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Como é na verdade uma criança de três anos comparada ao que os adultos acreditam que ela seja?
Os bebês nascem com enorme desejo de aprender. Eles querem aprender sobre tudo e querem fazê-lo neste momento.
As crianças bem pequenas acreditam que aprender é a melhor coisa do mundo. O mundo passa os primeiros seis anos de suas vidas dizendo a elas que aprender não é gostoso e sim brincar.
Algumas crianças nunca aprendem que brincar é o que há de melhor que podem fazer, e assim vão pela vida achando que aprender é a melhor coisa do mundo. São essas as que chamamos de gênios.
Os bebês acham que aprender é uma questão de sobrevivência - e é verdade.
A aprendizagem é uma questão de sobrevivência, porque é perigoso ser jovem e indefeso.
São necessários 10.000 ovos de trutas para produzir uma delas, 40 ovos de tartaruga para produzir uma tartaruga adulta. Os ovos de tartaruga são muito vulneráveis aos predadores, as tartaruguinhas indo da praia para o mar estão correndo grave perigo. Quando chegam ao mar, ainda têm que enfrentar outros tipos de perigos.
Os filhotes de esquilos e coelhinhos que vemos mortos à beira da estrada no início do verão, e que não viveram o suficiente para sobreviver, são uma silenciosa prova da severa lei da natureza - a aprendizagem é uma das condições para a sobrevivência.
Isso é especialmente verdadeiro em relação aos seres humanos, e todo bebê sabe disso. É inato nele.
A natureza possui truques brilhantes para assegurar a sobrevivência, tanto da raça quanto dos indivíduos.
Para assegurar a sobrevivência da raça, ela nos prega uma agradável e charmosa peça. E chamada sexo. Vocês já pararam para pensar o que seria da população do mundo se o sexo fosse doloroso e desagradável? E há quanto tempo a população não existiria?
Para cada bebê nascido, ela pregou uma peça a fim de assegurar o seu nascimento. A natureza o faz nascer, acreditando que aprender é absolutamente a melhor coisa que já aconteceu a qualquer criança viva, e todas elas acreditam, a não ser que façamos chantagem, convencendo-os do contrário - ou ambos.
Vocês não devem acreditar totalmente na nossa palavra acerca do assunto; é muitíssimo importante. Se vocês quiserem saber o que crianças de três anos realmente pensam, em vez das bobagens que nós adultos achamos que pensam (bate palminhas e tudo mais) por que não consultam a maior autoridade em crianças de três anos? Por que não perguntam a outra criança de três anos?
E quando perguntarem, estejam dispostos a ouvir com ouvidos abertos e a olhar para ela com olhos claros. Se vocês já souberem o que ela vai dizer antes mesmo que o faça, vão ouvir o que pensam que ela vai dizer e vão vê-la fazer o que vocês pensam que faria.
Lembrem-se da força dos mitos.
Perguntem a uma criança de três anos o que ela realmente quer. Se ela confiar em vocês, não terão a oportunidade de perguntar-lhe porque ela lhes fará todas as perguntas. Ela não vai querer aprender sobre outras de sua idade - porque isto já sabe e bem. Ela fará perguntas sem fim, como todos sabem, provando assim que crianças de três anos não querem brincar de bate palminhas - elas querem é aprender.
(A grande vantagem de ser irracional, como os criadores de mitos o são, é poder ter duas opiniões divergentes ao mesmo tempo. Logo - todos sabem que as crianças gostam de brincar e todos sabem que as crianças fazem perguntas sem parar).
A verdade é que crianças pequenas não querem brincar e que fazem uma série interminável de perguntas - e que perguntas maravilhosas.
"Papai, quem segura as estrelas no céu?"
"Mamãe, por que a grama é verde?"
"Papai, como é que o homenzinho entrou na televisão?"
Essas são perguntas brilhantes - precisamente as mesmas que os grandes cientistas fazem.
A nossa resposta é, de uma forma ou de outra: "Escute aqui, garoto, papai está muito ocupado, decidindo o que fazer com a situação do Oriente Médio, para escrever uma carta ao editor do jornal explicando-lhe o que fazer. Por que você não vai brincar lá fora enquanto o papai pensa?"
Existem duas razões pelas quais nós nunca respondemos às suas perguntas.
A primeira delas é que nós não sabemos o que eles entenderiam se respondêssemos.
A segunda razão é que nós não sabemos a resposta às suas perguntas. Elas são perguntas brilhantes.
Desde 1962, cada americano tem pago um centavo de cada dólar do seu imposto para apoiar uma organização genial chamada NASA. Eles podem levar até dez centavos de cada dólar meu, se quiserem.
Não é que eu esteja impressionado com o fato de podermos ir à lua. É a capacidade de ir à lua e também de voltar - que são incríveis.
Se alguém lhe pedisse para resumir o programa espacial em uma simples, clara e direta pergunta, e se lhe desse um ano para pensar e decidir qual seria, você acha que poderia haver uma pergunta mais simples, direta e clara do que: "O que segura as estrelas no céu?"
Ou: "O que faz a grama verde, papai?"
"Espere aí, Glenn, você sabe o que torna a grama verde."
"A clorofila - meu bem, a clorofila torna a grama verde."
"Papai, por que clorofila não torna a grama vermelha?"
E aí o garoto me pegou, porque eu não sei como a clorofila torna a grama verde.
E a não ser que você seja um biológo, que talvez também não saiba.
Então a mãe diz: "Porque sim, meu bem."
Uma das nossas devotadas mães profissionais, que tem enorme respeito por sua filha, me contou a seguinte história.
Sua pequenina filha havia feito, como sempre, uma brilhante pergunta. Como esta é uma esplêndida mãe, ela estava pensando numa resposta clara para dar, quando a menininha ficou impaciente, e disse: "Por que, mamãe? - Porque sim?"
Todos nós devemos pensar nisso.
"Papai, como é que o homenzinho entrou na televisão?"
Esta questão me perturba desde que eu vi pela primeira vez o homenzinho na televisão e principalmente desde que meus filhos pequenos me fizeram, por sua vez, a mesma pergunta.
Eu poderia responder com um blefe de um minuto falando sobre ondas de luz e ondas de som, mas isso não funcionaria.
E como resultado disso eu nunca tentei responder além de dizer: "Eu não sei." Eu nunca minto ou tento enganar as crianças.
Não funciona porque elas, principalmente as pequeninas, podem ver através dos adultos mais claramente do que podem ver através de uma porta de vidro.
Todas as crianças pequenas vêem através dos adultos.
Adultos não devem enganar crianças porque não funciona, e eu, pelo menos, estou muito velho para fazer coisas que não funcionam - não tenho tempo para isso.
De volta ao homenzinho da televisão. As pessoas de minha idade são fascinadas pela televisão. Nós não nascemos num mundo cheio de aparelhos de televisão ou sob um céu cheio de aviões como as crianças de hoje. Você acreditaria se eu dissesse que ainda olho para cima quando ouço um avião?
Não são as porcarias dos programas da televisão que nos fascinam, mas sim o milagre da eletrônica.
É a questão de como o homenzinho entrou na televisão. Nós e as crianças.
O que fazemos, na verdade, quando nossos filhos fazem aquelas perguntas brilhantes impossíveis de serem respondidas?
Nós lhes dizemos: "Olhe, filho, aqui está um chocalho" (ou um caminhão de brinquedo se a criança tem três anos em vez de um). "Vá brincar com ele."
Marshall McLuhan dizia que a miniaturização é uma forma de arte muito apreciada pelos adultos.
É desperdiçada nas crianças que pensam que devemos ser muito malucos.
"Isso é um caminhão?" Pergunta o menino de três anos para si próprio, ao segurar o brinquedo em suas mãozinhas.
"Me disseram que caminhões eram aquelas coisas gigantescas, que fazem as janelas tremerem quando passam irradiando calor e cheirando a graxa, e que podem lhe esmagar se você ficar na frente deles. Isso é um caminhão?"
As crianças pequenas já resolveram este tipo de dicotomia dos adultos. Elas tiveram que fazê-lo.
Disseram: "Eles são maiores do que eu, portanto, se chamam isso de caminhão, eu também vou chamar de caminhão." (Graças a Deus as crianças são gênios lingüísticos).
O que acontece quando damos um caminhão de brinquedo a uma criança?
Bem, todos sabem o que acontece. Ela "brinca" por um minuto e meio e depois fica aborrecida e joga-o fora.
Nós percebemos isso e temos logo uma explicação. A sua atenção é reduzida. Eu sou grande e tenho bastante atenção e ele é pequeno com muito pouca atenção. Cérebro grande, cérebro pequeno.
Como somos arrogantes e cegos. Nós vimos exatamente o que achavámos que íamos ver.
Podemos voltar e olhar novamente, mas, desta vez, ver realmente o que acontece?
Nós acabamos de ver uma brilhante demonstração de como as crianças aprendem, mas nós pensamos que é uma demonstração de como eles são inferiores.
As crianças pequenas têm cinco meios de aprender sobre o mundo. Podem vê-lo, ouvi-lo, senti-lo, prová-lo e cheirá-lo.
Cinco testes de laboratório disponíveis para aprender acerca do mundo. E esse foi o mesmo número que Leonardo usou. Assim com você e eu. Cinco maneiras de aprender.
Recapitulemos. Nós demos à criança o chocalho ou o caminhão que ela nunca havia visto antes. Se ela já os tivesse visto, simplesmente os teria atirado longe e pedido alguma coisa diferente. É por isso que os porões estão cheios de bugigangas, chamadas brinquedos, com as quais as crianças "brincaram" uma vez, e recusaram-se a olhá-los novamente.
Então nós lhe damos um novo brinquedo na esperança de, desta vez, captarmos sua atenção.
Primeiro ela olha para ele (por essa razão eles são pintados de cores vivas).
Depois ela tenta ouvir algo (por isso os brinquedos fazem ruídos).
Em seguida ela o toca (é por isso que brinquedos não tem pontas).
Aí ela o prova (por este motivo são feitos de materiais não venenosos).
Finalmente ela o cheira (e como não sabemos como devem cheirar, eles ainda não têm cheiro).
Esse inteligente e perspicaz processo de usar cada teste de laboratório disponível para aprender o que há para ser aprendido sobre esta porcaria chamada brinquedo demora sessenta segundos.
Mas a criança não é somente esperta, ela é engenhosa. Há mais uma coisa que ela pode aprender. Ela pode aprender como é construído ao quebrá-lo.
Leva cerca de trinta segundos para descobrir que não consegue, então joga-o fora. E é por isso, é claro, que brinquedos são inquebráveis.
Esse é um dos métodos empregados pelos adultos para impedir a aprendizagem.
Primeiro há a escola de pensamento faça-de-modo-a-não-poder-quebrar para a prevenção da aprendizagem.
A segunda é a escola de pensamento coloque-a-no-cercado-de-onde-ela-não-pode-sair para a prevenção da aprendizagem.
Ela está tentando desesperadamente aprender e nós estamos tentando desesperadamente obrigá-la a brincar.
A criança acaba realmente, e apesar de nós, aprendendo tudo o que existe sobre o brinquedo e como não queria brincar desde o início, joga-o fora imediatamente.
Todo o processo leva noventa segundos.
Nós assistimos essa brilhante interpretação e usamos isso para provar que ela é inferior.
Se a pergunta for: "Quanto tempo alguém deve levar olhando para um chocalho?"
A resposta deveria ser: "O tempo necessário para aprender o que for possível sobre ele."
Se esta é a resposta certa então posso lhes dizer que nunca vi nenhum adulto fazer isto tão brilhantemente quanto uma criança de três anos.
Existem cinco vias de acesso ao cérebro - só cinco.
Tudo o que a criança aprende durante a sua vida acontece através dessas cinco vias. Ela pode ver, ouvir, tocar, provar e cheirar.
Tudo o que Leonardo aprendeu foi obtido através dessas cinco vias de acesso.