corpo humano. A Grande Muralha protegia a China exatamente como a membrana celular protege a célula.

     Obviamente, a membrana celular não é feita de pedra, mas de gordura (logo de gordura!). Mas, exatamente como a Grande Muralha, a membrana serve de barreira entre o interior da célula e os supostos invasores. Aglomerados na célula e ao redor da sua membrana estão os soldados moleculares chamados antioxidantes. Essas moléculas - obtidas diretamente dos alimentos ou produzidas pelo organismo - ficam de guarda, prontas para defender a célula contra as partículas inimigas conhecidas como radicais químicos livres.

     Comecei a encarar a parede de 7 metros sobre a qual eu estava como uma membrana celular gigante. Hordas de hunos radicais químicos livres apontavam suas lanças e flechas, preparando-se para o ataque, só para serem repelidos pelos soldados antioxidantes (como as vitaminas C e E, a coenzima Q10 e a glutationa) posicionados ao longo da parede.

     Se essa analogia lhe parecer um tanto rebuscada, pense no seguinte: a superfície total protegida pelas membranas celulares é muito maior que a área protegida pela Grande Muralha. E a membrana que cerca apenas uma dos seus 100 trilhões de células ou mais resiste a mais radicais químicos livres em um único dia do que todas as lanças e flechas arremessadas na Grande Muralha desde a sua construção.

     Considerei sensata a idéia de manter uma defesa forte contra possíveis danos, em vez de permitir que eles ocorram e só depois tentar arrumá-los. Meditei mais uma vez sobre isso e corri na direção do meu grupo, como se estivesse chegando exausto de uma corrida, quando Ellen tirou uma foto minha. "Você parece um tanto sonhador", ela disse. "Está se sentindo bem?"

     Limitei-me a sorrir.

3.3  O que é a Renovação?

     Até hoje, sempre que penso na Grande Muralha, lembro-me da constante batalha travada dentro do organismo humano em nível celular. Para mim, a muralha é uma manifestação dos princípios da Renovação.

     A Renovação é o plano-mestre do organismo para rejuvenescer. Consiste em três funções muito importantes que conferem ao organismo a capacidade de manter a saúde ideal: proteção, reparo e regeneração. A Renovação evita as doenças, protegendo células saudáveis e restaurando as danificadas. Quando essa opção fracassa, a Renovação substitui células danificadas ou mortas por células novas.

     Assim como um carro, o corpo humano vem equipado com certas características padronizadas. Cada um de nós possui a sua cota de cabelos, dentes, pulmões e rins. Temos também um sistema de cura, cuja missão é alcançar e manter a saúde ideal. Esse sistema coordena os recursos que defendem, renovam e restauram o organismo. Ele constitui a base da Renovação.

     Por que precisamos de um sistema de cura tão elaborado? Em uma palavra: danos. Os danos ameaçam a nossa sobrevivência. Qualquer agente que prejudique o organismo mina a saúde ideal. E, verdade seja dita, quase tudo pode gerar danos. O organismo causa até danos em si mesmo, pois produz radicais químicos livres voláteis ao realizar funções rotineiras.

     Felizmente, o sistema de cura do corpo intercepta muitos danos. Células danificadas estão sendo constantemente recuperadas ou substituídas, embora não prestemos muita atenção a isso. Sem esse sistema de cura, as células rapidamente sucumbiriam. Nosso tempo de vida seria medido em dias, e não em décadas.

     A Renovação, em outras palavras, nos mantém vivos. Funciona notavelmente até nas piores condições, quando é desamparada, ignorada ou adulterada por maus hábitos. E com algum apoio em forma de alimentação ideal, suplementos alimentares e exercícios regulares, a Renovação pode ser seu bilhete para a saúde ideal e a longevidade.

     Moral da história: a Renovação está sob seu controle. Você pode facilitá-la e aumentar seu tempo de vida ou pode sabotá-la e acelerar o envelhecimento. O que impulsiona o pêndulo para um lado ou para o outro? As opções de estilo de vida que você faz todos os dias.

3.4  Os Ingredientes Básicos

     Para que a Renovação seja imediata e eficiente, são necessários seis tipos de nutrientes, além de um conjunto de planos para coordená-los. Quando um desses nutrientes estiver baixo, a Renovação se desacelera. E quando a Renovação se desacelera, o processo de envelhecimento se acelera.

     Para saber como funciona a Renovação, vejamos em mais detalhes os seus elementos essenciais.

3.4.1  Aminoácidos

     Todas as enzimas são proteínas e todas as proteínas são formadas por blocos básicos e essenciais, chamados aminoácidos. Outras proteínas de cura úteis, inclusive os anticorpos e certos hormônios, também são sintetizadas a partir dos aminoácidos. Para suprir sua necessidade diária de proteínas e fornecer ao organismo os aminoácidos necessários sem acrescentar gorduras prejudiciais à sua alimentação, opte por cereais integrais e feijões, em vez de carnes.

3.4.2  Carboidratos complexos

     Carboidratos complexos fornecem a energia que fortalece o mecanismo da síntese química da célula. Grãos e feijões não-refinados fornecem os carboidratos complexos da mais alta qualidade. Lembre-se de evitar os açúcares - até os naturais, como frutose, sacarose e glicose. Eles simplesmente obstruem o funcionamento do organismo, como se você abastecesse o carro com querosene e não com gasolina.

3.4.3  Ácidos graxos essenciais

     Essas "vitaminas graxas" são insubstituíveis no processo da Renovação. Formam a estrutura básica das membranas celulares, como varredores de radicais químicos livres e intensificadores da atividade do sistema imunológico e como componentes antiinflamatórios chamados prostaglandinas. Sementes, feijões e vegetais contêm quantidades modestas de ácidos graxos essenciais. Mas, para obter a quantidade ideal, você precisa de suplementos, e os melhores são o óleo de linhaça e o óleo de borragem. (Você aprenderá mais sobre os ácidos graxos essenciais no Capítulo 8.)

3.4.4  Vitaminas

     Esses nutrientes servem como catalisadores para a série assustadora de reações químicas envolvidas na Renovação. Certas vitaminas - ou seja, A, C e E - também atuam como antioxidantes.

3.4.5  Minerais

     Os minerais desempenham papéis essenciais como co-fatores para nossos sistemas enzimáticos. Isso significa que eles ajudam as enzimas a realizar certas tarefas.

3.4.6  Substâncias fitoquímicas

     Esses nutrientes de cura multifacetados, descobertos recentemente, eliminam a lacuna entre a nutrição básica e a superalimentação. Pesquisas já mostraram que são elementos fundamentais na prevenção de doenças cardíacas, câncer e outras doenças degenerativas. Os tipos de substâncias fitoquímicas chegam a milhares, embora só uma quantidade relativamente pequena tenha sido identificada até agora. Além disso, são encontradas apenas em alimentos vegetais. Entre os exemplos estão mais de 600 carotenóides na laranja e nos vegetais amarelos, quercetina e outros flavonóides em frutas cítricas, inibidores de protease em produtos de soja e proantocianidinas no extrato de semente de uva.

3.4.7  Programa genético

     Para administrar e coordenar a proteção, o reparo e a regeneração celular, o sistema de cura do seu corpo precisa, antes de mais nada, de um conjunto de planos. Seu programa genético é a molécula de DNA em forma de dupla hélice. O DNA controla tudo o que uma célula faz, dirigindo a produção de milhares de enzimas diferentes, cada uma das quais catalisa uma dos milhares de reações químicas que o mantêm vivo.

3.5  Uma Aventura Celular

     Nunca me canso de pensar no milagre da Renovação que ocorre em cada uma dos 100 trilhões de células do corpo humano. Sob muitos aspectos, uma célula se parece muito com um corpo humano em miniatura. Ela precisa de alimento. Gera energia. Elimina resíduos. Reproduz. Tem um tempo de vida definido. As células se esforçam muito para permanecerem saudáveis. E precisam desesperadamente de sua ajuda.

     Para avaliar completamente o funcionamento da Renovação, precisamos ter um conhecimento básico do que acontece dentro da célula. Então venha comigo nessa breve viagem dentro de uma célula típica para examinarmos seus componentes mais importantes. Em todo o resto do livro, farei referência às estruturas descritas aqui.

3.5.1  Membranas Celulares: Uma Ótima Proteção

     Talvez as estruturas celulares mais importantes sejam as membranas, capas protetoras localizadas tanto dentro quanto fora de cada célula. Uma membrana, chamada (adequadamente) de membrana celular, forma a superfície externa da célula. Outras membranas envolvem as organelas, unidades subcelulares menores que desempenham funções especializadas. Entre os exemplos de organelas estão a mitocôndria, que fornece a energia da célula; os lisossomos, que digerem e expelem o resíduo celular; e o núcleo, que aloja o DNA e os cromossomos. Você aprenderá mais sobre essas estruturas um pouco mais adiante, neste capítulo.

     As membranas são barreiras bidirecionais altamente seletivas que protegem a célula e suas organelas, funcionando como uma combinação de guardas de segurança/leões-de-chácara. Sua principal tarefa é peneirar a sopa bioquímica fora e dentro da célula, determinando o que pode entrar e o que deve ser expulso. Através de sua seletividade, as membranas controlam o meio interno não apenas da célula como um todo, mas também de cada uma das organelas.

     Uma vez que todas as membranas se constituem basicamente de moléculas de gordura, a saúde ideal da membrana depende da ingestão ideal de ácidos graxos essenciais. Ao longo deste livro, enfatizarei repetidamente a importância dos suplementos de ácidos graxos essenciais. Eu mesmo os tomo, pois quando substâncias químicas indesejáveis batem à porta de minhas células, quero ter certeza de que os seguranças das minhas células - suas membranas - as mandarão embora. Não deixo de tomar também vitamina E e coenzima Q10 pois esses nutrientes ficam nas membranas ou próximo a elas, protegendo-as de radicais químicos livres que possam causar danos.

3.5.2  Mitocôndria: Essencial para a Energia

     A mitocôndria é uma pequenina casa de força que gera a energia necessária para impulsionar os processos químicos e biológicos do organismo, inclusive a Renovação. Assim como dependemos da companhia local de eletricidade para fornecer continuamente energia para nossas casas, as células dependem da mitocôndria para fornecer continuamente energia para cura e reparo.

     Na mitocôndria, a queima controlada de glicose (um açúcar) na presença de oxigênio libera energia. A palavra operacional aqui é "controlada"3. A energia deve ser gerada de modo homogêneo e gradual. Caso contrário, o processo de queima produz um excesso de radicais químicos livres.

     A queima controlada requer suprimentos adequados de vários nutrientes, incluindo as vitaminas do complexo B, a vitamina C e a coenzima Q10. Sem quantidades suficientes desses nutrientes, a produção de energia, e com ela o processo de Renovação, fracassaria mais rápido que uma bombinha molhada em uma festa junina.

     A mitocôndria também conta com certos nutrientes para defender suas membranas contra os radicais químicos livres durante a produção de energia. Esses nutrientes protetores incluem as vitaminas A, C e E, além das substâncias fitoquímicas antioxidantes - flavonóides, carotenóides e licopeno. Além disso, as células produzem suas próprias enzimas antioxidantes, das quais a mais importante é a glutationa. Deficiências de qualquer um desses nutrientes podem, em última instância, fazer com que a mitocôndria falhe e perca força, como um automóvel com problemas de ignição.

3.5.3  Lisossomos: Especialistas na Eliminação de Resíduos

     Sob alguns aspectos, os lisossomos são as organelas mais notáveis, pois resumem a Renovação em nível celular. Esses sacos limitados por membranas contêm enzimas poderosas para digerir grandes moléculas orgânicas. Como pequeninas unidades de remoção de lixo, os lisossomos engolem e digerem o material residual das células, inclusive proteínas, açúcares, gorduras, ácidos nucléicos, pesticidas e aditivos alimentares.

     Os lisossomos não apenas removem resíduos indesejados como também ajudam o organismo a reciclar suas próprias estruturas básicas desmontando moléculas em suas partes componentes, que podem, assim, ser reutilizadas. As enzimas, por exemplo, são moléculas de proteína constituídas de cadeias de aminoácidos. Os lisossomos podem decompor essas moléculas em seus aminoácidos constituintes, que são então devolvidos ao poço de aminoácidos do organismo - uma espécie de estoque de peças sobressalentes - para produzir outra proteína mais tarde. O processo de Renovação auxiliado pelos lisossomos é uma operação em grande escala: uma célula típica do fígado humano recicla metade de suas moléculas orgânicas por semana.

     Para funcionar em sua capacidade máxima, os lisossomos, tal como a mitocôndria, necessitam de quantidades ideais de todos os nutrientes essenciais. Minerais como zinco, selênio e magnésio são especialmente importantes, pois ajudam as enzimas digestivas de um lisossomo. Ácidos graxos essenciais mantêm saudáveis as membranas protetoras do lisossomo. E pelotões de antioxidantes protegem essas membranas do ataque das toxinas que o lisossomo supostamente contém. Se uma membrana do lisossomo se rompe, uma fermentação corrosiva de enzimas digestivas derrama-se no interior da célula, causando danos.

     Uma dieta rica em alimentos de origem animal, aditivos, pesticidas, poluentes e outros formadores de radicais químicos livres contém grande quantidade de substâncias que terminam como lixo nos lisossomos. Alimentar-se dessa maneira sobrecarrega de modo anormal o processo de desintoxicação celular e comprovadamente encurta a vida.

3.5.4  Núcleo: O Centro das Ações

     As funções de proteção e reparo da Renovação são particularmente cruciais para o núcleo. Localizado no centro da célula, o núcleo contém o DNA, seu mapa genético. O DNA tem duas funções: produzir enzimas para ajudar no reparo de estruturas celulares danificadas e orquestrar a duplicação para substituir células danificadas ou desgastadas.

     Para que a duplicação ocorra sem erros, uma célula deve conter um DNA intacto e não-danificado. Se o suprimento de antioxidantes da célula se esgotar, radicais químicos livres podem fraturar o DNA, causando a síntese defeituosa de proteína (que afeta a produção de enzimas) e/ou uma duplicação celular imprecisa. Isso pode causar a morte da célula ou uma mutação genética e uma divisão celular descontrolada - o prelúdio para o câncer. Assim, podemos ver como é importante proteger o DNA diariamente com suplementos antioxidantes.

3.5.5  Um Banquete Adequado para a Célula

     Como você pode observar, praticamente todos os aspectos do funcionamento celular dependem da presença de nutrientes básicos. Basta que um desses nutrientes não esteja disponível para que o desempenho da tarefa das estruturas internas da célula fique comprometido.

     Infelizmente, a dieta norte-americana típica, por exemplo, composta de alimentos processados, cheios de pesticidas e desvitalizados, não apenas é criminalmente deficiente em nutrientes essenciais como também repleta de radicais químicos livres. Ela fornece pouco apoio nutricional às células e, em última instância, acaba com a Renovação.

     Devo admitir que um banquete onde há um consumo descontrolado de carne, laticínios, frituras, fast food e alimentos prontos pode gerar a sensação de saciedade a curto prazo. Mas, a longo prazo, essa prática pode ceifar décadas de sua vida.

     Por outro lado, uma alimentação vegetariana, com baixo teor de gordura e a ingestão de suplementos com ampla variedade de antioxidantes melhora suas chances de viver 100 anos ou mais. Não é por coincidência que esses são dois dos três pilares do Programa Antienvelhecimento da Renovação (o terceiro é a prática de exercícios). Certamente, incluir em suas refeições frutas, hortaliças, feijões e ervilhas pode lhe parecer um pouco repugnante de início. Mas aposto que, com o tempo, você passará a adorar esses alimentos completos.

     Suas células também agradecerão a escolha de alimentos saudáveis. Afinal, elas são o destino de tudo o que passa por sua boca. E têm preferências muito definidas quanto ao que você come e bebe. Se pudessem simplesmente lhe dizer do que gostam e do que não gostam, elas o orientariam naturalmente para uma dieta ideal.

     Na verdade, vamos supor por um momento que você tenha convidado cinco células suas para jantar em seu restaurante preferido. Elas analisam o cardápio, em busca de algo adequado aos seus apetites muito particulares. As células querem uma refeição vegetariana, pois adoram as substâncias fitoquímicas dos produtos e temem os radicais químicos livres das carnes, que podem estilhaçar as suas enzimas. A refeição deve ter baixo teor de gordura, pois uma molécula oxidada de gordura - um radical livre - poderia fazer um orifício nas membranas protetoras da célula. E os ingredientes da refeição devem ser orgânicos, pois uma ou duas moléculas de pesticida podem fraturar o DNA da célula.

     Depois que todos fizeram o pedido, as células começam a ter uma conversa esclarecedora com você sobre seus hábitos alimentares. A Célula no 1, uma célula hepática, fala primeiro: "Gosto quando você toma seus suplementos. Eles me dão um controle sobre esses radicais químicos livres e limpam as toxinas do seu sangue com muito mais facilidade. Por falar nisso, eu adoraria que você tomasse alguns suplementos de N-acetilcisteína. Necessito deles para produzir mais glutationa, a minha principal defesa contra os radicais livres. Quanto mais glutationa eu tiver, mais segura e saudável ficarei."

     "Para mim, mais ginkgo, colina e vitaminas do complexo B, por favor", concorda a Célula no 2, uma célula nervosa animada e comunicativa. "Esses suplementos ajudam-me a produzir mais neurotransmissores, de modo que posso fazer um trabalho melhor, ao ajudá-lo a pensar. E aquele suplemento de acetil-L-carnitina que você experimentou no mês passado ... excelente! Ajudou-me a produzir mais energia e tornou minhas membranas mais resistentes aos danos causados pelos radicais químicos livres. Mas você poderia cortar o álcool. A taça de vinho que você tomou ontem realmente me pegou de surpresa. Fiquei fora de sintonia durante algumas horas. E duas irmãs minhas morreram por causa dele! O álcool realmente prejudica a nós, as células. O sr. Fígado Fantástico sabe lidar com isso - ele simplesmente clona mais células. Mas quando nós, células nervosas, morremos ... Bom, é isso aí!"

     A Célula no 3, uma célula renal, também tem um pedido a fazer: "Você se importaria de tomar água purificada? Ei, tenho uma tarefa a cumprir. É muito difícil se você bebe água da torneira. Essa água contém substâncias químicas tóxicas que me deixam doente."

     "E enquanto você está falando sobre isso", acrescenta a Célula no 4, uma célula do pâncreas, "tive problemas com a quantidade de açúcar que posso suportar. Você tem lançado muito açúcar em seu sistema ultimamente, e não deve fazê-lo. Posso produzir todo o açúcar de que você necessita se você me alimentar apenas de cereais integrais."

     A Célula no 5, uma célula do sistema imunológico, deu sua opinião sobre o assunto: "Nós, linfócitos, precisamos de menos gorduras de origem animal e de mais ácidos graxos essenciais para fortalecer nossas membranas, o que nos permitirá também protegê-lo melhor. Um vírus quase me pegou na semana passada, porque havia um ponto fraco na minha membrana externa. Gostaríamos de mais óleo de linhaça e óleo de borragem. E esqueça a margarina e os outros óleos hidrogenados, está bem?"

3.6  A Renovação em Funcionamento

     Se as suas células parecem um tanto hipersensíveis quanto à sua maneira de alimentá-las ... bem, elas têm que ser assim. Para elas, tomar os nutrientes certos é uma questão de vida ou morte. Uma alimentação ideal abastece a Renovação.

     A Renovação é um processo contínuo que tenta simplesmente conviver com o desgaste diário das células. Porém, às vezes o processo se desacelera, como resultado de doença ou lesão. A presença de sintomas físicos é uma mensagem clara de que as células estão sofrendo danos. Independentemente de a causa do sintoma ser uma enfermidade aguda e menor (como dor de cabeça ou resfriado) ou uma doença degenerativa crônica (como artrite e osteoporose), a Renovação tenta fazer as restaurações necessárias.

     Obviamente, algumas das doenças mais graves - incluindo doenças cardíacas, derrame e câncer, aquelas que chamo de assassinas silenciosas - desenvolvem-se sem sintomas óbvios que nos alertem de que o sistema de cura do organismo foi ativado. Contudo, a Renovação está funcionando, tentando remendar ou substituir células doentes. E talvez, mais do que nunca, precise de seu apoio.

     Quando os danos ocorrem fora do organismo, podemos observar o milagre da Renovação, à medida que se desenvolve. Tive a chance de observar isso, há muitos anos, quando minha mãe sofreu um acidente. Ela estava dando sua corrida diária - um hábito muito notável para uma mulher de seus 70 anos, na época - quando tropeçou, batendo na calçada e caindo de cara no chão. Fraturou o nariz e arranhou a testa e as bochechas. Só conseguiu levantar-se com a ajuda de um bom samaritano. Quando mamãe estava sendo atendida no pronto socorro mais próximo, o médico de plantão disse-lhe que precisaria de pelo menos um mês para se recuperar. Esse médico não considerou a Renovação!

     Na época, mamãe já seguia há vários anos o Programa Antienvelhecimento da Renovação e seu organismo estava pronto para um rápido reparo. Nem eu acreditei na rapidez da sua cura. Já no terceiro dia depois do tombo, as cascas das feridas estavam desaparecendo. Alguns dias depois, as escoriações praticamente haviam sumido. Mamãe recuperou-se com rapidez em aproximadamente metade do tempo esperado para alguém da sua idade. O programa da Renovação - uma combinação de alimentação, suplementos e exercícios - abrira caminho para uma rápida cura.

     Por falar nisso, esse acidente não diminuiu nem um pouco o ritmo de minha mãe. Hoje, ela está com mais de 80 anos e tem uma saúde de ferro. Ainda segue o programa da Renovação, correndo em dias alternados (embora preste um pouco mais de atenção às curvas da calçada) e fazendo exercícios com peso nos dias "de descanso". Está caminhando para o seu tempo máximo de vida - 120 anos saudáveis e vitais.

3.7  Um Processo Extraordinário

     Agora você sabe que, para aumentar seu tempo de vida, deve impedir danos celulares e, ao mesmo tempo, estimular seu sistema de cura. Para colocar isso em prática, são necessários três componentes da Renovação, complementares porém separados: proteção, reparo e regeneração. Cada um desses componentes deve funcionar de maneira ideal. Se um deles fracassar, todo o processo de Renovação fica prejudicado.

     Vamos examinar a progressão da Renovação celular - dos danos até a proteção, o reparo e a regeneração - com mais detalhes.

3.7.1  Quando os Danos já Existem

     Como o capítulo anterior abordou os radicais químicos livres, presumo que você já saiba mais do que esperava a respeito dos danos celulares. Resumindo: suas células estão em um estado de sítio praticamente constante, sendo chutadas pelos radicais livres quase o tempo todo. Na verdade, os radicais livres são responsáveis pela maior parte dos danos celulares - o tipo de danos que encurtam vidas e matam pessoas antes do tempo.

     Uma célula típica é atingida por aproximadamente 20 bilhões de radicais químicos livres por dia. Para efeito de comparação, visualize um exército de 200 mil arqueiros hunos atacando a Grande Muralha da China. Supondo-se que cada arqueiro tenha 100 flechas, a quantidade de danos causados por esse exército sobre a extensão de 2.400 quilômetros de parede mal chegaria a um milésimo da quantidade de danos causados por radicais livres sobre cada célula em seu organismo, todos os dias. Visto de outro modo, cada arqueiro precisaria atirar 100 mil flechas para chegar à dose diária de ataques de radicais livres feitos a uma célula.

     É interessante observar que as células podem suportar esse tipo de punição, desde que o exército de antioxidantes esteja presente. Os antioxidantes neutralizam os radicais químicos livres, evitando que causem danos. Por isso é tão importante o consumo de quantidades generosas de antioxidantes de alimentos e suplementos.

     Quando a ingestão de antioxidantes fica abaixo da média, os radicais químicos livres dominam. Alguns bilhões de golpes aqui, outros bilhões de golpes ali e logo você estará lidando com um grande dano celular. Esse dano cumulativo tira das células a capacidade de se duplicarem. Impulsiona o processo de envelhecimento e acaba levando à morte.

3.7.2  Proteção: O Melhor Sistema

     Com certeza, os radicais químicos livres são elementos persistentes e provocadores. Mas, com a mesma certeza, não estamos à sua mercê. A natureza nos presenteou com uma série de armamentos complexos e impressionantes, com os quais podemos nos defender e defender nossas células. Vamos examinar mais detalhadamente esses potentes protetores.

3.7.2.1  Nutrientes antioxidantes

     Burros de carga do sistema de cura do organismo, os nutrientes antioxidantes estão em uma das duas subcategorias: nutrientes essenciais e substâncias fitoquímicas. Os nutrientes antioxidantes essenciais são os nutrientes absolutamente necessários para nos mantermos vivos. Entre eles estão:

     Diferentemente dos nutrientes antioxidantes essenciais, as substâncias fitoquímicas antioxidantes não são consideradas necessárias à sobrevivência. Mas esses componentes derivados das plantas são tão essenciais quanto eles se você quiser se proteger de doenças degenerativas e ter a melhor saúde possível. (Discutiremos esses "supernutrientes" em mais detalhes no Capítulo 25.)

     No Capítulo 2, discutimos como os nutrientes antioxidantes doam elétrons aos radicais químicos livres para neutralizá-los. Além disso, esses nutrientes protegem-se mutuamente contra a oxidação (processo pelo qual os radicais livres agarram elétrons de células saudáveis) através de sistemas de apoio múltiplos e sobrepostos. Por exemplo, o betacaroteno recicla as vitaminas A e E - e até outros carotenóides - substituindo seus elétrons perdidos, permitindo-lhes entrar de novo na briga contra os radicais livres.

     No meu consultório, avalio a situação dos nutrientes antioxidantes no paciente utilizando um exame de sangue chamado perfil antioxidante. O teste mede níveis de todos os nutrientes antioxidantes essenciais, assim como de várias substâncias fitoquímicas antioxidantes.

3.7.2.2  Enzimas antioxidantes

     O organismo humano aprendeu que não pode depender totalmente dos alimentos para ter um suprimento constante de antioxidantes. Assim, as células desenvolveram a capacidade de produzir seus próprios protetores, um trio de enzimas antioxidantes especiais com nomes bem diferentes: glutationa peroxidase, superóxido desmutase e catalase. Esses antioxidantes "feitos em casa" são produzidos por cada célula do corpo. Trabalham em conjunto com os antioxidantes da alimentação, à espreita, em busca de radicais químicos livres onde quer que possam aparecer.

     De longe, a mais importante das enzimas antioxidantes é a glutationa, a principal varredora de radicais químicos livres para as várias membranas de uma célula, inclusive as membranas da mitocôndria. A mitocôndria, como você deve estar lembrado, gera o suprimento de energia de uma célula através da queima controlada de glicose. Esse processo libera altas concentrações de radicais químicos livres, que continuam a golpear as membranas protetoras da mitocôndria.

     Como a glutationa desempenha uma função tão importante como essa - se uma célula perde seu suprimento de energia, não pode realizar sua tarefa - a manutenção de um nível ideal da enzima é considerada uma poderosa estratégia antienvelhecimento. Na verdade, a situação da glutationa está intimamente ligada à vulnerabilidade aos problemas de saúde que encurtam a vida. Quanto menor o nível de glutationa de uma pessoa, maior o seu risco de ter doenças cardíacas, câncer, doenças auto-imunes e todas as outras doenças degenerativas. O oposto também vale: um alto nível de glutationa oferece maior proteção contra doenças e aumenta a longevidade.

     Um simples teste de laboratório chamado perfil de estresse oxidativo pode dizer se o seu nível de glutationa está baixo e se a sua contagem de radicais químicos livres está alta (o excesso de radicais livres esgota a glutationa). Se for esse o caso, você pode aumentar significativamente a produção de glutationa do seu organismo ingerindo um suplemento que contenha a enzima, assim como os precursores da mesma, a N-acetilcisteína e o ácido lipóico.

3.7.2.3  O sistema imunológico

     Seu organismo também pode livrar-se dos radicais químicos livres através do sistema imunológico, cujas células devoram as partículas indesejáveis de duas maneiras. Primeiro, células chamadas linfócitos T e macrófagos4 identificam, cercam, engolem e digerem invasores formadores de radicais livres como vírus, bactérias, alérgenos e poluentes. (Esse processo é conhecido como fagocitose.) Segundo, outras células do sistema imunológico, chamadas linfócitos B, produzem anticorpos que encurralam os invasores indesejáveis, derrotando-os antes que possam causar problemas.

3.7.3  Reparo: Uma Caixa de Ferramentas Celular

     Quando os antioxidantes e o sistema imunológico não conseguem evitar que uma célula sofra danos, o organismo recorre à sua próxima linha de defesa: o reparo. A tarefa pode variar de intensidade: desde reparar pequenos toques na membrana externa da célula até substituir filamentos oxidados de DNA no núcleo.

     Antes de entrarmos nos elementos básicos do processo de reparo celular, permita-me contar uma pequena história. Em abril de 1906, um terremoto devastador assolou San Francisco. Nenhuma precaução poderia ter protegido a cidade da devastação que se seguiu. Qualquer coisa que tivesse resistido aos abalos foi totalmente consumida pelos incêndios que se seguiram. Os habitantes dessa cidade maravilhosa, porém, a reconstruíram completamente em apenas alguns anos.

     Cerca de 150 anos antes, um terremoto ainda mais devastador atingira a cidade de Lisboa, capital de Portugal. Em seis minutos, a cidade ficou reduzida a entulhos. Seu porto secou momentaneamente, para depois inundar, quando uma parede de 17 metros de água lançou-se de volta nele. Incêndios se seguiram e desmoronamentos foram desencadeados por tremores posteriores. Ao anoitecer, 60.000 pessoas haviam morrido. Porém, Lisboa ressurgiu de suas próprias cinzas e hoje ostenta uma das maiores economias do mundo.

     Você pode estar imaginando o que isso tem a ver com reparo celular. Bem, imagine suas células como microscópicos San Franciscos e Lisboas. Para elas, os tipos de danos causados por radicais químicos livres são muito semelhantes aos danos causados por um terremoto - exceto o fato de serem mais graves e incessantes.

     Cada célula do organismo aguenta 20 bilhões de golpes de radicais químicos livres, de intensidade variável, todos os dias de sua vida. Em cada instância, deve haver um reparo rápido e eficiente, para que as operações da célula possam prosseguir desimpedidas. Podemos ver por que o processo é incessante.

     Para que a Renovação seja eficaz, o ritmo de reparo deve acompanhar o ritmo dos danos. Se os danos superarem o reparo, o processo de envelhecimento se acelera e desenvolvem-se doenças. Quanto mais lento o ritmo de reparo celular, mais rápido o ritmo do envelhecimento, e vice-versa.

     Os componentes da célula mais vulneráveis aos danos causados por radicais químicos livres são as proteínas (especialmente as enzimas que catalisam reações químicas essenciais), os ácidos graxos (principalmente os da membrana celular) e o DNA (que fica no núcleo da célula). Reparar enzimas danificadas não é grande coisa. Nem remendar buracos nas membranas da célula. As duas tarefas são simplesmente uma questão de sintetizar moléculas substitutas de proteína ou lipídio (gordura), o que é feito a partir do programa genético no DNA da célula. Assim, recuperar enzimas e membranas, embora seja importante, é algo fácil de ser realizado.

     O mesmo já não se aplica ao reparo do DNA. Danos no DNA apresentam uma ameaça muito maior à célula, pois o seu programa genético corre perigo. Sem um programa genético intacto, uma célula não pode realizar a tarefa que lhe foi designada, restaurar-se ou duplicar-se de maneira precisa. Um DNA danificado, também conhecido como DNA mutante, é como um disquete danificado: a mensagem codificada dentro dele aparece desordenada. A incapacidade de recuperar um DNA danificado causa o envelhecimento acelerado.

     O DNA consiste em cadeias muito longas de pares de ácidos nucléicos, que são ligados a uma "coluna vertebral" de açúcares e fosfatos (gerando a conhecida configuração em dupla hélice). Imagine os ácidos nucléicos pareados como representantes de letras do alfabeto. Juntos, eles formam palavras que constituem o seu código genético. Quando os ácidos nucléicos pareados são danificados por radicais químicos livres, as cadeias longas que formam o DNA se rompem e as palavras tornam-se ininteligíveis.

     A preservação do DNA é tão importante para a sobrevivência humana que a natureza não a deixou ao acaso. De todas as complexas tarefas que o organismo pode realizar, considero o reparo do DNA a mais importante. Ela necessita de uma combinação maravilhosa de malícia e versatilidade.

     Cada célula monitora continuamente seu próprio DNA para verificar a ocorrência de "erros de código" - ou seja, danos provocados por radicais químicos livres. Quando um erro desses é detectado, uma equipe de enzimas restauradoras de DNA altamente especializadas (foram identificadas mais de 50 até hoje) começa a trabalhar.

     Primeiro, uma enzima chamada DNA nuclease identifica e elimina o segmento danificado do DNA, que pode incluir vários pares de ácidos nucléicos. Depois, outra enzima, a DNA polimerase, insere um segmento substituto, recuperando a sequência correta de ácidos nucléicos. Finalmente, uma terceira enzima, a DNA ligase, sela qualquer lacuna remanescente na cadeia de DNA.

     O processo de reparo do DNA ocorre como se colocássemos um elo em um colar quebrado, só que é muito mais rápido. Se pudesse encolher e observá-lo, você o consideraria um truque mágico.

     Não consigo deixar de ficar fascinado por esse processo - pelos "terremotos" de radicais químicos livres que dizimam as moléculas do DNA e pelos grupos de construção enzimática que os reconstroem. Pois, quando eu era estudante de medicina, nunca ouvira falar nessa simples idéia de que o organismo humano poderia recuperar qualquer molécula, muito menos uma molécula grande e complexa do DNA.

     Entretanto, o processo não é perfeito. Afinal, cada uma de suas moléculas de DNA recebe cerca de 10.000 golpes de radicais químicos livres todos os dias. As enzimas reparadoras do DNA fazem o melhor para se manterem em boas condições, trabalhando sem parar para remendar os danos. Mas os golpes ocorrem de maneira tão rápida e furiosa que o grupo de reparo não pode deixar que uma pequena quantidade de danos ocorra descontroladamente.

     Uma pequena quantidade de danos aqui e ali não representa sérios problemas. Mas, durante uma vida, os danos que as enzimas restauradoras não conseguem evitar começam a se acumular. Um DNA danificado ainda pode se duplicar, mas passa seus erros de código para seus descendentes. Assim, essas novas células também não funcionam direito.

     Isso sempre me lembra um episódio clássico do seriado de televisão I Love Lucy, no qual Lucy e Ethel se empregam na linha de produção de uma fábrica de doces. De início conseguem manter bem o ritmo. Depois, a esteira transportadora é acelerada e os chocolates passam com muita rapidez, impedindo a seleção e a embalagem. Elas enchem a boca e a roupa de balas - e mesmo assim não conseguem acompanhar. Com certeza, é muito engraçado na televisão. Mas quando acontece em nível celular, os resultados não são muito divertidos.

     Há uma relação direta entre o ritmo dos danos cumulativos causados ao DNA e o ritmo do envelhecimento. Na verdade, as espécies que vivem mais que os serem humanos - as tartarugas, por exemplo - acumulam danos de modo mais lento que nós. Segundo o modelo padrão atual do envelhecimento - a teoria mais abrangente até o momento -, danos cumulativos ao DNA despedaçam células incapazes de se duplicar corretamente, o que aos poucos corrói a função celular e precipita o aparecimento de doenças degenerativas. Além disso, um DNA danificado não pode produzir adequadamente as enzimas que impulsionam milhares de reações químicas em todo o organismo, o que, mais tarde, acelera o envelhecimento.

     Assim, o processo de envelhecimento ocorre mais ou menos desta maneira: a escassez de antioxidantes passa o controle aos radicais químicos livres. Estes atacam o DNA com tanta rapidez que os grupos de enzimas de reparo não conseguem se manter em plenas condições. Os danos não-reparados ao DNA se acumulam, prejudicando a duplicação das células e a produção das enzimas - que são reguladas pelo DNA. Resultado final: degeneração celular.

     Se os mecanismos de reparo do DNA fracassassem completamente, ficaríamos encrencados. Na verdade, é isso o que ocorre com as pessoas que têm um distúrbio dermatológico chamado xerodermia pigmentar. As células da pele perderam o programa genético para produzir enzimas reparadoras. Como resultado, as células não conseguem remendar os danos no DNA causados pela radiação ultravioleta do sol. (A radiação ultravioleta produz radicais químicos livres indistinguíveis dos produzidos pelo organismo.) Pessoas que sofrem de xerodermia pigmentar apresentam invariavelmente envelhecimento acelerado da pele, assim como câncer.

     Você precisará fazer o possível para manter os mecanismos de reparo na melhor forma, pois a incapacidade de recuperar o DNA tem consequências catastróficas. Acima de tudo, isso significa maximizar os níveis de antioxidantes, enquanto se diminuem os níveis de radicais químicos livres. Os antioxidantes protegem as moléculas de DNA contra os danos dos radicais livres. E quanto menos radicais livres por perto, menos danos eles causarão inicialmente.

     É aí que o Programa Antienvelhecimento da Renovação pode ajudar. O programa não apenas proporciona uma ingestão ideal de antioxidantes como também reduz a exposição aos radicais químicos livres. Adotando o programa, você terá milhões de lesões no DNA por célula a menos que uma pessoa da mesma idade que não segue o programa.

3.7.4  Regeneração: A Proeza Mais Interessante da Natureza

     Quando sofre tantos danos que não pode ser recuperada, a célula morre. Nesse ponto, a Renovação oferece uma opção final: a regeneração. Seu organismo substitui a célula morta por uma réplica exata. Como as células estão, de qualquer maneira, se dividindo o tempo todo, isso não representa um grande desafio - pois o dano cumulativo ao DNA é mínimo e as partes formadoras dos nutrientes necessários estão disponíveis.

     Quando eu escrevia este livro, passei por um momento difícil que serve para ilustrar a Renovação através da duplicação celular. Depois, o destino interveio.

     Dessa vez, o caso envolve Emma, minha filha de sete anos de idade. Certo dia, a professora de Emma na pré-escola entrou em meu consultório, visivelmente perturbada. "Emma esmagou o dedo na porta", disse. "Será que ela precisa levar pontos?"

     Corri para o carro da professora, onde minha filha esperava. Depois do mais longo abraço de 10 segundos, Emma desenrolou com cuidado a bandagem do dedo indicador esquerdo, mostrando-o corajosamente. A ponta do dedo estava bem ferida, o osso esmagado, e a unha havia sumido. "Sim, ela precisa levar pontos", eu disse, compreendendo o problema com a maior calma possível dentro das circunstâncias.

     Por sorte, meu amigo e vizinho, o médico John Canova, estava no consultório, alguns quarteirões dali. Durante duas horas, segurei a outra mão de Emma enquanto o Dr. John meticulosamente limpava e anestesiava o dedo machucado, dando pontos na parte ferida - com grande habilidade, cuidado e com extraordinário conhecimento cirúrgico. Sei que doeu bastante, mas Emma soube se comportar.

     Seis semanas depois, Emma mostrava o dedo machucado para ser examinado, levantando-o orgulhosa ao lado do outro dedo indicador para ser comparado. "Emma", eu disse, "você realmente fez um bom trabalho curando esse dedo." Exceto pela unha que ainda não voltara a crescer, os dois dedos pareciam idênticos! Qualquer um que tivesse visto a foto "antes" do ferimento de Emma ficaria admirado com a sua recuperação.

     A experiência de Emma é um exemplo ideal de como funciona a duplicação celular - embora ela ocorra diariamente sem grandes calamidades. O organismo está sempre substituindo células danificadas e desgastadas em cada órgão e tecido (com exceção das células nervosas, que podem ser recuperadas, mas não substituídas). E esse processo ocorre dentro de nós literalmente em todos os momentos de nossa vida.

****

     Em suma, a Teoria da Renovação descreve o sistema de cura do organismo: como ele protege as células contra danos, recupera células danificadas e regenera células irreparáveis. O restante deste livro lhe mostrará como incorporar a Teoria da Renovação em sua vida cotidiana, de modo que você possa alcançar o máximo tempo de vida.

     Antes disso, porém, o Capítulo 4 apresentará os pontos essenciais do Programa Antienvelhecimento da Renovação. Você terá uma noção básica do que deve comer, dos suplementos que deverá tomar e dos exercícios que deverá praticar para começar a obter imediatamente os benefícios da Renovação.

3.8  Bibliografia do Capítulo 3

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Notas de Rodapé:

3 A vida animal é cientificamente um fogo controlado. Literalmente o oxigênio do ar que respiramos queima os carbo-hidratos do alimento que comemos.
4 A produção de macrófagos é estimulada pela auto-hemoterapia. O médico Luís Moura explica que que ao injetar o próprio sangue no músculo o organismo quadriplica a quantidade de macrófagos. Estas células são chamadas pelo Dr. Luís Moura de Companhia de Lixo, Colurb, do organismo.