Índice Superior Vai para o próximo: Capítulo 5
Arquivos de Impressão: Tamanho A4.
Pouco antes do encontro com a personalidade "eletrizante" que falou através do sujeito adormecido e proclamou ser de outro mundo, o Dr. Sadler preparou para entregar ao Fórum uma série de conferências sobre "Higiene Mental". Assim que ele se postou por trás da estante de leitura na tarde de sábado, um participante perguntou se o Médico tinha qualquer informação sobre um psíquico que tinha anunciado no jornal e estava atuando na ocasião no centro de Chicago. O Dr. Sadler respondeu que não, e acrescentou:
"Com uma ou duas exceções, todos os fenômenos psíquicos que investiguei acabaram se revelando fraudes conscientes ou inconscientes. Alguns eram fraudes deliberadas, outros eram aqueles casos peculiares nos quais os atuantes eram vítima das decepções de suas próprias mentes subconscientes33."
"O que eram as exceções? Doutor, se você encontrou casos que foi incapaz de resolver, isso seria interessante. Conte-nos mais acerca deles."
"Há um caso peculiar que ainda não fui capaz de resolver", respondeu o médico. "Estou trabalhando nele, no momento." O Dr. Sadler pediu em seguida que a Dra. Lena pegasse algumas notas que ela tinha tomado durante uma recente seção com o sujeito. Deve-se salientar que não havia segredo ligado com o caso naquele momento (além do respeito profissional pela anonimidade do sujeito). Os Documentos de Urantia não tinham começado a aparecer34.
A Dra. Lena começou a ler as notas recentes para um grupo fascinado. O Dr. Sadler fez um comentário acerca da reação energética da assembléia:
"O grupo manifestou um tal interesse no caso que jamais me foi possível, indo de lugar em lugar, dar as conferências sobre saúde mental que eu planejara."
A reunião começou a focar os debates informais nos fenômenos psíquicos. Essas discussões prosseguiram por várias semanas, estavam ainda em progresso quando os Sadler receberam o momentoso desafio da "personalidade eletrizante". o alegado ser celestial que os admoestou a fazer perguntas mais significativas35.
Dr. Sadler optou por falar ao Fórum sobre a provocação robusta anterior, que ele e Dr. Lena receberam das mãos do pretenso visitante celestial. Ele sugeriu que os membros poderiam ajudar à formular as questões mais difíceis sobre as quais conseguiriam pensar e trazê-las de volta no próximo Domingo. Os membros concordaram, e na discussão que imediatamente se seguiu foi decidido começar com questões sobre a origem do cosmos, Deidade, criação, e outros assuntos muito além do conhecimento da humanidade no presente dia. No domingo seguinte centenas de questões foram trazidas. Demorou vários dias para ordenar e classificar estas questões, e descartar duplicatas36.
Foi portanto, em dezembro de 1924, que os Sadler ficaram preparados para apresentar um formidável número de perguntas em resposta ao ostensivo desafio celestial. Eles mantiveram essas perguntas prontas para a próxima sessão com o sujeito adormecido, esperando uma oportunidade de "invocar o blefe" das alegadas inteligências superiores. O Dr. Sadler sentiu que ele estava sobrecarregado com 181 perguntas escritas de certa profundidade37. A primeira dessas perguntas era: "Há realmente um Deus? E, se há, com que se parece Ele38?" Contudo, semanas se passavam, e nada acontecia. Então, às seis de uma manhã, o telefone tocou. Era a esposa do sujeito adormecido.
"Por favor venha aqui depressa!" disse ela.
"Que aconteceu?" perguntou o Dr. Sadler. "Ele está no estado adormecido?"
"Ele está adormecido, sim. Mas não se trata disso", disse ela. "Por favor, venha aqui depressa!"
Os Sadler "se vestiram como bombeiros voluntários" e correram para a residência. Quando chegaram, estavam sem fôlego e cheios de curiosidade39.
A esposa do sujeito os conduziu para uma escrivaninha no estúdio. Pegou um volumoso manuscrito escrito a mão e entregou-o ao Dr. Sadler. "De onde veio isto?" perguntou Sadler.
"Eu não sei", disse a distraída senhora. "Ele produziu em seu sono ruídos estranhos que me acordaram. Então eu descobri isso sobre a escrivaninha."
"Ele esteve fora do leito?" perguntou o Dr. Sadler.
"Não que eu saiba. Não vejo como ele poderia ter saído do leito sem me acordar. E ele ainda está adormecido. Não sei como ele poderia ter feito isso."
Os Sadler começaram a examinar as cerca de 500 páginas de apertado texto escrito a mão40. O manuscrito parecia estar se endereçando às 181 perguntas que os Sadler tinham obtido do Fórum! Os espantados Sadler entraram no quarto de dormir. O sujeito estava num sono normal desta vez, e acordou facilmente.
"Sabe você o que esteve fazendo em seu sono?" perguntou o Dr. Sadler.
"Eu nada estive fazendo", replicou o sujeito.
"Ah, sim, você esteve. Você não escreveu isto?" perguntou Sadler.
"Não. Eu nada escrevi41."
O Dr. Sadler ligou para seu escritório e pediu a Christy para trazer imediatamente um aparelho que ele usava para medir fadiga muscular. Ele raciocinou que se o sujeito tivesse realmente escrito o documento à noite, seu braço mostraria evidência de exaustão. Mas quando Christy surgiu e o cavalheiro foi testado, não houve evidência de fadiga. Os Sadler obtiveram permissão do sujeito e de sua esposa para remover o manuscrito e mandar datilografar suas páginas.
Deve ser notado que os acontecimentos tinham tomado uma direção diferente. O que acontecera era notavelmente diferente das primeiras sessões com o sujeito "falando" e a Dra. Lena tomando notas. Embora o que tinha ocorrido tivesse abalado ainda mais a objetividade científica do Dr. Sadler, ele permaneceu convicto de que devia haver uma explicação plausível para o que tinha transpirado. Não obstante, ele estava perdendo terreno e não era um homem acostumado a ser totalmente confundido. Ele tinha um caso que, de início, parecera ser fala automática comum, mas que havia desafiado a análise tradicional. Agora, ele estava confrontando o que singelamente parecia ser à primeira vista uma vergonhosa escrita automática. Mas a análise destes novos fenômenos era ainda mais problemática do que as sessões do início.
Além de como era entendida a lista de perguntas do Fórum, em primeiro lugar, e o prodigioso conteúdo do manuscrito, havia outros problemas. O Dr. Sadler estimava que, para produzir o documento, seriam necessárias de sete a oito horas de escrita de um indivíduo normal a toda velocidade. Mas o conteúdo do material era tão profundo e inteligente que o Dr. Sadler duvidava que alguém tivesse a capacidade de produzir o material tão rapidamente42.
Os médicos tinham que enfrentar outra possibilidade: que o material pudesse ter sido preparado ao longo de um período de semanas ou meses, e todo o episódio pudesse ser uma mistificação. Como cientistas, os próximos passos óbvios para os Sadler era encontrar peritos em caligrafia para verificar se o manuscrito fora escrito pelo sujeito. Se ficasse provado que esse era o caso, não podia haver alternativa científica exceto concluir que o manuscrito ou era o produto de escrita automática inconsciente ou era uma fabricação deliberada, independentemente do testemunho aparentemente sincero do sujeito e de sua esposa.
Foram empregados vários peritos em caligrafia e todos concordaram que o material não estava na caligrafia do sujeito adormecido. Muitos anos mais tarde, em Culver, Indiana, Meredith Sprunger teve uma conversação com Clara Stahl, uma CPA [Contadora Pública Diplomada] e membro de sua congregação. Clara disse a ele que anos antes, quando ela estava trabalhando em Chicago, ela foi ter com os Sadler para tratamento médico. Foi convidada para assistir ao Fórum, o que ela fez. Ela recordava que peritos em caligrafia tinham determinado que os Documentos não estavam na caligrafia do sujeito. Não foi testado apenas o sujeito, sua esposa também o foi. A caligrafia foi determinada como sendo de origem desconhecida43.
Mark Kulieke escreve na página nove de "O Nascimento de Uma Revelação":
"Embora, em The Mind at Mischief, o Dr. Sadler se refira a mensagens escritas do contato individual, peritos em caligrafia atestaram que o material escrito não apresentava a caligrafia do sujeito humano ou daqueles à sua volta. O grupo de contato especulou sobre a possibilidade de que a escrita fosse a de um intermediário secundário."
Podemos razoavelmente captar a razão pela qual o "grupo de contato" tenha especulado que um "intermediário secundário" pode ter feito o trabalho físico da escrita dos Documentos. Na História Dois, página quatro, somos informados de que as mais exaustivas observações, investigações, e esforços da Comissão de Contato "falharam inteiramente em revelar a técnica de reduzir as mensagens à escrita".
Nem todos os historiadores Urantianos concordarão com a afirmativa de que a caligrafia do texto original era de origem desconhecida. Conquanto geralmente acreditando na autenticidade da Revelação, alguns não obstante crêem que o texto dos Documentos de Urantia foi escrito na caligrafia do sujeito. Contudo, é importante notar que virtualmente todos concordam que o sujeito nunca foi visto escrevendo o texto de qualquer mensagem, e aproximadamente todos concordam que ele realmente não o fazia. Talvez o mais forte argumento em favor de a caligrafia ser do sujeito seja baseada numa fita de Oklahoma de Bill Sadler Jr., datada de 18 de fevereiro de 1962, na qual ele responde à pergunta de se o texto foi escrito a lápis:
"Tudo escrito a lápis, sim. Tudo escrito na caligrafia desse indivíduo, que pesarosamente observou: `Se eles alguma vez quiserem sacar contra a minha conta bancária, eu ... eu estaria em apuros porque o banco pagará mediante aquela assinatura'."
Não é claro o que significa a expressão "aquela assinatura". Seria absurdo que os Intermediários, com a preocupação pela anonimidade dele, assinassem no texto o nome do sujeito adormecido! Além disso, embora os comentários pareçam quase definitivos, eles deviam ser considerados em conexão com as primeiras observações de Bill Sadler na mesma fita, que estabelece o fato de que ninguém jamais viu o sujeito escrevendo.
"Agora, durante todos esses anos, esse indivíduo particular a quem se faz referência no livro, jamais foi visto escrever um dos Documentos. E não pensem que não estivéssemos usando olhares de detetive. Se ele os escreveu, tudo que posso dizer é que ele era mais esperto do que todos nós. Ele nunca foi observado a escrevê-los."
Diz-se que o frequentador do Fórum Herman Schell declarou que eles até mesmo seguiram o sujeito ao trabalho num esforço de "pegá-lo" escrevendo o texto. Até mesmo o crítico Harold Sherman escreve que o sujeito estava adormecido no leito com sua esposa nas ocasiões em que se supôs que estivesse escrevendo o material.
Como, então, foram escritos os Documentos?. Bill Sadler prossegue nessa fita para propor uma notável teoria, que apresentaremos em detalhe no próximo capítulo:
"Eis a teoria que aceito. Quero que vocês visualizem vários pontos no espaço ... chamá-los-emos ponto A, ponto B, ponto C e ponto D. Penso que os Documentos eram ditados ou concebidos, no ponto A. E penso que se pudéssemos ter estado presentes no ponto A quando qualquer um desses Documentos estava sendo escrito, absolutamente nada teríamos visto. No ponto A estava talvez esse Conselheiro Divino que assina o Documento Um."
Bill Sadler faz então uma digressão para discutir problemas na tradução da língua de Uversa, a Capital do Superuniverso de Orvonton, para a linguagem de Salvington, (nosso universo local) e finalmente para o Inglês. Continua, então, com sua história de como os Documentos de Urantia foram materializados:
"Agora vocês teriam algo para ver no ponto B, mas seria muito sem graça. Seria um homem adormecido, um sujeito de aparência comum, simplesmente adormecido, sem nada fazer. Agora, se você pudesse se trasladar para o ponto C, seria excitante! Você se lembra do dia da ressurreição, quando os soldados viram a pedra rolar para fora, aparentemente por si mesma? O fato é que aquela pedra estava sendo empurrada ... por Intermediários Secundários, que são seres não corporais que podem lidar com substâncias físicas. No ponto C, penso que vocês teriam visto um fenômeno muito excitante, um lápis se movendo sobre um papel, sem nenhum meio visível de propulsão. Ali foi onde a escrita física se consumou." [Nota: O ponto "D", antes mencionado, não voltou a ser referido na fita.]
Dessa forma, a maioria dos eruditos Urantianos concordam que o sujeito não escreveu os Documentos, e muitos concordam que a escrita foi provavelmente feita por um Intermediário Secundário. Seguramente os Intermediários podiam ter conseguido o feito de reproduzir a caligrafia do sujeito adormecido, tivessem eles assim escolhido. Contudo, para que fim? Não apenas estaria isso em contradição com o propósito de manter desconhecida a identidade do sujeito, mas uma intromissão a esse ponto dentro da mente humana não estaria de acordo com a filosofia dos Documentos. Os Intermediários Secundários podem penetrar a mente humana com o propósito de atingir vários graus de contato com o fragmento de Deus (chamado o Ajustador do Pensamento) que normalmente reside em cada pessoa. (1258 - par. 1) - Os Ajustadores do Pensamento estão "bastante sós em sua esfera de atividade na mente mortal." (1190 par. 2) - Finalmente, os Ajustadores do Pensamento tornam as informações desses diversos níveis de seres celestiais "significativas" para as personalidades humanas. (425 - par. 1). Os Documentos declaram que o Ajustador do Pensamento do sujeito humano foi usado para materializar os Documentos., mas em parte alguma afirmam que a mente humana dele foi usada. É razoável concluir que foi exigido o Ajustador do Pensamento de um humano - não uma mente humana - para o especulativo processo que exploraremos mais profundamente no próximo capítulo.
Dois grupos adicionais de fatores relacionados, mais um princípio filosófico, compelem o autor à conclusão de que o texto escrito a mão dos Documentos de Urantia não o foi na caligrafia da Personalidade de Contato.
1. As lembranças inequívocas do De. Sprunger do que o Dr. Sadler e Christy disseram, verificadas por Clara Stahl, apóiam a conclusão de que o material não estava na caligrafia do sujeito. Deve também ser lembrado que Bill Sadler Jr. tinha 16 anos de idade à época do aparecimento do primeiro manuscrito, conforme documentado no Capítulo Três. Isso foi mais ou menos na época em que ele se alistou na Marinha (por meio de mentir quanto à idade). Ele não começaria de fato a ler os Documentos de Urantia senão mais tarde, quando estava em casa, de licença da Marinha, conforme documentado antes. Ele não poderia ter começado um estudo intenso dos Documentos até que seu alistamento estivesse concluído em 1928, quando ele estava com 20 anos de idade. É muito provável que o teste da caligrafia tenha tido lugar bastante cedo no processo, enquanto Bill Sadler estava ausente. Embora ele possa ter assistido a algumas das primeiras sessões envolvendo a personalidade de contato, seu interesse e atenção objetiva à época pode estar aberta a dúvida razoável. Finalmente, em e-mail de 8 de novembro de 1999 a mim dirigido, o Dr. Sprunger declara:
"Bill Sadler disse-me que a melhor conjetura que ele e seu pai tinham acerca de quem fez a caligrafia produzindo o texto original era que um Intermediário Secundário fez o manuscrito."
Esta declaração, em meu julgamento, atende às premissas aceitas melhor do que a contraditória declaração de Bill Sadler na fita de áudio.
2. O Dr. William Sadler era um conhecido perito em fenômenos psíquicos. Ele declarou com frequência que ele e outros peritos tinham malogrado quanto a saber como os Documentos foram materializados. Tivessem os Documentos sido feitos na caligrafia da Personalidade de Contato, isso teria constituído à primeira vista, evidência convincente, para qualquer cientista, de que o material tinha sido produzido mediante escrita automática. Se qualquer dos textos dos Documentos tivesse sido falado, ele teria sido de forma auto-evidente o produto de fala automática. O médico declarou categoricamente que nenhuma forma conhecida de escrita ou fala automática, ou outros métodos psíquicos, foram jamais empregados para produzir qualquer parte dos textos dos Documentos de Urantia, conforme documentado antes neste livro. A Dra. Lena Sadler estava provavelmente de acordo com estas asserções, e estava persuadida da autenticidade dos Documentos muito antes do seu marido.
3. O princípio filosófico da Navalha de Ockham pode ser aplicado. Confrontado com análises conflitantes de um conjunto de premissas sobre as quais houve acordo, escolha-se, tudo mais sendo igual, a alternativa menos complicada.
Essas preocupações sobre caligrafia parecem irrelevantes para muitas pessoas. O Dr. Sprunger nunca se cansa de dizer que é a mensagem dos Documentos o que é importante, e a Revelação não será estabelecida em nossa cultura até que muitas pessoas reconheçam sua qualidade sem igual.
Contudo, esta história é preparada primariamente para dar aos leitores uma oportunidade de tomar decisões informadas, quando pesando os vários debates e assuntos não resolvidos que giram em torno da origem dos Documentos de Urantia. Nos mundos mais esclarecidos, nós não precisamos de uma nova história para fazê-lo. Certamente, nenhum destino espiritual individual dependerá de se eles acreditam ou não que os Documentos foram originalmente materializados em caligrafia de origem desconhecida. Ninguém aceitará subitamente os Documentos de Urantia baseado na data e nas circunstâncias exatas sob as quais o Dr. Sadler encontrou o sujeito adormecido. Por que então tentar estabelecer para os novos e futuros leitores tantos fatos e suposições razoáveis quanto possível? Porque será virtualmente impossível estabelecer, para as futuras gerações, o fato de que os Documentos de Urantia não eram simplesmente um produto de escrita automática - outro trabalho canalizado - se for passivamente considerado que eles estavam de fato na caligrafia do sujeito adormecido.
Nós estamos numa busca meticulosa pela verdade porque há aqueles que, porque desejam denegrir ou controlar os Documentos, estão apresentando energicamente apenas um lado do assunto. No caso da caligrafia, na página 67 de "How to Know What to Believe", Harold Sherman faz quatro referências dentro de cem palavras, ou algo parecido, que declaram que o documento produzido naquela noite há muito tempo, estava na caligrafia do sujeito. Ainda assim, em sua própria narrativa, Sherman coloca virtualmente o sujeito no leito, dormindo com sua esposa, quando o documento era escrito. Este paradoxo pode ser explicado pelo desejo aparente de Sherman, de classificar forçadamente a Revelação de Urantia como um fenômeno psíquico comum de escrita automática. Ele era muito desfavorável à rejeição geral de fenômenos "psíquicos" dos Documentos de Urantia, especialmente aqueles de comunicação com os mortos e reencarnação. O teorema da caligrafia de Sherman foi aproveitado por Martin Gardner e outros para ajudar a apoiar seus ataques sobre a fidelidade dos Documentos de Urantia, e para estabelecer que eles foram produzidos por atividades "psíquicas" comuns, e tinham autoria humana.
Se nós que pensamos de forma diferente ficamos silenciosos, isso diminui a oportunidade de os leitores fazerem avaliações informadas. Eu vim a acreditar na Revelação muito antes de descobrir muitas coisas sobre suas origens, como fez a maioria da segunda geração de leitores. Leitores futuros, quer prefiramos assim quer não, podem colher informações das origens antes que tenham oportunidade de ponderar a mensagem. Devíamos esforçar-nos para ver se o leitor tem informação bastante para estabelecer conclusões informadas. Devíamos também aspirar a uma qualidade de pensamento analítico acerca dessas questões que seja consistente com a filosofia dos Documentos de Urantia. No próximo capítulo examinaremos o que exatamente dizem os próprios Documentos sobre a materialização da Revelação.
Os Drs. William e Lena Sadler trouxeram o imenso manuscrito datilografado para a reunião do Fórum de 18 de janeiro de 192544. O Médico anunciou, para os membros, que suas questões tinham sido respondidas com surpreendente detalhe, e leu a primeira seção ou "Documento", para o grupo. Muito mais tarde depois da reunião, os membros deixaram o edifício da Diversey Parkway, 533, para seguirem para suas casas. Parece duvidoso que muitos deles tenham compreendido a importância do que tinha realmente acontecido naquela noite de janeiro em Chicago. Clyde Bedell, que se tornou um Urantiano tão firme quanto qualquer um dos que já viveram, não podia sequer recordar quando a primeira leitura dos Documentos tivera lugar. E ele disse que, pelo que ele sabia, ninguém tinha naquela ocasião qualquer noção de que eles estavam envolvidos numa revelação para toda uma época.
Nas semanas seguintes, desenvolveu-se no Fórum o costume de ler uma seção do manuscrito e extrair perguntas dos participantes. O salão do Fórum, na residência de Sadler continha cerca de cinquenta cadeiras dobradiças. Às vezes, frequentadores do Fórum ocupavam todas as cadeiras e transportavam para o corredor adjacente. O Dr. Sadler (ou, mais tarde, Bill Sadler Jr.) leria um Documento. Membros do Fórum submeteriam, então, perguntas na forma escrita, que eram coletadas num aquário ou numa cesta e colocadas sobre uma mesa a um lado do salão. Essas perguntas seriam sorteadas, as duplicatas eliminadas, e as relevantes reunidas numa página ou duas. Não é exatamente claro como eram elas submetidas aos Reveladores. Helen Carlson, que esteve no Fórum de 1935 em diante, descreveu o processo de perguntas e respostas acima. Ela disse que pensava que as perguntas eram em seguida colocadas num ponto específico, mas ela nunca foi capaz de descobrir onde esse ponto poderia estar45.
O Fórum era usado da maneira que "grupos de focalização" são usados no marketing comercial para estudar as reações gerais dos consumidores a produtos ou campanhas de anúncios. O grande movimento de pessoas no Fórum não era assim tão significante, desde que, na média, um membro do Fórum demorava apenas dois anos. Aparentemente, aquilo em que os Reveladores estavam interessados era a reação humana geral e a compreensão do material que estava sendo apresentado. Pela monitoração e avaliação das reações à leitura dos Documentos, os invisíveis Reveladores expandiam e refaziam o material. Esse processo formava gradualmente um manuscrito maior, revisado e afinado com as reações, a compreensão e as novas perguntas dos membros do Fórum. O arranjo inicial era bastante informal e continuou por aproximadamente oito meses, depois que o primeiro documento foi lido para o Fórum. Naquela ocasião o Dr. Sadler anunciou para os membros que a Comissão de Contato tinha sido instruída para fazer do Fórum um grupo fechado.
Os membros foram informados de que seria exigido deles que assinassem um voto de segredo. Em setembro de 1925, trinta indivíduos concordaram em assinar esse voto e o Fórum tornou-se oficialmente um grupo fechado. Uma vez que o movimento continuou a ser um problema, novos membros poderiam ser aceitos, mas somente depois de serem "entrevistados pelos oficiais e terem assinado o mesmo voto que fora assinado pelos Membros Titulares originais":
"Nós confirmamos nosso voto de segredo, renovando-o para não discutir as Revelações de Urantia ou a matéria dos seus textos com qualquer pessoa salvo membros ativos do Fórum, e para não tomar notas de tais matérias, à medida que fossem lidas ou discutidas nas sessões públicas, nem fazer cópias ou anotações do que lêssemos pessoalmente46."
Contudo, os membros da Comissão de Contato eram os únicos indivíduos que jamais conheceram a identidade do sujeito adormecido. Os membros do Fórum não assistiam às sessões de contato47. Os membros do Fórum nunca viram os manuscritos originais, que eram guardados num cofre48. Depois que tinham sido datilografados, disse o Dr. Sadler ao Dr. Sprunger que os manuscritos originalmente escritos desapareciam misteriosamente do cofre. Embora tentasse descobrir a técnica que estava sendo usada, Sadler nunca foi capaz de descobrir como isso era realizado49. O Dr. Sprunger diz que o Dr. Sadler contou-lhe que de início ele tentou vários truques para embaraçar o processo e possivelmente revelar um embuste. Sadler uma vez colocou várias notas de 10 dólares entre certas páginas do manuscrito antes de coloca-lo no cofre. O manuscrito desapareceu e as notas de 10 dólares ficaram. Colocou ele em seguida um manuscrito numa caixa de depósito subterrânea de um banco, mais segura do que seu próprio cofre. Ele disse que de alguma forma o manuscrito desapareceu, e ele foi mais tarde admoestado que seria desejável que ele descontinuasse seus vários "truques".
O processo inicial de perguntas e respostas continuou até 1929. Sabemos, por causa do seu comentário contemporâneo em The Mind at Mischief, que o Dr. Sadler ainda abrigava reservas quanto ao procedimento, mas que ele também concedia que, quanto a analisar o fenômeno que estava tendo lugar, ele estava exatamente onde começara. O processo de cinco anos eventualmente produziu 57 Documentos, e o manuscrito datilografado final consistia de 1700 páginas50.
O único contato envolvido durante o procedimento total, que deveria continuar de forma similar por muitos anos, foi o sujeito adormecido51.
O texto completo dos Documentos de Urantia foi materializado em forma manuscrita52. Em seguida foi datilografado, conferido, e o documento manuscrito original foi colocado num cofre. (Conforme explicado, esses documentos originais sempre desapareceram misteriosamente do cofre). A Comissão de Contato não tinha absolutamente nenhuma autoridade editorial. Seus membros estavam confinados aos deveres relativos a ortografia, maiúsculas e pontuação. Os Documentos de Urantia foram publicados em 1955 exatamente como foram recebidos - no limite da capacidade humana de fazê-lo. Não houve absolutamente intromissão humana quanto a autoria, conteúdo ou disposição53.
Aparentemente desenvolveram-se comunicações verbais informais entre os Reveladores e a Comissão de Contato, sempre como um grupo, e sempre na presença do sujeito adormecido. Essas comunicações verbais informais com a Comissão de Contato como um grupo eram provavelmente diretas, e não mais usavam as cordas vocais da personalidade de contato como um mecanismo intermediário para o intercurso54. Como foram realizadas essas novas comunicações é questão aberta. Contudo, no meu julgamento, tais comunicações verbais não são inconsistentes com os Documentos de Urantia, em que os Intermediários Secundários podem, sob certas condições, afetar a matéria, e assim eles podem teoricamente, produzir ondas de som. Essas comunicações são administrativas e nada têm a ver com o texto dos Documentos de Urantia, que por algum meio não inteiramente compreendido, sempre foram materializados em forma escrita.
É igualmente significativo que as comunicações só tivessem lugar sob certas condições. Não menos do que dois membros da Comissão de Contato tinham de estar presentes para que elas ocorressem55. Isso é diferente das assim-chamadas atividades de "canalização" porque as comunicações verbais em questão eram aparentemente desincorporadas e eram sempre ouvidas por pelo menos duas partes verificadoras. Essas verificações eliminam a possibilidade de auto-ilusão. No assim-chamado processo de "canalização" supostamente as palavras são, ou "escutadas" por um indivíduo em particular, ou faladas por um indivíduo que alega que elas estão vindo de uma entidade autorizada desincorporada. Em qualquer desses casos não há possibilidade de corroboração. Talvez essas observações indiquem por que o método de comunicação verbal por meio do uso das cordas vocais do sujeito adormecido tenha sido eventualmente abandonado pelos Reveladores. Nesse estágio do processo de contato - (supondo que fosse empregado contato verbal direto) - talvez os membros da Comissão de Contato pudessem lidar com vozes desincorporadas sem tensão indevida. Mesmo assim, essa técnica pode ter lançado as sementes para futuros problemas na mente humana de um dos membros da Comissão, como veremos.
Outras comunicações administrativas, igualmente não relacionadas ao texto, incluíam mais instruções formais em forma escrita para a Comissão de Contato. Como o texto, essas mensagens escritas eram materializadas de uma forma desconhecida. Quase todas as mensagens tinham uma recomendação na última página, em que se lia:
"Para ser destruído pelo fogo não mais tarde do que o aparecimento dos Documentos de Urantia impressos." Não se sabe que exista nenhum original de qualquer espécie56.
Os fatos acima razoavelmente definidos e documentados levantam a questão não somente quanto a como, mas por que o sujeito adormecido foi envolvido nos procedimentos de materializar o texto e as mensagens escritas, uma vez que as evidências indicam que ele não os escrevia. Além disso, por que estava ele aparentemente sempre presente (num estado de sono, profundamente inconsciente) quando tiveram lugar as comunicações verbais de grupo entre a Comissão de Contato e os Intermediários, uma vez que há pelo menos algumas indicações de que sua voz não mais estava sendo usada? Embora estejamos incertos se os mecanismos de sua voz continuavam a ser usados para algumas comunicações, podemos estar um tanto quanto certos de que, não obstante o texto dos Documentos estivesse concluído e as preparações para a impressão do livro estivessem em andamento no começo dos anos Quarenta (veja o Capítulo nove), a personalidade de contato esteve presente durante todas as comunicações, até quando a ligação foi oficialmente interrompida em 1955.
O Dr. Sprunger presume que certas regras ou protocolos celestiais estritos governam o processo pelo qual uma revelação de época pode ser transmitida. Isso é consistente com o que os próprios Documentos esclarecem sobre revelações de época na página 1109. Nessa seção os Documentos também nos informam que uma revelação de época é diferente de uma auto-revelação, ou das revelações pessoais que são realizadas numa mente humana por um Ajustador do Pensamento sozinho. Revelações de época são "apresentadas pela função de algum outro agente, grupo ou personalidade celestial". Na página 1008 somos informados de que os Documentos de Urantia "diferem de todas as revelações prévias, pois eles não são a obra de apenas uma personalidade do universo, mas uma apresentação que tem por origem muitos seres". Podemos razoavelmente supor que o aparentemente difícil processo pelo qual a materialização inicial dos Documentos foi realizada, e os meios pelos quais eles foram editados por seres celestiais, tenha exigido os serviços do Ajustador do Pensamento de um ser humano. É possível que o protocolo celestial tenha exigido que o Ajustador do Pensamento de um humano estivesse presente, mas não temos certeza. De significado máximo para personagens celestiais no processo de apresentar uma revelação de época evidentemente está o derradeiro bem-estar e a proteção dos seres mortais evolucionários do planeta. Por essa razão o processo é preparado para ser o mais seguro e menos intrusivo possível.
Não sabemos como as últimas sessões foram instigadas pelos Reveladores, ou o que os procedimentos reais significavam para os contatos subsequentes. Parece claro que os Reveladores estavam dirigindo os mortais. Não sabemos se a esposa do sujeito continuou a estar presente durante os últimos contatos. Considerando o processo de revelação de época, há questões que não podemos responder: Era necessário que a Dra. Lena fizesse uma pergunta antes que o contato inicial pudesse ter lugar através do sujeito adormecido? Por que parecia necessário solicitar dos membros do Fórum profundas indagações cuidadosamente pensadas antes de encaminhar assuntos? Além disso, muita especulação e coisas de autenticidade duvidosa se desenvolveram em torno dos métodos de materializar os Documentos. Num mundo ideal, não surgiriam essas questões, a mensagem dos Documentos sozinha falaria pela autenticidade deles. Essa era a esperança original do Dr. Sadler:
"Dos que estivemos em contato com esse fenômeno desde o começo, há apenas uns poucos ainda vivos, e quando morrermos, o conhecimento disso morrerá conosco. Então o livro existirá como um grande mistério espiritual, e nenhum humano saberá de que maneira ele surgiu57."
A ironia dessa significativa declaração é que ela foi feita logo depois de o Dr. Sadler ter revelado grande quantidade de informações a dois jornalistas (os Sherman) acerca da origem dos Documentos de Urantia. Sendo a natureza humana o que é, tem surgido uma massa de falsas informações e de coisas de autenticidade duvidosa acerca dos Documentos, especialmente nos anos recentes. O risco é o de alguém desenvolver um culto em torno do Livro de Urantia propriamente dito, uma virtual "religião" acerca do livro, para excluir suas mensagens e ensinamentos. Talvez a idéia mais insípida que se apresentou seja a de que os membros da Comissão de Contato tenham poderes secretos e status espiritual especial. O povo adora estórias dessa natureza. Em seus vários escritos, Mark Kulieke parece ter uma visão ambígua dessas coisas. Mas na segunda edição de "O Nascimento de uma Revelação", ele faz uma observação importante e definitiva na página 11:
"Provavelmente, um fator ou perspectiva a que, com frequência se dá pouca atenção é o fato de que não apenas o Dr. Sadler, mas toda a Comissão de Contato não eram dados [sic] a experiências místicas ou extra-sensoriais. Enquanto eles viveram e testemunharam algumas ocorrências altamente incomuns, cobrindo metade de um século, eles não solicitaram ativamente essas experiências. Eles podiam nunca iniciar a experiência de contato nem fazer qualquer coisa para realçar a verossimilhança de um contato. Na verdade, eles gastavam muito de seu tempo sendo dúbios acerca do inteiro procedimento. Todo o impulso e o controle estavam nas mãos dos super-humanos. A Comissão de Contato era [sic] incapaz de cultivar qualquer coisa incomum, mas eram essencialmente recipientes passivos desse projeto altamente incomum. Eles tinham seus papéis ativos, mas suas atividades eram humanas e comuns, não místicas. E eles permaneceram cépticos de todas as coisas ocultas ou incomuns. Eles experimentaram uma transação sem par de uma revelação de época mas não se interessaram em muitos episódios de revelação pessoal (muitos deles também genuínos ou parcialmente genuínos) que continuamente se mostram em abundância em toda a nossa volta."
No decurso de 1929, parecia que o projeto estava quase completo. Mas em seguida foi enviada ao Fórum uma nova mensagem direta escrita através da Comissão de Contato:
"Com vosso crescente entendimento derivado da leitura e do estudo do material, vocês podem agora fazer perguntas mais inteligentes. Vamos seguir através do livro outra vez58."
Assim, por volta de 1929-1930, o grupo começou uma re-leitura do formidável manuscrito.