Livro de Urantia

Grupo de Aprendizes da Informação Aberta

Contato

Índice Superior    Vai para o próximo: Capítulo 6

Arquivos de Impressão: Tamanho A4.

Livro em Texto (txt).

Capítulo 5
Saúde e cura do ponto de vista espiritual


O Amor do Espírito
na Hellinger Sciencia

Bert Hellinger
Re-formatação do
livro eletrônico original

Saúde e cura do ponto de vista espiritual
    5.1  O amor do espírito
    5.2  Amar os pais espiritualmente
        5.2.1  A criança
        5.2.2  O outro amor
        5.2.3  Meditação: a despedida
        5.2.4  O caminho
        5.2.5  O instante
    5.3  A violação da igualdade
        5.3.1  O emaranhamento
        5.3.2  A solução
        5.3.3  Culpa e expiação
        5.3.4  O nível espiritual
    5.4  Psicoses, o amor à beira do abismo
        5.4.1  Um exemplo
        5.4.2  O que leva à psicose?
        5.4.3  Psicoses como agressores, psicóticos como vítimas
        5.4.4  As psicoses como um problema familiar
        5.4.5  Os ajudantes
        5.4.6  Exercício: o amor espiritual
    5.5  Nosso amor à beira do abismo
        5.5.1  O amor da consciência inconsciente
        5.5.2  Benevolência para todos
        5.5.3  O emaranhamento
        5.5.4  O amor ciente
        5.5.5  A precedência
        5.5.6  Nosso amor cego
        5.5.7  O caminho da purificação
    5.6  Meditação: o amor que afasta do abismo
        5.6.1  O círculo
        5.6.2  Paz aos mortos
        5.6.3  A liberdade
        5.6.4  Distúrbios de fala
        5.6.5  Gagueira e esquizofrenia
        5.6.6  Gagueira por temor perante uma pessoa internalizada
        5.6.7  Gaguejar porque um segredo de família não pode vir à luz
        5.6.8  O alívio
        5.6.9  Reconciliar os opostos
        5.6.10  Um exercício para gagos "Você e eu - nós dois"
        5.6.11  Como crescemos
        5.6.12  Exercício: Reconciliação na alma
        5.6.13  Exemplo: Gagueira e esquizofrenia
        5.6.14  Explicações
    5.7  A fala
        5.7.1  As coisas
        5.7.2  As grandes palavras
    5.8  Autismo
        5.8.1  Publicações sobre o tema psicose e distúrbios de fala
            5.8.1.1  Livros
            5.8.1.2  Vídeos
            5.8.1.3  DVDs
    5.9  As constelações familiares espirituais em uma frase
        5.9.1  O procedimento
        5.9.2  Exemplo: um menino de 12 anos tem um tique nervoso
        5.9.3  Exemplo: homem de 40 anos com diarreia
        5.9.4  Exemplo: menino de 15 anos se automutila e tem ataques de pânico
        5.9.5  Exemplo: cliente de 35 anos consegue apenas ingerir alimentos líquidos
        5.9.6  Exemplo: Cliente de 37 anos tem o lado direito do corpo paralisado há um ano
        5.9.7  O movimento interno
        5.9.8  Meditação: a nossa própria frase
    5.10  Supervisões breves
        5.10.1  O futuro
        5.10.2  Um menino perde a fala
        5.10.3  Exercício: acompanhar o espírito

5.1  O amor do espírito

     Adoecemos quando desviamos do amor do espírito. A saúde permanece e retorna quando vivemos em sintonia com o amor do espírito ou encontramos novamente o caminho para ele, se tivermos perdido a sintonia com esse amor.

     Tudo de que falei anteriormente sobre os caminhos que levam à doença nas famílias são desvios do amor do espírito que ama e quer tudo como é, pois pensa tudo da maneira como é. Tudo de que falei anteriormente sobre os caminhos que podem atenuar e curar doenças nas famílias são caminhos de retorno ao amor do espírito e à sintonia com o mesmo. O que isso significa exatamente?

     Primeiramente, a doença vem com a rejeição dos pais e acusações contra eles. A rejeição pode tomar a forma de acusações, especialmente acusações públicas, processos legais contra os pais ou quando os filhos se negam a dar aos pais os devidos cuidados e apoio, quando necessitam e se negam a manter e proteger a sua reputação.

     Algumas vezes, podemos ver tais quadros de fundo em pessoas com câncer ou outras doenças graves. Muitas delas preferem morrer a honrar sua mãe.

     A obesidade, principalmente em mulheres, frequentemente está relacionada a uma rejeição da mãe, assim como o fracasso na profissão e no relacionamento de casal. Os dois últimos sintomas não são doenças no sentido exato da palavra, mas suas consequências podem ser similares às das doenças.

     O amor do espírito não tolera a rejeição dos pais, não importando os motivos. Ele não tolera nenhum tipo de arrogância ou superioridade.

     As consequências da rejeição dos pais, reclamações e acusações são as mesmas também onde parecem ser justificadas. Aqui nos é mostrado, de forma especial, que no nível do espírito regem ordens diferentes daquelas que regem no nível de certo ou errado e de justo ou injusto. No nível do espírito aquilo que estava oposto à saúde e ao sucesso é colocado em ordem, tanto para os filhos como para os pais.

     A questão é: como podemos retomar ao amor por nossos pais? Quando vamos ao seu encontro para além da diferenciação entre bom e mau, no nível do espírito, com o amor do espírito.

     Através do exemplo de uma criança que foi dada à adoção, descrevo mais especificamente como isto pode dar certo, permitindo-nos experimentar como tomar nossos pais de um modo espiritual, como podemos aprender a honrar e amar os nossos pais e encontrar um caminho de volta para eles, como podemos voltar para eles quando estamos separados deles ou, ainda, quando esperamos algo deles que eles não conseguem ou não nos podem dar.

5.2  Amar os pais espiritualmente

5.2.1  A criança

     A criança adotada tem os seus pais, como as outras crianças também. Como as outras crianças, ela também obteve a sua vida desses pais específicos. Essa criança pertence à família deles assim como todos os outros membros. Está ligada a essa família, qualquer que seja o destino que ela carregue. E todos os outros membros dessa família são afetados por esse destino também. Eles participam no destino como se ele fosse o seu também. A adoção não muda nada nisso, de forma alguma.

     Para a criança adotada também vale que recebeu esses pais de presente, assim como são e que eles transformaram-se no seu destino, da maneira como foi determinado. Qualquer acusação contra eles, como se tivessem se tornado culpados em relação à criança e qualquer outra exigência em relação a eles, voltam-se contra essa força espiritual que movimenta ambos, pais e filho de forma que ninguém possa ser diferente do que ele ou ela é.

     Como, então, uma criança que foi dada para adoção pode e deve lidar com o seu destino de maneira espiritual? Como pode e deve lidar com esse destino de uma forma que lhe permita reconhecer como algo grande o que esse destino especial lhe solicita, para vê-lo de uma maneira positiva e concordar com ele, assim como é?

5.2.2  O outro amor

     A criança pode imaginar seus pais, mesmo que nunca tenha se encontrado com eles. Precisa apenas voltar-se para dentro de si que saberá tudo sobre eles, pois estão presentes dentro dela. Eles estão presentes fisicamente, pois vivem nessa criança. E também estão presentes na sua alma. Ela sente como eles, carrega algo como eles e também para eles. Está emaranhada no destino dos pais e suas famílias. Sofre como eles, tem esperança assim como eles e aguarda algo que vem para curar, assim como eles. Sente-se culpada e quer expiar, assim como eles, também pela culpa de ter sido separada pela adoção.

     Assim como os pais, a criança pode-se libertar desses emaranhamentos e consequências somente entrando em contato com uma força espiritual e um movimento do espírito, que se encontram para além de tudo que há de pesado em primeiro plano e que acolhe todos com o mesmo cuidado e os toma a seu serviço para algo que está além deles. É um serviço através do qual tanto eles quanto outros podem crescer. Pois a adoção é difícil para todos os envolvidos e torna-se um destino comum para eles, através do qual ficam mais humanos, mais amorosos, mais incluídos, mais humildes e grandes.

5.2.3  Meditação: a despedida

     Aqui sugiro um exercício interno, que ajuda uma criança adotada a separar-se dos seus pais com amor. Essa despedida requer duas coisas:

     Primeiramente o ato de concordar, concordar inteiramente com tudo que foi dado a essa criança através dos seus pais.

     Em segundo lugar, a abdicação de algo mais, a abdicação total, a abdicação para sempre.

     Como esse exercício pode ser feito individualmente? A criança fecha os olhos e imagina sua mãe e seu pai. Eles se amaram como homem e mulher. Não puderam agir de maneira diferente. Independente das circunstâncias, uma força maior serviu-se deles, quis que, com esse amor essa criança recebesse a vida. Então, a criança olha para sua mãe e seu pai como eles foram tomados a serviço por essa força.

     Ao mesmo tempo olha para além dos pais, para essa força espiritual e se curva profundamente diante dela. Sente como essa força também lhe dá o seu amor e o presente da vida, através dos seus pais, e a atrai com amor. A criança se entrega totalmente a essa força e a esse movimento e diz: "Sim, tomo isso de você, tudo, da maneira como você me deu, a minha vida através destes pais. Eu abro meu coração e minha alma para este presente. Eu carrego isto com honra. Eu vou com ele para onde me conduzir. Eu sou grato!"

     Depois a criança olha para sua mãe, assim como ela é, como foi tomada a serviço por essa força e para tudo que lhe custou e talvez ainda custe. Diz a ela: "Querida mamãe, eu tomo tudo de você, pelo preço total, seu preço e o meu. Para mim vale a pena todo o preço, o seu e o meu. Eu sou grato!"

     "Mesmo que você tenha me dado para sempre, eu a levei comigo, assim como você é, como minha mãe, que me foi dada como presente por essa grande força com amor. Você também ainda pode me ter. Eu pertenço a você. Se algum dia precisar de mim, saiba que será sempre minha mãe e eu serei sempre seu filho."

     Depois a criança olha para seu pai, assim como ele é, assim como foi tomado a serviço por esta força e para tudo que lhe custou e talvez ainda custe. Diz a ele: "Querido papai, eu tomo tudo de você, pelo preço total, seu preço e o meu. Para mim, vale a pena todo o preço, o seu e o meu. Eu sou grato!

     "Mesmo que você tenha me dado para sempre, eu o levei comigo, assim como você é, como meu pai, que me foi dado como presente por essa grande força com amor. Você também ainda pode me ter. Eu pertenço a você. Se algum dia precisar de mim, saiba que será sempre meu pai e eu serei sempre seu filho."

     Depois a criança olha novamente para sua mãe e lhe diz: "Querida mamãe, vejo você como minha mãe e me vejo como seu filho. Também a vejo como filha da sua mãe e do seu pai, como você está ligada a eles com amor, também com o seu destino e com tudo que tiveram que suportar junto com a família deles. Como você, também estou ligado a eles e ao seu destino da maneira como o tiveram que tomar. Deixo você lá, da maneira como você é atraída para lá. Eu também me sinto conectado com eles.

     Mas também olho para além de vocês todos, para esta força que os movimenta, da maneira como se movimenta e para a qual estão e estiveram a serviço. Entrego-me a ela junto com vocês e digo: "Sim". Digo a ela: "Eu sou grato! Eu deixo vocês lá da maneira como essa força os atrai e os toma, com amor."

     Depois de algum tempo a criança também olha novamente para o seu pai e lhe diz: "Querido papai, vejo você como meu pai e me vejo como seu filho. Também o vejo como filho da sua mãe e do seu pai, como você está ligado a eles com amor, também com o seu destino e com tudo que tiveram que suportar junto com a família deles. Como você também sou ligado a eles e ao seu destino da maneira como o tiveram que tomar. Deixo você lá, da maneira como você é atraído para lá. Eu também me sinto conectado com eles.

     Mas, também olho para além de todos vocês, para esta força que os movimenta, assim como se movimenta e para a qual estão e estiveram a serviço. Entrego-me a ela junto a vocês e digo: "Sim." Digo a ela: "Eu sou grato!" Eu deixo vocês lá da maneira como essa força os atrai e os toma, com amor."

5.2.4  O caminho

     Em seguida a criança olha para aqueles que a acolheram e providenciaram o que foi necessário para que pudesse permanecer em vida, e diz a eles: "Vocês me foram dados assim como são. Vocês me acolheram quando meus pais não puderam ficar comigo. Agora vocês são pai e mãe para mim. Vocês se tornaram meus pais. Vocês me foram dados de presente como meus segundos pais. Eu tomo vocês assim como me foram dados, independente do preço que isto custa para vocês e para mim, independente do destino de vocês que determinou que seriam meus novos pais."

     Depois a criança também olha para além deles, para esse poder que segura todos os destinos em suas mãos, pois quer a todos assim como eles são. Curva-se diante dessa força que tudo abarca. Entrega-se a ela com amor e lhe diz: "Sim, eu tomo de você a minha vida e o meu destino como são. Eu me deixo ser carregado e conduzido por você, assim como é, eu cumpro o que você me dá e para onde você direciona a minha vida. Eu sou grato!"

5.2.5  O instante

     Onde e como essa criança está agora? Ainda é uma criança que foi dada? Ou será que sabe estar acolhida de uma maneira maravilhosa? Ela experimenta estar conectada às suas origens, em toda sua extensão, não importa qual distância possa alcançar para trás. Em cada fibra do seu corpo há um sentido de unidade com todos seus antepassados e a força da vida - a força espiritual que tomou todos os envolvidos a seu serviço, assim como foram e assim como são. A serviço dessa força ninguém foi melhor ou pior, mais rico ou mais pobre. Todos foram igualmente amados e todos estavam igualmente a serviço da vida.

     Assim esta criança sabe que ela é, como os outros, igualmente amada e acolhida. Sabe que está lá em cada instante, realmente lá, na plenitude e no amor, lá, junto com todos.

5.3  A violação da igualdade

     Quem vive é equivalente a todos os outros no sentido que a sua vida - assim como todas a outras - foi pensada e lançada na existência pelo mesmo espírito. Sempre que nos comportamos como se pudéssemos dispor sobre a vida alheia achando que nossa vida tem mais valor ou alguma precedência em relação à vida do outro, infringimos esta ordem da igualdade. Isso tem consequências amplas para nossa saúde e para a saúde de outros membros da família, especialmente para nossos filhos e netos e, algumas vezes, também para nossos parceiros.

     Isso significa que as consequências de tal arrogância têm que ser carregadas tanto pela pessoa que ofende como por outros que não estiveram envolvidos no acontecimento. Ou seja, as consequências afetam a família como um todo, independente do envolvimento de cada membro familiar e da noção que tem sobre estes acontecimentos.

     A violação da igualdade é um dos motivos principais de doenças, mas também das dificuldades e comportamento de muitas crianças que deixam seus pais muito preocupados. Aqueles que foram excluídos, rejeitados e às vezes até assassinados numa família - como, por exemplo, no caso de um aborto - , mais tarde serão representados por outros membros familiares. Os rejeitados serão representados mais tarde por outros membros da família, sem que tenham consciência disso.

5.3.1  O emaranhamento

     A exclusão de membros da família mais antigos leva ao emaranhamento com o destino deles. Nos membros familiares emaranhados, podemos ver traços e fardos da pessoa excluída, frequentemente também a agressão daqueles que queriam essa exclusão e foram responsáveis por ela. Desta maneira sua agressão atinge seus descendentes, neles se refletindo. A agressão daqueles que excluíram os alcança novamente, através dos seus descendentes.

5.3.2  A solução

     Qual é então a solução? Os excluídos são trazidos de volta para a família com amor, mas também com tristeza e pesar em relação àquilo que aconteceu. Eles são lembrados pelos seus nomes e ocupam seus lugares de volta em suas famílias. De repente experimentamos que podemos estar bem de novo, que as crianças podem recuperar a saúde e que não precisam continuar com o comportamento agressivo que as põem em perigo, distanciando-as dos outros. De repente, elas também têm um senso da ordem e do pertencimento.

5.3.3  Culpa e expiação

     Mas somente trazer os excluídos de volta, frequentemente não é o suficiente, pois aqueles que os excluíram ou os deram para alguém ou os mataram sentem culpa. Isto significa, que querem expiar por aquilo que fizeram, por exemplo, também deixando sua família, ficando doente, morrendo ou de outras maneiras.

     Entretanto, as crianças frequentemente ocupam este lugar para os pais: adoecem ou morrem no seu lugar. Ou cometem algo para que sejam punidos e, então, não expiam apenas a própria culpa, mas também a culpa dos pais.

5.3.4  O nível espiritual

     Aqui a solução encontra-se num outro nível, no nível do espírito. Nesse nível reconhecemos que tudo que acontece é movido por uma outra força, exatamente como acontece, incluindo o destino dos excluídos, o destino daqueles que sentem culpa, o destino dos que querem expiar por si próprios ou pelos outros.

     Então, eles olham para além do que está próximo, para essa força espiritual que tudo movimenta - e se submetem a ela. Sabem que os excluídos são sempre incluídos por essa força espiritual. Ninguém pode separá-los dela, nem mesmo os culpados. Diante dessa força, humildemente entregam-se a ela, tornando-se uma unidade com ela. Entregam também aqueles por cujo destino tornaram-se culpados.

     Somente neste nível espiritual o trágico é realmente superado. A ordem pode verdadeiramente retornar com o amor dentro da ordem, e seus efeitos podem terminar.

5.4  Psicoses, o amor à beira do abismo

5.4.1  Um exemplo

     HELLINGER para uma cliente: - Qual é a sua questão?

     CLIENTE: - Na minha família existem psicoses nas quais eu também estou envolvida. Já estive por três vezes numa clínica psiquiátrica.

     HELLINGER para o grupo: - Já trabalhei muitas vezes com psicoses. Se trabalhar com ela agora, teremos um bom exemplo para aprenderemos a lidar com psicoses de uma maneira diferente.

     Hellinger escolhe uma mulher para ser representante.

     HELLINGER para o grupo: - Tentarei algo que nunca fiz até agora.

     Para a representante: - Você representa a psicose.

     A representante da psicose fica inquieta. Vira-se para a direita e para a esquerda, apoia os punhos nos quadris e olha para o chão. Depois deixa as mãos caírem para baixo e dá um passo para frente.

     Novamente, apoia os punhos nos quadris. Move a cabeça de maneira agitada para um lado e para o outro, olha para cima, inclina-se em direção ao chão e tenta tocar com as mãos em alguma pessoa imaginária que se encontra ali. Mas depois, ela se ajeita, levantando-se rapidamente.

     Repete os mesmos movimentos: olha para cima, colocando os punhos nos quadris e deixando-os cair novamente, vira-se agitada para a direita e a esquerda. Depois coloca uma mão em frente aos olhos, vira-se para a direita e faz um movimento como se quisesse afastar alguém.

     Hellinger escolhe uma mulher como representante e pede que se posicione diante da psicose. Diz a ela que não sabe quem ela representa.

     A representante da psicose vira-se com medo e começa a tremer. Depois anda lentamente, de lado, passo a passo, em direção à outra mulher. Para e, ainda andando de lado, volta para trás, gemendo com temor, como uma criança.

     HELLINGER para a representante da psicose: - Diga a ela: "Por favor."

     PSICOSE: - Por favor.

     Diz isso com uma voz fina e chorosa, como uma criança. Continua gemendo com essa voz, sem conseguir articular uma palavra. Treme, estica os braços em direção à outra representante e se afasta novamente. A outra mulher permanece no seu lugar, imóvel, sem demonstrar qualquer emoção.

     Agora, a representante da psicose caminha lentamente em direção à outra pessoa, dá uma volta em torno dela, esconde-se atrás, ficando ao seu lado. Após algum tempo, gira em torno da mulher. A mulher gira junto com ela, de frente para ela, com um olhar frio. A psicose recua, fica de frente e a mantém no seu ângulo de visão o tempo todo.

     A representante afasta-se lentamente da psicose, passo a passo.

     HELLINGER para esta mulher: - Diga para a psicose: "Por favor."

     REPRESENTANTE: - Por favor.

     A psicose recua mais. A outra mulher também se afasta mais da psicose.

     Após algum tempo, essa mulher se move lentamente em direção à psicose. Ela, porém, se afasta, mantendo a distância anterior. Após algum tempo, ambas caminham uma em direção à outra e param, a cerca de dois metros uma da outra.

     Hellinger pede a uma mulher que se deite de costas, entre as duas. Ela representa uma pessoa morta.

     A psicose começa a tremer fortemente. Olha para a morta o tempo todo. Aproxima-se mais dela, tremendo, e por cima dela estica uma mão em direção à outra mulher que também olha para a morta. A morta oscila, afastando-se da psicose e olha para a outra mulher.

     Lentamente a psicose passa ao lado da morta e fica atrás da mulher, que agora está olhando intensamente para a morta.

     Após algum tempo, a psicose dá um passo para trás e vira-se, como se tivesse concluído a sua tarefa. Ficou claro que sua tarefa era de estabelecer a conexão entre a outra mulher e a morta. Agora a psicose estava calma.

     A outra mulher aproxima-se da morta, que estica a mão em sua direção. Ajoelha-se ao seu lado e segura sua mão. Com este movimento, a psicose afasta-se mais ainda. Ela se agacha, senta-se nos seus calcanhares, de frente para as outras duas e faz uma reverência profunda.

     Enquanto isso a outra mulher deitou-se ao lado da morta. Ambas se olham nos olhos e abraçam-se intensamente. A mulher começa a soluçar. A morta a puxa para mais perto. Abraçam-se mais intensamente.

     Nesse meio tempo, a psicose, ainda sentada em seus calcanhares, vira-se completamente de costas para as duas.

5.4.2  O que leva à psicose?

     HELLINGER para o grupo: - Gostaria de explicar, mais detalhadamente, minhas experiências com psicoses.

     Uma psicose, principalmente na forma de esquizofrenia, aparece em famílias onde ocorreu um assassinato, um assassinato dentro da família. Muitas vezes isso aconteceu há várias gerações atrás. Não existe mais memória deste acontecimento, porém, no campo espiritual da família a memória permanece totalmente preservada e é trazida à luz numa constelação.

     Nesta constelação nós pudemos ver que inicialmente a representante da psicose estava totalmente conturbada devido a diversos sentimentos. Quando adicionei mais uma pessoa, pudemos ver que existia uma conexão entre essa pessoa e a psicose.

     Para a cliente: - Não sabemos quem era essa pessoa. Talvez pertença a uma geração anterior.

     Para o grupo: - A psicose e a outra pessoa estavam conectadas uma com a outra, e a mesma palavra-chave teve significado para ambas. A palavra "Por favor" da psicose para essa pessoa era a mesma palavra dela para a psicose. A psicose disse a esta pessoa: "Por favor, faça algo." E a pessoa disse à psicose: "Por favor, me ajude." A psicose estava a serviço dessa pessoa.

     Depois, as duas tentaram ficar juntas, mas isso não foi possível, algo as impedia. De repente, ficou claro: havia uma pessoa morta entre elas. Então, pedi que uma representante para a pessoa morta se deitasse entre elas. Logo que a morta deitou-se no chão e a outra pessoa olhou para ela, a psicose pôde afastar-se. Tinha cumprido a sua tarefa.

     Para a cliente: - Pudemos ver claramente que a psicose tinha concluído a sua tarefa.

     Para o grupo: - Por que alguém se torna psicótico? A pessoa está simultaneamente emaranhada com duas pessoas que se opõem, profundamente conectadas, mas não reconciliadas. Na minha experiência até agora, trata-se sempre de um assassino e uma vítima que ainda não se reconciliaram com amor. Nesta constelação, no final foram unidos com amor. Assim o que ainda não estava reconciliado, agora finalmente se reconciliara, e o problema que ainda não tinha sido resolvido foi solucionado.

     Para a cliente: - Se existiu um acontecimento assim numa família, um membro de cada geração subsequente tem que representar aqueles que ainda não se reconciliaram. Ele torna-se psicótico, de uma forma ou de outra, como você provavelmente sabe.

     A cliente assente com a cabeça.

     Mas eles não estão doentes. Estão procurando uma solução com amor. Todos procuram uma solução com amor. A psicose procura uma solução no amor. Ela quer unir aqueles que estavam separados, que foram excluídos da família porque esse acontecimento foi amedrontador e, por isso, não querem mais olhar para isso.

     Para o grupo: - O que vimos aqui foi uma bela imagem do movimento do espírito, de como, através da ajuda da psicose, ele conduz o assassino e a vítima a ficarem juntos, mesmo depois de terem estado separados por muito tempo.

     Para a cliente: - Aqui a psicose provavelmente representou diferentes pessoas ao mesmo tempo. Mas nós pudemos observar a função da psicose de forma direta e clara. Como você está agora?

     CLIENTE: - Eu me sinto melhor.

     HELLINGER: - Agora vá até a representante da psicose e tome-a em seus braços.

     A cliente se ajoelha diante da representante da psicose, que ainda está sentada sobre seus calcanhares e coloca as mãos em frente ao rosto. A psicose olha para cima e estica as mãos em sua direção, porém, após um tempo, abaixa-as.

     A cliente vira-se para o lado e olha para o chão. Curva o corpo até apoiar sua cabeça no joelho da psicose. Começa a chorar alto. Após algum tempo, endireita-se e levanta-se, afasta as mãos do rosto e olha nos olhos da psicose. Então, vira-se para o lado novamente e olha para o chão. Após algum tempo, a psicose desliza em direção a ela até ficar ajoelhada ao seu lado. Olha para o chão junto com ela.

     A cliente quer tocar a psicose nas costas, mas está muito tímida. Após algum tempo, toca-a muito delicadamente, encosta a cabeça no seu ombro e segura seu braço.

     Pouco depois a psicose vira a cabeça em direção à cliente - ambas querem tocar o rosto da outra. Nesse instante a psicose afasta-se e olha para o chão novamente. Esses movimentos repetem-se algumas vezes.

     Então a cliente senta-se de frente para a psicose e segura suas mãos. Após algum tempo, desvia o olhar da psicose e depois a olha novamente. Ambas soltam as mãos. A psicose torna a olhar para o chão.

     Após algum tempo, a psicose vira-se. A cliente senta no chão ao seu lado. A psicose quer colocar a mão nas costas da cliente, mas a retira imediatamente. Elas se olham por um longo período. A cliente põe a mão nas costas da psicose, e ambas se olham intensamente. Então a psicose torna a olhar para o chão, a cliente senta-se um pouco mais para trás e suspira profundamente. Após algum tempo, a psicose se levanta e dá alguns passos para trás. A cliente também se levanta. Ambas olham para o mesmo lugar no chão. Depois voltam-se uma para a outra, olham-se nos olhos e dão alguns passos para trás.

     Hellinger escolhe dois representantes e pede que se deitem de costas, neste ponto.

     A cliente vira-se e olha para as duas pessoas no chão. Ambas estão deitadas de costas e giram a cabeça em direção à outra. Olham-se e seguram-se pelas mãos. A cliente volta-se para elas e dá alguns passos para trás. A psicose faz o mesmo.

     HELLINGER para a cliente: - Agora olhe para além destes dois, para longe, bem longe.

     A cliente olha rapidamente para além das duas pessoas mortas e, então, volta-se para a psicose.

     HELLINGER: - Agora olhe para além da psicose, para longe.

     O rosto da psicose fica radiante. Ela afasta-se para o lado, enquanto a cliente vira de costas para ela, voltando-se para o grupo.

     HELLINGER: - Agora olhe para todos no grupo.

     Ela se volta para o grupo e chora.

     HELLINGER para a cliente e os representantes: - Permaneçam como estão por um momento. Eu gostaria de dar uma explicação em relação a isso.

5.4.3  Psicoses como agressores, psicóticos como vítimas

     HELLINGER para o grupo: - Estes movimentos foram de uma beleza e profundidade incríveis. Foram muito exatos. Ninguém pode inventá-los. Ambas foram tomadas por algo poderoso e foram movimentadas por ele.

     Então, o que vimos aqui? Entre a cliente e a psicose aconteceu algo parecido com o que aconteceu antes entre as duas mulheres no chão. A psicose representou o agressor e a cliente, uma vítima. Ela comportou-se como uma vítima. Comportou-se em relação à psicose da mesma maneira como em relação ao seu assassino. Em famílias onde existem psicoses, a psicose é tratada exatamente dessa forma. A família mostra, em relação à psicose, a mesma postura interna de exclusão e medo que tem em relação à um agressor. Muitas vezes trata o membro psicótico da família como os agressores tratam uma vítima. Não reconhecem o que a psicose carrega para a família e para onde quer levá-la.

     No final a psicose queria ser deixada em paz. A partir do momento em que foi respeitada e o seu significado foi reconhecido, mesmo que ainda não completamente, ela pôde se afastar.

     Para os representantes: - Obrigado a todos.

     Para a cliente: - Sente-se ao meu lado. Como está agora?

     CLIENTE: - Melhor ainda.

     HELLINGER: - Isso soa pobre.

     CLIENTE: - Por que você diz isso?

     Começa a rir alto.

     HELLINGER: - Isso soa melhor.

     A mulher continua rindo alto e olha para Hellinger.

     HELLINGER: - Naturalmente, aqui também temos que levar em consideração que muitas pessoas vêem a psicose como algo especial. Alguém precisa apenas dizer: "Sou psicótico", e automaticamente os outros têm medo dele. Isso não é maravilhoso?

     A mulher ri alto e acena com a cabeça.

     HELLINGER: - Você também gostou. Claro que você gostou.

     Para o grupo: - Dessa forma os psicóticos mostram que também estão identificados com o agressor.

     A cliente faz um movimento com a cabeça, afirmando que sim.

     Para o grupo: - Acho que vimos o suficiente. Isso agora precisa atuar em nós.

5.4.4  As psicoses como um problema familiar

     Após o acontecimento que provocou a psicose, ou seja, um assassinato dentro da família, em cada geração posterior algum membro tem que se tornar psicótico.

     Ele assume esse destino no lugar dos outros. A partir do momento em que um membro da família assume isso e se torna psicótico, os outros ficam aliviados. Por esse motivo têm medo de que o membro familiar psicótico seja curado e unem-se, secretamente, contra a cura de sua psicose. Porque neste caso, talvez um outro membro familiar precise se tornar psicótico. Podemos observar esse medo principalmente no pai ou na mãe. O membro da família que assume este destino mostra o maior amor, porém, de forma secreta.

     Quando fiz o meu primeiro seminário para clientes psicóticos, mesmo contra a resistência de muitos psicoterapeutas e psiquiatras, o amor desses clientes me tocou profundamente. Por este motivo denominei o livro que escrevi sobre isso, "Amor à beira do abismo". É o que podemos observar, tratando-se de psicoses. É amor à beira do abismo.

     Para a cliente: - Se esse amor vier à luz, você sabe o quanto você foi importante para a família e o que carregou para ela.

     Ela sorri e acena com a cabeça.

     Para o grupo: - Por isso não podemos tratar um cliente psicótico isoladamente. Temos que tratar a família inteira e ajudá-la como um todo.

     Para a cliente: - O que eu fiz aqui foi também a serviço da sua família. Ninguém precisa ter medo de tornar-se psicótico por você ter se libertado da psicose.

     Para o grupo: - Aqui se tratou, ao mesmo tempo, da cura de muitas gerações.

5.4.5  Os ajudantes

     Podemos observar a mesma situação em muitos médicos e seus assistentes em instituições psiquiátricas. Se não tivessem pacientes psicóticos em tratamento, talvez tivessem medo de se tornarem psicóticos eles mesmos.

     Para a cliente: - Você consegue entender isso?

     Ela acena com a cabeça, afirmando.

     Muitas vezes também existe um delito mantido em segredo em relação a algum membro familiar. Neste sentido, os ajudantes em instituições psiquiátricas frequentemente comportam-se de forma parecida com os parentes de seus pacientes. Qual seria a solução aqui?

     Não podemos esperar que essas compreensões sejam aceitas facilmente por essas instituições. O medo dos resultados e suas consequências são demasiadamente grandes. O que é compreensível.

5.4.6  Exercício: o amor espiritual

     HELLINGER para o grupo: - Agora farei um exercício com ela. Ela representará todos nós ao mesmo tempo.

     Para a cliente: - Fique de pé ali e olhe nessa direção. Agora você está olhando para muitas instituições e clínicas psiquiátricas. Depois você olha para além delas, para longe, para uma força espiritual que também atua nelas, com o mesmo cuidado e amor - em todas elas. Depois você se afasta lentamente porém, sempre mantendo o olhar nessa direção.

     Ela permanece assim por um longo período de tempo.

     HELLINGER: - Fique de pé assim, sempre com o olhar nessa direção. Não desvie seu olhar de forma alguma. Olhe para além disso tudo, com total confiança no movimento desse espírito, que movimenta todos, da mesma maneira, assim como ele quer. Ninguém é melhor, ninguém é pior. Aqui não existem mais agressores e vítimas. Todos são apenas seres humanos, em todos os sentidos.

     Após algum tempo: - E agora você se volta para as pessoas aqui no grupo.

     Ela volta-se, lentamente, para o grupo.

     HELLINGER: - Agora pode olhar para todos eles. Diga-lhes: "Estou aqui ..."

     CLIENTE: - "Estou aqui ..."

     O grupo aplaude.

     HELLINGER: - "Uma de vocês".

     CLIENTE: - Uma de vocês.

     Ela aplaude voltada para o grupo. Todos aplaudem juntos.

5.5  Nosso amor à beira do abismo

     Quero dizer mais uma coisa sobre o amor à beira do abismo. Farei isso de forma meditativa. Podemos fechar os olhos, para podermos sentir de quais abismos o nosso amor também já se aproximou, em alguns momentos.

5.5.1  O amor da consciência inconsciente

     O que é esse amor à beira do abismo? É um amor espiritual? Ou é um amor no qual alguém está emaranhado de tal forma que não se trata do seu próprio amor? É um amor movido por uma necessidade dentro da família - família aqui no sentido mais amplo. Portanto, esse amor é um amor cego, que já por isso não pode ser espiritual. Situa-se em outro lugar.

     Esse amor encontra-se no âmbito da consciência inconsciente. Assim, através das Constelações familiares descobrimos, que o sistema familiar é dominado por um poder, que vigia os nossos atos como uma consciência, para que sigam determinadas ordens.

5.5.2  Benevolência para todos

     Existem dois tipos de ordem. A primeira ordem é: todos na família têm o mesmo direito de pertencer. Por isso essa consciência é benevolente em relação a cada membro familiar. Podemos sentir isso de forma meditativa.

     Imaginamos a nossa família, todos aqueles que pertencem a ela e sentimos como está a nossa benevolência em relação a eles. É igual para todos? Todos podem estar presentes da mesma maneira? Excluímos alguns de tal forma que caíram em esquecimento?

     Por exemplo, precisamos apenas imaginar o nosso pai e a nossa mãe. Qual dos dois está em primeiro plano e qual está mais no fundo? Agora podemos colocar os dois em primeiro plano, lado a lado, e nos voltamos para os dois com a mesma benevolência.

     Depois olhamos para a família do pai e a família da mãe. Qual está no fundo, qual está mais na frente? Internamente nós as juntamos, nós as colocamos lado a lado e olhamos para as duas famílias com a mesma benevolência. Com o mesmo amor, dizemos "sim" para ambas.

     Agora também olhamos para os outros que fazem parte. Por exemplo, para antigos parceiros dos nossos pais e avós e para aqueles cujas perdas foram as bases para os nossos ganhos e os ganhos da nossa família. Colocamos todos eles em primeiro plano, com os outros, com a mesma benevolência. Nessa benevolência, no entanto, mantemos distância. Cada um permanece por si só. Com a nossa benevolência não queremos nada. Ela é apenas uma postura.

     Depois existem pessoas na família sobre as quais não se fala, pessoas das quais se sente vergonha, pessoas que são consideradas delinquentes e agressores. Também as colocamos em primeiro plano, com todos os outros e olhamos para elas com benevolência.

     Essa benevolência é sem julgamento. Ela apenas existe. Dessa maneira é como uma benevolência divina. Assim como Deus é benevolente em relação a todos, tal como são, sem diferenças. Essa seria uma benevolência que corresponde à consciência arcaica inconsciente.

5.5.3  O emaranhamento

     Acontece, porém, que na nossa família alguns foram excluídos, rejeitados, esquecidos, dados, ou talvez abortados. E agora essa consciência arcaica procura restabelecer a ordem de tal forma que toma a serviço um inocente, alguém de uma geração posterior, uma criança ou um neto ou alguém que veio muito mais tarde, para que ele ou ela represente essa pessoa excluída. Essa consciência arcaica força alguém que veio mais tarde a ser benevolente. Trata-se, no entanto, de uma benevolência inconsciente para a qual ele ou ela é movido por essa consciência arcaica. Precisam comportar-se como esse excluído, de forma inconsciente. Estão emaranhados.

     Este é um amor que se encontra no abismo por ser inconsciente. Está cegamente entregue a um outro poder. Pois, na realidade, esse amor é o amor da consciência inconsciente, arcaica, coletiva. Não é mais um amor próprio. Porém, em relação ao todo, é amor. Quem for abrangido por ele, encontra-se num movimento de amor, mesmo que inconsciente.

5.5.4  O amor ciente

     Agora a questão é: como é possível que esse amor se transforme num amor ciente, num amor espiritual que é capaz de muito mais que esse amor cego? Que se transforme num amor que não está mais à beira do abismo?

     Sentimos internamente: também fomos tomados, de uma forma ou de outra, por um amor à beira do abismo? Esse tipo de amor frequentemente se mostra sob a forma de doença, fracassos ou sentimentos sobre os quais não temos controle, às vezes em forma de raiva, desespero, tristeza e decepção. Esperamos que se possa salvar esse amor cego levando-o para o nível espiritual, de forma que o amor permaneça e o abismo desapareça.

5.5.5  A precedência

     Essa consciência inconsciente segue, ainda, uma outra ordem. Segundo essa ordem, cada membro que esteve aqui antes tem precedência sobre aqueles que vieram depois. Sendo assim essa consciência inconsciente exige que ninguém que veio depois assuma algo para alguém que veio antes dele. Principalmente aqui se mostra que alguém que veio depois, frequentemente ama para ajudar alguém que veio antes.

     Isso também é amor, mas um amor cego. As consequências são sempre as mesmas: ele fracassa. Muitas vezes termina em uma doença, psicose ou até mesmo na morte. Ele é principalmente cego. Cego por não conhecer os próprios limites.

5.5.6  Nosso amor cego

     Vamos sentir dentro de nós: onde estivemos presos em um amor cego desse tipo ou ainda estamos presos? Por exemplo, quando ficamos preocupados com alguém que veio antes e, por ter estado aqui antes de nós, é maior do que nós poderemos ser? Como esse amor cego à beira do abismo nos atinge, talvez ainda em nosso trabalho? Por exemplo, quando queremos ajudar onde nós somos pequenos e os outros são grandes e sucumbimos às tentativas de superioridade em nosso trabalho?

     Como nos desprendemos dessa cegueira? Como podemos começar a enxergar? Deixando os outros na sua grandeza, reconhecendo nossa impotência e concordando com ela.

5.5.7  O caminho da purificação

     Volto a falar mais uma vez sobre o amor à beira do abismo, como ele se mostra em psicoses. Aqui, sobretudo, foi possível observar o que significa a cura espiritual.

     Na medida em que o vivenciamos, nós também entramos nessa área espiritual. Talvez nós mesmos tenhamos solucionado algo nessa área espiritual, onde estamos ou estivemos presos.

     Também ficou claro que este caminho é um caminho de purificação. O caminho em direção ao espiritual é um caminho de purificação. Nele nos desprendemos de muitas idéias, principalmente muitas idéias de poder.

     Se caminharmos com os movimentos do espírito, ganhamos uma certa segurança após algum tempo. O que é essa segurança nesse caminho? Pura confiança. Pura confiança. Isso é tudo.

5.6  Meditação: o amor que afasta do abismo

     Neste contexto quero percorrer com vocês no espírito o caminho que nos afasta do abismo. Faremos isso em forma de meditação. Podem fechar os olhos.

5.6.1  O círculo

     Imaginemos os membros de várias gerações da nossa família. Todos que fazem parte. Alguns nem conhecemos. Nunca ouvimos falar deles. Mesmo assim, eles fazem parte de nós, e nós, deles.

     Imaginemos que estão diante de nós, também aqueles que não conhecemos. Talvez os visualizemos apenas como sombras, de forma embaçada, mas mesmo assim eles estão aqui. Pegam-se pelas mãos e formam um círculo. Nós também entramos nesse círculo, junto com aqueles que nos são próximos, com nossos pais e irmãos, com nossos parceiros e filhos. Todos se olham. Olham para a direita, para a esquerda e para frente. Olham-se com amor. Nós também os olhamos e permitimos que nos olhem.

     Alguns, cujos rostos não reconhecemos, de repente tornam-se presentes para nós. Sentimos o efeito da sua presença. Enquanto os olhamos e eles nos olham, dizemos a cada um deles: "Eu te vejo. Eu te respeito. Eu te amo. Por favor, também me olhe - com amor."

     Como todos se seguram pelas mãos, sentem a energia, o movimento e o amor de todos ao mesmo tempo. Permitimo-nos sentir o mais profundamente possível o que esse amor nos dá. Sentimos como nos amplia e nos cura. Sentimos como de repente conseguimos soltar. Sentimos como as preocupações desaparecem e como, de repente, estamos simplesmente presentes com todos eles.

5.6.2  Paz aos mortos

     Muitos, neste círculo, já morreram há muito tempo, mas ainda estão aqui. Talvez estivessem esperando por alguma coisa para que pudessem nos olhar e serem olhados. Agora eles fecham os olhos, desprendem-se. Entram para o reino dos mortos e lá permanecem em paz, para sempre.

     Nós os deixamos partir, sem desejo e sem preocupações. Deixamos que partam, sem exigências e sem querer recuperar algo para eles e para nós. Sentimos como ficamos livres por eles terem se libertado de nós.

5.6.3  A liberdade

     Os vivos ficam. Ainda seguram-se pelas mãos por algum tempo e se olham com amor.

     Depois soltam as mãos. Cada um agora toma seu próprio caminho, por conta própria, mas ao mesmo tempo conectado. E livre no amor.

5.6.4  Distúrbios de fala

     O destino e o sofrimento das pessoas com distúrbios de fala encontraram pouquíssima atenção até agora nas Constelações familiares. Por isso, fiquei muito feliz quando fui convidado para dar um curso de dois dias para pessoas com distúrbios de fala e seus ajudantes. Há muito que me dedicava à pergunta: quais são os emaranhamentos que se ocultam por trás desse sofrimento e quais as soluções que eventualmente existem para os atingidos?

     As minhas expectativas em relação a este curso foram ultrapassadas em muito. Pois revelou-se que praticamente quase todos os distúrbios de fala estão condicionados a um fundo sistêmico ou, pelo menos, parcialmente condicionados.

5.6.5  Gagueira e esquizofrenia

     Em cada caso se mostrou que por trás de muitos distúrbios de fala está um conflito não solucionado na família, por exemplo, que alguém não podia estar presente ou não teve a palavra, porque foi mantido em segredo ou dado. Ou porque numa família, duas pessoas estavam, uma perante a outra, de forma irreconciliável, por exemplo, um agressor e sua vítima. Como consequência, frequentemente um descendente representa ambos simultaneamente e, por isso, não pode deixar que nenhum dos dois tenha a palavra sozinho. Assim, começa a gaguejar.

     Através disso, veio à luz que a gagueira frequentemente tem um quadro de fundo sistêmico similar ao da esquizofrenia. Enquanto que, em relação à esquizofrenia, o conflito não solucionado se torna visível, na confusão mental, no gago se mostra na fala.

     Por isso, a solução para o gago é frequentemente a mesma de um esquizofrênico. Aqueles que não estão reconciliados na família são colocados um diante do outro até que ambos se reconheçam e se reconciliem. Quando vem à luz onde está o conflito real, as pessoas com distúrbios de fala ou os esquizofrênicos podem deixá-lo no lugar onde pertence. Dessa forma ficam livres.

5.6.6  Gagueira por temor perante uma pessoa internalizada

     Contudo, a gagueira ainda pode ter outros panos de fundo. Frequentemente pode se observar que um gago, antes de começar a gaguejar olha primeiro para o lado. Isso significa que olha para uma imagem interna. Falando mais explicitamente: para uma pessoa internalizada, da qual se tem medo e perante a qual começa a gaguejar. Quando, numa constelação, o gago pode encontrar essa pessoa de forma aberta, prestando-lhe homenagem, até que ela também o acolha e lhe mostre o seu amor, o gago pode olhá-la nos olhos e dizer claramente o que sente e o que deseja.

5.6.7  Gaguejar porque um segredo de família não pode vir à luz

     Algumas vezes esconde-se um segredo por trás da gagueira e outros distúrbios de fala. Um segredo que quer vir à luz e que, ao mesmo tempo, provoca medo na família como, por exemplo, uma criança que é mantida em segredo. Quando isso é revelado e olhado através das Constelações familiares, não existe mais nada que obstrua o caminho para uma fala clara.

     Por isso, frequentemente as crianças apresentam distúrbios de fala porque os seus pais querem ou precisam esconder algo. Somente depois que os pais puderem falar abertamente sobre isso, os filhos terão a possibilidade de deixar para trás o distúrbio de fala.

5.6.8  O alívio

     Eu me dedico a esses problemas, partindo do ponto de vista sistêmico. Eu os vejo inseridos em algo maior. Através disso, abrem-se outras soluções.

     Na psicoterapia e nas profissões de ajuda como, por exemplo, na fonoaudiologia, os terapeutas trabalham diretamente com o cliente. Ele fica sentado diante deles. Com isso, frequentemente se perde de vista que ele é membro de uma família e, quando este campo maior fica excluído, atingimos rapidamente os limites. Contudo, tão logo entremos nesse campo maior com o cliente surgem possibilidades totalmente novas. Frequentemente, depois disso os exercícios que os fonoaudiólogos fazem com ele podem ser uma contribuição importante e adequada. Pois quando alguém tem distúrbios de fala, por um longo tempo, mesmo que os panos de fundo sistêmicos tenham sido descobertos e ele possa, então, se soltar deles, ainda precisa se exercitar. O exercício é um passo importante para a solução, entretanto, fica inserido em algo abrangente.

     Através do procedimento sistêmico todos ficam aliviados, sobretudo os clientes.

5.6.9  Reconciliar os opostos

     Nas constelações com as pessoas com distúrbios de fala frequentemente há algo relacionado à loucura.

     Louco é alguém que não consegue reunir algo. Via de regra, esse algo são pessoas opostas, e ele precisa conseguir lidar com os dois, porém não consegue, porque estão em conflito entre si. Existe algo insolúvel entre eles como, por exemplo, entre agressores e vítimas. Na medida em que alguém precisa representar os dois, fica louco. Normalmente isso significa: ele se torna esquizofrênico.

     Em relação aos distúrbios de fala é similar. Alguém tem distúrbios de fala, especialmente quando gagueja, porque dentro dele duas pessoas opostas querem ter a palavra, simultaneamente. Uma está contra a outra. Uma delas quer dizer algo e não deve dizer, o mesmo acontece com a outra: quer dizer algo e a outra está contra. Então isso leva à gagueira ou a algum outro distúrbio de fala.

     Essa imagem me surgiu, quando estava trabalhando aqui, que os distúrbios de fala, algumas vezes, têm algo de louco, e que isso pode ser curado, quando aqueles que se opõem podem ser reunidos e se reconciliam na alma. Então as palavras também podem se reconciliar e se mostrar como um todo, como uma unidade.

     A premissa é que aconteça algo similar com o ajudante. Ele também precisa reunir os opostos em sua alma.

5.6.10  Um exercício para gagos "Você e eu - nós dois"

     HELLINGER para o grupo: - Fechem os olhos. Vão até cada um dos membros de suas famílias através de várias gerações. Vão até cada um deles: os bons, os maus, agressores, vítimas, os que morreram cedo, os rejeitados, os esquecidos. Olhem para cada um deles e digam: "Você e eu - nós dois." -" Você e eu - nós dois." - "Você e eu - nós dois." Longo silêncio.

     Digam sobretudo para a mãe e para o pai: "Você e eu - nós dois." - E para cada filho também: "Você e eu - nós dois." Novamente um longo silêncio.

     Este é um exercício importante para os gagos. Deixá-los exercitar: "Você e eu - nós dois." Novamente longo silêncio.

     Ok. Bom.

5.6.11  Como crescemos

     Para mim, foi muito impressionante ver que, em relação aos distúrbios de fala, vem à luz que em uma família existem duas tendências opostas. Falando mais exatamente, que se trata de pessoas diferentes que não se encontraram. Esse desencontro se revela no distúrbio de fala. Gostaria de dizer algo fundamental em relação a isso.

     Como crescemos? Como somos conduzidos do estreito para o amplo, do limitado para a completude - para a perfeição? O processo de crescimento acontece quando incluímos, cada vez mais, algo que tínhamos excluído e para o qual não tínhamos dado lugar, integrando-o e dando-lhe o lugar que lhe compete.

5.6.12  Exercício: Reconciliação na alma

     Isso começa de forma bem simples. Fechem os olhos. Vou fazer um pequeno exercício em conjunto.

     Imaginemos nossos pais: a mãe e o pai. Dos dois, qual está mais próximo? Qual está mais distante? Qual dos dois está mais acolhido? Qual menos? Então coloquemos totalmente nas nossas almas e nos nossos corpos aquele que está menos acolhido, tanto um como o outro. Sentimos o que se transforma. Permanecemos assim até que a mãe e o pai estejam acolhidos, amados e reconhecidos por nós, da mesma forma, equivalentes, sem diferenciação.

     Vamos dar um passo adiante, olhemos para a família da mãe e para a do pai. Qual está mais próxima? Qual está mais distante? Agora trazemos para perto aquela que está distante, até que seja totalmente acolhida, amada, reconhecida por nós - sem qualquer valorização, para além do bom e do mau.

     Agora, podemos sentir na própria alma e olhamos para o que talvez não queiramos perceber, o que talvez queiramos excluir, o que desprezamos. Olhamos para isso e o acolhemos na alma, com amor - com tudo que pertence, por exemplo, uma culpa pessoal, talvez também dores, uma doença. Agora damos um lugar a todos.

     Então talvez desçamos do alto, lá do céu para a terra e nos submetamos ao todo, como ele é, sem desejo de mudar e sem desejar que seja de uma forma diferente do que é. Dessa forma nos reconciliamos com todos em nossa alma.

     Agora olhamos para os clientes com os quais lidamos, principalmente aqueles com distúrbios de fala. Fazemos o mesmo em relação a eles. Acolhemos nas nossas almas o que ele rejeita, exclui e não quer admitir e concordamos com isso. A reconciliação que é necessária a ele, realiza-se primeiro em nós, na nossa alma. Então sentimos quanta força temos, quando o encontramos. Colocamos os pais e a família de cada um deles nas nossas almas, os agressores e as vítimas de cada família, da mesma forma, sem avaliações e talvez também a sua culpa, o seu destino, como ele é. Fazemos uma reverência interna e concordamos com eles.

     Dessa concordância, dessa consonância com a sua situação, sua família e seu destino vem a força para oferecer aquilo que mais ajuda e que mais apoia, de maneira cuidadosa.

5.6.13  Exemplo: Gagueira e esquizofrenia

     A cliente, uma mulher na terceira idade, quer dizer algo e gagueja ao falar.

     HELLINGER para o grupo: - Ela gagueja, porque quer alcançar algo de qualquer forma.

     Para a cliente: - Sente-se confortavelmente ao meu lado. Ela ri.

     Para o grupo: - Meu Deus, como ela está nervosa.

     Os dois sorriem um para o outro.

     HELLINGER: - Qual é a sua idade?

     CLIENTE gagueja tanto que é praticamente impossível entendê-la: - Sessenta.

     HELLINGER: - Quantos sessenta?

     CLIENTE gagueja muito: - Apenas um zero atrás.

     HELLINGER: - Não entendi. Olhe cordialmente para mim. Então, qual é a sua idade?

     CLIENTE sem gaguejar: - Sessenta.

     Risadas e aplausos no grupo.

     HELLINGER: - Com cordialidade, tudo fica mais fácil. Entretanto, atrás disso se esconde um medo. - Olhe para mim. Se você olhar, não precisa ter medo, sabe disso? Agora você está desviando o olhar novamente.

     Ela olha para ele.

     HELLINGER: - Exatamente. Denominamos isso: felicidade.

     Ela olha para ele, longa e cordialmente.

     HELLINGER: - Feche os olhos.

     Hellinger coloca o braço ao redor dela. Então coloca uma mão na frente de seus olhos.

     Após um certo tempo, para o grupo Ela não está acostumada com algo assim.

     Ele continua segurando-a dessa forma. Um pouco depois ele pega o braço dela e o coloca à sua volta. Depois escolhe uma representante para a mãe e conduz a cliente até posicioná-la diante dela. Após um certo tempo, ele a conduz alguns passos à frente, mais próxima à mãe.

     HELLINGER depois de um certo tempo: - Diga para a sua mãe: "Por favor."

     CLIENTE: - Por favor.

     HELLINGER um pouco mais tarde: - "Mas eu ainda sou tão pequena."

     CLIENTE gagueja muito: - Mas eu ainda sou tão pequena.

     Hellinger a conduz lentamente para mais próximo da mãe.

     HELLINGER para a representante da mãe: - Permaneça totalmente centrada. Permaneça naquilo que é.

     Após um certo tempo, ele escolhe uma representante para a mãe da mãe e a coloca atrás da mãe.

     HELLINGER após um certo tempo, para a mãe: - Diga para sua filha: "Mas eu ainda sou tão pequena."

     MÃE: - Mas eu ainda sou tão pequena.

     Hellinger a vira para a sua própria mãe. A mãe e a sua própria mãe olham longamente uma para a outra, sem se tocarem. Hellinger coloca atrás da mãe da mãe, a mãe dela (bisavó da cliente).

     HELLINGER para a mãe da mãe: - Diga para a sua filha: "Mas eu ainda sou tão pequena."

     MÃE DA MÃE: - Mas eu ainda sou tão pequena.

     Hellinger vira a mãe da mãe para a sua mãe, avó dela. Após certo tempo, escolhe uma representante para a bisavó, coloca-a atrás da avó da mãe e a vira para esta. Depois de um certo tempo, Hellinger escolhe uma outra representante como a quinta ancestral, coloca-a e também vira a quarta ancestral para ela. A quinta ancestral parece ser dura e olha para o lado. Depois de um certo tempo, a quarta ancestral se dirige para a mãe e as duas se abraçam.

     Hellinger solta o abraço e pede que uma mulher se deite no chão entre as duas.

     A quarta ancestral se agacha e se deita ao lado da mulher morta. As duas se abraçam.

     HELLINGER para a cliente: - Siga o seu movimento, como você o sente internamente.

     A cliente dirige-se para a mulher morta e para a quarta ancestral. As três se abraçam intimamente.

     Depois de um certo tempo, Hellinger pede para todas se levantarem. Ele solicita às mulheres que façam um círculo ao redor da mulher morta. Apenas a quinta ancestral e a cliente permanecem fora.

     A mulher morta olha para cada uma das outras mulheres.

     HELLINGER para a quinta ancestral: - O que há com você?

     QUINTA ANCESTRAL: - Eu pensei que não era da conta delas, de nenhuma forma.

     Hellinger abre o círculo e coloca a mulher morta em frente à quinta ancestral, sua mãe. A mulher morta é obviamente uma filha dela. Esta pega-a com ambas as mãos. Entretanto, a morta se vira e olha para o chão.

     HELLINGER para a quinta ancestral: - Diga para ela: "Não me interesso por você."

     QUINTA ANCESTRAL: - Não me interesso por você.

     A pessoa morta abaixa a cabeça.

     HELLINGER para a quinta ancestral: - Diga para ela: "Não quero você."

     QUINTA ANCESTRAL: - Não quero você.

     A pessoa morta soluça.

     HELLINGER para a quinta ancestral: - Aqui a gente vê o que você não quer.

     Hellinger conduz a pessoa morta até a cliente. Esta a toma nos braços, segurando-a, e ela continua soluçando. Ele coloca as mães novamente uma atrás da outra.

     Depois de um certo tempo, Hellinger desfaz o abraço e conduz a cliente para a frente da quinta ancestral. Ambas olham uma para a outra longamente. A cliente cerra os punhos. Então a quinta ancestral fecha os olhos, aperta a barriga, ajoelha-se lentamente e se inclina profundamente. A cliente a segura carinhosamente.

     Hellinger pede agora que a mulher morta se ajoelhe junto à quinta ancestral. Ela também coloca o braço ao seu redor. A cliente coloca as mãos sobre as duas.

     Enquanto a quinta ancestral e a morta se abraçam amorosamente, Hellinger conduz a cliente novamente para a frente da mãe.

     CLIENTE gaguejando para a mãe: - Eu a perdoo pelo que me fez. Quero estar em paz com você.

     Hellinger a conduz lentamente para a sua mãe e ambas se abraçam. As outras mães formam um círculo ao redor delas e entram nesse abraço. Apenas a quinta ancestral e a morta permanecem de fora.

     Para as representantes Agradeço a todas vocês.

5.6.14  Explicações

Para o grupo: - Vou explicar agora os passos que segui.

     A primeira imagem foi: ela não tinha acesso à mãe. Quando a tomei nos braços, percebi sua situação, em relação ao pai e à mãe. A mãe estava ausente.

     Para a cliente: - Eu me senti assim internamente.

     CLIENTE sem gaguejar: - Ela estava ausente internamente. Na verdade, a sua pessoa estava presente, mas ausente internamente.

     HELLINGER: - Mas, você fala muito bem.

     Risadas e aplausos no grupo.

     Para o grupo: - Ok, é isso que senti e pensei: agora vou colocar mãe e filha uma em frente à outra. No início, a representante da mãe se comportou como uma terapeuta e quis ajudar. Contudo, isso altera tudo. Então, precisei adverti-la para que se centrasse.

     Para esta representante: - Você fez muito bem.

     HELLINGER para o grupo: - Todo o desejo de querer ajudar impede a ajuda. Com isso interferimos nos movimentos da alma. Então eles não conseguem mais se mostrar. Por isso, algumas vezes é difícil quando se escolhe uma terapeuta para representante, a não ser que já estejam amestrados e maduros no recolhimento.

     Para a representante da quinta ancestral: - Você fez muito bem. Pode se ver bem claramente em você a agressividade da última mãe na linhagem dos ancestrais. Agora a sua aparência é totalmente outra.

     A representante concorda com a cabeça e ri.

     Para o grupo: - Então vi que não havia nenhuma dedicação da mãe em relação à filha. Disso podemos concluir que entre a mãe e a mãe dela também faltara dedicação. Por isso coloquei a mãe atrás dela. Entretanto, também entre elas havia algo conturbado.

     E dessa forma fui continuando, até que cheguei à quinta ancestral. Ela mostrou a rigidez que estava oculta nas outras. Ela também desviou o olhar. Esse tipo de procedimento em uma linhagem de ancestrais, demonstra que houve um assassinato. Não devemos nos iludir em relação a isso.

     Então coloquei alguém como vítima em frente a ela. Agora o estranho foi que a cliente se sentiu atraída em direção a essa vítima. Ela mostrou que a mãe recusou essa vítima.

     Mais tarde coloquei a cliente em frente a essa ancestral. Lá, ela cerrou os punhos. Isso mostra que ela estava identificada duplamente: com a vítima e com a agressora. Na esquizofrenia encontramos essa dinâmica - e na gagueira parece óbvio também.

     Quando a ancestral se abaixou para a vítima, a cliente tocou as duas.

     Para a cliente: - De repente, ambas tinham um lugar no seu coração. A contradição e o conflito não resolvido entre a agressora e a vítima cessaram com isso. De repente o amor pelas duas pôde fluir dentro de você. Você precisou de sessenta anos para descobrir isso.

     CLIENTE gagueja: - Foi o meu propósito ...

     HELLINGER: - Olhe gentilmente para mim. Assim, exatamente. Na verdade, você é uma pessoa gentil. Olhe nos meus olhos.

     CLIENTE gagueja: - Foi o meu propósito resolver esse problema.

     Sem gaguejar: - E mesmo que seja no último terço de minha vida, quero ver isso resolvido.

     Risadas e aplausos no grupo.

     HELLINGER: - Exatamente.

     Para o grupo: - O parentesco entre a esquizofrenia e a gagueira veio à luz de forma bem clara nesta constelação.

     Para a cliente: - Depois disso, todas as mães puderam receber você carinhosamente no círculo delas.

     CLIENTE: - Não sei de nenhum assassinato concreto em minha família.

     HELLINGER: - É claro que não. Isso remonta a cinco gerações.

     CLIENTE: - É claro que não sei de nada em relação a isso.

     HELLINGER: - É claro que você não sabe de nada. Contudo, numa constelação, isso vem à tona.

     Para o grupo: - Um assassinato num sistema, por exemplo, quando uma criança é assassinada pela mãe ou a mulher pelo marido, atua durante várias gerações. Já vi isso remontar a 13 gerações.

     Para a cliente: - É claro que você não sabe nada disso. Mas teve o sentimento, a compaixão. Não foi bom?

     CLIENTE: - Quando fiquei adulta, sempre senti necessidade de me dirigir a minha mãe para mostrar-lhe minha compreensão, mas não foi possível me entender com ela.

     HELLINGER: - É claro que não. Você assumiu algo que uma criança não deve assumir. Aqui todas estavam emaranhadas, todas as ancestrais.

     Ambos riem.

     HELLINGER: - Ok, agora eu deixo isso atuar em sua alma. Tome a ancestral e a vítima igualmente em sua alma - com amor. As duas, da mesma forma.

     CLIENTE: - Espero que a gagueira também desapareça com o tempo. Este era o meu objetivo.

     HELLINGER: - Com o tempo. Espere ainda um pouquinho. Você ainda está muito acostumada a gaguejar, ainda está desabituada ao outro jeito de falar.

     CLIENTE: - sem gaguejar Sim, bem desabituada, sim.

     Risadas estrondosas e aplausos no grupo. A cliente ri junto.

     HELLINGER: - Ok, foi isso, então.

5.7  A fala

     O que acontece quando dizemos algo? Qual o efeito que tem falar a palavra certa?

     Quando uma criança fala pela primeira vez "mamãe", vocês percebem o que isso significa? Vocês percebem a diferença em relação ao que era antes?

     Qual é o efeito que essa palavra tem na mãe? Ela se transforma. Algo nela fica diferente, porque a criança diz "mamãe" para ela. E também na criança algo se transforma quando consegue pronunciar essa palavra pela primeira vez. A relação entre a mãe e a criança e da criança com a mãe se transforma.

     Esta palavra é criativa. Uma nova forma e tipo de relação se realiza nessa palavra. Também quando alguém diz para uma outra pessoa, pela primeira vez: "você", algo se transformou.

5.7.1  As coisas

     O que acontece com as coisas quando as denominamos de forma correta? Frequentemente, refletimos durante muito tempo sobre uma conexão e não conseguimos compreendê-la. Mas, logo que a percebemos, ela se concentra e se condensa numa verdade que será expressa numa palavra. Somente aquilo que é compreendido pode ser expresso e tem um efeito especial. Transforma algo. A pessoa que compreendeu, pode expressar isso. Uma palavra assim tem força.

     Ainda existe algo que devemos considerar. Uma coisa que não é denominada corretamente, não atinge a sua plenitude. Peguemos uma palavra bem simples, por exemplo, a palavra "rosa". Quando a compreendemos e a expressamos, a rosa tem um efeito diferente. Ela não é a mesma que era antes. Portanto, na palavra algo inconcluído, uma relação inconcluída, uma situação inconcluída se eleva em direção a algo maior. Damos-lhe alma através da palavra que usamos.

5.7.2  As grandes palavras

     Nas Constelações familiares muito frequentemente uma palavra ou uma frase tem que ser expressa. Algumas vezes, apenas uma palavra ou uma frase. E essa palavra ou frase transforma. Somente quando o ajudante alcança a palavra que dá uma guinada na necessidade e, por assim dizer, coloca-a na boca do cliente, de forma que ele possa dizer isso, algo se transforma. Essa palavra é criativa.

     No trabalho das Constelações familiares e como elas vêm-se desenvolvendo, a fala correta é o que leva adiante, na hora certa. Essas palavras são uma benção.

     Algumas vezes, outras palavras se opõem a isso, por exemplo, uma maldição, um ataque, uma objeção. Por isso, prestamos atenção ao efeito que uma palavra terá - na própria alma e na alma dos outros.

     As grandes palavras surgem do silêncio. Precisam de tempo até que fiquem maduras e caiam da árvore do conhecimento como fruta madura. São palavras que surgem da compreensão.

5.8  Autismo

     Quando iniciei o trabalho com crianças autistas, fiquei surpreso porque em suas famílias se mostrou uma dinâmica similar à da esquizofrenia. Nas famílias com uma criança autista também se mostrou que esta criança precisa estar identificada com um assassino e uma vítima.

     Quando numa constelação este pano de fundo veio à luz e a reconciliação entre o assassino e a vítima foi conseguida, houve melhoras surpreendentes nas crianças autistas. E o movimento que cura veio, em primeira instância, dos agressores.

     Contudo, na família da criança existem resistências consideráveis contra a solução, porque a criança autista assume as consequências desse acontecimento por um de seus pais. Os pais têm medo de que eles mesmos precisem assumir essas consequências.

     As minhas experiências com crianças autistas são limitadas. Talvez outros panos de fundo e acontecimentos na família também desempenhem um papel aí. Entretanto, o que percebi até o presente, com clientes autistas, tem sido encorajador.

     Exemplos sobre o meu trabalho com crianças autistas podem ser encontrados em meu livro:

     Histórias de amor

     191 p., 2006, Editora Atman

     Alguns exemplos também podem ser adquiridos em DVD:

     Children, Mirror of the Family

     4 DVDs, English, Chinese

     Hellinger Institute Taiwan

     Families in Turmoil

     5 DVDs, English

     Hellinger Institute of DC, www.HellingerDC.com

5.8.1  Publicações sobre o tema psicose e distúrbios de fala

5.8.1.1  Livros

     Liebe am Abgrund

     Ein Kurs für Psychose-Patienten 230 Seiten, 187 Abb. 2001. Carl-Auer-Systeme Verlag

     O outro jeito de falar

     Um curso para pessoas com distúrbios de fala e seus ajudantes 146 p., 2007, Editora Atman

     Histórias de amor

     191 p., 2006, Editora Atman

5.8.1.2  Vídeos

     Liebe am Abgrund Ein Kurs für Psychose-Patienten

     3 Videos, 10 Stunden

     Die Versõhnung des Getrennten

     Ein Kurs für Psychose-Patienten in Mallorca

     4 Videos, 8 Stunden, 46 Minuten. Deutsch/Spanisch

     Das andere Sagen

     Ein Kurs für Sprechgestõrte und ihre Helfer

     3 Videos, 8 Stunden Wo Ohnmacht Frieden stiftet

     Familien-Stellen mit Opfem von Trauma, Schicksal und Schuld,

     3 Videos, 6 Stunden, 30 Minuten

5.8.1.3  DVDs

     Das andere Sagen

     3 DVDs, 8 Stunden

5.9  As constelações familiares espirituais em uma frase

5.9.1  O procedimento

     O que acontece? Um cliente apresenta um problema citando determinadas pessoas. Normalmente são os pais, parceiros e filhos. Esses são os mais próximos. Mas, também podem ser outras pessoas. Agora prossigo de forma sistêmica, ou seja, eu imagino as pessoas que fazem parte e volto-me para todas elas da mesma maneira. Eu me exponho a elas mantendo uma distância, sem querer algo específico e sem medo. Depois espero por uma indicação.

     Essa indicação ajuda a todos da mesma maneira, ou seja, não está unicamente direcionada para algo que ajuda somente ao cliente. Ajuda a todos da mesma maneira. Isso mostra que se trata de uma frase que vem de um movimento espiritual.

     Quando essa frase é encontrada e dita, tudo está feito. Nenhuma palavra adicional! Qualquer palavra adicional destruiria a força dessa frase.

     Essa é a forma mais bela de ajudar alguém. Transcende ainda as Constelações familiares espirituais. Mas, só de certa forma, pois na imaginação interna todos estão presentes na mesma medida.

     Gostaria de exercitar isso com vocês em forma de supervisão, ou seja, vocês não trazem um problema pessoal e sim uma questão de um cliente. Através destes exemplos demonstrarei essa maneira de ajudar. Então, não farei apenas uma demonstração; todos aprenderemos como podemos entrar num movimento de ajuda desse tipo.

     Seja qual for o resultado, ele nos ajudará de diversas maneiras. Entramos numa postura totalmente diferente. Está totalmente claro que aqui não podemos querer nada. Não podemos inventar essas frases. Nós as recebemos como um presente no caminho fenomenológico do conhecimento.

     Então, está claro o que eu disse? Quem teria um caso que gostaria de apresentar?

5.9.2  Exemplo: um menino de 12 anos tem um tique nervoso

     HELLINGER para o participante que gostaria de apresentar este caso: - De que se trata?

     PARTICIPANTE: - Trata-se de Wen, uma criança de 12 anos que procurou a mim e a minha mulher. Tem um tique nervoso: pisca com os olhos e movimenta as mãos involuntariamente.

     HELLINGER: - Quem procurou você?

     PARTICIPANTE: - Na primeira vez a mãe, com esse menino de 12 anos e o seu irmão.

     HELLINGER após um tempo de reflexão, para o grupo: - Ele mencionou apenas esse menino e a mãe.

     Para o participante: - Quem você não mencionou?

     PARTICIPANTE: - Quem? O pai os acompanhou na segunda visita.

     HELLINGER: - Ok.

     PARTICIPANTE: - Na segunda vez trabalhamos apenas com o pai e a mãe.

     HELLINGER: - Bom.

     Para o grupo: - Agora imaginemos o seguinte: quando essa criança faz esses movimentos, com este tique nervoso e com a mão. Se desviarmos o olhar dessa criança nesse momento, para onde a criança olha? Para quem ela olha? Para que pessoa a criança olha? Para quem os pais não olham? Ao invés de olharem para essa pessoa, olham para a criança.

     O participante acena com a cabeça.

     HELLINGER para o grupo: - Agora imaginamos o sistema inteiro: aqueles que fazem parte e aqueles que talvez estejam esperando para que sejam olhados, esperando que se tenha compaixão por eles, que sejam amados. Esse seria o pano de fundo.

     Ok, agora nós fechamos os olhos e entramos nessa postura em relação ao sistema inteiro: dedicados a todos com amor. Depois esperamos para que talvez a palavra ou a frase decisiva venha.

     Hellinger centra-se profundamente.

     Após algum tempo: - Eu tenho a frase. Uma frase surpreendente que não se pode inventar.

     Para este participante: - Quando eles estiverem com você novamente, os três, você pede ao menino para dizer aos seus pais: esqueçam-se de mim também.

     O participante fica tocado e acena com a cabeça.

     HELLINGER: Depois você os manda para casa imediatamente. Você sentiu a força imediatamente.

     Para o grupo: - Pudemos ver pela expressão do seu rosto. E nós também sentimos a força.

     Para este participante: - E o menino está melhor.

     O homem acena com a cabeça.

     HELLINGER: - Ok.

     Após algum tempo, para o grupo: - Vocês percebem que não podemos inventar essas frases. São completamente diferentes do que imaginamos.

5.9.3  Exemplo: homem de 40 anos com diarreia

     HELLINGER para o grupo: - Querem continuar com essa terapia "ultra breve"?

     Uma mulher levanta o braço.

     HELLINGER para esta mulher: - Vamos nos dar tempo. São processos meditativos. Com eles nos acalmamos. Todos nós nos acalmamos.

     Após algum tempo: - Agora estou pronto para a próxima questão.

     PARTICIPANTE: - Trata-se de um homem de 40 anos que tem diarreia há dois anos. Fisicamente não se acha nada.

     HELLINGER: - Você sabe algo sobre a sua família?

     PARTICIPANTE: - Sua mãe morreu quando tinha 16 anos. Ela teve uma depressão grave depois que o pai foi embora. Ele foi embora porque havia tido uma briga séria com a filha e bateu nela.

     HELLINGER: - Esse é o pai desse homem?

     PARTICIPANTE: - Era seu pai.

     HELLINGER: - A filha era a irmã desse homem?

     PARTICIPANTE: - Sim.

     HELLINGER: - A mãe morreu de depressão?

     PARTICIPANTE: - Ela não saía mais da cama e queria morrer. Finalmente morreu de uma embolia.

     HELLINGER: - As pessoas são: esse homem, sua mãe, seu pai e sua irmã. Quatro. Qual deles precisa do maior carinho?

     PARTICIPANTE: - O pai.

     HELLINGER para o grupo: - Isso agora é importante para nós. Ele é quem foi o excluído. Então nós o colocamos em nossa alma. Abrimo-nos para essa família, voltando-nos para cada um deles e esperamos sem medo e sem intenção.

     Após algum tempo: - Tenho uma frase.

     Para esta mulher: - O homem diz a frase. Mas, fica em aberto para quem. Quando ele for ao seu consultório você faz um atendimento rápido, uma meditação. Depois diz essa frase a ele. Depois ele deve levantar-se imediatamente e ir embora.

     Então, você pede que se sente ao seu lado e diz a ele: "Feche os olhos. Agora imagine todas as pessoas da sua família. O pai, a mãe, sua irmã e você. Eles ficam a alguma distância de você. Então sinta com quem está conectado mais profundamente. Você diz uma frase para essa pessoa. Vou lhe dizer essa frase. Depois você se levanta, sem dizer uma palavra e vai embora."

     A frase é: por favor, fique.

     A mulher acena com a cabeça.

     HELLINGER: - Ok?

     PARTICIPANTE: - Sim.

5.9.4  Exemplo: menino de 15 anos se automutila e tem ataques de pânico

     HELLINGER para uma participante: - Do que se trata aqui?

     PARTICIPANTE: - Trata-se de uma família em que os pais são separados. O menino se automutila e tem ataques de pânico.

     HELLINGER: - Quem procurou você?

     PARTICIPANTE: - Todos os três.

     HELLINGER para o grupo: - Ok. Aqui somente três pessoas são importantes: o pai, a mãe, o filho.

     Para a participante: - Com quem o filho mora?

     PARTICIPANTE: - Ele reveza entre o pai e a mãe, mas agora fica mais na casa do pai.

     HELLINGER para o grupo: - Agora imaginamos essa situação. Sentimos a situação, dedicando-nos a todos ao mesmo tempo. Sentimos o que o menino sente e sentimos o seu amor.

     Após algum tempo para a participante: - Tenho a frase. É totalmente codificada. Você diz a frase na presença dos pais, diz a eles qual a frase secreta do menino. E acrescenta que, depois que você tiver falado a frase, eles devem ir sem dizer uma palavra.

     Você diz aos pais que o menino diz internamente: Melhor eu.

     Como você se sente com essa frase?

     Quando a participante ri: - Podemos ver. Ok. Foi isso.

     PARTICIPANTE: - Obrigada.

     HELLINGER para o grupo: - Permito mais um caso. Depois, é suficiente.

5.9.5  Exemplo: cliente de 35 anos consegue apenas ingerir alimentos líquidos

     HELLINGER para o grupo após um pequeno intervalo para centrar-se: - Naturalmente também pode acontecer que não venha frase nenhuma. Isso pode ter diversos panos de fundo.

     Talvez estejamos demasiadamente empenhados. Então perdemos a conexão com o movimento espiritual. Isso também é o perigo aqui, quando trabalho com um caso após o outro. Fica como um exercício e isso é perigoso. Perigoso no sentido de que nada dá certo.

     Para a participante: - Então?

     PARTICIPANTE: - Trata-se de uma cliente que tem 35 anos. Desde quando era jovem tem uma doença, que se manifesta de tal forma que ela não é capaz de engolir alimentos sólidos. Ficam presos na garganta. Portanto, pode apenas ingerir alimentos líquidos.

     HELLINGER: - Então, esse é o problema. Quem procurou você?

     PARTICIANTE: - Ela mesmo veio.

     HELLINGER para o grupo: - Agora temos que acrescentar internamente quem mais faz parte. Sem entrar em detalhes, imaginamos essa família. Também os irmãos dela.

     Para a participante: - Um dos irmãos ou irmãs morreu cedo?

     PARTICIPANTE: - Essa mulher nunca conheceu o seu pai.

     HELLINGER: - Essa é uma informação importante.

     Após algum tempo: - Veio-me uma frase bastante estranha.

     Para a participante: - Você pode dizer a ela que deve imaginar que está dizendo uma frase para sua mãe. Ela, porém, não diz a frase. Apenas a diz internamente. A frase é: eu fico pela metade.

     A participante concorda com a cabeça e ri.

     HELLINGER: - Ok?

     PARTICIPANTE: - Obrigada.

     HELLINGER para o grupo: - Vocês percebem para onde as Constelações familiares espirituais ainda vão nos levar, no final.

5.9.6  Exemplo: Cliente de 37 anos tem o lado direito do corpo paralisado há um ano

     PARTICIPANTE: - O cliente tem 37 anos. Há um ano não sente nada e está paralítico do lado direito. Sobre sua história: ele tinha um ano quando sua mãe se enforcou.

     HELLINGER: - Não quero saber de nada mais agora.

     Para o grupo: - Sentimos agora a situação e a família.

     Hellinger novamente centra-se profundamente.

     Após algum tempo para o grupo: - Mais uma vez é uma frase estranha.

     Para o participante: - Então, quando ele vier até você, peça a ele que feche os olhos e imagine: ele é uma criança pequena, e sua mãe está pendurada diante dele. Ele olha para ela como está ali, pendurada e diz: eu também.

     O participante fica sério e acena com a cabeça.

     HELLINGER: - Ok?

     PARTICIPANTE: - Obrigado.

5.9.7  O movimento interno

     HELLINGER para o grupo: - Essas frases estão além da ajuda. Elas colocam cada pessoa em contato com um movimento interno. A partir do momento em que está em contato com o movimento interno, é guiada por ele. Mas, não sabemos para onde. E também não queremos saber. A pessoa, então, está totalmente entregue a esse movimento.

     Quando somos presenteados com uma frase desse tipo - essas frases sempre são um presente - imediatamente separamo-nos do cliente, sem preocupação. Somos livres imediatamente. Então, é para lá que as Constelações familiares espirituais nos levam no final.

     Agora é assim: quando um cliente chega até vocês e se senta ao seu lado e vocês se abrem para ele, às vezes uma dessas frases ou palavra vem às suas mentes sem que o cliente diga algo. Essa é uma bela experiência. Então vocês sentem que estão sendo guiados.

     Numa constelação, quando não sabemos como continuar, a compreensão sobre qual é o próximo passo também nos é dada dessa maneira. Ou então a frase que alguém deve dizer.

5.9.8  Meditação: a nossa própria frase

     Fechem os olhos. Agora entramos dentro da nossa família, junto a todos que fazem parte. Colocamo-nos no nosso devido lugar ao lado deles. Lá permanecemos. Sentimos a conexão com todos e percebemos como os destinos dessa família também nos aguardam, como esperam algo de nós, que no final traz a paz.

     Enquanto nos abrimos assim para todos e para os seus destinos, porém permanecendo sempre no nosso lugar, esperamos até que, após algum tempo, possamos dizer algo para cada um deles: uma frase, a nossa frase. Não a dizemos apenas para eles. Essa frase também nos abarca. Não somos nós que dizemos uma frase a eles, pois essa frase, que recebemos como um presente, também diz respeito a nós. Todos ficam aliviados porque a frase nos abarca e porque podemos concordar com ela. Essa frase nos conecta com todos da forma mais profunda.

     Após algum tempo: - Talvez vocês tenham achado uma dessas frases. Darei um exemplo de uma frase desse tipo: olhando para todos, alguém diz: Eu fico aqui.

5.10  Supervisões breves

     Darei mais alguns exemplos sobre essa forma de acompanhar o movimento do espírito. São supervisões breves, também com uma única frase ou indicação.

5.10.1  O futuro

     HELLINGER para um ajudante: - Do que se trata, no seu caso?

     AJUDANTE: - Trata-se de uma mulher jovem que sofreu abuso por parte do seu avô, quando era criança.

     HELLINGER: - Qual é o problema?

     AJUDANTE: - Na época ela contou isso ao seu pai. O pai proibiu-a de contar para a mãe, pois ela também havia sofrido abuso por parte do pai, ou seja, desse mesmo avô, quando era pequena.

     HELLINGER: - Então, aqui se necessita da nossa benevolência - em relação a todos.

     Para o ajudante: - Qual a idade da mulher?

     AJUDANTE: - Entre vinte a trinta anos.

     HELLINGER para o grupo: - Algo que faço frequentemente numa situação assim: imagino todos eles: essa mulher, o avô, o pai, a mãe. E quem mais? Quem não foi mencionado? A avó. A avó não foi mencionada. Eu me exponho a isso, com a mesma benevolência, sem julgamento. Às vezes, então me vem uma frase ou uma palavra que serve a todos da mesma maneira e que os ajuda.

     Para o ajudante: - Acabei de receber essa frase. Devo dizê-la?

     A frase é: esse amor também é grande.

     Silêncio prolongado.

     HELLINGER para o grupo: - Vamos esquecer os nossos julgamentos morais e olhar para o efeito dessa frase na família. Qual o efeito dessa frase para todos? Todos se libertam e têm futuro.

     Ok, este foi um exemplo de uma terapia breve. Esta forma de trabalhar que acabei de demonstrar é a forma mais densa desse trabalho.

     Para o ajudante: - Após você ter falado essa frase para a mulher, a terapia terminou. Nada mais será dito. Nenhuma palavra adicional. A frase apenas terá um efeito se puder agir por si só. Com toda sua força.

     Mas primeiro você deve concordar que de fato é assim: "Esse amor também é grande - e divino."

     Ambos acenam com a cabeça.

     HELLINGER: - A frase entrou na sua alma de verdade.

     Ambos riem um para o outro.

     HELLINGER: - Ok?

     O ajudante acena com a cabeça.

     HELLINGER: - Ok. Vou deixar aqui.

5.10.2  Um menino perde a fala

     HELLINGER para uma ajudante: - Sim, do que se trata no seu caso?

     AJUDANTE: - Uma criança de cinco anos está visivelmente perdendo a fala.

     HELLINGER: - Como isso se manifesta?

     AJUDANTE: - Ele quer dizer algo, começa a gaguejar, entra num tom de voz muito agudo, foge e se esconde.

     HELLINGER: - Ok. Olho para o menino e olho para sua mãe e seu pai e olho para o segredo. Existe um segredo. O segredo é uma pessoa morta. Você sente isso?

     AJUDANTE: - Vi o pai há pouco tempo. Ele está em pânico, pois também perdeu a fala quando era pequeno. Desde a primeira série frequentou um colégio interno e não recuperou a fala novamente.

     HELLINGER: - Isso então é algo que vai lá para trás. Nessa família existe um agressor. O agressor tem medo de que isso venha à luz. Agora eu me exponho a isso, a essa situação.

     Após algum tempo: - Tenho uma palavra simples.

     Para a ajudante: - Você trabalha sozinha com ele?

     AJUDANTE: - Sim.

     HELLINGER: - Quantos anos ele tem?

     AJUDANTE: - Cinco anos e meio.

     HELLINGER: - Você imagina que ele está sentado ao seu lado. Coloca o braço em volta dele, o que provavelmente você faz e vocês olham para frente. E depois você pede a ele para dizer: papai, nós dois.

     Para a ajudante: - Isso imediatamente atingiu você. Eu pude ver o efeito bom.

     Isso é para o menino. Depois você trabalha com o pai e tenta levá-lo até o segredo que existe ali. Certamente trata-se de um assassinato. Mas isso pode ter acontecido lá atrás ou estar relacionado com a guerra, por exemplo. Posso deixar aqui?

     A ajudante acena com a cabeça.

5.10.3  Exercício: acompanhar o espírito

     Agora vou fazer isso como um exercício para todos. Imaginem uma situação onde lhes é relatado um problema, uma situação onde vocês querem e, talvez, até devam ajudar. Quando se relata um problema, trata-se sempre de um problema de relacionamento. Não existe outro tipo de problema. Por que um relacionamento torna-se um problema? Porque alguém é excluído, rejeitado ou esquecido.

     Quando um cliente relata um problema, sempre diz quem é a pessoa má. Isso é um convite para que o ajudante também fique zangado com essa pessoa e 80% dos ajudantes caem nessa armadilha. Então, naturalmente, não podem mais ajudar.

     Agora fechem os olhos. Imaginem uma situação assim, ou seja, um problema que lhes é relatado, talvez até um problema que vocês mesmos tenham. Olhem para todas as pessoas que fazem parte dele e prestem atenção principalmente aos seguintes pontos: quem foi excluído, quem não foi mencionado? Coloquem também essa pessoa para dentro da alma, ou seja, principalmente as pessoas das quais se diz que são pessoas más.

     Olhem para cada pessoa com o mesmo carinho, com o mesmo respeito, com o mesmo amor, sem diferença, da mesma maneira para todos. Entreguem-se a um movimento do espírito, do espírito criativo que se volta para tudo da mesma maneira.

     Assim vocês acompanham esse movimento, porém sem entrar nessa relação. Permaneçam do lado de fora do sistema. Apenas olhem do lado de fora com a mesma benevolência em relação a todos. Depois esperem, simplesmente esperem. Talvez após algum tempo, de repente, lhes venha uma frase ou às vezes apenas uma única palavra que serve a todos, que ajuda a todos. Vem de um lugar profundo, sem pensarmos, vem de repente.

     A palavra é sempre nova. Não existem repetições. Imediatamente tem um efeito liberador, também em vocês, imediatamente.

     Vocês viram como eu trabalhei dessa maneira. No momento em que achei a frase e a falei, imediatamente pudemos observar uma mudança nos rostos. Vocês perceberam isso?

     A veracidade da frase mostra-se imediatamente, através do efeito.