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Capítulo 7
Deus no Cais


A Cabana (Cura da Psique)
William P. Young
Livro Acessível na Internet
Deus no Cais

Rezemos para que a raça humana jamais escape da Terra para
espalhar sua iniquidade em outros lugares.

- C. S. Lewis

     Mack ficou parado no banheiro olhando o espelho enquanto enxugava o rosto com uma toalha. Procurava algum sinal de insanidade naqueles olhos que o espiavam de volta. Aquilo seria real? Claro que não, era impossível. Mas então ... Estendeu a mão e tocou lentamente o espelho. Talvez fosse uma alucinação trazida por todo o seu sofrimento e desespero. Talvez fosse um sonho e ele estivesse dormindo em algum lugar, quem sabe na cabana, morrendo congelado. Talvez ... de repente um estrondo terrível rompeu seu devaneio. Vinha da direção da cozinha e deixou Mack paralisado. Por um momento houve um silêncio mortal e depois, inesperadamente, gargalhadas retumbantes. Curioso, saiu do banheiro e enfiou a cabeça pela porta da cozinha.

     Mack ficou chocado diante da cena. Jesus deixara cair uma grande tigela com algum tipo de massa ou molho no chão, e a coisa tinha se espalhado por toda parte. A barra da saia de Papai e seus pés descalços estavam cobertos pela massa gosmenta. Sarayu disse alguma coisa sobre a falta de jeito dos humanos e os três caíram na risada. Por fim, Jesus passou por Mack e voltou com toalhas e uma grande bacia de água. Sarayu já estava começando a limpar a sujeira do chão e dos armários, mas Jesus foi direto até Papai e, ajoelhando-se aos pés dela, começou a limpar a frente de seu vestido. Gentilmente levantou um pé de cada vez e colocou os dois na bacia, onde os limpou e massageou.

     - Uuuuuh, isso é tãããão bom! - exclamou Papai.

     Encostado no portal, Mack não parava de pensar. Então Deus era assim no relacionamento? Muito linda e atraente! Ele sabia que ninguém estava em busca do culpado pela sujeira do chão, pela tigela quebrada ou por um prato que não seria compartilhado. Era óbvio que o que realmente importava era o amor que eles sentiam uns pelos outros e a plenitude que esse amor lhes trazia. Balançou a cabeça. Como isso era diferente da maneira como ele tratava seus entes queridos!

     Embora simples, o jantar foi um banquete. Algum tipo de ave assada com uma espécie de molho de laranja, manga e alguma outra coisa, verduras frescas temperadas com sabe-se lá o quê, com gosto de fruta e de gengibre, e arroz de uma qualidade que Mack jamais havia provado. Por hábito, abaixou a cabeça para rezar. Levantou-a e viu os três rindo para ele. Meio sem jeito, disse:

     - Ah, obrigado a vocês todos ... Alguém pode me passar o arroz?

     - Claro. Nós íamos ter um molho japonês incrível, mas o sem-jeito ali - Papai acenou na direção de Jesus - decidiu ver se a tigela quicava.

     - Ah, qual é? - respondeu Jesus num arremedo de defesa. - Minhas mãos estavam escorregadias.

     Papai piscou para Mack enquanto lhe passava o arroz.

     - Não se consegue bons empregados por aqui.

     Todo mundo riu.

     A conversa parecia quase normal. Pediram que Mack falasse de cada um dos filhos, menos de Missy, e ele contou das várias lutas e conquistas deles. Quando falou de suas preocupações com Kate, os três apenas assentiram com uma expressão solidária, mas não ofereceram nenhum conselho. Ele também respondeu a perguntas sobre os amigos, e Sarayu pareceu mais interessada em perguntar por Nan. Finalmente Mack conseguiu dizer uma coisa que o incomodara durante toda a conversa.

     - Bom, estou aqui falando sobre meus filhos, meus amigos e sobre Nan, mas vocês já sabem tudo o que vou dizer, não é? Vocês estão agindo como se ouvissem pela primeira vez.

     Sarayu estendeu a mão por cima da mesa e segurou a dele.

     - Mackenzie, lembra-se da nossa conversa anterior sobre limitação?

     - Nossa conversa? - Ele olhou para Papai, que assentiu como quem sabe das coisas.

     - Você não pode compartilhar com um de nós sem que compartilhe com todos - disse Sarayu e sorriu. - Lembre-se das muitas vezes em que escolheu sentar no chão para facilitar um relacionamento, para honrá-lo. Mackenzie, você faz isso frequentemente. Você não brinca com uma criança ou colore uma figura com ela para mostrar sua superioridade. Pelo contrário, você escolhe se limitar para facilitar e honrar o relacionamento. Você é até capaz de perder uma competição como um ato de amor. Isso não tem nada a ver com ganhar e perder, e sim com amor e respeito.

     - Então o que acontece quando estou falando com vocês sobre meus filhos?

     - Nós nos limitamos por respeito a você. Não estamos trazendo à mente, por assim dizer, nosso conhecimento sobre seus filhos. Ouvimos como se fosse a primeira vez e temos enorme prazer em conhecê-los através dos seus olhos.

     - Gosto disso - refletiu Mack, recostando-se na cadeira.

     Sarayu apertou a mão dele e pareceu se recostar.

     - Eu também! Os relacionamentos não têm nada a ver com poder. Nunca! E um modo de evitar a vontade de exercer poder é escolher se limitar e servir. Os humanos costumam fazer isso quando cuidam dos enfermos, quando servem os idosos, quando se relacionam com os pobres, quando amam os muito velhos e os muito novos, ou até mesmo quando se importam com aqueles que assumiram uma posição de poder sobre eles.

     - Bem falado, Sarayu - disse Papai, com o rosto luzindo de orgulho. - Eu cuido dos pratos depois. Mas primeiro gostaria de ter um tempo para as devoções.

     Mack teve de conter um risinho diante da ideia de Deus fazendo orações. Imagens de devoções familiares de sua infância vieram se derramar em seu pensamento. E não eram exatamente boas lembranças. Com frequência consistiam em um exercício tedioso de dar as respostas certas, ou melhor, as mesmas velhas respostas às mesmas velhas perguntas sobre histórias da Bíblia e depois tentar ficar acordado durante as orações exaustivamente longas de seu pai. E, quando o pai tinha bebido, as orações da família sempre se tornavam um terrível campo minado, onde qualquer resposta errada ou um olhar distraído provocava uma explosão. Ficou esperando que Jesus pegasse uma velha versão da Bíblia.

     Em vez disso, Jesus estendeu as mãos sobre a mesa e segurou as de Papai, com as cicatrizes agora claramente visíveis. Mack ficou sentado, em extremo fascínio, vendo Jesus beijar as mãos do Pai, depois olhar fundo nos seus olhos e finalmente dizer:

     - Papai, adorei ver como hoje você se tornou completamente disponível para assumir a dor de Mack e deixar que ele escolhesse seu próprio ritmo. Você o honrou e me honrou. Ouvir você sussurrar amor e calma no coração dele foi realmente incrível. Que alegria imensa ver isso! Adoro ser seu filho.

     Embora Mack se sentisse um intruso, ninguém pareceu se preocupar e, de qualquer modo, ele não tinha ideia de para onde ir. Presenciar a expressão de tamanho amor parecia deslocar qualquer entrave lógico e, ainda que ele não soubesse exatamente o que sentia, era muito bom. Estava testemunhando algo simples, caloroso, íntimo e verdadeiro. Isso era sagrado. A santidade sempre fora um conceito frio e estéril para Mack, mas isso era diferente. Preocupado em não fazer qualquer gesto que perturbasse aquele momento, simplesmente fechou os olhos e cruzou as mãos. Ouvindo atentamente de olhos fechados, sentiu Jesus mexer a cadeira. Houve uma pausa antes que ele falasse de novo:

     - Sarayu - começou Jesus com suavidade e ternura -, você lava, eu enxugo.

     Os olhos de Mack se abriram rapidamente, a tempo de ver os dois sorrirem afetuosamente um para o outro, pegarem os pratos e desaparecerem na cozinha. Ficou sentado alguns minutos sem saber o que fazer. Papai tinha ido a algum lugar e os outros dois estavam ocupados com os pratos. A decisão foi fácil. Pegou os talheres e os copos e levou-os para a cozinha. Assim que entrou, Jesus lhe jogou um pano e, enquanto Sarayu lavava os pratos, os dois começaram a enxugar.

     Sarayu começou a cantarolar uma música evocativa que ele havia escutado Papai cantar. Mais uma vez a melodia mexeu no fundo de Mack, despertando lembranças e emoções. Se pudesse permanecer ouvindo aquela canção, aceitaria ficar enxugando os pratos pelo resto da vida.

     Cerca de 10 minutos depois haviam acabado. Jesus deu um beijo no rosto de Sarayu e ela desapareceu no corredor. Em seguida ele sorriu para Mack.

     - Vamos ao cais olhar as estrelas.

     - E os outros? - perguntou Mack.

     - Estou aqui - respondeu Jesus. - Sempre estou aqui.

     Mack assentiu. Esse negócio da presença de Deus, embora difícil de entender, parecia estar penetrando constantemente em sua mente e em seu coração. Por isso relaxou.

     - Vamos - disse Jesus, interrompendo seus pensamentos. - Sei que você gosta de olhar as estrelas! - Parecia uma criança cheia de ansiedade e expectativa.

     - É, acho que gosto - respondeu Mack, percebendo que a última vez em que fizera isso fora na maldita viagem com as crianças. Talvez tivesse chegado a hora de correr alguns riscos.

     Seguiu Jesus, saindo pela porta dos fundos. Nos momentos finais do crepúsculo, Mack podia ver a margem rochosa do lago, não cheia de mato alto como ele recordava, mas lindamente cuidada e perfeita como uma pintura. O riacho ali perto parecia cantarolar algum tipo de música. Projetando-se cerca de 15 metros sobre o lago havia um cais e Mack mal conseguiu vislumbrar três canoas amarradas nele. A noite ia caindo depressa e a escuridão distante já estava cheia dos sons de grilos e sapos. Jesus pegou-o pelo braço e guiou-o pelo caminho enquanto seus olhos se ajustavam, mas Mack já estava olhando para uma noite sem luar, com o espanto das estrelas emergindo.

     Chegaram ao meio do cais e se deitaram de costas, olhando para cima. A altitude do lugar parecia ampliar o céu e Mack adorou ver a imensidão do espaço tão claramente estrelada. Jesus sugeriu que fechassem os olhos por alguns minutos, permitindo que os últimos clarões do crepúsculo desaparecessem. Mack obedeceu e, quando finalmente abriu os olhos, a visão foi tão poderosa que por alguns segundos ele experimentou uma espécie de vertigem. Era quase como se estivesse caindo no espaço, com as estrelas correndo em sua direção para abraçá-lo. Levantou as mãos imaginando que podia colher diamantes, uma um, de um céu de veludo negro.

     - Uau! - exclamou.

     - Incrível! - sussurrou Jesus, com a cabeça perto da de Mack no escuro. - Nunca me canso de ver isso.

     - Mesmo que você tenha criado?

     - Eu criei quando era o Verbo, antes que o Verbo se tornasse Carne. De modo que, mesmo tendo criado tudo isso, agora vejo como humano. E acho impressionante!

     - É mesmo. - Mack não sabia como descrever o que sentia, mas enquanto continuavam deitados em silêncio, olhando o espetáculo celestial num espanto reverente, observando e ouvindo, soube em seu coração que isso também era sagrado. Estrelas cadentes ocasionais chamejavam numa trilha breve cortando o negrume da noite e fazendo um ou outro exclamar:

     - Viu aquilo? Que maravilha!

     Depois de um silêncio particularmente longo, Mack falou:

     - Eu me sinto mais confortável perto de você. Você parece muito diferente delas.

     - Como assim, diferente? - a voz suave de Jesus emergiu da escuridão.

     - Bom. - Mack fez uma pausa enquanto pensava. - Mais real ou palpável. Não sei. - Lutou com as palavras e Jesus ficou deitado em silêncio, esperando. - É como se eu sempre tivesse conhecido você. Mas Papai não é nem um pouco o que eu esperava de Deus e Sarayu é muito estranha.

     Jesus deu um risinho no escuro.

     - Como eu sou humano, nós temos muito mais em comum.

     - Mas, mesmo assim, não entendo ...

     - Eu sou o melhor modo que qualquer humano pode ter de se relacionar com Papai ou com Sarayu. Me ver é vê-las. E, acredite, Papai e Sarayu são tão reais quanto eu, embora, como você viu, de maneiras muito diferentes.

     - Por falar em Sarayu, ela é o Espírito Santo?

     - É. É Criatividade, é Ação, é o Sopro da Vida. E é muito mais. Ela é o meu Espírito.

     - E o nome dela, Sarayu?

     - É um nome simples de uma das nossas línguas humanas. Significa "Vento", na verdade um vento comum. Ela adora esse nome.

     - Humm - resmungou Mack. - Não há nada de muito comum nela!

     - Isso é verdade.

     - E o nome que Papai mencionou, El ... Elo ...

     - Elousia - disse a voz reverentemente no escuro, ao lado dele. - Esse é um nome maravilhoso. El é meu nome como Deus Criador, mas ousia é "ser", ou "aquilo que é verdadeiramente real", de modo que o nome significa "o Deus Criador que é verdadeiramente real e a base de todo o ser". Isso é que é um nome bonito!

     Houve silêncio por um minuto enquanto Mack pensava no que Jesus havia dito.

     - Então onde é que isso nos deixa?

     Ele sentia como se estivesse fazendo a pergunta em nome de toda a raça humana.

     - Bem, onde vocês sempre se destinaram a estar. No próprio centro do nosso amor e do nosso propósito.

     De novo uma pausa e depois:

     - Acho que posso viver com isso.

     Jesus deu um risinho.

     - Fico feliz em saber - e os dois riram. Ninguém falou por um tempo. O silêncio havia baixado como um cobertor e tudo de que Mack tinha realmente consciência era do som da água batendo no cais. Novamente ele rompeu o silêncio.

     - Jesus?

     - O que é, Mackenzie?

     - Estou surpreso com uma coisa em você.

     - Verdade? O quê?

     - Acho que eu esperava que você fosse mais ... - Cuidado aí, Mack. - Ah ... bem, humanamente marcante.

     Jesus riu.

     - Humanamente marcante? Quer dizer bonito? - Agora ele estava gargalhando.

     - Bom, eu estava tentando evitar dizer assim, mas é. De algum modo achei que você seria o homem ideal, você sabe, atlético e de uma beleza avassaladora.

     - Ê o meu nariz, não é?

     Mack não soube o que dizer.

     Jesus riu.

     - Eu sou judeu, você sabe. Meu avô materno tinha um narigão. Na verdade, a maioria dos homens do meu lado materno tinha nariz grande.

     - Só pensei que você teria uma aparência melhor.

     - De acordo com que padrão? De qualquer modo, quando você me conhecer melhor, isso não vai importar.

     Mesmo ditas com gentileza, as palavras machucaram. Machucaram o quê, exatamente? Mack ficou deitado por alguns segundos e percebeu que, por mais que pensasse que conhecia Jesus, talvez não conhecesse ... ou conhecesse mal. Talvez o que conhecesse fosse um ícone, um ideal, uma imagem através da qual tentava captar um sentimento de espiritualidade, mas não uma pessoa real.

     - Por que isso? - perguntou finalmente. - Você disse que, se eu o conhecesse de verdade, sua aparência não importaria ...

     - Na verdade é bem simples. O ser sempre transcende a aparência. Assim que você começa a descobrir o ser que há por trás de um rosto muito bonito ou muito feio, de acordo com seus conceitos e preconceitos, as aparências superficiais somem até simplesmente não importarem mais. Por isso Elousia é um nome tão maravilhoso. Deus, que é a base de todo o ser, mora dentro, em volta e através de todas as coisas, e emerge em última instância como o real. Qualquer aparência que mascare essa verdade está destinada a cair.

     Seguiu-se um silêncio enquanto Mack refletia sobre o que Jesus havia dito. Desistiu depois de apenas um ou dois minutos e decidiu fazer a pergunta mais arriscada.

     - Você disse que eu não o conheço de verdade. Seria muito mais fácil se pudéssemos sempre conversar assim.

     - Admito, Mack, que essa conversa é especial. Você estava realmente travado e nós queríamos ajudá-lo a se arrastar para fora da dor. Mas não fique achando que porque não sou visível nosso relacionamento precise ser menos real. Será diferente, talvez até mais real.

     - Como assim?

     - Meu propósito, desde o início, era viver em você e você viver em mim.

     - Espere, espere. Espere um minuto. Como isso pode acontecer? Se você ainda é totalmente humano, como pode estar dentro de mim?

     - Espantoso, não é? É o milagre de Papai. É o poder de Sarayu, meu Espírito, o Espírito de Deus que restaura a união que foi perdida há tanto tempo. Eu? A cada momento eu escolho viver totalmente humano. Sou totalmente Deus, mas sou humano até o âmago. Como eu disse, é o milagre de Papai.

     Mack estava deitado no escuro ouvindo com atenção.

     - Você está falando de uma moradia real e não somente de uma questão teológica?

     - Claro - respondeu Jesus com a voz forte e segura. - O humano, formado a partir da criação material e física, pode ser totalmente habitado pela vida espiritual, a minha vida. Isso exige a existência de uma união muito real, dinâmica e ativa.

     - É quase inacreditável! - exclamou Mack baixinho. - Eu não fazia ideia. Preciso pensar mais nisso. Mas talvez eu tenha outro monte de perguntas.

     - E temos toda a sua vida para respondê-las - riu Jesus. - Mas por enquanto chega disso. Vamos nos perder de novo na noite estrelada.

     No silêncio que se seguiu, Mack simplesmente ficou parado, permitindo que a enormidade do espaço e da luminosidade esparsa o fizesse sentir-se pequeno, deixando suas percepções serem capturadas pela luz das estrelas e pela ideia de que tudo tinha a ver com ele ... com a raça humana ... que toda aquela magnífica criação era para a humanidade. Depois do que pareceu um longo tempo, Jesus rompeu o silêncio.

     - Nunca vou me cansar de olhar para isso. A maravilha de tudo, o esbanjamento da Criação, como disse um dos nossos irmãos. Tão elegante, tão cheia de desejo e beleza, mesmo agora.

     - Sabe - reagiu Mack, novamente abalado pelo absurdo da situação, pelo lugar onde estava, pela pessoa ao seu lado -, algumas vezes você parece tão ... quero dizer, aqui estou eu, perto de Deus Todo-Poderoso, e na verdade você parece tão ...

     - Humano? - sugeriu Jesus. - Mas feio. - E começou a rir, primeiro baixinho e contido, depois às gargalhadas. Era contagioso e Mack deixou-se levar num riso que vinha de algum lugar bem no fundo. Não ria a partir daquele lugar havia muito tempo. Jesus estendeu a mão e o abraçou, sacudido por seus próprios espasmos de riso, e Mack se sentiu mais limpo, vivo e bem desde ... bom, não conseguia se lembrar desde quando.

     Os dois acabaram se aquietando e o silêncio da noite se impôs mais uma vez. Mack ficou parado, se dando conta da culpa por estar se divertindo e rindo. Mesmo no escuro, sentiu a Grande Tristeza chegar e encobri-lo.

     - Jesus? - sussurrou com a voz embargada. - Eu me sinto muito perdido.

     Uma mão se estendeu e ficou apertando a sua.

     - Eu sei, Mack. Mas não é verdade. Lamento se a sensação é essa, mas ouça com clareza: você não está perdido.

     - Espero que você esteja certo - respondeu Mack, com a tensão afrouxada pelas palavras do amigo recém-encontrado.

     - Venha - disse Jesus, levantando-se e estendendo a mão para Mack. - Você tem um grande dia pela frente. Vou levá-lo para a cama. - Passou o braço pelo ombro de Mack e juntos andaram para o chalé.

     De repente, Mack sentiu-se exausto. O dia fora longo. Talvez acordasse em casa, na sua cama, depois de uma noite de sonhos vividos. Mas em algum lugar dentro de si esperava estar errado.