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Capítulo 11
A religião espiritual


O Amor do Espírito
na Hellinger Sciencia

Bert Hellinger
Re-formatação do
livro eletrônico original

11  A religião espiritual
        11.0.12  Nota preliminar
    11.1  O amor de Deus
    11.2  Deus e os deuses
    11.3  À semelhança de Deus
    11.4  O outro Deus
    11.5  Exemplo: Jesus e Caifás
        11.5.1  Nota preliminar
        11.5.2  Ismael e Isaac
        11.5.3  Caifás e Jesus
        11.5.4  O caminho espiritual do conhecimento
        11.5.5  A constelação
        11.5.6  Consideração final
    11.6  História: A volta
        11.6.1  Indicações de publicações sobre o tema religião
            11.6.1.1  Livros
            11.6.1.2  Vídeos
            11.6.1.3  CDs

11.0.12  Nota preliminar

     As religiões exercem um papel fundamental nas relações humanas. São principalmente elas que mantêm juntos os grandes grupos. São para seus seguidores tal como uma família ampliada, na qual todos se sentem pertencentes de modo abrangente, mesmo para além da vida. Elas oferecem proteção e transmitem-lhes esperança, o que lhes permite carregar e suportar mais facilmente os percalços de sua vida.

     Por serem tão importantes, as religiões são defendidas também diante de outras religiões. Por isso atuam nelas os mesmos movimentos de coesão e exclusão, tal como o experimentamos em relação a todos os grandes conflitos. Por estabelecerem limites para si e para outros, restringem o nosso espaço, enquanto comunidades religiosas.

     Em seu sentido original, a religião se refere ao vínculo pessoal que estabelecemos com as forças espirituais que nos sustentam, pelas quais nos sentimos guiados e sustentados. Desejamos entrar em sintonia com os seus movimentos, pois sentimos que a nossa existência se baseia nessas forças espirituais, que nossos movimentos mais íntimos são orientados por elas e apenas nelas alcançam paz. Essa religião pessoal é um movimento profundamente espiritual.

     Os próximos capítulos nos conduzirão a esses movimentos espirituais, envolvendo amplas consequências para os nossos relacionamentos. Eles também pertencem a Hellinger Sciencia. Esses capítulos ainda mostram as dimensões para quais nos conduzem dentro da religião e das religiões.

     Examino há muitos anos os efeitos do antissemitismo, tanto em relação aos cristãos como aos judeus. Queria saber como o antissemitismo começou, quais as suas raízes. Queria saber principalmente como poderia ser superado de modo conciliador, na alma cristã. Vocês encontrarão o resultado, para mim um tanto surpreendente, no capítulo: Jesus e Caifás.

11.1  O amor de Deus

     O amor de Deus pode ter dois significados: o amor de Deus em relação a nós e nosso amor em relação a ele.

     No antigo testamento, este amor a Deus é um mandamento: "Deves amar o senhor teu Deus de todo coração, com toda tua alma e com todas tuas forças." O que isso significava na prática naquela época? Significava: deves seguir os mandamentos de Deus de todo coração, com toda tua alma e com todas tuas forças.

     Que mandamentos? Eram mandamentos divinos ou mandamentos humanos? Quem pronunciou tais mandamentos, em nome de Deus? Foi Deus que os incumbiu com essa tarefa? Que Deus? Será que realmente incumbiu o povo de Israel com o seguinte mandamento, quando esse invadiu Canaã: "Matem todos: homens, mulheres, crianças e animais - tal como um holocausto oferendado a Javé?" E será que aqueles que sentiram compaixão pelos outros realmente transgrediram o mandamento divino e o amor por Deus?

     Mas o que acontece se esses mandamentos se revelam ser leis humanas? Mandamentos de seres humanos que se autonomeavam mensageiros de Deus, sem que os fossem realmente? Qual é então o efeito desse "amor por Deus de todo coração, com toda alma e todas as forças"? Será que não nos afasta de Deus? Será que não se contrapõe a Deus e ao que é humano?

     Situações similares são encontradas sempre onde seres humanos se sentem representantes de Deus ou vêem a si mesmos como escolhidos por Deus. Eles se remetem a Deus, como se Ele estivesse do seu lado e pertencesse exclusivamente a eles. Nesse caso, tanto faz o nome que é dado a Deus. Algumas vezes, "em nome de Deus" é substituído por "em nome da verdade", "em nome da ciência", "em nome do povo" ou "em nome da pátria".

     O amor que esse Deus exige através de seus mensageiros é sempre o mesmo: "De todo coração, com toda alma, com todas as forças." Esse amor se comprova através da obediência a esses mensageiros, na lealdade a eles e no cumprimento de seus mandamentos e ordens. E é desumano para aqueles contra o qual esse amor é direcionado.

     Também podemos ver o mandamento do amor de Deus de outro modo: "amarás o teu próximo como a ti mesmo". Nesse sentido poderíamos dizer, por exemplo: "Quando amas teu próximo assim como a ti mesmo, então também amas a Deus de todo coração, com toda a alma e com todas as suas forças." Desse modo esse Deus não seria mais apenas meu Deus e sim o Deus de todos. Neste sentido, nenhum mensageiro poderia remeter-se a ele quando nos convoca em nome de Deus a lutarmos contra outros seres humanos.

     Mas por que, na realidade, o mandamento em relação ao amor ao próximo continua sem forças? Pois o Deus que impõe esse amor permanece o Deus de um único povo e porque o próximo, aqui mencionado, muitas vezes se restringe apenas ao próximo dentro do próprio grupo. Precisamos apenas imaginar o tamanho da reviravolta, caso formulássemos o mandamento do amor acres-centando: "Amarás o povo de teu próximo assim como o teu, e a religião de teu próximo, assim como a tua". Desse modo ninguém mais poderia reivindicar Deus como se fosse propriedade sua. Estaria fora do nosso alcance.

     Mas será que podemos e devemos amar a Deus? É um parceiro nosso que deseja ou necessita do nosso amor? Será que o nosso amor realmente pode lhe dar algo? Ou será que o aproximamos de nós através desse amor, apossando-nos dele através desse amor? Talvez até mesmo o obrigamos a se comprometer conosco através de nosso amor, subjugando-o. Será que esse Deus não se torna um Deus segundo a nossa imagem, um Deus nulo, assim como essa imagem?

     Nossa experiência humana revela que o segredo por trás de nosso mundo, por trás de nosso destino e por trás da vida e da morte permanece fora de nosso alcance. Não podemos nem saber nem tomar posse desse segredo. Só o fato de denominarmos de Deus esse algo velado é uma tentativa nesse sentido, sobretudo porque o imaginamos como uma pessoa com qualidades humanas, tais como amor ou mágoa ou fervor ou decepção.

     E mesmo assim nos experimentamos protegidos por poderes fora de nosso alcance, cuidados, guiados, tomados a serviço e, desse modo, também amados. Confiamos nessas forças, detemo-nos diante delas e nos sentimos sustentados por elas em nossa impotência. Permanecer nesse sentimento sem desejar possui-lo, entregues sem que nos movimentemos por iniciativa própria - é isso que significa a real experiência religiosa. Ela é sem Deus, pois reconhece tudo que associamos ao nome de Deus como fora de nosso alcance. Olha para a escuridão sem enxergar.

     Nesse sentimento tudo o que é como é possui o lugar que é seu de direito, faz parte da minha existência. Encontro-me profundamente vinculado a ele, porém sem querer alguma coisa. Estou simplesmente aqui com ele.

     Isto, no entanto, é amor. Aproxima-se ao máximo daquilo a que muitos se referiram e que muitos experimentaram profundamente, a partir de seu amor por Deus.

11.2  Deus e os deuses

     Existem muitos deuses e eles são diferentes. Justamente por se diferenciarem é que existem vários deuses. Cada um tem algo a mais ou a menos do que os outros deuses ou as outras deusas, pois os deuses também se diferenciam através de seu sexo.

     Os deuses estão aqui por algum propósito. Têm uma tarefa e possuem uma habilidade especial para cumprirem essa tarefa. Por isso, são chamados e requisitados de acordo com a sua tarefa e habilidade. No Cristianismo, os santos assumiram as tarefas dos deuses, ocupando o seu lugar, ressuscitando-os.

     O Deus judaico e o Deus cristão são também somente um, entre outros. Este Deus também possui uma tarefa e é responsável por um âmbito específico. Como, por exemplo, pelo povo eleito ou pelos seus fiéis. Ele também tem sexo e quando impõe: "Não terás outro Deus semelhante a mim", coloca-se no mesmo patamar, pois apenas sendo um deles é que pode sentir ciúmes em relação a eles. O mesmo se aplica ao "Deus verdadeiro." Por ser verdadeiro, ele se distingue, tornando-se um entre muitos. O Deus que se revela também pode ser apenas um entre outros, necessita de alguém através do qual possa falar e já por isso se revela limitado.

     A pergunta é: então o que nos resta, em relação a Deus? A resposta é: Nada.

     Será que não devemos ter medo ao dizer algo assim? Mas, por quê? Precisamos ter medo apenas dos deuses. Apenas os deuses podem se sentir ameaçados. E é exatamente por isso que se revelam não-existentes.

     A pergunta é: existe algo por trás dos deuses? Algo em cujo lugar nós os colocamos? Não sabemos. Isso nos permanece oculto. Mesmo assim, quando nos despedimos dos deuses, ficamos abertos para esse algo diferente. Essa despedida encontra-se principalmente a serviço da paz. As pessoas se distinguem essencialmente uma das outras através de seus deuses. Travam guerras umas contra as outras em seu nome, independentemente de quem esteja sendo venerado, nesse momento.

     Os deuses são principalmente os deuses de um grupo. Na sua ausência e quando deles nos despedimos, tornamo-nos indivíduos e podemos ir ao encontro das outras pessoas, como indivíduos, de igual para igual. Porém, o mesmo tempo, ficamos abertos para algo que é comum a todos e que, justamente por não podermos nominá-lo, nos conecta um ao outro de modo humilde.

11.3  À semelhança de Deus

     Em Gênesis do Antigo Testamento está escrito: "Deus criou Adão, o primeiro homem, à sua semelhança." Por isso, quando o homem olha para si e para outros homens enxerga neles a imagem de Deus. Isto também significa que vê Deus em si mesmo. Sendo assim fala com Deus, tal como fala com um ser humano e espera que Deus lhe responda e sinta como um ser humano. A consequência desta citação bíblica é exatamente o contrário do que parece. Ela implica que o homem criou Deus à sua semelhança. Sendo assim, semelhante a Deus não significa que o homem é semelhante a Deus e sim, o contrário: Deus é semelhante ao homem. Também poderíamos dizer: sem o homem, esse Deus não existiria.

     O que fazemos conosco e o que aconteceu conosco para que criássemos esse Deus à nossa semelhança? Nós usamos essa noção de Deus como motivação para ações, das mais sublimes às mais incompreensíveis. Por exemplo, julgamos outros em nome do nosso Deus, nós os condenamos e esperamos que Deus execute o nosso desejo, vingando-se deles. Por isso, enquanto nós o segurarmos como nosso Deus, não nos desenvolveremos para além dessas emoções e não seremos capazes de sentir compaixão de modo realmente humano. Por isto esse Deus não é apenas humano, mas também nos torna desumanos.

     Mas esse Deus também não é o amor? Talvez a pergunta seja: que tipo de amor e a que preço? Com que temor e quanto tremor?

     Nós nos tornamos mais humanos sem esse tipo de Deus.

11.4  O outro Deus

     O outro Deus - caso exista - é diferente do Deus que nos criou à sua semelhança e que nós criamos à nossa semelhança.

     É óbvio que ao dizer algo dessa espécie, acabo também criando o outro Deus segundo uma imagem, até mesmo segundo a minha imagem. Por isso, essa imagem é tão equivocada como todas as outras. Pois como poderíamos - caso ele exista - criar uma imagem a seu respeito ou daquilo que intuímos atuar de modo poderoso, por trás de tudo? Mas não é disso que se trata aqui.

     Trata-se do efeito que uma ou outra imagem possa ter em nossa alma, principalmente de como essas imagens atuam na convivência humana.

     Podemos fazer ainda uma terceira pergunta: qual é o efeito quando renunciamos a toda e qualquer imagem de Deus, por termos consciência de nossa impotência e de nossos limites, no que diz respeito a Deus? Mas, mesmo essa renúncia é igualmente uma imagem de Deus. Desse modo, também não conseguimos escapar de nossas imagens.

     O que então nos resta quando desejamos falar de Deus ou do Todo ou do mistério que se encontra por trás de nossa vida e de todos os seres? Nada. Apenas a impotência. Mas é exatamente nessa impotência que encontramos o nosso ser, tornamo-nos verdadeiramente humanos e - humanamente religiosos.

11.5  Exemplo: Jesus e Caifás

11.5.1  Nota preliminar

     Pediram-me que falasse durante uma manhã em um congresso em Lyon sobre os nossos ancestrais, mostrando o que nos vincula a eles e o que nos reconcilia com eles. Há muito tempo que já havia percebido que a exclusão de um membro familiar muitas vezes continua atuando de modo nefasto durante séculos.

11.5.2  Ismael e Isaac

     Penso aqui, por exemplo, na exclusão de Ismael, primogênito de Abraão, para ceder espaço ao seu segundo filho Isaac e, talvez ligada a isso, na exclusão do povo judaico pelos outros povos até hoje - como expiação da injustiça cometida contra Ismael e sua mãe Agar. Mas penso também no conflito entre Israel e seus vizinhos árabes, que se reconhecem descendentes de Ismael. Sempre onde um membro é excluído dessa maneira, o efeito profundo e curativo na alma vem quando o excluído e seus descendentes são novamente acolhidos no seio dessa família e justamente no primeiro lugar que lhes é de direito, segundo a ordem hierárquica.

11.5.3  Caifás e Jesus

     Um conflito semelhante a esse seria a história dolorosa dos judeus quando submetidos aos cristãos e o antissemitismo relacionado a isso, que atua até hoje entre os cristãos. A meu ver esse conflito possui igualmente uma origem. Trata-se do conflito entre Caifás e Jesus e entre aqueles que se sentem mais próximos a Caifás e ao judaísmo, representado e defendido por ele e aqueles que se tornaram seguidores de Jesus. Apesar dos dois pertencerem à mesma família e de os cristãos se encontrarem, segundo a ordem hierárquica, em segundo lugar, estes simplesmente se colocaram em primeiro. Não podemos esquecer, no entanto, que a exclusão foi mútua.

     Por isso há muito tempo já estava ciente de que esse conflito precisaria ser olhado e solucionado primeiramente lá onde teve o seu início: entre Jesus e Caifás.

11.5.4  O caminho espiritual do conhecimento

     Refleti muito sobre como poderia tornar visível a profundidade dessa relação e do seu alcance. No entanto, desde o início sabia que a compreensão dessas conexões estava além de minhas possibilidades pessoais, pois esses movimentos, independentemente de quão amplos se revelem para nós, precisam ser reconhecidos como movimentos do espírito, isto é, como movimentos de dedicação a todos que, no final, unem novamente aqueles que estavam separados.

     Nas Constelações familiares espirituais esses movimentos se tornam acessíveis e visíveis para nós, de um modo que põe em marcha os movimentos essenciais - para além de nossas idéias usuais e para além de nossas lamentações e objeções. Conduzem-nos para um caminho do conhecimento, um caminho que até então não havíamos encontrado por conta própria.

     Nesse sentido ousei colocarem Lyon, perante um grande público, um representante para Jesus e outro para Caifás, um diante do outro, confiando em seguida totalmente nos movimentos desse espírito criativo. Porém, jamais teria ousado fazer isso por conta própria. Quando estava me preparando internamente para esse curso, esses nomes foram claramente mencionados para mim, tão claramente que precisei deixar de lado os meus medos, para me deixar guiar também aqui, entregue em todos os sentidos aos movimentos do espírito, apenas por eles.

     Foi assim que se deu a constelação seguinte, cujo desenrolar descreverei detalhadamente.

11.5.5  A constelação

     Como sempre no caso das Constelações familiares espirituais, não necessitamos aqui de uma constelação como se fazia anteriormente. Basta que os representantes simplesmente se posicionem. De repente, são tomados por um movimento que os leva a fazer e demonstrar, sem nenhuma resistência, aquilo que corresponde à situação das pessoas que representam.

     Escolhi assim um representante para Jesus e outro para Caifás. Caifás foi o pontífice que condenou Jesus à morte e o entregou ao governador romano Poncius Pilatos para a crucificação, pois somente ele poderia ordenar a execução, fazendo com que a cumprissem. Após ter encontrado voluntários para representarem Jesus e Caifás, pedi que se posicionassem um diante do outro a uma certa distância. Em seguida eu e eles nos deixamos guiar pelos movimentos do espírito.

     Desde o início, o representante de Jesus estava totalmente voltado para o pontifício judeu Caifás. Não se comportou nem como um adversário nem como uma vítima, mas como alguém que pertence, sem repreensões e sem exigências. Olhava de forma amável para o representante de Caifás, com as mãos abertas, porém, sem se mover. Estava voltado para ele, simplesmente presente.

     O representante do pontifício fechou os punhos, foi na direção de Jesus e deu um chute no peito dele. Jesus, porém, não se esquivou, continuou de pé, de forma amável. Caifás foi novamente até Jesus, bateu com seus punhos contra o peito de Jesus e tentou afastá-lo.

     Jesus continuou na mesma postura, voltado para Caifás de modo amável, sem se deixar levar a um ato de defesa ou reação. Continuava de pé com as mãos abertas.

     Neste ponto interferi. Pensei na frase do Evangelho de Mateus atribuída à multidão diante de Pilatos, sedenta pela morte de Jesus: "Que o seu sangue caía sobre nós e sobre nossos filhos". Se essa frase realmente foi pronunciada ou se vem do autor desse evangelho, não importa, pois quando olhamos para o destino do povo judeu sob o domínio dos cristãos, essa frase verbaliza o que se tornou realidade, contribuindo certamente muito para isso.

     Então mostrei ao representante do pontifício as consequências de seu comportamento. Coloquei quatro representantes para os judeus que foram perseguidos e assassinados pelos cristãos, deitados de costas no chão, entre Caifás e Jesus. Estavam representando milhares de vítimas dessa época, que morreram como consequência do comportamento de Caifás diante de Jesus.

     O efeito dessa intervenção no representante de Caifás foi surpreendente. Instantaneamente, a sua agressividade se dissolveu. Afastou-se, porém, sem olhar para os mortos. Olhava apenas para Jesus. Jesus, no entanto, olhava para os mortos. Após um tempo, Caifás também olhou para os mortos. Ajoelhou-se, inclinou-se em sua direção, soluçando alto.

     O representante de Jesus continuou voltado para Caifás de modo amável. Sentou-se no chão, olhou para Caifás e lhe estendeu uma mão.

     Depois de um tempo, o representante de Caifás deitou-se no chão de costas, apoiando a cabeça na barriga de um morto. Abriu os braços, chorava e movia constantemente seus lábios, como se quisesse dizer ou gritar algo, porém sem sons e palavras. Minha imagem foi de que ele estava igualmente pendurado na cruz. Após um tempo, tocou de leve a mão de Jesus com um dedo, no entanto, voltando a afastá-la.

     Depois de algum tempo, tentou erguer os mortos como se desejasse trazê-los de volta à vida. Jesus afastou-se dele e dos mortos. Estava sentado no chão, do outro lado. As suas mãos continuavam abertas e a cabeça inclinada. Nesse ponto interrompi a constelação.

     No total a constelação durou 45 minutos, sem que algo tenha sido dito.

11.5.6  Consideração final

     Não importa como consideramos essa constelação, é certo que não podia ter surgido a partir das idéias dos representantes. Neles atuava um movimento do espírito. Eles também estavam a serviço do amor, como todos os movimentos, quando movem os representantes em direção a algo que está muito além de suas idéias estão a serviço do amor. Estavam a serviço da superação dos opostos, nesse caso entre cristãos e judeus e, deste modo, a serviço da paz.

11.6  História: A volta

     Alguém nasce dentro da sua família, da sua pátria, da sua cultura e, já desde criança, ouve falar de seu modelo, professor e mestre, e sente o mais profundo desejo de tornar-se e ser como ele.

     Junta-se a pessoas que partilham de seus ideais, disciplina-se por muitos anos e segue seu grande modelo até tornar-se igual a ele - até que pensa, fala, sente e quer como ele.

     Acredita, entretanto, que ainda lhe falta algo. Assim, parte para uma longa viagem, buscando transpor talvez uma última fronteira. Passa por jardins antigos, há muito tempo abandonados. Apenas as rosas selvagens ainda florescem, e grandes árvores dão frutos todos os anos. Porém, caem esquecidos no chão, pois não há quem os queira. Daí para frente, começa o deserto.

     Ele é logo cercado por um vazio desconhecido. Para ele todas as direções se confundem e as imagens que esporadicamente surgem diante dele são logo reconhecidas como vazias. Caminha ao sabor de seus impulsos. Quando já havia perdido, há muito tempo, a confiança nos próprios sentidos, avista diante de si a fonte. Ela brota da terra e nela imediatamente se infiltra. Porém, até onde a água alcança, o deserto se transforma em paraíso.

     Olhando em volta, vê dois estranhos se aproximando. Tinham procedido exatamente como ele, seguindo seus próprios modelos até se tornarem iguais a eles. Partiram, como ele, para uma longa viagem, buscando transpor talvez uma última fronteira, na solidão do deserto. E, como ele, encontraram a fonte. Juntos, os três se curvam, bebem da mesma água e acreditam que estão perto de atingir a meta. Depois, dizem seus nomes: "Meu nome é Gautama, o Buda." "Meu nome é Jesus, o Cristo." "Meu nome é Maomé, o Profeta."

     Então chega a noite, e acima deles brilham como sempre as estrelas, infinitamente distantes e silenciosas. Os três se calam, e um deles sabe que está mais próximo do grande modelo como nunca. É como se pudesse, por um momento, pressentir o que Ele sentira quando conheceu a impotência, a inutilidade, a humildade. E como deveria sentir-se, se conhecesse igualmente a culpa.

     Na manhã seguinte ele retorna, escapando do deserto. Mais uma vez, seu caminho o leva por jardins abandonados, até que chega a um jardim que lhe pertence. Diante da entrada está um velho homem, como se estivesse esperando por ele. Ele diz: "Quem vai tão longe e encontra, como você, o caminho de volta, ama a terra úmida. Sabe que tudo o que cresce também morre e, quando acaba, nutre." "Sim", responde o outro, "eu concordo com a lei da terra". E começa a cultivá-la.

11.6.1  Indicações de publicações sobre o tema religião

11.6.1.1  Livros

     A paz começa na alma

     As Constelações Familiares a serviço da reconciliação 213 p, 2006, Editora Atman

     Der Abschied • Nachkommen von Tãtern und Opfern stellen ihre Familie

     370 Seiten, 260 Abb. 2. überarbeitete und erweiterte Auflage 2001.

     Carl-Auer-Systeme Verlag

     Rachel weint um ihre Kinder

     Familien-Stellen in Israel. Herder Verlag

     Conflito e paz. Uma resposta

     152 p., 2007, Editora Cultrix

     Finden, was wirkt • Therapeutische Briefe

     232 Seiten. 11. Auflage 2003 Kõsel Verlag

     Verdichtetes • Sinnsprüche - Kleine Geschichten - Sãtze der Kraft

     109 Seiten. 5. Auflage 2000. Carl-Auer-Systeme Verlag

     A fonte não precisa perguntar pelo caminho

     Um livro de consulta

     342 p., 2a. Edição 2007, Editora Atman

     Histórias de amor

     191 p., 2007, Editora Atman

     Um lugar para os excluídos

     Conversas sobre os caminhos de uma vida com Gabriele ten Hóvel

     158 p., 2006, Editora Atman

     No centro sentimos leveza

     Conferências e histórias

     166 p., 2a Edição 2006, Editora Cultrix

     Religião, Psycoterapia e Aconselhamento Espiritual

     175 p., 2005, Editora Cultrix

     Liberados somos concluídos

     166 p., 2006, Editora Atman

     Pensamentos a caminho

     202 p., 2005, Editora Atman

     Gottesgedanken • Ihre Wurzeln und ihre Wirkung

     240 Seiten. 1. Auflage 2004 Kõsel Verlag

     Viagens Interiores

     Experiências - Meditações - Exemplos 135 p., 2008, Editora Atman

     Natürliche Mystik • Wege spiritueller Erfahrung

     200 Seiten 2008 Kreuz Verlag Auch ais Hòrbuch erhãltlich bei Video Verlag Bert Hellinger Postfach 2166 o 83462 .Berchtesgaden

     Wahrheit in Bewegung

     160 Seiten, 2. Auflage 2005. Herder Verlag

     Dankbar u. gelassen • Im Einklang mit dem Leben

     157 Seiten, 2005. Herder Verlag

     Erfülltes Dasein • Wege zur Mitte

     159 Seiten, 2006 Herder Verlag

11.6.1.2  Vídeos

     Wie Versõhnung gelingt • Athen

     1 Video, 1 Stunde, 37 Minuten. Deutsch/Griechisch

     Familien-Stellen in Istanbul, Video 2

     Der Friede Was die Getrennten wieder vereint

     1 Video, 2 Stunden, 41 Minuten. Deutsch/Türkisch

     Das Überleben überleben • Nachkommen von Überlebenden des Holocaust stellen ihre Familie

     1 Video, 2 Stunden, 30 Minuten

     Die Toten • Was Tãter und Opfer versõhnt

     1 Video, 60 Minuten (vergriffen)

11.6.1.3  CDs

     Viagens Interiores Áudio-livro

     5 discos

     Também disponível em MP3

     1 disco

     Das Judentum in unserer Seele

     1 CD

     Gottesgedanken

     Ihre Wurzeln u. ihre Wirkungen