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Nenhum documento na história mundial mudou tanto o mundo para melhor quanto os Dez Mandamentos. A civilização ocidental, a civilização que desenvolveu os direitos humanos universais, criou igualdade para as mulheres, acabou com a escravidão, criou a democracia parlamentar entre outras conquistas únicas, não teria se desenvolvido sem eles. Como você verá, quando cada um dos Dez Mandamentos for explicado, estes Mandamentos são tão relevantes hoje, quanto quando foram dados há mais de três mil anos atrás. De fato, eles são tão relevantes que os Dez Mandamentos são tudo que é necessário para criar um mundo bom. Um mundo livre de tirania e crueldade.
Imagine por um instante um mundo, onde não houvesse homicídio e roubo. Em um mundo assim não haveria a necessidade de exércitos, ou de polícia, ou de armas. Homens, mulheres e crianças poderiam andar em qualquer lugar, a qualquer hora do dia ou da noite, sem nenhum medo de ser assaltado ou morto. Imagine também um mundo onde ninguém cobiçasse o que pertence ao seu vizinho. Um mundo onde as crianças honrassem seus pais e a unidade familiar prosperasse. Um mundo em que as pessoas obedecessem a determinação de não mentir. A receita para um mundo melhor está toda lá, nestes dez sublimes Mandamentos.
Mas existe um detalhe. Os Dez Mandamentos são baseados na crença de que eles foram dados por uma autoridade superior, a de qualquer homem, qualquer rei, ou qualquer governo. É por esta razão que a frase que precede os Dez Mandamentos afirma o seguinte: "E falou Deus todas estas palavras." Veja, se os Dez Mandamentos, por mais grandiosos que sejam, tivessem sido dados por qualquer autoridade humana, então qualquer pessoa poderia dizer: "Quem é esse tal de Moisés? Quem é esse rei ou rainha? Quem é esse governo para me dizer como devo me comportar?"
Tudo bem, então porque Deus é indispensável para os Dez Mandamentos? Porque, para ser o mais direto possível, se não é Deus que diz que homicídio é errado, homicídio não é errado. Sim, isso parece para muitas pessoas hoje algo incompreensível, e talvez absurdo. Muitos estão pensando: "Este cara está dizendo que você não pode ser uma pessoa boa se você não acreditar em Deus?" Deixe-me responder da maneira mais clara possível: "Eu não estou dizendo isso." É claro que existem boas pessoas que não acreditam em Deus, assim como existem pessoas más que acreditam. E muitos de vocês também estão pensando: "Eu acredito que matar é errado, eu não preciso que Deus me diga isso." Essa resposta é somente uma meia verdade.
Eu não tenho dúvida que se você é um ateu e diz que acredita que homicídio é errado, você acredita que homicídio é errado. Mas desculpe, você de fato precisa que Deus lhe diga isto. Todos nós precisamos que Deus nos diga, mesmo que você descubra que homicídio é errado por si mesmo, sem Deus e os Dez Mandamentos. Como que você sabe que é errado? Não pensar que é errado, eu quero dizer, saber que é errado. O fato é, você não pode. Porque sem Deus, certo ou errado são apenas convicções pessoais, opiniões pessoais.
Eu acredito que roubar uma loja é normal, você não. A não ser que exista um Deus, toda moralidade é simplesmente opinião e crença. Virtualmente todos os filósofos ateus reconheceram isso. O outro problema com a visão de que não se precisa de Deus para crer que homicídio é errado, é que muitas pessoas não compartilham com a sua visão. Você não tem que ir muito longe na história para provar isso. No século XX, milhões de pessoas em sociedades comunistas e sob o nazismo, mataram cerca de 100 milhões de pessoas, e isto não inclui um único soldado morto na guerra.
Então, não fique muito confiante na habilidade das pessoas para discernir o certo ou errado sem uma autoridade superior. É muito fácil ser seduzido por um governo, um demagogo, ou uma ideologia, ou racionalizar que o errado que você está fazendo não é realmente errado. E mesmo se você descobrir o que é certo ou errado, Deus ainda é necessário. Pessoas que conhecem a diferença entre certo e errado, fazem a coisa errada o tempo todo. Você sabe porque? Porque elas podem. Elas podem porque pensam que ninguém está olhando. Mas se você reconhece que Deus é fonte da lei moral, você acredita que ele está sempre observando. Então mesmo que você seja um ateu, você ia gostar que as pessoas vivessem de acordo com a lei moral dos Dez Mandamentos.
E mesmo um ateu tem que admitir que quanto mais pessoas acreditarem que Deus nos deu, e portanto não são somente opiniões, melhor seria o mundo. Em três mil anos ninguém surgiu com um sistema melhor do que os Dez Mandamentos baseados em Deus para fazer um mundo melhor. E ninguém jamais irá. Eu sou Dennis Prager.
Qual é o primeiro dos Dez Mandamentos? Pode parecer uma pergunta estranha, mas não é. Judeus e cristãos dão respostas diferentes. A razão é: o que conhecemos como "Dez Mandamentos" são, no original em hebraico, as "Dez Afirmações." E como o hebraico é o original, começaremos com a primeira afirmação, que, todas as religiões concordam, é: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da escravidão." Essa afirmação é tão importante, que nenhum dos outros mandamentos faz sentido sem ela.
Primeiro, ela afirma que Deus está dando estes mandamentos, não Moisés e nem qualquer outro ser humano. Segundo: foi Deus quem te libertou da escravidão. De novo, não foi um homem quem fez isso, nem mesmo Moisés. Portanto, você tem um dever para comigo (Deus). E qual é esse dever? Que você viva pelos próximos nove mandamentos.
Este é o começo do que é conhecido como o "monoteísmo ético", a maior inovação revolucionária da Bíblia hebraica. Isto significa duas coisas: monoteísmo ético significa que o único Deus - isso é monoteísmo - é a fonte da ética, da moralidade. Moralidade é um código objetivo de "certo e errado". Ele não emana da opinião humana. Ela emana de Deus e, portanto, transcende a opinião humana. O outro significado de monoteísmo ético é que o que Deus mais quer de nós é que tratemos os outros seres humanos de forma moral.
Nenhum dos Dez Mandamentos diz respeito ao que os humanos devem fazer "para" Deus. Religiões anteriores aos Dez Mandamentos acreditavam que as pessoas deveriam fazer muito "para" os seus deuses. Por exemplo: alimentá-los e até sacrificar pessoas para eles. Mas agora, graças aos Dez Mandamentos, a humanidade aprendeu que o que Deus quer é que sejamos bons com os nossos colegas humanos.
Mesmo os mandamentos que se referem a não ter falsos deuses e não levar o nome de Deus em vão, são fundamentalmente sobre moralidade. O que podemos fazer "para" Deus é tratar todas as suas outras crianças decentemente. Todos os pais se identificam com isso. Os pais - ou pelo menos pais saudáveis - têm uma alegria indescritível quando veem os seus filhos agindo amorosamente um com os outros e uma dor indescritível quando veem um machucando o outro. Assim, Deus, que é como nosso pai no céu, muito se importa com como tratamos outros seres humanos, todos os quais são seus filhos.
A terceira lição fundamental da primeira afirmação - "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, e da casa da escravidão." - é a importância e o significado de "liberdade." Perceba que Deus não está dizendo, nesta introdução dos Dez Mandamentos, que Ele criou o mundo. Certamente, faria muito sentido se Deus introduzisse os Dez Mandamentos com esta afirmação: "Eu sou o Senhor teu Deus, que criou o mundo." Afinal de contas, isto é muito impressionante e faria sentido: "Eu criei o mundo. É melhor você me escutar."
Mas não ... a única coisa que Deus declara é que ele tirou o povo de Israel da escravidão, para liberdade. Isso é o quanto Deus odeia a escravidão e quão importante Deus considera a liberdade. Os fundadores da América basearam toda a sua visão da América neste princípio - que Deus quer que sejamos livres. E por isso que o símbolo mais icônico da revolução americana, o Liberty bell (o sino da liberdade), tem somente uma frase inscrita nele - um verso da Bíblia Hebraica: "Proclame a liberdade pelo país inteiro e a todos os seus habitantes."
Mas há uma outra lição igualmente importante sobre liberdade, transmitida pela declaração que abre os Dez Mandamentos: o que significa liberdade. Aquele que deu os Dez Mandamentos está, de fato, dizendo: "Eu te tirei da escravidão, para a liberdade e estes Dez Mandamentos são os meios para se criar uma sociedade livre. Vocês não podem ser um povo livre se fizerem tudo o que quiserem." Liberdade vem do autocontrole moral. Não há outro meio de alcançá-la.
Em quarto e finalmente: ao nos contar que Ele libertou os escravos hebreus, Deus deixa claro que ele se importa profundamente com os seres humanos. É impressionante criar o mundo, mas o que mais importa é que não somente existe um Criador, mas o Criador se importa com a sua criação. Tudo isso está na afirmação com a qual começam os Dez Mandamentos. Eu sou Dennis Prager.
Vamos discutir o 2o mandamento de acordo com a numeração judaica, que é a mais antiga dos Dez Mandamentos. Na tradição cristã, é o primeiro mandamento. A tradução mais comum diz: "Não terás outros deuses diante de mim." O mandamento, então, passa a proibir tanto a construção de ídolos quanto a sua adoração. A maioria das pessoas, quando pensam neste mandamento, compreensivelmente pensam que ele só proíbe a adoração de ídolos e a adoração de deuses como os deuses pagões da chuva, fertilidade, todos os outros deuses da natureza, e deuses principais, como o deus romano Júpiter e o deus grego Zeus.
Entretanto, há um grande problema com esta compreensão do mandamento. Como, hoje em dia, ninguém adora esses deuses, principalmente ídolos feitos de pedra, muitas pessoas pensam que este mandamento é irrelevante para a vida moderna. A ironia, entretanto, é que este mandamento não só é relevante para a vida moderna; é, de muitas formas, a mãe de todos os outros mandamentos. Por que ele é tão relevante hoje? Porque, atualmente, temos tantos falsos deuses quanto os antigos tinham. E por que ele é a mãe de todos os outros mandamentos? Porque se identificarmos falsos deuses e evitarmos adorá-los, nós eliminamos uma das maiores barreiras para um mundo bom: falsos deuses.
Então vamos começar definindo o que é um falso deus. A essência do monoteísmo bíblico é que só existe um Deus e que somente esse Deus, o criador do universo, que exige que guardemos esses Dez Mandamentos, deve ser adorado. Por quê? Primeiro: porque um Deus único implica uma única raça humana. Somente se todos nós tivermos o mesmo criador, ou pai, assim dizendo, seremos todos irmãos e irmãs. Segundo: ter o mesmo pai também implica que nenhuma pessoa ou grupo é intrinsicamente mais valioso do que outro. E em terceiro lugar: um Deus significa um único padrão moral para todos. Se Deus declarar que assassinato é errado, é errado para todos. E você não pode recorrer a outro deus por outro padrão moral.
Quando qualquer outra coisa é adorada coisas ruins acontecem! Não somente coisas que obviamente levam ao mal, como a adoração ao poder, ou raça, ou dinheiro, ou bandeira, mas também coisas que quase sempre são vistas como belas, como arte, ou educação, ou até mesmo amor. Sim, quando qualquer uma dessas coisas - geralmente maravilhosas - é adorada, podem levar a resultados terríveis.
A arte, por exemplo: muitos dos mais cruéis homens da história amavam arte e músicas bonitas. Mas como um amante da música, eu aprendi cedo na vida o triste fato de que belas músicas podem ser usadas para inspirar pessoas a seguir o mal, tanto quanto podem ser usadas para inspirar pessoas a fazer o bem. O grande diretor de Hollywood Stanley Kubrick, demonstrou isso vividamente no clássico filme de 1971: Laranja Mecânica. No filme, homens estupram e matam enquanto música clássica é tocada ao fundo.
Pense na educação. Todos nós reconhecemos o quão importante a educação pode ser; desde preparar as pessoas para encontrar trabalho até a entender o mundo. Mas educação, por si própria, separada das finalidades maiores de Deus e da bondade, podem levar, e geralmente tem levado, a grandes males. Muitas das pessoas mais instruídas da Alemanha apoiaram Hitler e os nazistas. E praticamente todos os defensores no mundo ocidental dos regimes genocidas de Stalin, na União Soviética, e de Mao Tsé-Tung, na China, eram altamente instruídos. Não há nada em um doutorado que garanta que uma pessoa será mais sábia mais amável ou mais ética do que alguém com somente o ensino médio.
O mesmo é válido até para o amor. O amor, é claro, é muitas vezes bonito, mas ele também pode levar ao mal. No Século XX, pessoas que colocavam o amor à patria acima do amor à Deus e à bondade, muitas vezes cometeram males terríveis. E aqui está um teste para você: Imagine que o animal de estimação que você ama e um estranho, uma pessoa que você não conhece e, portanto, não poderia amar, estão se afogando. Você tenta salvar primeiro o seu cachorro ou o estranho? Bem, se o amor é um fim em si mesmo, você salvará o seu cachorro. Mas se você tem a vida humana como um valor mais importante do que o amor, você não seguirá o amor.
Este mandamento tornou a revolução ética da Bíblia e dos Dez Mandamentos, que é conhecida como Monoteísmo Ético, possível. Adore ao Deus dos Dez Mandamentos e você fará um mundo bom. Adore à um falso deus, não importa o quão nobre pareça, e você acabará em um mundo cheio de crueldade. Eu sou Dennis Prager.
Existe algo como "o pior pecado", um pecado que é pior que todos os outros? Bem, existe. Estou ciente de que algumas pessoas discordam. Elas dizem que nós não podemos declarar que um pecado é pior do que outro. "Para Deus, pecado é pecado" é como isso é normalmente expresso. Nesta visão, uma pessoa que rouba um grampeador do escritório está cometendo um pecado tão sério, aos olhos de Deus, quanto um homicida. Mas a maioria das pessoas, instintivamente, tanto quanto biblicamente, entendem que alguns pecados são claramente piores do que outros. Nós estamos confiantes de que Deus tem pelo menos tanto bom senso quanto nós. O Deus do judaísmo e do cristianismo não iguala roubar um objeto do escritório com assassinato.
Então, qual é o pior pecado? O pior pecado é fazer o mal em nome de Deus. Como sabemos? Através do terceiro dos Dez Mandamentos. Esse é o único dos Dez Mandamentos que declara que Deus não perdoará a pessoa que violar o mandamento. O que diz o mandamento? É normalmente traduzido como: "Não tome o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não o terá por inocente - o que quer dizer que não perdoará - a quem tomar o seu nome em vão." A maioria das pessoas pensa, compreensivelmente, que o mandamento proíbe dizer o nome de Deus por uma razão tola. Então, algo como: "Deus, como o meu dia foi puxado hoje!" violaria o 3o mandamento. Mas esta interpretação apresenta um problema real. Significaria que, enquanto Deus é capaz de perdoar a violação de qualquer um dos outros mandamentos, desonrar os pais, roubar, adultério ou até mesmo cometer assassinato, Ele jamais perdoaria alguém que dissesse: "Deus, como o meu dia foi puxado hoje!"
Sejamos honestos: isto tornaria Deus e os Dez Mandamentos moralmente incompreensíveis. Na verdade, o mandamento não é o problema. O problema é a tradução. O original em hebraico não diz: "não tome". Ele diz: "não carregue". O hebraico literalmente diz: "Não carregue o nome do Senhor teu Deus em vão (...)" Uma das traduções novas mais usadas da Bíblia, a "Nova Versão Internacional", ou a `NVI', usa a expressão "fazer mal uso" ao invés da palavra "tomar". "Não faça mal uso do nome do Senhor teu Deus (...)" Esta versão é bem mais próxima da intenção original.
O que significa "carregar" ou "fazer mal uso" do nome de Deus? Significa fazer o mal em nome de Deus e isto Deus não perdoará. Por que não? Quando uma pessoa não religiosa faz o mal, isto não leva Deus e religião ao descrédito. Mas quando pessoas religiosas fazem o mal, principalmente em nome de Deus, elas não só estão fazendo o mal, elas estão causando grandes danos ao nome de Deus.
Nos dias de hoje existe um exemplo disso: Os males cometidos por muçulmanos, que torturam, bombardeiam, degolam e cometem genocídio, tudo em nome de Deus, causam danos terríveis ao nome de Deus. Não é coincidência que o chamado "Neo-ateísmo" - a imensa eclosão de ateísmo militante - ocorreu após o ataque às torres gêmeas por extremistas islâmicos. De fato, o argumento mais comum contra Deus e religião diz respeito ao mal cometido no nome de Deus, tenha ele sido feito em nome de Allah hoje, ou feito no passado em nome de Cristo.
Pessoas que matam em nome de Deus não somente matam as suas vítimas, elas matam Deus também. É por isso que o pior pecado é o mal religioso. É isto o que o 3o mandamento ensina: não carregue o nome de Deus em vão. Se você o fizer, Deus não te perdoará. Eu sou Dennis Prager.
Muitas pessoas que veneram os Dez Mandamentos não acreditam que o 4o é particularmente importante, muito menos obrigatório. Uma vez que você o compreender, no entanto, reconhecerá o quanto o mandamento do Sábado pode mudar a sua vida e até mesmo o mundo. E você começará a apreciar o quão relevante ele é para a sua própria vida. O 4o mandamento diz: "Lembra-te do dia do Sábado para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda sua obra. Mas o sétimo dia é o Sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho ou filha, nem o teu servo ou serva, nem o teu animal, nem o forasteiro de tuas portas pra dentro."
Por que isso é tão importante? Primeiro: talvez mais do que qualquer outro mandamento, ele evoluiu o ser humano. Como? Por quase toda a História, a vida consistia basicamente de trabalho. De fato, humanos eram burros de carga. Este mandamento, e somente este mandamento, mudou tudo isso ao insistir que as pessoas parassem de trabalhar um dia a cada sete. Segundo: mais do que qualquer outro mandamento, o dia do Sábado lembra as pessoas de que elas são destinadas a serem livres.
Como a segunda versão do mandamento - a resumida por Moisés no livro de Deuteronômio - diz: "Lembre que vocês foram escravos na terra do Egito." Em outras palavras: lembrem que escravos não podem ter um Sábado. À luz disso, eu devo acrescentar que na visão Bíblica, a não ser que seja necessário para a sobrevivência, pessoas que escolhem trabalhar 7 dias na semana são, essencialmente escravos. Escravos do trabalho, ou talvez do dinheiro, mas escravos, de qualquer forma. O milionário que trabalha nos 7 dias da semana é, simplesmente, um escravo rico.
Terceiro: enquanto a Bíblia não pode abolir toda a escravidão, o mandamento do Sábado humanizou grandemente aquela terrível instituição e até mesmo ajudou a tornar a escravidão impossível. Por definição, um dono de escravos não era obrigado a permitir que o seu escravo descansasse - muito menos que descansasse um dia por semana. Mas é exatamente isso o que o 4o mandamento ordenou. Até mesmo um escravo tem direitos humanos fundamentais. Assim, um escravo, também, é um ser humano.
Quarto: o Sábado, quase por si só, cria e fortalece laços familiares e amizades. Quando alguém não trabalha um dia a cada semana, esse dia se torna, quase que inevitavelmente, um dia gasto com outras pessoas - normalmente família ou amigos. Ele tem efeitos positivos semelhantes em casamentos. Pergunte a qualquer pessoa casada com alguém viciado em trabalho o quão seria bom para o seu casamento se o viciado não trabalhasse por um dia a cada semana, e você começará a apreciar o poder do dia do Sábado.
Quinto: o mandamento do Sábado garantiu dignidade aos animais. Até mesmo os animais deveriam descansar um dia por semana. Ele é, até onde sabemos, a primeira lei nacional da história em benefício dos animais. E os seus benefícios para os animais certamente foram além do dia de descanso mandatório. Pessoas que se sentiam divinamente obrigadas a dar um dia de descanso para os seus animais eram muito menos predispostas a tratar seus animais de forma cruel em qualquer outro dia.
Agora, todos esses cinco benefícios do Sábado, capazes de mudar a sua vida e até mesmo a sociedade, estão disponíveis para qualquer um. Você não precisa ser judeu, nem cristão, nem mesmo acreditar em Deus para obter todos estes benefícios. Mas a realidade é que aqueles que acreditam que os Dez Mandamentos foram dados por Deus são aqueles que mantiveram o Sábado vivo. O fator "Deus" desempenha outro papel no Sábado. Assim como a fé em Deus leva as pessoas ao Sábado, observar o Sábado leva as pessoas à fé em Deus. É por isso que a primeira versão dos Dez Mandamentos - no livro de Êxodos - termina com essas palavras: "Porque em seis dias fez o Eterno os céus e a Terra, o mar e tudo o que há neles, e repousou no sétimo dia; portanto abençoou o Eterno o dia do Sábado e o santificou."
Independentemente da sua interpretação dos "seis dias" - e muitos judeus e cristãos não interpretam "dias" como períodos de 24 horas - o ponto é o seguinte: Cada vez que você guarda o Sábado, você está afirmando que existe um Criador; que o mundo não aconteceu do nada; que a vida não é uma coincidência sem significado, mas que é infinitamente significante e portanto, cada um de nós tem um significado e propósito único. Nada mal para um dia por semana. Não me admira que o Sábado é um dos Dez Mandamentos; não me admira que aqueles que o tem em suas vidas são geralmente mais felizes, com vida familiar mais rica, com mais serenidade, uma comunidade de amigos, e sim, até mesmo mais saudáveis. Você deveria experimentar. Eu sou Dennis Prager.
O quinto dos Dez Mandamentos diz: "Honra teu pai e a tua mãe ...". Este mandamento é tão importante que ele é um dos únicos Mandamentos em toda Bíblia que te dá uma razão para observá-lo: "... para que se prolongue os teus dias sobre a terra que o Eterno Teu Deus te dá". Muitas pessoas lêem esta parte do quinto mandamento como uma recompensa. Mas enquanto ela pode ser considerada como uma recompensa, o fato é que ela é uma razão.
Se você construir uma sociedade em que crianças honrem seus pais, sua sociedade vai sobreviver muito tempo. E o corolário é: Uma sociedade que crianças não honrem os seus pais, está fadada a auto-destruição. Em nossos dias esta conexão entre honrar os pais e a manutenção da civilização não é amplamente reconhecida. Pelo contrário, muitos dos pais mais instruídos não acreditam que seus filhos precisam honrá-los, já que honrar implica uma figura de autoridade. E este é um status que muitos dos pais modernos rejeitam. Além disto muitos pais buscam ser amados, não honrados pelos seus filhos.
Ainda assim, em nenhum outro dos Dez Mandamentos e em nenhum outro lugar da Bíblia, somos ordenados a amar nossos pais. Isto é particularmete impressionante. Visto que a Bíblia nos ordena amar o nosso próximo, amar a Deus, e amar o estrangeiro. A Bíblia entende que sempre haverá indivíduos que, por qualquer razão, não amam seus pais. Portanto ela não demanda o que pode ser psicologicamente ou emocionalmente impossível. Mas ela demanda que demostremos honra aos nossos pais. E ela faz esta demanda somente em consideração aos pais. Não há mais ninguém que a Bíblia nos manda honrar.
Então, porque honrar os pais é tão importante? Por que os Dez Mandamentos acreditam que a sociedade não poderia sobreviver se este mandamento fosse amplamente violado. Uma razão é que nós, como filhos, precisamos dele. Pais podem querer ser honrados, e eles deveriam querer. Mas as crianças precisam honrar seus pais. Um pai e uma mãe que não são honrados, são essencialmente pares adultos para os seus filhos, eles não são pais.
Nenhuma geração sabe melhor do que a nossa as terríveis consequências de crescer sem um pai. Meninos orfãos tem maior probabilidade de crescer e cometer crimes violentos, maltratar mulheres, e agir contra a sociedade de várias formas. Meninas que não tem um pai para honrar, e esperançosamente para amar também, tem maior probabilidade de buscar o homem errado, de ser promíscua ainda jovem.
Segundo, honrar os pais é como quase todos nós reconhecemos que existe uma autoridade moral acima de nós, para quem nós devemos satisfação moral. E sem isso, não podemos criar e manter uma sociedade moral. Para os Dez Mandamentos a maior autoridade moral é Deus, que é portanto maior até que nossos pais. Mas é muito difícil conseguir honrar a Deus sem ter tido um dos pais, especialmente o pai, para honrar. Sigmund Freud, ateu e pai da psiquiatria, teorizou que a atitude de uma pessoa para com o seu pai grandemente influenciava a sua atitude para com Deus.
Há ainda mais uma razão para qual honrar os pais é fundamental para uma boa sociedade. Honrar os pais é o melhor antídoto contra o totalitarismo. Uma das primeiras coisas que os movimentos totalitários buscam fazer, é quebrar a ligação entre o pai e o filho. A submissão da criança é trocada dos pais para o estado. Mesmo em sociedades democráticas quanto maior o estado se torna, mais ele usurpa o papel dos pais.
Finalmente existem muitas formas de honrar os pais. A regra geral é esta: Eles recebem tratamento especial. Pais são únicos, então eles devem ser tratados de forma única. Você não fala com eles da mesma forma que fala com os outros. Por exemplo, você pode usar palavrões quando fala com amigos, mas não com um pai. Você não chama pelo seu primeiro nome. E quando você sai da casa deles e constrói a sua, você mantêm contato com eles. Não ter contato com os pais é o oposto de honrá-los. E sim, todos reconhecemos que alguns pais se comportaram tão cruelmente, e eu quero dizer cruelmente não irritantemente, que alguém pode achar moralmente impossível honrá-los. Existem casos assim. Mas eles são raros. E lembre-se disso: Se os seus filhos o verem honrando os seus pais, não importa o quão difícil possa ser algumas vezes, as chances serão muito maiores de que eles irão honrá-los. Eu sou Dennis Prager.
Você pode pensar que, de todos os Dez Mandamentos, o que menos precisa ser explicado é o sexto, porque parece tão óbvio. É aquele que a versão King James da Bíblia, a tradução mais usada na língua inglesa, traduz como: "Não matarás." Mas na verdade, é bem o contrário. Esse é provavelmente o menos bem compreendido dos Dez Mandamentos. A razão é que o original em hebraico não diz: "não matarás;" ele diz: "Não assassinarás."
Tanto inglês quanto hebraico tem duas palavras que representam "tirar uma vida:" uma é "matar" - "Harag" em hebraico -; e a outra é "assassinato" - "Ratzach" em hebraico. A diferença entre as duas é enorme. "Matar" significa:
Por outro lado, "assassinato" só pode significar uma coisa: tirar a vida de um ser humano de forma ilegal ou imoral. É por isso que dizemos: "Matei um mosquito" e não: "assassinei um mosquito." E é também por isso que diríamos: "O operário foi acidentalmente morto", não, "O operário foi acidentalmente assassinado." Então por que a tradução King James da Bíblia usou a palavra "matar", ao invés de "assassinar"? Porque, há 400 anos atrás, quando a tradução foi feita, "matar" era sinônimo de "assassinar." Como resultado, algumas pessoas não percebem que o inglês mudou desde 1610 e assim pensam que os Dez Mandamentos proíbem que se mate, mas é claro que não proíbe. Se os Dez Mandamentos proibissem matar, nós teríamos que ser vegetarianos. Matar animais seria proibido. E todos teríamos que ser pacifistas, já que não poderíamos matar em legítima defesa.
Entretanto, você não tem que saber como a língua inglesa evoluiu para entender que os Dez Mandamentos não poderiam ter proibido matar. A mesma parte da Bíblia que contém os Dez Mandamentos, os cinco livros de Moisés, - o Torah, como é conhecida pelos judeus - ordena a pena de morte para assassinato, permite matar em guerra, prescreve o sacrifício de animais, e permite comer carne.
Um entendimento correto do mandamento contra o assassinato é crucial, porque enquanto virtualmente todas as traduções modernas traduzem corretamente o mandamento como: "Não assassinarás", muitas pessoas citam a tradução King James para justificar duas posições que não tem nenhuma base bíblica: oposição à Punição Capital e pacifismo. Quanto à Punição Capital e a Bíblia, a única lei que aparece em todos os cinco livros de Moisés é que assassinos devem ser executados. Opositores da pena de morte são livres para manter a visão de que todos os assassinos deveriam viver. Mas eles não são livres para usar a Bíblia para apoiar sua visão. Ainda assim, muitos o fazem e eles sempre citam o mandamento "não matarás." Mas isso, que agora deve estar abundantemente claro, não é o que o mandamento diz e é, portanto, um argumento inválido.
Quanto ao pacifismo, a crença que é sempre errado matar um ser humano: de novo, qualquer um é livre para defender essa posição, por mais imoral que seja. E qual outra palavra, que não "imoral", alguém pode usar para descrever a proibição de matar alguém que está no processo de assassinar homens, mulheres e crianças inocentes em, digamos, um cinema ou numa escola? Mas é desonesto citar o mandamento contra o assassinato para justificar o pacifismo. Existem formas morais de matar - a mais óbvia quando é feita em legítima defesa contra um agressor; e existem formas imorais de matar. A palavra para isso é assassinato.
Os Dez Mandamentos estão retratados em duas tábuas. Todos os cinco mandamentos na segunda táboa se referem ao nosso tratamento para com outros seres humanos. O primeiro dessa lista é: "não assassinarás." Por quê? Porque assassinato é o pior ato que uma pessoa pode cometer. Os outros quatro mandamentos, proibem o roubo, adultério, dar falso testemunho e cobiça, que são todos ofensas graves, mas assassinato lidera a lista, porque tirar deliberadamente a vida de uma pessoa inocente é a coisa mais terrível que podemos fazer.
A próxima vez que você ouvir citar "não matarás" ao citar o sexto mandamento, gentilmente, mas firmemente explique que na verdade ele diz: "não assassinarás." Eu sou Dennis Prager.
Há uma velha piada sobre o 7o mandamento, "Não adulterarás:" "Moisés desce do monte Sinai e anuncia: `Tenho boas e más notícias. A boa é que eu O convenci a dar só 10. A má é que o adultério ficou."' A piada falou que a proibição sobre uma pessoa casada de ter relações sexuais com qualquer um exceto seu cônjuge pode ser, para muitas pessoas, a mais difícil de observar dentre os Dez Mandamentos.
As razões não deveriam ser difíceis de imaginar. Uma é o enorme poder do desejo sexual. Pode ser muito difícil de mantê-lo sob controle pela totalidade do casamento, especialmente quando um estranho atraente faz-se disponível, sexualmente ou romanticamente. Outra razão é o desejo humano de amar e ser amado. Para pessoas normais, não há sentimento mais poderoso do que o amor. Se alguém se apaixona por outro, enquanto casado, é necessário muito esforço para não cometer adultério. E, se adicionarmos a infeliz circunstância de um casamento sem amor, isso torna a resistência ao adultério ainda mais difícil. É por isso que a piada com que comecei é engraçada: porque ela reflete a verdade.
Por que o adultério é proibido nos Dez Mandamentos? Porque, assim como os outros nove, esse mandamento é indispensável para formar e manter uma civilização superior. O adultério ameaça a pedra fundamental da civilização que os Dez Mandamentos pretende criar. Essa pedra fundamental é a Família: pai e mãe casados e seus filhos. Qualquer coisa que ameace a unidade familiar é proibida na Bíblia. Adultério é só um exemplo; não honrar os pais é outro; e a proibição de injetar qualquer sexualidade na unidade familiar - o incesto - é um terceiro exemplo.
Por que a Família é tão importante? Porque, sem ela, é impossível haver estabilidade social. Porque, sem ela, passar os valores da sociedade de geração em geração é impossível. Porque se comprometer com uma esposa e filhos torna o homem mais responsável e maduro. Porque, mais do que tudo, uma família preenche a maioria das necessidades materiais e emocionais da mulher. E nada se compara à família para dar a uma criança uma infância segura e estável.
E por que o adultério ameaça a Família? A razão mais óbvia é que o sexo com alguém além do cônjuge pode facilmente levar a um ou ambos os cônjuges a abandonar o casamento. Adultério não deveria automaticamente resultar em divórcio, mas geralmente resulta. Há uma outra consequência do adultério que pode destruir uma família: ele pode levar à gravidez e, assim, ao nascimento de uma criança. Essa criança irá, em quase todos os casos, começar a vida sem uma família, ou seja, sem ter pais casados para chamar de seus.
E, se o adultério não destrói uma família, ele quase sempre causa terríveis danos ao casamento. Além do sentimento de traição e de falta de confiança que ele causa, ele significa que o adúltero vive uma vida fraudulenta. Quando um marido ou esposa tem relações sexuais com alguém que não seu cônjuge, seus pensamentos constantemente são sobre essa outra pessoa, e sobre como enganar seu cônjuge.
A vida fraudulenta que um caso adúltero necessariamente acarreta inevitavelmente deteriora o casamento, mesmo se o cônjuge traído não tiver conhecimento sobre o caso. Finalmente, o mandamento proibindo o adultério não vem acompanhado de um asterisco, dizendo que o adultério é permitido se ambos os cônjuges entrarem em acordo. Cônjuges que tiveram sexo extraconjugal com a permissão de seu esposo ou mulher, podem não estar necessariamente machucando os sentimentos de seus cônjuges, mas ainda estão danificando a instituição do casamento. E proteger a família - e não proteger cônjuges de feridas emocionais - é a razão deste mandamento.
Muitos casamentos, infelizmente, têm problemas. E não cabe a nenhum de nós julgar o comportamento alheio nessa área. Ninguém sabe o que acontece no casamento dos outros e, se soubéssemos, nós talvez conseguiríamos entender por que um ou outro procurou encontrar amor fora do casamento. Mas nenhuma civilização elevada pode ser feita ou se sustentar se tolerar o adultério. É por isso que ele é proibido nos Dez Mandamentos. Eu sou Dennis Prager.
Pode-se argumentar que o 8o mandamento, "Não roubarás", é o único mandamento que engloba todos os outros. Como "não roubarás" engloba os outros mandamentos? Bem, assassinato é o roubo da vida de outra pessoa; adultério é o roubo do cônjuge de outra pessoa; cobiça é o desejo de roubar o que pertence a outro; dar falso testemunho é roubar justiça; e assim por diante.
Esse mandamento também é único de outra maneira. É o único mandamento que é completamente geral. Todos os outros mandamentos são específicos. O 5o mandamentos por exemplo, diz que é aos nossos pais a quem devemos honra; o 6o mandamento, que proíbe assassinato, é sobre tirar a vida de uma pessoa inocente; o 7o mandamento, que proíbe adultério, também é específico: é para pessoas casadas. Duas pessoas solteiras não podem cometer adultério. Mas o mandamento contra o roubo não dá sequer uma pista sobre o que somos proibidos de roubar, o que significa que não devemos roubar nada que pertence a outra pessoa.
E isso, por consequência, acarreta em três grandes coisas: em primeiro lugar, o mandamento contra o roubo sempre pôde ser interpretado como uma proibição ao roubo de outro ser humano, o que chamamos de sequestro. É por isso que ninguém que tivesse o mínimo de entendimento sobre o 8o mandamento poderia usar a Bíblia para justificar a forma mais comum de escravidão: o sequestro de seres humanos e sua venda para trabalho escravo.
Críticos da Bíblia argumentam que a Bíblia permitiu a escravidão, mas o tipo de escravidão descrita era, em quase todos os casos, o que era conhecido como "servidão por contrato": a venda de uma pessoa a outra por um determinado período de tempo para pagar uma dívida. Isso não tinha nada a ver com sequestrar pessoas livres, como foi feito na África e outros lugares. Isto era expressamente proibido pelo 8o mandamento.
O segundo significado importante do mandamento contra o roubo é a santidade da propriedade. Assim como somos proibidos de roubar pessoas, somos proibidos de roubar o que as pessoas têm. Foi provado repetidas vezes que a propriedade privada, começando com propriedade de terra, é indispensável para se criar uma sociedade decente e livre. Todo regime totalitário toma o direito à propriedade privada. No mundo antigo e medieval algumas pessoas ricas eram donas de toda a terra e a maioria da população trabalhava naquela terra para enriquecer os donos. E depois, na Europa do Século XIX, muitos socialistas defenderam a tomada da propriedade privada e sua entrega ao "povo". Onde esse conselho foi seguido, no que veio a ser conhecido como o mundo comunista, roubo de propriedade rapidamente se transformou em roubo de liberdade e, no fim, em massivo roubo de vidas.
O terceiro muitíssimo importante significado do mandamento contra o roubo diz respeito às muitas coisas não materiais que cada pessoa possui. Sua reputação, sua dignidade, sua confiança e sua propriedade intelectual. Vamos passar rapidamente por elas:
1. A reputação de uma pessoa. Roubar a reputação de uma pessoa, seja por difamação, calúnia ou fofoca, é uma forma particularmente destrutiva de roubo, porque, diferentemente de dinheiro ou propriedade, uma vez que o "bom nome" de uma pessoa foi roubado, ele quase nunca pode ser totalmente restaurado.
2. A dignidade de uma pessoa. O ato de roubar a dignidade de uma pessoa é conhecido como humilhação. E humilhar uma pessoa, especialmente em público, pode danificar permanentemente o que talvez seja a coisa mais preciosa que qualquer um de nós têm: nossa dignidade.
3. A confiança de uma pessoa. Roubar a confiança de alguém é conhecido como enganar alguém. De fato, em hebraico, um termo para "enganar alguém" é "G'neivat Daat", que literalmente significa "roubar entendimento". Um exemplo é enganar uma pessoa para fazê-la comprar algo, como quando um agente imobiliário omite de um possível comprador todas as falhas de uma casa para poder concluir a venda. Um outro exemplo seria quando uma pessoa engana outra com falsas declarações de amor para obter favores materiais ou sexuais.
4. A propriedade intelectual de uma pessoa. Essa forma de roubo inclui tudo, desde crackear programas, ou baixar músicas e filmes sem ter pago por eles, até roubar as palavras de alguém, o que conhecemos como plágio.
Roubar uma vida, uma pessoa, um cônjuge, propriedade material, propriedade intelectual, uma reputação, dignidade ou confiança; quase não existe um único aspecto da vida humana que não é danificado, às vezes de forma irreparável, pelo roubo. É por isso que é justo dizer que se todos observassem somente um dos Dez Mandamentos, observar o mandamento "Não roubarás" faria, por si só, um mundo maravilhoso. Eu sou Dennis Prager.
O nono mandamento é: "Não darás falso testemunho contra teu próximo." Isso significa duas coisas: não minta quando testemunhar em uma corte, e não minta. "Ponto final." Lembre-se, para que uma ação seja proibida, ou requerida nos Dez Mandamentos, ela deve ser fundamental para a civilização. Por mais importante que montar um burro deve ter sido, quando os Dez Mandamentos foram dados, não há, nos Dez Mandamentos, um mandamento para que se monte de forma responsável. A sociedade pode sobreviver aos maus montadores de burro, mas ela não pode sobreviver ao desprezo pela verdade, seja dentro ou fora do tribunal.
Se as pessoas derem falso testemunho em um tribunal, não é possível haver justiça. E, sem ao menos a esperança por justiça, não é possível haver civilização. A Bíblia hebraica foi tão rígida no assunto que a punição para uma testemunha que desse um falso testemunho era a mesma punição que seria dada ao acusado, caso o falso testemunho tivesse sido aceito. No caso de um crime que seria punido com pena de morte, portanto, a testemunha mentirosa era passível de ser condenada à morte.
Mas o mandamento está claramente preocupado com a verdade em geral; não somente em um tribunal. Tanto o grande comentarista judeu do Século XII, Ibn Ezra, e um dos mais influentes estudiosos bíblicos do Século XX, Brevard Childs da Universidade de Yale, concordaram que o mandamento é sobre falar a verdade em geral. Como Childs apontou, se os Dez Mandamentos estivessem somente preocupados com a verdade ou mentira no tribunal, eles teriam palavras adicionais, como "no tribunal".
Há muitos valores importantes na sociedade, mas a verdade é, provavelmente, o mais importante. Bondade e compaixão podem ser os valores mais importantes na microesfera - na vida pessoal - mas, na macroesfera - ou na vida em sociedade -, a verdade é ainda mais importante do que a compaixão ou bondade. Virtualmente todos os grandes males da sociedade, como a escravidão africana, nazismo e comunismo, foram baseados em mentiras. Havia traficantes de escravos, nazistas e comunistas que tinham compaixão em suas vidas pessoais, mas todos eles contaram, e a maioria deles acreditou, alguma grande mentira que os permitiu participar de um grande mal.
A escravidão dos negros foi possível, em grande parte, por causa da mentira, de que negros eram inferiores aos brancos. O Holocausto teria sido impossível, sem dezenas de milhões de pessoas acreditando na mentira de que judeus eram hereditariamente inferiores aos autodeclarados arianos. E o totalitarismo comunista foi inteiramente baseado em mentiras. É por isto que o jornal do partido comunista soviético foi nomeado "Pravda" (a palavra russa para "Verdade"), porque o partido, e não a realidade objetiva, era a fonte da verdade.
Há uma limitação para o mal que indivíduos sociopatas e sádicos podem fazer. Para poder assassinar milhões, um grande número de pessoas outrora normais, ou mesmo decentes, devem acreditar em mentiras. Um mal massivo não é cometido porque um vasto número de pessoas desejam ser cruéis, mas porque são alimentadas com mentiras que as convencem que o que é mau é, de na verdade, bom.
Porém, um grande obstáculo para dizer a verdade é que crentes em "causas" - inclusive as boas "causas" -, que não colocam a verdade como um valor central, serão tentados a mentir em nome de sua "causa". Existem muitos exemplos: nos anos 80, por exemplo, para promover a causa dos desabrigados, o ativista líder do movimento alegou que havia de 2 a 3 milhões desabrigados nos Estados Unidos. Anos depois, ele admitiu, em canal nacional, que tivera de apresentar um número então ele inventou este. O número real estava entre 250 mil e 350 mil.
Similarmente, grupos pela luta contra o câncer foram pegos exagerando o número de casos de câncer de mama por ano. Por quê? Para assustar as mulheres e levá-las a fazerem mamografias. De novo, mentindo para uma "boa causa". Por que mentir em nome de boas causas é destrutivo? Porque, se não soubermos o que é verdade, como e onde saberemos onde alocar apropriadamente os recursos limitados da sociedade? E, nos piores casos, a mentira distorce as prioridades da sociedade e, portanto, causa grande dano.
Os Dez Mandamentos estão aí para avisar a todos nós que, com pouquíssimas exceções, como o salvamento imdediato de vidas inocentes, nenhuma causa é mais importante do que dizer a verdade. Os Dez Mandamentos são a melhor lista de instruções já inventada para se criar uma boa sociedade, mas tal sociedade não pode ser criada, ou mantida, se não for baseada na verdade. Eu sou Dennis Prager.
Nos Dez Mandamentos, os mandamentos 6, 7, 8 e 9 são os que proíbem maus atos: assassinato, adultério, roubo e perjúrio. E depois há um mandamento que proíbe a coisa que leva ao assassinato, adultério, roubo ou perjúrio. Qual é o mandamento? É o último dos dez. "Não cobice nada que pertença aos outros - seu cônjuge, sua casa, seus servos, seus animais, ou qualquer um dos seus bens." Para entender esse mandamento e sua importância ímpar, a primeira coisa que se deve entender é que esse é o único dos Dez Mandamentos que legisla sobre o pensamento.
Todos os outros mandamentos legislam sobre o comportamento. De fato, das 613 leis nos 5 livros de Moisés, virtualmente nenhuma proíbe o pensamento. Por que então nos Dez Mandamentos há uma lei que proíbe um pensamento? Porque é a cobiça que geralmente leva ao mal ou, para colocar de outra forma, a cobiça é o que leva à violação dos 4 mandamentos anteriores, aqueles que proíbem assassinato, adultério, roubo e perjúrio.
Pense nisso: por que as pessoas fazem essas coisas? Na maioria dos casos, é porque cobiçam algo que pertence a outra pessoa. Obviamente, é por isso que pessoas roubam - ladrões cobiçam a propriedade das vítimas -, mas também é a razão de muitos assassinatos. E cobiça é, obviamente, a razão do adultério: querer o cônjuge de outra pessoa. Quanto ao perjúrio - ou dar falso testemunho, na linguagem dos Dez Mandamentos, ele é feito para encobrir todos esses outros crimes que são causados pela cobiça.
Mas, para poder entender por que a cobiça é o único pensamento proibido nos Dez Mandamentos e um dos únicos pensamentos proibidos em toda a Bíblia Hebraica, nós precisamos entender o que cobiçar significa e, igualmente importante, o que não significa. Cobiçar é muito mais do que "querer". O verbo em hebraico - "Lachmod" - significa: "querer ao ponto de planejar tomar e possuir algo que pertence a outra pessoa".
Perceba que há dois elementos operativos aqui: "planejar tomar" e "pertence a outra pessoa". "Planejar tomar" não significa somente invejar ou, no caso do cônjuge de seu próximo, só desejar. Inveja e desejo não são proibidos nos Dez Mandamentos. Inveja e desejo descontrolado certamente podem levar ao mal e ambos podem ser psicologicamente e emocionalmente destrutivos, mas eles não são proibidos nos Dez Mandamentos. Por quê? Porque não são o mesmo que cobiçar. É cobiçar que, quase que inevitavelmente, leva ao roubo, ao adultério e, algumas vezes, até ao assassinato.
Deixe-me explicar isso de outra forma: o décimo mandamento não proíbe você de dizer "uau, olha que casa ou carro ou cônjuge meu vizinho tem. Eu queria ter uma casa ou carro ou cônjugue como ele". Isso pode ser destrutivo, mas também pode ser construtivo. Como? Isso pode te estimular a trabalhar mais e aprimorar sua vida, de forma que você possa obter uma casa, ou carro, ou cônjugue, como seu vizinho. É quando você quer e planeja tomar posse da casa, carro ou cônjuge específicos que pertencem a outro que o mal acontece. E é isso o que o décimo mandamento proíbe.
Portanto, um desses dez mandamentos, essas dez regras básicas da vida, deve ser que não podemos nos permitir cobiçar o que pertence ao nosso vizinho. Tudo que pertença a outra pessoa deve ser mantido como sacrossanto. Nós não podemos planejar possuir qualquer coisa que pertença a outro, porque somente o mal seguirá esse desejo. Eu sou Dennis Prager.