Índice Superior Vai para o próximo: Capítulo 7
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Neste capítulo trata-se da prática da ajuda de acordo com minhas compreensões sobre a consciência, sobre os laços de destino, sobre os movimentos do espírito na alma. Aqui descrevo minhas experiências no que diz respeito à ajuda e ofereço indicações de como podemos proceder em diferentes situações. Esta é a Hellinger Sciencia aplicada à ajuda.
Aqui não se trata de perceber os detalhes a fim de aplicá-los em uma situação similar. Isso seria difícil, porque a multiplicidade dessas experiências não pode ser compreendida através dos detalhes. Por isso, recomendo ler este capítulo como uma coletânea de histórias emocionantes sobre a vida, sem querer perceber os detalhes. Assim, vivenciando essas experiências, você crescerá gradualmente com elas. Quando se encontrar em situações similares, saberá, de repente, partindo de seu íntimo, o que é realmente importante, podendo seguir a sua compreensão, em sintonia com a situação como ela se mostra.
Essas histórias são reflexões sobre a ajuda, extraídas de vários cursos e são muito próximas às situações da vida real. Refletem a aprendizagem imediata através dos eventos reais, incluindo alguma repetição aparente, contudo sempre há um campo espiritual novo ou diferente. Os subtextos deste campo espiritual especial podem ser sentidos em cada história, enquanto elas se desdobram em ressonância com ele.
Ajudar é uma qualidade humana. Nós ajudamos os outros com prazer porque eles também nos ajudaram. E quando ajudamos outras pessoas, é também mais fácil tomar o que recebemos deles. Quando recebemos sem dar algo de volta, é difícil conservarmos aquilo que nos deram. Quando damos algo de volta, podemos manter o que recebemos, feliz e livremente. Isso é um traço humano universal.
A ajuda profissional é algo totalmente diferente. Se quisermos ajudar os outros em nossa vida profissional, com a mesma postura com que ajudamos em outras relações humanas, isso se torna perigoso. Por quê?
Em relação à ajuda profissional, por exemplo, nas Constelações familiares, na Psicoterapia, e ainda na Medicina, frequentemente trata-se de vida e morte. E trata-se de que uma pessoa alcance o seu próprio destino, de modo que possa se desenvolver e crescer, de acordo com o que lhe é adequado.
Em que mãos estão a vida e a morte? Nas mãos de um ajudante? Se alguém se comporta como se a vida e a morte de um outro ser humano estivessem em suas mãos, ele se arroga a uma posição que cabe somente a Deus ou à força que podemos sentir atrás dessa palavra. Portanto, em questões de vida e morte, é adequado o mais extremo recolhimento.
É permitido a nós realmente ajudar? Sim. Contudo, somente se estivermos em sintonia com as forças maiores, que decidem sobre a vida e a morte dos seres humanos. Que forças são essas?
Em primeiro lugar é o destino que todos nós assumimos, através de nossa família e nossa origem. Cada um de nós é filho de um pai e de uma mãe e de muitos ancestrais. Em ambos os lados aconteceram muitas coisas que afetam nossa vida. Por exemplo, quando houve crimes em nossa família, isso se torna o destino dos descendentes ou quando algumas pessoas foram excluídas ou esquecidas em nossa família. Elas atuam no presente como seu destino. Portanto, quando ajudamos alguém, precisamos respeitar e nos conectarmos com esse destino e com aquilo que o provocou.
O que isso significa na prática? Primeiro de tudo, quando ajudamos as pessoas, precisamos dar aos pais delas um lugar de respeito e amor em nossos corações, independentemente de como foram essas pessoas ou do que disseram sobre elas. Quando um cliente se queixa de seu pai ou de sua mãe, está ao mesmo tempo queixando-se de seu destino, queixando-se de Deus ou o que quer que seja que essa palavra nos oculta.
Quando eu dou espaço em minha alma ao que o cliente diz sobre seus pais, então me coloco como ele, acima do seu destino e acima de Deus. Então, como posso ajudá-lo dessa forma? Eu me transformo em seu criador.
Quando me comporto dessa forma, que efeitos tem em minha alma? E talvez também em meu corpo e em minha saúde? Uma pessoa pode adotar tais atitudes de superioridade, sem representar um grande perigo para si mesmo e para seu cliente?
Quando observamos as atitudes e procedimentos de muitas pessoas nas profissões de ajuda e o grau de cegueira que demonstram, quando realmente olhamos para isso mais detalhadamente, e deixamos que isso toque nossa alma, então podemos sentir que devemos nos submeter a uma transformação profunda, para que nossa maneira de ajudar seja segura, antes de mais nada, para nós mesmos e também para os outros.
Portanto, retomando: como podemos proceder com segurança? Não importa o que uma pessoa diga sobre seus pais, eu, como ajudante, olho para eles com profundo respeito e amor. Então, olho para os seus ancestrais e os destinos de seus familiares e me curvo profundamente, entrando assim em sintonia com esses destinos, com todo o pano de fundo e com a grande alma que atua aí. Quando estou em sintonia com tudo isso, recebo uma dica desse campo, que me diz se posso ou devo fazer algo, se preciso me recolher, se não devo fazer nada ou se devo ou preciso comunicar ao outro o que percebo.
Algumas vezes, a partir dessa ressonância, sou encarregado de dizer algo que parece ser duro, no entanto, está em sintonia com o destino. Outras vezes, sou encarregado de não me intrometer nisso e também de dizê-lo. Isso parece ser duro, entretanto acontece em conformidade com o outro, com a sua alma e seu destino.
Ajudar tem a ver com a promoção do crescimento, do crescimento interno. Como algo cresce?
Primeiro, quando é nutrido; segundo, quando precisa se impor contra forças que se opõem ao crescimento. Muitos ajudantes, frequentemente, preferem focar na nutrição e recuar perante o conflito. Entretanto, trata-se de confiar em que o outro saberá lidar com o seu conflito, administrando as adversidades.
As ordens da ajuda das quais falo aqui têm a ver com a ajuda como profissão, não com a ajuda interpessoal. Há uma diferença entre as duas. A ajuda como profissão é uma arte, uma habilidade de saber como. Sobretudo, precisamos saber como fazer para não nos deixarmos ser envolvidos em um relacionamento.
Ajudar é uma arte. Como em qualquer outra arte, faz parte dela uma faculdade que pode ser aprendida e praticada. Também faz parte dela uma sensibilidade para compreender a pessoa que procura ajuda, isto é, a compreensão daquilo que lhe é adequado e, simultaneamente, daquilo que o expande para além de si mesmo, para algo mais abrangente.
Nós, seres humanos, dependemos, sob todos os aspectos, da ajuda de outros. Só assim podemos desenvolver nosso potencial. Ao mesmo tempo, precisamos também ajudar outros. Quando não temos necessidades e quando não podemos ajudar outras pessoas, nos tornamos isolados e definhamos. Assim, nossa ajuda não serve somente aos outros, mas também a nós mesmos.
A ajuda é recíproca, por exemplo, entre parceiros. Ela se ordena pela necessidade de compensar. Quem recebeu de outros o que deseja e precisa, também quer dar algo, restaurando o equilíbrio entre o dar e o tomar.
Frequentemente, a compensação através da retribuição só é possível de uma forma limitada, por exemplo, em relação a nossos pais. O que eles nos presentearam é grande demais para que possamos compensar, retribuindo com algo. Assim, só nos resta, em relação a eles, o reconhecimento pelo presente que nos deram e o agradecimento que vem do coração. A compensação através da retribuição e o consequente alívio só se consegue quando se passa isso adiante, por exemplo, para nossos filhos ou para outras pessoas.
O dar e o tomar acontece em dois níveis. O primeiro, que ocorre entre pessoas equiparadas, permanece no mesmo nível e exige reciprocidade. No outro, entre pais e filhos ou entre pessoas com recursos superiores e outras com menos, existe um desnível. No segundo caso, dar e tomar se assemelha a um rio que flui, levando adiante o que recolheu. Este dar e tomar é maior, tem em vista, também, o que vem depois. Esse modo de dar, aumenta o que foi presenteado. Aquele que ajuda é tomado e inserido em algo maior, mais rico e duradouro.
Para esta ajuda ter sucesso, a longo prazo, precisamos ter recebido e tomado primeiro. Pois somente assim teremos a necessidade e a força de ajudar outros, principalmente quando essa ajuda exige muito de nós. Ao mesmo tempo, pressupõe que aqueles que queremos ajudar também necessitam e desejam aquilo que podemos e queremos dar a eles. Caso contrário, a nossa ajuda se perde no vazio. Separa, ao invés de unir.
A primeira ordem da ajuda consiste em dar apenas o que se tem, e esperar e tomar apenas o que se necessita.
A primeira desordem da ajuda começa quando uma pessoa quer dar o que não tem, e a outra quer tomar algo de que não precisa. A desordem também ocorre quando uma pessoa espera e exige da outra algo que ela não pode dar, porque ela mesma não tem. Mas também quando uma pessoa não pode dar algo, porque com isso tiraria da outra a responsabilidade por algo que só ela pode ou deve carregar sozinha ou precisa ou deve fazer. Portanto, existem limites a serem observados no dar e tomar. Pertence à arte da ajuda percebê-los e se submeter a eles.
Essa ajuda é humilde. Muitas vezes, renuncia à ajuda em face da expectativa e também do sofrimento. Nas Constelações familiares, podemos ver que o ajudante deve exigir tanto de si tanto daquele que procura a sua ajuda. Essa humildade e essa renúncia contradizem muitas idéias tradicionais sobre a maneira correta de ajudar, expondo, frequentemente, o ajudante a graves acusações e ataques.
Por um lado, a ajuda está a serviço da sobrevivência e, por outro, da evolução e do crescimento. A sobrevivência, a evolução e o crescimento dependem de circunstâncias especiais, tanto externas quanto internas. Muitas circunstâncias externas são preestabelecidas e inalteráveis, por exemplo, uma doença hereditária, consequências de acontecimentos, uma culpa pessoal ou de outras pessoas. Quando a ajuda desconsidera as circunstâncias externas ou não as admite, está fadada ao fracasso.
Isso é ainda mais crucial para as circunstâncias de natureza interna. A elas pertence a missão pessoal e particular, o emaranhamento nos destinos de outros membros familiares e o amor cego que, sob a influência da consciência, permanece ligado ao pensamento mágico. O que isso significa, nos seus pormenores, esclareci minuciosamente no meu livro Ordens do Amor, no capítulo Do céu que faz adoecer e da terra que cura.
Para muitos ajudantes pode ser que o destino do outro pareça ser difícil e por isso querem mudá-lo. Entretanto, muitas vezes, não porque o outro precise ou queira, mas porque os próprios ajudantes não conseguem suportar esse destino. E quando o outro, mesmo assim se deixa ajudar por eles, não é tanto porque precise, mas porque deseja ajudar o ajudante. Então, essa ajuda que parte do ajudante se transforma em tomar e o receber a ajuda, doar.
A segunda ordem da ajuda é, portanto, nos submetermos às circunstâncias e somente interferir e apoiar à medida que elas o permitirem. Essa ajuda é discreta e tem força.
A desordem da ajuda seria, aqui, negarmos ou encobrirmos as circunstâncias, ao invés de olhá-las juntamente com aquele que procura ajuda. O querer ajudar contra as circunstâncias enfraquece tanto o ajudante quanto aquele que espera ajuda ou a quem ela é oferecida ou até mesmo imposta.
O arquétipo da ajuda acontece na relação entre pais e filhos, principalmente, entre mãe e filho. Os pais dão, os filhos tomam. Os pais são grandes, superiores e ricos; os filhos pequenos, necessitados e pobres. Entretanto, porque pais e filhos estão ligados por um profundo amor mútuo, o dar e o tomar entre eles pode ser quase ilimitado. Os filhos podem esperar quase tudo de seus pais. Estes estão dispostos a dar quase tudo aos seus filhos. Na relação entre pais e filhos as expectativas dos filhos e a prontidão dos pais para atendê-las são necessárias e por isso, estão em ordem.
Entretanto, estão em ordem enquanto os filhos ainda são pequenos. Com o avançar da idade os pais vão colocando limites aos filhos, com os quais estes podem entrar em atrito, amadurecendo dessa forma. Então os pais são menos amorosos com os seus filhos? Seriam pais melhores se não colocassem limites? Ou provam ser bons pais justamente porque exigem de seus filhos algo que os prepara para uma vida de adultos? Muitos filhos ficam então com raiva de seus pais porque preferem manter a dependência original. Contudo, justamente porque os pais se retraem e desiludem essas expectativas, ajudam seus filhos a se libertarem dessa dependência e, passo a passo, agirem por própria responsabilidade. Somente assim os filhos tomam o seu lugar no mundo dos adultos e se transformam de tomadores em doadores.
Muitos ajudantes, por exemplo, na psicoterapia e no trabalho social pensam que precisam ajudar aqueles que procuram ajuda, como pais ajudam seus filhos pequenos. Inversamente, muitos que procuram ajuda esperam que os ajudantes se dediquem a eles como pais em relação a seus filhos e esperam receber deles, mais tarde, o que ainda esperam ou exigem de seus próprios pais.
O que acontece se os ajudantes correspondem a essas expectativas? Eles se envolvem numa longa relação.
Para onde leva essa relação? Os ajudantes ficam na mesma situação dos pais, no lugar onde se colocaram através desse desejo de ajudar. Passo a passo, precisam colocar limites aos que procuram ajuda, decepcionando-os. Então, estes desenvolvem frequentemente, em relação aos ajudantes, os mesmos sentimentos que tinham antes, em relação aos pais. Dessa maneira, os ajudantes que se colocaram no lugar dos pais e talvez até queiram ser melhores que os pais tornam-se, para os clientes, iguais aos pais deles.
Muitos ajudantes permanecem presos na transferência e na contratransferência da criança em relação aos pais, dificultando assim ao cliente a despedida, tanto de seus pais quanto deles.
Ao mesmo tempo, a relação segundo o modelo da transferência entre pais e filhos impede também o desenvolvimento pessoal e amadurecimento do ajudante. Vou ilustrar isso com um exemplo:
Quando um homem jovem se casa com uma mulher mais velha, ocorre a muitos a imagem de que ele procura uma substituta para sua mãe. E ela, o que procura? Um substituto para seu pai. O inverso também é válido. Quando um homem mais velho se casa com uma mulher jovem, muitos dizem que ela procurou um pai. E ele? Ele procurou uma substituta para sua mãe. Portanto, embora isso possa soar estranho, quem persiste por muito tempo numa posição superior e até a procura e quer conservá-la, recusa-se a assumir seu lugar de igual para igual, no mundo dos adultos.
Contudo, existem situações em que é conveniente que, por um curto tempo, o ajudante represente os pais, por exemplo, quando um movimento precocemente interrompido precisa ser completado. Quando uma criança teve que ficar no hospital por um longo tempo e não pôde estar com sua mãe ou com seu pai, embora tenha precisado deles urgentemente e sentido muito a sua falta, depois de algum tempo, o seu desejo se transforma em tristeza, desespero e raiva. Então a criança afasta-se dos pais e, mais tarde, de outras pessoas também, embora tenha o desejo de ficar. As consequências de um rompimento precoce do movimento em direção aos pais podem ser superados se o movimento original for retomado e levado ao fim. Nesse processo, o ajudante representa a mãe ou o pai do cliente daquela época, e o cliente pode terminar o movimento interrompido em direção aos pais, como a criança daquela época. Mas, diferentemente da transferência da relação entre pais e filhos, os ajudantes representam aqui os pais reais e não se colocam em seu lugar como uma mãe melhor ou um pai melhor. Por isso, os clientes também não precisam se desprender deles. Os ajudantes deixam os clientes voltarem para seus pais reais e, assim, clientes e ajudantes ficam livres.
Seguindo esse modelo de sintonia com os pais verdadeiros, os ajudantes podem fazer fracassar, desde o início, a transferência da relação entre pais e filhos. Pois se eles respeitam de coração os pais de seus clientes, se estão em sintonia com esses pais e seus destinos, os clientes encontram, ao mesmo tempo, nos ajudantes, os seus pais, não podendo mais se esquivar deles.
O mesmo é válido, quando ajudantes lidam com crianças. Na medida em que somente representam os pais, os clientes podem se sentir acolhidos junto a eles. Os ajudantes não se colocam no lugar dos pais.
A terceira ordem da ajuda, então, é que o ajudante também se coloque como adulto perante um adulto que procura ajuda. Com isso recusa as tentativas do cliente de forçá-lo a fazer o papel de seus pais. É compreensível que isso seja sentido e criticado por muitos como dureza. Paradoxalmente, essa "dureza" é criticada por muitos como arrogância, embora, olhando com exatidão, o ajudante seja muito mais arrogante numa transferência da relação entre pais e filhos.
A desordem da ajuda ocorre quando o ajudante permite que o cliente faça reivindicações a ele como uma criança a seus pais, e quando o ajudante trata o cliente como uma criança, para poupá-lo de algo que ele mesmo precisa e deve carregar - a responsabilidade e as consequências.
É o reconhecimento dessa terceira ordem da ajuda que diferencia de modo fundamental as Constelações familiares e o trabalho com os movimentos da alma da psicoterapia habitual.
Sob a influência da psicoterapia clássica, muitos ajudantes frequentemente encaram seu cliente como um indivíduo isolado. Com isso, também ficam facilmente em perigo de uma transferência da relação entre pais e filhos.
Mas o indivíduo é parte de uma família. Somente quando o ajudante o percebe como uma parte de sua família, é que ele percebe de que o cliente precisa e a quem ele talvez deva algo. O ajudante percebe, realmente, o cliente quando o vê junto com seus pais e ancestrais e talvez também com o seu parceiro e seus filhos. Então percebe também quem mais precisa de respeito e ajuda nessa família e a quem o cliente precisa se dirigir para reconhecer e dar os passos decisivos em sua vida.
A quarta ordem da ajuda requer que a empatia do ajudante deve ser focada mais no sistema como um todo do que exclusivamente no cliente. Ele não se envolve num relacionamento pessoal com o cliente.
A desordem da ajuda aqui seria ignorar ou desrespeitar outros membros da família que, por assim dizer, têm nas mãos a chave para a solução. A elas pertencem sobretudo as pessoas que foram excluídas da família, por exemplo, porque os outros se envergonharam delas.
Também aqui o grande perigo é que essa empatia sistêmica seja sentida como dura pelo cliente, principalmente por aqueles que fazem reivindicações infantis ao ajudante. Contudo, aquele que procura uma solução, de maneira adulta, sente o procedimento sistêmico como uma libertação e uma fonte de força.
Podemos ajudar de uma forma completamente diferente quando vemos imediatamente atrás dos clientes seus pais e o destino deles. Dessa forma perdemos o olhar estreito só para o cliente e olhamos para algo maior. Colocamos em primeiro lugar os seus pais no nosso coração, com respeito, e nos curvamos diante deles.
O que podemos fazer pelos clientes quando começam a reclamar de seu destino ou de seus pais,? Nada. Quem reclama de seus pais os perdeu. Não podemos e não devemos ajudar essa pessoa, contudo, existem algumas maneiras com as quais podemos ajudar.
Por exemplo, podemos dizer para uma pessoa que reclama de seu pai ou de sua mãe: "Quando olho para você, vejo como eles eram grandes." O que ela faz, então? Ela não vai mais poder reclamar deles.
As Constelações familiares unem o que antes estava separado. Nesse sentido, está a serviço da reconciliação, sobretudo com os pais. O que impede essa reconciliação é a diferenciação entre os bons e maus membros da família, tal como fazem muitos ajudantes, sob a influência de sua própria consciência e de uma opinião pública que está presa dentro dos limites dessa consciência. Quando um cliente se queixa de seus pais, das circunstâncias de sua vida ou de seu destino, e o ajudante simplesmente adota essa visão do cliente, está mais a serviço do conflito e da separação do que da reconciliação. A ajuda a serviço da reconciliação só pode ser realizada por aquele que der um lugar em seu coração para a pessoa de quem o cliente reclama. Dessa maneira, o ajudante antecipa em sua própria alma o que o cliente ainda precisa realizar.
A quinta ordem da ajuda é, portanto, o amor a cada ser humano, não importa o quanto essa pessoa seja diferente de mim. Dessa forma, o ajudante abre seu coração para o outro, e o cliente se torna parte dele, também. Aquilo que se reconciliou em seu coração também pode se reconciliar no sistema do cliente.
A desordem da ajuda aqui seria o julgamento dos outros, que geralmente é uma condenação, e a indignação moral ligada a isso. Quem realmente ajuda, não julga.
Algo mais é importante em relação à ajuda. Tão logo tomemos partido, não podemos mais ajudar. Por exemplo, se nós tomarmos partido do outro contra seus pais, contra o seu patrão, contra a sociedade malvada ou não importa o que seja, não poderemos ajudá-lo mais.
Existem situações onde tomamos partido instintivamente. Por exemplo, quando alguém fala de incesto, de abuso sexual, de estupro, de um pai agressivo ou de um parceiro agressivo. Instintivamente, ficamos do lado da vítima e contra o ofensor. Entretanto, fazendo isso, perdemos nosso chão. Só quando todas as pessoas envolvidas são igualmente respeitadas com seu destino especial e seus emaranhamentos, quando podemos permanecer no amor maior perante eles - não no amor da compaixão, mas no amor que reconhece o todo, como ele é - somente então podemos ajudar. Assim os movimentos profundos da alma são possíveis, reconciliando o que estava antes em conflito.
Portanto, esse é o aspecto importante aqui: que reconheçamos que a diferenciação entre o bom e o mau é um obstáculo importante para a verdadeira ajuda. Quando renunciamos a essa diferenciação estamos, no nosso íntimo, a serviço da reconciliação, a serviço da paz. Esta é a verdadeira ajuda.
Quando um cliente reclama de alguma situação de sua infância, o que ele está realmente fazendo? Ele deseja que tivesse sido diferente do que foi. O que acontece no ajudante quando ele sente pena do cliente? Ele também deseja que tivesse sido diferente. Com isso, ambos estão cortados da realidade como ela foi. O que foi se transforma numa fonte de força quando se reconhece o passado e se concorda com ele, como foi. Quem reclama perde essa força, então o que aconteceu foi em vão para ele.
Portanto, como ajudante, concordo com a situação do cliente, exatamente como é ou foi, sem nenhum pesar.
Esta é a sexta ordem da ajuda. Através do reconhecimento, ganho força. Através do meu reconhecimento, o cliente também ganha força para concordar com o seu passado exatamente como foi.
A desordem da ajuda é quando queremos que algo seja diferente do que é ou do que foi. Como se mostra que um ajudante gostaria de que fosse diferente do que foi ou é? Ele quer consolar o outro. Consolar significa aqui: ele lastima com o cliente sobre o que foi, da maneira que foi.
Quando uma pessoa vivenciou algo ruim, podemos sentir juntamente com ele. Isso também nos afeta. Contudo, se concordarmos internamente com esta situação ruim como é ou foi, sentimos dentro de nós a força que ele pode conquistar com isso, quando concorda. Então não precisa ser consolado.
Muitos ajudantes não conseguem suportar a realidade de um cliente. Ao invés de se expor a essa realidade, tentam consolá-lo. Com isso encobrem a sua realidade porque não podem suportá-la, por exemplo, a realidade de que a morte do cliente está próxima ou que está entregue a um destino inevitável. Tão logo entremos internamente em sintonia com a sua realidade, ficamos tranquilos. Através de nossa tranquilidade e nossa concordância com o seu destino, como é, o cliente ganha força para se expor a ele.
Portanto, ajudar nesse sentido permanece em sintonia com a grandeza da vida e de sua plenitude, também em sintonia com seu desafio e sua dureza, simultaneamente com tudo. Então o outro pode crescer na nossa presença, como nós crescemos quando nos expomos à realidade, como ela é: à sua e à nossa realidade.
Para poder agir de acordo com as ordens da ajuda é necessária uma percepção especial. O que disse sobre as ordens da ajuda não deve ser aplicado de modo rigoroso e metódico. Quem tentar fazer isso está pensando, ao invés de perceber. Ele reflete e recorre a experiências anteriores ao invés de se expor à situação como um todo e dela apreender o essencial. Por isso, essa percepção é tanto direcionada quanto reservada.
Nessa percepção, eu me direciono a uma pessoa, entretanto sem querer algo determinado, a não ser percebê-la interiormente, de uma forma abrangente, e considerando a próxima ação que deve ser realizada.
Essa percepção surge do centramento interno. Nele, abandono o nível das reflexões, das intenções, das diferenciações e dos medos. Eu me abro para algo que me toca imediatamente, a partir do interior. Aquele que, como representante numa constelação, já se entregou aos movimentos da alma e foi dirigido e impelido por eles de uma forma totalmente surpreendente, sabe do que estou falando. Ele percebe algo que, para além de suas idéias habituais torna-o capaz de ter movimentos precisos, imagens internas, vozes interiores e sensações incomuns. Esses movimentos o dirigem, por assim dizer, de fora, e simultaneamente de dentro. Perceber e agir convergem aqui. Portanto, essa percepção é menos receptiva e reprodutiva, ela é produtiva: leva à ação, amplia e se aprofunda na realização.
Normalmente, a ajuda que sobrevêm dessa percepção é de curta duração. Permanece no essencial, mostra o próximo passo, retira-se rápido e deixa o outro imediatamente em sua liberdade. É uma ajuda de passagem. Nós nos encontramos, damos uma indicação e cada um retorna ao seu próprio caminho. Essa percepção reconhece quando a ajuda é conveniente e quando prejudica; quando desencoraja mais do que promove; quando é mais um alívio da nossa própria necessidade do que servir ao outro. E é modesta.
Talvez ainda seja útil descrever aqui as formas diversas de conhecimento para que, quando ajudarmos, possamos recorrer e escolher dentre elas a maior gama de possibilidades. Vou começar com a observação.
A observação é aguda, precisa e direcionada para os detalhes. Por ser tão precisa, é também limitada. Escapa-lhe o que está ao redor, tanto o que está mais próximo quanto o mais distante. Porque é tão exata, ela é próxima, resoluta e penetrante e também, de certa forma, impiedosa e agressiva. Ela é condição para a ciência exata e para a técnica moderna que é dela proveniente.
A percepção é distanciada. Precisa da distância. Ela percebe simultaneamente várias coisas, abrange com a vista, ganha uma impressão do todo, vê os detalhes ao seu redor e no seu lugar. Entretanto, no que diz respeito aos detalhes, ela é imprecisa.
Este é um lado da percepção. O outro é que ela compreende o que é observado e percebido, ela compreende o significado de uma coisa ou de um processo observado e percebido. Ela vê, por assim dizer, por trás do observado e percebido, compreende o seu sentido. Portanto, acrescenta-se à observação externa e à percepção uma compreensão.
A compreensão é baseada na observação e percepção. Sem a observação e a percepção não há compreensão. Ao contrário: sem a compreensão, o observado e o percebido permanecem desconectados. Observação, percepção e compreensão compõem um todo. Apenas quando atuam juntas é que percebemos, de forma que podemos agir de um modo significativo; sobretudo ajudar de um modo significativo.
A intuição. Na execução e na ação aparece, frequentemente, ainda um quarto elemento: a intuição. Ela está relacionada à compreensão, assemelha-se a ela, mas não é a mesma coisa. A intuição é a compreensão súbita da próxima ação a ser realizada.
A compreensão é, muitas vezes, geral, compreende todo o contexto e todo o processo. A intuição, pelo contrário, reconhece o próximo passo e por isso é exata. A relação entre a intuição e a compreensão é semelhante à relação entre a observação e a percepção.
A sintonia é percepção que vem de dentro, em um sentido amplo. Também está direcionada a uma ação, de maneira semelhante à intuição, principalmente a uma ajuda que conduz à ação. A sintonia exige que eu entre na mesma vibração do outro, que chegue à mesma faixa de onda, sintonize com ele e, assim, entenda-o. Para entendê-lo, preciso também entrar em sintonia com sua origem, principalmente com seus pais, mas também com seu destino, suas possibilidades, seus limites - também com as consequências de seu comportamento, sua culpa e, finalmente, com sua morte.
Em sintonia, eu me despeço de minhas próprias intenções, meu julgamento, meu superego e daquilo que ele quer, do que eu devo e preciso fazer. Isso quer dizer: chego à mesma sintonia comigo e com o outro. Dessa forma, o outro também pode entrar em sintonia comigo, sem se perder, sem precisar ter medo de mim. Também posso estar em sintonia com ele e permanecer em mim mesmo. Não me entrego a ele, em sintonia com ele conservo a distância e, exatamente por isso, posso perceber precisamente o que posso e devo fazer quando o ajudo. Por isso a sintonia é também passageira, dura somente o tempo que dura a ação que ajuda. Depois disso cada um volta à sua vibração especial. Por isso, não existe na sintonia transferência nem contratransferência, nem a chamada relação terapêutica, portanto, nenhuma tomada de responsabilidade pelo outro. Cada um permanece livre.
Muitos ajudantes acham que devem colocar alguma coisa em ordem, da mesma maneira que se conserta algo que não funciona mais. Assim, por exemplo, consertamos um relógio quebrado ou levamos um carro que não funciona mais para a oficina. Lá é consertado e depois volta a funcionar. De forma parecida, alguns pais levam um filho ao terapeuta para que ele o conserte e volte a funcionar novamente ou vão eles próprios ao terapeuta e dizem: "Aqui estou. Agora me conserte. Não sei o que tenho de errado, mas você tem que descobrir. Se olhar bem, vai ver o que tenho, então você conserta e ficarei bem novamente." Tanto entre os clientes quanto entre os ajudantes essa postura de que é possível interferir dessa maneira é bastante difundida.
Mas também podemos proceder de outra forma: quando vemos que alguém tem um problema, trazemos algo à luz que, até então, estava oculto. De repente o outro tem uma imagem diferente da sua situação e, então, o ajudante para de ajudar. Ele apenas traz algo à luz.
Depois não é mais ele quem trabalha, é a imagem que trabalha. Esta imagem não deixa a alma em paz e, assim, inicia-se um processo de crescimento na alma. Esse processo pode demorar muito tempo, talvez um ou dois anos - e, de repente, algo está mudado, mas não porque o ajudante fez alguma coisa e sim porque uma imagem veio à luz, e o que antes estava oculto começou a atuar. Portanto, no final, cada um segue sua própria alma.
O ajudante apenas ajuda o outro para que sua alma receba novas informações que não vêm de fora e sim, de dentro. Nas Constelações familiares como as conhecemos de antigamente, os clientes colocam a imagem - não o ajudante. E vêem aquilo que eles mesmos colocaram, ou seja, permanecem consigo mesmos.
Quando o ajudante transcende as Constelações familiares no seu trabalho e trabalha com os movimentos da alma e do espírito e, talvez no início, posicione somente o próprio cliente ou um representante dele, surge neles um movimento que vem do interior, sem determinações externas e traz à luz algo que estava velado.
Aqui atua algo no espaço. Trata-se de uma imagem no espaço, uma imagem atemporal que atua se a deixarmos da maneira como se mostra.
Em muitas terapias se fazem perguntas. Tenta-se descobrir o que houve no passado. Mais tarde se quer saber como continuou, por exemplo, após um mês ou um ano. Dessa forma nos movimentamos num eixo de tempo com início, meio, fim.
Na maior parte das vezes renuncio a essas perguntas e a esse conhecimento. Permaneço com aquilo que se mostrou como imagem, dentro do espaço. Isto atua como imagem e não é modificado, no máximo é ampliado através de pessoas que são acrescentadas.
Se perguntarmos pelo significado da imagem, a mesma perde a força. Por esse motivo é importante não falarmos sobre a imagem.
Depois do trabalho ter sido feito, despeço o cliente da minha alma. Eu o entrego internamente, por exemplo, aos seus pais ou antepassados ou a alguma pessoa importante da sua família que antes estava excluída. Os clientes também se afastam de mim. Eu me liberto deles, e eles de mim, não precisam se preocupar com aquilo que penso. Assim, a força permanece totalmente dentro da sua própria alma. Tenho um respeito imenso diante da alma de cada indivíduo e diante de uma alma conjunta que a tudo conduz. Pessoalmente, não me intrometo.
Em uma constelação algo muito maior do que podemos expressar em palavras vem à luz.
Algo essencial vem à luz que brilha partindo de uma força e de um calor próprios. Deve permanecer exatamente assim. Qualquer tentativa de fazer perguntas, interpretar algo, ou de indagar qual será seu efeito destrói um grande presente.
Quando trabalho com alguém, tento entrar em sintonia com a sua alma. Não presto atenção exatamente àquilo que a outra pessoa fala, às vezes não pergunto. Deixo atuar o que vem do cliente em minha direção, em forma de vibração. De repente percebo: esse é o ponto fundamental e, com isso, eu começo, ou seja, desenvolve-se algo com um mínimo de intervenção terapêutica.
Não possuímos uma alma da qual dispomos, mas participamos de uma alma que nos conduz junto com muitos outros. Essa alma é ciente. Apenas entramos em conexão com ela, se renunciarmos a um conhecimento próprio. Quando não temos mais curiosidade e nos abrimos para aquilo que acontece diante de nós, de repente participamos desse conhecimento.
Os representantes em uma constelação de repente participam desse conhecimento assim como o ajudante que conduz a constelação, apenas, porém, se renunciar àquilo que aprendeu, até então, se ele não ficar preso a experiências e teorias anteriores e sim acompanhar inteiramente os movimentos da alma e do espírito. Portanto, também não é possível aprender esse trabalho através da teoria. Quem achar que pode aprender dessa forma perde a conexão com a alma. Determinados passos podem ser aprendidos, mas não o essencial.
Reconhecemos o essencial à medida que nos entregamos ao processo da maneira como se desenvolve, como se nos entregássemos a uma música emocionante ou a uma bela paisagem. Estamos abertos, absorvemos e não sabemos o que está acontecendo, mas depois estamos mudados. Estamos mudados na medida em que entramos em sintonia com a alma, com os movimentos profundos da alma e do espírito.
Quando começo a averiguar porque aquilo que acontece aqui é possível, não estou mais em conexão com os movimentos do espírito. A curiosidade impede minha conexão com esses movimentos.
Se estou em conexão com a alma do outro, preciso perguntar muito pouco, estou em conexão com as vibrações de sua alma. Então, imediatamente percebo o essencial.
Se, então, um ajudante fizer perguntas ao cliente durante meia hora sobre o que aconteceu em sua família, tanto ele quanto o cliente perdem, em grande parte, a conexão com os movimentos da alma.
O ajudante precisa apenas saber de fatos. Não precisa saber como cada pessoa individual se comportou. Normalmente as perguntas mais importantes que um ajudante faz são as seguintes:
Muitas vezes não se deve saber o que aconteceu dentro de uma família, é um tabu para ela. Por esse motivo, um cliente também não pode averiguar por conta própria, ele pode apenas fazê-lo se tiver a permissão da família. Se, no entanto, achar que seria uma ajuda para a família trazer à luz o que está oculto e se respeitar internamente todos os atingidos, talvez possa saber o que aconteceu.
A maior parte dos grandes problemas origina-se do fato de alguém estar separado da sua mãe, de que não toma ou não consegue tomar algo que vem dela. Então a ajuda para essa pessoa consiste em ajudá-la a aproximar-se da sua mãe. Mas podem existir obstáculos, por exemplo, um emaranhamento.
Como podemos reconhecer que alguém está intimamente conectado com a sua mãe? Pelo fato dessa pessoa ser amada pelos outros. Como podemos reconhecer que alguém não está conectado com a sua mãe? Pelo fato de alguém amar pouco e não ser muito amado. Onde, então, começa o amor? Na mãe.
O grande amor tem força e é duro. O amor barato é macio, não suporta o sofrimento. Às vezes podemos observar isso aqui. Alguns ficam profundamente tocados pelo trabalho, também no público e começam a soluçar. Depois, alguém que não aguenta isso vai até essas pessoas e as consola. Não as consola por necessitarem de consolo, consola-as porque ele mesmo é que precisa ser consolado. Esse amor é fraco, interfere na alma dos outros sem respeito por aquilo que serve à sua alma. Temos que aprender a suportar a dor dos outros sem interferir.
Na Bíblia existe um bom exemplo para isso. Jó foi espancado por Deus. Todos seus filhos morreram. Coberto de feridas, ele estava sentado num monte de lixo. Depois vieram seus amigos para consolá-lo. O que fizeram? Sentaram-se a certa distância dele e durante sete dias não disseram nenhuma palavra. Isto foi amor com força.
Se um médico fizer uma operação e chorar durante a operação, certamente é um médico sensível, mas não pode mais operar. Para podermos ajudar diante de um grande sofrimento temos que nos deslocar para um nível superior. Nesse nível superior estamos sem emoção, porém plenos de amor. O médico que faz uma boa cirurgia não mostra nenhuma emoção, mas está repleto de amor e, assim, pode operar. Um ajudante que realmente quer ajudar tem que suportar a dor sem deixar que o puxem para dentro desse sofrimento. Se suportar a dor, transmite força ao outro, mesmo não interferindo.
Quem tem um problema, também pode suportá-lo. Apenas a pessoa que tem o problema pode suportá-lo. Se uma outra pessoa quiser suportar esse problema no seu lugar, ele se torna fraco. Podemos observar isso em nós. Eu faço essa experiência em mim mesmo: quando vejo algo no outro e quero dizê-lo a ele de qualquer forma, mas me contenho e não digo nada, isto exige minha força. A força que me custa para que eu me contenha, converte-se em força para ele. De repente aquilo que queria lhe dizer vem à sua mente e, como veio à sua mente, ele pode tomá-lo.
Quando não aguento e quero dizer-lhe de qualquer forma, sinto-me aliviado por ter dito, mas tirei a sua força. Mesmo se aquilo que queria lhe dizer estiver certo, ele não pode tomá-lo, por vir de fora. Então, esse ato de conter-se é a base do respeito e do amor.
Por um lado, o amor é simples, pois está ligado a um vínculo. Assim, o filho está vinculado aos seus pais, os pais estão vinculados ao seu filho e, num relacionamento, existe uma vínculo entre homem e mulher. Dentro dessa conexão o amor flui de um lado para o outro. O amor que está em conexão com o vínculo preenche os nossos desejos mais profundos, por este motivo é tão importante, em todos os sentidos.
Porém, frequentemente acontece que o ajudante estabelece um vínculo com um cliente, e o cliente estabelece um vínculo com o ajudante, então esse relacionamento é similar ao relacionamento entre filhos e pais e pais e filhos e, às vezes, também se assemelha ao relacionamento entre casais.
Mas isto não é um ajudar que ajuda, substitui alguma outra coisa. Nesse amor entre o ajudante e o cliente, o amor é um substituto tanto para o ajudante quanto para o cliente. Assim sendo, esse relacionamento atrapalha os verdadeiros vínculos, principalmente o vínculo e o relacionamento entre pais e filhos, mas às vezes também o vínculo e o relacionamento com um parceiro, uma vez que o ajudante toma o seu lugar. Então o relacionamento terapêutico transforma-se num relacionamento em triângulo e coloca em perigo o relacionamento e o vínculo em questão.
Não se intrometer e resistir ao vínculo aqui é uma arte e uma conquista especial. Então, o ajudante ama de uma forma totalmente diferente do que é possível e adequado no amor ao vínculo. Ele está a serviço desse vínculo, porém não entra nele. Assim, mantém a sua independência e sua força e ajuda de verdade.
Existe a experiência de que nos movimentamos num campo através do qual temos uma percepção. Se olho para alguém, reconhecendo-o e vendo-o, e se essa pessoa me olha, vendo-me e reconhecendo-me: como isso é possível? Se imaginar que aquilo que estiver vendo da outra pessoa está apenas no meu cérebro, e se a pessoa imaginar que tudo que estiver vendo de mim está apenas no seu, nesse caso estaríamos nos vendo? Podemos realmente ver um ao outro? A pessoa está no meu cérebro e eu no seu? Isto é ridículo.
Eu a vejo ali e ela me vê aqui. Eu não a vejo no meu cérebro e ela não me vê no seu.
O que nos conecta e possibilita reconhecermos um ao outro é uma alma que nos abrange. Nessa alma eu abranjo a pessoa e ela a mim. Nessa alma em comum nós nos reconhecemos. Essa alma é extensa, não apenas em relação ao espaço, mas também em relação ao tempo. Assim sendo, os mortos também estão presentes nessa alma. Tudo que já existiu nesse campo, tudo que já passou atua sobre mim. Estou em ressonância com tudo que foi.
Se houver uma perturbação nesse campo, por exemplo, se houve um crime na minha família e existe um assassino e uma vítima, estou em ressonância com eles. Eles me influenciam. Estou entregue a eles através desse campo. Muitos clientes também estão entregues a um passado através desse campo, por exemplo, a um assassino e a sua vítima.
Nesse campo podemos restabelecer a ordem em relação a algo, posteriormente. Por exemplo, quando é possível juntar o assassino e sua vítima nesse campo, para que se percebam, amem-se, para que façam as pazes. Então, nesse campo algo muda. Algo no passado mudou e tem um efeito reconfortante no presente. Isso significaria curar algo.
O ajudante que conhece essas ligações interfere nesse campo de forma apaziguadora. Assim a terapia fica sob uma luz totalmente diferente. Aquilo que podemos e eventualmente devemos fazer e aquilo para que temos que nos abrir e preparar, de repente aparece sob uma luz diferente. Em que formação isso é levado em consideração? E quão pouco podemos fazer se não considerarmos esses fatos, se não Sentirmos em nós mesmos essa ressonância, se não a percebermos e aprendermos a lidar com ela?
A psicoterapia boa é bem simples. Descobri que quando alguém encontra o caminho para os seus pais e abre o seu coração para eles, então os problemas principais estão resolvidos.
Isto, porém tem como pré-condição que o terapeuta dê aos pais do seu cliente um lugar de honra no seu coração. Então tudo acontece por si só, de maneira bem simples.
Se o terapeuta der um lugar no seu coração aos pais do cliente, não existe transferência. Transferência significa que o cliente de repente vê o pai ou a mãe no terapeuta. Ao contrário, na contratransferência o terapeuta vê o cliente como um filho, trata-o como um filho e até sente-se como o pai melhor ou a mãe melhor. Então o cliente olha para ele admirado, como um filho olha para um pai ou uma mãe. Tudo isso não é possível se o terapeuta tiver dado um lugar no seu coração para o pai e a mãe.
Digo mais algo sobre psicoterapeutas. Um cliente procura um psicoterapeuta - talvez ele tenha uma doença grave - e o terapeuta quer ajudá-lo. A questão é: ele pode fazer isso? Às vezes o terapeuta vê que o outro chegou num limite, e que ele mesmo não pode interferir. O respeito diante do outro exige que ele se contenha. Então, diz-lhe internamente: "Eu amo você - e amo aquilo que nos conduz." Nesse instante entra em sintonia com algo maior. Talvez depois ambos, o terapeuta e o cliente, sejam con-duzidos de uma maneira que ajude, porém sem que o terapeuta intervenha na alma do outro e sem que o cliente perca o contato com a sua alma.
Quero dizer mais alguma coisa sobre a ajuda em sintonia. Pergunto-me: "Como podemos fazê-lo da melhor maneira"? Quem pode ajudar e a quem se pode ajudar?
As maiores dificuldades de um cliente em psicoterapia estão ligadas a uma separação. Por estar separado de algo, principalmente dos próprios pais ou de um dos pais. Este é o problema principal na psicoterapia.
Existe um método básico para a solução desta questão, um método bem simples e evidente: levamos o cliente de volta aos seus pais. Este é o segredo, quase todo o segredo de uma boa psicoterapia.
Existe algo que se opõe a isso. Quem pode ajudar alguém dessa maneira e nessa direção? Apenas alguém que tomou seus próprios pais com amor e também tomou os pais do cliente em seu coração com amor. Assim sendo, um bom terapeuta não permite ao seu cliente que diga algo negativo sobre seus pais. Eu interrompo imediatamente, pois amo e respeito os pais do cliente. Para mim não existe nada maior que os pais.
Vocês conhecem algo maior que os pais? Alguém que tenha mais dignidade? Alguém que atingiu alguma coisa ainda maior? Alguém que se entregou a algo maior? Não existe nada maior.
Os pais não possuem nenhuma falha, enquanto pais, pois ao passar a vida adiante, eles fizeram tudo certo. Não houve nenhum erro envolvido nisso, ou seja, em relação a esse ponto essencial todos os pais são perfeitos.
Olho para essa perfeição e a respeito como sendo maior que tudo. O que os pais fizeram, além disso, ou onde erraram não é tão importante. Aqui outros podem substituí-los, porém, naquilo que fez com que se tornassem pais, ninguém poderia tê-lo feito melhor.
Muitos que reclamam dos seus pais olham para questões secundárias e não para o essencial. Assim perdem o essencial. Em todas as situações onde alguém critica seus pais está diminuindo o essencial dentro de si. Fica mais estreito, menor, limitado. Quanto mais o fizer, mais limitado fica.
Ao contrário, se alguém olha para o essencial e toma a vida em sua plenitude e pelo preço total que custou aos seus pais e que lhe custa, essa pessoa pode enfrentar todas as situações.
O que acontece quando dou aos pais de um cliente um lugar honroso no meu coração? O cliente não poderá estabelecer uma transferência no sentido de projetar a imagem de seus pais em mim, e eu não irei estabelecer uma transferência no sentido de ver no cliente um filho. Essas questões de transferência não me atingem mais.
Quando o cliente olha para mim, percebe que estou aliado aos seus pais. Através de mim acha o caminho em direção a eles, portanto, não substituo os pais, não me coloco no seu lugar. Quando o cliente está diante de mim, os seus pais, que estão no meu coração, olham para ele, não para mim. O olhar dos pais e o seu amor me atravessam. Após algum tempo, dou um passo para o lado e pais e filho encontram-se diretamente. Então acontece o essencial.
Quando olho para mim, recebo a força para ajudar, na medida em que entro em sintonia com a minha própria alma. Como entro em sintonia com a minha alma? Olho para os meus pais. Eles me deram a vida que receberam de seus pais. Eles a passaram inteiramente para mim, sem retirar nada, exatamente da maneira como a receberam. Olho para os meus pais e digo: "Tomo a vida da maneira como a recebi de presente de vocês." Quando olho para eles assim, tomo a minha vida com plenitude. Esta é a primeira condição.
Se eu tomar a minha vida dessa maneira, tomo ao mesmo tempo tudo o mais que flui dos meus pais para mim, também com toda sua plenitude, sem excluir nada. Tomo também aquilo que é pesado e que talvez esteja ou já esteve ligado a isso, faz parte. Somente assim estou conectado com a plenitude da vida.
Se imaginarmos que os nossos pais tinham que ser perfeitos, então, de acordo com a nossa idéia de perfeição, o que teríamos, de fato, recebido deles? Seria mais ou seria menos? Da minha parte digo: seria menos. Na medida em que entro em conexão com os meus pais da maneira como são, minha alma se expande. A partir do momento em que entro em sintonia com isso, aquilo que talvez tenha me custado esforço também se torna valioso e me transmite força.
Depois olho ainda mais para trás, para os meus antepassados. Às vezes faço um exercício: olho para todos eles, também para aqueles que morreram precocemente - dos quais quase ninguém se lembra mais - e lhes digo: "Eu sou o Bert." Olho para eles e deixo que me olhem. Assim, entro em conexão com eles, e a minha alma torna-se cada vez mais ampla. Entro em sintonia com o destino deles independente de como foi, e na medida em que faço isto, me fortaleço. Na medida em que entro em sintonia com o seu destino, este torna-se frutífero para mim no presente, por exemplo, quando encontro alguém que procura e necessita da minha ajuda. Assim, vou ao encontro de todos os meus antepassados e entro em sintonia com o meu destino, num sentido amplo.
Não há algo assim como um bom destino ou um destino mau. Ele é grande e adequado da maneira como é. Principalmente se não olharmos somente para o destino como algo que pertence aos indivíduos, mas também vermos como o destino das pessoas continuam a ter influência. Nosso destino não termina com nossa morte, portanto, a medida que entro em sintonia com o destino de alguém, inclusive com sua morte, esse destino continua atuando através de mim como um destino grande e poderoso e flui em tudo que faço pelos outros. Desse modo, a ajuda começa em mim.
Quando alguém me procura e pede ajuda, procedo da mesma maneira. Primeiro, entro em sintonia com a sua alma. Se tentasse elaborar antes o que fazer com ele, estaria separado de sua alma. Mas simplesmente através da plenitude que vivenciei e recebi dos meus antepassados e seus destinos, entro em contato com a alma dele, com seus pais, assim como são ou como foram e também com seus antepassados e seus destinos. De repente, ele se torna grande diante dos meus olhos.
Eu o respeito, independente do seu destino. Quando entro em contato com seus antepassados dessa maneira, ele fica a meu lado, como igual. Então, quando começo a ajudá-lo tenho muito cuidado de permanecer em sintonia com seus antepassados. Caso contrário, estaria em perigo de interferir na sua alma e no seu destino com aquilo que imagino ser certo para ele, poderia confundi-lo e enfraquecê-lo deste modo. Então, isto é ajudar em sintonia.
Muitos de vocês trabalham em instituições que visam a apoiar pessoas que estão sofrendo. Todos aqueles que se engajaram nessas instituições assumiram o trabalho com boa vontade e com amor. Obviamente possuem outras experiências e outras idéias. Às vezes, quando queremos ajudar outras pessoas em sintonia com aquilo que está de acordo com as nossas experiências, talvez parta delas uma resistência, pois tiveram experiências diferentes.
O mesmo processo pode ser feito novamente: entro em sintonia com eles, com a sua alma, com os seus pais, com seus antepassados, com seu destino, com sua experiência e com seus desejos e boa vontade. Na medida em que entro em sintonia com eles dessa maneira, dissolve-se um preconceito em mim e, talvez, também neles. Assim essa ajuda é ampliada, ela se propaga. Nessa sintonia com os outros podemos atingir muitas coisas e apoiar muitas pessoas.
De acordo com a minha experiência, uma equipe de ajudantes sustenta-se através do reconhecimento mútuo. Se estiver em questão quem é o melhor e quem é pior, então o grupo se divide. Qualquer coisa, porém, que alguém faça num grupo desses é boa. Pode ser diferente daquilo que nós imaginamos, mas cada pessoa que trabalha nessa equipe certamente faz algo bom em seu trabalho, mesmo que não seja da mesma forma como eu o faria. Então, às vezes posso falar para um membro dessa equipe: "O que você faz é interessante para mim. Vou lembrar disso." Não custa nada e é verdade. É uma bela imagem, deixar o sol brilhar num grupo desses.
Quero dizer algo sobre a outra forma de ajudar. Tornou-se claro que esse trabalho exige uma postura especial e que ajudar aqui tem um significado diferente do que geralmente é entendido na psicoterapia. Naturalmente isso pode levar à resistência por parte daqueles que estão acostumados a algo diferente.
Quero compartilhar algumas observações em relação a isso. Vocês podem sentir dentro de si mesmos em que extensão isto ressoa em suas almas e também o que isto demandaria de vocês para serem capazes de ajudar desta forma.
No decorrer do tempo as Constelações familiares continuaram se desenvolvendo. Nós experimentamos, nas Constelações familiares, que os representantes sentem como a pessoa que eles estão representando, e isso abriu novas possibilidades de trabalho. Hoje em dia raramente faço a constelação de uma família inteira. Começo com uma ou duas pessoas, por exemplo, posiciono somente o cliente ou um representante do cliente e dou a ele o espaço e o tempo para que, dentro dele, algo se movimente por si. Frequentemente inicia-se um movimento partindo dele mesmo, que traz à luz algo que até então estava oculto.
Então, rapidamente torna-se evidente se é necessário acrescentar mais uma pessoa e muitas vezes também podemos ver que pessoa seria. Podemos colocá-la de frente para ele, por exemplo. Então imediatamente vemos o que acontece entre as duas pessoas, o que as separa e o que as une, dependendo das circunstâncias. Nisso talvez se desenvolva mais alguma coisa, de forma que se torne necessário acrescentar mais pessoas.
Não existe, porém, uma solução no sentido convencional. Frequentemente não existe solução. A procura por uma solução já seria uma intervenção nos movimentos da alma e do espírito. A tentativa de achar uma solução rápida é uma intervenção no movimento da alma do outro. Aqui apenas é importante que algum movimento se inicie. Quando tiver começado, o ajudante pode-se afastar.
Esse movimento é um movimento de crescimento. Como qualquer tipo de crescimento, necessita de tempo.
Quem se abre e sente dessa maneira pode perceber, dentro de si, qual é o próximo passo e o que é essencial e o que importa. O essencial é sempre apenas uma coisa. Se o acharmos e com ele dermos um passo para frente, então aquilo que é decisivo foi feito.
Quando alguém procura um ajudante muitas vezes mostra-se desamparado. Por exemplo, diz: "Tenho um conflito com os meus pais", e frequentemente age como se não pudesse ou não quisesse fazer nada. Então, o ajudante pode responder através de palavras ou ações: "Eu ajudo você."
Comportando-se desta forma, o que o ajudante está fazendo? Ele se coloca acima dos pais do cliente. Entra imediatamente numa contratransferência, ou seja, o cliente faz uma transferência de filho para pais e o ajudante responde com a contratransferência de pais para filho. Assim, desenvolve-se o que chamamos de relacionamento terapêutico.
Num relacionamento terapêutico assim, não podemos mais ajudar. Nele o ajudante renunciou à sua força e ao seu controle, pois quem decide o que deve ser feito num relacionamento terapêutico? É o cliente ou é o ajudante? O cliente.
O ajudante que entrou num relacionamento terapêutico provavelmente tentou salvar seus próprios pais quando era criança, e tenta fazer algo parecido com o seu cliente no assim chamado relacionamento terapêutico. Assume uma posição de soberania em relação ao cliente e seus pais sendo que, na verdade, ele está em último lugar.
De acordo com a ordem de origem no sistema, aqueles que chegaram primeiro têm a posição mais alta. Aqueles que chegaram por último têm a posição mais baixa.
Num relacionamento terapêutico, quem tem a posição mais alta? Normalmente o relacionamento terapêutico não se restringe ao cliente e ao ajudante pois, logo que o cliente fala de seus pais, o ajudante os inclui. Então, a partir do momento em que o ajudante entra numa relação terapêutica, torna-se um membro desse sistema e chega por último. Assim sendo, os pais do cliente têm a posição mais alta nesse sistema. A posição abaixo dos pais é a do cliente, e a última posição é a do ajudante. Se ele respeitar o fato de estar no último lugar, nada pode lhe acontecer. Ele assiste ao jogo sem ser atingido por ele. Permanece como espectador, até que de repente percebe que chegou o seu momento, então age, porém permanecendo do lado de fora, sem tornar-se parte do sistema. Então acontece algo que ajuda a todos igualmente.
O que torna uma pessoa grande? Aquilo que a torna igual a todas as outras pessoas. Isso é o que tem de maior em cada pessoa. Uma pessoa ganha sua grandeza na medida em que reconhece: "Eu sou igual a vocês, vocês são iguais a mim." Se ela puder falar a todas as pessoas que encontra: "Sou seu irmão, sou sua irmã." Se abrimos espaço para isso, percebemos como isso nos amplia e fortalece nossa alma. Ganhamos a nossa verdadeira grandeza, então podemos ficar de pé com a postura ereta, ao lado de todos os outros, não somos maiores nem menores, somos exatamente igual aos outros. Esta é a postura que dá força ao ajudante para também realizar trabalhos difíceis. Ele confia naquilo que une todos.
Podemos entrar e nos abrir para esse assunto com uma breve meditação. Imaginamos os nossos clientes, um após o outro, e sentimos onde nós somos pequenos e eles, grandes, onde talvez tenhamos pena deles e achemos que algo tenha sido realmente difícil para eles. Sentimos o que esse sentimento de pena causa na nossa alma.
Depois damos alguns passos para trás, olhamos para os seus pais e para o destino desses clientes. Fazemos uma reverência diante dos seus pais e do seu destino.
Enquanto fazemos essa reverência, abrimo-nos para aquilo que muda dentro dos clientes e para aquilo que muda no nosso relacionamento com os clientes e no relacionamento deles em relação a nós.
Após algum tempo, erguemo-nos e olhamos para todos com uma visão clara.
Gostaria de falar mais detalhadamente sobre o relacionamento terapêutico. Nesse exercício mostrei um caminho de como podemos sair de um relacionamento terapêutico ou como podemos interrompê-lo. Mesmo assim, permanecemos num relacionamento com o cliente, não num relacionamento terapêutico e sim, num relacionamento onde se trata de agir. Nele o cliente e o ajudante acumulam suas forças para iniciar o movimento daquilo que é possível. Ambos são adultos.
Como se inicia um relacionamento terapêutico? Começa no momento em que alguém procura um ajudante e se apresenta como alguém que carece de algo, como uma criança que precisa de algo. Os adultos muitas vezes também são carentes e precisam de algo, mas buscam aquilo de que precisam como adultos. Depois fazem algo com isso. No momento, porém, em que um cliente apresenta-se como criança, por exemplo, quando diz: "Me sinto tão só. Vivo um fracasso após o outro. Minha mulher quer ir embora" - então, ele quer mesmo fazer algo? Alguém pode ajudá-lo, quando ele permanece nessa postura?
O que acontece nesses casos, normalmente? O ajudante tem pena do cliente ou sente-se desafiado a ajudar o cliente assim como uma mãe ajuda um filho. Dá-lhe bons conselhos e o consola. Isto é o começo de um relacionamento terapêutico e esse relacionamento se aprofunda.
Quem tem o controle nesse relacionamento terapêutico? O cliente. Por esse motivo não existe progresso, nele o tempo é desperdiçado.
Como um terapeuta evita ou impede um relacionamento terapêutico? Por exemplo, quando pergunta ao cliente: "O que você quer fazer?" Ou: "O que aconteceu?" Ou quando lhe faz uma outra pergunta de grande efeito que o desmascara imediatamente: "Quem você ama?" Depois dessa pergunta, o cliente sabe o que deve fazer, não pode mais permanecer na posição de criança.
Mas no momento em que o ajudante entra numa conversa, onde o cliente pode relatar razões e força o terapeuta a ouvi-lo e talvez se zangue se o terapeuta não o ouvir, o cliente assumiu novamente o controle. O relacionamento terapêutico - o assim chamado relacionamento terapêutico - é restabelecido.
As primeiras frases entre o ajudante e o cliente são decisivas para se estabelecer ou não um relacionamento terapêutico. Por esse motivo é importante não ter uma conversa longa e iniciar imediatamente um movimento que poderá trazer algo à luz. Por exemplo, podemos colocar a mãe do cliente diante dele e acolhê-la no coração. Então, um relacionamento terapêutico é impossível. Porém, começa um outro relacionamento que inicia um movimento, não apenas para o cliente, mas também para a família.
A partir daquilo que foi dito até agora, fica claro, que este trabalho não é uma psicoterapia no sentido convencional. Pelo menos, não se trata de uma psicoterapia onde um relacionamento terapêutico da maneira descrita é esperado ou oferecido. Se denominarmos esse trabalho de psicoterapia, muitos exigirão de nós que entremos nesse tipo de relacionamento terapêutico. Medem o trabalho através dos seus próprios parâmetros e querem nos forçar a nos tornarmos psicoterapeutas, de acordo com os seus parâmetros.
O que acontece se escutarmos o que dizem? Desenvolve-se um relacionamento terapêutico também entre nós e eles. Eles se comportam como pais e nós nos tornamos crianças. Caímos na armadilha novamente!
Se hesitarmos em chamar esse trabalho de psicoterapia, como poderíamos denominá-lo de forma diferente e melhor? É um serviço à vida, assim como ela é.
Quando alguém opta por uma profissão de ajuda e a exerce com empenho, qual foi a situação na sua família de origem? Muitas vezes posicionou-se acima da mãe na medida em que tentou ajudá-la ou tentou ajudar o pai. Essa é a situação de uma criança, que na verdade não tem nenhum poder mas, por amor, quer ajudar os pais, mesmo que isso seja impossível. Pois os pais sempre permanecem grandes e os filhos, pequenos em relação a eles.
A situação que alguns ajudantes vivenciaram em sua família de origem repete-se quando tentam ajudar os clientes. Ajudam-nos assim como crianças ajudam uma pessoa superior a elas. Portanto, o empenho que mostram nessa ajuda é o empenho de uma criança que precisa ser grande.
Qual é a solução para eles? Na medida em que se tornam pequenos diante dos seus pais, também permanecem pequenos diante dos seus clientes e diante dos pais dos clientes. Respeitam a alma dos clientes, respeitam os pais dentro deles e têm o cuidado de não interferir de uma forma superior. Então, às vezes acontece algo no cliente como por si só.
Ajudar, às vezes, pode ser perigoso, pode ser uma interferência no movimento de uma outra alma e pode incomodar esse movimento. Quando queremos ajudar alguém, em primeiro lugar, temos que entrar em sintonia com a sua alma e esperar que a sua alma entre em sintonia com a nossa, de forma que ambas vibrem juntas. Então podemos conduzi-lo em sintonia com a sua alma, porém apenas como acompanhante dela e apenas até o ponto em que a alma dele e a nossa o permitirem.
Sentimos se estamos em sintonia com a nossa alma quando permanecemos inteiramente calmos na hora de ajudar e se podemos parar a qualquer momento. Se formos longe demais, percebemos que a nossa alma se recolhe, que ficamos inquietos e que começamos a pensar ao invés de agir. Então não estamos mais em sintonia com a nossa alma ou com a alma do outro.
Se percebermos que o outro está inquieto, vemos que ele também não está em sintonia com a sua alma, então paramos.
Às vezes, quando queremos ou devemos ajudar alguém porque as circunstâncias o tornam inevitável, percebemos que temos que dar passos que são perigosos e demandam coragem. São passos no escuro. Às vezes, também são perigosos porque podem gerar desaprovação de alguém que testemunhou aquelas ações, porém sem estar em sintonia com a alma do cliente. Essa pessoa talvez nos repreenda posteriormente, talvez até nos acuse por estarmos fazendo algo que considera errado, mesmo que ela própria não se abra para aquilo que o outro precisa e quer. Principalmente aqueles que seguem determinadas escolas, que desenvolvem suas teorias baseadas em dogmas. Eles esperam que sigamos e obedeçamos a esses dogmas mesmo que a realidade - a realidade que pode ser percebida naquele determinado momento - não justifique a posição dogmática.
Então, para ajudar, precisa-se da sintonia por um lado e da coragem por outro e precisa-se da disponibilidade de parar onde a sintonia termina. Pois se não estivermos nessa sintonia não sabemos o que é adequado para a pessoa em questão. Assim sendo, quando a sintonia acaba, a ajuda também deve acabar.
Ganhar a disputa pelo poder com um cliente de uma forma boa faz parte da arte de ser terapeuta. Naturalmente, nessas situações certos métodos nos ajudam e, às vezes, demonstro-os.
Por que um cliente entra numa disputa pelo poder com um ajudante? É estranho. Se ganhar a disputa pelo poder, o que ele ganhou com isso? Talvez queira a confirmação de que o seu problema é impossível de ser resolvido e que o ajudante não pode resolvê-lo. Mas, por que desejaria isso?
Eu parto do princípio de que muitas pessoas que procuram um ajudante não querem resolver seu problema, desejam receber uma confirmação de que o seu problema não tem solução. Após algum tempo querem provar ao ajudante que não é possível. Isso lhes parece conhecido? Sim, mas por quê?
Frequentemente temos um problema porque amamos alguém, seguramos o problema porque amamos alguém. Posso também dizê-lo ao contrário: seguramos o problema porque nos sentimos inocentes no problema. Se solucionarmos o problema, nos sentimos culpados.
Irei demonstrá-lo no exemplo dessa cliente. Nós vimos que ela assume algo para a sua mãe. Na medida em que assumiu o problema para sua mãe, demonstrou-lhe o seu amor. Neste trabalho mostrei a ela como pode sair do problema. Mas se fizer isso ficará de consciência pesada. Assim corre o perigo de ter uma recaída. Estão vendo como ela acena com a cabeça? Ela sente exatamente isso.
A pergunta agora é: como posso ajudá-la a solucionar a questão para que possa mudar de consciência tranquila?
HELLINGER para esta cliente: - Vou fazer isso com você agora. Devo?
HELLINGER: - chama uma representante para a mãe da cliente e a coloca de frente a ela.
Para o grupo: - Vocês podem ver como o rosto dela está mudado? Isso não é bonito de se ver?
Para a mãe: - Olhe para a filha e diga: "Vejo o seu amor."
Mãe e filha abraçam-se intensamente.
HELLINGER para o grupo: - Agora a cliente permanece de consciência tranquila, e a mãe também, naturalmente.
Para a cliente: - Ok. É isso. Tudo de bom para você.
Na disputa pelo poder com o cliente, o ajudante alia-se secretamente a alguém da família. Conduz a disputa pelo poder em sintonia com uma outra pessoa da família. Por esse motivo permanece humilde nessa disputa. O ajudante quer que o cliente ganhe, mesmo que de maneira diferente do que o cliente esperava ser.
Quero dizer algo sobre a dureza. O que é duro aqui? A realidade é dura. Quem concorda com a realidade dura dentro da sua alma parece ser duro. Essa pessoa, porém, tem força por estar em sintonia com essa realidade.
Quem recuar diante da realidade como ela é por ter o desejo interno de que ela fosse diferente, enfraquece. Essa fraqueza torna-o ameaçador para o cliente, e o cliente não pode mais confiar nele. Então ele e o cliente iniciam um jogo de olhos vendados que está além da realidade.
O fato de olhar para a realidade como ela é e de concordar com ela, força o ajudante a crescer. Ele precisa mudar e também a ajuda que ele presta torna-se uma ajuda que o preenche.
O ajudante ganha força na medida em que concorda com a realidade e está disposto a denominá-la. Aquele que procura ajuda também ganha força se também puder olhar para a realidade.
Aqueles que têm pena do cliente e preferem esconder a realidade porque eles próprios têm medo, são suaves? Não, eles são duros, muito mais duros e enganam aquele que está procurando ajuda.
Esse trabalho é feito sem um amor que se sente, como no caso do cirurgião que não sente amor no momento em que opera, porém se mobiliza com muito amor e faz algo bom. Isso é amor num nível mais elevado e principalmente é um amor que não olha apenas para uma pessoa individual e sim, para toda sua família, incluindo-a inteiramente.
Quero dizer algo sobre a empatia ou, então, a bela palavra alemã die Einfühlung ou Sich - Einfühlen.
Dos ajudantes espera-se principalmente que consigam compreender o que a pessoa, que está procurando ajuda, sente. Que consigam sentir a situação da pessoa, a sua necessidade mais íntima, a sua dor. Naturalmente obtivemos o modelo de como sentir o que o outro sente das mães e dos pais, através do amor que sentem pelos seus filhos. Ali podemos ver o que significa empatia.
Muitas vezes quando um cliente procura um assistente social ou um outro ajudante, espera desses ajudantes a mesma empatia que um filho espera dos seus pais. Assim sendo, muitos ajudantes acham que devem ter a mesma postura perante o cliente, de poder sentir o que ele sente, como pais em relação aos seus filhos. Mas, diferentemente de uma criança, o cliente normalmente é adulto e capaz de agir. Então, na medida em que se é capaz de sentir o que o cliente sente, faz parte também sentir a sua situação de adulto capaz de agir por contra própria. Assim essa empatia ganha uma outra dimensão.
Posso exigir de um adulto que ele também sinta a minha situação. Uma criança não precisa sentir a situação dos pais, está conectada com eles de qualquer maneira e não precisa se preocupar. A criança pode ser criança, mas numa situação que envolve um adulto, um assistente social pode esperar do cliente que também compreenda e sinta a sua situação, por exemplo, os limites que lhe são impostos pela instituição, e os limites que tem enquanto ser humano.
Um exemplo: depois que trabalho aqui e se ainda estou totalmente dentro desse campo, alguém se aproxima de mim e diz: "Tenho uma pergunta". Ele espera de mim uma resposta, não demonstra sensibilidade com minha situação, como se eu tivesse que me desligar de tudo em que estou ainda absorvido imediatamente e estar presente para ele. Nesse caso, ele está se comportando como uma criança perante os seus pais.
Aqui existe mais um ponto importante. Se alguém me procurar com uma questão ou um problema, espera de mim que eu sinta, principalmente, o que ele pessoalmente sente. Mas ele vem de uma família e nessa família talvez existam outros que, mais do que ele, necessitem da minha empatia. Por exemplo, os filhos do cliente. Então, necessita-se de uma empatia sistêmica, ou seja, precisa-se não apenas de uma empatia pessoal de mim para ele e sim de uma empatia que parte de mim em direção à sua família e ao sistema de onde ele vem. Então olho para o sistema inteiro diante de mim. Eu o respeito e sinto quem mais precisa da minha empatia. Talvez quem me procurou seja a pessoa que menos necessite ou a mereça. Então trabalho com o campo maior e tenho uma força maior.
A empatia verdadeira é sem emoção, permanece num nível superior onde pode manter a visão geral. Apenas através dessa empatia e dessa maneira de sentir e abrir-se para algo maior, obtemos a força que atua para ajudar.
Existe uma força que nos conduz de uma maneira boa se nos entregarmos a ela. Eu a denomino de grande alma. Se compreendermos como ela nos conduz, podemos confiar nela. Por esse motivo, por exemplo, não é necessário concluirmos tudo quando trabalhamos com alguém. A partir do momento em que um movimento é iniciado, e a alma tiver possibilidade de atuar sem que alguém de fora intervenha, ela mesma pode concluir o trabalho.
Por que estou contando tudo isso? Muitos acham que eu deveria trabalhar com eles e que só podem se sentir bem se eu fizer a constelação de sua família. O que essas pessoas perdem de vista? Não olham mais para a grande alma. Quem se entrega à grande alma, será conduzido por ela de uma maneira que vai para muito além do que deseja.
Um exercício para o ajudante é o de recolher-se para um centro vazio. Nesse centro vazio está sem intenção, sem temor, sem lembrança. Está inteiramente centrado. Se for capaz de centrar-se dessa maneira, acontecerá algo em sua volta como se tivesse atuado. Ele, porém, não age. Atua sem agir, apenas através da sua presença, sem fazer nada.
Estas leis da não-ação são maravilhosamente descritas em Tao Te King de Lao Tse. A seguinte indicação também faz parte: quando um trabalho estiver concluído, o ajudante imediatamente se afasta e parte para o próximo trabalho, sem olhar para trás. E também não faz mais perguntas.
Existe mais um exercício que está estreitamente relacionado a esse assunto - se é que podemos chamá-lo de exercício. O ajudante ou outra pessoa que quer alcançar a profundidade da alma submete-se à purificação através da noite do espírito. Essa imagem remonta a São João da Cruz.
O que significa a noite do espírito? Eu renuncio ao conhecimento, então não faço perguntas e renuncio a novidades. Se alguém me contar algo que não me diz respeito, recolho-me nessa noite. Quando trabalho com um cliente, às vezes não tenho idéia de qual seria o próximo passo. Nada da minha experiência pode me ajudar. Então me recolho nessa noite. Isso se assemelha à retirada para o vazio. Quando permaneço nessa noite, me vem uma compreensão tão rápida como um relâmpago cruzando o céu. Essa compreensão é uma indicação para o próximo passo. Depois é noite novamente.
Nessa postura estamos totalmente serenos. Nada nos pode surpreender. Nessa postura sentimo-nos plenos, embora estejamos vazios.
Aqui estamos treinando nossa percepção para perceber o que é possível e o que não é possível, e como podemos ajudar através da não-ação, quando a ação não é possível. Não agir aqui significa, acima de tudo, não fazermos aquilo que o cliente espera. Às vezes isso parece duro, mas é o certo.
Um dia fiz algumas reflexões sobre o ajudante como guerreiro. O ajudante como guerreiro nunca participa de uma comemoração de vitória. Enquanto os outros festejam, ele já está no próximo trabalho. Imediatamente se afasta do antigo e está livre.
Gostaria de dizer algo sobre a guerra, no sentido mais amplo. Heráclito já disse: Panton pater polemos. A guerra é o pai de todas as coisas. Muitos de vocês encontram-se numa situação de conflito, por exemplo, dentro de uma instituição ou através de um cargo que ocupam, e têm o desejo secreto de que algumas coisas fossem diferentes, que houvesse menos resistências.
A guerra, porém, também é o pai da paz. Sem guerra não existe paz. O vencedor de um conflito frequentemente jogou fora a paz. Então, se vocês fossem vitoriosos sobre outros com suas novas experiências, algo teria sido jogado fora. Aquilo que vocês vivenciam de oposto no outro deve ser reconhecido como equivalente. E aqueles que representam algo de diferente devem ser reconhecidos como iguais. A partir desse momento eles também serão capazes de reconhecer algo de diferente em vocês, pois não precisam abrir mão do que é próprio deles.
Reconhecemos o outro exatamente na área em que ele atua. Também reconhecemos o seu poder, sua influência, seu sucesso, seus méritos e seus limites. Da mesma maneira como reconhecemos os nossos próprios méritos, nosso poder, mas também os nossos limites. Na medida em que as duas coisas são reconhecidas, cada um pode absorver dentro de si o outro como algo legítimo. Quando fazemos isso nossa alma se amplia. Se a nossa alma estiver ampla, a alma do outro também pode se abrir e ampliar. Então surge a paz através do reconhecimento mútuo.
Se vocês ganharam em algum lugar, então fiquem preocupados. É melhor que algo evolua em conjunto através dos opostos. Ambos - um lado e o outro - ou todos, quando se trata de vários lados, são importantes para o todo. Por isso, numa equipe, uma pessoa que tem uma opinião contrária nunca pode ser excluída. Aquilo que ela representa tem que ser reconhecido. Na medida em que isso é reconhecido, ela pode se abrir.
Nas Constelações familiares vale o mesmo. Alguns também vêem uma contraposição entre o trabalho de um e o trabalho de outro. Aqui também algumas pessoas gostariam de tirar algumas coisas. Se aquilo que for diferente for incluído, se for reconhecido sem que aquilo que é próprio seja negado, então existe paz. Então tudo tem lugar.
Alguns ajudantes começam a constelar uma família. Mas, de repente, não conseguem continuar e precisam interromper. Eles se mostram incapazes de fazer esse trabalho. Mas, estranhamente, às vezes, isso ajuda o cliente, mesmo quando ele fica zangado. Se esse ajudante se sentir culpado comporta-se como se o resultado dependesse dele, porém, através dos seus erros, está aprendendo que não depende dele. Então, pode misturar-se às pessoas comuns que também cometem erros. Isso tem um efeito bom para todos.
Uma vez Rilke escreveu: "A vida permanece pura porque ninguém a domina". Eu também aplicaria isso às Constelações familiares. Permanecem puras quando cada um sabe que não podem ser dominadas. Permanecem puras se a pessoa souber que deve confiar em algo que atua por detrás delas. Quando as constelações familiares dão certo, sempre se trata de uma graça recebida.
O ajudante é como uma fonte. Dela flui água corrente. Porém, não é a água da fonte. Apenas passa por ela.
As imagens, das quais se trata aqui não são idéias que temos na cabeça. Trata-se de imagens de solução que pode penetrar na alma e atuar aí, como imagens.
A imagem familiar se compõe na medida em que alguém escolhe representantes para os membros da sua família entre as pessoas presentes e as coloca em relação umas às outras, dentro do espaço. Se o fizer de maneira centrada surge uma imagem que o surpreende. O cliente carregava dentro de si uma imagem que frequentemente difere muito do que pode ser visto agora. Assim, algo que estava oculto vem à luz através dessa imagem. Se deixarmos que ela atue sobre nós, reconhecemos problemas importantes desta família. Ao mesmo tempo talvez também possamos descobrir onde podem estar as soluções para os seus problemas. Então, através de mudanças nessa imagem podemos chegar a uma imagem de solução, no final. Este é um aspecto das Constelações familiares.
Tem um outro aspecto que também deve ser levado em consideração. Quando os representantes estão verdadeiramente centrados, sentem-se igual às pessoas que estão representando, sem conhecê-las. Isso é algo misterioso. Não podemos explicar esses fenômenos sem mais nem menos. Mas isto mostra que estamos conectados com algo maior e que através dessa conexão podemos chegar a um conhecimento que não recebemos de fora. Aqui se trata daquela imagem.
Quando falo sobre as imagens de solução, pressupõe-se que também existam imagens que nos emaranham e que nos prendem de tal forma que bloqueiam algo dentro de nós, algo que quer se desenvolver. Essas imagens também são imagens internas.
Cada um de nós nasce dentro de uma determinada família. Essa família tem determinadas idéias sobre o que é bom e é permitido e sobre o que é proibido - muitas vezes essas idéias independem da realidade daquilo que é realmente bom e ajuda e daquilo que realmente atrapalha. Assim sendo, temos que aprender a nos despedir dessas imagens internas, por exemplo, de imagens que nos impedem de reconhecer outras pessoas que são diferentes e conferir-lhes os mesmos direitos que temos.
Então, aqui também se trata de purificação, de uma purificação interna de imagens que nos confundem, talvez também de imagens que nos atraem para alguma coisa que nos prejudica e que prejudica outras pessoas. Através dessa purificação encontramos soluções que unem com respeito aquilo que é diferente. Normalmente esse é o processo essencial de cura, unir dentro do nosso coração aquilo que considerávamos contraditório ou oposto.
Quero dizer mais alguma coisa sobre como lidar com essas imagens. Elas existem dentro de um espaço, são atemporais, não podemos modificá-las. Se refletíssemos sobre o que aconteceria se mudássemos uma ou outra imagem, estaríamos interferindo nela. Também não podemos atuar imediatamente de acordo com a imagem. Ela deve repousar na alma, talvez por muito tempo. A imagem atua na medida em que está presente, presente não apenas na nossa própria alma, mas também na alma de outros membros familiares, sem que contemos algo a eles.
Após algum tempo, acumula-se na alma a força necessária para fazer o certo. Então seguimos a nossa própria alma, não mais a imagem. Mesmo assim, essa imagem estimulou algo na alma que possibilita a ação posterior.
O sentimento primário sempre vai diretamente ao ponto. Leva e possibilita a ação. No final algo está mudado. Neste sentimento os olhos estão abertos, pois estão em conexão com uma realidade.
Os sentimentos primários normalmente têm curta duração. Outras pessoas que são testemunhas podem permanecer totalmente consigo mesmas, podem assistir e ter compaixão, mas permanecem consigo mesmas.
Por outro lado existem sentimentos que se manifestam de forma dramática. Aqui a pessoa mantém os olhos fechados, pois tais sentimentos não estão em conexão com a realidade visível, mas orientam-se por uma imagem interna. Assim sendo temos que fechar os olhos quando se trata desses sentimentos.
Vou fazer um pequeno exercício com vocês, para que possam verificar a diferença. Fechem os olhos e lembrem-se das acusações que fizeram aos seus pais antigamente e como isso é sentido. Depois, ainda mantendo os olhos fechados, imaginem que estão olhando nos olhos de seus pais e que permanecem num contato contínuo através do olhar. Agora experimentem se são capazes de acusá-los, olhando nos olhos deles.
O sentimento de olhos abertos é primário, simples, leva à ação e libera os pais. Os outros sentimentos ligados a acusações orientam-se por imagens internas, e nós os sustentamos de olhos fechados. A partir do momento em que abrimos os olhos não podemos mais segurar esses sentimentos.
Qual é o objetivo desses sentimentos dramáticos? Querem impressionar e estimular os outros para a ação, ao invés de agirmos por conta própria. Por isso, os outros se sentem desconfortáveis na presença desses sentimentos, sentem que devem fazer algo, no entanto, imediatamente percebem que não podem fazer nada. No momento em que alguém tenta ajudar outro, tratando-se de um sentimento dramático, este vai lhe provar que não é possível ajudar. Tem que provar isso a ele, pois o único objetivo do sentimento dramático é de evitar a ação.
Quando alguém conta um sonho vocês podem perceber a mesma coisa. Também podemos classificar os sonhos em sentimentos primários e sentimentos dramáticos. Quando alguém conta um sonho imediatamente, principalmente quando diz: "Sonhei com você que ..." trata-se de um sonho que serve para sustentar problemas e, às vezes, tem a finalidade de fazer algo contra alguém. O sonho contém uma acusação. Não podemos interpretar esse tipo de sonho ou tomar isso pessoalmente. Essa é uma diferenciação muito importante, a diferenciação entre os sentimentos primários que possibilitam a ação e levam à ação e os sentimentos secundários que servem para substituir a ação.
Quero relatar mais uma observação aqui. Não podemos dizer ou pensar algo ruim sobre alguém quando olhamos nos olhos dessa pessoa. Vocês podem observar isso quando alguém diz algo ruim sobre um terceiro ou sobre vocês. Antes vai olhar para o lado, rapidamente, elabora uma imagem. No contato através do olhar não somos capazes de sustentar essas imagens.
Muitos que procuram por ajuda na psicoterapia têm a idéia de que devem trabalhar algo de sua infância. Passam muitos anos de sua vida trabalhando um assunto de sua infância, às vezes, um número maior de anos do que durou a infância. Naturalmente, às vezes existe algo a ser trabalhado, mas assim muitos evitam enfrentar o presente e aquilo que é importante naquele momento.
Um amigo meu, psicoterapeuta, teve câncer. Ele me ligou e disse: "Tem algo que ainda preciso colocar em dia. Preciso absolutamente esclarecer como foi meu relacionamento com meu pai no meu oitavo ano de vida." Eu disse a ele: "Você tem que encarar o fim, que mais você quer esclarecer?" Ele ficou zangado e desligou o telefone.
Quando alguém vem com uma questão temos que nos perguntar: é adequado aprofundar-se nela? Até que ponto seria adequado e quanto tempo resta a essa pessoa? Principalmente tratando-se de pessoas com doenças graves, às vezes podemos observar: ao invés de elas olharem para o fim próximo, olham para algo no passado. Assim perdem aquilo que é importante no momento.
Em outros, vejo que atingiram um limite. Não conseguem ultrapassá-lo porque algo do passado ainda os segura. Então soluciono algo do seu passado com eles - rapidamente, muito rapidamente. Assim ganham força para agir e podem ir.
Frequentemente ocorre que deixaram algo para trás num determinado momento, algo de que precisam para continuar andando. Por exemplo, uma confiança ou uma ligação com uma pessoa que para eles foi importante. Quando recuperam aquilo que deixaram para trás - às vezes bem rápido - tudo para eles continua, automaticamente.
Algumas vezes, assumiram algo que não lhes pertence, como podemos observar em muitos casos de emaranhamento. Dissolvemos o emaranhamento na medida em que deixamos algo no lugar que lhe pertence. Depois continuam o seu caminho por conta própria.
Muitos procuram uma psicoterapia com a imagem de que algo deve ser consertado. Isso significa que entregam o seu problema ao terapeuta, assim como entregamos um relógio ao relojoeiro para ser consertado. Ele o conserta e o entrega consertado. A imagem de algo completo está ligada a isso, a idéia de que uma terapia deve ser completa.
No contexto da terapia familiar também encontramos a postura em alguns consteladores de que todos os problemas devem ser resolvidos. Depois talvez façam 10 constelações seguidas com um cliente para resolver tudo para todos os membros da família. Mas, quanto mais querem fazer, menos força têm.
Nas Constelações familiares o decisivo é definir os rumos na alma. A partir do momento em que esses rumos estão definidos, o resto acontece automaticamente. Por isso, normalmente uma seção é o suficiente. Não precisa de mais. A não ser que algo novo venha à luz ou que surja uma situação nova. Então fazemos mais uma constelação, talvez somente após um ou dois anos, mas não fazemos mais do que isso.
Também não podemos utilizar as Constelações familiares no sentido de trabalhar um assunto do início ao fim, ou seja, fazendo uma constelação após a outra para trabalhar um assunto do início ao fim. Ou por curiosidade, no sentido de querer ver o que há numa determinada família. Sem um problema que urge não podemos fazer uma constelação. A constelação familiar é mais adequada em situações em que se trata de vida ou morte. Então, toda a seriedade está presente. Depois nos recolhemos e entregamos o resto a uma força maior.
Como ajudante frequentemente vou até o limite máximo com o cliente. Confronto a pessoa com os extremos. Não amenizo a situação de forma alguma, assim ela tem plena consciência das consequências. Apenas quando tiver plena consciência dessas consequências talvez exista uma solução mais amena. Essa solução, porém, apenas surge no momento em que olhamos diretamente para a seriedade da situação. Isso demanda muita coragem e confiança do ajudante.
Mesmo que para alguns isso possa parecer cruel ou demasiadamente direto, trata-se de uma realização humilde que permite à realidade ser o que é e que concorda com a realidade como ela é.
O ajudante somente pode ajudar enquanto mantém o controle. Exigir que o cliente o respeite faz parte desse controle. Isso significa que o cliente também respeita o que o ajudante decide. Caso contrário, o cliente decide o que o ajudante deve fazer. Se o ajudante fizer o que o cliente quer, qual é o resultado? O cliente permanece como é.
Apenas quando os jogos do cliente terminam e não valem mais a pena, é possível ajudá-lo.
Antes de ajudar temos que nos centrar. Vou fazer um exercício com vocês.
Imaginem uma pessoa que querem ajudar e estabeleçam uma determinada distância entre vocês, uma boa distância. Façam um círculo à sua volta que corresponda a um lugar seguro no qual ninguém pode entrar do exterior e onde vocês permanecem protegidos.
Depois olhem para essa pessoa e por detrás dela vejam os seus pais. Façam uma reverência diante deles e internamente lhes digam: "Aqui eu sou o pequeno e vocês são os grandes." Depois vocês vêem os seus avós e outras pessoas importantes por detrás dela e, ao lado da pessoa, vocês vêem a sua culpa, fazem uma reverência diante da sua culpa e dizem a ela: "Aqui eu sou o pequeno."
Assim vocês aguardam, sem intenção e sem culpa, esperam pelo momento apropriado e talvez recebam alguma indicação sobre o que podem fazer, onde devem se recolher, onde devem interferir - talvez com força - ou se devem permanecer em silêncio.
Este trabalho nos conduz a dimensões que antes não percebíamos. Também para mim revela sempre algo novo. Esta forma de trabalho diferencia-se em vários sentidos de outros procedimentos usuais.
Normalmente traçamos um plano, um objetivo que desejamos alcançar. Em seguida escolhemos o caminho que nos conduz até o mesmo. Na medicina e frequentemente também na psicoterapia elabora-se muitas vezes, em um primeiro momento, um diagnóstico. O tratamento resulta do diagnóstico. O caminho por qual se opta baseia-se assim em experiências anteriores.
Aqui, neste trabalho não existem definições, nem diagnósticos. Também não há um objetivo a ser alcançado. O próximo passo ainda desconhecido para nós vem a partir do centramento, um passo às escuras e, novamente, um próximo passo às escuras. Para onde ele nos conduz, não sabemos. No final, quando olhamos para trás, percebemos qual foi o caminho e para onde nos conduziu. Sendo assim, este tipo de trabalho exige total confiança em relação a algo desconhecido, que nos conduz quando confiamos nele.
Isso exige de certo modo uma transformação da idéia sobre o fazer - a idéia de que posso alcançar algo a partir de minhas habilidades - para uma atitude em direção ao recolhimento e da espera por algo que nos conduza a partir de dentro. Por isso esse caminho é marcado pela humildade. O ajudante não se permite ser seduzido pelas queixas de um cliente, pela sua dor ou seu desejo pessoal de ajudá-lo ou então pela idéia de que pode fazê-lo. Quando ajudo permaneço em sintonia com o destino do cliente. Minha designação não é modificá-lo. Apenas quando sua alma emite um sinal que me dá o direito de ajudá-lo e para tal me habilita, entro nesse movimento que me é oferecido.
Pena é o que há de mais perigoso. Isto é perigoso quando não suporto a dor do outro e quero ajudá-lo por esta razão. Neste momento interfiro na sua alma. Nesse momento torno-me fraco e necessitado. Quando, no entanto, suporto a sua dor com respeito, dedico-me a ele a partir de outra dimensão. Essa dimensão, ao contrário da pena, é uma dimensão de força.
Em muitas famílias a criança é separada precocemente da mãe, quando, por exemplo, precisa ir ao hospital e a mãe não pode visitá-la. Às vezes também ocorre uma separação imediatamente após o nascimento, quando, por exemplo, uma criança nasce prematura e precisa ficar na incubadora. No caso da cesariana ocorre igualmente uma separação precoce.
A criança sente a separação como uma grande dor. Ela se modifica após este evento, pois a dor se transforma em raiva ou desespero. Quando a mãe retorna, a criança afasta a mãe de si, pois se lembra da dor que sentiu. Assim a mãe talvez acredite ter falhado de algum modo e igualmente se retrai. Desta forma os dois permanecem separados.
Tal fato pode ter influências ao longo da vida. Quando ocorreu um movimento interrompido precoce, principalmente em relação à mãe, por vezes também em relação ao pai, mais tarde a criança não se aproxima mais de outras pessoas. Sente medo da proximidade. Sempre que se aproxima de alguém lembra-se da dor passada e interrompe o movimento de aproximação.
Se mais tarde essa criança, enquanto adulta, desejar aproximar-se de alguém recordará, antes de realmente chegar a ele, da situação antiga. Nesse sentido andará em círculos. Retrai-se, dá um passo para o lado, afasta-se, volta para o ponto de partida sem realmente ir adiante ou se aproximar.
Qual a solução neste caso? Retornamos para a situação onde o movimento foi interrompido precocemente e o concluímos. Para isso o terapeuta precisa representar a mãe, isto é, a mãe daquela época. Ele não larga a criança. Quando ela deseja afastar-se, ele a segura até que ela se acalme. Desta forma o movimento interrompido alcança o seu objetivo.
Muitos de nossos problemas e dos problemas de nossos clientes têm a ver com os mortos. Os mortos nos influenciam, e talvez nós também os influenciemos. Quando algo em relação aos mortos de nossa família ainda se encontra sem solução, isso acaba atuando de modo perturbador no presente. Nesse sentido encontramo-nos presos ao passado, ao invés de olhar para o futuro.
De que forma nos encontramos ligados aos mortos? Encontramo-nos ligados a eles à medida que nos lembramos deles. Muitas vezes lembramo-nos de forma amorosa. Sentimos sua falta, sentimos saudades, estamos ligados a eles com amor, estamos de luto.
Como os mortos se sentem quando agimos deste modo? Sentem-se melhor? O que fazemos quando nos lembramos deles deste modo? Nós os seguramos. O que é adequado nesse caso? Quando a morte deles é recente, a dor e o luto são adequados. Ajudam a nos separar dos mortos. Talvez isso também ajude os mortos. Desse modo se libertam de nós.
Como o luto em relação aos mortos tem mais êxito? Quando agradecemos aos mesmos. Quando olhamos para as coisas boas que deles recebemos e dizemos: "Eu sou grato. Eu conservo o que você me deu e em sua memória, farei algo de bom com isso." De repente os mortos podem libertar-se, pois aquilo que nos deram continua atuando, isto é, realizaram o seu objetivo.
Esta é uma forma. Porém, muitos ainda estão zangados com os mortos, ressentem-se deles. Muitos clientes que nos procuram ressentem-se de seus pais, embora talvez já estejam mortos há muito tempo. Dessa forma os vivos continuam ligados aos mortos e talvez os próprios mortos também não estejam em paz, pois nós os seguramos através de nossas expectativas e exigências.
Qual a solução neste caso? Dizemos a eles: "Não importa o que tenha acontecido, foi precioso para mim." É verdade. Aquilo que foi, independentemente do que foi, torna-se uma força a nosso favor à medida que concordamos. Torna-se um peso apenas quando o rejeitamos. Então, quando existem mortos com os quais estamos zangados por esperarmos algo deles, dizemos-lhes: "Eu sou grato". Nesse momento, aquilo que foi, seja lá o que tenha sido, transforma-se em um tesouro valioso.
Existem mortos em relação aos quais sentimos culpa, pois fomos injustos com eles, nós os prejudicamos. Desse modo permanecemos ligados a eles e eles a nós, pois ainda exigem algo de nós.
Naturalmente isso é apenas uma imagem. Se isto é realmente assim, nós não sabemos. Para nós, no entanto, tem um bom efeito, quando refazemos a nossa ligação de modo amoroso com os mortos contra os quais cometemos injustiças, dizendo-lhes, por exemplo: "Sinto muito e caso exista algo que possa fazer, eu o farei." Podemos, por exemplo, fazer algo de bom em relação a seus filhos. Quando concordamos com isso e nos decidimos nesse sentido, podemos deixar esses mortos, e eles farão o mesmo em relação a nós.
Mas, algumas vezes, sentimos que cometemos tamanha injustiça em relação a eles, que causamos danos irreparáveis, talvez até nos sintamos culpados em relação a sua morte.
Como lidamos com isso? Dizemos a eles: "Sei o quanto a culpa me pesa. Mas mesmo assim fico com ela. Não farei nenhuma tentativa de me desvencilhar da mesma como, por exemplo, através da expiação. Por ficar com ela possuo uma força especial. Farei algo bom através dessa força, em sua memória." Assim esses mortos podem ficar em paz conosco. Podem nos deixar sem novas exigências e nós os deixamos em paz.
O que isso significa em relação ao ato da ajuda? Enquanto ajudantes incluímos esses mortos no nosso campo de visão, quer dizer, olhamos para além do cliente e para além dos membros vivos de sua família em direção aos seus mortos. Nós os respeitamos, consideramos aquilo que ainda desejam e o transmitimos para o cliente. Nós o ajudamos para que possa estar em paz com os mortos e, desse modo, livres para viver a sua vida.
Independentemente do que aprendemos durante a nossa formação, enquanto ajudantes ou psicoterapeutas - isso não terá êxito diante desta tarefa. Aqui a demanda é outra. Porém, se nós nos introduzirmos nisso, nos sentiremos profundos e amplos de um modo especial e temos força.
Quando um paciente se queixa de seu destino ou de seus pais, por que está se queixando? Qual o seu objetivo? Deseja que o outro sinta pena dele e que aja no seu lugar. Esse tipo de ação, no entanto, jamais conduzirá ao sucesso.
Também podemos lidar de outra forma com ele. Quando alguém, por exemplo, se queixa de seus pais e de seu destino, permitimos que nos conte tudo e ainda perguntamos: "O que aconteceu exatamente?" Ele nos contará tudo nos mínimos detalhes. Em seguida, dizemos: "Então, essa não foi uma oportunidade maravilhosa de se desvincular de seus pais e começar a realizar algo através de sua própria força? Se outra pessoa, que não passou pelas mesmas experiências que você tentasse realizar o mesmo, não seria capaz, pois lhe faltaria a força necessária." Assim, independentemente das experiências às quais alguém é submetido, elas sempre lhe darão forças para que possa crescer, caso realize algo a partir delas. Seja lá como tenha sido o passado de alguém, ele se transformará, através das ações baseadas na força que emerge.
Por isso, o ajudante sempre observa de que modo aquilo que o cliente revela pode contribuir para o seu crescimento, ajudando-o a agir de modo correto.
Quando um cliente prefere fixar-se em suas reclamações e acusações, não devemos trabalhar com ele. A maior ajuda que pode receber é quando alguém lhe diz: "Para mim isto é demasiadamente perigoso."
Toda pessoa que se queixa ou reclama é perigosa. Isso nós podemos ver quando nos recusamos a trabalhar com ela. Ninguém consegue ficar mais agressivo. Por isso, tenham cautela.
Existem terapeutas que são acusados e atacados. Por quem? Por aqueles que eles decepcionaram, pois não fizeram o que desejavam e se vingam por isso. Sentem se bem quando acusam, pois agem, enfim, porém, não a seu favor.
Quando alguém ajuda de modo leviano no caso de questões de vida e morte, acreditando poder colocar-se acima do destino de um cliente, combater o mesmo com sucesso, corre um profundo perigo. Aqui ninguém pode brincar de ser Deus sem prejudicar o cliente e a si mesmo.
Fui acusado algumas vezes de dizer coisas muito ousadas que poderiam prejudicar o cliente.
Meu ponto de vista em relação a isso é um tanto radical. Nenhum terapeuta é capaz de prejudicar um cliente. Como poderia realizar tal empreendimento, a não ser que o matasse? Todos nós somos livres para fazer o que bem entendemos. Quando o cliente quer ser prejudicado, ou seja, quando age de um modo como se tivesse sido prejudicado, então esse é o seu desejo.
Porém, deseja isso de um modo específico, de um modo que o isenta da responsabilidade. Ao invés disso acusa o terapeuta. Mas olhando de perto, um terapeuta não é capaz de prejudicar um adulto. Se digo algo errado, todos têm a liberdade de ter um ponto de vista diferente.
No entanto, quando alguém age como eu, às vezes corre o perigo de ouvir: "Isso não está acontecendo, isso é impossível." Eles podem acusar o terapeuta de estar fazendo algo errado. Quando um ajudante cede diante desse temor, o que acontece com ele? Perde a clareza da percepção e não se pode mais confiar nele.
Uma das condições para este trabalho é deixar o temor para trás. Quem cede torna-se uma criança e o outro, do qual se sente medo, é transformado internamente por ele em pai ou mãe. Ser fiel à sua percepção e ter coragem de verbalizá-la exige força.
Verifiquem agora se perceberam algo diferente do que eu e se teriam tido coragem de dizer o que perceberam.
Mais algo: quando vamos até o limite máximo - e isso aqui foi um limite máximo - algo decisivo pode acontecer. Muitas coisas ocorrem apenas no limite máximo; apenas quando temos coragem de ir até o limite máximo, algo pode tomar um rumo melhor. Vencemos a guerra no limite máximo. Apenas no limite máximo.
A nossa existência não é muito segura. Nada possui limites claros. Os limites são permeáveis e por vezes nós nos perdemos. A nossa estabilidade psíquica também é precária. As tentativas realizadas por alguns de transpor os seus limites psíquicos, através de drogas ou certos exercícios, por exemplo, são perigosas. Estamos mais seguros quando permanecemos no aqui e agora e nos alegramos com isso, enquanto dura.
Fechem os olhos. Coloquem no chão aquilo que seguram, para que nada os distraia.
Agora centrem-se e exponham-se àquilo que emerge de seu centro e se revela para vocês. Olhem para isso, sem medo, sem desejos, simplesmente abertos tal como uma criança que olha para o mundo pela primeira vez. Uma criança que não sabe nada ainda sobre palavras e definições, que escuta um passarinho sem saber o nome do mesmo, uma criança que se encontra conectada com tudo de modo imediato.
A alma é como um rio. Entramos nesse rio e deixamos que ele nos leve. Não sabemos para onde flui e mesmo assim ele nos sustenta. Entregamo-nos a ele.
Se eu começar a trabalhar agora com casos isolados não estarei trabalhando apenas com eles, trabalho simultaneamente com todos vocês. Pois aquilo que emerge a partir do trabalho com eles, em termos da qualidade humana essencial, refere-se a todos nós. Toca nossa alma imediatamente. Nadamos com eles no rio da vida.
A psicoterapia, conforme transmitida por Freud e do modo como está continuamente se desenvolvendo, parte de um modelo básico: aqui está um doente e lá um médico, aqui está um necessitado e lá um ajudante superior que diz a ele o que o ajudará. A partir disso forma-se uma relação específica. Tal modelo é válido e também se justifica na relação que o doente estabelece com seu médico. Mas isso também se aplica à psicoterapia?
Quando ajo segundo esse modelo, no final o cliente é maior do que antes ou menor? A terapia contribuiu para seu crescimento ou talvez o tenha colocado na posição de uma criança?
Trato cada cliente como igual e me recuso a trabalhar com alguém que se apresenta como necessitado. Não nego que muitos necessitam realmente de ajuda. É claro que necessitam. A pergunta é se o cliente está disposto a agir ou não. Quando alguém necessita de ajuda e se apresenta para mim como alguém que está disposto a agir, esperando apenas que lhe mostrem como, aí sim, posso ajudá-lo. Não se tornará dependente através de minha ajuda, pois sabe e quer agir através de sua própria força.
Quando alguém reclama, contando-me, por exemplo, como foi terrível a sua juventude - será que deseja agir? Por que me conta isso? Ele o revela como um pretexto para não agir. Por isso, toda energia por mim mobilizada para ajudá-lo será em vão. A disponibilidade básica de acompanhar um movimento da alma que leva adiante aqui se encontra bloqueada. Por isso testo primeiramente se posso e desejo trabalhar com alguém.
Existe algo bem simples a ser considerado aqui. O ser humano é como é, pois algo aconteceu em sua família, algo que influencia a sua vida por inteiro. Por exemplo, quando alguém morreu cedo em sua família, isto é um acontecimento que influencia toda sua vida. Ou então quando alguém foi abandonado quando criança, quando houve um suicídio, um crime foi cometido ou qualquer coisa que tenha provocado uma mudança radical na família.
Tais eventos podem ter ocorrido na família atual de um cliente, quer dizer, com ele, seu parceiro e seus filhos ou então em sua família de origem, com seu pai, sua mãe, seus irmãos e, além disso, nas gerações anteriores.
Por isso, a primeira pergunta que faço a um cliente que quer trabalhar comigo é: "O que aconteceu?"
Na maioria das vezes isso pode ser dito em três frases. Nesse sentido não preciso saber nada sobre seus sentimentos nem como foram seus pais. Isso apenas distrai. O que é decisivo está relacionado a acontecimentos.
O que fiz com esse homem? Isso foi uma constelação familiar? Foi. Quando veio até mim pudemos perceber que estava em apuros. Pedi então que fechasse os olhos e iniciei uma constelação familiar - em minha alma.
Retraí-me e o entreguei à sua alma. Olhei para sua mãe, seu pai, seus irmãos, caso tenha algum, e para seus ancestrais. Olhei para os destinos dessa família e fiz uma reverência a eles, com respeito. Quer dizer, olhei para além dele, para o contexto de onde veio.
À medida que não perguntei e nem disse nada e por ele estar seguro, diante de mim, no campo ao qual pertence, os sentimentos adequados puderam surgir. Sua alma o guiou. De repente ficou claro que era uma criança pequena e que algo marcante aconteceu naquela época. Assim eu o acolhi nos meus braços como uma mãe. Ele estava seguro comigo. Cobri seu rosto com minhas mãos para protegê-lo de olhares curiosos.
Em seguida pudemos ver a raiva dele, era a de uma criança que foi abandonada, Por isso aproximei-o cada vez mais de mim. Por que dei-lhe um golpe entre as omoplatas com o punho? Por estar em sintonia com ele, de repente percebi que isso era necessário. Pudemos ver imediatamente o efeito e que havia feito a coisa certa.
Quando gritou, disse a ele que deveria respirar sem sons. O ato de gritar muitas vezes é uma resistência. Quando passou a respirar mais calmamente estava conectado de modo muito mais profundo com sua alma. Após um tempo senti: por agora é o suficiente. Agora sua alma necessita de tempo para lidar com isso.
Neste tipo de trabalho, aquilo que tentamos fazer externamente na constelação já está algumas vezes acontecendo profundamente no âmbito interno. Os movimentos emergem da própria alma. Através do rosto e dos movimentos podemos ver onde não é mais possível prosseguir. Então ajudamos o cliente para que possa transpor lentamente o obstáculo.
É essa a diferença em relação à constelação. Nela procuramos por uma solução. Quando a solução é encontrada, o cliente precisa fazer algo em seguida.
Aqui o processo de cura já ocorre através dos movimentos da alma. Quer dizer, o trabalho em si acontece aqui e agora ou, pelo menos, já começa. Dessa maneira ocorre em um nível muito mais profundo. Ao mesmo tempo tudo permanece no âmbito da própria alma, não há nenhuma intervenção de fora. O ajudante revela uma profunda deferência diante do destino de uma pessoa.
Quando vocês comparam este procedimento com as idéias mais corriqueiras sobre o desejo de ajudar, perceberão quais intervenções por vezes são realizadas de fora para dentro. Perceberão a partir de que idéias são realizadas e que isso é realizado sem considerar o que ocorre na alma.
Às vezes queremos ajudar, pois o cliente disse algo de uma certa maneira e porque entramos no que disse. O que o cliente diz é quase sempre uma resistência diante do essencial. Se entrarmos nisso imediatamente, talvez iniciemos um grande jogo para além daquilo que realmente conta.
Por isso precisamos ser cautelosos aqui. Sentimos as diferenças entre os dois modos de ajudar. A partir da reação da própria alma aprendemos gradativamente o que podemos e o que não podemos fazer.
Assim como o conhecimento no caminho fenomenológico do conhecimento tem êxito através da renúncia, essa ajuda também tem êxito através da renúncia.
O que importa neste trabalho não é o fato do terapeuta fazer muito, mas que ele traga algo à luz com a ajuda dos representantes. Quando isso vem à luz, passa a atuar. Por isso, não precisa fazer mais nada depois. O essencial ele já fez. Todo o resto a alma faz e isso exige tempo. O ajudante não precisa fazer mais nada, pelo contrário, se ainda desejasse fazer algo, interferiria na alma do outro.
Neste trabalho muitas vezes encontramos pessoas com um destino especial. A questão é como nos confrontamos com esse destino, como o reconhecemos, concordando simultaneamente com ele - e em que medida somos capazes de compreender onde esse destino se torna inevitável e onde algo nos é oferecido através do destino, algo que nos capacita a ajudar alguém em sintonia com o mesmo.
No nosso trabalho nos deparamos frequentemente com situações onde nos sentimos inclinados a julgar dizendo, por exemplo: "O problema é que a pessoa simplesmente não quer." Partimos assim do pressuposto de que alguém tem liberdade de ação, sendo igualmente livre a optar pelas situações de vida nas quais se encontra e que poderia modificá-las, caso quisesse. Através da constelação obtemos a compreensão de que a margem de movimento de cada um é bastante restrita. Deste modo, a idéia de liberdade diminui consideravelmente em direção a algo bem pequeno e superficial.
Em primeiro lugar, destino significa que nos encontramos inseridos em uma família específica na qual ocorreram certos acontecimentos que determinam os destinos daqueles que vêm depois. Esse destino ou essa determinação através do destino se expressa no indivíduo como lealdade à família. Quando, por exemplo, ocorreu um suicídio, isso influencia gerações posteriores e pode levar outros a quererem igualmente suicidar-se. Quando investigamos melhor o assunto, descobrimos talvez que lá atrás na família alguém deveria ter se suicidado, mas não o fez. Sendo assim delega aquilo que não realizou e que deveria ter realizado para as próximas gerações. Estas sentem tal fato como uma obrigação, sem saber o porquê.
Então quando encontramos alguém que se encontra emaranhado em uma situação como esta não adianta tentarmos persuadir a pessoa. Precisamos verificar onde esse destino se inicia. Quando, no entanto, podemos pressupor que o problema da pessoa se encontra para além de seu livre-arbítrio, lidaremos de modo mais sereno com ele. Quando lhe dizemos: "Vamos verificar de onde vem isso, qual a sua origem", sente-se pessoalmente aliviado. Só isso já ajuda.
Ultimamente temos encontrado métodos para trazer à luz a situação original. Em seu livro "A cura vem de fora", Daan van Kampenhout descreve detalhadamente de que forma isso pode ser feito. Posicionamos primeiramente o cliente. Em seguida, posicionamos atrás dele um representante para a geração dos pais, depois um para a geração dos avós e assim por diante. No caso dos homens posicionamos apenas homens, no caso das mulheres, apenas mulheres. Deste modo podemos posicionar, quem sabe, oito, nove, dez gerações. Quando esperamos por um tempo suficiente podemos perceber, através das reações dos participantes, em que geração ocorreu o acontecimento decisivo.
Ou então o cliente ou a cliente se movimenta lentamente de um representante ao outro e sente o que acontece com eles.
O decisivo é sempre um assassinato. Até onde pude perceber, até agora, os destinos mais pesados têm a ver com o fato de que alguém na família foi assassinado por outro da família ou então que alguém da família assassinou outro familiar.
Quando percorremos as gerações, talvez percebamos que um dos representantes se torna inquieto, passa a olhar para o chão. É nessa geração que se encontra o destino decisivo. Pedimos que um representante para a vítima se deite no chão diante desse representante. Nesse momento inicia-se o confronto entre o agressor e a vítima. Naturalmente não sabemos o que ocorreu e também não pre-cisamos saber. Vemos apenas que algo aconteceu aqui.
Quando ocorre algo entre a vítima e o agressor, algo que os aproxima, vamos supor que o agressor se deite ao lado da vítima, podemos observar como as gerações seguintes ficam aliviadas. Esse alívio também pode ser sentido em relação ao cliente. Este é um método elegante sem que tenhamos que investigar muito. O efeito confirma que isso ajuda.
Por vezes nada pode ser mudado, pois o destino é grande demais. Talvez não tenhamos acesso às compreensões necessárias para solucionar. Entretanto trago um exemplo, revelando como algo assim pode ser solucionado de modo surpreendente.
Em Taiwan a mãe de um participante era esquizofrênica. Quando posicionamos seus filhos, que eram quatro meninas, uma delas se comportou de modo estranho. Investigamos se havia ocorrido algo fora do comum várias gerações atrás, na família. O cliente lembrou que seu bisavô tinha sido assassinado por seu irmão. Sendo assim coloquei o bisavô e seu irmão, porém este se comportou de um modo como se não fosse apenas um agressor, e sim, também uma vítima. Em seguida, coloquei a mãe deles, a tataravó, e ficou claro, através das reações dos representantes, que ela tinha sido a real agressora. Foi ela que havia incentivado este ato. O irmão do bisavô estava confuso, pois sentia tanto a energia da vítima como a do agressor. Pedi que se apoiasse, de costas, em seu irmão e na tataravó. De repente a confusão do irmão do bisavô se dissolveu e ele percebeu tudo mais claro.
Em seguida fiz o mesmo em relação às gerações posteriores. Apoiaram-se, de costas, naqueles que vieram antes. Todos passaram a perceber as coisas de modo mais claro, inclusive a mãe do cliente. Sua filha, porém, permaneceu confusa. Não vi nenhum caminho que pudesse ajudá-la. Vi-me em apuros e, que foi que fiz? Eu a conduzi até sua tataravó que a tomou em seus braços e, assim, ela também se sentiu livre. No final, a força curativa veio da assassina, neste sistema.
Por vezes não sabemos se podemos ou devemos fazer algo. O que então fazemos como ajudantes? Fazemos uma reverência diante do destino, sem interferir. Quando vem à luz que não podemos fazer nada, dizemos claramente: "Aqui não posso fazer nada." Então o destino assume a condução.
É claro que aqui destino significa também que a grande alma assume a condução. Por vezes acaba surgindo uma solução.
Caso não surja uma solução, isso é grave? Quando percebemos, por exemplo, que é inevitável que alguém se suicide e que nada pode ser feito - é grave quando isso acontece? É grave para a alma dele? Podemos julgar tal fato? Talvez seja exatamente nisso que se revela grandeza, amor e plenitude. Nesse sentido somos convocados, como ajudantes a nos submeter também a esse destino e a reconhecer que ele está acima de nós. Assim permanecemos centrados e calmos em todos os nossos empreendimentos de ajuda.
O mesmo se refere naturalmente à morte. Faz alguma diferença se alguém morre cedo, quem sabe até antes de nascer ou envelhece? Pouco tempo atrás me apresentei, através de um exercício, aos mortos de minha família. Na família de minha mãe quatro filhos morreram cedo. Apresentei-me também a eles. Foi deles que senti emergir a maior força. Eles não estão simplesmente ausentes. Deles emerge algo que nos ajuda quando os reconhecemos e nos apresentamos. Eles perderam algo ou será que continuam atuando através de mim e, deste modo, são confortados? Sendo assim, concordamos também neste sentido com a realidade sobre a vida e a morte, assim como ela é.