Livro de Urantia

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A Justiça Divina e a Lei do Amor
Reveladas no
Livro de Urantia

Sumário

Justiça, amor e família do Pai Universal
    1.1  A lei do amor e da vida na família universal
    1.2  O livro de urantia inspirando a justiça e as leis
    1.3  Os três poderes: executivo, legislativo e judiciário
    1.4  As três Pessoas eternas: Pai, Filho e Espírito
    1.5  A Trindade do Paraíso e a família universal
    1.6  Deus, enquanto um Pai, transcende Deus, enquanto juiz
    1.7  Benefícios e sofrimentos dos membros da família
    1.8  A unidade da retidão e do amor do Pai celeste
Leis e religião nas revelações epocais
    2.1  Jesus e o Reino de Deus (4a revelação epocal)
        2.1.1  Deus é Pai. Deus é Espírito. O Reino de Deus está dentro de vós
        2.1.2  O Reino de Deus é a vontade de Deus reinando
        2.1.3  Os ensinamentos de Jesus sobre o Reino
        2.1.4  Reino de Deus é a vontade do Pai de Jesus no coração do crente
        2.1.5  Jesus enfatiza o mandamento do amor
        2.1.6  A paternidade de Deus e a irmandade humana
        2.1.7  Jesus concebeu o Reino como consistindo na vontade de Deus
    2.2  A religião e os mandamentos na 3a revelação epocal
        2.2.1  A declaração de fé da religião de Salém
        2.2.2  Os sete mandamentos promulgados por Melquisedeque
    2.3  A educação e as leis na 2a revelação epocal
        2.3.1  As instruções nas escolas do Jardim do Éden
        2.3.2  As sete diretrizes e a lei moral do Éden
    2.4  Lei moral na 1a revelação epocal
        2.4.1  A religião revelada e "a oração do Pai"
        2.4.2  Os sete mandamentos do "caminho do Pai"
Justiça
    3.1  A justiça e a retidão
    3.2  Justiça, evidência e julgamento
    3.3  A demora temporal da justiça
    3.4  A misericórdia e a justiça
Lei
    4.1  A lei suprema do Pai
    4.2  A lei da vida, os anjos serafins e a alma moroncial
    4.3  Lei, liberdade e soberania

1  Justiça, amor e família do Pai Universal

     Existe um fato na sociedade contemporânea que pode promover uma justiça humana mais precisa:

O Livro de Urantia revelado por personalidades imortais.

1.1  A lei do amor e da vida na família universal

     Urantia é o nome da terra e o livro com este nome é uma revelação feita por imortais. As pessoas de boa fé, que amam Deus Pai-Mãe e confiam nele como o Senhor da sua própria vida, podem eleger os ensinamentos revelados por nossos irmãos espirituais, como um inspirador de pensamentos, palavras e ações a favor da vida humana e em direção a vida eterna. Com a dádiva da revelação urantiana nesta "Bíblia da Terra"1 podemos decidir e viver na luz de uma melhor compreenção da verdade e instilar nossas relações pessoais com a lei do amor e da vida. E assim, amando o Pai Universal acima de todos e amando todas as pessoas como um irmão na nossa família universal, cumpriremos a regra de viver e o mandamento do amor expresso na resposta de Jesus para um jurista:

     Jesus respondeu: "Não há senão um mandamento, que é o maior de todos. E este mandamento é: `Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, o Senhor é um; e tu amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, toda a tua mente e toda a tua força'. Esse é o primeiro e o grande mandamento. E o segundo mandamento é como o primeiro; na verdade, brota diretamente dele, e é: `Tu amarás ao teu próximo como a ti mesmo'. Não há nenhum outro mandamento maior do que esses; sobre esses dois mandamentos se apóiam toda a lei e os profetas". [LU 174:4.2].

     Quando um ser humano lê o livro de urantia, confiando que ele foi revelado por personalidades imortais, ele alcança um melhor entendimento da realidade do universo e de si mesmo. A revelação urantiana explica a realidade de Deus, da personalidade, do espírito, da alma, da mente, da vida e da energia física, com precisão factual, coerência lógica e amor espiritual. Nós decidimos melhor quando sabemos quem nós somos e qual a realidade do universo aonde estamos. Se confiarmos que nós somos uma pessoa pela graça da Personalidade Infinita do Pai Universal, nós podemos viver como se em presença de Deus e agir com boa fé. Desta maneira Deus, o Pai Universal, se tornará o Senhor amado, no centro e fonte do nosso ser, através do seu espírito Ajustador, que é o pai da alma, no coração da mente viva, de cada pessoa humana. E assim a revelação pode estimular cada ser humano a viver uma relação de amor com Deus, religando sua personalidade ao espírito divino, de maneira que o Criador dos universos reine em cada pessoa, família e grupo social.

1.2  O livro de urantia inspirando a justiça e as leis

     O livro de urantia pode inspirar a justiça, as leis, constituições e outras cartas de autoridade civil. Conforme é revelado:

     Os mortais de Urantia têm direito à liberdade; eles deveriam criar os seus sistemas de governo; deveriam adotar as suas constituições ou outras cartas de autoridade civil e de procedimento administrativo. E, havendo feito isso, eles deveriam selecionar os seus companheiros, os mais competentes e dignos, como chefes executivos. Para representantes no poder legislativo, deveriam eleger apenas aqueles que, intelectual e moralmente, fossem qualificados para arcar com essas responsabilidades sagradas. Como juízes dos seus tribunais mais altos e supremos, deveriam ser escolhidos apenas aqueles que fossem dotados de capacidade natural e que se tornaram sábios por meio de ampla experiência. [LU 70:12.5].

1.3  Os três poderes: executivo, legislativo e judiciário

     Em várias partes da revelação urantiana sugere-se a divisão do estado nos três domínios de funções, o executivo, o legislativo e o judiciário:

     O único aspecto sagrado de qualquer governo humano é a divisão do estado nos três domínios de funções, o executivo, o legislativo e o judiciário. O universo é administrado de acordo com esse plano de separação das funções e da autoridade. À parte esse conceito divino de regulamentação social efetiva, ou de governo civil, pouco importa a forma de estado que um povo possa escolher, desde que os cidadãos estejam sempre progredindo no sentido da meta de um autocontrole maior e de um serviço social ampliado. A depuração intelectual, a sabedoria econômica, a habilidade social e a força moral de um povo são, todas, fielmente refletidas no estado. [LU 71:8.1]

     E assim, os reveladores aconselham o tipo representativo de governo civil com uma coordenação e equilíbrio adequado de poder, entre o executivo, o legislativo e o judiciário.

     A grande luta, na evolução do governo, tem sido contra a concentração do poder. Os administradores do universo têm aprendido, da experiência, que os povos evolucionários, nos mundos habitados, são mais bem regulamentados pelo tipo representativo de governo civil, quando é mantido, então, por meio de uma coordenação eficaz do equilíbrio adequado de poder, entre o executivo, o legislativo e o judiciário. [LU 70:12.1].

1.4  As três Pessoas eternas: Pai, Filho e Espírito

     [Livro de Urantia (LU) 56:5.1] ... "Há três personalizações eternas da Deidade - o Pai Universal, o Filho Eterno e o Espírito Infinito - , contudo, na Trindade do Paraíso, elas são de fato uma Deidade, indivisa e indivisível." Talvez possamos perceber, nos poderes judiciário, legislativo e executivo do universo local, um reflexo das três Pessoas eternas da Deidade, pois as três personalizações da Deidade no Paraíso são também conhecidas como o Deus-Pensamento, o Deus-Palavra e o Deus da Ação, sendo a Terceira Pessoa da Deidade o Executivo Conjunto das Duas Primeiras. Como revelado no Livro de Urantia (LU):

     [LU 8:0.1] Retrocedendo na eternidade, quando o "primeiro" pensamento absoluto e infinito do Pai Universal encontra, no Filho Eterno, o verbo perfeito e adequado à sua expressão divina, então, passa a manifestar-Se o desejo supremo, tanto do Deus-Pensamento como do Deus-Palavra, de um agente universal e infinito de expressão mútua e de ação combinada.

     [LU 0:11.1] Quando o pensamento combinado do Pai Universal e do Filho Eterno, funcionando no Deus da Ação, constituiu a criação do universo divino e central, o Pai seguiu a expressão do Seu pensamento, na palavra do Seu Filho e na atuação do Executivo Conjunto Deles, diferenciando, assim, a Sua Presença Havonal dos potenciais de infinitude. ...

1.5  A Trindade do Paraíso e a família universal

     Para mim, o mais amoroso e confortador, a respeito da Trindade do Paraíso é que Ela ... "é a união tríplice do amor, da misericórdia e da ministração - a associação pessoal e plena de propósito das três Personalidades Eternas do Paraíso. Essa é a associação divinamente fraternal, amante das criaturas, de ação paternal e promotora da ascensão. As personalidades divinas dessa primeira triunidade são as dos Deuses que conferem a personalidade, outorgam o espírito e dotam com a mente." [LU 104:4.7].

     E assim, da pequenez de minha finitude, vejo uma família na Trindade do Pai, do Filho e do Espírito do Paraíso. É revelado que os Pais divinos da Terceira Pessoa da Deidade, o Espírito Infinito, são a Primeira e a Segunda Pessoas, o Pai-Pai e o Filho-Mãe. Então fico feliz com a revelação de que todos nós, elevados ou inferiores, constituímos a Sua família universal:

     [8:1.2] O primeiro ato do Espírito Infinito é o reconhecimento e o exame dos Seus Pais divinos, o Pai-Pai e o Filho-Mãe. Ele, o Espírito, identifica ambos de um modo inqualificável. Ele é inteiramente conhecedor das personalidades separadas e dos atributos infinitos Delas, bem como das Suas naturezas combinadas e da Sua função unificada. Em seguida, voluntariamente, com uma disposição transcendente e espontaneidade inspirada, a Terceira Pessoa da Deidade, não obstante a Sua igualdade com a Primeira e a Segunda Pessoas, promete lealdade eterna a Deus, o Pai, e reconhece dependência eterna de Deus, o Filho.

     [6:8.1] Quanto à identidade, à natureza e a outros atributos da personalidade, o Filho Eterno é plenamente equivalente ao Pai Universal, é o complemento perfeito e a eterna contraparte do Pai Universal. Do mesmo modo que Deus é o Pai Universal, o Filho é a Mãe Universal. E todos nós, elevados ou inferiores, constituímos a Sua família universal.

1.6  Deus, enquanto um Pai, transcende Deus, enquanto juiz

     Se Deus é o Pai das pessoas, todos nós constituímos Sua família universal. Esta realidade de perfeição nos inspira a edificar a civilização baseada no amor da família divina e da família humana. O Pai Universal e os Seus Coligados da Trindade são o centro desta família divina, e a fonte da realidade de todos e de tudo. Este informativo é sobre a justiça e as leis, contudo é fundamental lembrar que Deus, enquanto um Pai, transcende Deus, enquanto juiz. Por isso nossa proposta é edificar uma justiça, uma política, uma economia, uma educação, uma religião, uma civilização e uma vida, baseado na família divina, inspirando a família humana, através das pessoas de boa fé, que amam a Deus e ao próximo. Para tanto é fundamental compreender que:

"Livro de Urantia", parágrafos 2.6_6-8:

     O Pai celeste afetuoso, cujo Espírito reside nos Seus filhos da Terra, não é uma personalidade dividida - uma, a da justiça, e outra, a da misericórdia. E também Ele não requer um mediador para assegurar o seu favorecimento ou o perdão de Pai. A retidão divina não é dominada pela estrita justiça de retribuição; Deus, enquanto um Pai, transcende Deus, enquanto juiz.

     Deus nunca é irado, vingativo ou enraivecido. É verdade que a sabedoria, muitas vezes, restringe o Seu amor, assim como a justiça condiciona a Sua misericórdia rejeitada. O Seu amor pela retidão não pode evitar que, com a mesma intensidade, seja manifestado como ódio ao pecado. O Pai não é uma personalidade incoerente; a unidade divina é perfeita. Na Trindade do Paraíso há uma unidade absoluta, a despeito das identidades eternas dos coordenados de Deus.

     Deus ama o pecador e odeia o pecado: tal afirmação é verdadeira filosoficamente; contudo, Deus é uma personalidade transcendental, e as pessoas apenas amam e odeiam às outras pessoas. O pecado não é uma pessoa. Deus ama o pecador porque ele é uma realidade de personalidade (potencialmente eterna), enquanto, em relação ao pecado, Deus não assume nenhuma atitude pessoal; pois o pecado não é uma realidade espiritual, não é pessoal; portanto, apenas a justiça de Deus toma conhecimento da existência dele. O amor de Deus salva o pecador; a lei de Deus destrói o pecado. Essa atitude da natureza divina mudaria, aparentemente, se o pecador afinal se identificasse completamente com o pecado, da mesma forma que a mente mortal pode também se identificar totalmente com o espírito Ajustador residente. Um mortal, assim identificado com o pecado, tornar-se-ia então inteiramente não-espiritual, na sua natureza (e, portanto, pessoalmente irreal), e por fim experimentaria a extinção do seu ser. A irrealidade, e mesmo a incompletude da natureza da criatura, não pode existir para sempre, em um universo progressivamente mais real e crescentemente mais espiritual.

1.7  Benefícios e sofrimentos dos membros da família

     Talvez este ensinamento sobre a família universal nos ajude a compreender os erros que surgem do mal uso do livre arbítrio das criaturas imperfeitas. Deus, como Pai, tem precedência sobre todas as outras fases de manifestação da sua Deidade. Nós somos Sua família e cada membro de uma família beneficia-se da conduta justa de todos os outros membros; do mesmo modo, cada membro deve sofrer a conseqüência imediata, no tempo, da má conduta de todos os outros membros. Estamos interpretando a revelação de que:

"Livro de Urantia", parágrafos 54.6_2-3:

     Sempre que lidam com seres inteligentes, tanto o Filho Criador, quanto o seu Pai do Paraíso, são conduzidos pelo amor. É impossível compreender muitas fases da atitude dos governantes do universo para com os rebeldes e a rebelião - o pecado e os pecadores - , a menos que seja lembrado que Deus, como Pai, tem precedência sobre todas as outras fases de manifestação da sua Deidade, em qualquer tratativa que a divindade tenha com a humanidade. Deveria também ser lembrado que todos os Filhos Criadores do Paraíso são motivados pela misericórdia.

     Se um pai afeiçoado de uma grande família, escolhe demonstrar misericórdia a um dos seus filhos, culpado por graves erros, pode muito bem acontecer que essa extensão da misericórdia, ao filho mal-comportado, resulte em provações temporárias para todos os outros filhos bem-comportados. Essas eventualidades são inevitáveis; e tal risco se faz inseparável da situação da realidade de se ter um pai cheio de amor e ser um membro de um grupo familiar. Cada membro de uma família beneficia-se da conduta justa de todos os outros membros; do mesmo modo, cada membro deve sofrer a conseqüência imediata, no tempo, da má conduta de todos os outros membros. Famílias, grupos, nações, raças, mundos, sistemas, constelações e universos são relacionamentos de associação que possuem individualidade; portanto, cada membro de todo o grupo, grande ou pequeno, colhe os benefícios e sofre as conseqüências das boas ações e dos erros de todos os outros membros do grupo envolvido.

1.8  A unidade da retidão e do amor do Pai celeste

     A suposição errônea de que a retidão de Deus fosse irreconciliável com o amor altruísta do Pai celeste levou diretamente à elaboração da doutrina da expiação. Precisamos compreender a unidade na natureza de Deus no qual, o amor do Pai, e a fonte da lei moral, estão divinamente coordenados. Agradeçemos a inspiração do:

     "Livro de Urantia", parágrafo 2.6_5: A retidão indica que Deus é a fonte da lei moral do universo. A verdade exibe Deus como um Revelador, como um Mestre. Mas o amor dá afeto e anseia por afeto, procura a comunhão compreensiva, tal como existe entre pai e filho. A retidão pode ser própria do pensamento divino, mas o amor é a atitude de um pai. A suposição errônea de que a retidão de Deus fosse irreconciliável com o amor altruísta do Pai celeste, pressupôs a ausência de unidade na natureza de Deus e levou diretamente à elaboração da doutrina da expiação, que é uma violentação filosófica tanto da unidade, quanto do livre-arbítrio de Deus.

2  Leis e religião nas revelações epocais

     Nesta seção vamos abordar a religião, as leis, mandamentos e diretrizes praticadas em cada uma das cinco revelações epocais. Uma revelação epocal ocorre quando uma personalidade celestial ministra um ensinamento que ilumina a humanidade por toda uma época. Houve muitos acontecimentos de revelação religiosa, mas apenas cinco deles foram de significação para toda uma época. A quinta revelação epocal se cristalizou na publicação do próprio livro de urantia no qual se inspira este trabalho. Nas palavras dos reveladores celestiais:

"Livro de Urantia", parágrafo 92.4_9:

     5a revelação epocal - Os Documentos de Urantia. Os documentos, dos quais este é um deles, constituem a mais recente apresentação da verdade aos mortais de Urantia. Esses documentos diferem de todas as revelações anteriores, pois não são trabalho de uma única personalidade do universo; são, sim, apresentações compostas, efetuadas por muitos seres. Nenhuma revelação, todavia, pode jamais ser completa, antes de se alcançar o Pai Universal. Todas as outras ministrações celestes não são mais do que parciais, transitórias e praticamente adaptadas às condições locais de tempo e de espaço. É possível que, ao admitir tudo isso, possamos esvaziar a força imediata e a autoridade de todas as revelações, mas é chegado o tempo em Urantia, em que é aconselhável fazer essa declaração franca, ainda que correndo o risco de enfraquecer a influência futura e a autoridade desta obra, que é a mais recente das revelações da verdade às raças mortais de Urantia.

2.1  Jesus e o Reino de Deus (4a revelação epocal)

     A quinta revelação epocal explica sobre todas as outras quatro. Das quase 2100 páginas reveladas no livro de urantia, mais de um terço é sobre a vida e os ensinamentos de Jesus. JeSuis Cristo Miguel é o Filho Criador do Paraíso da ordem dos Michaéis, que criou este universo local de Nébadon com potencialmente cerca de 10 000 000 de planetas habitáveis como a terra. Michael de Nébadon escolheu viver a experiência de uma criatura material neste mundo. Ele esteve conosco, há dois milênios, na forma humana de Jesus:

"Livro de Urantia", parágrafo 92.4_8:

     4a revelação epocal - Jesus de Nazaré. Cristo Michael apresentou o conceito de Deus, trazido assim em Urantia pela quarta vez, como o Pai Universal; e esse ensinamento perdurou em geral desde então. A essência do seu ensinamento foi amor e serviço, a adoração amorosa que um filho criatura dá voluntariamente em reconhecimento e em retorno à ministração do amor de Deus, o seu Pai; o serviço que tais filhos criaturas oferecem, de vontade espontânea aos seus irmãos, em uma alegre compreensão de que, nesse serviço, eles estão servindo, do mesmo modo, a Deus, o Pai.

2.1.1  Deus é Pai. Deus é Espírito. O Reino de Deus está dentro de vós

O Reino de Deus está dentro de vós
seu Pai é um espírito vivo cheio de amor

     "O Reino de Deus está dentro de vós" foi provavelmente a maior afirmação que Jesus fez, junto com a declaração de que o seu Pai é um espírito vivo cheio de amor.

O Reino do céu é o reconhecimento do governo de Deus,
dentro dos corações dos homens

     Na noite anterior àquela em que eles deixaram Pela, Jesus deu aos apóstolos mais instruções a respeito do novo Reino. Disse o Mestre: "Tem sido indicado a vós esperar pela vinda do Reino de Deus; agora eu estou anunciando que este Reino há muito esperado está próximo e à mão, e até mesmo que já está aqui e em meio a nós. Em todo reino deve haver um rei assentado no seu trono e decretando as leis desse reino. E assim vós desenvolvestes um conceito do Reino do céu como um governo glorificado do povo judeu sobre todos os povos da Terra, com um Messias assentado no trono de Davi e, desse local de poder miraculoso, promulgando as leis para todo o mundo. Todavia, meus filhos, não vedes com os olhos da fé, e não ouvis com o ouvido do espírito. Eu declaro que o Reino do céu é a realização e o reconhecimento do governo de Deus, dentro dos corações dos homens. É bem verdade, há um Rei neste Reino, e esse Rei é o meu Pai e vosso Pai. De fato nós somos os seus súditos leais, mas, transcendendo de longe, a esse fato, está a verdade transformadora de que nós somos os seus filhos. Na minha vida tal verdade está tornando-se manifestada para todos. O nosso Pai também se assenta em um trono, mas não um trono feito pelas mãos. O trono do Infinito é a eterna morada do Pai no céu dos céus; Ele completa todas as coisas e proclama as Suas leis de universos a universos. E o Pai também governa dentro dos corações dos Seus filhos na Terra, pelo espírito que Ele enviou para viver dentro das almas dos homens mortais.

     "Quando fordes súditos desse Reino, de fato ouvireis a lei do Soberano do Universo; e, em conseqüência do evangelho do Reino que eu vim declarar, quando vós vos descobrirdes pela fé, como filhos, não mais vos vereis como criaturas súditas da lei de um rei Todo-Poderoso, mas vos vereis como filhos privilegiados de um Pai divino e amantíssimo. Em verdade, em verdade, eu vos digo, enquanto a vontade do Pai for como uma lei, para vós, difícil será estar no Reino. Mas quando a vontade do Pai tornar-se verdadeiramente a vossa vontade, então estareis de fato no Reino, porque o Reino ter-se-á tornado assim uma experiência estabelecida dentro de vós. Enquanto a vontade de Deus for a vossa lei, permanecereis como nobres súditos escravos; mas quando acreditardes nesse novo evangelho da filiação divina, a vontade do meu Pai tornar-se-á a vossa vontade, e então sereis elevados à alta posição de filhos livres de Deus, filhos liberados do Reino".

Deus é Pai

     Enquanto permanecia em Amatos, Jesus passou muito tempo com os apóstolos instruindo-os sobre o novo conceito de Deus; de novo e de novo ele tentava imprimir neles a idéia de que Deus é um Pai, não um guarda-livros grande e supremo que está preocupado mais em registrar os males causados pelos seus filhos errantes da Terra, em fazer os registros dos seus pecados e perversidades, para serem usados contra eles, quando Ele for julgá-los posteriormente como o Juiz justo de toda a criação. Os judeus tinham já, havia muito tempo, concebido Deus como um rei que se sobrepunha a tudo, até mesmo como um Pai da nação, mas nunca antes um grande número de mortais havia alimentado a idéia de Deus como um Pai cheio de amor pelo indivíduo.

...  e Jesus disse:
"Deus-Pai de amor, justiça e misericórdia"
"é o meu Pai e o vosso Pai"

     "Meus filhos, não me surpreendo ao me fazerdes tais perguntas. No começo foi apenas por meio do medo que o homem pôde aprender a reverenciar, mas eu vim para revelar o amor do Pai e de um modo tal que possais sentir-vos voltados para a adoração do Eterno, em vista da atração exercida pelo reconhecimento afetuoso de um filho e da reciprocidade do amor profundo e perfeito do Pai. Eu gostaria de libertar-vos da servidão que compele, num medo escravizador, ao serviço enfadonho de um Deus-Rei ciumento e irado. E gostaria de instruir-vos para um relacionamento Pai-filho, entre Deus e o homem, de modo a poderdes ser conduzidos, com júbilo, à adoração livremente sublime e superna de um Deus-Pai de amor, justiça e misericórdia." ...

     "No Reino do céu, que eu vim proclamar, não há um rei poderoso no alto; este Reino é uma família divina. O centro e a cabeça, universalmente reconhecidos e adorados, incondicionalmente, dessa vasta irmandade de seres inteligentes é o meu Pai e o vosso Pai. Eu sou o seu Filho, e vós também sois filhos Dele. E, portanto, é eternamente verdadeiro que todos somos irmãos, no domínio celeste, e isso é ainda mais verdadeiro, já que nós nos tornamos irmãos na carne, nesta vida terrena. Cessai, pois, de temer a Deus como a um rei ou de servir a Ele como a um senhor; aprendei a reverenciá-Lo como o Criador; honrai-O por ser o Pai do vosso jovem espírito; amai-O como um defensor misericordioso; e enfim adorai-O como o Pai infinitamente sábio da vossa realização espiritual mais amadurecida e grata."

... que o Pai das luzes seja entronizado nos corações de cada um de vós,
como o Soberano espiritual de todas as coisas

     Esse grito poderoso entusiasmou a Pedro e aos apóstolos mantendo mais ainda a esperança de ver Jesus reivindicar o seu direito de governar. Mas essas esperanças falsas não durariam muito. Tal grito poderoso da multidão mal havia acabado de reverberar nas rochas próximas, quando Jesus subiu em uma pedra imensa e, levantando a sua mão direita para chamar a atenção, disse: "Meus filhos, a vossa intenção é boa, mas tendes uma visão curta e uma mente material". Houve uma breve pausa; e esse galileu inflexível estava colocado majestosamente ali, sob o brilho encantador daquele crepúsculo oriental. Cada detalhe da sua figura era o de um rei, enquanto ele continuava a falar à sua multidão estupefata: "Gostaríeis de fazer de mim um rei, mas não porque as vossas almas foram iluminadas por uma grande verdade; e sim porque os vossos estômagos foram enchidos de pão. Quantas vezes eu não vos disse que o meu Reino não é deste mundo? Este Reino do céu, que eu proclamo, é uma fraternidade espiritual, e nenhum homem governa nele assentado em um trono material. O meu Pai no céu é o Soberano infinitamente sábio e Todo-Poderoso dessa fraternidade espiritual dos filhos de Deus na Terra. Será que eu falhei tanto assim, ao revelar o Pai dos espíritos a vós, a ponto de quererdes fazer um rei deste Filho na carne? Agora todos deveis ir daqui para as vossas casas. Se deveis ter um rei, que o Pai das luzes seja entronizado nos corações de cada um de vós, como o Soberano espiritual de todas as coisas".

... as relações entre Deus e o homem na base da família.
Deus é o Pai; o homem é o Seu filho

     A cruz de Jesus representa a medida plena da devoção suprema do verdadeiro pastor, até mesmo pelos membros indignos do seu rebanho. Ela coloca, para sempre, todas as relações entre Deus e o homem na base da família. Deus é o Pai; o homem é o Seu filho. O amor, o amor de um pai pelo seu filho, torna-se a verdade central nas relações universais de Criador e criatura - não a justiça de um rei que busca a satisfação nos sofrimentos e nas punições do súdito que comete o mal.

Buscai primeiro o Reino de Deus dentro de vós

     "A vossa mensagem para o mundo será: buscai primeiro o Reino de Deus e Sua retidão, e, ao chegardes a tanto, todas as outras coisas essenciais para a sobrevivência eterna vos serão asseguradas, por acréscimo. E agora eu deixo claro para vós que o Reino do meu Pai não virá com uma aparência exterior de poder, nem com uma demonstração pouco inusitada. E, pois, não deveis sair para proclamar o Reino dizendo: `ele é aqui' ou `é lá'. Pois tal Reino que pregais é Deus dentro de vós."

2.1.2  O Reino de Deus é a vontade de Deus reinando

O Reino de Deus é a vontade de Deus reinando

     Nessa tarde, o Mestre ensinou claramente sobre um novo conceito da natureza dupla do Reino, descrevendo as duas características seguintes:

     "Primeira: o Reino de Deus neste mundo, o desejo supremo de fazer a vontade de Deus, o amor não-egoísta pelos homens, que dá os bons frutos de uma conduta mais ética e mais moral."

     "Segunda: o Reino de Deus nos céus, a meta dos crentes mortais, o estado em que o amor por Deus é perfeccionado; e no qual a vontade de Deus é feita mais divinamente".

2.1.3  Os ensinamentos de Jesus sobre o Reino

Os ensinamentos de Jesus sobre o Reino

     Jesus nunca deu uma definição precisa do Reino. Em certo momento ele discorreria sobre uma característica do Reino e, em uma outra hora, ele falaria sobre um aspecto diferente da irmandade do Reino de Deus nos corações dos homens. No decurso do sermão dessa tarde de sábado, Jesus destacou nada mais do que cinco fases, ou épocas, do Reino, e que são:

  1. A experiência pessoal interior da vida espiritual na amizade do crente individual com Deus, o Pai.
  2. A irmandade crescente dos crentes, na palavra de Deus; os aspectos sociais da moral mais elevada e da ética viva, resultantes do Reino, da predominância do espírito de Deus nos corações dos crentes individuais.
  3. A irmandade supramortal dos seres espirituais invisíveis que prevalece na Terra e nos céus, o Reino supra-humano de Deus.
  4. A perspectiva de uma realização mais integral da vontade de Deus, o avanço para o alvorecer de uma nova ordem social em conseqüência de um vivenciar espiritual mais aperfeiçoado - a próxima era para o homem.
  5. O Reino na sua plenitude, a idade espiritual futura de luz e vida na Terra.

2.1.4  Reino de Deus é a vontade do Pai de Jesus no coração do crente

Reino de Deus é a vontade do Pai de Jesus no coração do crente

     Mais cedo ou mais tarde um outro João Batista, maior ainda, deverá surgir e proclamar que "o Reino de Deus está à mão" - querendo com isso referir-se a um retorno ao conceito altamente espiritual de Jesus, o qual proclamou que o Reino é a vontade do seu Pai no céu, dominante e transcendente, no coração daquele que crê - e fazendo tudo isso sem referir-se, de nenhum modo, nem à igreja visível na Terra nem à antecipada segunda vinda do Cristo. É necessário que haja um renascimento dos ensinamentos verdadeiros de Jesus; uma reafirmação que desfaça o trabalho dos seus primeiros seguidores, que acabaram criando um sistema sociofilosófico de crença em torno do fato da permanência de Michael na Terra. Em pouco tempo o ensinamento dessa história sobre Jesus quase suplantou a pregação de Jesus sobre o Reino. Assim, uma religião histórica veio a substituir o ensinamento no qual Jesus tinha combinado as idéias morais e os ideais espirituais mais elevados do homem com a esperança mais sublime do homem quanto ao futuro - a vida eterna. E essa é a boa-nova da palavra sobre o Reino.

2.1.5  Jesus enfatiza o mandamento do amor

Jesus enfatiza o mandamento do amor

     Então os grupos de fariseus adiantaram-se para fazer as tais perguntas embaraçosas e o porta-voz deles, sinalizando para Jesus, disse: "Mestre, eu sou um jurista, e gostaria de perguntar-te qual é o mandamento mais importante, na tua opinião?" Jesus respondeu: "Não há senão um mandamento, que é o maior de todos. E este mandamento é: `Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, o Senhor é um; e tu amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, toda a tua mente e toda a tua força'. Esse é o primeiro e o grande mandamento. E o segundo mandamento é como o primeiro; na verdade, brota diretamente dele, e é: `Tu amarás ao teu próximo como a ti mesmo'. Não há nenhum outro mandamento maior do que esses; sobre esses dois mandamentos se apóiam toda a lei e os profetas".

     Quando o jurista percebeu que Jesus havia respondido, não apenas de acordo com o mais elevado conceito da religião judaica, mas também com sabedoria à vista da multidão reunida, ele julgou que, como prova de coragem, valia mais que ele louvasse abertamente à resposta do Mestre. E então ele disse: "Na verdade, Mestre, tu disseste bem que Deus é um, e que não há nenhum além dele; e que amar a Deus no fundo do coração, com todo o entendimento e força, e também amar o semelhante, como a si próprio, é o primeiro grande mandamento; e nós concordamos que esse grande mandamento é muito mais importante do que todo holocausto e sacrifício". Quando o jurista respondeu assim prudentemente, Jesus, olhando-o de cima, disse: "Meu amigo, percebo que não estás longe do Reino de Deus".

2.1.6  A paternidade de Deus e a irmandade humana

O evangelho da paternidade de Deus e a irmandade humana

     O evangelho do Reino de Deus é: o fato da paternidade de Deus, combinado com a verdade resultante da filiação-irmandade dos homens. O cristianismo, como se desenvolveu a partir desse dia, é: o fato de Deus, enquanto Pai do Senhor Jesus Cristo, em associação com a experiência da crença-comunhão com o Cristo ressuscitado e glorificado.

2.1.7  Jesus concebeu o Reino como consistindo na vontade de Deus

Jesus concebeu o Reino como consistindo na vontade de Deus

     A fé de Jesus visualizou todos os valores do espírito como sendo encontrados no Reino de Deus; e por isso ele disse: "Buscai primeiro o Reino do céu". Jesus viu, na fraternidade avançada e ideal do Reino, a realização e o cumprimento da "vontade de Deus". A essência mesma da oração que ele ensinou aos seus discípulos foi: "Que venha a nós o vosso Reino; que a vossa vontade seja feita". E assim, tendo concebido o Reino como consistindo na vontade de Deus, ele devotou-se à causa da sua realização com um auto-esquecimento espantoso e um entusiasmo incontido. Mas, durante toda a sua intensa missão e na sua vida extraordinária, a fúria do fanático nunca esteve presente, nem a insignificância, de fachada, do egotista religioso.

2.2  A religião e os mandamentos na 3a revelação epocal

"Livro de Urantia", parágrafo 92.4_7:

     3a revelação epocal - Melquisedeque de Salém. Este Filho emergencial de Nébadon inaugurou a terceira revelação da verdade em Urantia. Os preceitos cardinais dos seus ensinamentos foram: confiança e fé. Ele ensinou a confiança na beneficência onipotente de Deus e proclamou a fé como o ato por meio do qual os homens ganham o favorecimento de Deus. Os seus ensinamentos gradualmente misturaram-se às crenças e práticas de várias religiões evolucionárias e, finalmente, resultaram naqueles sistemas teológicos presentes em Urantia quando da abertura do primeiro milênio depois de Cristo.

2.2.1  A declaração de fé da religião de Salém

A declaração de fé da religião de Salém

     As cerimônias da adoração em Salém eram muito simples. Todas as pessoas que assinavam ou que faziam marcas nas listas das tábuas de argila na igreja de Melquisedeque comprometiam-se a memorizar e seguiam a seguinte crença:

  1. Acredito em El Elyon, o Deus Altíssimo, o único Pai Universal e Criador de todas as coisas.
  2. Aceito a aliança de Melquisedeque com o Altíssimo, que confere o favor de Deus à minha fé; sem sacrifícios, nem holocaustos.
  3. Prometo obedecer aos sete mandamentos de Melquisedeque e contar as boas novas dessa aliança com o Altíssimo a todos os homens.

     E esse era todo o credo da colônia de Salém. Todavia, mesmo essa curta e simples declaração de fé foi excessiva e avançada demais para os homens daqueles dias. Eles simplesmente não podiam entender a idéia de obter o favor divino por nada - pela fé. Eles estavam muito profundamente imbuídos da crença de que o homem nascia em débito com os deuses. Por tempo demais e com uma seriedade sincera e excessiva, haviam eles feito sacrifícios e dádivas, aos sacerdotes, para serem capazes de compreender as boas-novas de que a salvação, o favor divino, era um dom dado de graça a todos os que acreditassem na aliança com Melquisedeque. Contudo, Abraão acreditou de modo indeciso e ainda assim isso foi "recebido como um ato de retidão".

2.2.2  Os sete mandamentos promulgados por Melquisedeque

Os sete mandamentos promulgados por Melquisedeque

     Os sete mandamentos promulgados por Melquisedeque foram modelados ao longo das linhas da suprema lei da Dalamátia e em muito se assemelhavam aos sete mandamentos ensinados no primeiro e no segundo Édens. Esses mandamentos da religião de Salém foram:

  1. Não servirás a nenhum Deus, senão ao Criador Altíssimo do Céu e da Terra.
  2. Não duvidarás de que a fé é a única condição necessária para a salvação eterna.
  3. Não darás falso testemunho.
  4. Não matarás.
  5. Não furtarás.
  6. Não cometerás adultério.
  7. Não mostrarás desrespeito pelos teus pais, nem pelos mais velhos.

2.3  A educação e as leis na 2a revelação epocal

"Livro de Urantia", parágrafo 92.4_6:

     2a revelação epocal - Os ensinamentos Edênicos. Adão e Eva retrataram, uma vez mais, o conceito do Pai de todos aos povos evolucionários. A dissolução do primeiro Éden interrompeu o curso da revelação Adâmica, antes que ela tivesse começado de fato. Mas os ensinamentos abortados de Adão foram continuados pelos sacerdotes setitas, e algumas dessas verdades nunca foram inteiramente perdidas para o mundo. Toda a tendência da evolução religiosa do levante foi modificada pelos ensinamentos dos setitas. Mas, por volta de 2500 a.C., a humanidade tinha perdido de vista, em grande parte, a revelação promovida à época do Éden.

2.3.1  As instruções nas escolas do Jardim do Éden

As instruções nas escolas do Jardim do Éden

     Todo o propósito do sistema das escolas do oeste do Jardim era a socialização. Os períodos matinais de recreação eram dedicados à horticultura e à agricultura práticas; os períodos da tarde, aos jogos competitivos. As noites eram gastas em relações sociais e no cultivo de amizades pessoais. A educação religiosa e sexual era considerada domínio do lar, um dever dos pais.

     O ensino nessas escolas incluía a instrução sobre:

  1. Saúde e cuidados com o corpo.
  2. A regra de ouro, o modelo das relações sociais.
  3. A relação dos direitos individuais com os direitos grupais e as obrigações comunitárias.
  4. A história e a cultura das várias raças da Terra.
  5. Os métodos para implementar e fazer o comércio mundial progredir.
  6. A coordenação dos deveres e emoções conflitantes.
  7. O cultivo dos jogos, humor e substitutos competitivos para as lutas físicas.

     As escolas e todas as atividades do Jardim de fato estavam sempre abertas aos visitantes. Os observadores desarmados eram livremente admitidos ao Éden, para visitas curtas. Para permanecer no Jardim, um urantiano tinha de ser "adotado". Ele recebia instruções sobre o plano e sobre o propósito da outorga Adâmica, expressava a sua intenção de aderir a essa missão, e então fazia a declaração de lealdade ao regime social de Adão e à soberania espiritual do Pai Universal.

2.3.2  As sete diretrizes e a lei moral do Éden

As sete diretrizes e a lei moral do Éden

     As leis do Jardim eram baseadas nos códigos mais antigos da Dalamátia e foram promulgadas sob sete diretrizes:

  1. As leis sanitárias e de saúde.
  2. As regulamentações sociais do Jardim.
  3. O código das negociações e do comércio.
  4. As leis da conduta eqüitativa e das competições.
  5. As leis da vida familiar.
  6. O código civil da regra de ouro.
  7. Os sete mandamentos da lei moral suprema.

     A lei moral do Éden era pouco diferente dos sete mandamentos da Dalamátia. Mas os adamitas ensinavam muitas outras razões para esses mandamentos: por exemplo, a respeito da injunção contra o homicídio, a presença do Ajustador do Pensamento residente foi dada como um motivo a mais para não se destruir a vida humana. Eles ensinavam que "aquele que derramar o sangue humano terá o seu próprio sangue derramado pelo homem, pois Deus fez o homem à sua imagem".

     A hora da adoração pública no Éden era o meio-dia; o pôr-do-sol era a hora da adoração familiar. Adão fez o que podia para desencorajar o uso de orações prontas, ensinando que a oração eficaz devia ser integralmente individual, que devia ser o "desejo da alma"; mas os edenitas continuaram a usar as preces e as formas transmitidas nos tempos da Dalamátia. Adão também se esforçou para substituir os sacrifícios de sangue, nas cerimônias religiosas, pelas oferendas de frutos da terra, mas pouco progresso havia sido feito antes da desagregação do Jardim.

2.4  Lei moral na 1a revelação epocal

"Livro de Urantia", parágrafo 92.4_5:

     1a revelação epocal - Os ensinamentos Dalamatianos. O verdadeiro conceito da Primeira Fonte e Centro foi promulgado em Urantia, pela primeira vez, pelos cem membros da assessoria corpórea do Príncipe Caligástia. Essa revelação expandida da Deidade persistiu por mais de trezentos mil anos, até que foi subitamente interrompida pela secessão planetária e pela ruptura do regime de ensino. Exceto pelo trabalho de Van, a influência da revelação Dalamatiana ficou praticamente perdida para todo o mundo. Até os noditas haviam esquecido essa verdade, já na época da chegada de Adão. Entre todos os que receberam os ensinamentos vindos dos cem, os homens vermelhos foram aqueles que os conservaram por mais tempo; mas a idéia do Grande Espírito não era senão uma concepção nebulosa, na religião ameríndia, quando o contato com o cristianismo clarificou-a e reforçou-a consideravelmente.

2.4.1  A religião revelada e "a oração do Pai"

A religião revelada e "a oração do Pai"

     O colegiado da religião revelada. Esse corpo tinha um funcionamento de efeito lento. ...

     Nenhum membro do corpo de assessores do Príncipe apresentaria revelações que complicassem a evolução; eles apresentavam a revelação apenas como uma culminância, depois de se haverem esgotado as forças da evolução. Hap, contudo, cedeu ao desejo dos habitantes da cidade, para o estabelecimento de uma forma de serviço religioso. O seu grupo proveu os dalamatianos com os sete cânticos do culto de adoração e também deu a eles a frase laudatória diária e finalmente ensinou a eles "a oração do Pai", que era:

     "Pai de todos, cujo Filho honramos, olha por nós com favor. Livra-nos do medo de todos, exceto de Ti. Faze com que sejamos um prazer para os nossos mestres divinos e, para sempre, coloca a verdade nos nossos lábios. Livra-nos da violência e da raiva; dá-nos respeito pelos mais velhos e por tudo o que pertença aos nossos vizinhos. Dá-nos pastos verdes, nesta estação, e rebanhos frutíferos para alegrar os nossos corações. Oramos para a rápida chegada do prometido elevador das raças e, pois, queremos fazer a vossa vontade neste mundo, como os outros a fazem em mundos longínquos".

2.4.2  Os sete mandamentos do "caminho do Pai"

Os sete mandamentos do "caminho do Pai"

     Hap presenteou as raças primitivas com uma lei moral. Esse código era conhecido como "O caminho do Pai" e consistia dos sete mandamentos seguintes:

  1. Não temerás nem servirás a nenhum Deus, senão ao Pai de todos.
  2. Não desobedecerás ao Filho do Pai, o governante do mundo, nem faltarás com o respeito aos seus assessores supra-humanos.
  3. Não mentirás quando fores chamado perante os juízes do povo.
  4. Não matarás nem homens, nem mulheres, nem crianças.
  5. Não roubarás nem os bens, nem o gado do teu vizinho.
  6. Não tocarás na mulher do teu amigo.
  7. Não faltarás com o respeito aos teus pais nem aos mais velhos da tribo.

3  Justiça

3.1  A justiça e a retidão

A Justiça e a Retidão

     Deus é reto, portanto, é justo. "O Senhor é reto, em todos os Seus caminhos." "`De tudo o que fiz, nada foi sem uma causa', diz o Senhor". "Os juízos do Senhor são totalmente verdadeiros e corretos." A justiça do Pai Universal não pode ser influenciada por atos nem realizações das Suas criaturas, "pois não há iniqüidade no Senhor, nosso Deus; não há favorecimento de pessoas, nem aceitação de oferendas".

     Quão fútil é fazer apelos pueris a este Deus, para que modifique os Seus decretos imutáveis, de modo a evitar as justas conseqüências da ação das Suas leis naturais e mandados espirituais retos! "Não vos enganeis; não se pode zombar de Deus; pois, do que semeardes, daquilo também colhereis." Mas é verdade que, mesmo na justiça que vem da colheita plantada pelo erro, a justiça divina ainda tem a misericórdia a temperá-la. A sabedoria infinita é o árbitro eterno que determina as proporções da justiça e da misericórdia, a serem dispensadas em qualquer circunstância. A maior punição (na realidade, uma conseqüência inevitável) para o erro e a rebelião deliberados, contra o governo de Deus, é a perda da existência, como súdito individual do Seu governo. O resultado final do pecado pleno e deliberado é o aniquilamento. Em última análise, os indivíduos identificados com o pecado já destruíram a si próprios, ao tornarem-se inteiramente irreais por meio da adoção da iniqüidade. O desaparecimento factual de uma tal criatura, no entanto, é sempre retardado, até que a ordem comandada pela justiça corrente, naquele universo, haja sido inteiramente cumprida.

     A cessação da existência geralmente é decretada no juízo dispensacional, ou no juízo epocal do reino ou dos reinos. Num mundo como o de Urantia, ela chega ao fim de uma dispensação planetária. A cessação da existência pode ser decretada, em tais épocas, pela ação coordenada de todos os tribunais da jurisdição, que vão desde o conselho planetário, passando pelas cortes dos Filhos Criadores, até os tribunais de julgamento dos Anciães dos Dias. O mandado de dissolução tem origem nas cortes mais altas do superuniverso, seguindo uma confirmação ininterrupta da sentença original, na esfera de residência do ser que adotou o mal; e então, quando a sentença de extinção houver sido confirmada do alto, a execução é feita por um ato direto dos juízes que residem e atuam nos centros do governo do superuniverso.

     Quando uma sentença como essa é finalmente confirmada, é como se, instantaneamente, o ser, identificado com o pecado, não tivesse existido. Não há ressurreição desse destino; ele é perdurável e eterno. Os fatores da identidade da energia vivente são resolvidos nas transformações no tempo e pela metamorfose no espaço, nos potenciais cósmicos, dos quais emergiram certa vez. Quanto à personalidade do ser iníquo, é ela despojada do seu veículo de continuidade vital, em vista do fracasso de tal criatura ao efetivar as escolhas e as decisões finais que lhe teriam assegurado a vida eterna. Quando o abraçar contínuo do pecado, pela mente, culmina em completa identificação com a iniqüidade, então, ao cessar da vida, pela dissolução cósmica, essa personalidade isolada é absorvida na supra-alma da criação, tornando-se uma parte da experiência de evolução do Ser Supremo. Nunca mais aparece como uma personalidade. A sua identidade é transformada, como se nunca tivesse existido. No caso de uma personalidade residida por um Ajustador, os valores espirituais experimentados sobrevivem na realidade da continuidade do Ajustador.

     Em qualquer contenda no universo, entre níveis factuais da realidade, a personalidade de nível mais elevado terminará por triunfar sobre a personalidade de nível inferior. Essa conseqüência inevitável, de uma controvérsia no universo, é inerente ao fato de que a divindade da qualidade é igual ao grau de realidade, ou de factualidade, de qualquer criatura de vontade própria. O mal não diluído, o erro completo, o pecado voluntário e a iniqüidade não mitigada são, inerente e automaticamente, suicidas. Tais atitudes de irrealidade cósmica podem sobreviver no universo apenas em razão da tolerância misericordiosa transitória que depende e aguarda a ação determinante nos mecanismos da justiça e da equanimidade da parte dos tribunais que buscam encontrar o juízo da retidão no universo.

     O papel dos Filhos Criadores, nos universos locais, é o da criação e da espiritualização. Esses Filhos devotam-se à execução efetiva do plano do Paraíso, de ascensão mortal progressiva, de reabilitação dos rebeldes e dos pensadores em erro, mas, quando todos os seus esforços, repletos de amor, forem finalmente e para sempre rejeitados, o decreto final de dissolução é executado pelas forças que agem sob a jurisdição dos Anciães dos Dias.

3.2  Justiça, evidência e julgamento

A justiça é o pensamento coletivo da retidão;
a misericórdia é a sua expressão pessoal

     Toda lei tem origem na Primeira Fonte e Centro; Ele é lei. A administração da lei espiritual é inerente à Segunda Fonte e Centro. A revelação da lei, a promulgação e a interpretação dos estatutos divinos são funções da Terceira Fonte e Centro. A aplicação da lei, a justiça, cai no domínio da Trindade do Paraíso, e é levada avante por certos Filhos da Trindade.

     A Justiça é inerente à soberania universal da Trindade do Paraíso, mas a bondade, a misericórdia e a verdade são ministrações universais das personalidades divinas, cuja união na Deidade constitui a Trindade. A Justiça não é a atitude do Pai, do Filho ou do Espírito. A Justiça é a atitude da Trindade composta dessas personalidades de amor, de misericórdia e de ministração. Nenhuma das Deidades do Paraíso fomenta a administração da Justiça. A Justiça nunca é uma atitude pessoal; é sempre uma função plural.

     A Evidência, a base da eqüidade (a justiça em harmonia com a misericórdia), é suprida pelas personalidades da Terceira Fonte e Centro, que representam conjuntamente o Pai e o Filho para todos os reinos e para as mentes dos seres inteligentes de toda a criação.

     O Julgamento, a aplicação final da justiça, de acordo com a evidência apresentada pelas personalidades do Espírito Infinito, é uma função dada aos Filhos Estacionários da Trindade, seres que partilham da natureza trinitária do Pai, do Filho e do Espírito, unidos. ...

     ... A justiça é o pensamento coletivo da retidão; a misericórdia é a sua expressão pessoal. A misericórdia é a atitude de amor; a precisão caracteriza a aplicação da lei; o julgamento divino é a alma da eqüidade, sempre se conformando à justiça da Trindade, sempre correspondendo ao amor divino de Deus. Quando totalmente percebida e completamente compreendida, a reta justiça da Trindade e o amor misericordioso do Pai Universal são coincidentes. O homem, entretanto, não tem o pleno entendimento da justiça divina. Assim, da perspectiva do homem, na Trindade, as personalidades do Pai, do Filho e do Espírito estão ajustadas entre si para coordenar o ministério do amor e da lei nos universos experienciais do tempo.

3.3  A demora temporal da justiça

A Demora Temporal da Justiça

     As criaturas de vontade moral dos mundos evolucionários entregam-se sempre à inquietação de formular a pergunta impensada: por que os Criadores oniscientes permitem o mal e o pecado? Não compreendem que, se a criatura deve ser verdadeiramente livre, ambos tornam-se inevitáveis. O livre-arbítrio do homem que evolui, e o do anjo extraordinário, não são mero conceito filosófico, ideais simbólicos. A capacidade do homem de escolher entre o bem e o mal é uma realidade do universo. Essa liberdade, de escolher por si próprio, é um dom dado pelos Governantes Supremos; e eles não permitirão a qualquer ser, ou grupo de seres, privar sequer uma personalidade, em todo o amplo universo, dessa liberdade divinamente outorgada - e, menos ainda, para satisfazer os seres transviados e ignorantes no desfrute de algo erroneamente considerado como liberdade pessoal.

     Embora a identificação consciente e deliberada com o mal (o pecado) seja o equivalente à não-existência (o aniquilamento), deve haver sempre um intervalo de tempo entre o momento dessa identificação pessoal com o pecado e a execução da pena - o resultado automático do abraçar voluntário do mal - ; um intervalo de tempo que seja suficiente para permitir que o juízo feito do status do indivíduo, no universo, demonstre ser inteiramente satisfatório a todas as personalidades a ele relacionadas, no universo; e que seja tão equânime e justo a ponto de chegar a receber a aprovação do próprio pecador.

     Mas, caso esse ser do universo, que se rebelou contra a realidade da verdade e da bondade, recusar-se a aprovar o veredicto e, se tal culpado conhecer, no seu coração, a justiça da sua condenação, mas se recusar a confessar esse fato, então a execução da sentença deverá ser retardada de acordo com a decisão conveniente dos Anciães dos Dias. E os Anciães dos Dias negam-se a aniquilar qualquer ser antes que todos os valores morais e todas as realidades espirituais sejam extintas, tanto no pecador, quanto em todos aqueles que o apóiam e ou possíveis simpatizantes.

3.4  A misericórdia e a justiça

A Misericórdia e a Justiça

     Um incidente muito interessante ocorreu, em uma tarde, no acostamento da estrada, quando eles se aproximavam de Tarento. Viram um jovem rude intimidando brutalmente um outro menor do que ele. Apressando-se a ajudar o menino atacado, quando o havia resgatado, Jesus permaneceu apenas segurando apertadadamene o ofensor até que o menor tivesse escapado. No momento em que Jesus liberou o pequeno brigão, Ganid agarrou o menino e começou a bater nele estrepitosamente, então, Jesus prontamente interferiu, para espanto de Ganid. Depois de haver contido Ganid e permitido ao menino amedrontado escapar, tão logo recuperou o fôlego, Ganid exclamou sobressaltado: "Eu não consigo entender-te, Mestre. Se a misericórdia exige que tu resgates o menino menor, a justiça não exige a punição do menino maior e que era o ofensor?" Respondendo, Jesus disse:

     "Ganid, é verdade que tu não entendeste. A ministração da misericórdia é sempre trabalho do indivíduo, mas a justiça da punição é função do social, do governo ou dos grupos que administram o universo. Enquanto indivíduo sou obrigado a mostrar misericórdia; eu devia livrar o garoto atacado e, com toda firmeza, empregar a força necessária para conter o agressor. E isso foi exatamente o que fiz. Realizei a libertação do menino atacado; e esse foi o fim da ministração da misericórdia. E então, à força eu detive o agressor por um período de tempo suficiente para permitir que a parte mais fraca, na disputa, escapasse; após o que eu me retirei do caso. E não continuei, não fiz o julgamento do agressor, nem repassei o seu motivo - nem julguei tudo o que motivou o seu ataque ao seu companheiro - e não assumi executar a punição que a minha mente podia ditar como compensação justa pelo erro dele. Ganid, a misericórdia pode ser pródiga, mas a justiça deve ser precisa. Não podes discernir que não há duas pessoas que porventura concordem quanto à punição que deveria satisfazer as exigências da justiça? Um imporia quarenta chicotadas, o outro vinte, enquanto outro iria aconselhar ainda o confinamento em solitária como uma justa punição. Não vês que, neste mundo, essas responsabilidades ou deveriam ficar com o grupo ou deveriam ser administradas pelos representantes escolhidos do grupo? No universo, o julgamento é entregue àqueles que conhecem plenamente os antecedentes de todos os erros, bem como as suas motivações. Na sociedade civilizada e em um universo organizado, a administração da justiça pressupõe aplicar uma sentença justa em conseqüência de um julgamento equânime; e essas prerrogativas são dadas aos grupos jurídicos dos mundos e aos administradores todo-cientes dos universos mais elevados de toda a criação".

     Durante vários dias eles conversaram sobre a questão da manifestação da misericórdia e da administração da justiça. E Ganid, ao menos em uma certa medida, compreendeu por que Jesus não queria entrar em combate pessoalmente. Ganid, no entanto, fez uma última pergunta, para a qual ele nunca recebeu uma resposta totalmente satisfatória; e essa pergunta foi: "Mas, Mestre, se uma criatura mais forte e de temperamento maldoso te atacasse e ameaçasse destruir-te, o que farias? Não farias nenhum esforço para defender-te?" Embora Jesus não pudesse plena e satisfatoriamente responder à pergunta do jovem, porquanto ele não estava querendo revelar-lhe que ele (Jesus) estava vivendo na Terra como a exemplificação do amor do Pai do Paraíso, para um universo que a tudo assistia; ainda assim, ele disse o seguinte:

     "Ganid, posso entender bem o quanto te deixam perplexo algumas dessas questões e vou esforçar-me para responder à tua pergunta. Primeiro, em todos os ataques que poderiam ser feitos à minha pessoa, eu determinaria se o agressor seria ou não um filho de Deus - meu irmão na carne - e, se eu achasse que uma tal criatura fosse desprovida de juízo moral e de razão espiritual, eu defenderia sem hesitar a mim próprio com toda a capacidade dos meus poderes de resistência, a despeito das conseqüências para o atacante. Mas, eu não agrediria assim a um irmão que tenha o status de filiação, nem mesmo em autodefesa. Isto é, eu não o puniria precipitadamente e sem julgamento por uma agressão contra mim. Por todos os meios possíveis eu procuraria impedir e dissuadi-lo de fazer aquele ataque; e faria tudo para mitigá-lo caso eu fracassasse em evitá-lo. Ganid, eu tenho confiança absoluta nos cuidados do meu Pai celeste; e estou consagrado a fazer a vontade do meu Pai no céu. Não acredito que nenhum mal real possa sobrevir a mim, não acredito que o trabalho da minha vida possa ser ameaçado por qualquer coisa que os meus inimigos possam desejar que aconteça a mim, e certamente não há nenhuma violência dos nossos amigos a ser temida. Estou absolutamente seguro de que todo o universo é amigável comigo - essa é a verdade todo-poderosa na qual eu insisto em acreditar, com uma confiança de todo o coração, a despeito de todas as aparências em contrário".

     Ganid, todavia, não ficou plenamente satisfeito. Muitas vezes eles falaram sobre essas questões; e Jesus contara a ele algo das suas experiências de infância e também sobre Jacó, o filho do pedreiro. Ao saber como Jacó se propusera a defender Jesus, Ganid disse: "Oh, eu começo a perceber! Em primeiro lugar muito raramente qualquer ser humano normal iria atacar uma pessoa tão boa como tu és e, mesmo que alguém seja tão irrefletido a ponto de fazer tal coisa, há de haver muito certamente algum outro mortal à mão que acorrerá em tua proteção, do mesmo modo que tu sempre acorres em defesa de qualquer pessoa que tu percebes estar em aperto. No meu coração, Mestre, eu concordo contigo, mas na minha cabeça eu ainda acho que se eu tivesse sido Jacó, eu teria gostado de punir aqueles irmãos rudes que ousaram atacar-te só porque sabiam que tu não irias defender-te a ti mesmo. Eu presumo que tu estás a salvo o suficiente nessa tua jornada pela vida, já que passas grande parte do teu tempo ajudando aos outros e ministrando aos teus semelhantes em desespero - bem, muito provavelmente haverá sempre alguém à mão para defender-te". E Jesus retorquiu: "Esse teste ainda está para acontecer, Ganid, e, quando vier, nós teremos que nos conformar com a vontade do Pai". E isso foi tudo o que o jovem pôde levar o seu Mestre a dizer sobre essa questão difícil, da autodefesa e da não-resistência. Numa outra ocasião ele conseguiu tirar de Jesus a opinião de que a sociedade organizada tinha todo o direito de empregar a força para o cumprimento dos seus mandados de justiça.

4  Lei

4.1  A lei suprema do Pai

A Lei Suprema do Pai

     No Seu contato com as criações pós-Havona, o Pai Universal não exerce o Seu poder infinito, nem a Sua autoridade final, por transmissão direta, mas por intermédio dos Seus Filhos e das personalidades subordinadas a eles. E Deus faz tudo isso por Sua livre vontade. Todos e quaisquer dos poderes delegados, caso surgisse a ocasião e se fosse da escolha da mente divina, poderiam ser exercidos diretamente; mas, via de regra, essa ação acontece apenas em conseqüência do fracasso da personalidade delegada, ao tentar corresponder à confiança divina. Em ocasiões assim, diante de um descumprimento e nos limites da reserva de poder e de potencial divinos, o Pai atua independentemente e de acordo com os mandados da Sua própria escolha; e tal escolha é sempre a da perfeição infalível e sabedoria infinita.

     O Pai governa por intermédio dos Seus Filhos. Descendo, na organização do universo, existe uma corrente ininterrupta de dirigentes que termina com os Príncipes Planetários, os quais dirigem os destinos das esferas evolucionárias, dos vastos domínios do Pai. Não é uma expressão meramente poética a que exclama: "Do Senhor é a Terra e a sua plenitude". "Ele faz e destrona reis." "Os Altíssimos governam nos reinos dos homens."

     Nos assuntos dos corações dos homens, nem sempre o Pai Universal pode ter caminho aberto; mas, na conduta e destino de um planeta, o plano divino prevalece; o propósito eterno de sabedoria e amor triunfa.

     Disse Jesus: "Meu Pai, que os outorgou a mim, é maior do que todos; e ninguém poderá arrebatá-los da mão do meu Pai". Ao vislumbrar as obras múltiplas e ao contemplar a imensidão assombrosa da criação quase ilimitada de Deus, podeis vacilar quanto ao vosso conceito da Sua primazia; contudo, não deveis vacilar em aceitá-Lo como sendo firme e eternamente entronizado no centro do Paraíso de todas as coisas, e como o Pai beneficente de todos os seres inteligentes. Não há senão "um único Deus e Pai de todos, acima de tudo e em tudo", e que "é anterior a todas as coisas e em Quem consistem todas as coisas".

4.2  A lei da vida, os anjos serafins e a alma moroncial

A Vida Moroncial e os Serafins

     Todos esses anjos fazem parte da corrente de registradores que se estende desde os mais baixos aos mais altos custódios dos fatos do tempo e verdades da eternidade. Algum dia, eles irão ensinar-vos a buscar a verdade, tanto quanto os fatos, para que possais expandir a vossa alma, bem como a vossa mente. E, mesmo agora, devíeis aprender a regar o jardim do vosso coração, bem como buscar as areias secas do conhecimento. As formas passam a não ter valor quando as lições são aprendidas. Nenhum pintinho pode existir sem o ovo, e nenhuma casca de ovo tem valor depois de o pintinho haver saído. Algumas vezes, porém, o erro é tão grande que a sua retificação, por meio da revelação, seria fatal para aquelas verdades que emergem vagarosamente, mas que são essenciais para superar experiencialmente o erro. Quando as crianças têm os seus ideais, não os destruamos; deixemo-los crescer. E enquanto estais aprendendo a pensar como homens, deveríeis também estar aprendendo a orar como crianças.

     A lei é a vida em si mesma e não as regras para conduzi-la. O mal é uma transgressão da lei; não uma violação das regras de conduta pertinentes à vida, que é a lei. A falsidade não é uma questão de técnica de narração, mas algo premeditado como uma perversão da verdade. A criação de novos quadros tirados de velhos fatos, um restabelecimento da vida dos pais nas vidas da sua prole - esses são os triunfos artísticos da verdade. A sombra de um cacho de cabelo, premeditada para um propósito inverdadeiro; o mais leve torcer ou perverter daquilo que é um princípio - isso constitui a falsidade. Contudo, o fetiche da verdade factualizada, a verdade fossilizada, a braçadeira de ferro da assim chamada verdade imutável, encerra-nos cegamente dentro do círculo fechado do fato frio. Podemos estar tecnicamente certos quanto ao fato e eternamente errados quanto à verdade.

4.3  Lei, liberdade e soberania

Lei, Liberdade e Soberania

     Se um homem almeja a independência - a liberdade - , ele deve lembrar-se de que todos os outros homens anseiam pela mesma autonomia. Os grupos desses mortais amantes da liberdade não podem viver juntos, em paz, sem tornarem-se obedientes a leis, regras e regulamentos tais que concedam a cada uma das suas pessoas o mesmo grau de liberdade, salvaguardando, ao mesmo tempo, um grau igual de liberdade a todos os outros companheiros mortais. Se um homem deve ser absolutamente livre, então um outro deve tornar-se um escravo absoluto. E a natureza relativa da liberdade é, econômica e politicamente, uma verdade social. A liberdade é a dádiva da civilização, tornada possível por força da LEI.

     A religião torna espiritualmente possível realizar a irmandade dos homens, mas isso exigirá um governo, de toda a humanidade, para regulamentar a questão social, econômica e política, ligada a essa meta de felicidade e eficiência humanas.

     Enquanto a soberania política do mundo estiver dividida e nas mãos de um grupo de estados-nações, haverá guerras e rumores de guerras - e nação levantar-se-á contra nação. A Inglaterra, a Escócia e o País de Gales mantiveram-se sempre em luta, uns contra os outros, até que abdicaram das respectivas soberanias, confiando-as ao Reino Unido.

     Uma outra guerra mundial ensinará às nações ditas soberanas a formar alguma espécie de federação, criando assim o instrumento para impedir as pequenas guerras, guerras entre as nações menores. Mas as guerras globais continuarão enquanto não for criado o governo da humanidade. A soberania global impedirá as guerras globais - nenhuma outra coisa poderá fazê-lo.

     Os quarenta e oito estados livres da América vivem juntos em paz. Há entre os cidadãos, desses quarenta e oito estados, todas as raças e as diversas nacionalidades, provenientes da Europa, que estão sempre em guerra. Esses americanos representam quase todas as religiões, seitas religiosas e cultos de todo o amplo mundo, mas ali na América do Norte eles vivem juntos em paz. E tudo isso se faz possível porque os quarenta e oito estados entregaram a sua soberania e abandonaram todas as noções de supostos direitos de autodeterminação.


Notas de Rodapé:

1 Bíblia significa livro, e o nome da terra no grande universo é urantia. Por isso, "Livro de Urantia" pode ser entendido como "Bíblia da Terra".