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TESE 67 - É anterior o que de certo modo se dá antes de outro, que lhe é posterior.
É primeiro o que, de certo modo, tem prioridade.
Na ordem da eminência, das perfeições, o antecedente é mais perfeito que os posteriores, e o primeiro é o mais perfeito e o mais nobre. Ao antecedente sucede o posterior.
TESE 68 - O dependente, para ser, depende de um anterior.
O que pende de outro, de-pende dêsse outro; exige outro do qual decorra a sua existência; outro que o faz.
Essa relação de dependência tem de ser real, pois do contrário ela não haveria, pois o ente não penderia de outro.
A exigência desse nexo real evita as costumeiras confusões entre causa e condição.
Na causa, há dependência do efeito com nexo real; na condição, a existência do efeito não depende por um tal nexo. Assim, a luz é condição para que alguém possa escrever, não causa do escrever. A acção de escrever não pende da acção da luz, mas da acção do escrevente.
A dependência é inerente ao dependente, e liga-se ao de que depende pelo nexo real do fieri, do devir. Portanto, há o agente, há o fieri e o resultado; há um anterior e um posterior, conseqüentemente.
O nexo de dependência liga-os; mas a dependência, enquanto tal, é totalmente inerente ao posterior.
TESE 69 - A dependência implica anterioridade e posterioridade.
Onde há dependência há o que depende; há o dependente, e o do qual êste depende.
Êste, necessàriamente, é anterior, e aquele é posterior.
TESE 70 - A dependência implica abaliedade e subalternidade.
Abaliedade e o carácter do que provém de outro (abalio), ou melhor: cujo ser é dado por outro; depende de outro, de outro provém. Ora, o dependente não tem em si a sua razão de ser, nem a sua origem em si mesmo, mas em outro.
Conseqüentemente, a dependência implica abaliedade.
É subalterno (de sub e alter, outro) o que, para ser ou existir, exige um outro que lhe dê o ser, a existência.
Ora o dependente, sendo ordenado por outro, é por outro, enquanto efeito tal, e de outro subordinado; portanto é subalterno.
TESE 71 - A anterioridade e a posterioridade dão-se na ordem cronológica, na ordem espacial, na ordem lógica, na ordem da eminência, na ordem axiológica, na ordem ontológica e na ordem teológica.
É anterior o que precede, e posterior o que o sucede, e não há este sem haver aquêle.
O posterior, para ser, não pode prescindir do anterior, embora se possa compreender, sem contradição, o anterior, sem necessidade de haver o posterior.
Na ordem cronológica, o que sucede é de certo modo posterior ao anterior. No espaço, fala-se também em anterioridade e posterioridade, mas em sentido de medida, já que espacialmente há simultaneidade e não pròpriamente dependência, porque o espaço medido posteriormente não é dependente do espaço medido anteriormente, e essa a razão da sua reversibilidade, pois pode-se medir de A para B, como de B para A.
Na ordem lógica, o gênero antecede à espécie, e esta não é sem aquele. Na ordem da eminência, o mais perfeito antecede ao menos perfeito, como o mais antecede ao menos, pois do contrário viria do nada.
Na ordem axiológica, o valor mais alto tem de anteceder ao valor menos alto, pois do contrário viria aquele do nada, ou seja: o mais viria do menos, o que é absurdo.
Na ordem ontológica, o ser maior tem de preceder ao ser menor, pelas mesmas razões, senão o excedente do maior viria do nada. Na ordem teológica, como decorrência rigorosa das mesmas razões, o infinito tem de anteceder ao finito, pois sem aquêle este não tem razão de ser.
Esta prova será ainda robustecida por outras.
TESE 72 - O que não é posterior ao anterior não é posterior ao posterior.
Esta tese é evidente de per si. O que não depende do anterior não provém do que é posterior ao anterior, pois aquêle depende do anterior.
TESE 73 - O anterior ao anterior é anterior ao posterior.
É uma decorrência rigorosa do que até aqui foi estudado.
TESE 74 - Causa é o nome que se dá à dependência real do posterior ao anterior.
O posterior segue-se necessàriamente ao anterior, e não ao contrário. Sem o anterior seria impossível o posterior. Ora, êste, quando depende do primeiro, por natureza e essência, é pôsto em causa, é actualizado por aquêle. Desta forma, o dependente é causado, e o de que depende é a sua causa.
Fundado na divisão das causas aristotélicas, Duns Scot faz a seguinte classificação:
o posterior do fim (causa final) é o finitum (finito);
o posterior da causa material é o materiatum (materiado);
o posterior da causa formal é o formatum (formado);
o posterior da causa eficiente é o effectivum (efectivo);
e, em suma, o posterior de uma causa, é o causatum (causado).
TESE 75 - Quanto à natureza e à essência, o anterior é apto a existir sem o posterior. O inverso não se dá.
Não há nenhuma contradição que, existindo o primeiro, não exista depois o segundo. Já o contrário não se pode dar. Se o posterior depende, quanto à natureza e a essência do primeiro, não pode existir sem existir aquêle. O posterior necessita do anterior, e essa necessidade chama-se dependência.
TESE 76 - Um ser não depende essencialmente de si mesmo.
Se um ser dependesse essencialmente de si mesmo, seria ele anterior a si mesmo, o qual seria posterior.
Neste caso, êsse ser existiria antes de existir, o que é absurdo. Ademais, se dependesse de si mesmo, sua existência seria decorrente de si mesmo, o qual já existiria. Portanto, um ser não depende essencialmente de si mesmo.
TESE 77 - Um ser não pode ser mais do que ele mesmo.
Para que um ser pudesse ser mais que êle mesmo, teria de receber suprimento de outro. Não poderia recebê-lo de si mesmo, pois então já o seria. A razão ontológica de que um ser não pode ser mais do que êle mesmo está no seguinte: o excedente de ser, não estando nele, viria de outro, seria de outro e não dele, algo que a êle se aderiria, não algo que fôsse dêle mesmo. Ou então o suprimento viria do nada, o que é absurdo.
Um ser, portanto, não pode ser mais do que êle mesmo. Esta proposição será demonstrada dialécticamente por outros meios, quando coordenada com outras proposições que, de modo apodítico, demonstrarão que um ser é sempre proporcionado à sua emergência, ao que já é.
TESE 78 - Um ser não pode existir sem si mesmo.
Para um ser existir é preciso que exista, e impõe-se que haja êle mesmo. Um ser existir sem si mesmo seria não existir.
TESE 79 - O ser dependente é necessàriamente finito. O Ser infinito é absolutamente independente.
Caracteriza o ser finito o não ser plenitude absoluta de ser, o não estar na plenitude absoluta do ser; o ser privado de alguma perfeição.
Se o ente finito tivesse plenitude absoluta de ser, não seria dependente, nem teria limites, porque a dependência limita o ente.
Sendo limitado, faltar-lhe-ia pelo menos a perfeição da independência.
Esta perfeição é de ser, porque o nada não tem perfeição, nem é perfeição. Portanto, a perfeição que lhe falta é; conseqüentemente, o ser limitado é finito e deficiente, distinguindo-se dêste modo do Ser absoluto.
TESE 80 - O que pode existir por sua própria fôrça existiu sempre, e não foi causado.
Um ser que pode existir por sua própria força não depende de outro para ser. E se êle pode existir por sua própria fôrça, êle teria de existir sempre, pois do contrário não poderia existir por sua própria fôrça, pois antes de existir seria nada.
Portanto, desde o momento que captamos um ser, que é capaz de tal, êle necessàriamente existiu sempre.
Ora, é inevitável que algum ser existiu por sua própria fôrça, e existiu sempre, pois do contrário teria existido pela fôrça de outro que o antecedeu. Como não poderíamos ir ao infinito, o antecedente seria um ser que existiu de tal modo; logo, há de haver um primeiro que existiu por sua própria fôrça, e pela qual existiram os sucessivos, os posteriores. Esta prova é apenas subsidiária das que já apresentamos sôbre o Ser Infinito.
E ademais êsse ser existiu sempre, porque do contrário seria causável, e também seria a sua própria causa, causa sui, o que seria absurdo ante o que já examinamos.
Neste caso, êsse ser não seria o primeiro, e teria vindo do nada e não de si mesmo, pois, como poderia êle causar a si mesmo, a não ser que fôsse causável e, portanto, inexistente antes de ser?
Tal nos levaria a um absurdo. Portanto, há um ser primeiro incausável e incausado, que existe necessàriamente por si mesmo, e que sempre existiu.
TESE 81 - Há um ser primeiro que em si tem a sua própria razão suficiente de ser.
O que necessita de algum outro não é de per si suficiente. E não o é porque exige outro para ser. Portanto, não tem em si sua própria e suficiente razão de ser.
TESE 82 - O ser finito não tem em si a sua razão suficiente de ser.
O que pode não-existir não tem em si a sua razão suficiente de ser, e não pode ser por sua própria fôrça, pois depende de outro, do contrário não seria um ser que pode não-existir. Portanto, o ser que pode não-existir, se existe, é porque teve um princípio e não poderia ter existido sempre, porque se existira sempre, não se poderia dizer que podia não existir: pois teria, em si mesmo, a fôrça suficiente para existir, e existiria sempre.
Ora, vimos que o ser, que tem em si a sua própria razão suficiente para existir, existiu sempre, e é, portanto incausável. O ser, que poderia não existir teve um princípio necessàriamente, e é, portanto, causável.
O ser causável é assim uma característica do ser finito; o ser incausável, porque é o primeiro, sempre existiu: o que é uma característica da infinitude.
O ser causável depende de outro para ser; o incausável (Ser infinito) não depende de nenhum outro para ser; por isso sempre foi, e é.
Nas próximas proposições corroboraremos ainda mais, por outros caminhos, a apoditicidade desta tese.
TESE 83 - O que não se ordena a um fim não é um efeito.
O efeito vem de effectum, o que é e-factum. Portanto, para que algo seja um facto, é preciso sei feito. O fazer implica um têrmo de partida e um têrmo de chegada, que é uma meta, um fim a ser alcançado. Portanto, o que não se ordena a um fim não é um efeito.
Conseqüentemente, a inversa é verdadeira:
a) O que se ordena a um fim é um efeito.
b) O que não é efeito não é um ser finito.
c) O que não é efeito não é um ser material.
Não o é porque um ser material (materiatum) implica a causa eficiente que o faz, que determina (dá a forma) a um ser determinável (matéria)35.
d) O que não é ser material (materiatum) não é um formado, pois para ser material tem de receber uma determinação, que é a forma.
e) O que não é um formado (formatum) não é um ser material (materiatum).
São cinco contribuições do pensamento de Scot, que correspondem às positividades da Filosofia Concreta.
TESE 84 - Alguma natureza é causa eficiente.
O devir mostra-nos que alguma natureza é efectuada. Portanto, alguma natureza é eficiente e causa do efectuado.
E de tal não há dúvida, porque alguma natureza começa a ser (incipit esse).
TESE 85 - Todo facto supõe algo que o antecede.
O têrmo facto vem do latim factum, o que foi feito, o que é feito.
O Ser Supremo não é um factum, porque não foi feito. Conseqüentemente, tudo quanto é feito supõe algo que o faz, o que, ontològicamente, o antecede, o do qual depende, que é o que chamamos causa.
TESE 86 - O que não é causado por causas extrínsecas não é causado por causas intrínsecas.
Chamamos de factôres predisponentes (causas extrínsecas) os que antecedem e acompanham o ente. São factôres emergentes (causas intrínsecas) os que constituem a natureza dêsse ente.
Para que um ente causável surja, impõe-se um antecedente, um anterior. Do contrário seria ele produzido por si mesmo, o que, já vimos, é impossível. Portanto, um ente, para ser, não é causado ou factorado por causas intrínsecas. A emergência do ser não é o que o cria, pois, neste caso, seria êle anterior a si mesmo.
Conseqüentemente, êle depende de causas extrínsecas (factôres predisponentes) para ser; do contrário, não seria.
Como decorrência rigorosa e apodítica, as causas extrínsecas (os factôres predisponentes) são anteriores ao causar (in causando) às causas intrínsecas (factôres emergentes), que lhe são posteriores.
TESE 87 - Entre duas causas simultâneas, uma deve ter prioridade de certa espécie sôbre a outra.
Se duas causas simultâneas não têm entre si uma prioridade de certa espécie, além de serem da mesma espécie, seriam eminentemente iguais, o que as identificaria entre si, tornando-as apenas uma. Devem elas, de certo modo, distinguir-se, e essa distinção não seria apenas numérica, pois dois sêres absolutamente idênticos não são dois, mas um.
Se há, portanto, duas causas simultâneas, uma deve ter certa anterioridade à outra em alguma espécie, ou na ordem da eminência, ou na ordem axiológica, ontológica, etc.
Comparadas entre si, uma delas será próxima e a outra remota em relação ao causado, sob alguma das ordens já examinadas.
TESE 88 - Nem sempre o mais imediato efeito de uma causa é causa do mais remoto efeito da mesma causa.
Entre os efeitos de uma causa, êstes podem ser simultâneos, ou um anteceder o outro. Mas tal antecedência não implica necessàriamente um nexo de causa e efeito entre ambos.
Para que o posterior seja efeito do anterior, impõe-se a dependência real, que é o nexo de necessidade. Uma causa pode produzir efeitos diversos e sucessivos, sem que os mesmos estejam ligados por um nexo de necessidade, de dependência entre si, mas apenas com a causa.
Tal é fácil verificar-se nos factos físicos: onde os efeitos não dependem sempre uns dos outros, mas sim da causa primordial.
Quando há o nexo de necessidade entre os efeitos, o anterior é causa do posterior.
O que depende essencialmente, depende de uma causa ou de um mais imediato efeito de alguma causa. A primeira dependência é absolutamente necessária; a segunda, não. Assim, se B depende de A, se A não existe, não existe B. Mas se B depende de A, e C também depende de A, se B não existe, não decorre necessàriamente que C não exista.
TESE 89 - Para que algo seja efectível (torne-se um efeito) é imprescindível um efectivo.
O ser efectível é o que tem possibilidade de ser feito. Ora, o que tem tal possibilidade, se já existe, não é mais um efectível, mas feito (facto). Ora, o efectível não tem em si a sua razão de ser, pois do contrário não seria efectível, mas efectivo.
Para ser, impõe-se necessàriamente um efectivo, que lhe seja anterior de certo modo.
Conseqüentemente, o possível não o é por si, mas por outro.
TESE 90 - Todos os sêres que sucedem (em devir) são possíveis (possibilia) que se actualizam e exigem um anterior efectivo.
O devir é o campo da sucessão. O que devém é o que se torna, o que passa de um modo de ser para outro modo de ser.
Conseqüentemente, o devir afirma o efectível. E como êste não pode ser tal sem um efectivo, como já o provamos, o devir implica sempre um ser efectivo, em pleno exercício de seu ser, para que aquêle se torne um efeito.
TESE 91 - Caracteriza o efectível a possibilidade de vir-a-ser (de devir).
O efectível ainda não está no pleno exercício de seu ser, pois se já estivesse seria um efeito.
Mas o que é efeito (e-factum) comprova a sua efectibilidade, pois não poderia ser se não fôsse possível de ser.
Portanto, a estructura ontológica do conceito de efectível implica rigorosamente a possibilidade de vir-a-ser, de devir, de ser actualizável.
Como conseqüência, o que é possível não o é por si, mas por outro.
TESE 92 - Algo é absolutamente o primeiro, e anterior a todos.
Se o efectível depende de um efectivo para ser, um efectivo há de ser o primeiro, absolutamente o primeiro, o que já provamos. E prova-se ainda de muitas outras maneiras. Daremos, por ora, algumas, pois outras virão oportunamente.
Um efectível depende de um efectivo. Êste pode ser um efectível que se efectuou. Mas, para tal, implicaria um efectivo anterior. Conseqüentemente, deve haver um efectivo absolutamente primeiro, que não é efectível. Se não houvesse êsse efectivo primeiro, teríamos uma série infinita, um infinito de causas, na qual nenhuma teria por si o poder de tornar efectível a outra, pois nenhuma o teria em si mesma e por si mesma. Ademais daria um infinito numérico, o que é absurdo.
E a efectividade não teria princípio, pois não haveria um primeiro que a concedesse. Não vindo de algo que já é, sua origem estaria em o nada, o que é absurdo.
Outras provas virão para robustecer esta.
TESE 93 - Na ordem ontológica, o mais precede ao menos, mas o inverso se dá na ordem física.
A ordem cósmica é obediente à ordem ontológica, pois do contrário essa ordem viria do nada. Não se pode dar o que não se tem. Ora, o Ser absoluto, infinito, pode dar tudo, porque tem tudo. O nada nada pode dar. É uma decorrência rigorosa de que provamos: que a ordem cósmica não pode excluir-se da ordem ontológica.
No entanto, se na ordem ontológica o mais precede ao menos, na ordem física o mais é antecedido pelo menos, pois o mais é atingido posteriormente pelo menos, já que um todo físico, como conjunto de suas partes, é um mais, que é posterior ao menos de cada parte36.
A inversão dessas duas ordens não as exclui, porque a ordem física não exclui a ordem ontológica, e essa inversão mostra a harmonia existente entre ambas.
TESE 94 - O que se coloca entre os extremos é mais próximo dêstes, do que os extremos entre si, considerados no mesmo vector.
Se entre A e C se coloca B, êste é mais próximo de A e de C, do que A de C ou C de A.
A proximidade aqui pode ser considerada em qualquer via, dentro do seu vector; quer na cronológica, quer na cronotópica, quer na axiológica, quer na da eminência, quer na ontológica ou quer na teológica. É um postulado matemático, válido em qualquer concepção, e em qualquer ordem de realidade.
TESE 95 - Accidente é o que pode estar ou faltar em um sujeito sem corrompê-lo substancialmente.
Accidente é o que acontece com a substância.
Mas impõe-se que a sua presença, ou a sua falta, não corrompa a própria substância, tornando-a outra.
Só nesses limites é accidente. Assim a água, por ser límpida ou suja, não deixa substancialmente de ser água. Mas o hidrogênio, na água, não é accidental, porque, se dela fôsse retirado, a água deixaria imediatamente de ser água. Por isso o hidrogênio é um elemento da água.
TESE 96 - É impossível que um só e mesmo princípio específico de acção (faculdade) pertença a substâncias diversas.
Em todo ser há um princípio da sua acção. A êsse princípio da acção chamavam os antigos de faculdade. Todos os sêres da mesma espécie têm em comum o princípio da acção que convém a essa espécie. Êsse princípio não é numéricamente o mesmo para todos os indivíduos, mas ontològicamente é o mesmo. O que permite classificar os indivíduos em espécies é precisamente a presença do princípio da acção que eles têm em comum.
Diz-se que são substâncias diversas aquelas que pertencem a espécies de gêneros diferentes. Conseqüentemente, é impossível que um só e mesmo princípio de acção (faculdade) pertença a substâncias diversas, que era o que se queria demonstrar.
TESE 97 - Há, contudo, um princípio de acção que é um só em tôdas as coisas.
Na tese anterior, demonstramos que o princípio de acção, que têm em comum os sêres da mesma espécie, é aquele que convém a essa espécie. Assim a faculdade dos antigos, que é o princípio dessa acção específica, é comum aos indivíduos da mesma espécie. Daí decorreu ser impossível que uma só e mesma faculdade, nesse sentido específico, pertença a substâncias diversas, isto é, a gêneros diversos.
Levada, contudo, ao extremo, essa afirmação poderia ser improcedente, por dela decorrer a afirmativa de haver rupturas no ser, o que ofenderia as proposições já demonstradas.
Mas, se considerarmos êsse princípio de acção como específico, e conveniente à espécie, tomá-lo-emos distintamente de um princípio de acção que seja comum a todos os sêres activos. Necessàriamente, todos os sêres activos têm um princípio de acção. O próprio princípio específico de acção tem sua razão de ser num princípio genérico de acção, e, êste, num princípio de acção universal, pois, do contrário. O princípio de acção de tôdas as coisas penderia realmente do nada, o que é absurdo. Conseqüentemente, há necessàriamente um princípio de acção universal, de onde pendem todos os princípios de acção específicos.