Índice Superior Vai para o próximo: Capítulo 5
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Este capítulo descreve o desenvolvimento das compreensões sobre os panos de fundo da nossa história familiar, que nos fazem adoecer ou bloqueiam o caminho da cura.
Nos primórdios, pudemos observar os movimentos da consciência pessoal e do amor de vínculo na alma e as suas consequências para a saúde e a doença, como vimos e experimentamos através das Constelações familiares. O primeiro capítulo trata deste assunto: o amor que adoece e o amor que cura.
Essas compreensões permanecem dentro do alcance da consciência, deparando-se logo com seus limites. Somente as compreensões sobre os movimentos do espírito, que movimentam todos da mesma maneira, não importando quais sejam seus destinos, tomando todos a seu serviço, fazem com que a saúde e a doença se apresentem sob uma luz diferente. Os movimentos do espírito conduzem a soluções que não podem ser alcançadas ou compreendidas dentro dos limites da consciência.
A segunda parte deste capítulo trata dessas soluções: doença e saúde, do ponto de vista espiritual. Mostra a extensão dos nossos emaranhamentos e o que nos conduz a eles. Trata-se principalmente da violação do direito de pertencer, que é igual para todos, que acontece através da exclusão de alguém que precisa pertencer e do desrespeito à lei da hierarquia, quando um membro do grupo se posiciona acima daqueles que chegaram antes e que têm precedência.
Apresentarei alguns exemplos sobre panos de fundo de doenças graves, como eles vêm à luz através das Constelações familiares espirituais e descreverei caminhos para a cura.
Muitas pessoas acreditam que através de uma doença ou da própria morte podem assumir o sofrimento ou a culpa de um outro membro familiar. Ficam doentes, têm acidentes e até se suicidam porque sentem saudades dos membros familiares falecidos e querem unir-se a eles através da própria morte. As observações e compreensões feitas através das constelações, que relatarei a seguir, ajudam a desvendar tais idéias que provocam doenças e a superá-las de forma curativa.
Todos os membros familiares são inexoravelmente ligados pelos laços de destino. O laço de destino mais forte é entre pais e filhos. Atua também de maneira forte entre irmãos e entre homem e mulher. Um vínculo especial surge em relação àqueles que cederam lugar a outros membros familiares e particularmente forte em relação àqueles que tiveram um destino difícil; por exemplo, o vínculo dos filhos de um segundo casamento com a primeira mulher do pai, que morreu no parto.
O vínculo faz com que os membros familiares posteriores e mais fracos queiram segurar os membros familiares anteriores e mais fortes para que não partam ou pretendam segui-los, se já partiram.
Além disso, o vínculo atua de uma forma que aqueles que possuem alguma vantagem queiram assemelhar-se àqueles que estão em desvantagem. Por exemplo, filhos saudáveis querem se tornar doentes como seus pais, e membros familiares inocentes posteriores querem se tornar culpados como seus pais ou ancestrais. Esse vínculo atua de uma forma que os saudáveis sentem-se responsáveis pelos doentes, os inocentes, pelos culpados, os felizes, pelos infelizes e os vivos, pelos mortos.
Assim, muitas vezes aqueles que têm alguma vantagem em relação a outros estão dispostos a arriscar e renunciar à sua saúde, inocência, felicidade e sua vida em favor da saúde, inocência, felicidade e da vida de outros. Eles esperam que, renunciando à sua própria felicidade e à sua própria vida, possam salvar e assegurar a felicidade e a vida de outros dentro dessa comunidade de destino. Frequentemente esperam ainda que, através do seu sacrifício, possam recuperar e restabelecer a vida e a felicidade de outros membros familiares, mesmo que essas pessoas já tenham partido há muito tempo.
Existe, então, na comunidade de destino da família e do clã familiar uma necessidade irresistível - baseada no vínculo e no amor de vínculo - de compensação entre a vantagem de alguns e a desvantagem de outros, entre a inocência e a felicidade de alguns e a culpa e a infelicidade de outros, entre a saúde de alguns e a doença de outros e entre a morte de alguns e a vida de outros. Em razão dessa necessidade, se uma pessoa foi infeliz, uma outra também quer ser infeliz; se uma ficou doente ou se sente culpada, uma outra, saudável ou inocente, também fica doente ou se sente culpada; e se uma morreu, outra, próxima a ela, também deseja morrer.
Portanto, dentro dessa estreita comunidade de destino, o vínculo e a necessidade de compensação levam ao equilíbrio e à participação na culpa e na doença, no destino e na morte de outros. Levam à tentativa de pagar pelo bem-estar do outro com o próprio infortúnio, pela saúde do outro com a própria doença, pela inocência do outro com a própria culpa e pela vida do outro com a própria morte.
Como essa necessidade de equilíbrio e compensação anseia pela doença e pela morte, a doença segue a alma. Assim, no processo de cura necessita-se, além dos cuidados médicos, de cuidados para a alma. O médico pode reunir ambos ou uma outra pessoa pode apoiar o trabalho dele, ocupando-se da alma do cliente. Mas, enquanto o médico se esforça por curar a doença pelo tratamento ativo, o assistente da alma fica mais recolhido, pois com assombro se defronta com forças com as quais não tem a presunção de medir-se. Assim, em sintonia com essas forças, esforça-se para reverter o destino difícil, agindo mais como seu aliado do que como inimigo. Vou dar um exemplo.
Num grupo de hipnoterapia, uma mulher com esclerose múltipla viu-se como criança, ajoelhada diante da cama de sua mãe paraplégica e lembrou-se de que naquela época havia decidido: "Querida mamãe, antes eu do que você." Para os participantes do grupo foi comovente testemunhar o quanto uma criança ama os seus pais e como a jovem mulher estava em paz consigo mesma e com seu destino. Uma participante, porém, não conseguindo suportar a profundidade desse amor que se dispunha a assumir, em lugar da mãe, a doença, o sofrimento e a morte, disse ao condutor do grupo: "Gostaria tanto que você pudesse ajudá-la."
O condutor do grupo ficou consternado, pois como alguém poderia ousar tratar o amor de um filho como se fosse algo ruim? Ele não insultaria a alma da criança e pioraria seu sofrimento, ao invés de amenizá-lo? A criança não iria ocultar ainda mais seu amor pela mãe e não se apegaria ainda mais à sua esperança e à decisão tomada num determinado momento de salvar a mãe querida, através do sofrimento próprio?
Mais um exemplo. Uma mulher jovem, que sofria igualmente de esclerose múltipla, colocou dentro do grupo, a sua família de origem e a rede de relações que nela atuava. A mãe estava à direita do pai. Diante deles, ficou a paciente, que era a filha mais velha; à sua esquerda, seu irmão seguinte, que morreu aos quatorze anos de insuficiência cardíaca e, mais à esquerda, um pouco mais afastado, o irmão mais novo.
O condutor do grupo pediu ao representante do irmão morto que saísse da sala, o que numa constelação significa morrer. Assim que ele saiu, o rosto da representante da filha imediatamente iluminou-se, e era óbvio que sua mãe também se sentia mais confortável. Como o condutor observara que os representantes do pai e do filho mais novo se sentiam atraídos para fora, pediu que ambos também deixassem a sala. Quando todos os homens saíram - significando que estavam mortos - a mãe endireitou-se, triunfante. Ficou claro que era ela quem queria realmente morrer - fossem quais fossem os seus motivos -, e se sentia aliviada porque os homens de sua família estavam prontos e dispostos a assumir a morte, no seu lugar.
Então o condutor do grupo chamou os homens de volta e fez com que a mulher saísse. De repente, todos se sentiram livres da pressão de tomar o destino da mãe e ficaram bem.
Entretanto, o condutor do grupo suspeitava que a esclerose múltipla da filha estivesse relacionada ao desejo da mãe de morrer. Por isso chamou a mãe de volta, posicionou-a do lado esquerdo do pai e a filha ao lado da mãe.
Ele disse à filha para olhar para a mãe e lhe dizer, com amor: "Mamãe, eu faço isso por você!" Quando disse isso, seu rosto ficou radiante. O significado e a finalidade de sua doença ficaram claros para todos.
Portanto, o que o médico ou um assistente da alma tem o direito de fazer aqui e o que deve evitar?
Frequentemente tudo que um ajudante ciente pode e deve fazer é trazer à luz o amor da criança. Não importa o que a criança tiver assumido em nome desse amor, ela sabe estar em sintonia com a sua consciência e sente-se nobre e boa. Quando, entretanto, com o auxílio de um ajudante sensato o amor da criança pode vir à luz, também torna-se claro para ela que o objetivo desse amor nunca pode ser atingido. Pois, trata-se de um amor que tem a esperança de poder salvar a pessoa amada através dos seus sacrifícios, protegê-la do sofrimento, expiar a sua culpa e salvá-la da desgraça. Frequentemente, ainda tem esperança de trazer de volta uma pessoa amada, do reino dos mortos.
Entretanto, quando esse amor infantil é trazido à luz, talvez essa criança - agora adulta - perceba que não pode superar a doença, o destino e a morte do outro através do seu amor e dos seus sacrifícios, mas que deve se expor a eles, impotente e corajosamente e concordar com tudo assim como é.
Quando os objetivos do amor infantil e os meios para atingi-los são trazidos à luz ficam decepcionados, pois fazem parte de uma imagem mágica do mundo que não tem substância diante do conhecimento de um adulto. Mas o amor propriamente dito permanece. Trazido à luz, ele procura por caminhos que trarão bons resultados. Então, o mesmo amor que causou a doença procura agora por uma outra solução, uma solução ciente, anulando, se ainda for possível, aquilo que causa a doença. Aqui os médicos e outros ajudantes talvez possam apontar direções. Porém somente se o amor da criança for considerado e reconhecido por eles, para que possa se dirigir a algo novo e maior.
Frequentemente reconhecemos como causa anímica de uma doença mortal a decisão da criança perante uma pessoa amada: "Antes desapareça eu do que você".
Na anorexia a decisão é: "Antes desapareça eu do que você, querido papai."
No nosso exemplo sobre a esclerose múltipla a decisão era: "Antes desapareça eu do que você, querida mamãe."
Uma dinâmica semelhante acontecia antigamente com a tuberculose. Essa dinâmica está presente também no suicídio ou no acidente fatal.
Quando essa dinâmica se revela numa conversa com o enfermo, qual seria a solução que ajuda e cura? Como acontece com toda boa descrição de um problema, a solução já está contida na descrição e atua através dela. A solução começa quando se traz à luz a frase que faz adoecer, e o paciente diz, com toda a força desse amor que move, à pessoa amada: "Antes desapareça eu do que você". É importante que a frase seja repetida tantas vezes quanto forem necessárias até que o cliente perceba e reconheça a pessoa amada como alguém que está diante dele e que, portanto, apesar de todo o amor, é uma pessoa autônoma e separada dele. Caso contrário a simbiose e a identificação permanecem, fracassando a diferenciação e a separação, responsáveis pela cura.
Quando se consegue dizer amorosamente essa frase, estabelece-se um limite tanto em relação à pessoa amada quanto ao próprio eu e separa-se o destino próprio do destino da pessoa amada. A frase não apenas nos força a ver o nosso próprio amor, mas também o amor da pessoa amada. Ela nos força a reconhecer que aquilo que a pessoa que ama quer fazer, no lugar da pessoa amada é um peso para ela, muito mais que uma ajuda.
Então é o momento de dizer à pessoa amada uma segunda frase: "Querido papai, querida mamãe, querido irmão, querida irmã - ou quem quer que seja - mesmo que você vá, eu fico." Às vezes, principalmente quando a frase se dirige ao pai ou à mãe, o paciente ainda acrescenta: "Querido papai, querida mamãe, abençoe-me, mesmo que você vá e eu ainda fique."
O pai de uma mulher tinha dois irmãos deficientes: um era surdo e o outro psicótico. Ele se sentia atraído por seus irmãos e, por lealdade a eles, desejava partilhar seu destino, pois não suportava a própria felicidade em face da infelicidade deles. Mas sua filha percebeu o perigo e saltou na brecha. Ela colocou-se no lugar do pai, ao lado dos irmãos dele, e em seu coração, disse ao pai: "Querido papai, antes desapareça eu, e me junte aos seus irmãos, do que você" e "Querido papai, antes partilhe eu a infelicidade com eles, do que você." E tornou-se anoréxica.
O que, porém, seria a solução para ela? Teria que pedir aos irmãos do pai, mesmo que só internamente: "Por favor, abençoem meu pai, se ele fica conosco; e me abençoem, se fico com meu pai."
Por trás do desejo de partir do pai e da mãe, que o filho procura impedir através da frase: "Antes eu do que você", existe frequentemente nos pais uma outra frase. Eles a dizem, como filhos, a seus próprios pais ou irmãos, quando estes morreram cedo, contraíram uma longa doença ou ficaram inválidos. A frase é: "Eu sigo você", ou mais precisamente: "Eu sigo você em sua doença" ou "Eu sigo você para a morte."
Portanto, na família a frase que atua primeiro é: "Eu sigo você", que é também uma frase infantil. Mais tarde, porém, quando essas crianças, por sua vez, se tornam pais, seus filhos impedem que a executem e então dizem: "Antes eu do que você."
Quando a frase "Eu sigo você" vem à luz como o quadro de fundo de doenças graves, acidentes fatais ou tentativas de suicídio, a solução que ajuda e cura consiste em que o filho afirme a frase, com toda a força do amor que o move, olhando nos olhos da pessoa amada: "Querido papai, querida mamãe, querido irmão, querida irmã - ou seja quem for -, eu sigo você." Aqui também é importante que a frase seja repetida tantas vezes quantas forem necessárias, até que a pessoa amada seja percebida e reconhecida como uma pessoa autônoma que, apesar de todo o amor, separada do próprio eu. Então o filho reconhece que o seu amor não supera os limites que o separam do ente querido e que precisa deter-se diante desses limites. Aqui a frase também o força a reconhecer tanto o próprio amor quanto o da pessoa amada e a compreender que essa pessoa carrega e realiza melhor o seu destino quando ninguém a segue, muito menos o seu próprio filho.
Então o filho também pode dizer ao morto querido também uma segunda frase, que realmente dispensa e libera da obrigação do seguimento funesto: "Querido papai, querida mamãe, querido irmão, querida irmã" - ou seja quem for - "você está morto, eu ainda vivo mais um pouquinho, depois morrerei também." Ou ainda: "Eu realizo a vida que me foi dada, enquanto durar e, então, também morrerei."
Se o filho vê que um dos seus pais quer seguir na doença e na morte alguém de sua família de origem, então deve dizer: "Querido papai, querida mamãe, mesmo que você vá, eu fico." Ou: "Mesmo que você vá, eu honro você como meu pai e eu honro você como minha mãe. Você será sempre meu pai e você será sempre minha mãe" ou, se um dos pais tiver se suicidado: "Eu me curvo diante de sua decisão e diante de seu destino. Você sempre será o meu pai e você será sempre a minha mãe; e eu serei sempre o seu filho."
As duas frases "Antes eu do que você" e "Eu sigo você" são ditas e realizadas com a consciência tranquila e a certeza total da inocência. Ao mesmo tempo, correspondem à mensagem cristã e ao modelo cristão, por exemplo, à palavra de Jesus no Evangelho de São João: "Ninguém tem maior amor do que quem dá a vida por seus amigos", e o apelo a seus discípulos para segui-lo, em sua via-crúcis, até a morte.
O doutrina cristã da redenção através do sofrimento e da morte e o exemplo dos santos e heróis cristãos confirmam a fé e a esperança da criança de poder assumir no lugar de outros a sua doença, o seu sofrimento ou a sua morte. Ou ainda que pode, pagando a Deus e ao destino na mesma moeda, salvar outros do sofrimento através de seu próprio sofrimento e doença, e resgatá-los da morte, morrendo no seu lugar. Ou ainda que pode, se a salvação não é possível nesta terra, reencontrar seus entes queridos através de sua própria morte.
Quando existem tais emaranhamentos, a cura e a salvação ultrapassam os limites da simples intervenção média e terapêutica. Elas exigem uma realização religiosa, uma conversão a algo maior que vá além do pensamento mágico e do desejo mágico, desmascarando o seu poder. Algumas vezes, o médico ou outro ajudante pode preparar e apoiar um tal ato. Mas este não está em seu poder, não segue um método, não é causa e efeito. Este ato, quando é bem-sucedido, exige o máximo respeito e é experimentado como uma graça.
Uma outra dinâmica que conduz a doenças, acidentes e ao suicídio é o desejo de expiar uma culpa.
Às vezes, eventos que foram inevitáveis e determinados pelo destino são percebidos como culpa, por exemplo, um aborto espontâneo, uma deficiência ou a morte precoce de uma criança. Nesses casos, o que ajuda é olhar os mortos com amor, expor-se à dor e deixar em paz o que passou.
Se, por obra do destino, acontece alguma coisa que causa dano a outros e proporciona a alguém alguma vantagem ou a salvação e a vida, isso é experimentado também como culpa; por exemplo, a morte da mãe no nascimento de um filho.
Porém, existe também a culpa verdadeira, de responsabilidade pessoal, por exemplo, quando alguém, sem necessidade, entregou ou abortou uma criança ou quando exigiu de outros ou lhes causou algo de grave.
Muitas vezes a culpa fatídica ou pessoal deve ser paga através da expiação, pagando com danos próprios pelos prejuízos infligidos a outros. Com isso, pretende-se "abater" a culpa com a expiação e, dessa forma, estabelecer o equilíbrio.
Esses processos expiatórios, mesmo sendo extremamente nocivos para todos os envolvidos, são também incentivados por doutrinas e exemplos religiosos, através da crença de que o pecado e a culpa são redimidos através da autopunição e da dor.
A expiação satisfaz a nossa necessidade de compensação. Porém o que realmente se alcança, quando se busca essa compensação através de doenças, de acidentes ou da morte? Nesse caso, haverá dois prejudicados, ao invés de um, ou dois mortos, e não apenas um. Pior ainda: para as vítimas da culpa, a expiação duplica o dano e a infelicidade, pois a sua desgraça alimentará uma outra desgraça, seu dano provocará novos danos e sua morte acarretará outra morte.
Devemos ainda considerar outra coisa. A expiação é barata, como o pensamento mágico e a ação mágica. Dentro dessa ótica, a salvação de outros acontece somente através do próprio sofrimento, bastando o próprio infortúnio para a sua salvação. Somente o sofrimento e a morte devem bastar, sem que o relacionamento seja visto, sem que o outro seja visto, sem que a dor pela sua infelicidade seja sentida e sem o seu consentimento e sua benção para o que deve ser feito.
Na expiação, retribui-se também com a mesma moeda. Também aqui a ação é substituída pelo sofrimento, a vida pela morte e a culpa pela expiação, como se somente o sofrimento e a morte bastassem, dispensando dessa forma a ação e trabalho. Assim, quando as frases: "Antes eu do que você" e "Eu sigo você" são consumadas, a desgraça, o sofrimento e a morte aumentam, o mesmo ocorrendo com a expiação realizada.
Um filho cuja mãe faleceu no parto sente-se permanentemente culpado diante dela, porque ela pagou pela vida dele com a própria morte. Se o filho tenta expiar por essa culpa vivendo mal, recusando-se a tomar a vida também pelo preço da morte da mãe ou se suicidando, como expiação, a desgraça da mãe é duplamente grave. O filho não toma a vida que a mãe lhe deu, e seu amor e sua disposição de lhe dar tudo não são respeitados. Sendo assim, a sua morte foi em vão, pior ainda, em vez de vida e felicidade trouxe uma nova desgraça pois, ao invés de uma morte, aconteceram duas.
Se quisermos ajudar um filho nessa situação, devemos estar cientes de que, além do desejo de expiação, ele tem também outro desejo: "Antes eu do que você" ou "Eu sigo você". Assim, só poderemos lidar positivamente com o desejo nefasto de expiação, curando-o, se conseguirmos também a solução positiva com essas duas frases.
Qual seria a solução apropriada para esse filho e para a sua mãe? Ele precisa dizer: "Querida mamãe, já que você pagou um preço tão alto pela minha vida, que isso não tenha sido em vão. Eu farei algo da minha vida, em sua memória e em sua homenagem."
Nesse caso, então, o filho precisa agir, produzir e viver, em vez de sofrer, fracassar e morrer. Agindo assim, a criança ficará muito mais estreitamente ligada à mãe do que seguindo-a no sofrimento e na morte.
Quando o filho desaparece, em simbiose com a mãe, está ligado a ela de modo cego e inconsciente. Quando porém, em memória da mãe e da sua morte, realiza algo proveitoso, quando toma sua vida, passando-a adiante para outros, liga-se à mãe de modo totalmente diferente e vê-se amando, na presença dela: Pois, quando toma e realiza sua vida de modo tão ativo, vê a mãe diante dos olhos e a leva no coração. Desse modo, a benção e a força fluem da mãe para o filho, pois ele faz de sua vida algo de especial.
Em oposição à compensação através da expiação, que é apenas uma compensação pela fatalidade, pelo sofrimento e pela morte, essa seria uma compensação pelo bem. Diversamente da compensação pela expiação, que é um recurso barato, que tira e prejudica sem reconciliar, a compensação pelo bem é muito cara. Porém traz benção, atuando de uma forma que leva a mãe e o filho a se reconciliarem com seus destinos. Pois o bem que esse filho realiza em memória de sua mãe acontece através dela. Através do filho ela participa desse bem e assim continua a viver e a atuar.
Essa compensação segue a compreensão de que nossa vida é única e que, à medida que passa, cria espaço para os próximos e que, apesar de já ter passado, nutre a vida presente.
Através da expiação, evitamos expor-nos ao relacionamento, pois através dela tratamos a culpa como uma coisa, pagando por um dano com algo que também nos custa. Porém, o que uma expiação consegue quando tratei injustamente um ser humano, causei sua infelicidade, danos irreversíveis ao seu corpo, sua alma e sua vida? Buscar alívio pela expiação, prejudicando a mim mesmo, é algo que só posso fazer quando perco de vista a outra pessoa. Pois, quando a tenho diante dos olhos, preciso reconhecer que pretendo anular pela expiação algo que precisa ser feito.
Isso deve igualmente ser considerado no caso de uma culpa que envolve responsabilidade pessoal. Frequentemente, para expiar por um aborto ou pela perda de um filho, uma mãe contrai uma doença grave ou termina o relacionamento com o pai da criança, renunciando a um novo relacionamento. A expiação por uma culpa pessoal também se realiza de forma inconsciente, mesmo que seja conscientemente negada ou explicada.
Algumas vezes, junto com a necessidade de expiação, as mães sentem o desejo de seguir a criança morta, da mesma forma como um filho deseja seguir a mãe morta. Mas uma criança que morreu por culpa da mãe também pode estar dizendo: "Antes eu do que você." Nesse caso, se a mãe adoece e morre como expiação, a morte da criança, por amor à mãe, terá sido inútil.
Também no caso da culpa pessoal, a solução é substituir a expiação por uma ação reconciliadora. Isso acontece quando se olha nos olhos a pessoa a quem se fez algo injusto ou de quem se exigiu algo de mau - por exemplo, quando a mãe olha nos olhos de uma criança abortada ou o pai olha sua criança negada ou abandonada, e diz: "Eu sinto muito" e "Agora eu lhe dou um lugar no meu coração" e "Eu reparo isso, na medida em que posso repará-lo." e "Você terá parte no bem que eu fizer em sua memória e com você diante dos meus olhos." Desse modo, a culpa não terá sido em vão, pois o bem que a mãe - ou seja lá quem for - realiza em memória dessa criança, acontece com a criança e através dela. Ela participa do bem e permanece por algum tempo conectada com a mãe e suas ações.
Devemos considerar algo mais em relação à culpa: ela passa e precisa passar. Na Terra, a culpa é transitória. Como tudo nela, também passa, depois de algum tempo.
Muitas vezes a culpa e a expiação também são assumidas na família ou no clã. Um filho ou um parceiro também pode dizer: "Antes eu do que você", assumindo a culpa e as suas consequências, quando outros se recusam a isso.
Num grupo, uma mãe relatou que se recusara a acolher a sua mãe idosa, colocando-a em um asilo. Na mesma semana uma de suas filhas ficou anoréxica, vestiu-se de preto e passou a visitar um asilo, duas vezes por semana, para cuidar de pessoas idosas. Mas ninguém, nem sequer a própria filha, viu essa conexão.
Uma outra postura que leva a doenças graves é a recusa da criança em tomar amorosamente seus pais e em honrá-los como seus pais. Há doentes de câncer, por exemplo, que preferem morrer a se curvar diante de sua mãe ou de seu pai.
Honrar os pais significa tomá-los e amá-los como eles são, e honrar a vida significa tomá-la e amá-la como ela é: com início e fim, saúde e doença, inocência e culpa. Isso, porém, constitui propriamente o ato religioso, denominado, antigamente, devoção e adoração. Nós o experimentamos como o despojamento extremo, que tudo toma e tudo dá - com amor.
Vou ilustrar isso com uma história. Poderia chamar-se: "Dois tipos de felicidade", mas aqui recebe outro nome:
Um monge que andava buscando
pediu a um mercador uma esmola.
O mercador se deteve por um momento e
ao dar-lhe o que pedia, perguntou ao monge:
"Como é possível que você me peça
o que lhe falta para viver
e, no entanto, precise menosprezar
a mim e ao meu modo de vida,
que lhe proporcionamos isso?"
O monge lhe respondeu:
"Em comparação com o Último
que busco
tudo o mais me parece pequeno".
Mas o mercador perguntou ainda:
"Se existe um Último,
como pode haver algo
que alguém possa buscar ou encontrar
como se estivesse no fim de um caminho?
Como poderia alguém sair ao seu encontro
e apossar-se dele,
como se fosse uma coisa entre outras muitas,
mais do que muitos outros?
E inversamente, como poderia alguém
afastar-se desse Último,
ser menos conduzido por ele
ou estar menos a seu serviço
do que as outras pessoas?"
O monge retrucou:
"Encontra o Último
quem renuncia ao próximo e ao presente".
Mas o mercador ainda ponderou:
"Se existe o Último
ele está perto de cada um,
mesmo que esteja oculto
no que nos aparece e no que permanece,
assim como em cada ser se oculta um não-ser
e, em cada agora, um antes e um depois.
Comparado ao ser,
que experimentamos como fugaz e limitado,
o não-ser nos parece infinito,
como o de onde e o para onde,
comparados ao agora.
Porém o não-ser se revela a nós
no ser,
assim como o de onde e o para onde
se revelam no agora.
O não-ser, como a noite
e como a morte,
é um começo desconhecido
e só por um breve instante,
como um raio,
nos abre o seu olho
no ser.
Assim também, o Último
só se aproxima de nós
no que está perto e brilha
agora."
Então o monge perguntou, por sua vez:
"Se fosse verdade o que você diz,
o que nos restaria ainda,
a mim e a você?"
O mercador respondeu:
"Ainda nos restaria, por algum tempo,
a Terra".
Um guia para o trabalho com Constelações Familiares 424 p., 2004, Editora Cultrix
Dokumentation eines Kurses für Kranke, begleitende
352 Seiten, 3. Auflage 1998 (vergriffen)
Was in Familien krank macht und heilt
288 Seiten, 197 Abb. 2. Auflage 2001
Wo Schicksal wirkt und Demut heilt
320 Seiten, 165 Abb. 2. Auflage 2001
Constelações Familiares com doentes de câncer 215 p., 2006, Editora Cultrix
Bewegungen der Seele bei Krebs. Hrsg. Michaela Kaden 193 Seiten, 111 Abb. 2001 Carl-Auer-Systeme Verlag (vergriffen)
Ein Kurs für Psychose-Patienten 230 Seiten, 187 Abb. 2001 Carl-Auer-Systeme Verlag
Um curso para pessoas com distúrbios de fala e seus ajudantes 146 p., 2007, Editora Atman Ltda.
Familien-Stellen mit Opfem von Trauma, Schicksal und Schuld
255 Seiten, 186 Abb. 2000 Carl-Auer-Systeme Verlag
Familien-Stellen mit Opfem von Trauma, Schicksal und Schuld
Wo Schicksal wirkt und Demut heilt.
Kurs für Kranke, begleitende Psychotherapeuten und Ârzte
3 Videos 10 Stunden (vergriffen)
Wo Schicksal wirkt und Demut heilt
Ein Kurs für Kranke 3 Videos 9 Stunden, 30 Minuten
Bert Hellinger arbeitet mit Krebskranken
Ein Kurs für Psychose-Patienten
Ein Kurs für Psychose-Patienten in Mallorca
4 Videos, 8 Stunden, 46 Minuten. Deutsch/Spanisch
Ein Kurs für Sprechgestórte und ihre Helfer
Familien-Stellen mit Opfern von Trauma, Schicksal und Schuld