Índice Superior Vai para o próximo: Capítulo 4
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Este capítulo oferece uma visão geral do desenvolvimento de minhas compreensões relativas às diferentes consciências, resumindo-as.
Mostrou-se que as Constelações familiares, enquanto se movimentam na esfera da consciência pessoal e coletiva, chegam a limites que impedem uma solução abrangente que inclui também a esfera do espírito. Somente as Constelações espirituais, que se movimentam em sintonia com essa consciência, encontram soluções que superam os nossos limites impostos pelas outras consciências e abrem o caminho do amor em nossos relacionamentos, em um sentido amplo.
A esta visão geral acrescento algumas reflexões que ajudam a entrar na postura interna de que necessitamos para as Constelações familiares espirituais. São meditações, nas quais experimentamos ser carregados e conduzidos, cada um de sua maneira, a estar em sintonia com um movimento do espírito que nos prepara e nos equipa para tais constelações.
As diferentes consciências são campos espirituais.
A primeira delas, a consciência pessoal, é estreita e tem o seu alcance limitado. Pois, através de sua diferenciação entre o bom e o mau só reconhece para alguns o direito de pertencer, excluindo outros.
A segunda, a consciência coletiva, é mais ampla, defendendo também os interesses daqueles que foram excluídos pela consciência pessoal. Por isso, está frequentemente em conflito com a consciência pessoal. Contudo, a consciência coletiva também tem um limite porque abrange somente os membros dos grupos que são governados por ela.
A terceira, a consciência espiritual, supera as limitações das outras duas consciências, limitações estas que surgem através da diferenciação entre bom e mau e da diferenciação entre pertencimento e exclusão.
Experimentamos a consciência pessoal como boa e má consciência. Nós nos sentimos bem quando temos boa consciência e mal quando temos má consciência.
O que acontece quando temos uma boa consciência? O que acontece, quando temos uma má consciência? O que precede à boa e à má consciência, para que a sintamos de tal forma?
Ao observarmos atentamente, quando é que temos uma boa consciência e quando uma má consciência, podemos perceber que ficamos com má consciência quando pensamos, sentimos e fazemos algo que não está em sintonia com as expectativas e as exigências das pessoas e grupos aos quais queremos pertencer e a que frequentemente também precisamos pertencer.
Isto significa que nossa consciência vela para que fiquemos conectados com essas pessoas e grupos. Percebe, de imediato, se nossos pensamentos, desejos e ações colocam em perigo nossa ligação e nosso pertencimento a eles. E quando a nossa consciência percebe que nos afastamos deles através de nossos pensamentos, sentimentos e ações, ela reage com o sentimento de medo de perdermos nossa ligação com essas pessoas e grupos. Sentimos esse medo como má consciência.
Por outro lado, quando pensamos, desejamos e agimos de uma forma que nos sintoniza com as expectativas e exigências dessas pessoas e grupos, sentimo-nos pertencentes e temos a certeza de podermos pertencer. O sentimento de termos assegurado o nosso direito de pertencer, sentimos como benéfico e bom. Não precisamos ficar preocupados de sermos cortados, de repente, por essas pessoas e grupos e nos experimentarmos sós e desprotegidos. Sentimos como boa consciência a sensação precisa de podermos pertencer.
A consciência pessoal nos liga, portanto, a pessoas e grupos que são importantes para o nosso bem-estar e nossa vida. Contudo, é uma consciência estreita, pois nos liga somente a determinadas pessoas e grupos, excluindo-nos simultaneamente de outros.
Esta consciência nos foi de suma importância quando crianças. As crianças fazem de tudo para pertencer, pois sem essa ligação e sem esse direito de pertencer estariam perdidas. A consciência pessoal assegura nossa sobrevivência junto às pessoas e grupos que nos são importantes. Por isso, a sua importância só pode ser altamente apreciada. Vemos isso também através do alto conceito que a consciência pessoal tem na nossa sociedade e cultura.
Neste contexto podemos observar que nosso conceito de bom e mau são distinções feitas pela consciência pessoal. Elas estabelecem em que medida algo assegura o nosso direito de pertencer e em que medida isso o coloca em perigo.
O que assegura o nosso direito de pertencer experimentamos como bom. Experimentamos como bom através da boa consciência, sem a necessidade de muita reflexão; mas se olharmos para isso a certa distância, não saberemos se é realmente bom para nós ou até ruim para outros. Aqui o denominado bom é somente sentido. E é sentido como algo bom.
Portanto, o bom é sentido como bom e defendido com bom, irrefletidamente. Para um observador fora desse campo espiritual isso pode parecer algo estranho, algo que coloca a vida de muitos mais em perigo do que a seu serviço.
Evidentemente que o mesmo é válido para o mau. Contudo, sentimos o mau mais fortemente do que o bom, porque está ligado ao nosso medo de perder o direito de pertencer e igualmente o nosso direito de viver.
A diferenciação do bom e do mau serve, portanto, à sobrevivência dentro do próprio grupo. Serve à sobrevivência do indivíduo no seu grupo.
Por trás da consciência que sentimos atua ainda uma outra consciência. É uma consciência poderosa, e seus efeitos são muito mais fortes do que os da consciência pessoal. Entretanto, permanece amplamente inconsciente para nós. Por quê? Porque sentimos que a consciência pessoal tem precedência em relação a essa consciência coletiva.
A consciência coletiva é uma consciência grupal. Enquanto que a consciência pessoal é sentida por cada indivíduo e está a serviço do seu pertencimento e da sua sobrevivência pessoal, a consciência coletiva tem em seu campo de visão a família e o grupo como um todo. Está a serviço da sobrevivência do grupo inteiro, mesmo que para isso alguns precisem ser sacrificados. Está a serviço da completude desse grupo e das ordens que asseguram a sua sobrevivência, da melhor forma possível.
Quando o interesse de cada indivíduo se contrapõe ao interesse de seu grupo, a consciência pessoal também se contrapõe à consciência coletiva.
A consciência coletiva está a serviço de que ordens e como as impõe?
A primeira ordem, a qual essa consciência serve, é: todo membro de uma família tem o mesmo direito de pertencer. Se um membro for excluído, não importam quais sejam os motivos, mais tarde, um outro membro precisa representar a pessoa excluída.
A consciência coletiva se mostra, comparada à consciência pessoal como imoral, ou amoral. Isso significa que não diferencia entre bom e mau, tampouco entre culpado e inocente. Por outro lado, protege todos da mesma forma. Quer proteger o seu direito de pertencer ou restabelecê-lo, se isso lhe for negado.
O que acontece quando esse direito é negado a um membro familiar? De certa forma, ele é reconduzido ao grupo por essa consciência, na medida em que outro membro dentro da família precisa representá-lo, sem que esteja consciente disso.
Como essa volta se mostra? Um outro membro familiar assume o destino da pessoa excluída, representando-a. Ele pensa como essa pessoa excluída, tem sentimentos semelhantes, vive de forma semelhante, fica doente de forma semelhante, até mesmo morre de forma semelhante. Esse membro familiar está, dessa forma, a serviço da pessoa excluída e representa os seus direitos. É apossada, por assim dizer, pela pessoa excluída, entretanto, sem se perder a si mesmo. Quando a pessoa excluída recupera o seu lugar, esse membro familiar se libera dessa pessoa.
Não é que a pessoa excluída queira ser representada dessa forma, embora isso também aconteça algumas vezes, que ela deseje algo de mau para alguém da família. Em primeira instância, é essa consciência que atua e deseja a representação e o emaranhamento. Ela quer restabelecer a totalidade do grupo.
Aqui, existe o perigo de imaginarmos essa consciência como uma pessoa, como se ela tivesse metas pessoais e as seguisse após reflexões profundas. Essa consciência atua como um instinto, um instinto grupal que quer somente uma coisa: salvar e restabelecer a totalidade. Por isso é cega na escolha de seus meios.
Podemos reconhecer quais são as pessoas que são influenciadas e conduzidas pela consciência coletiva, quando percebemos se são atraídas ou não para representar membros familiares excluídos. Aqui precisamos considerar que ninguém perde o seu direito de pertencer através de sua morte. Isto significa que os membros familiares mortos da família são tratados pela consciência coletiva da mesma forma que os vivos. Ninguém é separado de sua família através de sua morte. Ela abrange igualmente seus membros familiares vivos e mortos. Esta consciência também traz de volta os membros mortos para a família, se foram excluídos. Sim; principalmente esses. Portanto, uma pessoa perde a sua vida através de sua morte, mas nunca o seu pertencimento à família.
Agora está na hora de enumerar quem pertence ao sistema familiar que é conduzido por uma consciência coletiva comum. Vou começar com os que nos estão mais próximos. Aos membros familiares que estão sujeitos a essa consciência, pertencem:
1. Os filhos. Portanto, nós mesmos e nossos irmãos e irmãs. Não somente os que vivem, mas também os natimortos, os abortados e frequentemente também os abortos espontâneos. Justamente aqui existe muitas vezes a idéia de que podemos excluí-los. E é claro que pertencem também à família os filhos que foram ocultados ou dados.
Para a consciência coletiva todos eles fazem parte completamente, são lembrados por ela e trazidos de volta à família, são trazidos de volta cegamente, sem levar em consideração justificativas e desejos.
2. O nível acima dos filhos. A este nível fazem parte os pais e seus irmãos biológicos. Aqui também todos os irmãos e irmãs deles, como eu já enumerei antes para os filhos.
Também os parceiros anteriores dos pais fazem parte. Se são rejeitados e excluídos, mesmo que estejam mortos, são representados por um dos filhos, até que sejam lembrados e trazidos de volta à família, com amor.
Agora gostaria de interromper a enumeração e falar como os excluídos podem ser trazidos de volta. Só o amor é capaz disso.
Que amor? O amor preenchido. Ele é sentido como dedicação ao outro, como ele é. Ele é também sentido como luto pela perda. É sentido especialmente como dor por aquilo que porventura fizemos de mal para o outro.
Sentimos também se esse amor alcança o outro, se o reconcilia, se o deixa em paz, se ele assume o seu lugar, permanecendo nele. Então essa consciência coletiva também encontra a paz.
Aqui nós vemos que essa consciência está a serviço do amor, a serviço do mesmo amor por todos que fazem parte dessa família.
Agora vou continuar com a enumeração de quem pertence à família, porque eles também são abrangidos e protegidos por essa consciência.
3. No próximo nível acima dos pais pertencem os avós, mas sem seus irmãos, a não ser que tenham tido um destino especial. Os parceiros anteriores dos avós também fazem parte.
4. Bisavós. Um ou outro dos bisavós também pode fazer parte, mas isso é raro.
Até agora, enumerei sobretudo os parentes consanguíneos, e ainda os parceiros anteriores dos pais e dos avós.
5. Aqueles com que através de sua morte ou destino, a família teve vantagem. Além dos parentes consanguíneos e parceiros anteriores, também fazem parte de nossa família aqueles com que, através de sua morte ou destino, a família teve uma vantagem; por exemplo, através de uma herança considerável. Também fazem parte aqueles com que à custa de sua saúde e vida, a família enriqueceu.
6. Vítimas. Aqueles que foram vítimas de atos violentos através de membros de nossa família tornam-se parte dela, especialmente aqueles que foram assassinados. A família precisa olhar também para eles, com amor e dor.
7. Agressores. Por último, algo que para alguns pode ser um desafio. Quando membros de nossa família são vítimas de crimes, especialmente se perdem a vida, os assassinos passam a fazer parte de nossa família. Se foram excluídos ou rejeitados, a consciência coletiva pressionará para que sejam representados, mais tarde, por membros de nossa família.
Talvez eu deva aqui chamar a atenção de que tanto os assassinos se sentem atraídos para suas vítimas como também as vítimas para seus assassinos. Ambos se sentem totalmente inteiros quando se encontram. A consciência coletiva também não faz diferenciações aqui.
Antes de continuar, quero dizer algo sobre as leis do equilíbrio e como elas atuam nessas duas consciências. A necessidade do equilíbrio entre o dar e tomar e entre o ganho e a perda é também um movimento da consciência.
A consciência pessoal que sentimos como boa e má consciência e como culpa e inocência vela sobre o equilíbrio entre o dar e tomar, portanto também com sentimentos de culpa e inocência e com o sentimento de uma boa e má consciência. Entretanto, aqui sentimos a culpa e a inocência de um forma diferente.
A culpa é sentida aqui como obrigação, quando recebo algo ou tomo algo, sem dar de volta algo equivalente. A inocência aqui é sentida como estar livre de uma obrigação. Temos esse sentimento de inocência e liberdade quando tomamos e também damos, de uma forma que o dar e tomar fique equilibrado.
Aqui devo ainda acrescentar que podemos alcançar o equilíbrio também de uma outra forma. Como não podemos devolver com algo equivalente, por exemplo, aos nossos pais, passamos adiante algo equivalente aos nossos filhos ou para outras pessoas.
Nós também equilibramos através do sofrimento. Isso também é um movimento da consciência. Se causamos sofrimento a alguém, também queremos sofrer para equilibrar e, depois do sofrimento, temos novamente uma boa consciência.
Essa forma de equilíbrio conhecemos como expiação. Entretanto, esta necessidade tem como referência a si mesmo, porque não pode realmente dar qualquer coisa para o outro e restaurar o equilíbrio. Contudo, através dessa expiação, o outro frequentemente não se sente mais sozinho em seu sofrimento.
Este tipo de equilíbrio tem pouco ou nada a ver com o amor. É, antes de mais nada, instintivo e cego.
Temos a necessidade do equilíbrio quando alguém nos fez algo de mau. Então queremos também fazer algo de mau a ele. Esta necessidade de equilíbrio se torna uma necessidade de vingança. Entretanto, a vingança equilibra apenas por um momento, porque desperta em todos os envolvidos outras necessidades de vingança, prejudicando-os no final.
Dentro da consciência coletiva também existe o movimento de equilíbrio, entretanto, está amplamente oculto de nossa consciência. Pois, quem precisa representar uma pessoa excluída não sabe que está compensando.
O equilíbrio aqui é o movimento de um todo superior que equipara impessoalmente, pois aqueles que são atraídos para compensar são inocentes, no sentido da consciência pessoal.
Podemos comparar esta forma de equilíbrio a um processo de cura. Algo que foi ferido é restabelecido sob a influência de poderes superiores. A consciência coletiva quer reintroduzir algo que foi perdido e, dessa forma, trazer novamente a ordem ao sistema familiar e curá-lo.
Volto a falar das ordens da consciência coletiva e direi algo sobre a segunda ordem, que está a serviço da consciência e que tenta restaurá-la, quando foi ferida.
Essa ordem requer que cada indivíduo de um grupo deve e precisa assumir o lugar que lhe pertence, de acordo com a sua idade. Isso significa que aqueles que vieram antes têm precedência em relação aos que vieram mais tarde. Por isso, os pais têm precedência em relação aos filhos, e o primeiro filho tem precedência em relação ao segundo. Cada membro do grupo tem um lugar próprio e particular, que pertence somente a ele. No decorrer do tempo ele se desloca dentro da hierarquia, de baixo para cima, até que cria sua própria família e nela assume imediatamente, com seu parceiro, o primeiro lugar.
Aqui se impõe uma outra ordem de hierarquia, uma hierarquia entre as famílias, por exemplo, entre a família de origem e a nova família. Aqui a nova família tem prioridade perante a antiga.
Esta ordem também é válida quando um dos pais inicia, durante o casamento, um relacionamento com um outro parceiro do qual nasce uma criança. Com isso, ele cria uma nova família que tem prioridade em relação à primeira.
A família posterior não anula o vínculo com a anterior, assim como a família nova não anula o vínculo com a família de origem. Contudo, ela tem prioridade em relação à anterior.
A hierarquia é violada quando alguém que veio mais tarde quer assumir uma posição superior àquela que lhe cabe, de acordo com a ordem hierárquica. Essa violação da ordem hierárquica é, na verdade, como se sabe, um orgulho que precede a queda.
As violações mais frequentes da hierarquia observamos nas crianças. Em primeiro lugar, quando se colocam acima de seus pais. Por exemplo, quando se sentem melhores do que eles e se comportam de forma correspondente. Isso é uma violação da hierarquia sem amor.
Essa hierarquia é principalmente violada quando a criança quer assumir algo pelos pais. Por exemplo, quando ficam doentes no lugar deles e querem morrer. Nesse caso, a hierarquia é violada com amor. Entretanto, esse amor não protege a criança das consequências da transgressão da ordem.
O que existe de trágico nisso é que a criança transgride a ordem de boa consciência. Isso significa que, sob a influência da consciência pessoal, a criança se sente especialmente inocente e boa através dessa transgressão. E que também se sente pertencente, de uma forma especial.
Portanto, aqui as duas consciências se opõem. A hierarquia, que impõe e protege a consciência coletiva, é violada em sintonia com a consciência pessoal. Nesse sentido ela é conscienciosa. Aqui a consciência pessoal impele alguém a transgredir essa ordem e sofrer as consequências dessa transgressão.
Quais são as consequências dessa transgressão? A primeira é o fracasso. A pessoa que se coloca acima dos pais, seja sem amor ou com amor, fracassa. Isso é válido não somente dentro da família, mas também em outros grupos, por exemplo, em organizações.
Muitas organizações fracassam através de conflitos internos, nos quais uma pessoa que é admitida depois ou um departamento que é criado posteriormente se eleva, dentro da hierarquia, em relação a um anterior, que tem precedência.
Na verdade, o fracasso, como consequência da violação da hierarquia, é a morte. O herói trágico quer assumir algo por aqueles que o precedem. Contudo, ele não apenas fracassa, ele morre.
Vemos algo semelhante com as crianças que carregam e querem assumir algo pelos pais. Elas lhes dizem internamente: "Antes eu do que você." O que realmente está contido nisso? No final, isso significa: "Eu morro em seu lugar."
A hierarquia é a ordem da paz. Ela está a serviço da paz na família e no grupo. Está, no final, a serviço do amor e da vida.
Até que ponto para trás a consciência coletiva alcança? Somente os mortos que conhecemos fazem parte? Ou essa consciência quer trazer de volta também os excluídos de muitas gerações anteriores? Talvez até nós, como éramos em uma vida anterior? Talvez até esteja a serviço de um movimento cósmico para o qual nada pode ficar perdido, nada que tenha existido? Nós também violamos essa hierarquia através de nossa crença de progresso, como se fôssemos melhores do que nossos antepassados? Como se fôssemos superiores a eles?
O que acontece conosco se nos colocarmos internamente no nosso lugar adequado, humildemente no último lugar?
Se incluirmos aqui e agora todos aqueles que foram excluídos, não importam quais tenham sido os motivos, e aqueles que tiveram que morrer antes de ter cumprido o seu tempo total e aquilo que ainda lhes falta, então nós também estaremos completos com eles.
Em relação a isso, Rilke diz num poema:
Existe alguém que toma tudo em sua mão,
como se fossem lâminas ruins e quebram.
Não é nenhum estranho, pois ele mora no sangue,
que é a nossa vida e sussurra e descansa.
Não posso acreditar que ele faça mal;
contudo, ouço muitos falarem mal dele.
Quando alguém quer entender e solucionar um problema pessoal com a ajuda das Constelações familiares, ou um problema de relacionamento com um parceiro ou na família ou com uma criança, vemos imediatamente qual é a consciência que está mais envolvida, criando e mantendo o problema e percebemos o que esse problema exige do indivíduo e de sua família, para que haja uma solução. Dessa maneira, precisamos ver as diferentes consciências unidas umas às outras, pois todas estão a serviço de nossos relacionamentos. Elas trabalham juntas, uma após a outra, e se complementam, de forma que precisamos ver que um problema e a sua solução estão relacionados a mais de uma consciência e, no final, a todas elas.
Por exemplo, se alguém pede a nossa ajuda, podemos reconhecer imediatamente quais consciências estão envolvidas no seu problema e de que forma, e quais soluções estão disponíveis.
Inversamente, se um ajudante tem um problema com um cliente, ele pode se perguntar quais as consciências relativas a ele que estão envolvidas nesse problema, e o que elas também lhe oferecem como solução.
Em primeiro lugar, observo aqui as Constelações familiares partindo do fim do caminho percorrido por elas, portanto, do ponto de vista da consciência espiritual. Em retrospectiva ao caminho percorrido até agora, reconhecemos de forma mais clara o significado das outras duas consciências. Reconhecemos também onde é que chegam aos seus limites. A consciência espiritual nos conduz para além desses limites.
O que distingue, essencialmente, as diferentes consciências? O que lhes impõe limites? É o alcance de seu amor.
A consciência pessoal está a serviço do vínculo a um grupo limitado. Exclui outros que não pertencem a esse grupo. Não somente une, também separa. Não somente ama, também rejeita. A consciência coletiva vai além da consciência pessoal, pois também ama aqueles que foram rejeitados e excluídos dentro da família e dentro de grupos similares pela consciência pessoal. A consciência coletiva quer trazer de volta os excluídos, para que possam fazer parte novamente de suas famílias e grupos. Por isso, o seu amor vai além. Não exclui ninguém.
Contudo, em seu campo de visão não tem tanto o bem-estar de cada um. Senão, não poderia obrigar um inocente, que não estava envolvido na exclusão, a representar um excluído, embora com isso lhe imponha algo pesado. Aqui se mostra que essa consciência não é pessoal, mas coletiva, que deseja principalmente a completude e a ordem em um grupo.
Os movimentos do espírito, ao contrário, dedicam-se igualmente a todos. Quem entra em sintonia com os movimentos do espírito não pode fazer de outra forma, a não ser se dedicar igualmente a todos com benevolência e amor, não importando qual seja o seu destino. Este amor não conhece fronteiras. Supera as diferenciações entre o "melhor" ou o "pior" e entre o "bom" e o "mau". Por isso, esta consciência transcende os limites da consciência pessoal e os limites da consciência coletiva. Está dedicada de forma igual a cada um e a todos em sua família e nos outros grupos dos quais faz parte.
A consciência espiritual vela sobre esse amor, quando nos afastamos dela.
O que isso significa para as Constelações familiares? Como esse amor se mostra nas Constelações familiares?
Em primeiro lugar, chamo a atenção para o fato de que os movimentos do espírito nas Constelações familiares se manifestam de uma forma expressiva. Eles são experimentados e se tornam visíveis através dos representantes e para aqueles que observam esses movimentos. Isso significa que os movimentos do espírito são percebidos, em primeiro lugar pelos representantes e, através deles, por aqueles que observam esses movimentos, sendo talvez atraídos e apanhados por eles também.
Por isso, o procedimento das Constelações familiares espirituais é outro, diferente daquele que muitas pessoas associam às Constelações familiares. Aqui não se coloca mais a família de forma que alguém escolhe de um grupo representantes para os diversos membros de sua família e, depois, coloca-os num espaço, uns em relação aos outros. Aqui se coloca por exemplo, o cliente ou um representante para ele, e talvez ainda uma segunda pessoa, por exemplo, seu parceiro. Contudo, não que este seja colocado no sentido habitual de um em relação ao outro, mas apenas colocado em frente ao outro a uma certa distância. Aqui não existem instruções ou intenções. O cliente ou seu representante e as outras pessoas são simplesmente colocadas.
De repente, são apanhados por um movimento sem que possam conduzi-lo ou resistir a ele. Esse movimento vem de fora, embora seja vivenciado como se viesse de dentro. Isso significa que experimentam estar em sintonia com uma força que vem de fora e que coloca algo em movimento através deles. Mas, isso acontece somente se ficarem centrados, sem intenções próprias e sem medo daquilo que talvez se mostre. Tão logo entrem em jogo as próprias intenções, por exemplo, a intenção de ajudar ou o medo daquilo que possa vir à luz e para onde isso talvez vá conduzir, a conexão com os movimentos do espírito é perdida. Também o centramento dos observadores se perde. Por exemplo, ficam inquietos.
Após um certo tempo, através dos movimentos dos representantes se revela se é necessário ainda acrescentar ou não outra pessoa. Por exemplo, quando um deles olha para o chão, isso significa que está olhando para uma pessoa morta. Então se escolhe um representante, e ele é solicitado a se deitar no chão de costas, em frente ao outro. Ou quando um representante olha fixamente numa direção, coloca-se alguém em frente a ele, para onde está olhando.
Os movimentos dos representantes são bem lentos. Quando um representante se movimenta depressa, está sendo movido por uma intenção e não está mais em sintonia com os movimentos do espírito. Ele não está mais centrado e não é mais confiável, e precisamos substituí-lo por um outro representante.
Sobretudo o ajudante precisa abster-se de suas intenções e interpretações. Ele também se entrega aos movimentos do espírito, agindo somente quando sente claramente que está sendo movido para um próximo passo ou uma frase, que ele mesmo diz ou pede para um representante dizer.
Além disso, através dos movimentos dos representantes, recebe continuamente indicações sobre o que está acontecendo dentro deles e para onde os seus movimentos conduzem ou devem conduzir.
Por exemplo, quando um representante se afasta do representante de uma pessoa morta que está deitada à sua frente ou quer se virar, o ajudante interfere, depois de um certo tempo e o conduz de volta. Contudo, não de uma forma que, ao seguir esse procedimento, o ajudante deva deixar tudo ao critério dos movimentos dos representantes. Ele está, como eles, a serviço dos movimentos do espírito e os segue, muitas vezes irresistivelmente, quando interfere de uma determinada forma ou diz algo.
No final, para onde conduzem esses movimentos do espírito? Eles unem o que antes estava separado. Eles são sempre movimentos do amor.
Esses movimentos não precisam ser levados sempre até o fim. É o suficiente quando fica visível para onde conduzem. Por isso, essas constelações muitas vezes permanecem incompletas e abertas. É o suficiente que tenham entrado em movimento. Nós podemos confiar que continuarão. Esses movimentos não mostram simplesmente uma solução para um determinado problema. Eles já são os movimentos decisivos no processo de cura e precisam também do seu tempo para se desdobrar. São o início de um movimento de cura.
As Constelações familiares, em sintonia com os movimentos do espírito, pressupõem que o ajudante, sobretudo o ajudante também permaneça em sintonia com esses movimentos. Isto é, que em primeiro lugar permaneça dedicado a todos com o mesmo amor, para além dos limites da diferenciação entre o bom e o mau. Ele só pode fazer isso se tiver aprendido a prestar atenção aos movimentos do espírito dentro de si, de modo que todo desvio do amor será percebido imediatamente. Por exemplo, quando quer internamente atribuir a culpa a um acontecimento ou quando tem pena de uma pessoa por aquilo que ela precisa sofrer, experimentamos continuamente os desvios desse amor. Mas, quando tivermos aprendido a prestar atenção aos movimentos da consciência espiritual e nos submetermos à sua disciplina, podemos ser reconduzidos novamente à sintonia com o seu movimento de amor por tudo aquilo, assim como é.
Os limites mais estreitos contra o amor são traçados pela consciência pessoal. Pois as nossas diferenciações usuais entre o direito de pertencer ou a perda do direito de pertencer são determinadas e aprovadas por essa consciência.
É evidente que essa diferenciação tem um significado importante para a nossa sobrevivência, não podendo ser substituída por nada, dentro de determinados limites.
Esta consciência coloca seus limites principalmente em relação às crianças. Para elas, a realização das formas de pensamento e comportamento, exigidas por esta consciência, é importante para a sua sobrevivência, inclusive a desconfiança em relação àqueles que seguem uma outra consciência pessoal, porque estão ligadas a um outro grupo, rejeitando-os e lutando contra eles.
Ela, como uma boa consciência, por um lado, possibilita e assegura a sobrevivência; por outro lado, coloca-a em perigo logo que o nosso grupo entra em conflito com outros, estabelecendo disputas mortais com eles.
Na consciência pessoal também reside a necessidade do equilíbrio. Essa necessidade é um movimento da consciência, pois temos uma boa consciência, quando damos de volta algo equivalente àqueles que nos deram algo, de forma que exista um equilíbrio entre o dar e o tomar. Temos também a mesma boa consciência quando, não podendo dar de volta algo equivalente, transmitimos a outros algo equivalente.
Em conformidade com isso, temos uma má consciência quando recebemos sem dar algo equivalente ou quando fazemos exigências que não nos competem.
Aqui também a consciência pessoal tem uma tarefa fundamental a serviço de nossas relações. Sim, esta necessidade é que torna isso possível, ela também está a serviço de nossa sobrevivência, entretanto apenas dentro de determinados limites.
Em sua função de equilíbrio, a consciência pessoal, de modo semelhante à sua função de nos ligar à nossa família, serve tanto à vida e à sobrevivência como também ao oposto, quando determinados limites forem transgredidos. Aqui leva também à morte.
Com referência ao vínculo, a consciência pessoal leva à separação de grupos gerando conflitos graves, inclusive a guerra.
Com referência à necessidade do equilíbrio relativo ao prejuízo e ofensa mútuos, ela pode chegar até a vingança mortal, por exemplo, à vingança pelo sangue.
A necessidade de expiação segue a mesma direção quando, para expiar pelo sofrimento e prejuízo que causamos a outros, também nos infligimos um sofrimento, nos limitamos e nos prejudicamos.
Às vezes, nós expiamos no lugar de outro. Por exemplo, quando uma criança expia pelos pais, mas também quando a mãe ou o pai espera que a criança expie por eles. Por exemplo, quando fica doente ou morre no lugar deles, como podemos observar muitas vezes nas Constelações familiares. Entretanto, isso acontece de forma inconsciente, de ambos os lados, pois aqui a consciência coletiva também tem um papel importante.
Contudo, sempre se trata de um equilíbrio que se opõe à vida, que a prejudica ou até mesmo a sacrifica - de boa consciência ou com o sentimento de inocência.
A que precisamos prestar atenção nas Constelações familiares, para que fiquemos dentro dos limites da consciência pessoal que está a serviço da vida? Precisamos ter deixado para trás os limites da diferenciação entre o bom e o mau. Se nas Constelações familiares permanecermos na esfera da consciência pessoal, por exemplo, quando junto com o cliente rejeitamos outros, estaremos a serviço da vida de uma forma limitada. Então, como essa consciência estaremos a serviço, por um lado, da vida e, por outro, a serviço da morte.
O que devemos observar nas Constelações familiares em relação à consciência coletiva?
Em primeiro lugar, que não excluamos ninguém, seja na nossa família ou na família do cliente e que procuremos na família dele e na nossa, pelos excluídos, olhemos para eles com amor e os coloquemos, com amor, em nosso coração. Podemos fazer isso somente se tivermos deixado para trás a diferenciação entre o bom e o mau e se também colocarmos as nossas crianças não nascidas no nosso campo de visão, mesmo sendo difícil para nós. Aqui é necessário tanto a coragem como a clareza.
Em segundo lugar, que nós nos atenhamos à hierarquia. Isto é, que em primeiro lugar fiquemos conscientes de que através de nossa ajuda nos tornamos temporariamente um membro da família do cliente. Contudo, nós chegamos nessa família como o último e por isso temos o último lugar dentro dela.
O que acontece quando um ajudante se comporta como se tivesse o primeiro lugar, até mesmo antes e acima dos pais do cliente? Ele fracassa. O cliente também fracassa quando ele fere a hierarquia, e o ajudante talvez até o apoie nisso. Por exemplo, quando junto com o cliente, de uma ou outra forma, coloca-se contra os seus pais.
A violação da hierarquia algumas vezes também coloca a vida em perigo. Por exemplo, quando o cliente assumiu algo pelos pais, o que não lhe competia, de acordo com a hierarquia. Então, algumas vezes, diz para seus pais: "Eu, no lugar de vocês."
Também para o ajudante a violação contra a hierarquia pode ser perigosa. Por exemplo, quando ele se arroga a assumir algo pelo cliente, algo que ele precisa carregar sozinho. Então se coloca acima do cliente, como talvez tenha tentado fazer quando criança, em relação aos seus próprios pais. Mas, principalmente, quando o ajudante se arroga a que pode mudar o destino de um cliente ou protegê-lo dele. Somente dentro da hierarquia o ajudante permanece em sua força, e o cliente encontra a solução que lhe é adequada, aqui em sentido duplo.
Com referência à consciência coletiva só precisamos ficar dentro dos limites que ela nos coloca nas Constelações familiares, pois esses limites são amplos e abertos.
Nas Constelações familiares a consciência espiritual, através de seu amor por todos, nos conduz para além dos limites da consciência pessoal. Também nos protege para não desrespeitarmos os limites da consciência coletiva, pois ela está dedicada a todos da mesma forma. Presta especial atenção à hierarquia porque sabemos, quando seguimos os movimentos do espírito, que somos todos iguais e equivalentes, no mesmo nível, embaixo.
Nas Constelações familiares espirituais permanecemos sempre no amor, no amor total. Somente as Constelações familiares espirituais estão sempre, em todos os lugares e unicamente, a serviço da vida - do amor - e da paz.
Na noite de Natal, estava sentado diante da lareira, observando como as chamas consumiam a madeira, diminuindo cada vez mais até que se transformou em brasa. Sentado ali dessa maneira, deixando-me levar internamente por esse movimento original, algumas frases me vieram à mente.
Tudo se consome para algo a que está a serviço.
Cada um queima por si só.
Aquilo que queimou, ainda arde por muito tempo.
Antes de passar, às vezes, flameja mais uma vez.
Aquilo que queima transforma-se em cinzas e delas
surge algo novo.
A procura essencial, a mais profunda, é a nossa procura por compreensão, pelo conhecimento essencial que, no final, é a única coisa que importa. Apenas esse conhecimento permanece, apenas esse conhecimento une, apenas esse conhecimento é amor.
Nesta procura somos guiados. Uma força nos carrega para onde nunca poderíamos ir por conta própria. Para onde nos leva, no final? Ela nos guia para cima ou para baixo? Sempre para baixo, para o lugar onde estamos conectados a tudo, conectados com amor.
Apenas embaixo - juntos com muitos e todos, embaixo - olhamos para cima, olhamos para frente e, juntos, achamos o caminho para aquilo que nos transcende, infinitamente além de nós. Somente lá encontramos a paz sem a procura, pois somos levados, levados de forma segura, cientes de forma segura.
O que nos distrai dessa procura? Quando procuramos esse conhecimento e essa condução em outro lugar, quando procuramos por outras mãos que nos guiem, quando procuramos por um conhecimento passageiro.
Assim sendo, no final, estamos sozinhos nessa procura e nesse caminho, embora andemos juntos com muitos outros - sozinhos com essa força, com esse espírito, sem procurar por outro conhecimento e outra condução.
Essa procura e essa força nos levam a ações, a ações de amor, a ações que conectam muitas pessoas. Embora estejamos nesse amor, embora estejamos em todo o amor, permanecemos nele somente guiados, amplamente guiados, profundamente guiados, solitariamente guiados, plenamente guiados.
A procura e o encontro tornam-se uma unidade. O amor e o conhecimento tornam-se uma unidade. Aqui a alegria e o sofrimento formam uma unidade. Aqui o tomar e o deixar formam uma unidade - e aqui o início e o fim formam uma unidade, pois tudo permanece.
Ser benevolente com outros é um movimento de amor. Sentimos essa benevolência de diversas maneiras. Por um lado, de ser humano para ser humano, principalmente entre homem e mulher que desejam permanecer juntos por toda vida. A benevolência recíproca une-os de forma feliz.
Também podemos ser benevolentes com aqueles que permaneceram estranhos para nós. A benevolência supera o alheio, sem que tenhamos que transcender essa postura interna de benevolência, por exemplo, indo ao encontro dessas pessoas. A benevolência, por si só, já nos aproxima.
Aprendemos e exercitamos a benevolência de forma abrangente quando entramos em sintonia com os movimentos do espírito que movimenta tudo da maneira como é, que quer tudo da maneira como é, que pensa tudo da maneira como é. Esse espírito é voltado para tudo com benevolência, tal como ele pensa e movimenta.
Quando entramos em ressonância com esses movimentos, quando somos tocados e levados por eles, então também experimentamos, em nós mesmos, a dedicação a tudo como é, com benevolência por tudo.
Essa benevolência é a mesma que existe de ser humano para ser humano? Trata-se de uma benevolência espiritual, uma benevolência em sintonia com os movimentos do espírito.
Essa benevolência é, em primeiro lugar, a concordância com tudo da maneira como é, também com aquilo que causa medo em nós e em outras pessoas. Por isso é, no fundo, a concordância aos movimentos do espírito, da maneira como ele movimenta tudo. Então, essa concordância direciona-se, em primeiro lugar, para esse espírito, da maneira como ele movimenta tudo e, apenas em segundo lugar, em direção àquilo que ele movimenta. Independente do que o espírito movimentar, primeiro olhamos para ele e somente junto com o espírito olhamos para o que ele movimenta. Assim sendo, mantemos uma distância daquilo que ele move, uma distância que renuncia a qualquer intenção própria.
Portanto, a nossa benevolência permanece sem intenções. Deixa tudo e todos onde pertencem, movendo-se na direção para onde encontram e cumprem o seu destino. Ao mesmo tempo, permanecemos também no nosso devido lugar, onde nos movimentamos, onde nosso destino foi determinado e será cumprido, movimentado por esse espírito, da maneira como ele quer.
A expectativa cessa quando permanecemos no momento presente. Pois tudo que esperamos está além do momento presente. A expectativa nos impede de permanecermos neste instante - através da expectativa o perdemos. Perdemos principalmente o que o instante nos presenteia. Ele nos dá mais do que esperamos, pois o que o instante nos oferece nós possuímos de uma maneira segura.
Muitas expectativas são de alegria. Ao mesmo tempo são acompanhadas pelo medo de não se realizarem e da dúvida se serão realizadas da maneira como esperamos. Ambos, alegria e medo nos paralisam, impedem de nos abrirmos para aquilo que está por vir, exatamente da maneira como vem. A expectativa nos compromete com as nossas idéias daquilo que está por vir e para o qual nos preparamos.
Quando permanecemos no momento presente, temos aquilo que é possível agora. E o temos plenamente. Dessa maneira, estamos abertos a surpresas e para aquilo que devemos fazer em seguida. Somente no momento é que uma ou outra coisa se mostra. Somente no momento estamos abertos e preparados para ambos.
O que esperamos, então? Apenas pelo próximo instante. Somente ele nos leva adiante. Ele é aquilo que podemos esperar, com certeza. Esperar, como? De forma centrada e serena - preparados e prontos para ele.
O movimento criativo é sempre um movimento em direção a algo novo. Movimenta-se para frente. O amor também se movimenta para frente e a benevolência, também. A compreensão e o reconhecimento também se movimentam para frente.
Quando nos centramos, também é assim. Podemos apenas nos centrar para frente, em direção àquilo que vem a seguir, para aquilo que realmente vem a seguir, para aquilo que deve ser feito.
O que acontece, então, com o instante? Ele é o agora. Mas, também o agora está adiante de nós e, diante de nós, tanto em relação ao tempo quanto em relação àquilo que está vindo. Pois o que está por vir, vem agora. O agora está na nossa frente e direcionado para o que está vindo.
O que acontece com os nossos sonhos em relação ao futuro e as nossas idéias de como o futuro deve ser? Esse futuro está, de fato, na frente ou está atrás de nós? Pois em que essas idéias se orientam? Estão voltadas para frente de maneira criativa ou alimentam-se de algo passado, de expectativas passadas? Elas estão no caminho daquilo que é realmente criativo, porque nos confinam a algo que pode ter pouco futuro.
Somente o que vem a seguir é novo. Somente aquilo que está na nossa frente, a seguir, solicita-nos de forma criativa.
O que acontece, então, com o passado? O que acontece com aquilo que não foi concluído? O que acontece com aquilo que não deu certo? O que acontece com a culpa e suas consequências? O que acontece se permanecermos com o que já passou? Perdemos o novo, o criativo. Perdemos aquilo que nos leva adiante.
Quando realmente olhamos para frente e movimentamos para frente, aquilo que já passou vem junto. Mas, apenas quando deixamos ser passado, totalmente passado. Pois o próximo é o lugar onde também o passado quer chegar. Quer ir para frente.
O espiritual é sobretudo amplo e leve. Os movimentos do espírito também são leves, quando entramos em sintonia com eles. Liberam-nos daquilo que nos puxa para baixo, principalmente daquilo que nos leva para o nosso passado.
Para que passado? Somente para o nosso passado pessoal? Ou também para o passado dos nossos pais e nossos ancestrais? Talvez também para o passado de nossas vidas anteriores, como se esse passado não estivesse passado ainda? Ou também nos levam para o passado de todos os seres humanos e para o passado das pessoas com quem entramos num relacionamento, num relacionamento intenso e próximo ou, num relacionamento hostil e distante, que nos afasta de nós mesmos?
Os movimentos do espírito levam todo passado junto. Estão em sintonia com todo passado, da maneira como foi, também com o nosso. Porém, juntamente com todos os outros passados. Nos movimentos do espírito, todo passado é certo da maneira como foi. Nesses movimentos, todo passado é ao mesmo tempo inacabado, por continuar em movimento com eles. Nesse movimento - esta é a minha imagem - todo passado torna-se leve, pois continua em movimento. O passado torna-se leve também para nós, é permitido ser leve para nós.
Como se torna leve para nós? Se permanecermos no movimento do espírito, em um movimento que continua, que está sempre direcionado para frente.
Para onde, na frente? Para a sintonia com todos que são movimentados para frente, junto conosco. Movimentados para quê? Para a sintonia com o amor do espírito em relação a cada pessoa, da maneira como é, com o seu passado da maneira como foi e com sua realização, independente de como seja. Essa realização espiritual é leve, já agora, é leve. Por quê? Por ser amor, amor puro, já agora, o amor do espírito em tudo.
O que mais nos torna leves? O que foi grande em nosso passado, a grandeza do passado dos nossos pais e ancestrais, a grandeza do passado das nossas vidas anteriores e a grandeza do passado de toda humanidade. Também nos deixa leves a grandeza do passado das pessoas com quem temos um relacionamento, tanto um relacionamento intenso e próximo como um distante e hostil. Essa grandeza também é levada para o movimento do espírito, para o nosso futuro em comum e já agora nos deixa concluídos e leves em sua plenitude, em sintonia com o movimento do espírito.
Entramos em sintonia com um movimento direcionado para frente, contínuo. Portanto, nós também nos movimentamos para frente com ele, afastando-nos de algo que deixamos para trás, de algo que já passou. Nessa sintonia atingimos a calma, porém uma calma que está em movimento. Nós ficamos calmos, porque dentro desse movimento somos bem sucedidos em algo. Somos bem sucedidos por acompanharmos esse movimento, mais precisamente, por sermos levados por ele.
Nem sempre experimentamos essa sintonia, pois frequentemente aquilo para onde a sintonia nos leva causa-nos medo. Para permanecermos em sintonia, necessitamos de toda nossa coragem. A sintonia nos solicita uma total entrega e todo amor, o amor por tudo da maneira como é.
Na sintonia nós nos tornamos altruístas e totalmente puros. Na sintonia estamos unidos a tudo da maneira como é. Na sintonia tudo vem ao nosso encontro da maneira como é. Abre-se para nós e modifica-se para nós, por estarmos em sintonia com isso. Somente no momento em que entramos em sintonia com o movimento do espírito no outro também entramos em sintonia com o movimento do espírito em nós.
O que é isso? Tudo está aqui. Quando esteve aqui? O que está aqui agora, já esteve aqui alguma vez antes? Tudo que foi ainda está aqui? Se eu pensar no que foi, isso está de uma forma diferente? E eu estou aqui de maneira diferente, se pensar no que foi? Estou aqui de forma diferente porque estou aqui junto com tudo que foi e porque aquilo que foi está comigo, ao mesmo tempo, exatamente da maneira como foi? Ou seja, algo dentro de mim se modifica porque aquilo que foi pode ser como foi, e eu estou presente com aquilo da maneira como foi? Então, está aqui comigo, ao mesmo tempo, da maneira como foi, sem o pensamento ou o desejo de ser ou tornar-se diferente? Em outras palavras, que nada pode ser modificado nele? Que, então, nada pode ser modificado nele somente porque de repente aquilo está aqui para mim, exatamente como é, exatamente como foi?
Para a minha experiência e minha existência faz uma grande diferença quando me experimento com tudo ao mesmo tempo, da maneira como foi. Assim entro na minha plenitude sem ter que agir, simplesmente porque eu sinto e sei, e sei que existo aqui juntamente com tudo.
Talvez também faça uma diferença, para aquilo que esteve aqui, que eu esteja aqui exatamente como sou, sabendo que estou aqui com ele ao mesmo tempo, e que pode participar da minha presença, apenas porque eu estou igualmente presente. Ou seja, que tudo que foi se experimenta como mais rico e maior pelo simples fato de eu também estar aqui, sem que algo mude nele ou em mim.
A nossa existência torna-se mais rica, na medida em que tudo pode estar aqui da maneira como foi, na medida em que tudo pode sempre estar presente da maneira como foi e que nós também podemos estar aqui para tudo, da maneira como somos - apenas estarmos presentes juntos com tudo. Como presentes, juntos? Com amor por tudo como foi e continua sendo para nós.
O que isso tem a ver com as Constelações familiares espirituais? Nas Constelações familiares espirituais, mostra-se que tudo que antes não podia estar presente, agora pode estar aqui, exatamente assim como foi e assim como é. Pode estar aqui junto conosco, assim como somos.
Quando tudo pode estar presente da maneira como foi e como é, nós experimentamos isso como plenitude.
Algumas vezes falta alguma coisa para que algo possa estar presente plenamente e da maneira como é. Falta chorarmos por aquilo que nos separou, falta chorarmos pelo trágico que nos separou. Mas, devemos chorar sem lamentar. Choramos apenas com amor, acordados e presentes, totalmente presentes.
Quem tem consciência? Tudo tem consciência, principalmente tudo que vive. Sem consciência não se saberia o que é necessário para permanecer vivo e para passar a vida adiante. Mas essa consciência se estende para além da vida isolada de uma pessoa, pois sabe de que forma cada ser vivo está conectado a outro ser vivo, mutuamente conectado, de maneira que todos se mantêm em vida reciprocamente e estimulam as suas vidas. Mas, nem tudo que vive tem consciência de possuir essa consciência. Mesmo assim, comporta-se como se tivesse consciência.
Onde, então, encontra-se essa consciência? Pode estar em cada ser vivo individual? Ou a consciência dos seres vivos é movimentada e conduzida por uma outra consciência, de maneira que eles sejam levados para determinados objetivos junto com vários outros seres vivos? Objetivos que permanecem inconscientes ao ser vivo individual, aos quais, porém, ele serve como se tivesse consciência deles.
Dizemos que o ser humano possui consciência. Ele tem consciência de que possui uma consciência. Mas a sua consciência difere significativamente da consciência dos outros seres vivos? Ele não é igualmente, em grande parte, movido e conduzido por uma consciência que não percebe conscientemente, mesmo que ele frequentemente se comporte e tenha que se comportar como se tivesse consciência dela?
Quanto ele sabe sobre a sua consciência? Até que ponto ele é capaz de se conectar conscientemente com essa consciência e conduzi-la como se fosse a sua consciência? Para onde será conduzido, comportando-se como se fosse a sua própria consciência e como se tivesse nas mãos os movimentos essenciais da sua vida? Logo percebe que sua consciência pessoal é limitada e que, permanecendo a sós com ela, talvez perderá algo essencial da vida.
Onde, então, encontra-se a consciência essencial onde se encontra a consciência abrangente? Somos tomados por ela e de tal forma que temos consciência dela. Mas, sabemos que ela vai para além de nós. Tanto, que a experimentamos como infinita, infinita no sentido que nos leva para um domínio onde nossa consciência falha.
Que tipo de domínio é esse? É um domínio espiritual. Por essa única razão, já é infinito para nós. É um domínio criativo, pois tudo que existe é pensado de modo criativo. Isso significa que é pensado tal como está aqui, exatamente da maneira como é pensado. Tudo que existe vem de uma consciência ilimitada, de uma consciência infinita, embora esteja presente para nós.
Para onde, então, leva-nos o nosso caminho quando temos consciência dessa consciência? Nós vamos juntos com essa consciência da maneira como nos pensa e nos move. Vamos juntos conscientemente com essa consciência, entregando-nos a ela até que experimentemos uma unidade com ela, em todos os sentidos.
O que isso significa para o nosso dia a dia? O que significa para o nosso amor? O que significa o que nós estamos fazendo?
Nós vamos junto com tudo da forma como acontece, despreocupados, pois em todos os momentos experimentamos ser levados por essa consciência, todo o tempo. Também vamos junto, despreocupados com o que acontece com os outros e com o que acontece com o mundo, pois temos consciência de que tudo está sendo movimentado por essa consciência, exatamente assim como é. Conscientemente vamos junto com essa consciência, vamos criativamente com essa consciência e somos criativamente movidos por ela.
Então, continuamos sendo nós mesmos? Somente nessa maneira consciente de ir junto com essa consciência tornamo-nos realmente conscientes de nós mesmos, de como somos movidos por essa consciência, movidos em tudo.
Existe alguma coisa além dessa consciência? Pode existir mais alguma coisa, independente dela? No final, percebemos que para nós resta apenas uma coisa que permanece completa: essa consciência.
O que, então, significa "Constelações familiares espirituais"? Significa permanecer em sintonia com essa consciência, em nós e nos outros. Em sintonia com os movimentos dessa consciência, assim como se mostram em nós e nos outros, e somente na extensão em que se mostram.
O que, então, no final, é importante nas Constelações familiares espirituais? Que tomemos consciência de algo, da maneira como é movido por essa consciência: movido corretamente para nós, movido de forma criativa, movido em sintonia com tudo, movido com amor, movido com o amor dessa consciência e, assim, com o amor por tudo e por todos, como é movido por essa consciência.
Uma união liga. Por exemplo, a união para a vida entre o homem e a mulher. E em várias situações nós também nos sentimos ligados a outros com amor, por exemplo, aos nossos pais e a nossa família. E em alguns casos, nos aliamos a outros como uma associação para realizarmos uma tarefa em comum.
Às vezes, nós também nos unimos contra outras pessoas. A aliança contra outras pessoas termina quando fazemos as pazes com elas, quando nos unimos a elas numa aliança de paz. Então, ao invés de estarmos contra o outro como antes, agora estamos a favor do outro.
A pergunta é: estamos em união também conosco mesmos? Estamos em união com o nosso corpo? Estamos em união com os nossos pais? Estamos em união com o destino que nos cabe? E, principalmente, estamos unidos àqueles dos quais nós ou a nossa família queriam se livrar, àqueles que nós e a nossa família queriam esquecer e esqueceram? Estamos unidos àqueles que nós ou a nossa família mantinham em segredo? Ainda estamos unidos àqueles a quem devemos algo importante, por exemplo, antigos parceiros, professores ou pessoas que nos ajudaram em situações de perigo ou doença?
Quando assumimos isso, sentimos o quanto algo nos falta, o quanto eles nos fazem falta, o quanto nós talvez façamos falta a eles, por não estarmos mais unidos a eles, unidos com amor, gratidão, tristeza e arrependimento. De repente, percebemos como somos sozinhos sem eles.
Que podemos fazer para restabelecermos a união, pelo menos em pensamento e no coração? Abrimos o nosso coração para eles, com amor.
As vezes isso é difícil para nós, especialmente quando nos sentimos culpados ou em dívida com eles. Como podemos restaurar a união com eles?
Reconhecendo que aqueles que excluímos ou deixamos de fora dessa união continuam fazendo parte de nós e nós deles. Além disso, é esse reconhecimento que restaura a união. Através desse reconhecimento, de repente, nos sabemos mais ricos, mais redondos e mais inteiros.
As Constelações familiares têm sucesso onde acontece a união com os excluídos e os esquecidos, trazendo-os de volta para nosso grupo de convivência - e nós para o deles. Às vezes isso é impedido pelo fato do condutor da constelação também negar a união com os excluídos. Por exemplo, quando ele e o cliente fecham os olhos àqueles que esperam ser trazidos de volta para a aliança ou quando o ajudante se recusa a olhar para as pessoas que o cliente prejudicou.
A maneira mais fácil de restabelecer e consolidar a união destruída é através das Constelações familiares espirituais, pois elas caminham com um movimento do espírito que movimenta todos com amor, na mesma medida. Portanto, a união essencial e que permanece é uma união do espírito. Renova os laços com tudo que nos pertence, em sintonia com o seu reconhecimento e sua atenção, voltados para todos na mesma medida. Essa é uma ligação que ninguém pode romper, como se tivesse o direito e o poder para fazer isso, pois mesmo a união rompida permanece inteira e sagrada para o amor do espírito.
O que, então, nos conecta profundamente com todos aqueles com quem estamos e fomos unidos, através da nossa vida? Esse outro amor abrangente e humilde. A nossa união com esse espírito, com o seu amor e o nosso amor por todos e tudo, da maneira como é, sustentado e inspirado por esse espírito é uma união de amor.