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Presidência
da República |
LEI Nº 556, DE 25 DE JUNHO DE 1850.
Código Comercial |
PARTE PRIMEIRA - DO COMÉRCIO EM GERAL
Parte revogada pela Lei 10.406, de 10.1.2002
TÍTULO I
Dos Comerciantes
Capítulo I
Das Qualidades Necessárias para ser Comerciante
Art. 1 - Podem comerciar no Brasil:
1 - Todas as pessoas que, na conformidade das leis deste Império, se acharem na livre
administração de suas pessoas e bens, e não forem expressamente proibida neste Código.
2 - Os menores legitimamente emancipados.
3 - Os filhos-famílias que tiverem mais de 18 (dezoito) anos de idade, com autorização
dos pais, provada por escritura pública. O filho maior de 21 (vinte e um) anos, que for
associado ao comércio do pai, e o que com sua aprovação, provada por escrito, levantar
algum estabelecimento comercial, será reputado emancipado e maior para todos os efeitos
legais nas negociações mercantis.
4 - As mulheres casadas maiores de 18 (dezoito) anos, com autorização de seus maridos
para poderem comerciar em seu próprio nome, provada por escritura pública. As que se
acharem separadas da coabitação dos maridos por sentença de divórcio perpétuo, não
precisam da sua autorização.
Os menores, os filhos-famílias e as mulheres casadas devem inscrever os títulos da sua
habilitação civil, antes de principiarem a comerciar, no Registro do Comércio do
respectivo distrito.
Art. 2 - São proibidos de comerciar:
1 - os presidentes e os comandantes de armas das províncias, os magistrados vitalícios,
os juízes municipais e os de órfãos, e oficiais de Fazenda, dentro dos distritos em que
exercerem as suas funções;
2 - os oficiais militares de 1 linha de mar e terra, salvo se forem reformados, e os dos
corpos policiais;
3 - as corporações de mão-morta, os clérigos e os regulares;
4 - os falidos, enquanto não forem legalmente reabilitados.
Art. 3 - Na proibição do artigo antecedente não se compreende a faculdade de dar
dinheiro a juro ou a prêmio, contanto que as pessoas nele mencionadas não façam do
exercício desta faculdade profissão habitual de comércio; nem a de ser acionista em
qualquer companhia mercantil, uma vez que não tomem parte na gerência administrativa da
mesma companhia.
Art. 4 - Ninguém é reputado comerciante para efeito de gozar da proteção que este
Código liberaliza em favor do comércio, sem que se tenha matriculado em algum dos
Tribunais do Comércio do Império, e faça da mercancia profissão habitual (artigo nº
9).
Art. 5 - A petição da matrícula deverá conter:
1 - o nome, idade, naturalidade e domicílio do suplicante; e, sendo sociedade, os nomes
individuais que a compõem, e a firma adotada (artigo nºs 302, 311 e 325);
2 - o lugar ou domicílio do estabelecimento. Os menores, os filhos-famílias e as
mulheres casadas deverão juntar os títulos da sua capacidade civil (artigo nº. 1, nºs
2, 3 e 4).
Art. 6 - O tribunal, achando que o suplicante tem capacidade legal para poder comerciar, e
goza de crédito público, ordenará a matrícula, a qual será logo comunicada a todos os
Tribunais do Comércio, e publicada por editais e pelos jornais, onde os houver,
expedindo-se ao mesmo suplicante o competente título.
Art. 7 - Os negociantes que se acharem matriculados na Junta do Comércio ficam obrigados
a registrar o competente título no tribunal do seu domicílio, dentro de 4 (quatro) meses
da sua instalação; podendo o mesmo tribunal prorrogar este prazo a favor dos
comerciantes que residirem em lugares distantes (artigo nº. 31).
Art. 8 - Toda a alteração, que o comerciante ou sociedade vier a fazer nas
circunstâncias declaradas na sua matrícula, será levada, dentro do prazo marcado no
artigo antecedente, ao conhecimento do tribunal respectivo, o qual a mandará averbar na
mesma matrícula e proceder às comunicações e publicações determinadas no artigo nº.
6.
Art. 9 - O exercício efetivo de comércio para todos os efeitos legais presume-se
começar desde a data da publicação da matrícula.
Capítulo II
Das Obrigações Comuns a Todos os Comerciantes
Art. 10 - Todos os comerciantes são obrigados:
1 - a seguir uma ordem uniforme de contabilidade e escrituração, e a ter os livros para
esse fim necessários;
2 - a fazer registrar no Registro do Comércio todos os documentos, cujo registro for
expressamente exigido por este Código, dentro de 15 (quinze) dias úteis da data dos
mesmos documentos (artigo nº. 31), se maior ou menor prazo se não achar marcado neste
Código;
3 - a conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondências e mais papéis
pertencentes ao giro do seu comércio, enquanto não prescreverem as ações que lhes
possam ser relativas (Título. XVII);
4 - a formar anualmente um balanço geral do seu ativo e passivo, o qual deverá
compreender todos os bens de raiz móveis e semoventes, mercadorias, dinheiro, papéis de
crédito, e outra qualquer espécie de valores, e bem assim todas as dívidas e
obrigações passivas; e será datado e assinado pelo comerciante a quem pertencer.
Art. 11 - Os livros que os comerciantes são obrigados a ter indispensavelmente, na
conformidade do artigo antecedente, são o Diário e o Copiador de cartas.
Art. 12 - No Diário é o comerciante obrigado a lançar com individuação e clareza toda
as suas operações de comércio, letras e outros quaisquer papéis de crédito que
passar, aceitar, afiançar ou endossar, e em geral tudo quanto receber e despender de sua
ou alheia conta, seja por que título for, sendo suficiente que as parcelas de despesas
domésticas se lancem englobadas na data em que forem extraídas da caixa. Os comerciantes
de retalho deverão lançar diariamente no Diário a soma total das suas vendas a
dinheiro, e, em assento separado, a soma total das vendas fiadas no mesmo dia.
No mesmo Diário se lançará também em resumo o balanço geral (artigo nº. 10, nº 4),
devendo aquele conter todas as verbas deste, apresentando cada uma verba a soma total das
respectivas parcelas; e será assinado na mesma data do balanço geral. No Copiador o
comerciante é obrigado a lançar o registro de todas as cartas missivas que expedir, com
as contas, faturas ou instruções que as acompanharem.
Art. 13 - Os dois livros sobreditos devem ser encadernados, numerados, selados e
rubricados em todas as suas folhas por um dos membros do Tribunal do Comércio respectivo,
a quem couber por distribuição, com termos de abertura e encerramento subscritos pelo
secretário do mesmo tribunal e assinados pelo presidente.
Nas províncias onde não houver Tribunal do Comércio, as referidas formalidades serão
preenchidas pela Relação do distrito; e, na falta desta, pela primeira a autoridade
judiciária da comarca do domicílio do comerciante, e pelo seu distribuidor e escrivão e
o comerciante não preferir antes mandar os seus livros ao Tribunal do Comércio. A
disposição deste artigo só começará a obrigar desde o dia que os Tribunais do
Comércio, cada um no seu respectivo distrito, designarem.
Art. 14 - A escrituração dos mesmos livros será feita em forma mercantil, e seguida
pela ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalo em branco, nem entrelinhas,
bordaduras, raspaduras ou emendas.
Art. 15 - Qualquer dos dois mencionados livros, que for achado com algum dos vícios
especificado no artigo precedente, não merecerá fé alguma nos lugares viciados a favor
do comerciante a quem pertencer, nem no seu todo, quando lhes faltarem as formalidades
prescritas no artigo nº 13, ou os seus vícios forem tantos ou de tal natureza que o
tornem indigno de merecer fé.
Art. 16 - Os mesmos livros, para serem admitidos em juízo, deverão achar-se escritos no
idioma do país; se por serem de negociantes estrangeiros estiverem em diversa língua,
serão primeiro traduzidos na parte relativa à questão, por intérprete juramentado, que
deverá ser nomeado a aprazimento de ambas as partes, não o havendo público; ficando a
estas o direito de contestar a tradução de menos exata.
Art. 17 - Nenhuma autoridade, juízo ou tribunal, debaixo de pretexto
algum, por mais especioso que seja, pode praticar ou ordenar alguma diligência para
examinar se o comerciante arruma ou não devidamente seus livros de escrituração
mercantil, ou neles tem cometido algum vício.(Vide Decreto Lei nº 385, de 1938)
Art. 18 - A exibição judicial dos livros de escrituração comercial
por inteiro, ou de balanços gerais de qualquer casa de comércio, só pode ser ordenada a
favor dos interessados em gestão de sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou
gestão mercantil por conta de outrem, e em caso de quebra.
Art. 19 - Todavia, o juiz ou Tribunal do Comércio, que conhecer de uma causa, poderá, a
requerimento da parte, ou mesmo do ex officio, ordenar, na pendência da lide, que os
livros, ou de qualquer ou de ambos os litigantes sejam examinados na presença do
comerciante a quem pertencerem e debaixo de suas vistas, ou na de pessoa por ele nomeada,
para deles se averiguar e extrair o tocante à questão.
Se os livros se acharem em diverso distrito, o exame será feito pelo juiz de direito do
comércio respectivo, na forma sobredita; com declaração, porém, de que em nenhum caso
os referidos livros poderão ser transportados para fora do domicílio do comerciante a
quem pertencerem, ainda que ele nisso convenha.
Art. 20 - Se algum comerciante recusar apresentar os seus livros quando judicialmente lhe
for ordenado, nos casos do artigo nº. 18, será compelido à sua apresentação debaixo
de prisão, e nos casos do artigo nº. 19 será deferido juramento supletório à outra
parte. Se a questão for entre comerciantes, dar-se-á plena fé aos livros do comerciante
a favor de quem se ordenar a exibição, se forem apresentados em forma regular (artigo
nºs 13 e 14).
Capítulo III
DAS PRERROGATIVAS DOS COMERCIANTES
Art. 21 - As procurações bastantes dos comerciantes, ou sejam feitas pela sua própria
mão ou por eles somente assinadas, têm a mesma validade que se fossem feitas por
tabeliães públicos.
Art. 22 - Os escritos de obrigações relativas a transações mercantis, para as quais se
não exija por este Código prova de escritura pública, sendo assinados por comerciantes,
terão inteira fé contra quem os houver assinado, seja qual for o seu valor (artigo nº.
426).
Art. 23 - Os dois livros mencionados no artigo nº. 11, que se acharem com as formalidades
prescritas no artigo nº. 13, sem vício nem defeito, escriturados na forma determinada no
artigo nº. 14, e em perfeita harmonia uns com os outros, fazem prova plena:
1 - contra as pessoas que deles forem proprietários, originariamente ou por sucessão;
2 - contra comerciantes, com quem os proprietários, por si ou por seus antecessores,
tiverem ou houverem tido transações mercantis, se os assentos respectivos se referirem a
documentos existentes que mostrem a natureza das mesmas transações, e os proprietários
provarem também por documentos, que não foram omissos em dar em tempo competente os
avisos necessários, e que a parte contrária os recebeu;
3 - contra pessoas não comerciantes, se os assentos forem comprovados por algum
documento, que só por si não possa fazer prova plena.
Art. 24 - Fica entendido que os referidos livros não podem produzir prova alguma naqueles
casos, em que este Código exige que ela só possa fazer-se por instrumento público ou
particular.
Art. 25 - Ilide-se a fé dos mesmos livros, nos casos compreendidos nº 2 do artigo nº.
23, por documentos sem vício, por onde se mostre que os assentos contestados são falsos
ou menos exatos; e quanto aos casos compreendidos na disposição no nº 3 do mesmo
artigo, por qualquer gênero de prova admitida em comércio.
Capítulo IV
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 26 - Os menores e os filhos-famílias comerciantes podem obrigar, hipotecar e alhear
validamente os seus bens de raiz, sem que possam alegar o beneficio de restituição
contra estes atos, ou outras quaisquer obrigações comerciais que contraírem.
Em caso de dúvida, todas as obrigações por eles contraídas presumem se comerciais.
Art. 27 - A mulher casada comerciante não pode obrigar, hipotecar ou alhear os bens
próprios do marido adquiridos antes do casamento, se os respectivos títulos houverem
sido lançados no Registro do Comércio dentro de 15 (quinze) dias depois do mesmo
casamento (artigo nº. 31), nem os de raiz que pertencerem em comum a ambos os cônjuges,
sem autorização especial do marido, provada por escritura pública inscrita no dito
Registro.
Poderá, porém, obrigar, hipotecar e alhear validamente os bens dotais, os parafernais,
os adquiridos no seu comércio, e todos os direitos e ações em que tiver comunhão, sem
que em nenhum caso possa alegar benefício algum de direito.
Art. 28 - A autorização para comerciar dada pelo marido à mulher pode ser revogada por
sentença ou escritura pública; mas a revogação só surtirá efeito relativamente a
terceiro depois que for inscrita no Registro do Comércio, e tiver sido publicada por
editais e nos periódicos do lugar, e comunicada por cartas a todas as pessoas com quem a
mulher tiver a esse tempo transações comerciais.
Art. 29 - A mulher comerciante, casando, presume-se autorizada pelo marido, enquanto este
não manifestar o contrário por circular dirigida a todas as pessoas, com quem ela a esse
tempo tiver transações comerciais, inscrita no Registro do Comércio respectivo, e
publicada por editais e nos periódicos do lugar.
Art. 30 - Todos os atos do comércio praticados por estrangeiros residentes no Brasil
serão regulados e decididos pelas disposições do presente Código.
Art. 31 - Os prazos marcados nos artigo nºs 10, nº 2, e 27, começarão a contar-se,
para as pessoas que residirem fora do lugar onde se achar estabelecido o Registro do
Comércio, do dia seguinte ao da chegada do segundo correio, paquete ou navio, que houver
saído do distrito do domicílio das mesmas pessoas depois da data dos documentos que
deverem ser registrados.
TÍTULO II
DAS PRAÇAS DO COMÉRCIO
Art. 32 - Praça do comércio é não só o local, mas também a reunião dos
comerciantes, capitães e mestres de navios, corretores e mais pessoas empregadas no
comércio.
Este local e reunião estão sujeitos à polícia e inspeção das autoridades
competentes.
O regulamento das praças do comércio marcará tudo quanto respeita à polícia interna
das mesmas praças, e mais objetos a elas concernentes.
Art. 33 - O resultado das negociações que se operarem na praça determinará o curso do
câmbio e o preço corrente das mercadorias, seguros, fretes, transportes de terra e
água, fundos públicos, nacionais ou estrangeiros, e de outros quaisquer papéis de
crédito, cujo curso possa ser anotado.
Art. 34 - Os comerciantes de qualquer praça poderão eleger dentre si uma comissão que
represente o corpo do comércio da mesma praça.
TÍTULO III
DOS AGENTES AUXILIARES DO COMÉRCIO
Capítulo I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 35 - São considerados agentes auxiliares do comércio, sujeitos às leis comerciais
com relação às operações que nessa qualidade lhes respeitam:
1 - os corretores;
2 - os agentes de leilões;
3 - os feitores, guarda-livros e caixeiros;
4 - os trapicheiros e os administradores de armazéns de depósito,
5 - os comissários de transportes.
Capítulo II
DOS CORRETORES
Art. 36 - Para ser corretor, requer-se ter mais de 25 (vinte e cinco) anos de idade, e ser
domiciliado no lugar por mais de 1 (um) ano.
Art. 37 - Não podem ser corretores:
1 - os que não podem ser comerciantes;
2 - as mulheres;
3 - os corretores, uma vez destituídos;
4 - os falidos não reabilitados, e os reabilitados, quando a quebra houver sido
qualificada como compreendida na disposição dos artigo nºs 800, nº 2, e 801, nº 1.
Art. 38 - Todo o corretor é obrigado a matricular-se no Tribunal do Comércio do seu
domicílio; e antes de entrar no exercício do seu ofício prestará juramento de bem
cumprir os seus deveres perante o presidente, podendo ser admitidos a jurar por procurador
os corretores das praças distantes do lugar onde o tribunal residir; pena de uma multa
correspondente a 10% (dez por cento) da fiança que houver prestado, e de que a sua
gestão só produzirá o efeito do mandato.
Art. 39 - A petição para matrícula deve declarar a naturalidade e domicílio do
impetrante, o gênero de comércio para que requer habilitar-se, e a praça onde pretende
servir de corretor; e ser instruída com os seguintes documentos originais:
1 - certidão de idade;
2 - título de residência, por onde mostre que se acha domiciliado há mais de 1 (um) ano
na praça em que pretende ser corretor;
3 - atestado de haver praticado o comércio sobre si, ou em alguma casa de comércio de
grosso trato, na qualidade de sócio-gerente, ou pelo menos de guarda-livros ou primeiro
agente, ou de algum corretor, com bom desempenho e crédito.
Passados 5 (cinco) anos, a contar da data da publicação do presente Código, nenhum
estrangeiro não naturalizado poderá exercer o ofício de corretor, ainda que
anteriormente tenha sido nomeado, e se ache servindo.
Art. 40 - Mostrando-se o impetrante nas circunstâncias de poder ser corretor, o tribunal
o admitirá a prestar fiança idônea; e apresentando certidão autêntica de a ter
prestado lhe mandará passar patente de corretor, procedendo-se aos mais termos dispostos
no artigo. 6 para matrícula dos comerciantes.
Art. 41 - A fiança será prestada no cartório do escrivão do juiz do comércio do
domicílio do corretor.
Os Tribunais do Comércio, logo que forem instalados, fixarão o quantitativo das fianças
que devem prestar os corretores, com relação ao giro das transações comerciais das
respectivas praças; podendo alterar o seu valor por uma nova fixação sempre que o
julgarem conveniente.
Art. 42 - Na falta de fiança, será o habilitante admitido a depositar a sua importância
em dinheiro ou apólices da Dívida Pública, pelo valor real que estas tiverem ao tempo
do depósito.
Se no lugar onde deva prestar-se a fiança não houver giro de apólices da Dívida
Pública, poderá efetuar-se o depósito na praça mais próxima onde elas girarem.
Art. 43 - A fiança será conservada efetivamente por inteiro, e por ela serão pagas as
multas em que o corretor incorrer, e as indenizações a que for obrigado, se as não
satisfizer imediatamente quem nelas for condenado, ficando suspenso enquanto a fiança
não for preenchida.
Art. 44 - No caso de morte, falência ou ausência de algum dos fiadores, ou de se terem
desonerado da fiança por forma legal (artigo nº. 262), cessará o ofício de corretor
enquanto não prestar novos fiadores.
Art. 45 - O corretor pode intervir em todas as convenções, transações e operações
mercantis; sendo todavia entendido que é permitido a todos os comerciantes, e mesmo aos
que o não forem, tratar imediatamente por si, seus agentes e caixeiros as suas
negociações, e as de seus comitentes, e até inculcar e promover para outrem vendedores
e compradores, contanto que a intervenção seja gratuita.
Art. 46 - Nenhum corretor pode dar certidão senão do que constar do seu protocolo e com
referência a ele (artigo nº. 52); e somente poderá atestar o que viu ou ouviu
relativamente aos negócios do seu ofício por despacho de autoridade competente; pena de
uma multa correspondente a 10% (dez por cento) da fiança prestada.
Art. 47 - O corretor é obrigado a fazer assento exato e metódico de todas as operações
em que intervier, tomando nota de cada uma, apenas for concluída, em um caderno manual
paginado.
Art. 48 - Os referidos assentos serão numerados seguidamente pela ordem em que as
transações forem celebradas, e deverão designar o nome das pessoas que nelas
intervierem, as qualidades, quantidade e preço dos efeitos que fizerem o objeto da
negociação, os prazos e condições dos pagamentos, e todas e quaisquer circunstâncias
ocorrentes que possam servir para futuros esclarecimentos.
Art. 49 - Nos assentos de negciações de letras de câmbio deverá o corretor notar as
datas, termos e vencimentos, as praças onde e sobre que forem sacadas, os nomes do
sacador, endossadores e pagador, e as estipulações relativas ao câmbio, se algumas se
fizerem (artigo nº. 385).
Nos negócios de seguros é obrigado a designar os nomes dos seguradores e do segurado
(artigo nº. 667, n°1), o objeto do seguro, seu valor segundo a convenção, lugar da
carga e descarga, o nome, nação, e matrícula do navio e o seu porte, e o nome do
capitão ou mestre.
Art. 50 - Os assentos do caderno manual deverão ser lançados diariamente em um
protocolo, por cópia literal, por extenso, e sem emendas nem interposições, guardada a
mesma numeração do manual.
O protocolo terá as formalidades exigidas para os livros dos comerciantes no artigo nº.
13, sob pena de não terem fé os assentos que nele se lançarem, e de uma multa
correspondente à metade da fiança prestada.
O referido protocolo será exigível em juízo, a requerimento de qualquer interessado,
para os exames necessários, e mesmo oficialmente por ordem dos juízes e Tribunais do
Comércio (artigo nºs 19 e 20).
Art. 51 - O corretor, cujos livros forem achados sem as regularidades e formalidades
especificadas no artigo nº. 50, ou com falta de declaração de alguma das
individuações mencionadas nos artigo nºs 48 e 49, será obrigado a indenizar as partes
dos prejuízos que daí lhes resultarem, multado na quantia correspondente à quarta parte
da fiança, e suspenso por tempo de 3 (três) a 6 (seis) meses; no caso de reincidência
será punido com a multa de metade da fiança, e perderá o ofício.
No caso, porém, de se provar que obrou por dolo ou fraude, além da indenização das
partes, perderá toda a fiança, e ficará sujeito à ação criminal que possa competir.
Art. 52 - Os livros dos corretores que se acharem sem vício nem defeito, e regularmente
escriturados na forma determinada nos artigo nºs 48, 49 e 50, terão fé pública. As
certidões extraídas dos mesmos livros com referência à folha em que se acharem
escrituradas, sendo pelos mesmos corretores subscritas e assinadas, terão força de
instrumento público para prova dos contratos respectivos (artigo nº. 46), nos casos em
que por este Código se não exigir escritura pública, ou outro gênero de prova
especial. O corretor que passar certidão contra o que constar dos seus livros incorrerá
nas penas do crime de falsidade, perderá a fiança por inteiro, e será destituído.
Art. 53 - Os corretores são obrigados a assistir à entrega das coisas vendidas por sua
intervenção, se alguma das partes o exigir; sob pena de uma multa correspondente a 5%
(cinco por cento) da fiança, e de responderem por perdas e danos.
Art. 54 - Os corretores são igualmente obrigados em negociação de letras, ou outros
quaisquer papéis de crédito endossáveis, ou apólices da Dívida Pública, a havê-los
do cedente e a entregá-los ao tomador, bem como a receber e entregar o preço.
Art. 55 - Ainda que em geral os corretores não respondam, nem possam constituir-se
responsáveis pela solvabilidade dos contraentes, serão contudo garantes nas referidas
negociações da entrega material do título ao tomador e do valor ao cedente, e
responsáveis pela veracidade da última firma de todos e quaisquer papéis de crédito
por via deles negociados, e pela identidade das pessoas que intervierem nos contratos
celebrados por sua intervenção.
Art. 56 - É dever dos corretores guardar inteiro segredo nas negociações de que se
encarregarem; e se da revelação resultar prejuízo, serão obrigados à sua
indenização, e até condenados à perda do ofício e da metade da fiança prestada,
provando-se dolo ou fraude.
Art. 57 - O corretor que no exercício do seu ofício usar de fraude, ou empregar
cavilação ou engano, será punido com as penas do artigo nº. 51.
Art. 58 - Os corretores, ultimada a transação de que tenham, sido encarregados, serão
obrigados a dar a cada uma das partes contraentes cópia fiel do assento da mesma
transação, por eles assinada, dentro do prazo de 48 (quarenta e oito) horas úteis o
mais tardar; pena de perderem o direito que tiverem adquirido à sua comissão, e de
indenizarem as partes de todo o prejuízo que dessa falta lhes resultar.
Art. 59 - É proibido aos corretores:
1 - toda a espécie de negociação e tráfico direto ou indireto, debaixo de seu ou
alheio nome; contrair sociedade de qualquer denominação ou classe que seja, e ter parte
ou quinhão, em navios ou na sua carga; pena de perdimento do ofício, e de nulidade do
contrato;
2 - encarregar-se de cobranças ou pagamentos por conta alheia; pena de perdimento do
ofício;
3 - adquirir para si ou para pessoa de sua família coisa, cuja venda lhes for incumbida
ou a algum outro corretor, ainda mesmo que seja a pretexto do seu consumo particular; pena
de suspensão ou perdimento do ofício, a arbítrio do tribunal, segundo a gravidade do
negócio, e de uma multa correspondente ao dobro do preço da coisa comprada.
Art. 60 - Na disposição do artigo antecedente não se compreende a aquisição de
apólices da Dívida Pública, nem a de ações de sociedades anônimas, das quais,
todavia, não poderão ser diretores, administradores ou gerentes, debaixo de qualquer
título que seja.
Art. 61 - Toda a fiança dada por corretor em contrato ou negociação mercantil, feita
por sua intervenção, será nula.
Art. 62 - Aos corretores de navios fica permitido traduzir os manifestos e documentos que
os mestres de embarcações estrangeiras tiverem de apresentar para despacho nas
Alfândegas do Império. Estas traduções, bem como as que forem feitas por intérpretes
nomeados pelos Tribunais do Comércio, terão fé pública; salvo as partes interessadas o
direito de impugnar a sua falta de exatidão.
Art. 63 - Aos corretores de navios, que nas traduções de que trata o artigo antecedente
cometerem erro ou falsidade de que resulte dano às partes, são aplicáveis as
disposições do artigo nº. 51.
Art. 64 - Os Tribunais do Comércio, dentro dos primeiros 6(seis) meses da sua
instalação, organizarão uma tabela dos emolumentos que aos corretores e intérpretes
competem pelas certidões que passarem.
Toda a corretagem, não havendo estipulação em contrário, será paga repartidamente por
ambas as partes.
Art. 65 - Vagando algum ofício de corretor, o escrivão do juízo do comércio procederá
imediatamente à arrecadação de todos os livros e papéis pertencentes ao ofício que
vagar, e inventariados eles dará parte ao Tribunal do Comércio, para este lhes dar o
destino que convier.
Art. 66 - O mesmo escrivão, no ato da arrecadação, é obrigado a proceder a exame nos
sobreditos livros, em presença das partes interessadas e de duas testemunhas, para se
conhecer o seu estado.
Art. 67 - O Governo, procedendo consulta dos respectivos Tribunais do Comércio, marcará
o nº de corretores que deverá haver em cada uma das praças do comércio do Brasil, e
lhes dará regimento próprio, e bem assim aos agentes de leilão, contanto que por estes
regimentos se não altere disposição alguma das compreendidas no presente Código.
Capítulo III
DOS AGENTES DE LEILÕES
Art. 68 - Para ser agente de leilões, requerem-se as mesmas qualidades e habilitações
que para ser corretor. (Vide nº 21.981, de
19.10.1932)
Aos agentes de leilões são aplicáveis as disposições dos artigos 37, 59, 60 e 61
(art. 804).
Art. 69 - Os agentes de leilões, quando exercerem o seu oficio dentro das suas
próprias casas de leilão, e fora delas não se achando presente o dono dos efeitos que
houverem de ser vendidos, são reputados verdadeiros consignatários, sujeitos às
disposições do Título VIII – da COMISSÃO MERCANTIL – artigos 167, 168, 169,
170, 171, 172, 173, 177, 181, 182, 185, 186, 187, 188 e 189. (Vide nº 21.981, de 19.10.1932)
Art. 70 - Os agentes de leilões ficam sendo exclusivamente competentes para a venda de
fazendas, e outros quaisquer efeitos, que por este Código se mandam fazer judicialmente
ou em hasta pública, e nesses casos tem fé de ofícios públicos.
Esta disposição não compreende as arrematações judiciais por execução de sentença.
(Vide nº 21.981, de 19.10.1932)
Art. 71 - Em cada agência ou casa de leilão haverá indispensavelmente três
livros: o – Diário da entrada – no qual se lançarão por ordem cronológica,
sem interpelações, nem emendas ou raspaduras, as fazendas e efeitos que se receberem;
indicando-se as qualidades, volumes ou peças, suas marcas e sinais, as pessoas de quem se
receberão, e por conta de quem hão de ser vendidas: outro, o – Diário da saída,
no qual se fará menção, dia a dia, das vendas, por conta e ordem de quem, e a quem,
preço e condições de pagamento, e as mais clarezas que pareçam necessária: terceiro
finalmente, o livro de – Contas correntes – entre a agência e cada um dos seus
cometentes. (Vide nº 21.981, de 19.10.1932)
Aos referidos livros são aplicáveis as disposições dos artigos 13 e 15; e serão
exibíveis em Juízo como os dos corretores (art. 58).
Art. 72 - Efeituado o leilão, o agente entregará ao cometente, dentro de três
dias, uma conta por ele assinada das fazendas arrematadas com as convenientes
declarações; e dentro de oito dias imediatamente seguintes ao do leilão realizará o
pagamento do líquido apurado e vencido. (Vide
nº 21.981, de 19.10.1932)
Havendo mora por parte do agente de leilão, poderá o cometente requerer, no Juízo
competente, a decretação da pena de prisão contra ele até efetivo pagamento; e neste
caso perderá o mesmo agente a sua comissão.
Art. 73 - Os agentes de leilão em nenhum caso poderão vender fiado ou a prazos,
sem autorização por escrito do cometente. (Vide
nº 21.981, de 19.10.1932)
Capítulo IV
DOS FEITORES, GUARDA-LIVROS E CAIXEIROS
Art. 74 - Todos os feitores, guarda-livros, caixeiros e outros quaisquer prepostos das
casas de comércio, antes de entrarem no seu exercício, devem receber de seus patrões ou
preponentes uma nomeação por escrito, que farão inscrever no Tribunal do Comércio
(artigo nº. 10, nº 2); pena de ficarem privados dos favores por este Código concedidos
aos da sua classe.
Art. 75 - Os preponentes são responsáveis pelos atos dos feitores, guarda-livros,
caixeiros e outros quaisquer prepostos, praticados dentro das suas casas de comércio, que
forem relativos ao giro comercial das mesmas casas, ainda que se não achem autorizados
por escrito.
Quando, porém, tais atos forem praticados fora das referidas casas, só obrigarão os
preponentes, achando-se os referidos agentes autorizados pela forma determinada pelo
artigo nº. 74.
Art. 76 - Sempre que algum comerciante encarregar um feitor, caixeiro ou outro qualquer
preposto do recebimento de fazendas compradas, ou que por qualquer outro título devam
entrar em seu poder, e o feitor, caixeiro ou preposto as receber sem objeção ou
protesto, a entrega será tida por boa, sem ser admitida ao preponente reclamação
alguma; salvo as que podem ter lugar nos casos prevenidos nos artigo nºs 211, 616 e 618.
Art. 77 - Os assentos lançados nos livros de qualquer casa de comércio por guarda-livros
ou caixeiros encarregados da escrituração e contabilidade produzirão os mesmos efeitos
como se fossem escriturados pelos próprios preponentes.
Art. 78 - Os agentes de comércio sobreditos são responsáveis aos preponentes por todo e
qualquer dano que lhes causarem por malversação, negligência culpável, ou falta de
exata e fiel execução das suas ordens e instruções, competindo até contra eles ação
criminal no caso de malversação.
Art. 79 - Os acidentes imprevistos e inculpados, que impedirem aos prepostos o exercício
de suas funções, não interromperão o vencimento do seu salário, contanto que a
inabilitação não exceda a 3 (três) meses contínuos.
Art. 80 - Se no serviço do preponente acontecer aos prepostos algum dano extraordinário,
o preponente será obrigado a indenizá-lo, a juízo de arbitradores
Art. 81 - Não se achando acordado o prazo do ajuste celebrado entre o preponente e os
seus prepostos, qualquer dos contraentes poderá dá-lo por acabado, avisando o outro da
sua resolução com 1 (um) mês de antecipação.
Os agentes despedidos terão direito ao salário correspondente a esse mês, mas o
preponente não será obrigado a conservá-los no seu serviço.
Art. 82 - Havendo um termo estipulado, nenhuma das partes poderá desligar-se da
convenção arbitrariamente; pena de ser obrigada a indenizar a outra dos prejuízos que
por este fato lhe resultarem, a juízo de arbitradores.
Art. 83 - Julgar-se-á arbitrária a inobservância da convenção por parte dos
prepostos, sempre que se não fundar em injúria feita pelo preponente à seguridade,
honra ou interesses seus ou de sua família.
Art. 84 - Com respeito aos preponentes, serão causas suficientes para despedir os
prepostos, sem embargo de ajuste por tempo certo:
1 - as causas referidas no artigo precedente;
2 - incapacidade para desempenhar os deveres e obrigações a que se sujeitaram;
3 - todo o ato de fraude, ou abuso de confiança;
4 - negociação por conta própria ou alheia sem permissão do preponente.
Art. 85 - Os prepostos não podem delegar a outrem, sem autorização por escrito dos
preponentes, quaisquer ordens ou encargos que deles tenham recebido; pena de responderem
diretamente pelos atos dos substitutos, e pelas obrigações por eles contraídas.
Art. 86 - São aplicáveis aos feitores as disposições do Título VI - Do mandato
mercantil - artigo nºs 145, 148, 150, 151, 160, 161 e 162.
Capítulo V
DOS TRAPICHEIROS E ADMINISTRADORES DE ARMAZÉNS DE DEPÓSITO
Art. 87 - Os trapicheiros e os administradores de armazéns de depósito são obrigados a
assinar no Tribunal do Comércio ou perante o juiz de direito do comércio, nos lugares
distantes da residência do mesmo tribunal, termo de fiéis depositários dos gêneros que
receberem, e à vista dele se lhes passará título competente, que será lançado no
Registro do Comércio.
Enquanto não tiverem preenchido esta formalidade, não terão direito para haver das
partes aluguel algum pelos gêneros que receberem, nem poderão valer-se das disposições
deste Código, na parte em que são favoráveis aos trapicheiros, e aos administradores de
armazéns de depósito.
Art. 88 - Os trapicheiros e os administradores de armazéns de depósito são obrigados:
1 - a ter um livro autenticado com as formalidades exigidas no artigo nº 13, e
escriturado sem espaços em branco, entrelinhas, raspaduras, bordaduras ou emendas;
2 - a lançar no mesmo livro numeradamente, e pela ordem cronológica de dia, mês e ano,
todos os efeitos que aqui receberem; especificando com toda a clareza e individuação as
qualidades e quantidades dos mesmos efeitos, e os nomes das pessoas que o remeterem, e a
quem, com as marcas e nºs que tiverem, anotando competentemente a sua saída;
3 - a passar recibos competentes, declarando neles as qualidades, quantidades, nºs e
marcas, fazendo pesar, medir ou contar no ato do recebimento aqueles gêneros que forem
suscetíveis de serem pesados, medidos ou contados;
4 - a ter em boa guarda os gêneros que receberem, e a vigiar e cuidar que se não
deteriorem, nem se vazem sendo líquidos, fazendo para esse fim, por conta de quem
pertencer, as mesmas diligências e despesas que fariam se seus próprios fossem;
5 - a mostrar aos compradores, por ordem dos donos, as fazendas e gêneros arrecadados;
6 - a responder por todos os riscos do ato da carga e descarga dos gêneros que receberem.
Art. 89 - Os administradores dos trapiches alfandegados remeterão, até o dia 15 dos
meses de janeiro e julho de cada ano, ao Tribunal do Comércio respectivo, um balanço em
resumo de todos os gêneros que no semestre antecedente tiverem entrado e saído dos seus
trapiches ou armazéns, e dos que neles ficarem existindo; cada vez que forem omissos no
cumprimento desta obrigação, serão multados pelo mesmo tribunal na quantia de cem
mil-réis a duzentos mil-réis.
Art. 90 - Os Tribunais do Comércio poderão oficialmente mandar inspecionar os livros dos
trapicheiros e os trapiches, para certificar-se da exatidão dos ditos balanços, sempre
que o julgarem conveniente. Se pela inspeção e exame se achar que os balanços são
menos exatos, presumir-se-á que houve extravio de direitos; e ao trapicheiro cujo
balanço for inexato, se imporá a multa do duplo do valor dos direitos que deverão pagar
os gêneros que se presumirem extraviados, aplicando-se metade do seu produto à Fazenda
Nacional, e a outra metade ao cofre do Tribunal do Comércio.
Art. 91 - Os trapicheiros e os administradores de armazéns de depósito são
responsáveis às partes pela pronta e fiel entrega de todos os efeitos que tiverem
recebido, constantes de seus recibos; pena de serem presos sempre que a não efetuarem
dentro de 24 (vinte e quatro) horas depois que judicialmente forem requeridos.
Art. 92 - É lícito, tanto ao vendedor como ao comprador de gêneros existentes nos
trapiches ou armazéns de depósito, exigir dos trapicheiros ou administradores que
repesem e contem os mesmos efeitos no ato da saída, sem que sejam obrigados a pagar
quantia alguma a título de despesa de repeso ou contagem.
Todas as despesas que se fizerem a título de safamento serão por conta dos mesmos
trapicheiros ou administradores.
Art. 93 - Os trapicheiros e os administradores de armazéns de depósito respondem pelos
furtos acontecidos dentro do seus trapiches ou armazéns; salvo sendo cometidos por força
maior, a qual deverá provar-se, com citação dos interessados ou dos seus
consignatários, logo depois do acontecimento.
Art. 94 - São igualmente responsáveis as partes pelas malversações e omissões de seus
feitores, caixeiros ou outros quaisquer agentes, e bem assim pelos prejuízos que, lhes
resultarem da sua falta de diligência no cumprimento do que dispõe o artigo nº. 88, nº
4.
Art. 95 - Em todos os casos em que forem obrigados a pagar às partes falta de efeitos, ou
outros quaisquer prejuízos, a avaliação será feita por arbitradores.
Art. 96 - Os trapicheiros e os administradores de armazéns de depósito têm direito de
exigir o aluguel que for estipulado, ou admitido por uso na falta de estipulação,
podendo não dar saída aos efeitos enquanto não forem pagos; porém, se houver lugar a
alguma reclamação contra eles (artigo nºs 93 e 94), só terão direito a requerer o
depósito do aluguel.
Art. 97 - Os mesmos trapicheiros e os administradores de armazéns de depósito têm
hipoteca tácita nos efeitos existentes nos seus trapiches ou armazéns ao tempo da quebra
do comerciante proprietário dos mesmos efeitos, para serem pagos dos aluguéis e despesas
feitas com a sua conservação (artigo nº. 88, nº 4), com preferência a outro qualquer
credor
Art. 98 - As disposições do Título XIV - Do depósito mercantil - são aplicáveis aos
trapicheiros e aos administradores de armazéns de depósito.
Capítulo VI
DOS CONDUTORES DE GÊNEROS E COMISSÁRIOS DE TRANSPORTES
Art. 99 - Os barqueiros, tropeiros e quaisquer outros condutores de gêneros, ou
comissários, que do seu transporte se encarregarem mediante uma comissão, frete ou
aluguel, devem efetuar a sua entrega fielmente no tempo e no lugar do ajuste; e empregar
toda a diligência e meios praticados pelas pessoas exatas no cumprimento dos seus deveres
em casos semelhantes para que os mesmos gêneros se não deteriorem, fazendo para esse
fim, por conta de quem pertencer, as despesas necessárias; e são responsáveis as partes
pelas perdas e danos que, por malversação ou omissão sua, ou dos seus feitores,
caixeiros ou outros quaisquer agentes resultarem.
Art. 100 - Tanto o carregador como o condutor devem exigir-se mutuamente uma cautela ou
recibo, por duas ou mais vias se forem pedidas, o qual deverá conter:
1 - o nome do dono dos gêneros ou carregador, o do condutor ou comissário de
transportes, e o da pessoa a quem a fazenda é dirigida, e o lugar onde deva fazer-se a
entrega;
2 - designação dos efeitos, e sua qualidade genérica, peso ou nº dos volumes, e as
marcas ou outros sinais externos destes;
3 - o frete ou aluguel do transporte;
4 - o prazo dentro do qual deva efetuar-se a entrega;
5 - tudo o mais que tiver entrado em ajuste.
Art. 101 - A responsabilidade do condutor ou comissário de transportes começa correr
desde o momento em que recebe as fazendas, e só expira depois de efetuada a entrega.
Art. 102 - Durante o transporte, corre por conta do dono o risco que as fazendas sofrerem,
proveniente de vício próprio, força maior ou caso fortuito.
A prova de qualquer dos referidos sinistros incumbe ao condutor ou comissário de
transportes.
Art. 103 - As perdas ou avarias acontecidas às fazendas durante o transporte, não
provindo de alguma das causas designadas no artigo precedente, correm por conta do
condutor ou comissário de transportes.
Art. 104 - Se, todavia, se provar que para a perda ou avaria dos gêneros interveio
negligência ou culpa do condutor ou comissário de transportes, por ter deixado de
empregar as precauções e diligências praticadas em circunstâncias idênticas por
pessoas diligentes (artigo nº. 99), será este obrigado à sua indenização, ainda mesmo
que tenha provindo de caso fortuito ou da própria natureza da coisa carregada.
Art. 105 - Em nenhum caso o condutor, ou comissário de transportes é responsável senão
pelos efeitos que constarem da cautela ou recibo que tiver assinado, sem que seja
admissível ao carregador a prova de que entregou maior quantidade dos efeitos mencionados
na cautela ou recibo, ou que entre os designados se continham outros de maior valor.
Art. 106 - Quando as avarias produzirem somente diminuição no valor dos gêneros, o
condutor ou comissário de transportes só será obrigado a compor a importância do
prejuízo.
Art. 107 - O pagamento dos gêneros que o condutor ou comissário de transportes deixar de
entregar, e a indenização dos prejuízos que causar, serão liquidados por arbitradores,
à vista das cautelas ou recibos (artigo nº. 100).
Art. 108 - As bestas, carros, barcos, aparelhos, e todos os mais instrumentos principais e
acessórios dos transportes, são hipoteca tácita em favor do carregador para pagamento
dos efeitos entregues ao condutor ou comissário de transporte.
Art. 109 - Não terá lugar reclamação alguma por diminuição ou avaria dos gêneros
transportados, depois de se ter passado recibo da sua entrega sem declaração de
diminuição ou avaria.
Art. 110 - Havendo, entre o carregador e o condutor ou comissário de transportes, ajuste
expresso sobre o caminho por onde deva fazer-se o transporte, o condutor ou comissário
não poderá variar dele; pena de responder por todas as perdas e danos, ainda mesmo que
sejam provenientes de algumas das causas mencionadas no artigo nº. 102; salvo se o
caminho ajustado estiver intransitável, ou oferecer riscos maiores.
Art. 111 - Tendo-se estipulado prazo certo para a entrega dos gêneros, se o condutor ou
comissário de transportes o exceder por fato seu, ficará responsável pela indenização
dos danos que daí resultarem na baixa do preço, e pela diminuição que o gênero vier a
sofrer na quantidade se a carga for de liquido, a juízo de arbitradores.
Art. 112 - Não havendo na cautela ou recibo prazo estipulado para a entrega dos gêneros,
o condutor, sendo tropeiro, tem obrigação de os carregar na primeira viagem que fizer, e
sendo comissário de transportes é obrigado a expedi-los pela ordem do seu recebimento,
sem dar preferência aos que forem mais modernos; pena de responderem por perdas e danos.
Art. 113 - Variando o carregador a consignação dos efeitos, o condutor ou comissário de
transportes é obrigado a cumprir a sua ordem, recebendo-a antes de feita a entrega no
lugar do destino. Se, porém, a variação do destino da carga exigir variação de
caminho, ou que o condutor ou comissário de transportes passe do primeiro lugar
destinado, este tem direito de entrar em novo ajuste de frete ou aluguel, e não se
acordando, só será obrigado a efetuar a entrega no lugar designado na cautela ou recibo.
Art. 114 - O condutor ou comissário de transportes não tem ação para investigar o
direito por que os gêneros pertencem ao carregador ou consignatário; e logo que se lhe
apresente título bastante para os receber deverá entregá-los, sem lhe ser admitida
oposição alguma; pena de responder por todos os prejuízos e riscos que resultarem da
mora, e de proceder-se contra ele como depositário (artigo nº. 284).
Art. 115 - Os condutores e os comissários de transportes são responsáveis pelos danos
que resultarem de omissão sua ou dos seus prepostos no cumprimento das formalidades das
leis ou regulamentos fiscais em todo o curso da viagem, e na entrada no lugar do destino;
ainda que tenham ordem do carregador para obrarem em contravenção das mesmas leis ou
regulamentos.
Art. 116 - Os condutores ou comissários de transportes de gêneros por terra ou água
têm direito a ser pagos, no ato da entrega, do frete ou aluguel ajustado; passadas 24
(vinte e quatro) horas, não sendo pagos, nem havendo reclamação contra eles (artigo
nº. 109), poderão requerer seqüestro e venda judicial dos gêneros transportados, em
quantidade que seja suficiente para cobrir o preço do frete e despesas, se algumas
tiverem suprido para que os gêneros se não deteriorem (artigo nº. 99).
Art. 117 - Os gêneros carregados são hipoteca tácita do frete e despesas; mas esta
deixa de existir logo que os gêneros conduzidos passam do poder do proprietário ou
consignatário, para o domínio de terceiro.
Art. 118 - As disposições deste Capítulo são aplicáveis aos donos, administradores e
arrais de barcas, lanchas, saveiros, faluas, canoas, e outros quaisquer barcos de
semelhante natureza empregados no transporte dos gêneros comerciais.
TÍTULO IV
DOS BANQUEIROS
Art. 119 - São considerados banqueiros os comerciantes que têm por profissão habitual
do seu comércio as operações chamadas de Banco.
Art. 120 - As operações de Banco serão decididas e julgadas pelas regras gerais dos
contratos estabelecidos neste Código, que forem aplicáveis segundo a natureza de cada
uma das transações que se operarem.
TÍTULO V
DOS CONTRATOS E OBRIGAÇÕES MERCANTIS
Art. 121 - As regras e disposições do direito civil para os contratos em geral são
aplicáveis aos contratos comerciais, com as modificações e restrições estabelecidas
neste Código.
Art. 122 - Os contratos comerciais podem provar-se:
1 - por escrituras públicas;
2 - por escritos particulares;
3 - pelas notas dos corretores, e por certidões extraídas dos seus protocolos;
4 - por correspondência epistolar;
5 - pelos livros dos comerciantes;
6 - por testemunhas.
Art. 123 - A prova de testemunhas, fora dos casos expressamente declarados neste Código,
só é admissível em juízo comercial nos contratos cujo valor não exceder a
quatrocentos mil-réis.
Em transações de maior quantia, a prova testemunhal somente será admitida como
subsidiária de outras provas por escrito.
Art.
124 - Aqueles contratos para os quais neste Código se estabelecem formas e solenidades
particulares não produzirão ação em juízo comercial, se as mesmas formas e
solenidades não tiverem sido observadas.
Art. 125 - São inadmissíveis nos juízos do comércio quaisquer escritos comerciais de
obrigações contraídas em território brasileiro que não forem exarados no idioma do
Império, salvo sendo estrangeiros todos os contraentes, e neste caso deverão ser
apresentados competentemente traduzidos na língua nacional.
Art. 126 - Os contratos mercantis são obrigatórios; tanto que as partes se acordam sobre
o objeto da convenção, e o reduzem a escrito, nos casos em que esta prova é
necessária.
Art. 127 - Os contratos tratados por correspondência epistolar reputam se concluídos e
obrigatórios desde que o que recebe a proposição expede carta de resposta, aceitando o
contrato proposto sem condição nem reserva; até este ponto é livre retratar a
proposta; salvo se o que a fez se houver comprometido a esperar resposta, e a não dispor
do objeto do contrato senão depois de rejeitada a sua proposição, ou até que decorra o
prazo determinado.
Se a aceitação for condicional, tornar-se-á obrigatória desde que o primeiro
proponente avisar que se conforma com a condição.
Art. 128 - Havendo no contrato pena convencional, se um dos contraentes se arrepender, a
parte prejudicada só poderá exigir a pena (artigo nº. 218).
Art. 129 - São nulos todos os contratos comercias:
1 - que forem celebrados entre pessoas inábeis para contratar;
2 - que recaírem sobre objetos proibidos pela lei, ou cujo uso ou fim for manifestamente
ofensivo da sã moral e bons costumes;
3 - que
não designarem a causa certa de que deriva a obrigação;
4 - que forem convencidos de fraude, dolo ou simulação (artigo nº. 828);
5 - sendo contraídos por comerciante que vier a falir, dentro de 40 (quarenta) dias
anteriores à declaração da quebra (artigo nº. 827).
Art.
130 - As palavras dos contratos e convenções mercantis devem inteiramente entender-se
segundo o costume e uso recebido no comércio, e pelo mesmo modo e sentido por que os
negociantes se costumam explicar, posto que entendidas de outra sorte possam significar
coisa diversa.
Art. 131 - Sendo necessário interpretar as cláusulas do contrato, a interpretação,
além das regras sobreditas, será regulada sobre as seguintes bases:
1 - a inteligência simples e adequada, que for mais conforme à boa fé, e ao verdadeiro
espírito e natureza do contrato, deverá sempre prevalecer à rigorosa e restrita
significação das palavras;
2 - as cláusulas duvidosas serão entendidas pelas que o não forem, e que as partes
tiverem admitido; e as antecedentes e subseqüentes, que estiverem em harmonia,
explicarão as ambíguas;
3 - o fato dos contraentes posterior ao contrato, que tiver relação com o objeto
principal, será a melhor explicação da vontade que as partes tiverem no ato da
celebração do mesmo contrato;
4 - o uso e prática geralmente observada no comércio nos casos da mesma natureza, e
especialmente o costume do lugar onde o contrato deva ter execução, prevalecerá a
qualquer inteligência em contrário que se pretenda dar às palavras;
5 - nos casos duvidosos, que não possam resolver-se segundo as bases estabelecidas,
decidir-se-á em favor do devedor.
Art. 132 - Se para designar a moeda, peso ou medida, se usar no contrato de termos
genéticos que convenham a valores ou quantidades diversas, entender-se-á feita a
obrigação na moeda, peso de medida em uso nos contratos de igual natureza.
Art. 133 - Omitindo-se na redação do contrato cláusulas necessárias à sua execução,
deverá presumir-se que as partes se sujeitaram ao que é de uso e prática em tais casos
entre os comerciantes, no lugar da execução do contrato.
Art. 134 - Todo documento de contrato comercial em que houver raspadura ou emenda
substancial não ressalvada pelos contraentes com assinatura da ressalva não produzirá
efeito algum em juízo; salvo mostrando-se que o vício fora de propósito feito pela
parte interessada em que o contrato não valha.
Art. 135 - Em todas as obrigações mercantis com prazo certo, não se conta o dia da data
do contrato, mas o imediato seguinte; conta-se, porém, o dia da expiração do prazo ou
vencimento.
Art. 136 - Nas obrigações com prazo certo, não é admissível petição alguma judicial
para a sua execução antes do dia do vencimento; salvo nos casos em que este Código
altera o vencimento da estipulação, ou permite ação de remédios preventivos.
Art. 137 - Toda a obrigação mercantil que não tiver prazo certo estipulado pelas
partes, ou marcado neste Código, será exeqüível 10 (dez) dias depois da sua data.
Art. 138 - Os efeitos da mora no cumprimento das obrigações comerciais, não havendo
estipulação no contrato, começam a correr desde o dia em que o credor, depois do
vencimento, exige judicialmente o seu pagamento.
Art. 139 - As questões de fato sobre a existência de fraude, dolo, simulação, ou
omissão culpável na formação dos contratos comerciais, ou na sua execução, serão
determinadas por arbitradores.
TÍTULO VI
DO MANDATO MERCANTIL
Art. 140 - Dá-se mandato mercantil, quando um comerciante confia a outrem a gestão de um
ou mais negócios mercantis, obrando o mandatário e obrigando-se em nome do comitente.
O mandato requer instrumento público ou particular, em cuja classe entram as cartas
missivas; contudo, poderá provar-se por testemunhas nos casos em que é admissível este
gênero de prova (artigo nº. 123).
Art. 141 - Completa-se o mandato pela aceitação do mandatário; e a aceitação pode ser
expressa ou tácita; o princípio da execução prova a aceitação para todo o mandato.
Art.
142 - Aceito o mandato, o mandatário é obrigado a cumpri-lo segundo as ordens e
instruções do comitente; empregando na sua execução a mesma diligência que qualquer
comerciante ativo e probo costuma empregar na gerência dos seus próprios negócios.
Art. 143 - Não é livre ao mandatário, aceito o mandato, abrir mão dele; salvo se
sobrevier causa justificada que o impossibilite de continuar na sua execução.
Art. 144 - Se o mandatário, depois de aceito o mandato, vier a ter conhecimento de que o
comitente se acha em circunstâncias que ele ignorava ao tempo em que aceitou, poderá
deixar de exequir o mandato, fazendo pronto aviso ao mesmo comitente. Pode igualmente o
mandatário deixar de exequir o mandato, quando a execução depender de suprimento de
fundos, enquanto não receber do comitente os necessários; e até suspender a execução
já principiada se as somas recebidas não forem suficientes.
Art. 145 - O mandato geral abrange todos os atos de gerência conexos e conseqüentes,
segundo se entende e pratica pelos comerciantes em casos semelhantes no lugar da
execução; mas, na generalidade dos poderes não se compreendem os de alhear, hipotecar,
assinar fianças, transações, ou compromissos de credores, entrar em companhias ou
sociedades, nem os de outros quaisquer atos para os quais se exigem neste Código poderes
especiais.
Art. 146 - O mandatário não pode sub-rogar, se o mandato não contém cláusula expressa
que autorize a delegação.
Art. 147 - Quando no mesmo mandato se estabelece mais de um mandatário, entende-se que
são todos constituídos para obrarem na falta, e depois dos outros, pela ordem da
nomeação; salvo declarando-se expressamente no mandato que devem obrar solidária e
conjuntamente; neste último caso, ainda que todos não aceitem, a maioria dos que
aceitarem poderá exquir o mandato.
Art. 148 - Se o mandatário for constituído por diversas pessoas para um negócio comum,
cada uma delas será solidariamente obrigada por todos os efeitos do mandato.
Art. 149 - O comitente é responsável por todos os atos praticados pelo mandatário
dentro dos limites do mandato, ou este obre em seu próprio nome, ou em nome do comitente.
Art. 150 - Sempre que o mandatário contratar expressamente em nome do comitente, será
este o único responsável; ficará, porém, o mandatário pessoalmente obrigado se obrar
no seu próprio nome, ainda que o negócio seja de conta do comitente.
Art. 151 - Havendo contestação entre um terceiro e o mandatário, que com ele contratou
em nome do comitente, o mandatário ficará livre de toda responsabilidade, apresentando o
mandato ou ratificação daquele por conta de quem contratou.
Art. 152 - Se o mandatário, tendo fundos ou crédito aberto do comitente, comprar, em
nome dele mandatário, algum objeto que deverá comprar para o comitente por ter sido
individualmente designado no mandato, terá este ação para obrigar à entrega da coisa
comprada.
Art. 153 - O comerciante, que tiver na sua mão fundos disponíveis do comitente, não
pode recusar-se ao cumprimento das suas ordens relativamente ao emprego ou disposição
dos mesmos fundos; pena de responder por perdas e danos que dessa falta resultarem.
Art. 154 - O comitente é obrigado a pagar ao mandatário todas as despesas e desembolsos
que este fizer na execução do mandato, e os salários ou comissões que forem devidas
por ajuste expresso, ou por uso e prática mercantil do lugar onde se cumprir o mandato,
na falta de ajuste.
Art. 155 - O comitente e o mandatário são obrigados a pagar juros um ao outro
reciprocamente; o primeiro pelos dinheiros que o mandatário haja adiantado para
cumprimento das suas ordens, e o segundo pela mora que possa ter na entrega dos fundos que
pertencerem ao comitente.
Art. 156 - O mandatário tem direito para reter, do objeto da operação que lhe foi
cometida, quanto baste para pagamento de tudo quanto lhe for devido em conseqüência do
mandato.
Art. 157 - O mandato acaba:
1 - pela revogação do comitente;
2 - quando o mandatário demite de si o mandato;
3 - pela morte natural ou civil, inabilitação para contratar, ou falimento, quer do
comitente, quer do mandatário;
4 - pelo casamento da mulher comerciante que deu ou recebeu o mandato, quando o marido
negar a sua autorização pela forma determinada no artigo nº. 29.
Art. 158 - A nomeação do novo mandatário é sempre derrogatória do mandato anterior,
ainda que esta cláusula se não expresse no novo mandato.
Art. 159 - O instrumento do mandato geral e o da sua revogação deverão ser registrados
no Tribunal do Comércio do domicílio do mandante e do mandatário, ou no cartório do
escrivão do juízo do comércio, nos lugares distantes da residência do tribunal.
A falta de registro estabelece a presunção da validade dos atos praticados pelo
mandatário destituído.
Art. 160 - A morte do comitente, ou a sua incapacidade civil, não prejudica a validade
dos atos praticados pelo mandatário até que receba a notícia, nem tampouco aos atos
sucessivos que forem conseqüência dos primeiros, necessários para o adimplemento do
mandato.
Art. 161 - Morrendo o mandatário, seus herdeiros, sucessores, ou representantes legais
são obrigados a participá-lo ao comitente, e, até receberem novas ordens, devem zelar
pelos interesses deste, e concluir os atos da gestão começados pelo finado mandatário,
se da mora puder vir dano ao comitente.
Art. 162 - O mandatário responde ao comitente por todas as perdas e danos que no
cumprimento do mandato lhe causar, quer procedam de fraude, dolo ou malícia, quer ainda
mesmo os que possam atribuir-se somente a omissão ou negligência culpável (artigo nº.
139)
Art. 163 - Quando um comerciante sem mandato, ou excedendo os limites deste, conclui algum
negócio para o seu correspondente, é gestor do negócio segundo as disposições da lei
geral; mas se este for ratificado, toma o caráter de mandato mercantil, e entende-se
feito no lugar do gestor.
Art. 164 - As disposições do Título VII - Da comissão mercantil - artigo nºs 167,
168, 169, 170, 175, 180, 181, 182, 183, 184, 185, 187, e 188, são aplicáveis ao mandato
mercantil.
TÍTULO VII
DA COMISSÃO MERCANTIL
Art. 165 - A comissão mercantil é o contrato do mandato relativo a negócios mercantis,
quando, pelo menos, o comissário é comerciante, sem que nesta gestão seja necessário
declarar ou mencionar o nome do comitente.
Art. 166 - O comissário, contratando em seu próprio nome, ou no nome de sua própria
firma ou razão social, fica diretamente obrigado às pessoas com quem contratar, sem que
estas tenham ação contra o comitente, nem este contra elas; salvo se o comissário fizer
cessão dos seus direitos a favor de uma das partes.
Art. 167 - Competem ao comitente todas as exceções que pode opor o comissário; mas não
poderá legar a incapacidade deste, ainda quando se prove, para anular os efeitos da
obrigação, contraída pelo mesmo comissário.
Art. 168 - O comissário que aceitar o mandato, expressa ou tacitamente, é obrigado a
cumpri-lo na forma das ordens e instruções do comitente; na falta destas, e na
impossibilidade de as receber em termo oportuno, ou ocorrendo sucesso imprevisto, poderá
exequir o mandato, obrando como faria em negócio próprio conformando-se com o uso, do
comércio em casos semelhantes.
Art. 169 - O comissário que se afastar das instruções recebidas, ou na execução do
mandato não satisfizer ao que é de estilo e uso do comércio, responderá por perdas e
danos ao comitente.
Será, porém, justificável o acesso da confissão:
1 - quando resultar vantagem ao comitente;
2 - não admitindo demora a operação cometida, ou podendo resultar dano de sua
expedição, uma vez que o comissário tenha obrado segundo o costume geralmente praticado
no comércio;
3 - podendo presumir-se, em boa-fé, que o comissário não teve intenção de exceder os
limites da comissão;
4 - nos casos do artigo nº. 163.
Art. 170 - O comissário é responsável pela boa guarda e conservação dos efeitos de
seus comitentes, quer lhe tenham sido consignados, quer os tenha ele comprado, ou os
recebesse como em depósito, ou para os remeter para outro lugar; salvo caso fortuito ou
de força maior, ou se a deterioração provier de vício inerente à natureza da coisa.
Art. 171 - O comissário é obrigado a fazer aviso ao comitente, na primeira ocasião
oportuna que se lhe oferecer, de qualquer dano que sofrerem os efeitos deste existentes em
seu poder, e a verificar em forma legal a verdadeira origem donde proveio o dano.
Art. 172 - Iguais diligências deve praticar o comissário todas as vezes que, ao receber
os efeitos consignados, notar avaria, diminuição, ou estado diverso daquele que constar
dos conhecimentos, faturas ou avisos de remessa; se for omisso, o comitente terá ação
para exigir dele que responda pelos efeitos nos termos precisos em que os conhecimentos,
cautelas, faturas, ou cartas de remessa os designarem; sem que ao comissário possa
admitir-se outra defesa que não seja a prova de ter praticado as diligências sobreditas.
Art. 173 - Acontecendo nos efeitos consignados alteração que torne urgente a sua venda
para salvar a parte possível do seu valor, o comissário procederá à venda dos efeitos
danificados, em hasta pública, em benefício e por conta de quem pertencer.
Art. 174 - O comissário encarregado de fazer expedir uma carregação de mercadorias em
porto ou lugar diferente, por via de comissário que ele haja de nomear, não responde
pelos atos deste, provando que lhe transmitiu fielmente as ordens do comitente, e que
gozava de crédito entre comerciantes.
Art. 175 - O comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem contratar em
execução da comissão, se ao tempo do contrato eram reputadas idôneas; salvo nos casos
do artigo nº. 179, ou obrando com culpa ou dolo.
Art. 176 - O comissário presume-se autorizado para conceder os prazos que forem do uso da
praça, sempre que não tiver ordem em contrário do comitente.
Art. 177 - O comissário que tiver vendido a pagamento deve declarar no aviso e conta que
remeter ao comitente o nome e domicílio dos compradores, e os prazos estipulados,
deixando de fazer esta declaração explícita, presume-se que a venda foi efetuada a
dinheiro de contado, e não será admitida ao comissário prova em contrário.
Art. 178 - Vencidos os pagamentos das mercadorias ou efeitos vendidos a prazo, o
comissário é obrigado a procurar e fazer efetiva a sua cobrança; e se nesta se portar
com omissão ou negligência culpável, responderá ao comitente por perdas e danos
supervenientes.
Art. 179 - A comissão del credere constitui o comissário garante solidário ao comitente
da solvabilidade e pontualidade daqueles com quem tratar por conta deste, sem que possa
ser ouvido com reclamação alguma.
Se o del credere não houver sido ajustado por escrito, e todavia o comitente o tiver
aceitado ou consentido, mas impugnar o quantitativo, será este regulado pelo estilo da
praça onde residir o comissário, e na falta de estilo por arbitradores.
Art. 180 - O comissário que distrair do destino ordenado os fundos do seu comitente
responderá pelos juros a datar do dia em que recebeu os mesmos fundos, e pelos prejuízos
resultantes do não-cumprimento das ordens; sem prejuízo das ações criminais que possa
dar lugar o dolo ou fraude.
Art. 181 - O comissário é responsável pela perda ou extravio de fundos de terceiro em
dinheiro, metais preciosos, ou brilhantes existentes em seu poder, ainda mesmo que o dano
provenha de caso fortuito ou força maior, se não provar que na sua guarda empregou a
diligência que em casos semelhantes empregam os comerciantes acautelados.
Art. 182 - Os riscos ocorrentes na devolução de fundos do poder do comissário para a
mão do comitente correm por conta deste; salvo se aquele se desviar das ordens e
instruções recebidas, ou dos meios usados no lugar da remessa, se nenhuma houver
recebido.
Art. 183 - O comissário que fizer uma negociação a preço e condições mais onerosas
do que as correntes, ao tempo da transação, na praça onde ela se operou, responderá
pelo prejuízo; sem que o releve o haver feito iguais negociações por conta própria.
Art. 184 - O comissário que receber ordem para fazer algum seguro será responsável
pelos prejuízos que resultarem se o não efetuar, tendo na sua mão fundos suficientes do
comitente para satisfazer o prêmio.
Art. 185 - O comitente é obrigado a satisfazer à vista, salvo convenção em contrário,
a importância de todas as despesas e desembolsos feitos no desempenho da comissão, com
os juros pelo tempo que mediar entre o desembolso e o efetivo pagamento, e as comissões
que forem devidas.
As contas dadas pelo comissário ao comitente devem concordar com os seus livros e
assentos mercantis; e no caso de não concordarem poderá ter lugar a ação criminal de
furto.
Art. 186 - Todo comissário tem direito para exigir do comitente uma comissão pelo seu
trabalho, a qual, quando não tiver sido expressamente convencionada, será regulada pelo
uso comercial do lugar onde se tiver executado o mandato (artigo nº . 154).
Art. 187 - A comissão deve-se por inteiro, tendo-se concluído a operação ou mandato;
no caso de morte ou despedida do comissário, é devida unicamente a quota correspondente
aos atos por este praticados.
Art. 188 - Quando, porém, o comitente retirar o mandato antes de concluído, sem causa
justificada procedida de culpa do comissário, nunca poderá pagar-se menos de meia
comissão, ainda que esta não seja a que exatamente corresponda aos trabalhos praticados.
Art. 189 - No caso de falência do comitente, tem o comissário hipoteca e precedência
privilegiada nos efeitos do mesmo comitente, para indenização e embolso de todas as
despesas, adiantamentos que tiver feito, comissões vendidas e juros respectivos, enquanto
os mesmos efeitos se acharem à sua disposição em seus armazéns, nas estações
públicas, ou em qualquer outro lugar, ou mesmo achando-se em caminho para o poder do
falido, se provar a remessa por conhecimentos ou cautelas competentes de data anterior à
declaração da quebra (artigo nº. 806).
Art. 190 - As disposições do Título VI - Do mandato mercantil - são aplicáveis à
comissão mercantil.
TÍTULO VIII
DA COMPRA E VENDA MERCANTIL
Art. 191 - O contrato de compra e venda mercantil é perfeito e acabado logo que o
comprador e o vendedor se acordam na coisa, no preço e nas condições; e desde esse
momento nenhuma das partes pode arrepender-se sem consentimento da outra, ainda que a
coisa se não ache entregue nem o preço pago. Fica entendido que nas vendas condicionais
não se reputa o contrato perfeito senão depois de verificada a condição (artigo nº.
127).
É unicamente considerada mercantil a compra e venda de efeitos móveis ou semoventes,
para os revender por grosso ou a retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para
alugar o seu uso; compreendendo-se na classe dos primeiros a moeda metálica e o papel
moeda, títulos de fundos públicos, ações de companhias e papéis de crédito
comerciais, contanto que nas referidas transações o comprador ou vendedor seja
comerciante.
Art. 192 - Ainda que a compra e venda deva recair sobre coisa existente e certa, é licito
comprar coisa incerta, como por exemplo lucros futuros.
Art. 193 - Quando se faz entrega da coisa vendida sem que pelo instrumento do contrato
conste preço, entende-se que as partes se sujeitaram ao que fosse corrente no dia e lugar
da entrega; na falta de acordo por ter havido diversidade de preço no mesmo dia e lugar,
prevalecerá o termo médio.
Art. 194 - O preço de venda pode ser incerto, e deixado na estimação de terceiro; se
este não puder ou não quiser fazer a estimação, será o preço determinado por
arbitradores.
Art. 195 - Não se tendo estipulado no contrato a qualidade da moeda em que deve fazer-se
o pagamento, entende-se ser a corrente no lugar onde o mesmo pagamento há de efetuar-se,
sem ágio ou desconto.
Art. 196 - Não havendo estipulação em contrário, as despesas do instrumento da venda e
as que se fazem para se receber e transportar a coisa vendida são por conta do comprador.
Art. 197 - Logo que a venda é perfeita (artigo nº. 191), o vendedor fica obrigado a
entregar ao comprador a coisa vendida no prazo, e pelo modo estipulado no contrato; pena
de responder pelas perdas e danos que da sua falta resultarem.
Art. 198 - Não procede, porém, a obrigação da entrega da coisa vendida antes de
efetuado o pagamento do preço, se, entre o ato da venda e o da entrega, e comprador mudar
notoriamente de estado, e não prestar fiança idônea aos pagamentos nos prazos
convencionados.
Art. 199 - A tradição da coisa vendida, na falta de estipulação expressa, deve
fazer-se no lugar onde a mesma coisa se achava ao tempo da venda; e pode operar-se pelo
fato da entrega real ou simbólica, ou pelo do título, ou pelo modo que estiver em uso
comercial no lugar onde deva verificar-se.
Art. 200 - Reputa-se mercantilmente tradição simbólica, salva a prova em contrário, no
caso de erro, fraude ou dolo:
1 - a entrega das chaves do armazém, loja ou caixa em que se achar a mercadoria ou objeto
vendido;
2 - o fato de pôr o comprador a sua marca nas mercadorias compradas, em presença do
vendedor ou com o seu consentimento;
3 - a remessa e aceitação da fatura, sem oposição imediata do comprador;
4 - a cláusula - por conta - lançada no conhecimento ou cautela de remessa, não sendo
reclamada pelo comprador dentro de 3 (três) dias úteis, achando-se o vendedor no lugar
onde se receber a cautela ou conhecimento, ou pelo segundo correio ou navio que levar
correspondência para o lugar onde ele se achar;
5 - a declaração ou averbação em livros ou despachos das estações públicas a favor
do comprador, com acordo de ambas as partes.
Art. 201 - Sendo a venda feita à vista de amostras, ou designando-se no contrato
qualidade de mercadoria conhecida nos usos do comércio, não é lícito ao comprador
recusar o recebimento, se os gêneros corresponderem perfeitamente às amostras ou à
qualidade designada; oferecendo-se dúvida, será decidida por arbitradores.
Art. 202 - Quando o vendedor deixa de entregar a coisa vendida no tempo aprazado, o
comprador tem opção, ou de rescindir o contrato, ou de demandar o seu cumprimento com os
danos da mora; salvo os casos fortuitos ou de força maior.
Art. 203 - O comprador que tiver ajustado por junto uma partida de gêneros sem
declaração de a receber por partes ou lotes, ou em épocas distintas, não é obrigado a
receber parte com promessa de se lhe fazer posteriormente a entrega do resto.
Art. 204. Se o comprador sem justa causa recusar receber a coisa vendida, ou deixar de a
receber no tempo ajustado, terá o vendedor ação para rescindir o contrato, ou demandar
o comprador pelo preço com os juros legais da mora; devendo, no segundo caso, requerer
depósito judicial dos objetos vendidos por conta e risco de quem pertencer.
Art. 205 - Para o vendedor ou comprador poder ser considerado em mora, é necessário que
preceda interpelação judicial da entrega da coisa vendida, ou do pagamento do preço.
Art. 206 - Logo que a venda é de todo perfeita, e o vendedor põe a coisa vendida à
disposição do comprador, são por conta deste todos os riscos dos efeitos vendidos, e as
despesas que se fizerem com a sua conservação, salvo se ocorrerem por fraude ou
negligência culpável do vendedor, ou por vício intrínseco da coisa vendida; e tanto em
um como em outro caso, o vendedor responde ao comprador pela restituição do preço com
os juros legais, e indenização dos danos.
Art. 207 - Correm, porém, a cargo do vendedor os danos que a coisa vendida sofrer antes
da sua entrega:
1 - quando não é objeto determinado por marcas ou sinais distintivos que a diferenciem
entre outras da mesma natureza e espécie, com as quais possa achar-se confundida;
2 - quando, por condição expressa no contrato, ou por uso praticado em comércio, o
comprador tem direito de a examinar, e declarar se contenta com ela, antes que a venda
seja tida por perfeita e irrevogável;
3 - sendo os efeitos da natureza daqueles que se devem contar, pesar, medir ou gostar,
enquanto não forem contados, pesados, medidos ou provados; em tais compras a tradição
real supre a falta de contagem, peso, medida ou sabor;
4 - se o vendedor deixar de entregar ao comprador a coisa vendida, estando este pronto
para a receber.
Art. 208 - Quando os gêneros são vendidos a esmo ou por partida inteira, o risco corre
por conta do comprador, ainda que não tenham sido contados, pesados ou medidos, e bem
assim nos casos do nº 3 do artigo antecedente, quando a contagem, peso ou medida deixa de
fazer-se por culpa sua.
Art. 209 - O vendedor que, depois da venda perfeita, alienar, consumir ou deteriorar a
coisa vendida, será obrigado a dar ao comprador outra igual em espécie, qualidade e
quantidade, ou a pagar-lhe, na falta desta, o valor em que por arbitradores for estimada,
com relação ao uso que o comprador dela pretendia fazer, ou ao lucro que podia
provir-lhe, abatendo-se o preço, se o comprador o não tiver ainda pago.
Art. 210 - O vendedor, ainda depois da entrega, fica responsável pelos vícios e defeitos
ocultos da coisa vendida, que o comprador não podia descobrir antes de a receber, sendo
tais que a tornem imprópria ao uso a que era destinada, ou que de tal sorte diminuam o
seu valor, que o comprador, se os conhecera, ou a não comprara, ou teria dado por ela
muito menor preço.
Art. 211 - Tem principalmente aplicação a disposição do artigo precedente quando os
gêneros se entregam em fardos ou debaixo de coberta que impeçam o seu exame e
reconhecimento, se o comprador, dentro de 10 (dez) dias imediatamente seguintes ao do
recebimento, reclamar do vendedor falta na quantidade, ou defeito na qualidade; devendo
provar-se no primeiro caso que as extremidades das peças estavam intactas, e no segundo
que os vícios ou defeitos não podiam acontecer, por caso fortuito, em seu poder.
Essa reclamação não tem lugar quando o vendedor exige do comprador que examine os
gêneros antes de os receber, nem depois de pago o preço.
Art. 212 - Se o comprador reenvia a coisa comprada ao vendedor, e este a aceita (artigo
nº. 76), ou, sendo-lhe entregue contra sua vontade, a não faz depositar judicialmente
por conta de quem pertencer, com intimação do depósito ao comprador, presume-se que
consentiu na rescisão da venda.
Art. 213 - Em todos os casos em que o comprador tem direito de resilir o contrato, o
vendedor é obrigado não só a restituir o preço, mas também a pagar as despesas que
tiver ocasionado, com os juros da lei.
Art. 214 - O vendedor é obrigado a fazer boa ao comprador a coisa vendida, ainda que no
contrato se estipule que não fica sujeito a responsabilidade alguma; salvo se o
comprador, conhecendo o perigo ao tempo da compra, declarar expressamente no instrumento
do contrato, que toma sobre si o risco; devendo entender-se que esta cláusula não
compreende o risco da coisa vendida, que, por algum título, possa pertencer a terceiro.
Art. 215 - Se o comprador for inquietado sobre a posse ou domínio da coisa comprada, o
vendedor é obrigado à evicção em juízo, defendendo à sua custa a validade da venda;
e se for vencido, não só restituirá o preço com os juros e custas do processo, mas
poderá ser condenado à composição das perdas e danos conseqüentes, e até às penas
criminais, quais no caso couberem. A restituição do preço tem lugar, posto que a coisa
vendida se ache depreciada na quantidade ou na qualidade ao tempo da evicção por culpa
do comprador ou força maior. Se, porém, o comprador auferir proveito da depreciação
por ele causada, o vendedor tem direito para reter a parte do preço que for estimada por
arbitradores.
Art. 216 - O comprador que tiver feito benfeitorias na coisa vendida, que aumentem o seu
valor ao tempo da evicção, se esta se vencer, tem direito a reter a posse da mesma coisa
até ser pago do valor, das benfeitorias por quem pertencer.
Art. 217 - Os vícios e diferenças de qualidade das mercadorias vendidas serão
determinados por arbitradores.
Art. 218 - O dinheiro adiantado antes da entrega da coisa vendida entende-se ter sido por
conta do preço principal, e para maior firmeza da compra, e nunca com condição
suspensiva da conclusão do contrato; sem que seja permitido o arrependimento, nem da
parte do comprador, sujeitando-se a perder a quantia adiantada, nem da parte do vendedor,
restituindo-a, ainda mesmo que o que se arrepender se ofereça a pagar outro tanto do que
houver pago ou recebido; salvo se assim for ajustado entre ambos como pena convencional do
que se arrepender (artigo nº. 128).
Art. 219 - Nas vendas em grosso ou por atacado entre comerciantes, o vendedor é obrigado
a apresentar ao comprador por duplicado, no ato da entrega das mercadorias, a fatura ou
conta dos gêneros vendidos, as quais serão por ambos assinadas, uma para ficar na mão
do vendedor e outra na do comprador. Não se declarando na fatura o prazo do pagamento,
presume-se que a compra foi à vista (artigo nº. 137). As faturas sobreditas, não sendo
reclamadas pelo vendedor ou comprador, dentro de 10 (dez) dias subseqüentes à entrega e
recebimento (artigo nº. 135), presumem-se contas líquidas.
Art. 220 - A rescisão por lesão não tem lugar nas compras e vendas celebradas entre
pessoas todas comerciantes; salvo provando-se erro, fraude ou simulação.
TÍTULO IX
DO ESCAMBO OU TROCA MERCANTIL
Art. 221 - O contrato de troca ou escambo mercantil opera ao mesmo tempo duas verdadeiras
vendas, servindo as coisas trocadas de preço e compensação recíproca (artigo nº.
191). Tudo o que pode ser vendido pode ser trocado.
Art. 222 - Se um dos permutantes, depois da entrega da coisa trocada, provar que o outro
não é dono dela, não será obrigado a entregar a que prometera, mas somente a devolver
a que recebeu.
Art. 223 - O permutante que for vencido na evicção da coisa recebida em troca terá a
opção, ou de pedir o seu valor com os danos, ou de repetir a coisa por ele dada (artigo
nº. 215); mas se a esse tempo tiver sido alienada só terá lugar o primeiro arbítrio.
Art. 224 - Se uma coisa certa e determinada, prometida em troca, perecer sem culpa do que
a devia dar, deixa de existir o contrato, e a coisa que já tiver sido entregue será
devolvida àquele que a houver dado.
Art. 225 - Em tudo o mais as trocas mercantis regulam-se pelas disposições do Título
VIII - Da compra e venda mercantil.
TÍTULO X
DA LOCAÇÃO MERCANTIL
Art. 226 - A locação mercantil é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a dar à
outra, por determinado tempo e preço certo, o uso de alguma coisa, ou do seu trabalho. O
que dá a coisa ou presta serviço chama-se locador, e o que a toma ou aceita o serviço,
locatário.
Art. 227 - O locador é obrigado a entregar ao locatário a coisa alugada no tempo e na
forma do contrato; pena de responder pelos danos provenientes da não-entrega.
A presente disposição é aplicável ao empreiteiro que deixar de entregar a empreitada
concluída no tempo e na forma ajustada.
Art. 228 - Durante o tempo do contrato, não é lícito ao locador retirar a coisa alugada
do poder do locatário, ainda que diga ser para uso seu; nem a este fazer entrega dela ao
locador, antes de findo o tempo convencionado; salvo pagando por inteiro o aluguel
ajustado.
Art. 229 - O locatário não é obrigado a indenizar o dano que a coisa alugada sofrer por
caso fortuito; salvo se por alguma forma puder atribuir-se a culpa sua, como, por exemplo,
se tiver empregado a coisa alugada em outro destino ou lugar que não seja o designado no
contrato, ou por um modo mais violento e excessivo que o regularmente praticado.
Art. 230 - O locatário é obrigado a entregar ao locador a coisa alugada, findo o tempo
da locação; se recusar fazer a entrega, sendo requerido, pagará ao locador o aluguel
que este arbitrar por toda a demora, e responderá por qualquer danificação que a coisa
alugada sofrer, ainda mesmo que proceda de força maior ou caso fortuito.
Art. 231 - Nos ajustes de locação de serviços, se o locador, oficial ou artífice se
encarregar de fornecer a matéria e o trabalho, perecendo a obra antes da entrega, não
terá direito a paga alguma; salvo se, depois de pronta, o locatário for negligente em a
receber.
Art. 232 - Se o empreiteiro contribuir só com o seu trabalho ou indústria, perecendo os
materiais sem culpa sua, perecem por conta do dono, e o empreiteiro não tem direito a
salário algum; salvo se, estando a obra concluída, o locatário for omisso em a receber,
ou a coisa tiver perecido por vício próprio da sua matéria.
Art. 233 - Quando o empreiteiro se encarrega de uma obra por um plano designado no
contrato, pode requerer novo ajuste, se o locatário alterar o plano antes ou depois de
começada a obra.
Art. 234 - Concluída a obra na conformidade do ajuste, ou, não o havendo, na forma do
costume geral, o que a encomendou é obrigado a recebê-la; se, porém, a obra não tiver
na forma do contrato, plano dado, ou costume geral, poderá enjeitá-la ou exigir que se
faça abatimento no preço.
Art. 235 - O operário que, por imperícia ou erro do seu ofício, inutiliza alguma obra
para que tiver recebido os materiais é obrigado a pagar o valor destes, ficando com a
obra inutilizada.
Art. 236 - O que der a fabricar alguma obra de empreitada poderá a seu arbítrio resilir
do contrato, posto que a obra esteja já começada a executar, indenizando o empreiteiro
de todas as despesas e trabalhos, e de tudo o que poderia ganhar na mesma obra.
Art. 237 - Se a obra encomendada tiver sido ajustada por medida ou números, sem se fixar
a quantidade certa de medida ou números, tanto o que fez a encomenda como o empreiteiro
podem dar por acabado o contrato quando lhes convier, pagando o locatário a obra feita.
Art. 238 - O empreiteiro é responsável pelos fatos dos operários que empregar, com
ação regressiva contra os mesmos.
Art. 239 - Os operários, no caso de não serem pagos pelo empreiteiro, têm ação para
embargar na mão do dono da obra, se ainda não tiver pago, quantia que baste para
pagamento dos jornais devido.
Art. 240 - A morte do empreiteiro dissolve o contrato de locação de obra. O locatário,
quando a matéria tiver sido fornecida pelo empreiteiro, é obrigado a pagar a seus
herdeiros ou sucessores, à proporção do preço estipulado na convenção, o valor da
obra feita, e dos materiais aparelhados.
Art. 241 - Os mestres, administradores, ou diretores de fábricas, ou qualquer outro
estabelecimento mercantil, não podem despedir-se antes de findar o tempo do contrato,
salvo nos casos previstos no artigo nº . 83; pena de responderem por dano aos
preponentes; e estes despedindo-os fora dos casos especificados no artigo nº nº. 84,
serão obrigados a pagar-lhes o salário ajustado por todo o tempo que faltar para a
duração do contrato.
Art. 242 - Os mesmos mestres, administradores, ou diretores, no caso de morte do
preponente, são obrigados a continuar na sua gerência pelo tempo do contrato, e na falta
deste até que os herdeiros ou sucessores do falecido possam providenciar oportunamente.
Art. 243 - Todo o mestre, administrador, ou diretor de qualquer estabelecimento mercantil
é responsável pelos danos que ocasionar ao proprietário por omissão culpável,
imperícia, ou malversação, e pelas faltas e omissões dos empregados que servirem
debaixo das suas ordens, provando-se que foi omisso em as prevenir (artigo nº. 238).
Art. 244 - O comerciante empresário de fábrica, seus administradores, diretores e
mestres, que por si ou por interposta pessoa aliciarem empregados, artífices ou
operários de outras fábricas que se acharem contratados por escrito, serão multados no
valor do jornal dos aliciados, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, a benefício da outra
fábrica.
Art. 245 - Todas as questões que resultarem de contratos de locação mercantil serão
decididas em juízo arbitral.
Art. 246 - As disposições do Título VI - Do mandato mercantil - têm lugar a respeito
dos mestres, administradores ou diretores de fábricas, na parte em que forem aplicáveis.
TÍTULO XI
DO MÚTUO E DOS JUROS MERCANTIS
Art. 247 - O mútuo é empréstimo mercantil, quando a coisa emprestada pode ser
considerada gênero comercial, ou destinada a uso comercial, pelo menos o mutuário é
comerciante.
Art. 248 - Em comércio podem exigir-se juros desde o tempo do desembolso, ainda que não
sejam estipulados, em todos os casos em que por este Código são permitidos ou se mandam
contar. Fora destes casos, não sendo estipulados, só podem exigir-se pela mora no
pagamento de dívidas líquidas, e nas ilíquidas só depois da sua liquidação.
Havendo estipulação de juros sem declaração do quantitativo, ou do tempo, presume-se
que as partes convieram nos juros da lei, e só pela mora (artigo nº. 138).
Art. 249 - Nas obrigações que se limitam ao pagamento de certa soma de dinheiro, os
danos e interesses resultantes da mora consistem meramente na condenação dos juros
legais.
Art. 250 - O credor que passa recibos ou dá quitação de juros menores dos estipulados
não pode exigir a diferença relativa ao vencimento passado; todavia, os juros futuros
não se julgam por esse fato reduzidos a menos dos estipulados.
Art. 251 - O devedor que paga juros não estipulados não pode repeti-los, salvo excedendo
a taxa da lei; e neste caso só pode repetir o excesso, ou imputá-lo no capital.
Art. 252 - A quitação do capital dada sem reserva de juros faz presumir o pagamento
deles, e opera a descarga total do devedor, ainda que fossem devidos.
Art. 253 - É proibido contar juros de juros; esta proibição não compreende a
acumulação de juros vencidos aos saldos liquidados em conta corrente de ano a ano.
Depois que em juízo se intenta ação contra o devedor, não pode ter lugar a
acumulação de capital e juros.
Art. 254 - Não serão admissíveis em juízo contas de capital com juros, em que estes
senão acharem reciprocamente lançados sobre as parcelas do débito e crédito das mesmas
contas.
Art. 255 - Os descontos de letras de câmbio ou da terra, e de quaisquer títulos de
crédito negociáveis, regulam-se pelas convenções das partes.
TÍTULO XII
DAS FIANÇAS E CARTAS DE CRÉDITO E ABONO
Capítulo I
DAS FIANÇAS
Art. 256 - Para que a fiança possa ser reputada mercantil, é indispensável que o
afiançado seja comerciante, e a obrigação afiançada derive de causa comercial, embora
o fiador não seja comerciante.
Art. 257 - A fiança só pode provar-se por escrito; abrange sempre todos os acessórios
da obrigação principal, e não admite interpretação extensiva a mais do que
precisamente se compreende na obrigação assinada pelo fiador.
Art. 258 - Toda a fiança comercial é solidária; nas que se prestam judicialmente, as
testemunhas de abonação ficam todas solidariamente obrigadas na falta do fiador
principal.
A obrigação do fiador passa a seus herdeiros; mas a responsabilidade da fiança é
limitada ao tempo decorrido até o dia da morte do fiador, e não pode exceder as forças
da sua herança.
Art. 259 - O fiador mercantil pode estipular do afiançado uma retribuição pecuniária
pela responsabilidade da fiança; mas estipulando retribuição não pode reclamar o
benefício da desoneração permitido no artigo nº. 262.
Art. 260 - O fiador que paga pelo devedor fica sub-rogado em todos os direitos e ações
do credor (artigo nº. 889). Havendo mais fiadores, o fiador que pagar a dívida terá
ação contra cada um deles pela porção correspondente, em rateio geral; se algum falir,
o rateio do quinhão deste terá lugar por todos os que se acharem solventes.
Art. 261 - Se o fiador for executado com preferência ao devedor originário, poderá
oferecer à penhora os bens deste, se os tiver desembargados, mas, se contra eles aparecer
embargo ou oposição, ou não forem suficientes, a execução ficará correndo nos
próprios bens do fiador, até efetivo e real embolso do exeqüente.
Art. 262 - O fiador fica desonerado da fiança, quando o credor, sem o seu consentimento
ou sem lhe ter exigido o pagamento, concede ao devedor alguma prorrogação de termo, ou
faz com ele novação do contrato (artigo nº. 438); e pode desonerar-se da fiança que
tiver assinado sem limitação de tempo, sempre que lhe convier; ficando, todavia,
obrigado por todos os efeitos da fiança anteriores ao ato amigável, ou sentença por que
for desonerado.
Art. 263 - Desonerando-se, morrendo ou falindo o fiador, o devedor originário é obrigado
a dar nova fiança, ou pagar imediatamente a dívida.
Capítulo II
DAS CARTAS DE CRÉDITO
Art. 264 - As cartas de crédito devem necessariamente contrair-se a pessoa ou pessoas
determinadas, com limitação da quantia creditada; o comerciante que as escreve e abre o
crédito fica responsável pela quantia que em virtude delas for entregue ao creditado
até a concorrência da soma abonada. As cartas que não abrirem crédito pecuniário com
determinação do máximo presumem-se meras cartas de recomendação, sem responsabilidade
de quem as escreveu.
TÍTULO XIII
DA HIPOTECA E PENHOR MERCANTIL
Capítulo I
DA HIPOTECA
Art. 265 - A hipoteca de bens de raiz feita para segurar qualquer obrigação ou
dívida comercial, só pode provar-se por escritura pública, inscrita no Registro do
Comércio (art. 10 n.2): fica porém entendido que a presente disposição não compreende
os casos em que por este Código se estabelece a hipoteca tácita. (Vide
Lei nº 3.071, de 1º.1.1916)
Art. 266 - A escritura deve enunciar a natureza da dívida, a sua importância, a causa de
que procede, a natureza dos bens que se hipotecam, e se estão livres e desembargados, ou
se acham sujeitos a outra hipoteca ou a outro algum ônus. Hipotecando-se diversos bens,
devem todos ser nomeados especificamente: a hipoteca geral sem nomeação específica de
bens, não produz efeito algum nas obrigações mercantis.(Vide Lei
nº 3.071, de 1º.1.1916)
Art. 267 - Se o comerciante devedor for casado, não é válida a hipoteca que
recair sobre bens do casal em que a mulher seja meeira, se esta não assinar também a
escritura. (Vide Lei nº 3.071, de 1º.1.1916)
Art. 268 - A hipoteca de bens dotais da mulher feita pelo marido é nula, ainda que
a escritura seja por ela assinada (art. 27).
Art. 269 - São efeitos de hipotecas: (Vide Lei nº 3.071, de
1º.1.1916)
1 - tornar nula, a favor do credor hipotecário somente, qualquer
alheação dos bens hipotecados que o devedor posteriormente fizer por título quer
gratuito quer oneroso; (Vide Lei nº 3.071, de 1º.1.1916)
2 - poder o credor hipotecário com sentença penhorar e executar para
seu pagamento a coisa hipotecada, em qualquer parte que ela se achar;
3 - dar ao credor hipotecário preferência nos bens hipotecados, pela
forma que se dirá no Título – DAS PREFERÊNCIAS.
Art. 270 - Se alguma coisa for hipotecada a dois ou mais credores, estes preferirão
entre si pela ordem estabelecida nos (arts. 884 e 885): mas se o valor da coisa hipotecada
cobrir todas as hipotecas, ou se paga a primeira ainda houver sobras, nestas, ou no
excedente do valor ficarão radicadas a segunda ou mais hipotecas. (Vide
Lei nº 3.071, de 1º.1.1916)
Capítulo II
DO PENHOR MERCANTIL
Art. 271 - O contrato de penhor, pelo qual o devedor ou um terceiro por ele entrega ao
credor uma coisa móvel em segurança e garantia de obrigação comercial, só pode
provar-se por escrito assinado por quem recebe o penhor.
Art. 272 - O escrito deve enunciar com toda a clareza a quantia certa da dívida, a causa
de que procede, e o tempo do pagamento, a qualidade do penhor, e o seu valor real ou
aquele em que for estimado; não se declarando o valor, se estará, no caso do credor
deixar de restituir ou de apresentar o penhor quando for requerido, pela declaração
jurada do devedor.
Art. 273 - Podem dar-se em penhor bens móveis, mercadorias e quaisquer outros efeitos,
títulos da Dívida Pública, ações de companhias ou empresas e em geral quaisquer
papéis de crédito negociáveis em comércio.
Não podem, porém, dar-se em penhor comercial escravos, nem semoventes.
Art. 274 - A entrega do penhor pode ser real ou simbólica, e pelos mesmos modos por que
pode fazer-se a tradição da coisa vendida (artigo nº. 199).
Art. 275 - Vencida a dívida a que o penhor serve de garantia, e não a pagando o devedor,
é lícito ao credor pignoratício requerer a venda judicial do mesmo penhor, se o devedor
não convier em que se faça de comum acordo.
Art. 276 - O credor que recebe do seu devedor alguma coisa em penhor ou garantia fica por
esse fato considerado verdadeiro depositário da coisa recebida, sujeito a todas as
obrigações e responsabilidades declaradas no Título XIV - Do depósito mercantil.
Art.
277 - Se a coisa empenhada consistir em títulos de crédito, o credor que os tiver em
penhor entende-se sub-rogado pelo devedor para praticar todos os atos que sejam
necessários para conservar a validade dos mesmos títulos, e os direitos do devedor, ao
qual ficará responsável por qualquer omissão que possa ter nesta parte. O credor
pignoratício é igualmente competente para cobrar o principal e créditos do título ou
papel de crédito empenhado na sua mão, sem ser necessário que apresente poderes gerais
ou especiais do devedor (artigo nº. 387).
Art. 278 - Oferecendo-se o devedor a remir o penhor, pagando a dívida ou consignando o
preço em juízo, o credor é obrigado à entrega imediata do mesmo penhor; pena de se
proceder contra ele como depositário remisso (artigo nº. 284).
Art. 279 - O credor pignoratício, que por qualquer modo alhear ou negociar a coisa dada
em penhor ou garantia, sem para isso ser autorizado por condição ou consentimento por
escrito do devedor, incorrerá nas penas do crime de estelionato.
TÍTULO XIV
DO DEPÓSITO MERCANTIL
Art. 280 - Só terá a natureza de depósito mercantil o que for feito por causa
proveniente de comércio, em poder de comerciante, ou por conta de comerciante.
Art. 281 - Este contrato fica perfeito pela tradição real ou simbólica da coisa
depositada (artigo nº. 199); mas só pode provar-se por escrito assinado pelo
depositário.
Art. 282 - O depositário pode exigir, pela guarda da coisa depositada, uma comissão
estipulada no contrato, ou determinada pelo uso da praça; e se nenhuma houver sido
estipulada no contrato, nem se achar estabelecida pelo uso da praça, será regulada por
arbitradores.
Art. 283 - O depósito voluntário confere-se e aceita-se pela mesma forma que o mandato
ou comissão; e as obrigações recíprocas do depositante e depositário regulam-se pelas
que se acham determinadas para os mesmos contratos entre comitente e mandatário ou
comissário, em tudo quanto forem aplicáveis.
Art. 284 - Não entregando o depositário a coisa depositada no prazo de 48 (quarenta e
oito) horas da intimação judicial, será preso até que se efetue a entrega do
depósito, ou do seu valor equivalente (artigo nºs 272 e 440).
Art. 285 - Os depósitos feitos em bancos ou estações públicas ficam sujeitos às
disposições das leis, estatutos ou regulamentos da sua instituição.
Art. 286 - As disposições do Capítulo II - Do penhor mercantil - são aplicáveis ao
depósito mercantil.
TÍTULO XV
DAS COMPANHIAS E SOCIEDADES COMERCIAIS
Capítulo I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 287 - É da essência das companhias e sociedades comerciais que o objeto e fim a que
se propõem seja lícito, e que cada um dos sócios contribua para o seu capital com
alguma quota, ou esta consista em dinheiro ou em efeitos e qualquer sorte de bens, ou em
trabalho ou indústria.
Art. 288 - É nula a sociedade ou companhia em que se estipular que a totalidade dos
lucros pertença a um só dos associados, ou em que algum seja excluído, e a que
desonerar de toda a contribuição nas perdas as somas ou efeitos entrados por um ou mais
sócios para o fundo social.
Art. 289 - Os sócios devem entrar para o fundo social com as quotas e contingentes a que
se obrigarem, nos prazos e pela forma que se estipular no contrato. O que deixar de o
fazer responderá à sociedade ou companhia pelo dano emergente da mora, se o contingente
não consistir em dinheiro; consistindo em dinheiro pagará por indenização o juro legal
somente (artigo nº. 249). Num e noutro caso, porém, poderão os outros sócios preferir,
à indenização pela mora, a rescisão da sociedade a respeito do sócio remisso.
Art. 290 - Em nenhuma associação mercantil se pode recusar aos sócios o exame de todos
os livros, documentos, escrituração e correspondência, e do estado da caixa na
companhia ou sociedade, sempre que o requerer; salvo tendo-se estabelecido no contrato ou
outro qualquer título da instituição da companhia ou sociedade, as épocas em que o
mesmo exame unicamente poderá ter lugar.
Art. 291 - As leis particulares do comércio, a convenção das partes sempre que lhes
não for contrária, e os usos comerciais, regulam toda a sorte de associação mercantil;
não podendo recorrer-se ao direito civil para decisão de qualquer dúvida que se
ofereça, senão na falta de lei ou uso comercial.
Art. 292 - O credor particular de um sócio só pode executar os fundos líquidos que o
devedor possuir na companhia ou sociedade, não tendo este outros bens desembargados, ou
se, depois de executados, os que tiver não forem suficientes para o pagamento.
Quando uma mesma pessoa é membro de diversas companhias ou sociedades com diversos
sócios, falindo uma, os credores dela só podem executar a quota líquida que o sócio
comum tiver nas companhias ou sociedades solventes depois de pagos os credores destas.
Esta disposição tem lugar se as mesmas pessoas formarem diversas companhias ou
sociedades; falindo uma, os credores da massa falida só têm direito sobre as massas
solventes depois de pagos os credores destas.
Art. 293 - Os sócios administradores ou gerentes são obrigados a dar contas justificadas
da sua administração aos outros sócios.
Art. 294 - Todas as questões sociais que se suscitarem entre sócios durante a
existência da sociedade ou companhia, sua liquidação ou partilha, serão decididas em
juízo arbitral.
Capítulo II
DAS COMPANHIAS DE COMÉRCIO OU SOCIEDADES ANÔNIMAS
Art. 295 - As companhias ou sociedades anônimas, designadas pelo objeto ou empresa
a que se destinam, sem firma social, e administradas por mandatários revogáveis, sócios
ou não sócios, só podem estabelecer-se por tempo determinado, e com autorização do
Governo, dependente da aprovação do Corpo Legislativo quando hajam de gozar de algum
privilégio: e devem provar-se por escritura pública, ou pelos seus estatutos, e pelo ato
do Poder que as houver autorizado. Vide Decreto-Lei
nº 2.627, de 1940:
As companhias só podem ser dissolvidas:
1. Expirando o prazo da sua duração;
2. Por quebra; e
3. Mostrando-se que a companhia não pode preencher o intuito e fim social.
Art. 296 - A escritura, estatutos e ato da autorização das companhias devem ser
inscritos no Registro do Comércio, e publicados pelo Tribunal respectivo, antes que as
companhias comecem a exercer suas operações.
As companhias só podem ser prorrogadas com aprovação do Poder que houver autorizado a
sua instituição, procedendo a novo registro. Vide
Decreto-Lei nº 2.627, de 1940:
Art. 297 - O capital das companhias divide-se em ações, e estas podem ser subdivididas
em frações.
As ações podem ser exaradas em forma de título ao portador, ou por inscrições nos
registros da companhia: no primeiro caso opera-se a transferência por via de endosso: no
segundo só pode operar-se por ato lançado nos mesmos registros com assinatura do
proprietário ou de procurador com poderes especiais; salvo o caso de execução judicial.
Vide Decreto-Lei nº 2.627, de 1940:
Art. 298 - Os sócios das companhias ou sociedades anônimas não são responsáveis
a mais do valor das ações, ou do interesse por que se houverem comprometido. Vide Decreto-Lei nº 2.627, de 1940:
Art. 299 - Os administradores ou diretores de uma companhia respondem pessoal e
solidariamente a terceiros, que tratarem com a mesma companhia, até o momento em que
tiver lugar a inscrição do instrumento ou título da sua instituição no Registro do
Comércio (art. 296), efetuado o registro respondem só à companhia pela execução do
mandato. Vide Decreto-Lei nº 2.627, de 1940:
Capítulo III
DAS SOCIEDADES COMERCIAIS
Seção I
Disposições Gerais
Art. 300 - O contrato de qualquer sociedade comercial só pode provar-se por escritura
pública ou particular; salvo nos casos dos artigo nºs 304 e 325.
Nenhuma prova testemunhal será admitida contra e além do conteúdo no instrumento do
contrato social.
Art. 301 - O teor do contrato deve ser lançado no Registro do Comércio do Tribunal do
distrito em que se houver de estabelecer a casa comercial da sociedade (artigo nº. 10,
nº 2), e se esta tiver outras casas de comércio em diversos distritos, em todos eles
terá lugar o registro.
As sociedades estipuladas em países estrangeiros com estabelecimento no Brasil são
obrigadas a fazer igual registro nos Tribunais do Comércio competentes do Império antes
de começarem as suas operações.
Enquanto o instrumento do contrato não for registrado, não terá validade entre os
sócios nem contra terceiros, mas dará ação a estes contra todos os sócios
solidariamente (artigo nº. 304).
Art. 302 - A escritura, ou seja pública ou particular, deve conter:
1 - Os nomes, naturalidade e domicílios dos sócios.
2 - Sendo sociedade com firma, a firma por que a sociedade há de ser conhecida.
3 - Os nomes dos sócios que podem usar da firma social ou gerir em nome da sociedade; na
falta desta declaração, entende-se que todos os sócios podem usar da firma social e
gerir em nome da sociedade.
4 - Designação específica do objeto da sociedade, da quota com que cada um dos sócios
entra para o capital (artigo nº. 287), e da parte que há de ter nos lucros e nas perdas.
5 - A forma da nomeação dos árbitros para juízes das dúvidas sociais.
6 - Não sendo a sociedade por tempo indeterminado, as épocas em que há de começar e
acabar, e a forma da sua liquidação e partilha (artigo nº. 344).
7 - Todas as mais cláusulas e condições necessárias para se determinarem com precisão
os direitos e obrigações dos sócios entre si, e para com terceiro.
Toda a cláusula ou condição oculta, contrária às cláusulas ou condições contidas
no instrumento ostensivo do contrato, é nula.
Art. 303 - Nenhuma ação entre sócios ou destes contra terceiros, que fundar a sua
intenção na existência da sociedade, será admitida em juízo se não for logo
acompanhada do instrumento probatório da existência da mesma sociedade.
Art. 304 - São, porém, admissíveis, sem dependência da apresentação do dito
instrumento, as ações que terceiros possam intentar contra a sociedade em comum ou
contra qualquer dos sócios em particular. A existência da sociedade, quando por parte
dos sócios se não apresenta instrumento, pode provar-se por todos os gêneros de prova
admitidos em comércio (artigo nº. 122), e até por presunções fundadas em fatos de que
existe ou existiu sociedade.
Art. 305 - Presume-se que existe ou existiu sociedade, sempre que alguém exercita atos
próprios de sociedade, e que regularmente se não costumam praticar sem a qualidade
social.
Desta natureza são especialmente:
1 - Negociação promíscua e comum.
2 - Aquisição, alheação, permutação, ou pagamento comum.
3 - Se um dos associados se confessa sócio, e os outros o não contradizem por uma forma
pública.
4 - Se duas ou mais pessoas propõem um administrador ou gerente comum.
5 - A dissolução da associação como sociedade.
6 - O emprego do pronome nós ou nosso nas cartas de correspondência, livros, fatura,
contas e mais papéis comerciais.
7 - O fato de receber ou responder cartas endereçadas ao nome ou firma social.
8 - O uso de marca comum nas fazendas ou volumes.
9 - O uso de nome com a adição - e companhia.
A responsabilidade dos sócios ocultos é pessoal e solidária, como se fossem sócios
ostensivos (artigo nº. 316).
Art. 306 - A pessoa que emprestar o seu nome como sócio, ainda que não tenha interesse
nos lucros da sociedade responsável por todas as obrigações da mesma sociedade que
forem contraídas debaixo da firma social com ação regressiva contra os sócios, mas
não responderá a estes por perdas e danos.
Art. 307 - Se expirado o prazo de sociedade celebrada por tempo determinado esta tiver de
continuar, a sua continuação só poderá provar-se por novo instrumento, passado e
legalizado com as mesmas formalidades que o da sua instituição (artigo nº. 301).
O mesmo terá lugar, quando se fizer alguma alteração no contrato primordial.
Art. 308 - Quando a sociedade dissolvida por morte de um dos sócios tiver de continuar
com os herdeiros do falecido (artigo nº. 335, nº 4), se entre os herdeiros algum ou
alguns forem menores, estes não poderão ter parte nela, ainda que sejam autorizados
judicialmente; salvo sendo legitimamente emancipados.
Art. 309 - Falecendo sem testamento algum sócio que não tenha herdeiros presentes, quer
a sociedade deva dissolver-se pela sua morte, quer haja de continuar, o juízo a que
competir a arrecadação da fazenda dos ausentes não poderá entrar na arrecadação dos
bens da herança do falecido que existirem na massa social, nem ingerir-se por forma
alguma na administração, liquidação e partilha da sociedade; competindo somente ao
mesmo juízo arrecadar a quota líquida que ficar pertencendo à dita herança. No caso do
sócio falecido ter sido o caixa ou gerente da sociedade, ou quando não fosse, sempre que
não houver mais de um sócio sobrevivente, e mesmo fora dos dois referidos casos se o
exigir um número tal de credores que represente metade de todos os créditos,
nomear-se-á um novo caixa ou gerente para a ultimação das negociações pendentes;
procedendo-se à liquidação e partilha pela forma determinada na Seção VIII deste
Capítulo; com a única diferença de que os credores terão parte na nomeação da pessoa
ou pessoas a quem deva encarregar-se a liquidação.
A nomeação do novo caixa ou gerente será feita pela maioria dos votos dos sócios e dos
credores, reunidos em assembléia presidida pelo juiz de direito do comércio, e só
poderá recair sobre sócio ou credor que seja comerciante.
Art. 310 - As disposições do artigo precedente têm igualmente lugar, sempre que algum
comerciante, que não tenha sócios, ou mesmo alguém, ainda que não seja comerciante
falecer sem testamentos nem herdeiros presentes, e tiver credores comerciantes;
nomeando-se pela forma acima declarada dois administradores e um fiscal, para arrecadar,
administrar e liquidar a herança, e satisfazer todas as obrigações do falecido.
Não existindo credores presentes, mas constando pelos livros do falecido ou por outros
títulos autênticos que os há ausentes, serão os dois administradores e fiscal nomeados
pelo Tribunal do Comércio.
Seção II
Da Sociedade em Comandita
Art. 311 - Quando duas ou mais pessoas, sendo ao menos uma comerciante, se associam para
fim comercial, obrigando-se uns como sócios solidariamente responsáveis, e sendo outros
simples prestadores de capitais, com a condição de não serem obrigados além dos fundos
que forem declarados no contrato, esta associação tem a natureza de sociedade em
comandita.
Se houver mais de um sócio solidariamente responsável, ou sejam muitos os encarregados
da gerência ou um só, a sociedade será ao mesmo tempo em nome coletivo para estes, e em
comandita para os sócios prestadores de capitais.
Art. 312 - Na sociedade em comandita não é necessário que se inscreva no Registro do
Comércio o nome do sócio comanditário, mas requer-se essencialmente que se declare no
mesmo Registro a quantia certa do total dos fundos postos em comandita.
Art. 313 - Na mesma sociedade os sócios comanditários não são obrigados além dos
fundos com que entram ou se obrigam a entrar na sociedade, nem a repor, salvo nos casos do
artigo nº. 828, os lucros que houverem recebido; mas os sócios responsáveis respondem
solidariamente pelas obrigações sociais, pela mesma forma que os sócios das sociedades
coletivas (artigo nº. 316).
Art. 314 - Os sócios comanditários não podem praticar ato algum de gestão, nem ser
empregados nos negócios da sociedade, ainda mesmo que seja como procuradores, nem fazer
parte da firma social; pena de ficarem solidariamente responsáveis como os outros
sócios; não se compreende, porém, nesta proibição a faculdade de tomar parte nas
deliberações da sociedade, nem o direito de fiscalizar as suas operações e estado
(artigo nº. 290).
Seção III
Das Sociedades em Nome Coletivo ou com Firma
Art. 315 - Existe sociedade em nome coletivo ou com firma, quando duas ou mais pessoas,
ainda que algumas não sejam comerciantes, se unem para comerciar em comum, debaixo de uma
firma social.
Não podem fazer parte da firma social nomes de pessoas que não sejam sócios
comerciantes.
Art. 316 - Nas sociedades em nome coletivo, a firma social assinada por qualquer dos
sócios-gerentes, que no instrumento do contrato for autorizado para usar dela, obriga
todos os sócios solidariamente para com terceiros e a estes para com a sociedade, ainda
mesmo que seja em negócio particular seu ou de terceiro; com exceção somente dos casos
em que a firma social for empregada em transações estranhas aos negócios designados no
contrato.
Não havendo no contrato designação do sócio ou sócios que tenham a faculdade de usar
privativamente da firma social, nem algum excluído, presume-se que todos os sócios têm
direito igual de fazer uso dela.
Contra o sócio que abusar da firma social, dá-se ação de perdas e danos, tanto da
parte dos sócios como de terceiro; e se com o abuso concorrer também fraude ou dolo,
este poderá intentar contra ele a ação criminal que no caso couber.
Seção IV
Das Sociedades de Capital e Indústria
Art. 317 - Diz-se sociedade de capital e indústria aquela que se contrai entre pessoas,
que entram por uma parte com os fundos necessários para uma negociação comercial em
geral, ou para alguma operação mercantil em particular, e por outra parte com a sua
indústria somente.
O sócio de indústria não pode, salvo convenção em contrário, empregar-se em
operação alguma comercial estranha à sociedade; pena de ser privado dos lucros daquela,
e excluído desta.
Art. 318 - A sociedade de capital e indústria pode formar-se debaixo de uma firma social,
ou existir sem ela. No primeiro caso são-lhe aplicáveis todas as disposições
estabelecidas na Seção III deste Capítulo.
Art. 319 - O instrumento do contrato da sociedade de capital e indústria, além das
enunciações indicadas no artigo nº. 302, deve especificar as obrigações do sócio ou
sócios que entrarem na associação com a sua indústria somente, e a quota de lucros que
deve caber-lhes em partilha.
Na falta de declaração no contrato, o sócio de indústria tem direito a uma quota nos
lucros igual à que for estipulada a favor do sócio capitalista de menor entrada.
Art. 320 - A obrigação dos sócios capitalistas é solidária, e estende se além do
capital com que se obrigarem a entrar na sociedade.
Art. 321 - O sócio de indústria não responsabiliza o seu patrimônio particular para
com os credores da sociedade. Se, porém, além da indústria, contribuir para o capital
com alguma quota em dinheiro, bens ou efeitos, ou for gerente da firma social, ficará
constituído sócio solidário em toda a responsabilidade.
Art. 322 - O sócio de indústria não é obrigado a repor, por motivo de perdas
supervenientes, o que tiver recebido de lucros sociais nos dividendos; salvo provando-se
dolo ou fraude da sua parte (artigo nº. 828).
Art. 323 - Os fundos sociais em nenhum caso podem responder, nem ser executados por
dívidas ou obrigações particulares do sócio de indústria sem capital; mas poderá ser
executada a parte dos lucros que lhe couber na partilha.
Art. 324 - Competem tanto aos sócios capitalistas como aos credores sociais contra o
sócio de indústria todas as ações que a lei faculta contra o gerente ou mandatário
infiel, ou negligente culpável.
Seção V
Da Sociedade em Conta de Participação
Art. 325 - Quando duas ou mais pessoas, sendo ao menos uma comerciante, se reúnem, sem
firma social, para lucro comum, em uma ou mais operações de comércio determinadas,
trabalhando um, alguns ou todos, em seu nome individual para o fim social, a associação
toma o nome de sociedade em conta de participação, acidental, momentânea ou anônima;
esta sociedade não está sujeita às formalidades prescritas para a formação das outras
sociedades, e pode provar-se por todo o gênero de provas admitidas nos contratos
comerciais (artigo nº. 122).
Art. 326 - Na sociedade em conta de participação, o sócio ostensivo é o único que se
obriga para com terceiro; os outros sócios ficam unicamente obrigados para com o mesmo
sócio por todos os resultados das transações e obrigações sociais empreendidas nos
termos precisos do contrato.
Art. 327 - Na mesma sociedade o sócio-gerente responsabiliza todos os fundos sociais,
ainda mesmo que seja por obrigações pessoais, se o terceiro com quem tratou ignorava a
existência da sociedade; salvo o direito dos sócios prejudicados contra o
sócio-gerente.
Art. 328 - No caso de quebrar ou falir o sócio-gerente, é lícito ao terceiro com quem
houver tratado saldar todas as contas que com ele tiver, posto que abertas sejam debaixo
de distintas designações, com os fundos pertencentes a quaisquer das mesmas contas;
ainda que os outros sócios mostrem que esses fundos lhes pertencem, uma vez que não
provem que o dito terceiro tinha conhecimento, antes da quebra, da existência da
sociedade em conta de participação.
Seção VI
Dos Direitos e Obrigações dos Sócios
Art. 329 - As obrigações dos sócios começam da data do contrato, ou da época nele
designada; e acabam depois que, dissolvida a sociedade, se acham satisfeitas e extintas
todas as responsabilidades sociais.
Art. 330 - Os ganhos e perdas são comuns a todos os sócios na razão proporcional dos
seus respectivos quinhões no fundo social; salvo se outra coisa for expressamente
estipulada no contrato.
Art. 331 - A maioria dos sócios não tem faculdade de entrar em operações diversas das
convencionadas no contrato sem o consentimento unânime de todos os sócios. Nos mais
casos todos os negócios sociais serão decididos pelo voto da maioria, computado pela
forma prescrita no artigo nº. 486.
Art. 332 - Se o contrato social for da natureza daqueles que só valem sendo feitos por
escritura pública, nenhum sócio pode responsabilizar a firma social validamente sem
autorização especial dos outros sócios, outorgada expressamente por escritura pública
(artigo nº. 307).
Art. 333 - O sócio que, sem consentimento por escrito dos outros sócios, aplicar os
fundos ou efeitos da sociedade para negócio ou uso de conta própria, ou de terceiro,
será obrigado a entrar para a massa comum com todos os lucros resultantes; e se houver
perdas ou danos serão estes por sua conta particular; além do procedimento criminal que
possa ter lugar (artigo nº. 316).
Art. 334 - A nenhum sócio é lícito ceder a um terceiro, que não seja sócio, a parte
que tiver na sociedade, nem fazer-se substituir no exercício das funções que nela
exercer sem expresso consentimento de todos os outros sócios; pena de nulidade do
contrato; mas poderá associá-lo à sua parte, sem que por esse fato o associado fique
considerado membro da sociedade.
Seção VII
Da Dissolução da Sociedade
Art. 335 - As sociedades reputam-se dissolvidas:
1 - Expirando o prazo ajustado da sua duração.
2 - Por quebra da sociedade, ou de qualquer dos sócios.
3 - Por mútuo consenso de todos os sócios.
4 - Pela morte de um dos sócios, salvo convenção em contrário a respeito dos que
sobreviverem.
5 - Por vontade de um dos sócios, sendo a sociedade celebrada por tempo indeterminado.
Em todos os casos deve continuar a sociedade, somente para se ultimarem as negociações
pendentes, procedendo-se à liquidação das ultimadas.
Art. 336 - As mesmas sociedades podem ser dissolvidas judicialmente, antes do período
marcado no contrato, a requerimento de qualquer dos sócios:
1 - mostrando-se que é impossível a continuação da sociedade por não poder preencher
o intuito e fim social, como nos casos de perda inteira do capital social, ou deste não
ser suficiente;
2 - por inabilidade de alguns dos sócios, ou incapacidade moral ou civil, julgada por
sentença;
3 - por abuso, prevaricação, violação ou falta de cumprimento das obrigações
sociais, ou fuga de algum dos sócios.
Art. 337 - A sociedade formada por escritura pública ou particular deve ser dissolvida
pela mesma forma de instrumento por que foi celebrada, sempre que o distrato tiver lugar
amigavelmente.
Art. 338 - O distrato da sociedade, ou seja voluntário ou judicial, deve ser inserto no
Registro do Comércio, e publicado nos periódicos do domicílio social, ou no mais
próximo que houver, e na falta deste por anúncios fixados nos lugares públicos; pena de
subsistir a responsabilidade de todos os sócios a respeito de quaisquer obrigações que
algum deles possa contrair com terceiro em nome da sociedade.
Art. 339 - O sócio que se despedir antes de dissolvida a sociedade ficará responsável
pelas obrigações contraídas e perdas havidas até o momento da despedida. No caso de
haver lucros a esse tempo existentes, a sociedade tem direito de reter os fundos e
interesses do sócio que se despedir, ou for despedido com causa justificada, até se
liquidarem todas as negociações pendentes que houverem sido intentadas antes da
despedida.
Art. 340 - Depois da dissolução da sociedade nenhum sócio pode validamente pôr a firma
social em obrigação alguma, posto que esta fosse contraída antes do período da
dissolução, ou fosse aplicada para pagamento de dívidas sociais.
Art. 341 - Uma letra de câmbio ou da terra, sacada ou aceita por um sócio depois de
devidamente publicada a dissolução da sociedade, não pode ser acionada contra os outros
sócios, ainda que o endossado possa provar que tomou a letra em boa-fé por falta de
notícia; nem ainda mesmo que prove que a letra foi aplicada, pelo sócio sacador ou
aceitante, à liquidação de dívidas sociais, ou que adiantou o dinheiro para uso da
firma durante a sociedade; salvo os direitos que ao sócio sacador ou aceitante possam
competir contra os outros sócios.
Art. 342 - Fazendo-se participação aos devedores, depois de dissolvida a sociedade, de
que um sócio designado se acha encarregado de receber as dívidas ativas da mesma
sociedade, o recibo passado posteriormente por um dos outros sócios não desonera o
devedor.
Art. 343 - Se ao tempo de dissolver-se a sociedade, um sócio tomar sobre si receber os
créditos e pagar as dívidas passivas, dando aos outros sócios ressalva contra toda a
responsabilidade futura, esta ressalva não prejudica a terceiros, se estes nisso não
convierem expressamente; salvo se fizerem com aquele alguma novação de contrato (artigo
nº. 438). Todavia, se o sócio que passou a ressalva continuar no giro da negociação
que fazia objeto da sociedade extinta, debaixo da mesma ou de nova firma, os sócios que
saírem da sociedade ficarão desonerados inteiramente, se o credor celebrar, com o sócio
que continua a negociar debaixo da mesma ou de nova firma, transações subseqüentes,
indicativas de que confia no seu crédito.
Seção VIII
Da Liquidação da Sociedade
Art. 344 - Dissolvida uma sociedade mercantil, os sócios autorizados para gerir durante a
sua existência devem operar a sua liquidação debaixo da mesma firma, aditada com a
cláusula - em liquidação; salvo havendo estipulação diversa no contrato, ou querendo
os sócios, a aprazimento comum ou por pluralidade de votos em caso de discórdia,
encarregar a liquidação a algum dos outros sócios não gerentes, ou a pessoa de fora da
sociedade.
Art. 345 - Os liquidantes são obrigados:
1 - a formar inventário e balanço do cabedal social nos 15 (quinze) dias imediatos à
sua nomeação, pondo-o logo no conhecimento de todos os sócios; pena de poder nomear-se
em juízo uma administração liquidadora à custa dos liquidantes se forem sócios; e
não o sendo, não terão direito a retribuição alguma pelo trabalho que houverem feito;
2 - a comunicar mensalmente a cada sócio o estado da liquidação, debaixo da mesma pena;
3 - ultimada a liquidação, a proceder imediatamente à divisão e partilha dos bens
sociais; se os sócios não acordarem que os dividendos se façam na razão de tantos por
cento, à proporção que os ditos bens se forem liquidando, depois de satisfeitas todas
as obrigações da sociedade.
Art. 346 - Não bastando o estado da caixa da sociedade para pagar as dívidas exigíveis,
é obrigação dos liquidantes pedir aos sócios os fundos necessários, nos casos em que
eles forem obrigados a prestá-los.
Art. 347 - Os liquidantes são responsáveis aos sócios pelo dano que à massa resultar
de sua negligência no desempenho de suas funções e por qualquer abuso dos efeitos da
sociedade.
No caso de omissão ou negligência culpável, poderão ser destituídos pelo Tribunal do
Comércio, ou pelo juiz de direito do comércio nos lugares fora da residência do mesmo
tribunal, e não terão direito a paga alguma do seu trabalho; provando-se abuso ou
fraude, haverá contra eles a ação criminal que competir.
Art. 348 - Acabada a liquidação, e proposta a forma de divisão e partilha, e aprovada
uma e outra pelos sócios liquidados, cessa toda e qualquer reclamação da parte destes,
entre si reciprocamente e contra os liquidantes. O sócio que não aprovar a liquidação
ou a partilha é obrigado a reclamar dentro de 10 (dez) dias depois desta lhe ser
comunicada; pena de não poder mais ser admitido a reclamar, e de se julgar por boa a
mesma liquidação e partilha.
A reclamação que for apresentada em tempo, não se acordando sobre ela os interessados,
será decidida por árbitros, dentro de outros 10 (dez) dias úteis; os quais o juiz de
direito do comércio poderá prorrogar por mais 10 (dez) dias improrrogáveis.
Art. 349 - Nenhum sócio pode exigir que se lhe entregue o seu dividendo enquanto o
passivo da sociedade se não achar todo pago, ou se tiver depositado quantia suficiente
para o pagamento; mas poderá requerer o depósito das quantias que se forem apurando.
Esta disposição não compreende aqueles sócios que tiverem feito empréstimo à
sociedade, os quais devem ser pagos das quantias mutuadas pela mesma forma que os outros
quaisquer credores.
Art. 350 - Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da
sociedade, senão depois de executados todos os bens sociais.
Art. 351 - Os liquidantes não podem transigir, nem assinar compromisso sobre os
interesses sociais, sem autorização especial dos sócios dada por escrito; pena de
nulidade.
Art. 352 - Depois da liquidação e partilha definitiva, os livros de escrituração e os
respectivos documentos sociais serão depositados em casa de um dos sócios, que à
pluralidade de votos se escolher.
Art. 353 - Nas liquidações de sociedades comerciais em que houver menores interessados,
procederá à liquidação e partilha com seus tutores, e com um curador especial que para
este fim lhe será nomeado pelo juiz dos órfãos; e todos os atos que com os ditos tutor
e curador se praticarem serão válidos e irrevogáveis, sem que contra eles em tempo
algum se possa alegar benefício de restituição; ficando unicamente direito salvo aos
menores para haverem de seus tutores e curadores os danos que de sua negligência
culpável, dolo ou fraude lhes resultarem.
TÍTULO XVI Revogado pelo Decreto do Poder
Legislativo nº 2.044, de 1908:
DAS LETRAS, NOTAS PROMISSÓRIAS E CRÉDITOS MERCANTIS
Capítulo I
Das Letras de cambio
Seção I
Da forma das Letras de cambio, e seus vencimentos
Art. 354 - A letra de cambio deve ser datada, e declarar: Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
1 - O lugar em que for sacada;
2 - A soma que deve pagar-se, e em que espécie de moeda;
3 - O valor recebido, especificando se foi em moeda e a sua qualidade, em mercadorias, em
conta, ou por outra qualquer maneira;
4 - A época e o lugar do pagamento;
5 - O nome da pessoa que deve pagá-la, e a quem, e se é exigível à ordem, e de quem; e
6 - Se é sacada por primeira, segunda, terceira ou mais vias, não sendo única. Faltando
esta declaração, entende-se que cada um dos exemplares é uma letra distinta.
Se uma letra de cambio tiver nomes supostos de pessoas ou de lugares,
onde e por quem deva ser paga, só valerá como simples crédito: todavia, os que nela
intervierem, e tiverem conhecimento da suposição da pessoa ou do lugar, não poderão
alegar este defeito contra terceiros, e valerá como letra regular.
Art. 355 - A letra de cambio pode ser passada: Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
1 - À vista;
2 - A dias ou meses de vista;
3 - A dias ou meses de vista precisos;
4 - A dias ou meses da data; e
5 - A dia ou mês certo e prefixo.
Art. 356 - O vencimento das letras que forem sacadas a dias ou meses de vista
principiará a contar-se do dia imediato ao do seu aceite. O prazo das que forem passadas
a dias ou meses da data começará do dia subsequente ao da sua data. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 357 - O pagamento da letra à vista é exigível no ato da sua apresentação, e só
pode ser demorado por vinte e quatro horas, se nisso convier o portador: as letras a dias
ou meses certos e prefixos serão pagas no dia do seu vencimento. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 358 - Os meses para o vencimento de letras são tais quais se acham fixados pelo
Calendário Gregoriano. O dia 15 é sempre reputado o meio de todos os meses. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Os prazos são contínuos, e contados de data a data. Se o dia do vencimento for feriado
pela Lei, reputa-se a letra vencida no antecedente.
Art. 359 - Havendo diferença entre o valor lançado por algarismo no alto da letra e o
que se achar por extenso no corpo dela, este último será sempre considerado o
verdadeiro, e a diferença não prejudicará a letra. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Seção II
Dos Endossos
Art. 360 - As letras de cambio pagáveis à ordem são transferíveis e exeqüíveis
por via de endosso (art. 364). Revogado
pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Os endossantes anteriores são responsáveis pelo resultado da letra a todos os endossados
posteriores até o portador (art. 381).
Art. 361 - O endosso para ser completo e regular deve
preencher os seguintes requisitos: Revogado pelo
Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
1 - Ser datado do dia em que se faz, e escrito nas
costas de qualquer das vias da letra;
2 - Expressar o nome daquele a cuja ordem deve fazer-se o pagamento;
3 - Declarar se é – valor recebido -, ou em conta, ou se confere somente poderes de
mandatário ou procurador. Sendo o valor fornecido por terceiro, deverá esta
circunstância ser mencionada no endosso.
O endosso – à ordem, sem declarar se é valor recebido ou em
conta, confere somente poderes de mandatário, sem transferência da propriedade.
É proibido escrever nos endossos qualquer declaração que não seja
rigorosamente restrita à natureza do endosso; pena da nulidade dessa declaração.
Art. 362 - Ainda que os endossos incompletos ou em branco sejam tolerados, todavia
exige-se para serem válidos, que, pelo menos, contenham a data do dia em que se fizerem,
escrita pela própria letra do endossante que o assinar: e presume-se sempre que são
passados à ordem com valor recebido. Revogado
pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 363 - O endosso falso é nulo, mas só vicia os endossos posteriores; ficando ação
salva ao portador contra quem o tiver assinado. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 364 - Os endossos de letras já vencidas ou prejudicadas, e daquelas que não
são pagáveis à ordem, tem o simples efeito de cessão civil. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Seção III
Do Sacador
Art. 365 - O sacador é obrigado a dar ao tomador todas as vias da letra de cambio
que este pedir antes do vencimento; e perdidas as primeiras, não pode negar-se a dar-lhe
outras, que deverão ser passadas com ressalva das que se houverem perdido: faltando esta
ressalva, entende-se que são vias de letra distinta. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 366 - O sacador é obrigado a ter suficiente provisão de fundos em poder do
sacado ao tempo do vencimento; pena de responder por perdas e danos supernientes, se por
falta de provisão suficiente feita em devido tempo, a letra deixar de ser aceita ou paga,
em quanto esta não prescrever (art. 443), ainda que não tenha sido protestada em tempo e
forma regular (art. 381). Revogado pelo
Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 367 - Sendo a letra passada por conta de terceiro, a este incumbe fazer a
provisão de fundos em tempo competente, debaixo da sobredita pena; sem que todavia o
sacador deixe de ser solidariamente responsável ao portador e endossados pela segurança
da mesma letra na forma do artigo antecedente. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 368 - Entende-se que existe suficiente provisão de fundos em poder do sacado,
quando este, ao tempo do vencimento, é devedor ao sacador, ou àquele por conta de quem a
letra foi passada, de quantia ao menos igual, ou quando qualquer dos dois tiver crédito
aberto pelo sacado, que baste para o pagamento da letra (art. 392). Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 369 - O sacador é responsável pela importância da letra (art. 422) a todas
as pessoas que forem sucessivamente adquirindo a sua propriedade até o último portador. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Cessa porém a responsabilidade do sacador quando o portador deixa de apresentar a letra,
ou é omisso em a protestar em tempo e forma regular, uma vez que prove que tinha
suficiente provisão de fundos em poder do sacado ao tempo do vencimento.
Art. 370 - O sacador, que é obrigado a solver uma letra de cambio porque o sacado a
não paga, tem ação de perdas e danos contra este; salvo se o sacado deixar de pagar por
falta de suficiente provisão de fundos do sacador em seu poder. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Seção IV
Do Portador
Art. 371 - O possuidor de letra de cambio à vista, ou a dias ou meses de vista, é
obrigado a fazer expedir uma via para o aceite na primeira ocasião oportuna que se
oferecer, não podendo nunca exceder o tempo que decorrer da saída do segundo correio,
paquete ou navio que levar correspondência para o lugar da residência do sacado ou
aceitante (art. 420); pena de ficar prejudicada a responsabilidade de todos os endossantes
anteriores. Revogado pelo Decreto do Poder
Legislativo nº 2.044, 1908:
Esta disposição não isenta o sacado da obrigação de aceitar a letra quanto lhe for
apresentada.
Art. 372 - Sendo a letra de cambio expedida em tempo suficiente para, segundo o
curso ordinário, chegar antes do vencimento ao lugar onde deva ser paga, e não chegando
senão depois do vencimento por impedimento justificado, como, por exemplo, de força
maior, o portador conserva todos os seus direitos, uma vez que apresente a letra no dia
seguinte ao da sua chegada, e interponha o competente protesto, não sendo aceita ou paga.
Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo
nº 2.044, 1908:
Art. 373 - O portador da letra de cambio é obrigado a apresentá-la ao sacado no mesmo
dia em que a receber, não sendo feriado pela Lei (art. 358), para este por o seu aceite.
Recusando o sacado o aceite ou o pagamento, o portador é obrigado a fazer o competente
protesto. Revogado pelo Decreto do
Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Sendo mais de um os sacados, quando os seus nomes se acharem unidos pela conjunção
– e, o portador é obrigado a requerer o aceite e pagamento de todos, e a protestar
se algum o recusar. Se porém os nomes dos sacados, forem separados pela conjunção
– ou, o primeiro será considerado como sacado, e os outros na sua falta ou
ausência; e a todos o portador deverá requerer sucessivamente, na falta de aceite ou
pagamento, ou na ausência dos antecedentes, fazendo os competentes protestos.
Art. 374 - A letra deve ser apresentada ao sacado ou aceitante na casa da sua
residência ou no seu escritório. No caso de não estar na terra, achando-se dentro do
termo do lugar onde o aceite ou o pagamento for exeqüível, o portador empregará os
meios possíveis para que a letra lhe seja apresentada quanto antes: não sendo
encontrado, ou estando em lugar mais distante, é obrigado a protestar. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 375 - O portador que consentir em aceite condicional, sem protestar, tomará
sobre si todos os riscos da letra.
Se o aceite for puro, mas restrito quanto à soma sacada, é livre ao portador admitir o
aceite parcial, protestando pelo resto, ou recusá-lo, protestando pelo todo. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 376 - O portador de letra de cambio aceita ou não aceita, é obrigado a pedir
o seu pagamento no dia do vencimento, e, não sendo paga, a fazê-la protestar de não
paga. O pagamento deve ser pedido, e o protesto feito no lugar onde a letra for cobrável
(arts. 374 e 411). Revogado pelo Decreto do
Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 377 - O portador de letra de cambio protestada é obrigado a fazer aviso
àquele de quem a tiver recebido, e a remeter-lhe certidão do protesto pela primeira via
oportuna que se lhe oferecer (art. 371); pena de ficar extinta toda a ação que podia ter
para haver o seu embolso do sacador e endossantes.
Se algum dos interessados na letra for morador no mesmo lugar, a notificação será feita
dentro de três dias úteis, e debaixo da mesma pena (art. 409). Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 378 - Todos os endossados são obrigados a transmitir o protesto recebido, e na mesma
dilação (art. 377), aos seus respectivos endossadores; pena de serem responsáveis pelas
perdas e danos que da sua omissão resultarem. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 379 - Notificado o protesto de letra não aceita ao ultimo endossador, o portador,
exibindo o competente protesto de não aceite, tem direito para exigir dele, do sacador,
ou de qualquer outro obrigado à letra, fiança que segure o pagamento no seu vencimento.
Recusada a fiança pode o portador tirar mandado de embargo, e por em depósito bens de
qualquer dos obrigados à letra, que cheguem para total pagamento, até que este se
realize no seu vencimento (art. 831). Revogado
pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 380 - Quando o protesto é unicamente de não aceite, o portador só tem ação
contra o sacador e endossadores, e quaisquer outros garantes da letra. Sendo porém o
protesto de aceita e não paga, o portador pode acionar também o aceitante, e os seus
abonadores, se os houver. Revogado pelo
Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 381 - O portador que não tira em tempo útil e forma regular o protesto da
letra não aceita, perde todo o direito e ação contra os endossadores, e só o conserva
contra o sacador: sendo porém o protesto de falta de pagamento, perde todo o direito
contra o sacador e endossadores, e só conserva contra o aceitante; salvo no caso
prevenido nos artigos 367 e 368, em que o conserva também contra o sacador, e contra
aquele por conta de quem a letra foi passada.
Art. 382 - O portador de letra de cambio devidamente protestada por falta de
pagamento, que for omisso em acionar a mesma letra dentro de um ano a contar da data do
protesto, sendo passada dentro do Império, e de dois anos se tiver sido sacada ou
negociada fora dele, perderá todo o seu direito contra os endossadores, mas
conserva-lo-á contra o sacador e o aceitante, enquanto a letra não prescrever (art.
443). Revogado pelo Decreto do Poder
Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 383 - O portador da letra de cambio devidamente protestada pode haver o seu embolso
por um dos dois modos seguintes:
1 - Resacando do lugar onde a letra devia ser paga, sobre o sacador ou um dos
endossadores, pelo principal, com juros, recambio e despesas legais (art. 422); de modo
que, salvas as despesas e juros, venha a receber na Praça do sacado exatamente o mesmo
que receberia se a letra fosse paga, e nada mais; Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
2 - Remetendo a letra acompanhada do protesto para o lugar em que foi sacada ou endossada,
para ali ser paga pelo sacador ou endossador com a mesma quantia e nela designada,
reduzida a moeda corrente do cambio do dia em que se efetuar o pagamento, havendo-o; e se
o não houver ao último cambio efetuado, com os juros desde o dia em que o dinheiro foi
dado pela letra até o do embolso, e despesas legais.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 384 - O endossador que pagar a letra protestada tem direito para haver o seu
embolso do sacador, ou de qualquer dos endossadores anteriores, pelo mesmo modo por que
ele o houver efetuado, na forma enunciada no artigo antecedente.
Art. 385 - Se o sacador ou qualquer dos endossadores, quando negociou a letra,
restringir por declaração nela escrita as Praças em que pode ser negociada, só será
responsável pelas diferenças de câmbios, comissões e corretagem dos resaques ou
remessas da letra das Praças compreendidas em tal declaração (art. 421).Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 386 - O portador de letra de câmbio que receber o seu importe, e bem assim
todos os endossadores, são regressivamente garantes da validade dos endossos anteriores
para com o pagador (art. 360).Revogado pelo
Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 387 - O simples possuidor de uma letra, ainda que não tenha endosso, nem outro
algum título, pode e deve fazer a respeito dela as diligências e protestos necessários,
e exigir o depósito do seu importe no dia do vencimento (art. 277).Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 388 - O portador de letra de câmbio desencaminhada antes do aceite, ou depois
de protestada por falta dele, tem direito para pedir o seu embolso do sacador por ação
ordinária, provando a propriedade da letra, e prestando fiança idônea.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Se porém o extravio acontecer depois do aceite, será o aceitante obrigado a consignar o
valor da letra em depósito, por conta de quem pertencer; mas o portador não tem direito
para levantar o depósito, sem que preste fiança idônea para segurança do aceitante.
A fiança prestada nos dois referidos casos só pode levantar-se apresentando-se a letra
desencaminhada, ou depois da sua prescrição (art. 443).
Art. 389 - O proprietário ou mandatário de letra desencaminhada deve avisar
imediatamente ao sacador e ao último endossador, e fazer notificar judicialmente ao
sacado para que não aceite, e tendo aceitado não pague sem exigir fiança ou depósito.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 390 - Quebrando o aceitante de letra de câmbio antes do vencimento, o
portador, logo que tiver notícia da quebra, deve interpor o competente protesto para
segurança de seus direitos, e tem ação para exigir fiança idônea do último
endossador ou do sacador (art. 831).Revogado
pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 391 - O portador de letra de câmbio devidamente protestada por falta de
pagamento pode, em caso de quebra do aceitante, apresentar-se pela totalidade do seu
crédito a todas as massas falidas dos que na mesma letra forem co-obrigados: e os
dividendos recebidos de uma das massas descarregarão as outras, e os co-obrigados
solventes até seu inteiro pagamento (art. 892).Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Seção V
Do Sacado e Aceitante
Art. 392 - O comerciante que por escrito autoriza a outrem para sacar sobre ele, é
obrigado a aceitar e pagar, e fica sujeito a todas as responsabilidades e indenizações,
como se fosse o próprio sacador (art. 422).
A promessa porém de aceitar uma letra se ela for sacada, sem expressa autorização para
o saque, somente dá ação por danos contra o promitente que recusa aceitar e pagar.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 393 - O comerciante sobre quem for sacada alguma letra de câmbio, é obrigado
a aceitar a primeira das vias que lhe for apresentada, ou a negar o seu aceite, dentro de
vinte e quatro horas, ao mais tardar, da sua apresentação, ou no mesmo dia se a letra
for pagável à vista.Revogado pelo Decreto
do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 394 - O aceite deve ser puro, concebido nos seguintes termos – aceito – ou
aceitamos. (art. 375), e escrito no corpo da letra: o sacado não pode riscar nem retratar
o seu aceite depois de assinado.Revogado
pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Nos casos de aceite falso, o portador tem recurso contra o sacador e endossadores.
Art. 395 - Sendo a letra passada a dias ou meses de vista, o aceite deve ser datado:
não o sendo, será a letra protestada, e correrá o prazo de vencimento da data do
protesto.Revogado pelo Decreto do Poder
Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 396 - Aquele que cometer o erro de aceitar mais de uma via da mesma letra,
ficará obrigado a pagar todas as que aceitar, com direito salvo para embolsar-se de quem
indevidamente tiver recebido (art. 400).Revogado
pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 397 - Na falta de aceite do sacado, tirado o respectivo protesto (art. 403),
qualquer terceiro pode ser admitido a aceitar ou pagar a letra de câmbio por conta ou
honra da firma do sacador, ou de qualquer outra obrigada à letra, ainda que para este ato
não se ache expressamente autorizado.Revogado
pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
O próprio sacador e qualquer outra firma obrigada à letra pode oferecer-se para aceitar
ou pagar.
O pagador da letra em tais casos fica sub-rogado nos direitos e ações do portador para
com a firma ou firmas por conta de quem pagar.
Art. 398 - O aceitante não é obrigado a pagar, se o portador lhe não entrega o
exemplar da letra em que firmou o aceite; salvo desencaminhando-se a letra (art. 388), ou
quando o aceitante a não paga por inteiro (art. 375): neste último caso só pode
exigir-se do portador que lance o recebimento na letra, ou que passe recibo em separado da
quantia paga.Revogado pelo Decreto do Poder
Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 399 - Aquele que paga uma letra de câmbio no seu vencimento sem oposição de
terceiro, presume-se validamente desobrigado.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 400 - Quem paga uma letra de câmbio por uma via em que não se acha o seu aceite,
não fica desonerado para com o portador do aceite: pagando também a este, tem direito
para haver o seu embolso daquele que indevidamente houver recebido (art. 396).Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 401 - Oferecendo-se o sacado, a quem se tiver protestado uma letra por falta de
aceite, a fazer o pagamento desta no vencimento, será admitido com preferência a outro
qualquer; mas por este pagamento não ficará desonerado da obrigação de pagar todos os
danos e despesas legais resultantes da sua falta de aceite.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 402 - Fazendo-se o pagamento de intervenção por conta ou honra da firma do
sacador, todos os endossadores ficam desobrigados.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Se o pagamento se faz por conta ou honra de um dos endossadores, todos os signatários
seguintes na ordem dos endossos ficam desonerados.
Art. 403 - Em todos os casos de intervenção de terceiro no aceite ou pagamento de
letras, o portador é obrigado a tirar os competentes protestos, declarando neles o nome
do interventor, e por conta e honra de que firma interveio: e são também indispensáveis
os avisos do acidente pela forma determinada no artigo 377.
Art. 404 - Oferecendo-se o aceitante, ou alguém por ele, a fazer o pagamento da
letra antes do vencimento, em todo ou em parte, o portador não é obrigado a receber,
ainda que a oferta se faça sem desconto nem rebate (art. 431).
Seção VI Revogado pelo Decreto do Poder
Legislativo nº 2.044, 1908:
Dos Protestos
Art. 405 - Os protestos das letras de câmbio devem ser feitos perante o escrivão
privativo dos protestos, onde o houver; e não o havendo perante qualquer tabelião do
lugar, ou escrivão com fé pública na falta ou impedimento de tabelião.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 406 - O ato do protesto deve conter essencialmente:Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
1 - Declaração da hora, dia, mês e ano em que a letra foi apresentada ao oficial do
protesto;
2 - Cópia literal da mesma letra, e de tudo quanto nela se achar escrito, e pela mesma
ordem por que tiver sido escrito;
3 - Certidão de intimação feita ao sacado, e às mais pessoas a quem competir (arts.
377 e 400), para que aceitassem ou pagassem, ou dessem a razão por que não aceitavam ou
não pagavam, e a resposta dada, ou declaração de que nenhum deram;
4 - A cominação de perdas, danos, interesses e despesas legais contra todos os obrigados
à letra;
5 - Assinatura da pessoa que protestar; e
6 - Data do dia em que o protesto for interposto, e a data em que se tirar o instrumento;
o qual deve ser assinado pelo protestante, e subscrito pelo oficial público, com duas
testemunhas presenciais.
Art. 407 - Toda a letra que houver de ser protestada por falta de aceite ou de
pagamento, deve ser levada ao oficial público do protesto no mesmo dia em que devia ser
aceita ou paga, antes do sol posto (art. 356, 357 e 358). Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
O protesto deve ser tirado dentro de três dias úteis precisos; pena de ser nulo (art.
414).
Art. 408 - O oficial público perante quem se intentar o protesto, imediatamente que
a letra de câmbio lhe for apresentada, tomará apontamento dela em livro que é obrigado
a ter destinado exclusivamente para este fim, competentemente aberto e encerrado, numerado
e rubricado pelo Juiz de Direito do Comércio, escrito seguidamente, e sem intervalo algum
em branco que possa dar lugar para outro apontamento. O referido livro deve pagar o selo
da Lei antes de nele se começar a escrever.Revogado
pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
No alto da letra averbará a folha do livro em que a mesma letra ficar apontada, com a
data da sua apresentação e assinará esta anotação com o apelido de que usar.
Art. 409 - O oficial público é obrigado a fazer por escrito as intimações necessárias
(art. 406 n. 3), dentro dos sobreditos três dias úteis; debaixo da mesma pena de
nulidade (arts. 407 e 414).Revogado pelo
Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 410 - Feito o protesto, o oficial público é obrigado a lançar o instrumento que
formar em um livro de registro privativamente destinado para este fim, preparado e
escriturado com as formalidades prescritas no artigo 408. Deste registro dará às partes
as certidões que lhe forem pedidas.Revogado
pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 411 - As letras de câmbio devem ser protestadas no lugar do domicílio do
sacado ou aceitante. Revogado pelo Decreto
do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Se as letras forem sacadas ou aceitas para serem pagas em outro domicílio que não for o
do sacado ou aceitante, ou por uma terceira pessoa designada, nesse domicílio deve ser
feito o protesto (art. 374).
Se o que dever aceitar ou pagar a letra for desconhecido, ou se não puder descobrir o seu
domicílio, far-se-á o protesto no lugar do pagamento, e a intimação será feita por
denunciação do oficial que tomar o protesto, afixada nos lugares do estilo, e publicada
nos jornais.
Art. 412 - Se acontecer que o sacado, tendo ficado com a letra em seu poder para
aceitar ou pagar, se recuse à sua entrega a tempo de poder ser levada ao protesto, será
este tomado sobre outra via, ou em separado se a não houver, com essa declaração: e
poderá proceder-se a prisão contra o sacado até que efetue a entrega da letra.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Para poder porem ordenar-se a prisão é indispensável que o portador da letra produza em
Juízo prova suficiente de que a letra foi entregue ao sacado, e que sendo-lhe pedida a
não entregara. Em ajuda de prova o Juiz pode deferir ao portador juramento supletório.
Art. 413 - A letra de câmbio que tiver sido aceita por intervenção, deve ser
protestada de não paga contra o sacado que lhe negou o aceite, e contra todas as mais
firmas responsáveis pelo seu pagamento.
Faltando este protesto, o interventor fica desonerado da obrigação de pagar: e pagando
sem protesto, perde todo o direito e ação contra os obrigados ao pagamento da letra.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 414 - O oficial público que, por omissão ou prevaricação, for causa da
nulidade de algum protesto (arts. 408 e 409), será obrigado a indenizar as partes de
todas as perdas, danos e despesas legais que dessa nulidade resultarem, e perderá o seu
ofício.
Seção VII
Do Recambio
Art. 415 - O recambio efetua-se pelo resaque, que é uma nova letra de câmbio
passada sobre o sacador ou sobre um dos endossadores, por meio da qual o portador se
reembolsa do principal da letra, juros e despesas legais, pelo curso do câmbio ao tempo
do resaque (arts. 383, 384 e 385).Revogado
pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 416 - A letra de recambio será acompanhada: Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
1 - De uma conta de retorno, a qual deve enunciar o nome daquele sobre quem se resaca, e o
preço de recambio por que a letra foi negociada, certificado por corretor, ou por dois
comerciantes na falta deste, e conter o principal da letra de câmbio protestada, juros e
despesas legais (art. 422);
2 - Da letra de câmbio protestada e do protesto, ou de uma certidão autentica dele.
Sendo o resaque feito sobre um dos endossadores, deve mais a letra de
recambio ir acompanhada de documento que prove o curso do câmbio do lugar onde a letra
era pagável sobre o lugar onde foi sacada, ou sobre aquele em que se fez o embolso.
Não se poderá exigir o recambio, se a conta do retorno não for
acompanhada dos documentos referidos.
Art. 417 - O recambio, a respeito do sacador, será regulado pelo curso do câmbio
entre o lugar do saque e o lugar do pagamento; e em nenhum caso é aquele obrigado a pagar
mais alto curso.Revogado pelo Decreto do
Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
A respeito dos endossadores, será regulado o recambio pelo curso do lugar onde a letra de
câmbio foi por eles entregue ou negociada, e o lugar onde se fez o embolso.
Art. 418 - Não havendo curso de câmbio entre as diferentes Praças, o recambio
será regulado pelo curso do câmbio que a Praça mais vizinha tiver com o lugar onde o
resaque houver de ser pago, provado pela forma sobredita (art. 416).Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 419 - Os recambios não podem acumular-se: cada endossador suporta somente um
recambio, bem como o sacador.Revogado pelo
Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908:
Art. 420 - As letras de recambio devem ser sacadas na primeira ocasião que se
oferecer depois do protesto, não podendo nunca exceder do tempo que decorrer da tirada do
mesmo protesto até a saída do segundo paquete, correio ou navio que levar
correspondência para o lugar da residência do resacado (art. 371).Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 421 - Os resaques ou letras de recambio são negociáveis somente para a Praça onde
as letras originais foram sacadas ou negociadas (art. 385).Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Seção VIII
Disposições Gerais
Art. 422 - Todos os que sacam ou dão ordem para o saque, endossam ou aceitam letras de
câmbio, ou assinam como abonadores, ainda que não sejam comerciantes, são
solidariamente garantes das mesmas letras e obrigados ao seu pagamento, com juros, e
recambios havendo-os, e todas as despesas legais, como são, comissões, portes de cartas,
selos e protestos; com direito regressivo do ultimo endossador até o sacador, sempre que
a letra tiver sido apresentada ao sacado, e regularmente protestada (art. 381).Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 423 - Os juros da letra protestada por falta de pagamento devem-se do dia do
protesto, e os juros das despesas legais do dia em que estas se fizerem.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 424 - As contestações judiciais que respeitarem a atos de apresentação de
letras de câmbio, seu aceite, pagamento, protesto e notificação, serão decididas
segundo as Leis ou usos comerciais das Praças dos países, onde estes atos forem
praticados.Revogado pelo Decreto do Poder
Legislativo nº 2.044, 1908:
CAPÍTULO II
Das letras da terra, notas promissorias e créditos mercantis
Art. 425 - As letras da terra são em tudo iguais às letras de câmbio, com a
única diferença de serem passadas e aceitas na mesma Província.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 426 - As notas promissórias, e os escritos particulares ou créditos com
promessa ou obrigação de pagar quantia certa, e com prazo fixo, a pessoa determinada ou
ao portador, à ordem ou sem ela, sendo assinados por comerciante, serão reputados como
letras da terra, sem que com tudo o portador seja obrigado a protestar quando não sejam
pagos no vencimento; salvo se neles houver algum endosso.Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
Art. 427 - Tudo quanto neste Título fica estabelecido a respeito das letras de
câmbio, servirá de regra igualmente para as letras da terra, para as notas promissórias
e para os créditos mercantis, tanto quanto possa ser aplicável. Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº
2.044, 1908:
TÍTULO XVII
DOS MODOS PORQUE SE DISSOLVEM E EXTINGUEM AS OBRIGAÇÕES COMERCIAIS.
Capítulo I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 428 - As obrigações comerciais dissolvem-se por todos os meios que o direito civil
admite para a extinção e dissolução das obrigações em geral, com as modificações
deste Código.
Capítulo II
DOS PAGAMENTOS MERCANTIS
Art. 429 - O pagamento só é válido sendo feito ao próprio credor, ou a pessoa por ele
competentemente autorizada para receber.
Art. 430 - Na falta de ajuste de lugar deve o pagamento ser feito no domicílio do
devedor.
Art. 431 - O credor não pode ser obrigado a receber o pagamento em lugar diferente do
ajustado, nem antes do tempo do vencimento; nem a receber por parcelas o que for devido
por inteiro, salvo:
1 - Sendo ilíquida a quantia restante.
2 - Quando se devem somas e prestações distintas, ou provenientes de diversas causas ou
títulos.
3 - Se a obrigação é divisível por direito, como nas partilhas de credores, sócios ou
herdeiros.
4 - Nas execuções judiciais, quando os bens executados não chegam para o total
pagamento.
Se a dívida for em moeda metálica, na falta desta o pagamento pode ser efetuado na moeda
corrente do país, ao câmbio que correr no lugar e dia do vencimento; e se, havendo mora,
o câmbio descer, ao curso que tiver no dia em que o pagamento se efetuar; salvo tendo-se
estipulado expressamente que este deverá ser feito em certa e determinada espécie, e a
câmbio fixo.
Art. 432 - As verbas creditadas ao devedor em conta corrente assinada pelo credor, ou nos
livros comerciais deste (artigo nº. 23), fazem presumir o pagamento, ainda que a dívida
fosse contraída por escritura pública ou particular.
Art. 433 - Quando se deve por diversas causas ou títulos diferentes, e dos recibos ou
livros não consta a dívida a que se fez aplicação da quantia paga, presume-se o
pagamento feito:
1 - por conta de dívida líquida em concorrência com outra ilíquida;
2 - na concorrência de dívidas igualmente líquidas, por conta da que for mais onerosa;
3 - havendo igualdade na natureza dos débitos, imputar-se-á o pagamento na dívida mais
antiga;
4 - sendo as dívidas da mesma data e de igual natureza, entende-se feito o pagamento por
conta de todas em devida proporção;
5 - quando a dívida vence juros, os pagamentos por conta imputam-se primeiro nos juros,
quanto baste para solução dos vencidos.
Art. 434 - O credor, quando o devedor se não satisfaz com a simples entrega do título,
é obrigado a dar-lhe quitação ou recibo, por duas ou três vias se ele requerer mais de
uma.
A quitação ou recibo concebido em termos gerais sem reserva ou limitação, e quando
contém a cláusula de - ajuste final de contas, resto de maior quantia - ou outra
equivalente, presume-se que compreende todo e qualquer débito, que provenha de causa
anterior à data da mesma quitação ou recibo.
Art. 435 - Passando-se quitação geral a uma administração, não há lugar a
reclamação alguma contra esta; salvo provando-se erro de conta, dolo ou fraude.
Art. 436 - A solução ou pagamento feito por um terceiro desobriga o devedor; mas, se
este tinha interesse em que se não fizesse o pagamento, porque podia ilidir a ação do
credor por qualquer título, o pagamento do terceiro é julgado indevido e
incompetentemente feito, e não permite o direito e ação do credor contra o seu devedor.
Sendo o pagamento feito antes do vencimento, o cessionário sub rogado não pode acionar o
devedor senão depois de vencido o prazo.
Art. 437 - O devedor em cujo poder alguma quantia for embargada, e o comprador de alguma
coisa que esteja sujeita a algum encargo ou obrigação, fica desonerado, consignando o
preço ou a coisa em depósito judicial, com citação pessoal dos credores conhecidos e
edital para os desconhecidos.
A citação edital não prejudica o direito dos credores desconhecidos que tiverem
hipoteca na coisa vendida por tempo certo designado na lei ou no contrato, enquanto esse
prazo não expirar.
Capítulo III
DA NOVAÇÃO E COMPENSAÇÃO MERCANTIL
Art. 438 - Dá-se novação:
1 - Quando o devedor contrai com o credor uma nova obrigação que altera a natureza da
primeira.
2 - Quando um novo devedor substitui o antigo e este fica desobrigado.
3 - Quando por uma nova convenção se substitui um credor a outro, por efeito da qual o
devedor fica desobrigado do primeiro.
A novação desonera todos os coobrigados que nela não intervêm (artigo nº. 262).
Art. 439 - Se um comerciante é obrigado a outro por certa quantia de dinheiro ou efeitos,
e o credor é obrigado ou devedor a ele em outro tanto mais ou menos, sendo as dívidas
ambas igualmente líquidas e certas, ou os efeitos de igual natureza e espécie o devedor
que for pelo outro demandado tem direito para exigir que se faça compensação ou
encontro de uma dívida com a outra, em tanto quanto ambas concorrerem.
Art. 440 - Todavia, se um comerciante, sendo demandado pela entrega de certa quantia, ou
outro qualquer valor dado em guarda ou depósito alegar que o credor lhe é devedor de
outra igual quantia ou valor, não terá lugar a compensação, e será obrigado a
entregar o depósito; salvo se a sua dívida proceder de título igual.
TÍTULO XVIII
DA PRESCRIÇÃO
Art. 441 - Todos os prazos marcados neste Código para dentro deles se intentar alguma
ação ou protesto, ou praticar algum outro ato, são fatais e improrrogáveis, sem que
contra a sua prescrição se possa alegar reclamação ou benefício de restituição,
ainda que seja a favor de menores.
Além dos casos de prescrição especificados em diversos artigo deste Código (artigo
nºs 109, 211, 512, 527 e 618), também se dá prescrição nos de que tratam os
seguintes.
Art. 442 - Todas as ações fundadas sobre obrigações comerciais contraídas por
escritura pública ou particular, prescrevem não sendo intentadas dentro de 20 (vinte)
anos.
Art. 443 - As ações provenientes de letras prescrevem no fim de 5 (cinco) anos, a contar
da data do protesto e, na falta deste, da data do seu vencimento, nos termos do artigo
nº. 381.
Art. 444 - As ações de terceiro contra sócios não liquidantes, suas viúvas, herdeiros
ou sucessores, prescrevem no fim de 5 (cinco) anos, não tendo já prescrito por outro
título, a contar do dia do fim da sociedade, se o distrato houver sido lançado no
Registro do Comércio e se houverem feito os anúncios determinados no artigo nº. 337;
salvo se tais ações forem dependentes de outras propostas em tempo competente.
As ações dos sócios entre si reciprocamente e contra os liquidantes prescrevem, não
sendo a liquidação reclamada, dentro de 10 (dez) dias depois da sua comunicação
(artigo nº. 348).
Art. 445 - As dívidas provadas por contas correntes dadas e aceitas, ou por contas de
vendas de comerciante a comerciante presumidas líquidas (artigo nº. 219), prescrevem no
fim de 4 (quatro) anos da sua data.
Art. 446 - O direito para demandar o pagamento de mercadorias fiadas sem título escrito
assinado pelo devedor, prescreve no fim de 2 (dois) anos, sendo o devedor residente na
mesma Província do credor; no fim de 3 (três) anos, se for morador noutra Província; e
passados 4 (quatro) anos, se residir fora do Império.
A ação para demandar o cumprimento de qualquer obrigação comercial que se não possa
provar senão por testemunhas, prescreve dentro de 2 (dois) anos.
Art. 447 - As ações, resultantes de letras de dinheiro a risco ou seguro marítimo,
prescrevem no fim de 1 (um) ano a contar do dia em que as obrigações forem exeqüíveis
(artigo nºs 638, 660, e 667, nºs 9 e 10), sendo contraídas dentro do Império, e no fim
de 3 (três), tendo sido contraídas em país estrangeiro.
Art. 448 - As ações de salários, soldadas, jornais, ou pagamento de empreitadas contra
comerciantes, prescrevem no fim de 1 (um) ano, a contar do dia em que os agentes,
caixeiros ou operários tiverem saído do serviço do comerciante, ou a obra da empreitada
for entregue. Se, porém, as dívidas se provarem por títulos escritos, a prescrição
seguirá a natureza dos títulos.
Art. 449 - Prescrevem igualmente no fim de 1 (um) ano:
1 - As ações entre contribuintes para avaria grossa, se a sua regulação e rateio se
não intentar dentro de 1 (um) ano, a contar do fim da viagem em que teve lugar a perda.
2 - As ações por entrega da carga, a contar do dia em que findou a viagem.
3 - As ações de frete e primagem, estadias e sobreestadias, e as de avaria simples, a
contar do dia da entrega da carga.
4 - Os salários e soldadas da equipagem, a contar do dia em que findar a viagem.
5 - As ações por mantimentos supridos a marinheiros por ordem do capitão, a contar do
dia do recebimento.
6 - As ações por jornais de operários empregados em construção ou conserto de navio,
ou por obra de empreitada para o mesmo navio, a contar do dia em que os operários foram
despedidos ou a obra se entregou.
Em todos os casos prevenidos no nº 3 e seguintes, se a dívida se provar por obrigação
escrita e assinada pelo capitão, armador ou consignatário, a prescrição seguirá a
natureza do título escrito.
Art. 450 - Não corre prescrição a favor de depositário, nem de credor pignoratício,
prescreve, porém, a favor daquele, que, por algum título legal, suceder na coisa
depositada ou dada em penhor, no fim de 30 (trinta) anos, a contar do dia da posse do
sucessor, não se provando que é possuidor de má-fé.
Art. 451 - O capitão de navio não pode adquirir por título de prescrição a posse da
embarcação em que servir, nem de coisa a ela pertencente.
Art. 452 - Contra os que se acharem servindo nas armadas ou Exércitos Imperiais em tempo
de guerra, não correrá prescrição, enquanto a guerra durar, e 1 (um) ano depois.
Art. 453 - A prescrição interrompe-se por algum dos modos seguintes:
1 - Fazendo-se novação da obrigação, ou renovando-se o título primordial dela.
2 - Por via de citação judicial, ainda mesmo que tenha sido só para juízo
conciliatório.
3 - Por meio de protesto judicial, intimando pessoalmente ao devedor, ou por éditos ao
ausente de que se não tiver notícia.
A prescrição interrompida principia a correr de novo: no primeiro caso, da data da
novação, ou reforma do título; no segundo, da data do último termo judicial que se
praticar por efeito da citação; no terceiro, da data da intimação do protesto.
Art. 454 - A citação ou intimação de protesto feita a devedor ou herdeiro comum, não
interrompe a prescrição contra os mais co-réus da dívida. Excetuam-se os sócios,
contra os quais ficará interrompida a prescrição sempre que um dos sócios for
pessoalmente citado ou intimado do protesto.
Art. 455 - Aquele que possui por seus agentes, prepostos ou mandatários, pais, tutores ou
curadores, entende-se que possui por si.
Quem provar que possuía por si, ou por seus antepossuidores, ao tempo do começo da
prescrição, presume-se ter possuído sempre sem interrupção.
Art. 456 - O tempo para a prescrição de obrigações mercantis contraídas, e direitos
adquiridos anteriormente à promulgação do presente Código, será computado e regulado
na conformidade das disposições nele contidas, começando a contar-se o prazo da data da
mesma promulgação. Parte revogada pela Lei
10.406, de 10.1.2002
PARTE SEGUNDA - DO COMÉRCIO MARÍTIMO
TÍTULO I
DAS EMBARCAÇÕES
Art. 457 - Somente podem gozar das prerrogativas e favores concedidos a embarcações brasileiras, as que verdadeiramente pertencerem a súditos do Império, sem que algum estrangeiro nelas possua parte ou interesse.
Provando-se que alguma embarcação, registrada debaixo do nome de brasileiro, pertence no todo ou em parte a estrangeiro, ou que este tem nela algum interesse, será apreendida como perdida; e metade do seu produto aplicado para o denunciante, havendo-o, e a outra metade a favor do cofre do Tribunal do Comércio respectivo.
Os súditos brasileiros domiciliados em país estrangeiro não podem possuir embarcação brasileira; salvo se nela for comparte alguma casa comercial brasileira estabelecida no Império.
Art. 458 - Acontecendo que alguma embarcação brasileira passe por algum título domínio de estrangeiro no todo ou em parte, não poderá navegar com a natureza de propriedade brasileira, enquanto não for alienada a súdito do Império.
Art. 459 - É livre construir as embarcações pela forma e modo que mais conveniente parecer; nenhuma, porém, poderá aparelhar-se sem se reconhecer previamente, por vistoria feita na conformidade dos regulamentos do Governo, que se acha navegável.
O auto original da vistoria será depositado na secretaria do Tribunal do Comércio respectivo; e antes deste depósito nenhuma embarcação será admitida a registro.
Art. 460 - Toda embarcação brasileira destinada à navegação do alto mar, com exceção somente das que se empregarem exclusivamente nas pescarias das costas, deve ser registrada no Tribunal do Comércio do domicílio do seu proprietário ostensivo ou armador (artigo nº. 484), e sem constar do registro não será admitida a despacho.
Art. 461 - O registro deve conter:
1 - a declaração do lugar onde a embarcação foi construída, o nome do construtor, e a qualidade das madeiras principais;
2 - as dimensões da embarcação em palmos e polegadas; e a sua capacidade em toneladas, comprovadas por certidão de arqueação com referência à sua data;
3 - a armação de que usa, e quantas cobertas tem;
4 - o dia em que foi lançada ao mar;
5 - o nome de cada um dos donos ou compartes, e os seus respectivos domicílios;
6 - menção especificada do quinhão de cada comparte, se for de mais de um proprietário, e a época da sua respectiva aquisição, com referência à natureza e data do título, que deverá acompanhar a petição para o registro. O nome da embarcação registrada e do seu proprietário ostensivo ou armador serão publicados por anúncios nos periódicos do lugar.
Art. 462 - Se a embarcação for de construção estrangeira, além das especificações sobreditas, deverá declarar-se no registro a nação a que pertencia, o nome que tinha e o que tomou, e o título por que passou a ser de propriedade brasileira; podendo omitir-se, quando não conste dos documentos, o nome do construtor.
Art. 463 - O proprietário armador prestará juramento por si ou por seu procurador, nas mãos do presidente do tribunal, de que a sua declaração é verídica, e de que todos os proprietários da embarcação são verdadeiramente súditos brasileiros, obrigando-se por termo a não fazer uso ilegal do registro, e a entregá-lo dentro de 1 (um) ano no mesmo tribunal, no caso da embarcação ser vendida, perdida ou julgada incapaz de navegar; pena de incorrer na multa no mesmo termo declarada, que o tribunal arbitrará.
Nos lugares onde não houver Tribunal do Comércio, todas as diligências sobreditas serão praticadas perante o juiz de direito do comércio, que enviará ao tribunal competente as devidas participações, acompanhadas dos documentos respectivos.
Art. 464 - Todas as vezes que qualquer embarcação mudar de proprietário ou de nome, será o seu registro apresentado no Tribunal do Comércio respectivo para as competentes anotações.
Art. 465 - Sempre que a embarcação mudar de capitão, será esta alteração anotada no registro, pela autoridade que tiver a seu cargo a matrícula dos navios, no porto onde a mudança tiver lugar.
Art. 466 - Toda a embarcação brasileira em viagem é obrigada a ter a bordo:
1 - o seu registro (artigo nº . 460);
2 - o passaporte do navio;
3 - o rol da equipagem ou matrícula;
4 - a guia ou manifesto da Alfândega do porto brasileiro donde houver saído, feito na conformidade das leis, regulamentos e instruções fiscais;
5 - a carta de fretamento nos casos em que este tiver lugar, e os conhecimentos da carga existente a bordo, se alguma existir;
6 - os recibos das despesas dos portos donde sair, compreendidas as de pilotagem, ancoragem e mais direitos ou impostos de navegação;
7 - um exemplar do Código Comercial.
Art. 467 - A matrícula deve ser feita no porto do armamento da embarcação, e conter:
1 - os nomes do navio, capitão, oficiais e gente da tripulação, com declaração de suas idades, estado, naturalidade e domicílio, e o emprego de cada um a bordo;
2 - o porto da partida e o do destino, e a torna-viagem, se esta for determinada;
3 - as soldadas ajustadas, especificando-se, se são por viagem ou ao mês, por quantia certa ou a frete, quinhão ou lucro na viagem;
4 - as quantias adiantadas, que se tiverem pago ou prometido pagar por conta das soldadas;
5 - a assinatura do capitão, e de todos os oficiais do navio e mais indivíduos da tripulação que souberem escrever (artigo nºs 511 e 512).
Art. 468 - As alienações ou hipotecas de embarcações brasileiras destinadas à navegação do alto-mar, só podem fazer-se por escritura pública, na qual se deverá inserir o teor do seu registro, com todas as anotações que nele houver (artigo nºs 472 e 474); pena de nulidade.
Todos os aprestos, aparelhos e mais pertences existentes a bordo de qualquer navio ao tempo da sua venda, deverão entender-se compreendidos nesta, ainda que deles se não faça expressa menção; salvo havendo no contrato convenção em contrário.
Art. 469 - Vendendo-se algum navio em viagem, pertencem ao comprador os fretes que vencer nesta viagem; mas se na data do contrato o navio tiver chegado ao lugar do seu destino, serão do vendedor; salvo convenção em contrário.
Art. 470 - No caso de venda voluntária, a propriedade da embarcação passa para o comprador com todos os seus encargos; salvo os direitos dos credores privilegiados que nela tiverem hipoteca tácita. Tais são:
1 - os salários devidos por serviços prestados ao navio, compreendidos os de salvados e pilotagem;
2 - todos os direitos de porto e impostos de navegação;
3 - os vencimentos de depositários e despesas necessárias feitas na guarda do navio, compreendido o aluguel dos armazéns de depósito dos aprestos e aparelhos do mesmo navio;
4 - todas as despesas do custeio do navio e seus pertences, que houverem sido feitas para sua guarda e conservação depois da última viagem e durante a sua estadia no porto da venda;
5 - as soldadas do capitão, oficiais e gente da tripulação, vencidas na última viagem;
6 - o principal e prêmio das letras de risco tomadas pelo capitão sobre o casco e aparelho ou sobre os fretes (artigo nº. 651) durante a última viagem, sendo o contrato celebrado e assinado antes do navio partir do porto onde tais obrigações forem contraídas;
7 - o principal e prêmio de letras de risco, tomadas sobre o casco e aparelhos, ou fretes, antes de começar a última viagem, no porto da carga (artigo nº. 515);
8 - as quantias emprestadas ao capitão, ou dívidas por ele contraídas para o conserto e custeio do navio, durante a última viagem, com os respectivos prêmios de seguro, quando em virtude de tais empréstimos o capitão houver evitado firmar letras de risco (artigo nº. 515);
9 - faltas na entrega da carga, prêmios de seguro sobre o navio ou fretes, e avarias ordinárias, e tudo o que respeitar à última viagem somente.
Art. 471 - São igualmente privilegiadas, ainda que contraídas fossem anteriormente à última viagem:
1 - as dívidas provenientes do contrato da construção do navio e juros respectivos, por tempo de 3 (três) anos, a contar do dia em que a construção ficar acabada;
2 - as despesas do conserto do navio e seus aparelhos, e juros respectivos, por tempo dos 2 (dois) últimos anos, a contar do dia em que o conserto terminou.
Art. 472 - Os créditos provenientes das dívidas especificadas no artigo precedente, e nos nºs 4, 6, 7 e 8 do artigo nº. 470, só serão considerados como privilegiados quando tiverem sido lançados no Registro do Comércio em tempo útil (artigo nº. 10, nº 2) e as suas importâncias se acharem anotadas no registro da embarcação (artigo nº. 468).
As mesmas dívidas, sendo contraídas fora do Império, só serão atendidas achando-se autenticadas com o Visto - do respectivo cônsul.
Art. 473 - Os credores contemplados nos artigo nºs 470 e 471 preferem entre si pela ordem dos números em que estão colocados; as dívidas, contempladas debaixo do mesmo número e contraídas no mesmo porto, precederão entre si pela ordem em que ficam classificadas, e entrarão em concurso sendo de idêntica natureza; porém, se dívidas idênticas se fizerem por necessidade em outros portos, ou no mesmo porto a que voltar o navio, as posteriores preferirão às anteriores.
Art. 474 - Em seguimento dos créditos mencionados nos artigo nºs 470 e 471, são também privilegiados o preço da compra do navio não pago, e os juros respectivos, por tempo de 3 (três) anos, a contar da data do instrumento do contrato; contanto, porém, que tais créditos constem de documentos inscritos lançados no Registro do Comércio em tempo útil, e a sua importância se ache anotada no registro da embarcação.
Art. 475 - No caso de quebra ou insolvência do armador do navio, todos os créditos a cargo da embarcação, que se acharem nas precisas circunstâncias dos artigo nºs 470, 471 e 474, preferirão sobre o preço do navio a outros credores da massa.
Art. 476 - O vendedor de embarcação é obrigado a dar ao comprador uma nota por ele assinada de todos os créditos privilegiados a que a mesma embarcação possa achar-se obrigada (artigo nºs 470, 471 e 474), a qual deverá ser incorporada na escritura da venda em seguimento do registro da embarcação. A falta de declaração de algum crédito privilegiado induz presunção de má-fé da parte do vendedor, contra o qual o comprador poderá intentar a ação criminal que seja competente, se for obrigado ao pagamento de algum crédito não declarado.
Art. 477 - Nas vendas judiciais extingue-se toda a responsabilidade da embarcação para com todos e quaisquer credores, desde a data do termo da arrematação, e fica subsistindo somente sobre o preço, enquanto este se não levanta.
Todavia, se do registro do navio constar que este está obrigado por algum crédito privilegiado, o preço da arrematação será conservado em depósito, em tanto quanto baste para solução dos créditos privilegiados constantes do registro; e não poderá levantar-se antes de expirar o prazo da prescrição dos créditos privilegiados, ou se mostrar que estão todos pagos, ainda mesmo que o exeqüente seja credor privilegiado, salvo prestando fiança idônea; pena de nulidade do levantamento do depósito; competindo ao credor prejudicado ação para haver de quem indevidamente houver recebido, e de perdas e danos solidariamente contra o juiz e escrivão que tiverem passado e assinado a ordem ou mandado.
Art. 478 - Ainda que as embarcações sejam reputadas bens móveis, contudo, nas vendas judiciais, se guardarão as regras que as leis prescrevem para as arrematações dos bens de raiz; devendo as ditas vendas, além da afixação dos editais nos lugares públicos, e particularmente nas praças do comércio, ser publicadas por três anúncios insertos, com o intervalo de 8 (oito) dias, nos jornais do lugar, que habitualmente publicarem anúncios, e, não os havendo, nos do lugar mais vizinho.
Nas mesmas vendas, as custas judiciais do processo da execução e arrematação preferem a todos os créditos privilegiados.
Art. 479 - Enquanto durar a responsabilidade da embarcação por obrigações privilegiadas, pode esta ser embargada e detida, a requerimento de credores que apresentarem títulos legais (artigo nºs 470, 471 e 474), em qualquer porto do Império onde se achar, estando sem carga ou não tendo recebido a bordo mais da quarta parte da que corresponder à sua lotação; o embargo, porém, não será admissível achando-se a embarcação com os despachos necessários para poder ser declarada desimpedida, qualquer que seja o estado da carga; salvo se a dívida proceder de fornecimentos feitos no mesmo porto, e para a mesma viagem.
Art. 480 - Nenhuma embarcação pode ser embargada ou detida por dívida não privilegiada; salvo no porto da sua matrícula; e mesmo neste, unicamente nos casos em que os devedores são por direito obrigados a prestar caução em juízo, achando-se previamente intentadas as ações competentes.
Art. 481 - Nenhuma embarcação, depois de ter recebido mais da quarta parte da carga correspondente à sua lotação, pode ser embargada ou detida por dívidas particulares do armador, exceto se estas tiverem sido contraídas para aprontar o navio para a mesma viagem, e o devedor não tiver outros bens com que possa pagar; mas, mesmo neste caso, se mandará levantar o embargo, dando os mais compartes fiança pelo valor de seus respectivos quinhões, assinando o capitão termo de voltar ao mesmo lugar finda a viagem, e prestando os interessados na expedição fiança idônea à satisfação da dívida, no caso da embarcação não voltar por qualquer incidente, ainda que seja de força maior. O capitão que deixar de cumprir o referido termo responderá pessoalmente pela dívida, salvo o caso de força maior, e a sua falta será qualificada de barataria.
Art. 482 - Os navios estrangeiros surtos nos portos do Brasil não podem ser embargados nem detidos, ainda mesmo que se achem sem carga, por dívidas que não forem contraídas no território brasileiro em utilidade dos mesmos navios ou da sua carga; salvo provindo a dívida de letras de risco ou de câmbio sacadas em país estrangeiro no caso do artigo nº. 651, e vencidas em algum lugar do Império.
Art. 483 - Nenhum navio pode ser detido ou embargado, nem executado na sua totalidade por dívidas particulares de um comparte; poderá, porém, ter lugar a execução no valor do quinhão do devedor, sem prejuízo da livre navegação do mesmo navio, prestando os mais compartes fiança idônea.
TÍTULO II
DOS PROPRIETÁRIOS, COMPARTES E CAIXAS DE NAVIOS
Art. 484 - Todos os cidadãos brasileiros podem adquirir e possuir embarcações brasileiras; mas a sua armação e expedição só pode girar debaixo do nome e responsabilidade de um proprietário ou comparte, armador ou caixa, que tenha as qualidades requeridas para ser comerciante (artigo nºs 1 e 4).
Art. 485 - Quando os compartes de um navio fazem dele uso comum, esta sociedade ou parceria marítima regula-se pelas disposições das sociedades comerciais (Parte I, Título XV); salvo as determinações contidas no presente Título.
Art. 486 - Nas parcerias ou sociedades de navios, o parecer da maioria no valor dos interesses prevalece contra o da minoria nos mesmos interesses, ainda que esta seja representada pelo maior número de sócios e aquela por um só. Os votos computam-se na proporção dos quinhões; o menor quinhão será contado por um voto; no caso de empate decidirá a sorte, se os sócios não preferirem cometer a decisão a um terceiro.
Art. 487 - Achando-se um navio necessitado de conserto, e convindo neste a maioria, os sócios dissidentes, se não quiserem anuir, serão obrigados a vender os seus quinhões aos outros compartes, estimando-se o preço antes de principiar-se o conserto; se estes não quiserem comprar, proceder-se-á à venda em hasta pública.
Art. 488 - Se o menor número entender que a embarcação necessita de conserto e a maioria se opuser, a minoria tem direito para requerer que se proceda a vistoria judicial; decidindo-se que o conserto é necessário, todos os compartes são obrigados a contribuir para ele.
Art. 489 - Se algum comparte na embarcação quiser vender o seu quinhão, será obrigado a afrontar os outros parceiros; estes têm direito a preferir na compra em igualdade de condições, contanto que efetuem a entrega do preço à vista, ou o consignem em juízo no caso de contestação. Resolvendo-se a venda do navio por deliberação da maioria, a minoria pode exigir que se faça em hasta pública.
Art. 490 - Todos os compartes têm direito, de preferir no fretamento a qualquer terceiro, em igualdade de condições; concorrendo na preferência para a mesma viagem dois ou mais compartes, preferirá o que tiver maior parte de interesses na embarcação; no caso de igualdade de interesses decidirá a sorte; todavia, esta preferência não dá direito para exigir que se varie o destino da viagem acordada pela maioria.
Art. 491 - Toda a parceria ou sociedade de navio é administrada por um ou mais caixas, que representa em juízo e fora dele a todos os interessados, e os responsabiliza; salvo as restrições contidas no instrumento social, ou nos poderes do seu mandato, competentemente registrados (artigo nºs 10, nº 2).
Art. 492 - O caixa deve ser nomeado dentre os compartes; salvo se todos convierem na nomeação de pessoa estranha à parceria; em todos os casos é necessário que o caixa tenha as qualidades exigidas no artigo nº. 484.
Art. 493 - Ao caixa, não havendo estipulação em contrário, pertence nomear, ajustar e despedir o capitão e mais oficiais do navio, dar todas as ordens, e fazer todos os contratos relativos à administração, fretamento e viagens da embarcação; obrando sempre em conformidade do acordo da maioria e do seu mandato, debaixo de sua responsabilidade pessoal para com os compartes pelo que obrar contra o mesmo acordo, ou mandato.
Art. 494 - Todos os proprietários e compartes são solidariamente responsáveis pelas dívidas que o capitão contrair para consertar, habilitar e aprovisionar o navio; sem que esta responsabilidade possa ser ilidida, alegando-se que o capitão excedeu os limites das suas faculdades, ou instruções, se os credores provarem que a quantia pedida foi empregada a benefício do navio (artigo nº. 517). Os mesmos proprietários e compartes são solidariamente responsáveis pelos prejuízos que o capitão causar a terceiro por falta da diligência que é obrigado a empregar para boa guarda, acondicionamento e conservação dos efeitos recebidos a bordo (artigo nº. 519). Esta responsabilidade cessa, fazendo aqueles abandono do navio e fretes vencidos e a vencer na respectiva viagem. Não é permitido o abandono ao proprietário ou comparte que for ao mesmo tempo capitão do navio.
Art. 495 - O caixa é obrigado a dar aos proprietários ou compartes, no fim de cada viagem, uma conta da sua gestão, tanto relativa ao estado do navio e parceria, como da viagem finda, acompanhada dos documentos competentes, e a pagar sem demora o saldo líquido que a cada um couber; os proprietários ou compartes são obrigados a examinar a conta do caixa logo que lhes for apresentada, e a pagar sem demora a quota respectiva aos seus quinhões. A aprovação das contas do caixa dada pela maioria dos compartes do navio não obsta a que a minoria dos sócios intente contra eles as ações que julgar competentes.
TÍTULO III
DOS CAPITÃES OU MESTRES DE NAVIO
Art. 496 - Para ser capitão ou mestre de embarcação brasileira, palavras sinônimas neste Código para todos os efeitos de direito, requer-se ser cidadão brasileiro, domiciliado no Império, com capacidade civil para poder contratar validamente.
Art. 497 - O capitão é o comandante da embarcação; toda a tripulação lhe está sujeita, e é obrigada a obedecer e cumprir as suas ordens em tudo quanto for relativo ao serviço do navio.
Art. 498 - O capitão tem a faculdade de impor penas correcionais aos indivíduos da tripulação que perturbarem a ordem do navio, cometerem faltas de disciplina, ou deixarem de fazer o serviço que lhes competir; e até mesmo de proceder à prisão por motivo de insubordinação, ou de qualquer outro crime cometido a bordo, ainda mesmo que o delinqüente seja passageiro; formando os necessários processos, os quais é obrigado a entregar com os presos às autoridades competentes no primeiro porto do Império aonde entrar.
Art. 499 - Pertence ao capitão escolher e ajustar a gente da equipagem, e despedi-la, nos casos em que a despedida possa ter lugar (artigo nº. 555), obrando de conserto com o dono ou armador, caixa, ou consignatário do navio, nos lugares onde estes se acharem presentes. O capitão não pode ser obrigado a receber na equipagem indivíduo algum contra a sua vontade.
Art. 500 - O capitão que seduzir ou desencaminhar marinheiro matriculado em outra embarcação será punido com a multa de cem mil réis por cada indivíduo que desencaminhar, e obrigado a entregar o marinheiro seduzido, existindo a bordo do seu navio; e se a embarcação por esta falta deixar de fazer-se à vela, será responsável pelas estadias da demora.
Art. 501 - O capitão é obrigado a ter escrituração regular de tudo quanto diz respeito à administração do navio, e à sua navegação; tendo para este fim três livros distintos, encadernados e rubricados pela autoridade a cargo de quem estiver a matrícula dos navios; pena de responder por perdas e danos que resultarem da sua falta de escrituração regular.
Art. 502 - No primeiro, que se denominará - Livro da Carga - assentará diariamente as entradas e saídas da carga, com declaração específica das marcas e números dos volumes, nomes dos carregadores e consignatários, portos da carga e descarga, fretes ajustados, e quaisquer outras circunstâncias ocorrentes que possam servir para futuros esclarecimentos. No mesmo livro se lançarão também os nomes dos passageiros, com declaração do lugar do seu destino, preço e condições da passagem, e a relação da sua bagagem.
Art. 503 - O segundo livro será da - Receita e Despesa da Embarcação; e nele, debaixo de competentes títulos, se lançará, em forma de contas correntes, tudo quanto o capitão receber e despender respectivamente à embarcação; abrindo-se assento a cada um dos indivíduos da tripulação, com declaração de seus vencimentos, e de qualquer ônus a que se achem obrigados, e a cargo do que receberem por conta de suas soldadas.
Art. 504 - No terceiro livro, que será denominado - Diário da Navegação - se assentarão diariamente, enquanto o navio se achar em algum porto, os trabalhos que tiverem lugar a bordo, e os consertos ou reparos do navio. No mesmo livro se assentará também toda a derrota da viagem, notando-se diariamente as observações que os capitães e os pilotos são obrigados a fazer, todas as ocorrências interessantes à navegação, acontecimentos extraordinários que possam ter lugar a bordo, e com especialidade os temporais, e os danos ou avarias que o navio ou a carga possam sofrer, as deliberações que se tomarem por acordo dos oficiais da embarcação, e os competentes protestos.
Art. 505 - Todos os processos testemunháveis e protestos formados a bordo, tendentes a comprovar sinistros, avarias, ou quaisquer perdas, devem ser ratificados com juramento do capitão perante a autoridade competente do primeiro lugar onde chegar; a qual deverá interrogar o mesmo capitão, oficiais, gente da equipagem (artigo nº. 545, nº 7) e passageiros sobre a veracidade dos fatos e suas circunstâncias, tendo presente o Diário da Navegação, se houver sido salvo.
Art. 506 - Na véspera da partida do porto da carga, fará o capitão inventariar, em presença do piloto e contramestre, as amarras, âncoras, velames e mastreação, com declaração do estado em que se acharem. Este inventário será assinado pelo capitão, piloto e contramestre. Todas as alterações que durante a viagem sofrer qualquer dos sobreditos artigos serão anotadas no Diário da Navegação, e com as mesmas assinaturas.
Art. 507 - O capitão é obrigado a permanecer a bordo desde o momento em que começa a viagem de mar, até a chegada do navio a surgidouro seguro e bom porto; e a tomar os pilotos e práticos necessários em todos os lugares em que os regulamentos, o uso e prudência o exigirem; pena de responder por perdas e danos que da sua falta resultarem.
Art. 508 - É proibido ao capitão abandonar a embarcação, por maior perigo que se ofereça, fora do caso de naufrágio; e julgando-se indispensável o abandono, é obrigado a empregar a maior diligência possível para salvar todos os efeitos do navio e carga, e com preferência os papéis e livros da embarcação, dinheiro e mercadorias de maior valor. Se apesar de toda a diligência os objetos tirados do navio, ou os que nele ficarem se perderem ou forem roubados sem culpa sua, o capitão não será responsável
Art. 509 - Nenhuma desculpa poderá desonerar o capitão que alterar a derrota que era obrigado a seguir, ou que praticar algum ato extraordinário de que possa provir dano ao navio ou à carga, sem ter precedido deliberação tomada em junta composta de todos os oficiais da embarcação, e na presença dos interessados do navio ou na carga, se algum se achar a bordo. Em tais deliberações, e em todas as mais que for obrigado a tomar com acordo dos oficiais do navio, o capitão tem voto de qualidade, e até mesmo poderá obrar contra o vencido, debaixo de sua responsabilidade pessoal, sempre que o julgar conveniente.
Art. 510 - É proibido ao capitão entrar em porto estranho ao do seu destino; e, se ali for levado por força maior (artigo nº. 740), é obrigado a sair no primeiro tempo oportuno que se oferecer; pena de responder pelas perdas e danos que da demora resultarem ao navio ou à carga (artigo nº. 748).
Art. 511 - O capitão que entrar em porto estrangeiro é obrigado a apresentar-se ao cônsul do Império nas primeiras 24 (vinte quatro) horas úteis, e a depositar nas suas mãos a guia ou manifesto da Alfândega, indo de algum porto do Brasil, e à matrícula; e a declarar, e fazer anotar nesta pelo mesmo cônsul, no ato da apresentação, toda e qualquer alteração que tenha ocorrido sobre o mar na tripulação do navio; e antes da saída as que ocorrerem durante a sua estada no mesmo porto.
Quando a entrada for em porto do Império, o depósito do manifesto terá lugar na Alfândega respectiva, havendo-a, e o da matrícula na repartição onde esta se costuma fazer com as sobreditas declarações.
Art. 512 - Na volta da embarcação ao porto donde saiu, ou naquele onde largar o seu comando, é o capitão obrigado a apresentar a matrícula original na repartição encarregada da matrícula dos navios, dentro de 24 (vinte e quatro) horas úteis depois que der fundo, e a fazer as mesmas declarações ordenadas no artigo precedente. Passados 8 (oito) dias depois do referido tempo, prescreve qualquer ação de procedimento, que possa ter lugar contra o capitão por faltas por ele cometidas na matrícula durante a viagem.
O capitão que não apresentar todos os indivíduos matriculados, ou não fizer constar devidamente a razão da falta, será multado, pela autoridade encarregada da matrícula dos navios, em cem mil-réis por cada pessoa que apresentar de menos, com recurso para o Tribunal do Comércio competente.
Art. 513 - Não se achando presentes os proprietários, seus mandatários ou consignatários, incumbe ao capitão ajustar fretamentos, segundo as instruções que tiver recebido (artigo nº. 569).
Art. 514 - O capitão, nos portos onde residirem os donos, seus mandatários ou consignatários, não pode, sem autorização especial destes, fazer despesa alguma extraordinária com a embarcação.
Art. 515 - É permitido ao capitão em falta de fundos, durante a viagem, não se achando presente algum dos proprietários da embarcação, seus mandatários ou consignatários, e na falta deles algum interessado na carga, ou mesmo se, achando-se presentes, não providenciarem, contrair dívidas, tomar dinheiro a risco sobre o casco e pertences do navio e remanescentes dos fretes depois de pagas as soldadas, e até mesmo, na falta absoluta de outro recurso, vender mercadorias da carga, para o reparo ou provisão da embarcação; declarando nos títulos das obrigações que assinar a causa de que estas procedem (artigo nº. 517).
As mercadorias da carga que em tais casos se venderem serão pagas aos carregadores pelo preço que outras de igual qualidade obtiverem no porto da descarga, ou pelo que por arbitradores se estimar no caso da venda ter compreendido todas as da mesma qualidade (artigo nº. 621).
Art. 516 - Para poder ter lugar alguma das providências autorizadas no artigo precedente, é indispensável:
1 - Que o capitão prove falta absoluta de fundos em seu poder pertencentes à embarcação.
2 - Que não se ache presente o proprietário da embarcação, ou mandatário seu ou consignatário, e na falta algum dos interessados na carga; ou que, estando presentes, se dirigiu a eles e não providenciaram.
3 - Que a deliberação seja tomada de acordo com os oficiais da embarcação, lavrando-se no Diário da Navegação termo da necessidade da medida tomada (artigo nº. 504).
A justificação destes requisitos será feita perante o juiz de direito do comércio do porto onde se tomar o dinheiro a risco ou se venderem as mercadorias, e por ele julgada procedente, e nos portos estrangeiros perante os cônsules do Império.
Art. 517 - O capitão que, nos títulos ou instrumentos das obrigações procedentes de despesas por ele feitas para fabrico, habilitação ou abastecimento da embarcação, deixar de declarar a causa de que procedem, ficará pessoalmente obrigado para com as pessoas com quem contratar; sem prejuízo da ação que estas possam ter contra os donos do navio provando que as quantias devidas foram efetivamente aplicadas a benefício deste (artigo nº. 494).
Art. 518 - O capitão que tomar dinheiro sobre o casco do navio e seus pertences, empenhar ou vender mercadorias, fora dos casos em que por este Código lhe é permitido, e o que for convencido de fraude em suas contas, além das indenizações de perdas e danos, ficará sujeito à ação criminal que no caso couber.
Art. 519 - O capitão é considerado verdadeiro depositário da carga e de quaisquer efeitos que receber a bordo, e como tal está obrigado à sua guarda, bom acondicionamento e conservação, e à sua pronta entrega à vista dos conhecimentos (artigo nºs 586 e 587).
A responsabilidade do capitão a respeito da carga principia a correr desde o momento em que a recebe, e continua até o ato da sua entrega no lugar que se houver convencionado, ou que estiver em uso no porto da descarga.
Art. 520 - O capitão tem direito para ser indenizado pelos donos de todas as despesas necessárias que fizer em utilidade da embarcação com fundos próprios ou alheios, contanto que não tenha excedido as suas instruções, nem as faculdades que por sua natureza são inerentes à sua qualidade de capitão.
Art. 521 - É proibido ao capitão pôr carga alguma no convés da embarcação sem ordem ou consentimento por escrito dos carregadores; pena de responder pessoalmente por todo o prejuízo que daí possa resultar.
Art. 522 - Estando a embarcação fretada por inteiro, se o capitão receber carga de terceiro, o afretador tem direito a fazê-la desembarcar.
Art. 523 - O capitão, ou qualquer outro indivíduo da tripulação, que carregar na embarcação, ainda mesmo a pretexto de ser na sua câmara ou nos seus agasalhados, mercadoria de sua conta particular, sem consentimento por escrito do dono do navio ou dos afretadores, pode ser obrigado a pagar frete dobrado.
Art. 524 - O capitão que navega em parceria a lucro comum sobre a carga não pode fazer comércio algum por sua conta particular a não haver convenção em contrário; pena de correrem por conta dele todos os riscos e perdas, e de pertencerem aos demais parceiros os lucros que houver.
Art. 525 - É proibido ao capitão fazer com os carregadores ajustes públicos ou secretos que revertam em benefício seu particular, debaixo de qualquer título ou pretexto que seja; pena de correr por conta dele e dos carregadores, todo o risco que acontecer, e de pertencer ao dono do navio todo o lucro que houver.
Art. 526 - É obrigação do capitão resistir por todos os meios que lhe ditar a sua prudência a toda e qualquer violência que possa intentar- se contra a embarcação, seus pertences e carga; e se for obrigado a fazer entrega de tudo ou de parte, deverá munir-se com os competentes protestos e justificações no mesmo porto, ou no primeiro onde chegar (artigo nºs 504 e 505).
Art. 527 - O capitão não pode reter a bordo os efeitos da carga a título de segurança do frete; mas tem direito de exigir dos donos ou consignatários, no ato da entrega da carga, que depositem ou afiancem a importância do frete, avarias grossas e despesas a seu cargo; e na falta de pronto pagamento, depósito, ou fiança, poderá requerer embargo pelos fretes, avarias e despesas sobre as mercadorias da carga, enquanto estas se acharem em poder dos donos ou consignatários, ou estejam fora das estações públicas ou dentro delas; e mesmo para requerer a sua venda imediata, se forem de fácil deterioração, ou de guarda arriscada ou dispendiosa.
A ação de embargo prescreve passados 30 (trinta) dias a contar da data do último dia da descarga.
Art. 528 - Quando por ausência do consignatário, ou por se não apresentar o portador do conhecimento à ordem, o capitão ignorar a quem deva competentemente fazer a entrega, solicitará do juiz de direito do comércio, e onde o não houver da autoridade local a quem competir, que nomeie depositário para receber os gêneros, e pagar os fretes devidos por conta de quem pertencer.
Art. 529 - O capitão é responsável por todas as perdas e danos que, por culpa sua, omissão ou imperícia, sobrevierem ao navio ou à carga; sem prejuízo das ações criminais a que a sua malversação ou dolo possa dar lugar (artigo nº. 608).
O capitão é também civilmente responsável pelos furtos, ou quaisquer danos praticados a bordo pelos indivíduos da tripulação nos objetos da carga, enquanto esta se achar debaixo da sua responsabilidade.
Art. 530 - Serão pagas pelo capitão todas as multas que forem impostas à embarcação por falta de exata observância das leis e regulamentos das Alfândegas e polícia dos portos; e igualmente os prejuízos que resultarem de discórdias entre os indivíduos da mesma tripulação no serviço desta, se não provar que empregou todos os meios convenientes para as evitar.
Art. 531 - O capitão que, fora do caso de inavegabilidade legalmente provada, vender o navio sem autorização especial dos donos, ficará responsável por perdas e danos, além da nulidade da venda, e do procedimento criminal que possa ter lugar.
Art. 532 - O capitão que, sendo contratado para uma viagem certa, deixar de a concluir sem causa justificada, responderá aos proprietários, afretadores e carregadores pelas perdas e danos que dessa falta resultarem.
Em reciprocidade, o capitão, que sem justa causa for despedido antes de finda a viagem, será pago da sua soldada por inteiro, posto à custa do proprietário ou afretador no lugar onde começou a viagem, e indenizado de quaisquer vantagens que possa ter perdido pela despedida.
Pode, porém, ser despedido antes da viagem começada, sem direito a indenização, não havendo ajuste em contrário.
Art. 533 - Sendo a embarcação fretada para porto determinado, só pode o capitão negar-se a fazer a viagem, sobrevindo peste, guerra, bloqueio ou impedimento legítimo da embarcação sem limitação de tempo.
Art. 534 - Acontecendo falecer algum passageiro ou indivíduo da tripulação durante a viagem, o capitão procederá a inventário de todos os bens que o falecido deixar, com assistência dos oficiais da embarcação e de duas testemunhas, que serão com preferência passageiros, pondo tudo em boa arrecadação, e logo que chegar ao porto da saída fará entrega do inventário e bens às autoridades competentes.
Art. 535 - Finda a viagem, o capitão é obrigado a dar sem demora contas da sua gestão ao dono ou caixa do navio, com entrega do dinheiro que em si tiver, livros e todos os mais papéis. E o dono ou caixa é obrigado a ajustar as contas do capitão logo que as receber, e a pagar a soma que lhe for devida. Havendo contestação sobre a conta, o capitão tem direito para ser pago imediatamente das soldadas vencidas, prestando fiança de as repor, a haver lugar.
Art. 536 - Sendo o capitão o único proprietário da embarcação, será simultaneamente responsável aos afretadores e carregadores por todas as obrigações impostas aos capitães e aos armadores.
Art. 537 - Toda a obrigação pela qual o capitão, sendo comparte do navio, for responsável à parceria, tem privilégio sobre o quinhão e lucros que o mesmo tiver no navio e fretes.
TÍTULO IV
DO PILOTO E CONTRAMESTRE
Art. 538 - A habilitação e deveres dos pilotos e contramestres são prescritos nos regulamentos de Marinha.
Art. 539 - O piloto, quando julgar necessário mudar de rumo, comunicará ao capitão as razões, que assim o exigem; e se este se opuser, desprezando as suas observações, que em tal caso deverá renovar-lhe na presença dos mais oficiais do navio, lançará o seu protesto no Diário da Navegação (artigo nº. 504), o qual deverá ser por todos assinado, e obedecerá às ordens do capitão, sobre quem recairá toda a responsabilidade.
Art. 540 - O piloto, que, por imperícia, omissão ou malícia, perder o navio ou lhe causar dano, será obrigado a ressarcir o prejuízo que sofrer o mesmo navio ou a carga; além de incorrer nas penas criminais que possam ter lugar; a responsabilidade do piloto não exclui a do capitão nos casos do artigo nº. 529.
Art. 541 - Por morte ou impedimento do capitão recai o comando do navio no piloto, e na falta ou impedimento deste no contramestre, com todas as prerrogativas, faculdades, obrigações e responsabilidades inerentes ao lugar de capitão.
Art. 542 - O contramestre que, recebendo ou entregando fazendas, não exige e entrega ao capitão as ordens, recibos, ou outros quaisquer documentos justificativos do seu ato, responde por perdas e danos daí resultantes.
TÍTULO V
DO AJUSTE E SOLDADAS DOS OFICIAIS E GENTE DA TRIPULAÇÃO, SEUS DIREITOS E OBRIGAÇÕES
Art. 543 - O capitão é obrigado a dar às pessoas da tripulação, que o exigirem, uma nota por ele assinada, em que se declare a natureza do ajuste e preço da soldada, e a lançar na mesma nota as quantias que se forem pagando por conta. As condições do ajuste entre o capitão e a gente da tripulação, na falta de outro título do contrato, provam-se pelo rol da equipagem ou matrícula; subentendendo-se sempre compreendido no ajuste o sustento da tripulação.
Não constando pela matrícula, nem por outro escrito do contrato, o tempo determinado do ajuste, entende-se sempre que foi por viagem redonda ou de ida e volta ao lugar em que teve lugar a matrícula.
Art. 544 - Achando-se o Livro da Receita e Despesa do navio conforme à matrícula (artigo nº. 467), e escriturado com regularidade (artigo nº. 503), fará inteira fé para solução de quaisquer dúvidas que possam suscitar-se sobre as condições do contrato das soldadas; quanto, porém, às quantias entregues por conta, prevalecerão, em caso de dúvida, os assentos lançados nas notas de que trata o artigo precedente.
Art. 545 - São obrigações dos oficiais e gente da tripulação:
1 - ir para bordo prontos para seguir viagem no tempo ajustado; pena de poderem ser despedidos;
2 - não sair do navio nem passar a noite fora sem licença do capitão; pena de perdimento de 1 (um) mês de soldada;
3 - não retirar os seus efeitos de bordo sem serem visitados pelo capitão, ou pelo seu segundo, debaixo da mesma pena;
4 - obedecer sem contradição ao capitão e mais oficiais, nas suas respectivas qualidades, e abster-se de brigas; debaixo das penas declaradas nos artigo n os 498 e 555;
5 - auxiliar o capitão, em caso de ataque do navio, ou desastre sobrevindo à embarcação ou à carga, seja qual for a natureza do sinistro; pena de perdimento das soldadas vencidas;
6 - finda a viagem, fundear e desaparelhar o navio, conduzi-lo a surgidouro seguro, e amarrá-lo, sempre que o capitão o exigir; pena de perdimento das soldadas vencidas;
7 - prestar os depoimentos necessários para ratificação dos processos testemunháveis, e protestos formados a bordo (artigo nº. 505), recebendo pelos dias da demora uma indenização proporcional às soldadas que venciam; faltando a este dever não terão ação para demandar as soldadas vencidas.
Art. 546 - Os oficiais e quaisquer outros indivíduos da tripulação, que, depois de matriculados, abandonarem a viagem antes de começada, ou se ausentarem antes de acabada, podem ser compelidos com prisão ao cumprimento do contrato, a repor o que se lhes houver pago adiantado, e a servir 1 (um) mês sem receberem soldada.
Art. 547 - Se depois de matriculada a equipagem se romper a viagem no porto da matrícula por fato do dono, capitão, ou afretador, a todos os indivíduos da tripulação justos ao mês se abonará a soldada de 1 (um) mês, além da que tiverem vencido; aos que estiverem contratados por viagem abonar-se-á metade da soldada ajustada.
Se, porém, o rompimento da viagem tiver lugar depois da saída do porto da matrícula, os indivíduos justos ao mês têm direito a receber, não pelo tempo vencido, mas também pelo que seria necessário para regressarem ao porto da saída, ou para chegarem ao do destino, fazendo-se a conta por aquele que se achar mais próximo; aos contratados por viagem redonda se pagará como se a viagem se achasse terminada.
Tanto os indivíduos da equipagem justos por viagem, como os justos ao mês, têm direito a que se lhes pague a despesa da passagem do porto da despedida para aquele onde ou para onde se ajustarem, que for mais próximo. Cessa esta obrigação sempre que os indivíduos da equipagem podem encontrar soldada no porto da despedida.
Art. 548 - Rompendo-se a viagem por causa de força maior, a equipagem, se a embarcação se achar no porto do ajuste, só tem direito a exigir as soldadas vencidas.
São causas de força maior:
1 - declaração de guerra, ou interdito de comércio entre o porto da saída e o porto do destino da viagem;
2 - declaração de bloqueio do porto, ou peste declarada nele existente;
3 - proibição de admissão no mesmo porto dos gêneros carregados na embarcação;
4 - detenção ou embargo da embarcação (no caso de se não admitir fiança ou não ser possível dá-la), que exceda ao tempo de 90 (noventa) dias;
5 - inavegabilidade da embarcação acontecida por sinistro.
Art. 549 - Se o rompimento da viagem por causa de força maior acontecer achando-se a embarcação em algum porto de arribada, a equipagem contratada ao mês só tem direito a ser paga pelo tempo vencido desde a saída do porto até o dia em que for despedida, e a equipagem justa por viagem não tem direito a soldada alguma se a viagem não se conclui.
Art. 550 - No caso de embargo ou detenção, os indivíduos da tripulação justos ao mês vencerão metade de suas soldadas durante o impedimento, não excedendo este de 90 (noventa) dias; findo este prazo caduca o ajuste. Aqueles, porém, que forem justos por viagem redonda são obrigados a cumprir seus contratos até o fim da viagem.
Todavia, se o proprietário da embarcação vier a receber indenização pelo embargo ou detenção, será obrigado a pagar as soldadas por inteiro aos que forem justos ao mês, e aos de viagem redonda na devida proporção.
Art. 551 - Quando o proprietário, antes de começada a viagem, der à embarcação destino diferente daquele que tiver sido declarado no contrato, terá lugar novo ajuste; e os que se não ajustarem só terão direito a receber o vencido, ou a reter o que tiverem recebido adiantado.
Art. 552 - Se depois da chegada da embarcação ao porto do seu destino, e ultimada a descarga, o capitão, em lugar de fazer o seu retorno, fretar ou carregar a embarcação para ir a outro destino, é livre aos indivíduos da tripulação ajustarem-se de novo ou retirarem-se, não havendo no contrato estipulação em contrário.
Todavia, se o capitão, fora do Império, achar a bem navegar para outro porto livre, e nele carregar ou descarregar, a tripulação não pode despedir-se, posto que a viagem se prolongue além do ajuste; recebendo os indivíduos justos por viagem um aumento de soldada na proporção da prolongação.
Art. 553 - Sendo a tripulação justa a partes ou quinhão no frete, não lhe será devida indenização alguma pelo rompimento, retardação ou prolongação da viagem causada por força maior; mas se o rompimento, retardação ou prolongação provier de fato dos carregadores, terá parte nas indenizações que se concederem ao navio; fazendo-se a divisão entre os donos do navio e a gente da tripulação, na mesma proporção em que o frete deveria ser dividido.
Se o rompimento, retardação ou prolongação provier de fato do capitão ou proprietário do navio, estes serão obrigados às indenizações proporcionais respectivas. Quando a viagem for mudada para porto mais vizinho, ou abreviada por outra qualquer causa, os indivíduos da tripulação justos por viagem serão pagos por inteiro.
Art. 554 - Se alguém da tripulação depois de matriculado for despedido sem justa causa, terá direito de haver a soldada contratada por inteiro, sendo redonda, e se for ao mês far-se-á a conta pelo termo médio do tempo que costuma gastar-se nas viagens para o porto do ajuste. Em tais casos o capitão não tem direito para exigir do dono do navio as indenizações que for obrigado a pagar; salvo tendo obrado com sua autorização.
Art. 555 - São causas justas para a despedida:
1 - perpetração de algum crime, ou desordem grave que perturbe a ordem da embarcação, reincidência em insubordinação, falta de disciplina ou de cumprimento de deveres (artigo nº. 498);
2 - embriaguez habitual;
3 - ignorância do mister para que o despedido se tiver ajustado;
4 - qualquer ocorrência que o inabilite para desempenhar as suas obrigações, com exceção do caso prevenido no artigo nº. 560.
Art. 556 - Os oficiais e gente da tripulação podem despedir-se, antes de começada a viagem, nos casos seguintes:
1 - quando o capitão muda do destino ajustado (artigo nº. 551);
2 - se depois do ajuste o Império é envolvido em guerra marítima, ou há notícias certas de peste no lugar do destino;
3 - se assoldadados para ir em comboio, este não tem lugar;
4 - morrendo o capitão, ou sendo despedido.
Art. 557 - Nenhum indivíduo da tripulação pode intentar litígio contra o navio ou capitão, antes de terminada a viagem; todavia, achando-se o navio em bom porto, os indivíduos maltratados, ou a quem o capitão houver faltado com o devido sustento, poderão demandar a rescisão do contrato.
Art. 558 - Sendo a embarcação apresada, ou naufragando, a tripulação não tem direito às soldadas vencidas na viagem do sinistro, nem o dono do navio a reclamar as que tiver pago adiantadas.
Art. 559 - Se a embarcação aprisionada se recuperar achando-se ainda a tripulação a bordo, será esta paga de suas soldadas por inteiro.
Salvando-se do naufrágio alguma parte do navio ou da carga, a tripulação terá direito a ser paga das soldadas vencidas na última viagem, com preferência a outra qualquer dívida anterior, até onde chegar o valor da parte do navio que se puder salvar; e não chegando esta, ou se nenhuma parte se tiver salvado, pelos fretes da carga salva.
Entende-se última viagem, o tempo decorrido desde que a embarcação principiou a receber o lastro ou carga que tiver a bordo na ocasião do apresamento, ou naufrágio.
Se a tripulação estiver justa a partes, será paga somente pelos fretes dos salvados, e em devida proporção de rateio com o capitão.
Art. 560 - Não deixará de vencer a soldada ajustada qualquer indivíduo da tripulação que adoecer durante a viagem em serviço do navio, e o curativo será por conta deste; se, porém, a doença for adquirida fora do serviço do navio, cessará o vencimento da soldada enquanto ela durar, e a despesa do curativo será por conta das soldadas vencidas; e se estas não chegarem, por seus bens ou pelas soldadas que possam vir a vencer.
Art. 561 - Falecendo algum indivíduo da tripulação durante a viagem, a despesa do seu enterro será paga por conta do navio; e seus herdeiros têm direito à soldada devida até o dia do falecimento, estando justo ao mês; até o porto do destino se a morte acontecer em caminho para ele, sendo o ajuste por viagem; e à de ida e volta acontecendo em torna-viagem, se o ajuste for por viagem redonda.
Art. 562 - Qualquer que tenha sido o ajuste, o indivíduo da tripulação que for morto em defesa da embarcação será considerado como vivo para todos os vencimentos e quaisquer interesses que possam vir aos da sua classe, até que a mesma embarcação chegue ao porto do seu destino.
O mesmo benefício gozará o que for aprisionado em ato de defesa da embarcação, se esta chegar a salvamento.
Art. 563 - Acabada a viagem, a tripulação tem ação para exigir o seu pagamento dentro de 3 (três) dias depois de ultimada a descarga, com os juros da lei no caso de mora (artigo nº. 449, nº 4).
Ajustando-se os oficiais e gente da tripulação para diversas viagens, poderão, terminada cada viagem, exigir as soldadas vencidas.
Art. 564 - Todos os indivíduos da equipagem têm hipoteca tácita no navio e fretes para serem pagos das soldadas vencidas na última viagem com preferência a outras dívidas menos privilegiadas; e em nenhum caso o réu será ouvido sem depositar a quantia pedida.
Entender-se-á por equipagem ou tripulação para o dito efeito, e para todos os mais dispostos neste Título, o capitão, oficiais, marinheiros e todas as mais pessoas empregadas no serviço do navio, menos as sobrecargas.
Art. 565 - O navio e frete respondem para com os donos da carga pelos danos que sofrerem por delitos, culpa ou omissão culposa do capitão ou gente da tripulação, perpetrados em serviço do navio; salvas as ações dos proprietários da embarcação contra o capitão, e deste contra a gente da tripulação.
O salário do capitão e as soldadas da equipagem são hipoteca especial nestas ações.
TÍTULO VI
DOS FRETAMENTOS
Capítulo I
DA NATUREZA E FORMA DO CONTRATO DE FRETAMENTO E DAS CARTAS-PARTIDAS
Art. 566 - O contrato de fretamento de qualquer embarcação, quer seja na sua totalidade ou em parte, para uma ou mais viagens, quer seja à carga, colheita ou prancha. O que tem lugar quando o capitão recebe carga de quanto se apresentam, deve provar-se por escrito. No primeiro caso o instrumento, que se chama carta-partida ou carta de fretamento, deve ser assinado pelo fretador e afretador, e por quaisquer outras pessoas que intervenham no contrato, do qual se dará a cada uma das partes um exemplar; e no segundo, o instrumento chama-se conhecimento, e basta ser assinado pelo capitão e o carregador. Entende-se por fretador o que dá, e por afretador o que toma a embarcação a frete.
Art. 567 - A carta-partida deve enunciar:
1 - o nome do capitão e o do navio, o porte deste, a nação a que pertence, e o porto do seu registro (artigo nº. 460);
2 - o nome do fretador e o do afretador, e seus respectivos domicílios; se o fretamento for por conta de terceiro deverá também declarar-se o seu nome e domicílio;
3 - a designação da viagem, se é redonda ou ao mês, para uma ou mais viagens, e se estas são de ida e volta ou somente para ida ou volta, e finalmente se a embarcação se freta no todo ou em parte;
4 - o gênero e quantidade da carga que o navio deve receber, designada por toneladas, nºs, peso ou volume, e por conta de quem a mesma será conduzida para bordo, e deste para terra;
5 - o tempo da carga e descarga, portos de escala quando a haja, as estadias e sobre estadias ou demoras, e a forma por que estas se hão de vencer e contar;
6 - o preço do frete, quanto há de pagar-se de primagem ou gratificação, e de estadias e sobre estadias, e a forma, tempo e lugar do pagamento;
7 - se há lugares reservados no navio, além dos necessários para uso e acomodação do pessoal e material do serviço da embarcação;
8 - todas as mais estipulações em que as partes se acordarem.
Art. 568 - As cartas de fretamento devem ser lançadas no Registro do Comércio, dentro de 15 (quinze) dias a contar da saída da embarcação nos lugares da residência dos Tribunais do Comércio, e nos outros, dentro do prazo que estes designarem (artigo nº. 31).
Art. 569 - A carta de fretamento valerá como instrumento público tendo sido feita por intervenção e com assinatura de algum corretor de navios, ou na falta de corretor por tabelião que porte por fé ter sido passada na sua presença e de duas testemunhas com ele assinadas. A carta de fretamento que não for autenticada por alguma das duas referidas formas, obrigará as próprias partes mas não dará direito contra terceiro.
As cartas de fretamento assinadas pelo capitão valem ainda que este tenha excedido as faculdades das suas instruções; salvo o direito dos donos do navio por perdas e danos contra ele pelos abusos que cometer.
Art. 570 - Fretando-se o navio por inteiro, entende-se que fica somente reservada a câmara do capitão, os agasalhados da equipagem, e as acomodações necessárias para o material da embarcação.
Art. 571 - Dissolve-se o contrato de fretamento, sem que haja lugar a exigência alguma de parte a parte:
1 - Se a saída da embarcação for impelida, antes da partida, por força maior sem limitação de tempo.
2 - Sobrevindo, antes de principiada a viagem, declaração de guerra, ou interdito de comércio com o país para onde a embarcação é destinada, em conseqüência do qual o navio e a carga conjuntamente não sejam considerados como propriedade neutra.
3 - Proibição de exportação de todas ou da maior parte das fazendas compreendidas na carta de fretamento do lugar donde a embarcação deva partir, ou de importação no de seu destino.
4 - Declaração de bloqueio do porto da carga ou do seu destino, antes da partida do navio.
Em todos os referidos casos as despesas da descarga serão por conta do afretador ou carregadores.
Art. 572 - Se o interdito de comércio com o porto do destino do navio acontece durante a sua viagem, e se por este motivo o navio é obrigado a voltar com a carga, deve-se somente o frete pela ida, ainda que o navio tivesse sido fretado por ida e volta.
Art. 573 - Achando-se um navio fretado em lastro para outro porto onde deva carregar, dissolve-se o contrato, se chegando a esse porto sobrevier algum dos impedimentos designados nos artigo nºs 571 e 572, sem que possa ter lugar indenização alguma por nenhuma das partes, quer o impedimento venha só do navio, quer do navio e carga. Se, porém, o impedimento nascer da carga e não do navio, o afretador será obrigado a pagar metade do frete ajustado.
Art. 574 - Poderá igualmente rescindir-se o contrato de fretamento a requerimento do afretador, se o capitão lhe tiver ocultado a verdadeira bandeira da embarcação; ficando este pessoalmente responsável ao mesmo afretador por todas as despesas da carga e descarga, e por perdas e danos, se o valor do navio não chegar para satisfazer o prejuízo.
Capítulo II
DOS CONHECIMENTOS
Art. 575 - O conhecimento deve ser datado, e declarar:
1 - o nome do capitão, e o do carregador e consignatário (podendo omitir-se o nome deste se for à ordem), e o nome e porte do navio;
2 - a qualidade e a quantidade dos objetos da carga, suas marcas e números, anotados à margem;
3 - o lugar da partida e o do destino, com declaração das escalas, havendo-as;
4 - o preço do frete e primagem, se esta for estipulada, e o lugar e forma do pagamento;
5 - a assinatura do capitão (artigo nº. 577), e a do carregador.
Art. 576 - Sendo a carga tomada em virtude de carta de fretamento, o portador do conhecimento não fica responsável por alguma condição ou obrigação especial contida na mesma carta, se o conhecimento não tiver a cláusula - segundo a carta de fretamento.
Art. 577 - O capitão é obrigado a assinar todas as vias de um mesmo conhecimento que o carregador exigir, devendo ser todas do mesmo teor e da mesma data, e conter o número da via. Uma via ficará em poder do capitão, as outras pertencem ao carregador.
Se o capitão for ao mesmo tempo o carregador, os conhecimentos respectivos serão assinados por duas pessoas da tripulação a ele imediatas no comando do navio, e uma via será depositada nas mãos do armador ou do consignatário.
Art. 578 - Os conhecimentos serão assinados e entregues dentro de 24 (vinte e quatro) horas, depois de ultimada a carga, em resgate dos recibos provisórios; pena de serem responsáveis por todos os danos que resultarem do retardamento da viagem, tanto o capitão como os carregadores que houverem sido remissos na entrega dos mesmos conhecimentos.
Art. 579 - Seja qual for a natureza do conhecimento, não poderá o carregador variar a consignação por via de novos conhecimentos, sem que faça prévia entrega ao capitão de todas as vias que este houver assinado.
O capitão que assinar novos conhecimentos sem ter recolhido todas as vias do primeiro ficará responsável aos portadores legítimos que se apresentarem com alguma das mesmas vias.
Art. 580 - Alegando-se extravio dos primeiros conhecimentos, o capitão não será obrigado a assinar segundos, sem que o carregador preste fiança à sua satisfação pelo valor da carga neles declarada.
Art. 581 - Falecendo o capitão da embarcação antes de fazer-se à vela, ou deixando de exercer o seu ofício, os carregadores têm direito para exigir do sucessor que revalide com a sua assinatura os conhecimentos por aquele assinados, conferindo-se a carga com os mesmos conhecimentos; o capitão que os assinar sem esta conferência responderá pelas faltas; salvo se os carregadores convierem que ele declare nos conhecimentos que não conferiu a carga.
No caso de morte do capitão ou de ter sido despedido sem justa causa, serão pagas pelo dono do navio as despesas da conferência; mas se a despedida provier de fato do capitão, serão por conta deste.
Art. 582 - Se as fazendas carregadas não tiverem sido entregues por número, peso ou medida, ou no caso de haver dúvida na contagem, o capitão pode declarar nos conhecimentos, que o mesmo número, peso ou medida lhe são desconhecidos; mas se o carregador não convier nesta declaração deverá proceder-se a nova contagem, correndo a despesa por conta de quem a tiver ocasionado.
Convindo o carregador na sobredita declaração, o capitão ficará somente obrigado a entregar no porto da descarga os efeitos que se acharem dentro da embarcação pertencentes ao mesmo carregador, sem que este tenha direito para exigir mais carga; salvo se provar que houve desvio da parte do capitão ou da tripulação.
Art. 583 - Constando ao capitão que há diversos portadores das diferentes vias de um conhecimento das mesmas fazendas, ou tendo-se feito seqüestro, arresto ou penhora nelas, é obrigado a pedir depósito judicial, por conta de quem pertencer.
Art. 584 - Nenhuma penhora ou embargo de terceiro, que não for portador de alguma das vias de conhecimento, pode, fora do caso de reivindicação segundo as disposições deste Código (artigo nº. 874), nº 2), privar o portador do mesmo conhecimento da faculdade de requerer o depósito ou venda judicial das fazendas no caso sobredito; salvo o direito do exeqüente ou de terceiro opoente sobre o preço da venda.
Art. 585 - O capitão pode requerer o depósito judicial todas as vezes que os portadores de conhecimentos se não apresentarem para receber a carga imediatamente que ele der princípio à descarga, e nos casos em que o consignatário esteja ausente ou seja falecido.
Art. 586 - O conhecimento concebido nos termos enunciados no artigo nº. 575 faz inteira prova entre todas as partes interessadas na carga e frete, e entre elas e os seguradores; ficando salva a estes e aos donos do navio a prova em contrário.
Art. 587 - O conhecimento feito em forma regular (artigo nº 575) tem força e é acionável como escritura pública.
Sendo passado à ordem é transferível e negociável por via de endosso.
Art. 588 - Contra os conhecimentos só pode opor-se falsidade, quitação, embargo, arresto ou penhora e depósito judicial, ou perdimento dos efeitos carregados por causa justificada.
Art. 589 - Nenhuma ação entre o capitão e os carregadores ou seguradores será admissível em juízo se não for logo acompanhada do conhecimento original. A falta deste não pode ser suprida pelos recibos provisórios da carga; salvo provando-se que o carregador fez diligência para obtê-lo e que, fazendo-se o navio à vela sem o capitão o haver passado, interpôs competente protesto dentro dos primeiros 3 (três) dias úteis, contados da saída do navio, com intimação do armador, consignatário ou outro qualquer interessado, e na falta destes por editais; ou sendo a questão de seguros sobre sinistro acontecido no porto da carga, se provar que o mesmo sinistro aconteceu antes do conhecimento poder ser assinado.
Capítulo III
DOS DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO FRETADOR E AFRETADOR
Art. 590 - O fretador é obrigado a ter o navio prestes para receber a carga, e o afretador a efetuá-la no tempo marcado no contrato.
Art. 591 - Não se tendo determinado na carta de fretamento o tempo em que deve começar a carregar-se, entende-se que principia a correr desde o dia em que o capitão declarar que está pronto para receber a carga; se o tempo que deve durar a carga e a descarga não estiver fixado, ou quanto se há de pagar de primagem e estadias e sobreestadias, e o tempo e modo do pagamento, será tudo regulado pelo uso do porto onde uma ou outra deva efetuar-se.
Art. 592 - Vencido o prazo, e o das estadias e sobre estadias que se tiverem ajustado, e, na falta de ajuste, as do uso no porto da carga, sem que o afretador tenha carregado efeitos alguns, terá o capitão a escolha, ou de resilir do contrato e exigir do afretador metade do frete ajustado e primagem com estadias e sobre estadias, ou de empreender a viagem sem carga, e finda ela exigir dele o frete por inteiro e primagem, com as avarias que forem devidas, estadias e sobre estadias.
Art. 593 - Quando o afretador carrega só parte da carga no tempo aprazado, o capitão, vencido o tempo das estadias e sobre estadias, tem direito, ou de proceder a descarga por conta do mesmo afretador e pedir meio frete, ou de empreender a viagem com a parte da carga que tiver a bordo para haver o frete por inteiro no porto do seu destino, com as mais despesas declaradas no artigo antecedente.
Art. 594 - Renunciando o afretador ao contrato antes de começarem a correr os dias suplementares da carga, será obrigado a pagar metade do frete e primagem.
Art. 595 - Sendo o navio fretado por inteiro, o afretador pode obrigar o fretador a que faça sair o navio logo que tiver metido a bordo carga suficiente para pagamento do frete e primagem, estadias e sobre estadias, ou prestado fiança ao pagamento. O capitão neste caso não pode tomar carga de terceiro sem consentimento por escrito do afretador, nem recusar-se à saída; salvo por falta de prontificação do navio, que, segundo as cláusulas do fretamento, não possa ser imputável ao fretador.
Art. 596 - Tendo o fretador direito de fazer sair o navio sem carga ou só com parte dela (artigo nºs 592 e 593), poderá, para segurança do frete e de outras indenizações a que haja lugar, completar a carga por outros carregadores, independente de consentimento do afretador; mas o benefício do novo frete pertencerá a este.
Art. 597 - Se o fretador houver declarado na carta-partida maior capacidade daquela que o navio na realidade tiver, não excedendo da décima parte, o afretador terá opção para anular o contrato, ou exigir correspondente abatimento no frete, com indenização de perdas e danos; salvo se a declaração estiver conforme à lotação do navio.
Art. 598 - O fretador pode fazer descarregar à custa do afretador os efeitos que este introduzir no navio além da carga ajustada na carta de fretamento; salvo prestando-se aquele a pagar o frete correspondente, se o navio os puder receber.
Art. 599 - Os carregadores ou afretadores respondem pelos danos que resultarem, se, sem ciência e consentimento do capitão, introduzirem no navio fazendas, cuja saída ou entrada for proibida, e de qualquer outro fato ilícito que praticarem ao tempo da carga ou descarga; e, ainda que as fazendas sejam confiscadas, serão obrigados a pagar o frete e primagem por inteiro, e a avaria grossa.
Art. 600 - Provando-se que o capitão consentiu na introdução das fazendas proibidas, ou que, chegando ao seu conhecimento em tempo, as não fez descarregar, ou sendo informado depois da viagem começada as não denunciar no ato da primeira visita da Alfândega que receber a bordo no porto do seu destino, ficará solidariamente obrigado para com todos os interessados por perdas e danos que resultarem ao navio ou à carga, e sem ação para haver o frete, nem indenização alguma do carregador, ainda que esta se tenha estipulado.
Art. 601 - Estando o navio a frete de carga geral, não pode o capitão, depois que tiver recebido alguma parte da carga, recusar-se a receber a mais que se lhe oferecer por frete igual, não achando outro mais vantajoso; pena de poder ser compelido pelos carregadores dos efeitos recebidos a que se faça à vela com o primeiro vento favorável, e de pagar as perdas e danos que dá demora resultarem.
Art. 602 - Se o capitão, quando tomar frete à colheita ou à prancha, fixar o tempo durante o qual a embarcação estará à carga, findo o tempo marcado será obrigado a partir com o primeiro vento favorável; pena de responder pelas perdas e danos que resultarem do retardamento da viagem; salvo convindo na demora a maioria dos carregadores em relação ao valor do frete.
Art. 603 - Não tendo o capitão fixado o tempo da partida, é obrigado a sair com o primeiro vento favorável depois que tiver recebido mais de dois terços da carga correspondente à lotação do navio, se assim o exigir a maioria dos carregadores em relação ao valor do frete, sem que nenhum dos outros possa retirar as fazendas que tiver a bordo.
Art. 604 - Se o capitão, no caso do artigo antecedente, não puder obter mais de dois terços da carga dentro de 1 (um) mês depois que houver posto o navio a frete geral, poderá sub-rogar outra embarcação para transporte da carga que tiver a bordo, contanto que seja igualmente apta para fazer a viagem, pagando a despesa da baldeação da carga, e o aumento de frete e do prêmio do seguro; será, porém, lícito aos carregadores retirar de bordo as suas fazendas, sem pagar frete, sendo por conta deles a despesa de desarrumação e descarga, restituindo os recibos provisórios ou conhecimentos, e dando fiança pelos que tiverem remetido. Se o capitão não puder achar navio, e os carregadores não quiserem descarregar, será obrigado a sair 60 (sessenta) dias depois que houver posto o navio à carga, com a que tiver a bordo.
Art. 605 - Não tendo a embarcação capacidade para receber toda a carga contratada com diversos carregadores ou afretadores, terá preferência a que se achar a bordo, e depois a que tiver prioridade na data dos contratos; e se estes forem todos da mesma data haverá lugar a rateio, ficando o capitão responsável pela indenização dos danos causados.
Art. 606 - Fretando-se a embarcação para ir receber carga em outro porto, logo que lá chegar, deverá o capitão apresentar-se sem demora ao consignatário, exigindo dele que lhe declare por escrito na carta de fretamento o dia, mês e ano de sua apresentação; pena de não principiar a correr o tempo do fretamento antes da sua apresentação.
Recusando o consignatário fazer na carta de fretamento a declaração requerida, deverá protestar e fazer-lhe intimar o protesto, e avisar o afretador. Se passado o tempo devido para a carga, e o da demora ou de estadias e sobre estadias, o consignatário não tiver carregado o navio, o capitão, fazendo-o previamente intimar por via de novo protesto para efetuar a entrega da carga dentro do tempo ajustado, e não cumprindo ele, nem tendo recebido ordens do afretador, fará diligência para contratar carga por conta deste para o porto do seu destino; e com carga ou sem ela seguirá para ele, onde o afretador será obrigado a pagar-lhe o frete por inteiro com as demoras vencidas, fazendo encontro dos fretes da carga tomada por sua conta, se alguma houver tomado (artigo nº. 596).
Art. 607 - Sendo um navio embargado na partida, em viagem, ou no lugar da descarga, por fato ou negligência do afretador ou de algum dos carregadores, ficará o culpado obrigado, para com o fretador ou capitão e os mais carregadores, pelas perdas e danos que o navio ou as fazendas vierem a sofrer provenientes desse fato.
Art. 608 - O capitão é responsável ao dono do navio e ao afretador e carregadores por perdas e danos, se por culpa sua o navio for embargado ou retardado na partida, durante a viagem, ou no lugar do seu destino.
Art. 609 - Se antes de começada a viagem ou no curso dela, a saída da embarcação for impedida temporariamente por embargo ou força maior, subsistirá o contrato, sem haver lugar a indenizações de perdas e danos pelo retardamento. O carregador neste caso poderá descarregar os seus efeitos durante a demora, pagando a despesa, e prestando fiança de os tornar a carregar logo que cesse o impedimento, ou de pagar o frete por inteiro e estadias e sobre estadias, não os reembarcando.
Art. 610 - Se o navio não puder entrar no porto do seu destino por declaração de guerra, interdito de comércio, ou bloqueio, o capitão é obrigado a seguir imediatamente para aquele que tenha sido prevenido na sua carta de ordens. Não se achando prevenido, procurará o porto mais próximo que não estiver impedido; e daí fará os avisos competentes ao fretador e afretadores, cujas ordens deve esperar por tanto tempo quanto seja necessário para receber a resposta. Não recebendo esta, o capitão deve voltar para o porto da saída com a carga.
Art. 611 - Sendo arrestado um navio no curso da viagem por ordem de uma potência, nenhum frete será devido pelo tempo da detenção sendo fretado ao mês, nem aumento de frete se for por viagem. Quando o navio for fretado para 2 (dois) ou mais portos e acontecer que em um deles se saiba ter sido declarada guerra contra a potência a que pertence o navio ou a carga, o capitão, se nem esta nem aquele forem livres, quando não possa partir em comboio ou por algum outro modo seguro, deverá ficar no porto da notícia até receber ordens do dono do navio ou do afretador. Se só o navio não for livre, o fretador pode resilir do contrato, com direito ao frete vencido, estadias e sobre estadias e avaria grossa, pagando as despesas da descarga. Se, pelo contrário, só a carga não for livre, o afretador tem direito para rescindir o contrato, pagando a despesa da descarga, e o capitão procederá na conformidade dos artigo nºs 592 e 596.
Art. 612 - Sendo o navio obrigado a voltar ao porto da saída, ou a arribar a outro qualquer por perigo de piratas ou de inimigos, podem os carregadores ou consignatários convir na sua total descarga, pagando as despesas desta e o frete da ida por inteiro, e prestando a fiança determinada no artigo nº. 609. Se o fretamento for ao mês, o frete é devido somente pelo tempo que o navio tiver sido empregado.
Art. 613 - Se o capitão for obrigado a consertar a embarcação durante a viagem, o afretador, carregadores, ou consignatários, não querendo esperar pelo conserto, podem retirar as suas fazendas pagando todo o frete, estadias e sobre estadias e avaria grossa, havendo-a, as despesas da descarga e desarrumação.
Art. 614 - Não admitindo o navio conserto, o capitão é obrigado a fretar por sua conta, e sem poder exigir aumento algum do frete, uma ou mais embarcações para transportar a carga ou lugar do destino. Se o capitão não puder fretar outro ou outros navios dentro de 60 (sessenta) dias depois que o navio for julgado inavegável, e quando o conserto for impraticável, deverá requerer depósito judicial da carga e interpor os competentes protestos para sua ressalva; neste caso o contrato ficará resciso, e somente se deverá o frete vencido. Se, porém, os afretadores ou carregadores provarem que o navio condenado por incapaz estava inavegável quando se fez à vela, não serão obrigados a frete algum, e terão ação de perdas e danos contra o fretador. Esta prova é admissível não obstante e contra os certificados da visita da saída.
Art. 615 - Ajustando-se os fretes por peso, sem se designar se é líquido ou bruto, deverá entender-se que é peso bruto; compreendendo-se nele qualquer espécie de capa, caixa ou vasilha em que as fazendas se acharem acondicionadas.
Art. 616 - Quando o frete for justo por número, peso ou medida, e houver condição de que a carga será entregue no portaló do navio, o capitão tem direito de requerer que os efeitos sejam contados, medidos ou pesados a bordo do mesmo navio antes da descarga; e procedendo-se a esta diligência não responderá por faltas que possam aparecer em terra; se, porém, as fazendas se descarregarem sem se contarem, medirem ou pesarem, o consignatário terá direito de verificar em terra a identidade, número, medição ou peso, e o capitão será obrigado a conformar-se com o resultado desta verificação.
Art. 617 - Nos gêneros que por sua natureza são suscetíveis de aumento ou diminuição, independentemente de má arrumação ou falta de estiva, ou de defeito no vasilhame, como é, por exemplo, o sal, será por conta do dono qualquer diminuição ou aumento que os mesmos gêneros tiverem dentro do navio; e em um e outro caso deve-se frete do que se numerar, medir ou pesar no ato da descarga.
Art. 618 - Havendo presunção de que as fazendas foram danificadas, roubadas ou diminuídas, o capitão é obrigado, e o consignatário e quaisquer outros interessados têm direito a requerer que sejam judicialmente visitadas e examinadas, e os danos estimados a bordo antes da descarga, ou dentro em 24 (vinte e quatro) horas depois; e ainda que este procedimento seja requerido pelo capitão não prejudicará os seus meios de defesa.
Se as fazendas forem entregues sem o referido exame, os consignatários têm direito de fazer proceder a exame judicial no preciso termo de 48 (quarenta e oito) horas depois da descarga; e passado este prazo não haverá mais lugar a reclamação alguma.
Todavia, não sendo a avaria ou diminuição visível por fora, o exame judicial poderá validamente fazer-se dentro de 10 (dez) dias depois que as fazendas passarem às mãos dos consignatários, nos termos do artigo nº 211.
Art. 619 - O capitão ou fretador não pode reter fazendas no navio a pretexto de falta de pagamento de frete, avaria grossa ou despesas; poderá, porém, precedendo competente protesto, requerer o depósito de fazendas equivalentes, e pedir venda delas, ficando-lhe direito salvo pelo resto contra o carregador, no caso de insuficiência do depósito.
A mesma disposição tem lugar quando o consignatário recusa receber a carga.
Nos dois referidos casos, se a avaria grossa não puder ser regulada imediatamente, é lícito ao capitão exigir o depósito judicial da soma que se arbitrar.
Art. 620 - O capitão que entregar fazendas antes de receber o frete, avaria grossa e despesas, sem pôr em prática os meios do artigo precedente, ou os que lhe facultarem os leis ou usos do lugar da descarga, não terá ação para exigir o pagamento do carregador ou afretador, provando este que carregou as fazendas por conta de terceiro.
Art. 621 - Pagam frete por inteiro as fazendas que se deteriorarem por avaria, ou diminuírem, por mau acondicionamento das vasilhas, caixas, capas ou outra qualquer cobertura em que forem carregadas, provando o capitão que o dano não procedeu de falta de arrumação ou de estiva (artigo nº. 624).
Pagam igualmente frete por inteiro as fazendas que o capitão é obrigado a vender nas circunstâncias previstas no artigo nº. 515.
O frete das fazendas alijadas para salvação comum do navio e da carga abona-se por inteiro como avaria grossa (artigo nº. 764).
Art. 622 - Não se deve frete das mercadorias perdidas por naufrágio ou varação, roubo de piratas ou presa de inimigo, e, tendo-se pago adiantado, repete-se; salvo convenção em contrário.
Todavia, resgatando-se o navio e fazendas, ou salvando-se do naufrágio, deve-se o frete correspondente até o lugar da presa, ou naufrágio; e será pago por inteiro se o capitão conduzir as fazendas salvas até o lugar do destino, contribuindo este ao fretador por avaria grossa no dano, ou resgate.
Art. 623 - Salvando-se no mar ou nas praias, sem cooperação da tripulação, fazendas que fizeram parte da carga, e sendo depois de salvas entregues por pessoas estranhas, não se deve por elas frete algum.
Art. 624 - O carregador não pode abandonar as fazendas ao frete. Todavia pode ter lugar o abandono dos líquidos, cujas vasilhas se achem vazias ou quase vazias.
Art. 625 - A viagem para todos os efeitos do vencimento de fretes, se outra coisa se não ajustar, começa a correr desde o momento em que a carga fica debaixo da responsabilidade do capitão.
Art. 626 - Os fretes e avarias grossas têm hipoteca tácita e especial nos efeitos que fazem objeto da carga, durante 30 (trinta) dias depois da entrega, se antes desse termo não houverem passado para o domínio de terceiro.
Art. 627 - A dívida de fretes, primagem, estadias e sobre estadias, avarias e despesas da carga prefere a todas as outras sobre o valor dos efeitos carregados; salvo os casos, de que trata o artigo nº. 470, nº 1.
Art. 628 - O contrato de fretamento de um navio estrangeiro exeqüível no Brasil, há de ser determinado e julgado pelas regras estabelecidas neste Código, quer tenha sido ajustado dentro do Império, quer em país estrangeiro.
Capítulo IV
DOS PASSAGEIROS
Art. 629 - O passageiro de um navio deve achar-se a bordo no dia e hora que o capitão designar, quer no porto da partida, quer em qualquer outro de escala ou arribada; pena de ser obrigado ao pagamento do preço da sua passagem por inteiro, se o navio se fizer de vela sem ele.
Art. 630 - Nenhum passageiro pode transferir a terceiro, sem consentimento do capitão, o seu direito de passagem.
Resilindo o passageiro do contrato antes da viagem começada, o capitão tem direito à metade do preço da passagem; e ao pagamento por inteiro, se aquele a não quiser continuar depois de começada.
Se o passageiro falecer antes da viagem começada, deve-se só metade do preço da passagem.
Art. 631 - Se a viagem for suspensa ou interrompida por causa de força maior, no porto da partida, rescinde-se o contrato, sem que nem o capitão nem o passageiro tenham direito a indenização alguma; tendo lugar a suspensão ou interrupção em outro qualquer porto de escala ou arribada, deve somente o preço correspondente à viagem feita.
Interrompendo-se a viagem depois de começada por demora de conserto do navio, o passageiro pode tornar passagem em outro, pagando o preço correspondente à viagem feita. Se quiser esperar pelo conserto, o capitão não é obrigado ao seu sustento; salvo se o passageiro não encontrar outro navio em que comodamente se possa transportar, ou o preço da nova passagem exceder o da primeira, na proporção da viagem andada.
Art. 632 - O capitão tem hipoteca privilegiada para pagamento do preço da passagem em todos os efeitos que o passageiro tiver a bordo, e direito de os reter enquanto não for pago. O capitão só responde pelo dano sobrevindo aos efeitos que o passageiro tiver a bordo debaixo da sua imediata guarda, quando o dano provier de fato seu ou da tripulação.
TÍTULO VII
DO CONTRATO DE DINHEIRO A RISCO OU CÂMBIO MARÍTIMO
Art. 633 - O contrato de empréstimo a risco ou câmbio marítimo, pelo qual o dador estipula do tomador um prêmio certo e determinado por preço dos riscos de mar que toma sobre si, ficando com hipoteca especial no objeto sobre que recai o empréstimo, e sujeitando-se a perder o capital e prêmio se o dito objeto vier a perecer por efeito dos riscos tomados no tempo e lugar convencionados, só pode provar-se por instrumento público ou particular, o qual será registrado no Tribunal do Comércio dentro de 8 (oito) dias da data da escritura ou letra. Se o contrato tiver lugar em país estrangeiro por súditos brasileiros, o instrumento deverá ser autenticado com o - visto - do cônsul do Império, se aí o houver, e em todo o caso anotado no verso do registro da embarcação, se versar sobre o navio ou fretes. Faltando no instrumento do contrato alguma das sobreditas formalidades, ficará este subsistindo entre as próprias partes, mas não estabelecerá direitos contra terceiro.
É permitido fazer empréstimo a risco não só em dinheiro, mas também em efeitos próprios para o serviço e consumo do navio, ou que possam ser objeto de comércio; mas em tais casos a coisa emprestada deve ser estimada em valor fixo para ser paga com dinheiro.
Art. 634 - O instrumento do contrato de dinheiro a risco deve declarar:
1 - A data e o lugar em que o empréstimo se faz.
2 - O capital emprestado, e o preço do risco, aquele e este especificados separadamente.
3 - O nome do dador e o do tomador, com o do navio e o do seu capitão.
4 - O objeto ou efeito sobre que recai o empréstimo.
5 - Os riscos tomados, com menção específica de cada um.
6 - Se o empréstimo tem lugar por uma ou mais viagens, qual a viagem, e por que termo.
7 - A época do pagamento por embolso, e o lugar onde deva efetuar- se.
8 - Qualquer outra cláusula em que as partes convenham, contanto que não seja oposta à natureza deste contrato, ou proibida por lei.
O instrumento em que faltar alguma das declarações enunciadas será considerado como simples crédito de dinheiro de empréstimo ao prêmio da lei, sem hipoteca nos efeitos sobre que tiver sido dada, nem privilégio algum.
Art. 635 - A escritura ou letra de risco exarada à ordem tem força de letra de câmbio contra o tomador e garantes, e é transferível e exeqüível por via de endosso, com os mesmos direitos e pelas mesmas ações que as letras de câmbio.
O cessionário toma o lugar de endossador, tanto a respeito do capital como do prêmio e dos riscos, mas a garantia da solvabilidade do tomador é restrita ao capital; salvo condição em contrário quanto ao prêmio.
Art. 636 - Não sendo a escritura ou letra de risco passada à ordem, só pode ser transferida por cessão, com as mesmas formalidades e efeitos das cessões civis, sem outra responsabilidade da parte do cedente, que não seja a de garantir a existência da dívida.
Art. 637 - Se no instrumento do contrato se não tiver feito menção específica dos riscos com reserva de algum, ou deixar de se estipular o tempo, entende-se que o dador do dinheiro tomará sobre si todos aqueles riscos marítimos, e pelo mesmo tempo que geralmente costumam receber os seguradores.
Art. 638 - Não se declarando na escritura ou letra de risco que o empréstimo é só por ida ou só por volta, ou por uma e outra, o pagamento, recaindo o empréstimo sobre fazendas, é exeqüível no lugar do destino destas, declarado nos conhecimentos ou fretamento, e se recair sobre o navio, no fim de 2 (dois) meses depois da chegada ao porto do destino, se não aparelhar de volta.
Art. 639 - O empréstimo a risco pode recair:
1 - sobre o casco, fretes e pertences do navio;
2 - sobre a carga;
3 - sobre a totalidade destes objetos, conjunta ou separadamente, ou sobre uma parte determinada de cada um deles.
Art. 640 - Recaindo o empréstimo a risco sobre o casco e pertences do navio, abrange na sua responsabilidade o frete da viagem respectiva.
Quando o contrato é celebrado sobre o navio e carga, o privilégio do dador é solidário sobre uma e outra coisa.
Se o empréstimo for feito sobre a carga ou sobre um objeto determinado do navio ou da carga, os seus efeitos não se estendem além desse objeto ou da carga.
Art. 641 - Para o contrato surtir o seu efeito legal, é necessário que exista dentro do navio no momento do sinistro a importância da soma dada de empréstimo a risco, em fazendas ou no seu equivalente.
Art. 642 - Quando o objeto sobre que se toma dinheiro a risco não chega a pôr-se efetivamente em risco por não se efetuar a viagem, rescinde se o contrato; e o dador neste caso tem direito para haver o capital com os juros da lei desde o dia da entrega do dinheiro ao tomador, sem outro algum prêmio, e goza do privilégio de preferência quanto ao capital somente.
Art. 643 - O tomador que não carregar efeitos no valor total da soma tomada a risco é obrigado a restituir o remanescente ao dador antes da partida do navio, ou todo se nenhum empregar; e se não restituir, dá-se ação pessoal contra o tomador pela parte descoberta, ainda que a parte coberta ou empregada venha a perder-se (artigo nº. 655). O mesmo terá lugar quando o dinheiro a risco for tomado para habilitar o navio, se o tomador não chegar a fazer uso dele ou da coisa estimável, em todo ou em parte.
Art. 644 - Quando no instrumento de risco sobre fazendas houver a faculdade de - tocar fazer escala - ficam obrigados ao contrato, não só o dinheiro carregado em espécie para ser empregado na viagem, e as fazendas carregadas no lugar da partida, mas também as que forem carregadas em retorno por conta do tomador, sendo o contrato feito de ida e volta; e o tomador neste caso tem faculdade de trocá-las ou vendê-las e comprovar outras em todos os portos de escala.
Art. 645 - Se ao tempo do sinistro parte dos efeitos objeto de risco já se achar em terra, a perda do dador será reduzida ao que tiver ficado dentro do navio; e se os efeitos salvos forem transportados em outro navio para o porto do destino originário (artigo nº. 614), neste continuam os riscos do dador.
Art. 646 - O dador a risco sobre efeitos carregados em navio nominativamente designado no contrato não responde pela perda desses efeitos, ainda mesmo que seja acontecida por perigo de mar, se forem transferidos ou baldeados para outro navio, salvo provando-se legalmente que a baldeação tivera lugar por força maior.
Art. 647 - Em caso de sinistro, salvando-se alguns efeitos da carga objeto de risco, a obrigação do pagamento de dinheiro a risco fica reduzida ao valor dos mesmos objetos estimado pela forma determinada nos artigo nºs 694 e segs. O dador neste caso tem direito para ser pago do principal e prêmio por esse mesmo valor até onde alcançar, deduzidas as despesas de salvados, e as soldadas vencidas nessa viagem.
Sendo o dinheiro dado sobre o navio, o privilégio do dador compreende não só os fragmentos náufragos do mesmo navio, mas também o frete adquirido pelas fazendas salvas, deduzidas as despesas de salvados, e as soldadas vencidas na viagem respectiva, não havendo dinheiro a risco ou seguro especial sobre esse frete.
Art. 648 - Havendo sobre o mesmo navio ou sobre a mesma carga um contrato de risco e outro de seguro (artigo nº. 650), o produto dos efeitos salvos será dividido entre o segurador e o dador a risco pelo seu capital somente na proporção de seus respectivos interesses.
Art. 649 - Não precedendo ajuste em contrário, o dador conserva seus direitos íntegros contra o tomador, ainda mesmo que a perda ou dano da coisa objeto do risco provenha de alguma das causas enumeradas no artigo nº 711.
Art. 650 - Quando alguns, mas não todos os riscos, ou uma parte somente do navio ou da carga se acham seguros, pode contrair-se empréstimo a risco pelos riscos ou parte não segura até à concorrência do seu valor por inteiro (artigo nº. 682).
Art. 651 - As letras mercantis provenientes de dinheiro recebido pelos capitães para despesas indispensáveis do navio ou da carga nos termos dos artigo nºs. 515 e 516, e os prêmios do seguro correspondente, quando a sua importância houver sido realmente segurada, têm o privilégio de letras de empréstimo a risco, se contiverem declaração expressa de que o importe foi destinado para as referidas despesas; e são exeqüíveis, ainda mesmo que tais objetos se percam por qualquer evento posterior, provando o dador que o dinheiro foi efetivamente empregado em beneficio do navio ou da carga (artigo nºs 515 e 517).
Art. 652 - O empréstimo de dinheiro a risco sobre o navio tomado pelo capitão no lugar do domicílio do dono, sem autorização escrita deste, produz ação e privilégio somente na parte que o capitão possa ter no navio e frete; e não obriga o dono, ainda mesmo que se pretenda provar que o dinheiro foi aplicado em beneficio da embarcação.
Art. 653 - O empréstimo a risco sobre fazendas, contraído antes da viagem começada, deve ser mencionado nos conhecimentos e no manifesto da carga, com designação da pessoa à quem o capitão deve participar a chegada feliz no lugar do destino. Omitida aquela declaração, o consignatário, tendo aceitado letras de câmbio, ou feito adiantamento na fé dos conhecimentos, preferirá ao portador da letra de risco. Na falta de designação a quem deva participar a chegada, o capitão pode descarregar as fazendas, sem responsabilidade alguma pessoal para com o portador da letra de risco.
Art. 654 - Se entre o dador a risco e o capitão se der algum conluio por cujo meio os armadores ou carregadores sofram prejuízo, será este indenizado solidariamente pelo dador e pelo capitão, contra os quais poderá intentar-se a ação criminal que competente seja.
Art. 655 - Incorre no crime de estelionato o tomador que receber dinheiro a risco por valor maior que o do objeto do risco, ou quando este não tenha sido efetivamente embarcado (artigo nº. 643); e no mesmo crime incorre também o dador que, não podendo ignorar esta circunstância, a não declarar à pessoa a quem endossar a letra de risco. No primeiro caso o tomador, e no segundo o dador respondem solidariamente pela importância da letra, ainda quando tenha perecido o objeto do risco.
Art. 656 - É nulo o contrato de câmbio marítimo:
1 - Sendo o empréstimo feito a gente da tripulação.
2 - Tendo o empréstimo somente por objeto o frete a vencer, ou o lucro esperado de alguma negociação, ou um e outro simultânea e exclusivamente.
3 - Quando o dador não corre algum risco dos objetos sobre os quais se deu o dinheiro.
4 - Quando recai sobre objetos, cujos riscos já têm sido tomados por outrem do seu inteiro valor (artigo nº. 650).
5 - Faltando o registro, ou as formalidades exigidas no artigo nº. 516 para o caso de que aí se trata.
Em todos os referidos casos, ainda que o contrato não surta os seus efeitos legais, o tomador responde pessoalmente pelo principal mutuado e juros legais, posto que a coisa objeto do contrato tenha perecido no tempo e no lugar dos riscos.
Art. 657 - O privilégio do dador a risco sobre o navio compreende proporcionalmente, não só os fragmentos náufragos do mesmo navio, mas também o frete adquirido pelas fazendas salvas, deduzidas as despesas de salvados e as soldadas devidas por essa viagem, não havendo seguro ou risco especial sobre o mesmo frete.
Art. 658 - Se o contrato a risco compreender navio e carga, as fazendas conservadas são hipoteca do dador, ainda que o navio pereça; o mesmo é, vice-versa, quando o navio se salva e as fazendas se perdem.
Art. 659 - É livre aos contraentes estipular o prêmio na quantidade, e o modo de pagamento que bem lhes pareça; mas uma vez concordado, a superveniência de risco não dá direito a exigência de aumento ou diminuição de prêmio; salvo se outra coisa for acordada no contrato.
Art. 660 - Não estando fixada a época do pagamento, será este reputado vencido apenas tiverem cessado os riscos. Desse dia em diante correm para o dador os juros da lei sobre o capital e prêmio no caso de mora; a qual só pode provar-se pelo protesto.
Art. 661 - O portador, na falta de pagamento no termo devido, é obrigado a protestar e a praticar todos os deveres dos portadores de letras de câmbio para vencimento dos juros, e conservação do direito regressivo sobre os garantes do instrumento de risco.
Art. 662 - O dador de dinheiro a risco adquire hipoteca no objeto sobre que recai o empréstimo, mas fica sujeito a perder todo o direito à soma mutuada, perecendo o objeto hipotecado no tempo e lugar, e pelos riscos convencionados; e só tem direito ao embolso do principal e prêmio por inteiro no caso de chegada a salvamento.
Art. 663 - Incumbe ao tomador provar a perda, e justificar que os feitos, objeto do empréstimo, existiam na embarcação na ocasião do sinistro.
Art. 664 - Acontecendo presa ou desastre de mar ao navio ou fazendas sobre que recaiu o empréstimo a risco, o tomador tem obrigação de noticiar o acontecimento ao dador, apenas tal nova chegar ao seu conhecimento. Achando-se o tomador a esse tempo no navio, ou próximo aos objetos sobre que recaiu o empréstimo, é obrigado a empregar na sua reclamação e salvação as diligências próprias de um administrador exato; pena de responder por perdas e danos que da sua falta resultarem.
Art. 665 - Quando sobre contrato de dinheiro a risco ocorra caso que se não ache prevenido neste Título, procurar-se-á a sua decisão por analogia, quanto seja compatível, no Título - Dos seguros marítimos - e vice-versa.
TÍTULO VIII
DOS SEGUROS MARÍTIMOS
Capítulo I
DA NATUREZA E FORMA DO CONTRATO DE SEGURO MARÍTIMO
Art. 666 - O contrato de seguro marítimo, pelo qual o segurador, tomando sobre si a fortuna e riscos do mar, se obriga a indenizar ao segurado da perda ou dano que possa sobrevir ao objeto do seguro, mediante um prêmio ou soma determinada, equivalente ao risco tomado, só pode provar-se por escrito, a cujo instrumento se chama apólice; contudo julga-se subsistente para obrigar reciprocamente ao segurador e ao segurado desde o momento em que as partes se convierem, assinando ambas a minuta, a qual deve conter todas as declarações, cláusulas e condições da apólice.
Art. 667 - A apólice de seguro deve ser assinada pelos seguradores, e conter:
1 - O nome e domicílio do segurador e o do segurado; declarando este se segura por sua conta ou por conta de terceiro, cujo nome pode omitir-se; omitindo-se o nome do segurado, o terceiro que faz o seguro em seu nome fica pessoal e solidariamente responsável.
A apólice em nenhum caso pode ser concedida ao portador.
2 - o nome, classe e bandeira do navio, e o nome do capitão; salvo não tendo o segurado certeza do navio (artigo nº. 670).
3 - A natureza e qualidade do objeto seguro e o seu valor fixo ou estimado.
4 - O lugar onde as mercadorias foram, deviam ou devam ser carregadas.
5 - Os portos ou ancoradouros, onde o navio deve carregar ou descarregar, e aqueles onde deva tocar por escala.
6 - O porto donde o navio partiu, devia ou deve partir; e a época da partida, quando esta houver sido positivamente ajustada.
7 - Menção especial de todos os riscos que o segurador toma sobre si.
8 - O tempo e o lugar em que os riscos devem começar e acabar.
9 - O prêmio do seguro, e o lugar, época e forma do pagamento.
10 - O tempo, lugar e forma do pagamento no caso de sinistro.
11 - Declaração de que as partes se sujeitam à decisão arbitral, quando haja contestação, se elas assim o acordarem.
12 - A data do dia em que se concluiu o contrato, com declaração, se antes, se depois do meio-dia.
13 - É geralmente todas as outras condições em que as partes convenham.
Uma apólice pode conter dois ou mais seguros diferentes.
Art. 668 - Sendo diversos os seguradores, cada um deve declarar a quantia por que se obriga, e esta declaração será datada e assinada. Na falta de declaração, a assinatura importa em responsabilidade solidária por todo o valor segurado.
Se um dos seguradores se obrigar por certa e determinada quantia, os seguradores que depois dele assinarem sem declaração da quantia por que se obrigam, ficarão responsáveis cada um por outra igual soma.
Art. 669 - O seguro pode recair sobre a totalidade de um objeto ou sobre parte dele somente; e pode ser feito antes da viagem começada ou durante o curso dela, de ida e volta, ou só por ida ou só por volta, por viagem inteira ou por tempo limitado dela, e contra os riscos de viagem e transporte por mar somente, ou compreender também os riscos de transportes por canais e rios.
Art. 670 - Ignorando o segurado a espécie de fazendas que hão de ser carregadas, ou não tendo certeza do navio em que o devam ser, pode efetuar validamente o seguro debaixo do nome genérico - fazendas - no primeiro caso, e - sobre um ou mais navios - no segundo; sem que o segurado seja obrigado a designar o nome do navio, uma vez que na apólice declare que o ignora, mencionando a data e assinatura da última carta de aviso ou ordens que tenha recebido.
Art. 671 - Efetuando-se o seguro debaixo do nome genérico de - fazendas - o segurado é obrigado a provar, no caso de sinistro, que efetivamente se embarcaram as fazendas no valor declarado na apólice; e se o seguro se tiver feito - sobre um ou mais navios - incumbe-lhe provar que as fazendas seguras foram efetivamente embarcadas no navio que sofreu o sinistro (artigo nº. 716).
Art. 672 - A designação geral - fazendas - não compreende moeda de qualidade alguma, nem jóias, ouro ou prata, pérolas ou pedras preciosas, nem munições de guerra; em seguros desta natureza é necessário que se declare a espécie do objeto sobre que recai o seguro.
Art. 673 - Suscitando-se dúvida sobre a inteligência de alguma ou algumas das condições e cláusulas da apólice, a sua decisão será determinada pelas regras seguintes:
1 - as cláusulas escritas terão mais força do que as impressa;
2 - as que forem claras, e expuserem a natureza, objeto ou fim do seguro, servirão de regra para esclarecer as obscuras, e para fixar a intenção das partes na celebração do contrato;
3 - o costume geral, observado em casos idênticos na praça onde se celebrou o contrato, prevalecerá a qualquer significação diversa que as palavras possam ter em uso vulgar;
4 - em caso de ambigüidade que exija interpretação, será esta feita segundo as regras estabelecidas no artigo nº. 131.
Art. 674 - A cláusula de fazer escala compreende a faculdade de carregar e descarregar fazendas no lugar da escala, ainda que esta condição não seja expressa na apólice (artigo nº. 667, nº 5).
Art. 675 - A apólice de seguro é transferível e exeqüível por via de endosso, substituindo o endossado ao segurado em todas as suas obrigações, direitos e ações (artigo nº. 363).
Art. 676 - Mudando os efeitos segurados de proprietário durante o tempo do contrato, o seguro passa para o novo dono, independentemente de transferência da apólice; salvo condição em contrário.
Art. 677 - O contrato do seguro é nulo:
1 - Sendo feito por pessoa que não tenha interesse no objeto segurado.
2 - Recaindo sobre algum dos objetos proibidos no artigo nº. 686.
3 - Sempre que se provar fraude ou falsidade por alguma das partes.
4 - Quando o objeto do seguro não chega a por-se efetivamente em risco.
5 - Provando-se que o navio saiu antes da época designada na apólice, ou que se demorou além dela, sem ter sido obrigado por força maior.
6 - Recaindo o seguro sobre objetos já segurados no seu inteiro valor, e pelos mesmos riscos. Se, porém, o primeiro seguro não abranger o valor da coisa por inteiro, ou houver sido efetuado com exceção de algum ou alguns riscos, o seguro prevalecerá na parte, e pelos riscos executados.
7 - O seguro de lucro esperado, que não fixar soma determinada sobre o valor do objeto do seguro.
8 - Sendo o seguro de mercadorias que se conduzirem em cima do convés, não se tendo feito na apólice declaração expressa desta circunstância.
9 - Sobre objetos que na data do contrato se achavam já perdidos ou salvos, havendo presunção fundada de que o segurado ou segurador podia ter notícia do evento ao tempo em que se efetuou o seguro. Existe esta presunção, provando-se por alguma forma que a notícia tinha chegado ao lugar em que se fez o seguro, ou àquele donde se expediu a ordem para ele se efetuar ao tempo da data da apólice ou da expedição dá mesma ordem, e que o segurado ou o segurador a sabia. Se, porem, a apólice contiver a cláusula - perdido ou não perdido - ou sobre boa ou má nova - cessa a presunção; salvo provando-se fraude.
Art. 678 - O seguro pode também anular-se:
1 - quando o segurado oculta a verdade ou diz o que não verdade;
2 - quando faz declaração errônea, calando, falsificando ou alterando fatos ou circunstâncias, ou produzindo fatos ou circunstâncias não existentes, de tal natureza e importância que, a não se terem ocultado, falsificado ou produzido, os seguradores, ou não houveram admitido o seguro, ou o teriam efetuado debaixo de prêmio maior e mais restritas condições.
Art. 679 - No caso de fraude da parte do segurado, além da nulidade do seguro, será este condenado a pagar ao segurador o prêmio estipulado em dobro. Quando a fraude estiver da parte do segurador, será este condenado a retornar o prêmio recebido, e a pagar ao segurado outra igual quantia.
Em um e outro caso pode-se intentar ação criminal contra o fraudulento.
Art. 680 - A desviação voluntária da derrota da viagem, e a alteração na ordem das escalas, que não for obrigada por urgente necessidade ou força maior, anulará o seguro pelo resto da viagem (artigo nº. 509).
Art. 681 - Se o navio tiver vários pontos de escala designados na apólice, é lícito ao segurado alterar a ordem das escalas; mas em tal caso só poderá escalar em um único porto dos especificados na mesma apólice.
Art. 682 - Quando o seguro versar sobre dinheiro dado a risco, deve declarar-se na apólice, não só o nome do navio, do capitão, e do tomador do dinheiro, como outrossim fazer-se menção dos riscos que este quer segurar e o dador excetuara, ou qual o valor descoberto sobre que é permitido o seguro (artigo nº. 650). Além desta declaração é necessário mencionar também na apólice a causa da dívida para que serviu o dinheiro.
Art. 683 - Tendo-se efetuado sem fraude diversos seguros sobre o mesmo objeto, prevalecerá o mais antigo na data da apólice. Os seguradores cujas apólices forem posteriores são obrigados a restituir o prêmio recebido, retendo por indenização 0,5% (meio por cento) do valor segurado.
Art. 684 - Em todos os casos em que o seguro se anular por fato que não resulte diretamente de força maior, o segurador adquire o prêmio por inteiro, se o objeto do seguro se tiver posto em risco; e se não se tiver posto em risco, retém 0,5% (meio por cento) do valor segurado.
Anulando-se, porém, algum seguro por viagem redonda com prêmio ligado, o segurador adquire metade (tão-somente) do prêmio ajustado.
Capítulo II
DAS COISAS QUE PODEM SER OBJETO DE SEGURO MARÍTIMO
Art. 685 - Toda e qualquer coisa, todo e qualquer interesse apreciável a dinheiro, que tenha sido posto ou deva pôr-se a risco de mar, pode ser objeto de seguro marítimo, não havendo proibição em contrário.
Art. 686 - É proibido o seguro:
1 - sobre coisas, cujo comércio não seja lícito pelas leis do Império, e sobre os navios nacionais ou estrangeiros que nesse comércio se empregarem;
2 - sobre a vida de alguma pessoa livre;
3 - sobre soldadas a vencer de qualquer indivíduo da tripulação.
Art. 687 - O segurador pode ressegurar por outros seguradores os mesmos objetos que ele tiver segurado, com as mesmas ou diferentes condições, e por igual, maior ou menor prêmio.
O segurado pode tornar a segurar, quando o segurador ficar insolvente, antes da notícia da terminação do risco, pedindo em juízo anulação da primeira apólice; e se a esse tempo existir risco pelo qual seja devida alguma indenização ao segurado, entrará este pela sua importância na massa do segurador falido.
Art. 688 - Não se declarando na apólice de seguro de dinheiro a risco, se o seguro compreende o capital e o prêmio, entende-se que compreende só o capital, o qual, no caso de sinistro, será indenizado pela forma determinada no artigo nº. 647.
Art. 689 - Pode segurar-se o navio, seu frete e fazendas na mesma apólice, mas neste caso há de determinar-se o valor de cada objeto distintamente; faltando esta especificação, o seguro ficará reduzido ao objeto definido na apólice somente.
Art. 690 - Declarando-se genericamente na apólice, que se segura o navio sem outra alguma especificação, entende-se que o seguro compreende o casco e todos os pertences da embarcação, aprestos, aparelhos, mastreação e velame, lanchas, escaleres, botes, utensílios e vitualhas ou provisões; mas em nenhum caso os fretes nem o carregamento, ainda que este seja por conta do capitão, dono, ou armador do navio.
Art. 691 - As apólices de seguro por ida e volta cobrem os riscos seguros que sobrevierem durante as estadias intermedias, ainda que esta cláusula seja omissa na apólice.
Capítulo III
DA AVALIAÇÃO DOS OBJETOS SEGUROS
Art. 692 - O valor do objeto do seguro deve ser declarado na apólice em quantia certa, sempre que o segurado tiver dele conhecimento exato.
No seguro de navio, esta declaração é essencialmente necessária, e faltando ela o seguro julga-se improcedente. Nos seguros sobre fazendas, não tendo o segurado conhecimento exato do seu verdadeiro importe, basta que o valor se declare por estimativa.
Art. 693 - O valor declarado na apólice, quer tenha a cláusula - valha mais ou valha menos-, quer a não tenha, será considerado em juízo como ajustado e admitido entre as partes para todos os efeitos do seguro. Contudo, se o segurador alegar que a coisa segura valia ao tempo do contrato um quarto menos, ou daí para cima, do preço em que o segurado a estimou, será admitido a reclamar a avaliação; incumbindo-lhe justificar a reclamação pelos meios de prova admissíveis em comércio. Para este fim, e em ajuda de outras provas, poderá o segurador obrigar o segurado à exibição dos documentos ou das razões em que se fundara para o cálculo da avaliação que dera na apólice; e se presumirá ter havido dolo da parte do segurado se ele se negar a esta exibição.
Art. 694 - Não se tendo declarado na apólice o valor certo do seguro sobre fazenda, será este determinado pelo preço da compra das mesmas fazendas, aumentado com as despesas que estas tiverem feito até o embarque, e mais o prêmio do seguro e a comissão de se efetuar, quando esta se tiver pago; por forma que, no caso de perda total, o segurado seja embolsado de todo o valor posto a risco. Na apólice de seguro sobre fretes sem valor fixo, será este determinado pela carta de fretamento, ou pelos conhecimentos, e pelo manifesto, ou livro da carga, cumulativamente em ambos os casos.
Art. 695 - O valor do seguro sobre dinheiro a risco prova-se pelo contrato original, e o do seguro sobre despesas feitas com o navio ou carga durante a viagem (artigo nºs 515 e 651) com as respectivas contas competentemente legalizadas.
Art. 696 - O valor de mercadorias provenientes de fábricas, lavras ou fazendas do segurado, que não for determinado na apólice, será avaliado pelo preço que outras tais mercadorias poderiam obter no lugar do desembarque, sendo aí vendidas, aumentado na forma do artigo nº. 694.
Art. 697 - As fazendas adquiridas por troca estimam-se pelo preço que poderiam obter no mercado do lugar da descarga aquelas que por elas se trocaram, aumentado na forma do artigo nº. 694.
Art. 698 - A avaliação em seguros feitos sobre moeda estrangeira faz se, reduzindo-se esta ao valor da moeda corrente no Império pelo curso que o câmbio tinha na data da apólice.
Art. 699 - O segurador em nenhum caso pode obrigar o segurado a vender os objetos do seguro para determinar o seu valor.
Art. 700 - Sempre que se provar que o segurado procedeu com fraude na declaração do valor declarado na apólice, ou na que posteriormente se fizer no caso de se não ter feito no ato do contrato (artigo nºs 692 e 694), o juiz, reduzindo a estimação do objeto segurado ao seu verdadeiro valor, condenará o segurado a pagar ao segurador o dobro do prêmio estipulado.
Art. 701 - A cláusula inserta na apólice - valha mais ou valha menos - não releva o segurado da condenação por fraude; nem pode ser valiosa sempre que se provar que o objeto seguro valia menos de um quarto que o preço fixado na apólice (artigo nºs 692 e 693).
Capítulo IV
DO COMEÇO E FIM DOS RISCOS
Art. 702 - Não constando da apólice do seguro o tempo em que os riscos devem começar e acabar, os riscos de seguro sobre navio principiam a correr por conta do segurador desde o momento em que a embarcação suspende a sua primeira âncora para velejar, e terminam depois que tem dado fundo e amarrado dentro do porto do seu destino, no lugar que aí for designado para descarregar, se levar carga, ou no lugar em que der fundo e amarrar, indo em lastro.
Art. 703 - Segurando-se o navio por ida e volta, ou por mais de uma viagem, os riscos correm sem interrupção por conta do segurador, desde o começo da primeira viagem até o fim da última (artigo nº. 691).
Art. 704 - No seguro de navios por estadia em algum porto, os riscos começam a correr desde que o navio dá fundo e se amarra no mesmo porto, e findam desde o momento em que suspende a sua primeira âncora para seguir viagem.
Art. 705 - Sendo o seguro sobre mercadorias, os riscos têm princípio desde o momento em que elas se começam a embarcar nos cais ou à borda d'água do lugar da carga, e só terminam depois que são postas a salvo no lugar da descarga; ainda mesmo no caso do capitão ser obrigado a descarregá-las em algum porto de escala, ou de arribada forçada.
Art. 706 - Fazendo-se seguro sobre fazendas a transportar alternadamente por mar e terra, rios ou canais, em navios, barcos, carros ou animais, os riscos começam logo que os efeitos são entregues no lugar onde devem ser carregados, e só expiram quando são descarregados a salvamento no lugar do destino.
Art. 707 - Os riscos de seguro sobre frete têm o seu começo desde o momento e à medida que são recebidas a bordo as fazendas que pagam frete; e acabam logo que saem para fora do portaló do navio, e à proporção que vão saindo; salvo se por ajuste ou por uso do porto o navio for obrigado a receber a carga à beira d'água, e pô-la em terra por sua conta.
O risco do frete, neste caso, acompanha o risco das mercadorias.
Art. 708 - A fortuna das somas mutuadas a risco principia e acaba para os seguradores na mesma época, e pela mesma forma que corre para o dador do dinheiro a risco; no caso, porém, de se não ter feito no instrumento do contrato a risco menção específica dos riscos tomados, ou se não houver estipulado o tempo, entende-se que os seguradores tomaram sobre si todos os riscos, e pelo mesmo tempo que geralmente costumam receber os dadores de dinheiro a risco.
Art. 709 - No seguro de lucro esperado, os riscos acompanham a sorte das fazendas respectivas.
Capítulo V
DAS OBRIGAÇÕES RECÍPROCAS DO SEGURADOR E DO SEGURADO
Art. 710 - São a cargo do segurador todas as perdas e danos que sobrevierem ao objeto seguro por alguns dos riscos especificados na apólice.
Art. 711 - O segurador não responde por danos ou avaria que aconteça por fato do segurado, ou por alguma das causas seguintes:
1 - desviação voluntária da derrota ordinária e usual da viagem;
2 - alterarão voluntária na ordem das escalas designadas na apólice; salvo a exceção estabelecida no artigo nº. 680;
3 - prolongação voluntária da viagem, além do último porto atermado na apólice. Encurtando-se a viagem, o seguro surte pleno efeito, se o porto onde ela findar for de escala declarada na apólice; sem que o segurado tenha direito para exigir redução do prêmio estipulado;
4 - separação espontânea de comboio, ou de outro navio armado, tendo-se estipulado na apólice de ir em conserva dele;
5 - diminuição e derramamento do líquido (artigo nº. 624);
6 - falta de estiva, ou defeituosa arrumação da carga;
7 - diminuição natural de gêneros, que por sua qualidade são suscetíveis de dissolução, diminuição ou quebra em peso ou medida entre o seu embarque e o desembarque; salvo tendo estado encalhado o navio, ou tendo sido descarregadas essas fazendas por ocasião de força maior; devendo-se, em tais casos, fazer dedução da diminuição ordinária que costuma haver em gêneros de semelhante natureza (artigo nº. 617);
8 - quando a mesma diminuição natural acontecer em cereais, açúcar, café, farinhas, tabaco, arroz, queijos, frutas secas ou verdes, livros ou papel e outros gêneros de semelhante natureza, se a avaria não exceder a 10% (dez por cento) do valor seguro; salvo se a embarcação tiver estado encalhada, ou as mesmas fazendas tiverem sido descarregadas por motivo de força maior, ou o contrário se houver estipulado na apólice;
9 - danificações de amarras, mastreação, velame ou outro qualquer pertence do navio, procedida do uso ordinário do seu destino;
10 - vício intrínseco, má qualidade, ou mau acondicionamento do objeto seguro;
11 - avaria simples ou particular, que, incluída a despesa de documentos justificativos, não exceda de 3% (três por cento) do valor segurado;
12 - rebeldia do capitão ou da equipagem; salvo havendo estipulação em contrário declarada na apólice. Esta estipulação é nula sendo o seguro feito pelo capitão, por conta dele ou alheia, ou por terceiro por conta do capitão.
Art. 712 - Todo e qualquer ato por sua natureza criminoso praticado pelo capitão no exercício de seu emprego, ou pela tripulação, ou por um e outra conjuntamente, do qual aconteça dano grave ao navio ou à carga, em oposição à presumida vontade legal do dono do navio, é rebeldia.
Art. 713 - O segurador que toma o risco de rebeldia responde pela perda ou dano procedente do ato de rebeldia do capitão ou da equipagem, ou seja por conseqüência imediata, ou ainda casualmente, uma vez que a perda ou dano tenha acontecido dentro do tempo dos riscos tomados, e na viagem e portos da apólice.
Art. 714 - A cláusula - livre de avaria- desobriga os seguradores das avarias simples ou particulares; a cláusula - livre de todas as avarias - desonera-os também das grossas. Nenhuma destas cláusulas, porém, os isenta nos casos em que tiver lugar o abandono.
Art. 715 - Nos seguros feitos com a cláusula - livre de hostilidade - o segurador é livre, se os efeitos segurados perecem ou se deterioram por efeito de hostilidade. O seguro, neste caso, cessa desde que foi retardada a viagem, ou mudada a derrota por causa das hostilidades.
Art. 716 - Contendo o seguro sobre fazendas a cláusula - carregadas em um ou mais navios -, o seguro surte todos os efeitos, provando-se que as fazendas seguras foram carregadas por inteiro em um só navio, ou por partes em diversas embarcações.
Art. 717 - Sendo necessário baldear-se a carga, depois de começada a viagem, para embarcação diferente da que tiver sido designada na apólice, por inavegabilidade ou força maior, os riscos continuam a correr por conta do segurador até o navio substituído chegar ao porto do destino, ainda mesmo que tal navio seja de diversa bandeira, não sendo esta inimiga.
Art. 718 - Ainda que o segurador não responda pelos danos que resultam ao navio por falta de exata observância das leis e regulamentos das Alfândegas e polícia dos portos (artigo nº. 530), esta falta não o desonera de responder pelos que daí sobrevierem à carga.
Art. 719 - O segurado deve sem demora participar ao segurador, e, havendo mais de um, somente ao primeiro na ordem da subscrição, todas as notícias que receber de qualquer sinistro acontecido ao navio ou à carga. A omissão culposa do segurado a este respeito, pode ser qualificada de presunção de má-fé.
Art. 720 - Se passado 1 (um) ano a datar da saída do navio nas viagens para qualquer porto da América, ou 2 (dois) anos para outro qualquer porto do mundo, e, tendo expirado o tempo limitado na apólice, não houver notícia alguma do navio, presume-se este perdido, e o segurado pode fazer abandono ao segurador, e exigir o pagamento da apólice; o qual, todavia, será obrigado a restituir, se o navio se não houver perdido e se vier a provar que o sinistro aconteceu depois de ter expirado o termo dos riscos.
Art. 721 - Nos casos de naufrágio ou varação, presa ou arresto de inimigo, o segurado é obrigado a empregar toda a diligência possível para salvar ou reclamar os objetos seguros, sem que para tais atos se faça necessária a procuração do segurador, do qual pode o segurado exigir o adiantamento do dinheiro preciso para a reclamação intentada ou que se possa intentar, sem que o mau sucesso desta prejudique ao embolso do segurado pelas despesas ocorridas.
Art. 722 - Quando o segurado não pode fazer por si as devidas reclamações, por deverem ter lugar fora do Império, ou do seu domicílio, deve nomear para esse fim competente mandatário, avisando desta nomeação ao segurador (artigo nº. 719). Feita a nomeação e o aviso, cessa toda a sua responsabilidade, nem responde pelos atos do seu mandatário; ficando unicamente obrigado a fazer cessão ao segurador das ações que competirem, sempre que este o exigir.
Art. 723 - O segurado, no caso de presa ou aresto de inimigo, só está obrigado a seguir os termos da reclamação até a promulgação da sentença da primeira instância.
Art. 724 - Nos casos dos três artigos precedentes, o segurado é obrigado a obrar de acordo com os seguradores. Não havendo tempo para os consultar, obrará como melhor entender, correndo as despesas por conta dos mesmos seguradores. Em caso de abandono admitido pelos seguradores, ou destes tomarem sobre si as diligências dos salvados ou das reclamações, cessam todas as sobreditas obrigações do capitão e do segurado.
Art. 725 - O julgamento de um tribunal estrangeiro, ainda que baseado pareça em fundamentos manifestamente injustos, ou fatos notoriamente falsos ou desfigurados, não desonera o segurador, mostrando o segurado que empregou os meios ao seu alcance, e produziu as provas que lhe era possível prestar para prevenir a injustiça do julgamento.
Art. 726 - Os objetos segurados que forem restituídos gratuitamente pelos apressadores voltam ao domínio de seus donos, ainda que a restituição tenha sido feita a favor do capitão ou de qualquer outra pessoa.
Art. 727 - Todo o ajuste que se fizer com os apressadores no alto-mar para resgatar a coisa segura é nulo; salvo havendo para isso autorização por escrito na apólice.
Art. 728 - Pagando o segurador um dano acontecido à coisa segura, ficará subrogado em todos os direitos e ações que ao segurado competirem contra terceiro; e o segurado não pode praticar ato algum em prejuízo do direito adquirido dos seguradores.
Art. 729 - O prêmio do seguro é devido por inteiro, sempre que o segurado receber a indenização do sinistro.
Art. 730 - O segurador é obrigado a pagar ao segurado as indenizações a que tiver direito, dentro de 15 (quinze) dias da apresentação da conta, instruída com os documentos respectivos; salvo se o prazo do pagamento tiver sido estipulado na apólice.
TÍTULO IX
DO NAUFRÁGIO E SALVADOS
Art. 731 - Ninguém pode arrecadar as fazendas naufragadas no mar ou nas praias,
estando presente o capitão ou quem suas vezes fizer, sem consentimento seu. Revogado pela Lei nº 7.542, de 26.9.1986
Art. 732 - O Juiz de Direito do Comércio
respectivo, logo que lhe constar que algum navio tem naufragado ou se acha em perigo de
naufragar, passará sem demora ao lugar do naufrágio, e empregará todas as diligências
que forem praticáveis para a salvação da gente, navio e carga: e faltando o capitão ou
quem suas vezes faça, ou não aparecendo neste ato o dono, consignatário ou pessoa por
eles, mandará proceder a inventário dos objetos salvados, e os fará por em boa e segura
guarda.
Se o naufrágio acontecer em porto onde houver Alfândega ou Mesa de Rendas, ou em costas
vizinhas, as diligências do inventário e arrecadação serão praticadas com
assistência dos empregados respectivos, e na sua falta com os da Coletorias. Revogado pela Lei nº 7.542, de 26.9.1986
Art. 733 - Os objetos salvados que
puderem deteriorar-se pela demora, serão vendidos em hasta pública, e o seu produto
posto em depósito, por conta de quem pertencer. Os objetos que se acharem em bom estado
serão conduzidos para a respectiva Alfândega, procedendo-se a respeito deles na
conformidade do Regimento das Alfândegas. Revogado pela Lei nº
7.542, de 26.9.1986
Art. 734 - Achando-se presente o
capitão, ou o dono das mercadorias, ou quem suas vezes faça, tomará conta das fazendas
salvas, e as poderá conduzir para o porto do seu destino, ou outro qualquer: com
declaração porém de que, se as fazendas, por serem de origem estrangeira; estiverem
sujeitas ao pagamento de alguns direitos, se o capitão ou dono preferir navegá-las para
porto do Império, só lhe será permitido a viagem se nesse porto houver Alfândega. Revogado pela Lei nº 7.542, de 26.9.1986
Art. 735 - Se alguém puder salvar navio,
fragmento ou carga abandonados no alto mar ou nas costas, entregando tudo imediatamente e
sem desfalque ao Juiz de Direito do Comércio do distrito, haverá um prêmio de dez a
cinqüenta por cento do seu valor: deixando de fazer a entrega, incorrerá nas penas
criminais impostas aos que não entregam a coisa alheia perdida. Revogado
pela Lei nº 7.542, de 26.9.1986
Art. 736 - O salário que vencerem as pessoas empregadas no serviço do salvamento do
navio ou carga, e bem assim os prêmios que se deverem nos casos em que estes puderem ter
lugar, serão regulados por árbitros; tendo-se em consideração o perigo e a natureza do
serviço, a prontidão com que este for prestado, e a fidelidade com que as pessoas nele
empregadas houverem feito entrega dos objetos salvos. Revogado
pela Lei nº 7.542, de 26.9.1986
Art. 737 - O capitão e pessoas da tripulação que salvarem ou ajudarem a salvar o
navio, fragmentos ou carga, além das suas soldadas pela viagem (art. 559), tem direito a
uma gratificação correspondente ao seu trabalho e aos perigos que tiverem corrido. Revogado pela Lei nº 7.542, de 26.9.1986
Art. 738 - As despesas com os salvados, as necessárias para habilitar o navio para
a sua navegação, e as que se fizerem com o transporte da carga (art. 614), tem hipoteca
especial e preferência nos objetos salvos ou no seu produto. Revogado
pela Lei nº 7.542, de 26.9.1986
Art. 739 - As questões que se moverem sobre o pagamento de salvados, serão
decididas por árbitros no lugar do distrito onde tiver acontecido o naufrágio. Revogado pela Lei nº 7.542, de 26.9.1986
TÍTULO X
DAS ARRIBADAS FORÇADAS.
Art. 740 - Quando um navio entra por necessidade em algum porto ou lugar distinto dos determinados na viagem a que se propusera, diz-se que fez arribada forçada (artigo nº. 510).
Art. 741 - São causas justas para arribada forçada:
1 - falta de víveres ou aguada;
2 - qualquer acidente acontecido à equipagem, cargo ou navio, que impossibilite este de continuar a navegar;
3 - temor fundado de inimigo ou pirata.
Art. 742 - Todavia, não será justificada a arribada:
l - se a falta de víveres ou de aguada proceder de não haver-se feito a provisão necessária segundo o costume e uso da navegação, ou de haver-se perdido e estragado por má arrumação ou descuido, ou porque o capitão vendesse alguma parte dos mesmos víveres ou aguada;
2 - nascendo a inavegabilidade do navio de mau conserto, de falta de apercebimento ou esquipação, ou de má arrumação da carga;
3 - se o temor de inimigo ou pirata não for fundado em fatos positivos que não deixem dúvida.
Art. 743 - Dentro das primeiras 24 (vinte e quatro) horas úteis da entrada no porto de arribada, deve o capitão apresentar-se à autoridade competente para lhe tomar o protesto da arribada, que justificará perante a mesma autoridade (artigo nºs 505 e 512).
Art. 744 - As despesas ocasionadas pelo arribada forçada correm por conta do fretador ou do afretador, ou de ambos, segundo for a causa que as motivou, com direito regressivo contra quem pertencer.
Art. 745 - Sendo a arribada justificada, nem o dono do navio nem o capitão respondem pelos prejuízos que puderem resultar à carga; se, porém, não for justificada, um e outro serão responsáveis solidariamente até a concorrência do valor do navio e frete.
Art. 746 - Só pode autorizar-se descarga no porto de arribada, sendo indispensavelmente necessária para conserto no navio, ou reparo de avaria da carga (artigo nº. 614). O capitão, neste caso, é responsável pela boa guarda e conservação dos efeitos descarregados; salvo unicamente os casos de força maior, ou de tal natureza que não possam ser prevenidos.
A descarga será reputada legal em juízo quando tiver sido autorizada pelo juiz de direito do comércio. Nos países estrangeiros compete aos cônsules do Império dar a autorização necessária, e onde os não houver será requerida à autoridade local competente.
Art. 747 - A carga avariada será reparada ou vendida, como parecer mais conveniente; mas em todo o caso deve preceder autorização competente.
Art. 748 - O capitão não pode, debaixo de pretexto algum, diferir a partida do porto da arribada desde que cessa o motivo dela; pena de responder por perdas e danos resultantes da dilação voluntária (artigo nº. 510).
TÍTULO XI
DO DANO CAUSADO POR ABALROAÇÃO
Art. 749 - Sendo um navio abalroado por outro, o dano inteiro causado ao navio abalroado e à sua carga será pago por aquele que tiver causado a abalroação, se esta tiver acontecido por falta de observância do regulamento do porto, imperícia, ou negligência do capitão ou da tripulação; fazendo-se a estimação por árbitros.
Art. 750 - Todos os casos de abalroação serão decididos, na menor dilação possível, por peritos, que julgarão qual dos navios foi o causador do dano, conformando-se com as disposições do regulamento do porto, e os usos e prática do lugar. No caso dos árbitros declararem que não podem julgar com segurança qual navio foi culpado, sofrerá cada um o dano que tiver recebido.
Art. 751 - Se, acontecendo a abalroação no alto-mar, o navio abalroado for obrigado a procurar porto de arribada para poder consertar, e se perder nessa derrota, a perda do navio presume-se causada pela abalroação.
Art. 752 - Todas as perdas resultantes de abalroação pertencem à classe de avarias particulares ou simples; excetua-e o único caso em que o navio, para evitar dano maior de uma abalroação iminente, pica as suas amarras, e abalroa a outro para sua própria salvação (artigo nº. 764). Os danos que o navio ou a carga, neste caso, sofre, são repartidos pelo navio, frete e carga por avaria grossa.
TÍTULO XII
DO ABANDONO
Art. 753 - É lícito ao segurado fazer abandono dos objetos seguros, e pedir ao segurador a indenização de perda total nos seguintes casos:
1 - presa ou arresto por ordem de potência estrangeira, 6 (seis) meses depois de sua intimação, se o arresto durar por mais deste tempo;
2 - naufrágio, varação, ou outro qualquer sinistro de mar compreendido na apólice, de que resulte não poder o navio navegar, ou cujo conserto importe em três quartos ou mais do valor por que o navio foi segurado;
3 - perda total do objeto seguro, ou deterioração que importe pelo menos três quartos do valor da coisa segurada (artigo nºs 759 e 777);
4 - falta de notícia do navio sobre que se fez o seguro, ou em que se embarcaram os efeitos seguros (artigo nº. 720).
Art. 754 - O segurado não é obrigado a fazer abandono; mas se o não fizer nos casos em que este Código o permite, não poderá exigir do segurador indenização maior do que teria direito a pedir se houvera acontecido perda total; exceto nos casos de letra de câmbio passada pelo capitão (artigo nº. 515), de naufrágio, reclamação de presa, ou arresto de inimigo, e de abalroação.
Art. 755 - O abandono só, é admissível quando as perdas acontecem depois de começada a viagem.
Não pode ser parcial, deve compreender todos os objetos contidos na apólice. Todavia, se na mesma apólice se tiver segurado o navio e a carga, pode ter lugar o abandono de cada um dos dois objetos separadamente (artigo nº. 689).
Art. 756 - Não é admissível o abandono por título de inavegabilidade, se o navio, sendo consertado, pode ser posto em estado de continuar a viagem até o lugar do destino; salvo se à vista das avaliações legais, a que se deve proceder, se vier no conhecimento de que as despesas do conserto excederiam pelo menos a três quartos do preço estimado na apólice.
Art. 757 - No caso de inavegabilidade do navio, se o capitão, carregadores, ou pessoa que os represente não puderem fretar outro para transportar a carga ao seu destino dentro de 60 (sessenta) dias depois de julgada a inavegabilidade (artigo nº. 614), o segurado pode fazer abandono.
Art. 758 - Quando nos casos de presa constar que o navio foi retomado antes de intimado o abandono, não é este admissível; salvo se o dano sofrido por causa da presa, e a despesa com o prêmio da retomada, ou salvagem importa em três quartos, pelo menos, do valor segurado, ou se em conseqüência da represa os efeitos seguros tiverem passado a domínio de terceiro.
Art. 759 - O abandono do navio compreende os fretes das mercadorias que se puderem salvar, os quais serão considerados como pertencentes aos seguradores; salva a preferência que sobre os mesmos possa competir à equipagem por suas soldadas vencidas na viagem (artigo nº. 564), e a outros quaisquer credores privilegiados (artigo nº. 738).
Art. 760 - Se os fretes se acharem seguros, os que forem devidos pelas mercadorias salvas, pertencerão aos seguradores dos mesmos fretes, deduzidas as despesas dos salvados, e as soldadas devidas à tripulação pela viagem (artigo nº. 559).
TÍTULO XIII
DAS AVARIAS
Capítulo I
DA NATUREZA E CLASSIFICAÇÃO DAS AVARIAS
Art. 761 - Todas as despesas extraordinárias feitas a bem do navio ou da carga, conjunta ou separadamente, e todos os danos acontecidos àquele ou a esta, desde o embarque e partida até a sua volta e desembarque, são reputadas avarias.
Art. 762 - Não havendo entre as partes convenção especial exarada na carta partida ou no conhecimento, as avarias hão de qualificar-se, e regular-se pelas disposições deste Código.
Art. 763 - As avarias são de duas espécies: avarias grossas ou comuns, e avarias simples ou particulares. A importância das primeiras é repartida proporcionalmente entre o navio, seu frete e a carga; e a das segundas é suportada, ou só pelo navio, ou só pela coisa que sofreu o dano ou deu causa à despesa.
Art. 764 - São avarias grossas:
1 - Tudo o que se dá ao inimigo, corsário ou pirata por composição ou a título de resgate do navio e fazendas, conjunta ou separadamente
2 - As coisas alijadas para salvação comum.
3 - Os cabos, mastros, velas e outros quaisquer aparelhos deliberadamente cortados, ou partidos por força de vela para salvação do navio e carga.
4 - As âncoras, amarras e quaisquer outras coisas abandonadas para salvamento ou benefício comum.
5 - Os danos causados pelo alijamento às fazendas restantes a bordo.
6 - Os danos feitos deliberantemente ao navio para facilitar a evacuação d'água e os danos acontecidos por esta ocasião à carga.
7 - O tratamento, curativo, sustento e indenizações da gente da tripulação ferida ou mutilada defendendo o navio.
8 - A indenização ou resgate da gente da tripulação mandada ao mar ou à terra em serviço do navio e da carga, e nessa ocasião aprisionada ou retida.
9 - As soldadas e sustento da tripulação durante arribada forçada.
10 - Os direitos de pilotagem, e outros de entrada e saída num porto de arribada forçada.
11 - Os aluguéis de armazéns em que se depositem, em, porto de arribada forçada, as fazendas que não puderem continuar a bordo durante o conserto do navio.
12 - As despesas da reclamação do navio e carga feitas conjuntamente pelo capitão numa só instância, e o sustento e soldadas da gente da tripulação durante a mesma reclamação, uma vez que o navio e carga sejam relaxados e restituídos.
13 - Os gastos de descarga, e salários para aliviar o navio e entrar numa barra ou porto, quando o navio é obrigado a fazê-lo por borrasca, ou perseguição de inimigo, e os danos acontecidos às fazendas pela descarga e recarga do navio em perigo.
14 - Os danos acontecidos ao corpo e quilha do navio, que premeditadamente se faz varar para prevenir perda total, ou presa do inimigo.
15 - As despesas feitas para pôr a nado o navio encalhado, e toda a recompensa por serviços extraordinários feitos para prevenir a sua perda total, ou presa.
16 - As perdas ou danos sobrevindos às fazendas carregadas em barcas ou lanchas, em conseqüência de perigo.
17 - As soldadas e sustento da tripulação, se o navio depois da viagem começada é obrigado a suspendê-la por ordem de potência estrangeira, ou por superveniência de guerra; e isto por todo o tempo que o navio e carga forem impedidos.
18 - O prêmio do empréstimo a risco, tomado para fazer face a despesas que devam entrar na regra de avaria grossa.
19 - O prêmio do seguro das despesas de avaria grossa, e as perdas sofridas na venda da parte da carga no porto de arribada forçada para fazer face às mesmas despesas.
20 - As custas judiciais para regular as avarias, e fazer a repartição das avarias grossas.
21 - As despesas de uma quarentena extraordinária.
E, em geral, os danos causados deliberadamente em caso de perigo ou desastre imprevisto, e sofridos como conseqüência imediata destes eventos, bem como as despesas feitas em iguais circunstâncias, depois de deliberações motivadas (artigo nº. 509), em bem e salvamento comum do navio e mercadorias, desde a sua carga e partida até o seu retorno e descarga.
Art. 765 - Não serão reputadas avarias grossas, posto que feitas voluntariamente e por deliberações motivadas para o bem do navio e carga, as despesas causadas por vício interno do navio, ou por falta ou negligência do capitão ou da gente da tripulação. Todas estas despesas são a cargo do capitão ou do navio (artigo nº. 565).
Art. 766 - São avaria simples e particulares:
1 - O dano acontecido às fazendas por borrasca, presa, naufrágio, ou encalhe fortuito, durante a viagem, e as despesas feitas para as salvar.
2 - A perda de cabos, amarras, âncoras, velas e mastros, causada por borrasca ou outro acidente do mar.
3 - As despesas de reclamação, sendo o navio e fazendas reclamadas separadamente.
4 - O conserto particular de vasilhas, e as despesas feitas para conservar os efeitos avariados.
5 - O aumento de frete e despesa de carga e descarga; quando declarado o navio inavegável, as fazendas são levadas ao lugar do destino por um ou mais navios (artigo nº. 614).
Em geral, as despesas feita; e o dano sofrido só pelo navio, ou só pela carga, durante o tempo dos riscos.
Art. 767 - Se em razão de baixios ou bancos de areia conhecidos o navio não puder dar à vela do lugar da partida com a carga inteira, nem chegar ao lugar do destino sem descarregar parte da carga em barcas, as despesas feitas para aligeirar o navio não são reputadas avarias, e correm por conta do navio somente, não havendo na carta-partida ou nos conhecimentos estipulação em contrário.
Art. 768 - Não são igualmente reputadas avarias, mas simples despesas a cargo do navio, as despesas de pilotagem da costa e barras, e outras feitas por entrada e saída de obras ou rios; nem os direitos de licenças, visitas, tonelagem, marcas, ancoragem, e outros impostos de navegação.
Art. 769 - Quando for indispensável lançar-se ao mar alguma parte da carga, deve começar-se pelas mercadorias e efeitos que estiverem em cima do convés; depois serão alijadas as mais pesadas e de menos valor, e dada igualdade, as que estiverem na coberta e mais à mão; fazendo-se toda a diligência possível para tomar nota das marcas e números dos volumes alijados.
Art. 770 - Em seguimento da ata da deliberação que se houver tomado para o alijamento (artigo nº. 509) se fará declaração bem especificada das fazendas lançadas ao mar; e se pelo ato do alijamento algum dano tiver resultado ao navio ou à carga remanescente, se fará também menção deste acidente.
Art. 771 - As danificações que sofrerem as fazendas postas a bordo de barcos para à sua condução ordinária, ou para aligeirar o navio em caso de perigo, serão reguladas pelas disposições estabelecidas neste capítulo que lhes forem aplicáveis, segundo à diversas causas de que o dano resultar.
Capítulo II
DA LIQUIDAÇÃO, REPARTIÇÃO E CONTRIBUIÇÃO DA AVARIA GROSSA
Art. 772 - Para que o dano sofrido pelo navio ou carga possa considerar-se avaria a cargo do segurador, é necessário que ele seja examinado por dois arbitradores peritos que declarem:
1 - De que procedeu o dano.
2 - A parte da carga que se acha avariada, e por que causa, indicando as suas marcas, número ou volumes.
3 - Tratando-se do navio ou dos seus pertences, quanto valem os objetos avariados, e em quanto poderá importar o seu conserto ou reposição. Todas estas diligências, exames e vistorias serão determinadas pelo juiz de direito do respectivo distrito, e praticada com citação dos interessados, por si ou seus procuradores; podendo o juiz, no caso de ausência das partes, nomear de ofício pessoa inteligente e idônea que as represente (artigo nº. 618).
As diligências, exames e vistorias sobre o casco do navio e seus pertences devem ser praticadas antes de dar-se princípio ao seu conserto, nos casos em que este possa ter lugar.
Art. 773 - Os efeitos avariados serão sempre vendidos em público leilão a quem mais der, e pagos no ato da arrematação; e o mesmo se praticará com o navio, quando ele tenha de ser vendido segundo as disposições deste Código; em tais casos o juiz, se assim lhe parecer conveniente, ou se algum interessado o requerer, poderá determinar que o casco e cada um dos seus pertences se venda separadamente.
Art. 774 - A estimação do preço para o cálculo da avaria será feita sobre a diferença entre e respectivo rendimento bruto das fazendas sãs e o das avariadas, vendidos a dinheiro no tempo da entrega; e em nenhum caso pelo seu rendimento liquido, nem por aquele que, demorada a venda ou sendo a prazo, poderiam vir a obter.
Art. 775 - Se o dono ou consignatário não quiser vender a parte das mercadorias sãs, não pode ser compelido; e o preço para o cálculo será em tal caso o corrente que as mesmas fazendas, se vendidas fossem ao tempo da entrega, poderiam obter no mercado, certificado pelos preços correntes do lugar, ou, na falta destes, atestado, debaixo de juramento por dois comerciantes acreditados de fazendas do mesmo gênero.
Art. 776 - O segurador não é obrigado a pagar mais de dois terços do custo do conserto das avarias que tiverem acontecido ao navio segurado por fortuna do mar, contanto que o navio fosse estimado na apólice por seu verdadeiro valor, e os consertos não excedam de três quartos desse valor no dizer de arbitradores expertos. Julgando estes, porém, que pelos consertos o valor real do navio se aumentaria além do terço da soma que custariam, o segurador pagará as despesas, abatido o excedente valor do navio.
Art. 777 - Excedendo as despesas a três quartos do valor do navio, julga-se este declarado inavegável a respeito dos seguradores; os quais, neste caso, serão obrigados, não tendo havido abandono, a pagar a soma segurada, abatendo-se nesta o valor do navio danificado ou dos seus fragmentos, segundo o dizer de arbitradores espertos.
Art. 778 - Tratando-se de avaria particular das mercadorias, e achando-se estas estimadas na apólice por valor certo, o cálculo do dano será feito sobre o preço que as mercadorias avariadas alcançarem no porto da entrega e o da venda das não avariadas no mesmo lugar e tempo, sendo de igual espécie e qualidade, ou se todas chegaram avariadas, sobre o preço que outras semelhantes não avariadas alcançaram ou poderiam alcançar; e a diferença, tomada a proporção entre umas e outras, será a soma devida ao segurado.
Art. 779 - Se o valor das mercadorias se não tiver fixado na apólice, a regra para achar-se a soma devida será a mesma do artigo precedente, contanto que primeiro se determine o valor das mercadorias não avariadas; o que se fará acrescentando às importâncias das faturas originais as despesas subseqüentes (artigo nº. 694). E tomada a diferença proporcional entre o preço por que se venderam as não avariadas e as avariadas, se aplicará a proporção relativa à parte das fazendas avariadas pelo seu primeiro custo e despesas.
Art. 780 - Contendo a apólice a cláusula de pagar-se avaria por marcas, volumes, caixas, sacas ou espécies, cada uma das partes designadas será considerada como um seguro separado para a forma da liquidação das avarias, ainda que essa parte se ache englobada no valor total do seguro (artigo nºs 689 e 692).
Art. 781 - Qualquer parte da carga, sendo objeto suscetível de avaliação separada, que se perca totalmente, ou que por algum dos riscos cobertos pela respectiva apólice fique tão danificada que não valha coisa alguma, será indenizada pelo segurador com perda total, ainda que relativamente ao todo ou à carga segura seja parcial, e o valor da parte perdida ou destruída pelo dano se ache incluído, ainda que indistintamente, no total do seguro.
Art. 782 - Se a apólice contiver a cláusula de pagar avarias como perda de salvados, a diferença para menos do valor fixado na apólice, que resultar da venda líquida que os gêneros avariados produzirem no lugar onde se venderam, sem atenção alguma ao produto bruto que tenham no mercado do porto do seu destino, será a estimação da avaria.
Art. 783 - A regulação, repartição ou rateio das avarias grossas serão feitos por árbitros, nomeados por ambas as partes, as instâncias do capitão.
Não se querendo as partes louvar, a nomeação de árbitros será feita pelo Tribunal do Comércio respectivo, ou pelo juiz de direito do comércio a que pertencer, nos lugares distantes do domicílio do mesmo tribunal.
Se o capitão for omisso em fazer efetuar o rateio das avarias grossas, pode a diligência ser promovida por outra qualquer pessoa que seja interessada.
Art. 784 - O capitão tem direito para exigir, antes de abrir as escotilhas do navio, que os consignatários da carga prestem fiança idônea ao pagamento da avaria grossa, a que suas respectivas mercadorias forem obrigadas no rateio da contribuição comum.
Art. 785 - Recusando-se os consignatários a prestar a fiança exigida, pode o capitão requerer o depósito judicial dos efeitos obrigados à contribuição, até ser pago, ficando o preço da venda sub-rogado, para se efetuar por ele o pagamento da avaria grossa, logo que o rateio tiver lugar.
Art. 786 - A regulação e repartição das avarias grossas deverá fazer-se no porto da entrega da carga. Todavia, quando, por dano acontecido depois da saída, o navio for obrigado a regressar ao porto da carga, as despesas necessárias para reparar os danos da avaria grossa podem ser neste ajustadas.
Art. 787 - Liquidando-se as avarias grossas ou comuns no porto da entrega da carga, hão de contribuir para a sua composição:
1 - a carga, incluindo o dinheiro, prata, ouro, pedras preciosas, e todos os mais valores que se acharem a bordo;
2 - o navio e seus pertences, pela sua avaliação no porto da descarga, qualquer que seja o seu estado;
3 - os fretes, por metade do seu valor também.
Não entram para a contribuição o valor dos víveres que existirem a bordo para mantimento do navio, a bagagem do capitão, tripulação e passageiros, que for do seu uso pessoal, nem os objetos tirados do mar por mergulhadores à custa do dono.
Art. 788 - Quando a liquidação se fizer no porto da carga, o valor da mesma será estimado pelas respectivas faturas, aumentando-se ao preço da compra as despesas até o embarque; e quanto ao navio e frete se observarão as regras estabelecidas no artigo antecedente.
Art. 789 - Quer a liquidação se faça no porto da carga, quer no da descarga, contribuirão para as avarias grossas as importâncias que forem ressarcidas por via da respectiva contribuição.
Art. 790 - Os objetos carregados sobre o convés (artigo nºs 521 e 677, nº 8), e os que tiverem sido embarcados sem conhecimento assinado pelo capitão (artigo nº. 599) e os que o proprietário ou seu representante, na ocasião do risco de mar, tiver mudado do lugar em que se achavam arrumados sem licença do capitão contribuem pelos respectivos valores, chegando o salvamento; mas o dono, no segundo caso, não tem direito para a indenização recíproca, ainda quando fiquem deteriorados, ou tenham sido alijados a benefício comum.
Art. 791 - Salvando-se qualquer coisa em conseqüência de algum ato deliberado de que resultou avaria grossa, não pode quem sofreu o prejuízo causado por este ato exigir indenização alguma por contribuição dos objetos salvados, se estes por algum acidente não chegarem ao poder do dono ou consignatários, ou se, vindo ao seu poder, não tiverem valor algum; salvo os casos dos artigo nºs 651 e 764, nºs 12 e 19.
Art. 792 - No caso de alijamento, se o navio se tiver salvado do perigo que o motivou, mas, continuando a viagem, vier a perder-se depois, as fazendas salvas do segundo perigo são obrigadas a contribuir por avaria grossa para a perda das que foram alijadas na ocasião do primeiro.
Se o navio se perder no primeiro perigo e algumas fazendas se puderem salvar, estas não contribuem para a indenização das que foram alijadas na ocasião do desastre que causou o naufrágio.
Art. 793 - A sentença que homologa à repartição das avarias grossas com condenação de cada um dos contribuintes tem força definitiva, e pode executar-se logo, ainda que dela se recorra.
Art. 794 - Se, depois de pago o rateio, os donos recobrarem os efeitos indenizados por avaria grossa, serão obrigados a repor pró rata a todos os contribuintes o valor líquido dos efeitos recobrados. Não tendo sido contemplados no rateio para a indenização, não estão obrigados a entrar para a contribuição da avaria grossa com o valor dos gêneros recobrados depois da partilha em que deixaram de ser considerados.
Art. 795 - Se o segurador tiver pago uma perda total, e depois vier a provar-se que ela foi só parcial, o segurado não é obrigado a restituir o dinheiro recebido; mas neste caso o segurador fica sub rogado em todos os direitos e ações do segurado, e faz suas todas as vantagens que puderem resultar dos efeitos salvos.
Art. 796 - Se, independente de qualquer liquidação ou exame, o segurador se ajustar em preço certo de indenização, obrigando-se por escrito na apólice, ou de outra qualquer forma, a pagar dentro de certo prazo, e depois se recusar ao pagamento, exigindo que o segurado prove satisfatoriamente o valor real do dano, não será este obrigado à prova, senão no único caso em que o segurador tenha em tempo reclamado o ajuste por fraude manifesta da parte do mesmo segurado.
PARTE TERCEIRA - DAS QUEBRAS
TÍTULO I
DA NATUREZA E DECLARAÇÃO DAS QUEBRAS, E SEUS EFEITOS
Art. 797 - Todo o comerciante que cessa os seus pagamentos, entende-se quebrado ou falido.(Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 798 - A quebra ou falência pode ser casual, com culpa, ou fraudulenta. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 799 - É casual, quando a insolvência procede de acidentes de casos fortuitos ou força maior (art. 898). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 800 - A quebra será qualificada com culpa, quando a insolvência pode atribuir-se a algum dos casos seguintes: (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
1 - Excesso de despesas no tratamento pessoal do falido, em relação ao seu cabedal e número de pessoas de sua família;
2 - Perdas avultadas a jogos, ou especulação de aposta ou agiotagem;
3 - Venda por menos do preço corrente de efeitos que o falido comprara nos seis meses anteriores à quebra, e se ache ainda devendo;
4 - Acontecendo que o falido, entre a data do seu último balanço (art. 10 n. 4) e a da falência (art. 806), se achasse devendo por obrigações diretas o dobro do seu cabedal apurado nesse balanço.
Art. 801 - A quebra poderá ser qualificada com culpa: (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
1 - Quando o falido não tiver a sua escrituração e correspondência mercantil nos termos regulados por este Código (art. 13 e 14);
2 - Não se apresentando no tempo e na forma devida (art. 805);
3 - Ausentando-se ou ocultando-se.
Art. 802 - É fraudulenta a quebra nos casos em que concorre alguma das circunstancias seguintes: (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
1 - Despesas ou perdas fictícias, ou falta de justificação do emprego de todas as receitas do falido;
2 - Ocultação no balanço de qualquer soma de dinheiro, ou de quaisquer bens ou títulos (art. 805);
3 - Desvio ou aplicação de fundos ou valores de que o falido tivesse sido depositário ou mandatário;
4 - Vendas, negociações e doações feitas, ou dividas contraídas com simulação ou fingimento;
5 - Compra de bens em nome de terceira pessoa; e
6 - Não tendo o falido os livros que deve ter (art. 11), ou se os apresentar truncados ou falsificados.
Art. 803 - São cúmplices de quebra fraudulenta: (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
1 - Os que por qualquer modo se mancomunarem com o falido para fraudar os credores, e os
que o auxiliarem para ocultar ou desviar bens, seja qual for a sua
espécie, quer antes quer depois da falência;
2 - Os que ocultarem ou recusarem aos administradores a entrega dos bens, créditos ou títulos quem tenham do falido;
3 - Os que depois de publicada a declaração do falimento admitirem cessão ou endossos do falido, ou com ele celebrarem algum contrato ou transação;
4 - Os credores legítimos que fizerem concertos com o falido em prejuízo da massa;
5 - Os corretores que intervierem em qualquer operação mercantil do falido depois de declarada a quebra.
Art. 804 - As quebras dos corretores e dos agentes de casa de leilão sempre se presumem fraudulentas. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 805 - Todo o comerciante que tiver cessado os seus pagamentos é obrigado, no preciso termo de três dias, a apresentar na Secretaria do Tribunal do Comércio do seu domicílio uma declaração datada, e assinada por ele ou seu procurador, em que exponha as causas do seu falimento, e o estado da sua casa; ajuntando o balanço exato do seu ativo e passivo (art. 10 n. 4), com os documentos probatórios ou instrutivos que achar a bem. Esta declaração, de cuja apresentação o Secretário do Tribunal deverá certificar o dia e a hora, e da qual se dará contrafé ao apresentante, fará menção nominativa de todos os sócios solidários, com designação do domicílio de cada um, quando a quebra disser respeito a sociedade coletiva (arts. 311, 316 e 811). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 806 - Apresentada a declaração da quebra, o Tribunal do Comércio declarará
sem demora a abertura da falência, isto é, fixará o termo legal da sua existência, a
contar da data – da declaração do falido, ou da sua ausência, ou desde que se
fecharam os seus armazéns, lojas ou escritórios, ou finalmente de outra época anterior
em que tenha havido efetiva cessação de pagamentos: ficando porém entendido que a
sentença que fixar a abertura da quebra não poderá retroagí-la a época que exceda
além de quarenta dias da sua data atual. (Vide
Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 807 - A quebra pode também ser declarada a requerimento de algum ou alguns dos credores legítimos do falido, depois da cessação dos pagamentos deste; e também a pode declarar o Tribunal do Comércio ex-ofício quando lhe conste por notoriedade pública, fundada em fatos indicativos de um verdadeiro estado de insolvência (art. 806). Não é porém permitido ao filho a respeito do pai, ao pai a respeito do filho, nem à mulher a respeito do marido ou vice-versa, fazer-se declarar falidos respetivamente. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
O fato superveniente da morte do falido, que em sua vida houver cessado os seus pagamentos, não impede a declaração da quebra, nem o andamento das diligências subsequentes e conseqüentes, achando-se esta anteriormente declarada.
Art. 808 - No caso do artigo precedente, poderá o falido embargar o despacho que declarar a quebra, provando não ter cessado os seus pagamentos. Os embargos não terão efeito suspensivo; mas se forem recebidos e julgados provados, o que terá lugar dentro de vinte dias improrrogáveis, contados do dia da sua apresentação, e por conseguinte for revogado o despacho da declaração da quebra, será tudo posto no antigo estado; e o comerciante injuriado poderá intentar a sua ação de perdas e danos contra o autor da injuria, mostrando que este se portará com dolo, falsidade ou injustiça manifesta. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 809 - Na sentença da abertura da quebra, o Tribunal do Comércio ordenará que se ponham selos em todos os bens, livros e papéis do falido; designará um dos seus membros, dentre os Deputados comerciantes, para servir de Juiz comissário ou de instrução do processo da quebra, e um dos oficiais da sua secretaria para servir de escrivão no mesmo processo: e nomeará dentre os credores um ou mais que sirvam de Curadores fiscais provisórios, ou, não os havendo tais que possam convenientemente desempenhar este encargo, a outra pessoa ou pessoas que tenham a capacidade necessária. Os Curadores nomeados prestarão juramento nas mãos do Presidente; a quem incumbe expedir logo ao Juiz de Paz respectivo cópia autentica da sentença da abertura da falência, com a participação dos Curadores fiscais nomeados, para proceder a aposição dos selos.
Sendo possível inventariar-se todos os bens do falido em um dia, proceder-se-á imediatamente a esta diligência, dispensando-se a aposição dos selos. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 810 - Constando que algum devedor comerciante, que tiver cessado os seus pagamentos, intenta ausentar-se, ou trata de desviar todo ou parte do seu ativo, poderá o Presidente do Tribunal do Comércio, a requisição do Fiscal ou de qualquer credor, ordenar a aposição provisória dos selos, como medida conservatória do direito dos credores, convocando imediatamente o Tribunal para deliberar sobre a declaração da quebra (art. 807). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 811 - Recebida pelo Juiz de Paz a sentença declaratória da quebra, passará imediatamente a fazer por os selos em todos os bens, livros e documentos do falido que forem susceptíveis de os receber, quer os bens pertençam ao estabelecimento e casa social, quer a cada um dos sócios solidários da firma falida. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Não se porá selo nas roupas e móveis indispensáveis para uso do falido ou falidos e de sua família; mas nem por isso deixarão de ser descritos no inventário.
Aqueles bens que não puderem receber selo, serão depositados e entregues provisoriamente a pessoa de confiança.
Art. 812 - Postos os selos, e publicada pelo Juiz comissário a sentença da abertura da quebra, cuja publicação se fará, dentro de três dias depois do recebimento por editais afixados na Praça do Comércio, na porta da casa do Tribunal, e nas do escritório, lojas armazéns do falido, o dito Juiz pelos mesmos editais convocará a todos os credores do falido para que em lugar, dia e hora certa, não excedendo o prazo de seis dias compareçam perante ele para procederem à nomeação do depositário ou depositários que hão de receber provisoriamente a casa falida. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 813 - Nomeados o depositário ou depositários na forma dita, o Curador fiscal requererá ao Juiz de Paz o rompimento dos selos, e procederá a descrição e inventário de todos os bens e efeitos do falido; e este inventário se fará com autorização e perante o Juiz comissário, presentes o depositário ou depositários nomeados e o falido ou seu procurador, e não comparecendo este à sua revelia (art. 822). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Havendo bens situados em lugares distantes, serão as funções do Juiz comissário exercidas pelo Juiz ou Juizes de Paz respectivos.
Art. 814 - A medida que se forem rompendo os selos e se fizer a descrição e inventário dos bens, serão estes entregues ao depositário ou depositários; os quais se obrigarão por termo à sua boa guarda, conservação e entrega, como fieis depositários e mandatários que ficam sendo. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
O Juiz comissário mandará lavrar termo nos livros do falido do estado em que estes se acham, e publicará os títulos e mais papéis que julgar conveniente; e findo o inventário inquirirá o falido ou seu procurador para declarar, debaixo de juramento, se tem mais alguns bens que devam ir à descrição.
Art. 815 - Concluído o inventário, o Curador fiscal proporá ao Juiz comissário duas ou mais pessoas que hajam de avaliar os bens descritos: o Juiz pode recusar a primeira e mandar fazer segunda proposta, e se não se conformar com esta, nomeará de per si os avaliadores que julgar idôneos em número igual, para procederem à avaliação juntamente com os segundos propostos pelo Curador fiscal. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 816 - Os gêneros ou mercadorias que forem de fácil deterioração, ou que não possam guardar-se sem perigo ou grande despesa, serão vendidos em leilão por determinação do Juiz comissário, ouvido o Curador fiscal. Todos os outros bens não poderão ser vendidos sem ordem ou despacho do Tribunal. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 817 - Quando o falido não tenha ajuntado à declaração da quebra o balanço da sua casa (art. 805), ou quando depois, tendo sido citado para o fazer em três dias, o não apresentar, o Curador fiscal procederá a organizá-lo à vista dos livros e papéis do falido, e sobre as informações que puder obter do mesmo falido, seus caixeiros, guarda-livros e outros quaisquer agentes do seu comércio. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
No balanço se descreverão todos os bens do falido, qualquer que seja a sua natureza e espécie, as suas dívidas ativas e passivas (art. 10 n. 4), e os seus ganhos e perdas, acrescentando-se as observações e esclarecimentos que parecerem necessários.
Art. 818 - Fechado o balanço, ou ainda mesmo pendente a sua organização, procederá o Juiz comissário, conjuntamente com o Curador fiscal, ao exame e averiguação dos livros do falido, para conhecer se estão em forma legal (art. 13), e escriturados com regularidade e sem vicio (art. 14). Indagará outrossim a causa ou causas verdadeiras da falência, podendo para este fim perguntar as testemunhas que julgar precisas e sabedoras, as quais serão interrogadas na presença do falido ou seu procurador, e do Curador fiscal; a cada um dos quais é licito contestá-las no mesmo ato, e bem assim requerer qualquer diligência que possa servir para descobrir-se a verdade; ficando todavia ao arbítrio do Juiz recusar a diligência quando lhe pareça ociosa ou impertinente.
Do exame dos livros, da inquirição das testemunhas e sua contestação, e de qualquer diligência que se tenha praticado, se lavrarão os competentes autos ou termos, mas tudo em um só processo. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 819 - Ultimada a instrução do processo, o Juiz comissário o remeterá ao Tribunal do Comércio, acompanhando-o de um relatório circunstanciado com referência a todos os atos da instrução, e concluindo-o com o seu parecer e juízo acerca das causas da quebra e sua qualificação, tendo em vista para as suas conclusões as regras estabelecidas nos arts. 799, 800, 801, 802, 803 e 804. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 820 - Apresentado ao Tribunal o processo, será proposto e decidido na primeira conferência. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Qualificada a quebra na segunda ou terceira espécie, será o falido pronunciado como no caso caiba, com os cúmplices se os houver (art. 803): e serão todos remetidos presos com o traslado do processo ao Juiz criminal competente, para serem julgados pelo Júri; sem que aos pronunciados se admita recurso algum da pronúncia.(Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Qualquer que seja o julgamento final do Júri, os efeitos civis da pronuncia do Tribunal do Comércio não ficarão inválidos.
Art. 821 - Em quanto no Código criminal outra pena se não determinar para a falência com culpa, será esta punida com prisão de um a oito anos. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 822 - Logo que principiar a instrução do processo da quebra, o falido assinará termo nos autos de se achar presente por si ou por seu procurador a todos os atos e diligências do processo, pena de revelia. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 823 - O devedor que apresentar a sua declaração da falido em devido tempo (art. 805), e assistir pessoalmente a todos os atos e diligências subsequentes, não pode ser preso antes da pronúncia. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 824 - Contra todos os que se apresentarem fora de tempo, ou deixarem de assistir aos atos e diligências subsequentes, pode o Tribunal ordenar que sejam postos em custódia, se durante a formação do processo se reconhecer que o devedor está convencido de falência culposa ou fraudulenta, ou se ausentarem ou ocultarem. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 825 - Não existindo presunção de culpa ou fraude na falência, o falido que se não ocultar, e se tiver apresentado em todo os atos e diligências da instrução do processo (art. 822), tem direito a pedir, a título de socorro, uma soma a deduzir de seus bens, proposta pelos administradores, e fixada pelo Tribunal, ouvido o Juiz comissário, e tendo-se em consideração as necessidades e família do mesmo falido, a sua boa fé, e a maior ou menor perda que da falência terá de resultar aos credores. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 826 - O falido fica inibido de direito da administração e disposição dos seus bens desde o dia em que se publicar a sentença da abertura da quebra. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 827 - São nulas, a benefício da massa somente: (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
1 - As doações por título gratuito feitas pelo falido depois do último balanço, sempre que dele constar que o seu ativo era naquela época inferior ao seu passivo;
2 - As hipotecas da garantia de dividas contraídas anteriormente à data da escritura, nos 40 dias precedentes à época legal da quebra (art. 806).
As quantias pagas pelo falido por dividas não vencidas nos 40 dias anteriores à época legal da quebra, reentrarão na massa.
Art. 828 - Todos os atos do falido alienativos de bens de raiz, móveis ou semoventes, e todos os mais atos e obrigações, ainda mesmo que sejam de operações comerciais, podem ser anulados, qualquer que seja a época em que fossem contraídos, em quanto não prescreverem, provando-se que neles interveio fraude em dano de credores. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 829 - Contra comerciante falido, não correm juros, ainda que estipulados sejam, se a massa falida não chegar para pagamento do principal: havendo sobras, proceder-se-á a rateio para pagamento dos juros estipulados, dando-se preferência aos credores privilegiados e hipotecários pela ordem estabelecida no artigo 880. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 830 - As execuções que ao tempo da declaração da quebra se moverem contra comerciante falido, ficarão suspensas até a verificação dos créditos, não excedendo de trinta dias; sem prejuízo de quaisquer medidas conservatórias dos direitos e ações dos credores privilegiados ou hipotecários. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Se a execução for de reivindicação (art. 874), prosseguirá, sem suspensão, com o Curador fiscal.
Todavia, se os bens executados se acharem já na praça com dia definitivo para sua arrematação fixado por editais, o Curador fiscal, com autorização do Juiz comissário, poderá convir na continuação, entrando para a massa o produto se a execução proceder de créditos que não sejam privilegiados nem hipotecários, ou o remanescente procedendo destes.
Art. 831 - A qualificação da quebra torna exigíveis todas as dividas passivas do falido, ainda mesmo que se não achem vencidas, ou sejam comerciais ou civis, com abatimento dos juros legais correspondentes ao tempo que faltar para o vencimento.
Art. 832 - Os coobrigados com o falido em divida não vencida ao tempo da quebra, são obrigados a dar fiança ao pagamento no vencimento, não preferindo pagá-la imediatamente (art. 379). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Esta disposição procede somente no caso dos coobrigados simultânea mas não sucessivamente. Sendo a obrigação sucessiva, como nos endossos, a falência do endossado posterior não dá direito a acionar os endossatários anteriores antes do vencimento (art. 390).
Art. 833 - Incumbe ao Curador fiscal requerer ao Juiz comissário que autorize todas as diligências necessárias a benefício da massa: e é obrigado a praticar todos os atos necessários para conservação dos direitos e ações dos credores, e especialmente os prevenidos nas disposições dos artigos 277 e 387, requerendo para esse fim a imediata abertura e rompimento dos selos nos livros e papéis do falido. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Havendo despesas que fazer, serão pagas pelo depositário, precedendo autorização do mesmo Juiz (art. 876 n. 2).
Art. 834 - O Curador fiscal é obrigado a diligenciar o aceite e pagamento de letras e de todas as dividas ativas do falido, passando as competentes quitações, que serão por ele assinadas e pelo depositário, e referendadas pelo Juiz comissário. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 835 - As dividas ativas exigíveis em diversos domicílios podem validamente cobrar-se por mandatários competentemente autorizados pelo sobredito Juiz. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 836 - As somas provenientes de venda de efeitos ou cobranças, abatidas as despesas e custas, serão lançadas em caixa de duas chaves, das quais terá o Curador fiscal uma e o depositário outra; salvo se os credores acordarem em que sejam recolhidas a algum Banco comercial ou depósito público. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 837 - A saída de fundos da mesma caixa só pode ter lugar em virtude de ordem do Juiz comissário. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 838 - Desde a entrada do Curador fiscal em exercício, todas as ações pendentes contra o devedor falido, e as que houverem de ser intentadas posteriormente à falência, só poderão ser continuadas ou intentadas contra o mesmo Curador fiscal. Este porém não pode intentar, seguir ou defender ação alguma em nome da massa sem autorização do Juiz comissário. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 839 - O Curador fiscal e os depositários perceberão uma comissão, que será arbitrada pelo Tribunal do Comércio, em relação à importância da massa, e à diligência, trabalho e responsabilidade de uns e outros. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 840 - O Tribunal, sobre proposta do Juiz comissário, e com audiência do Curador fiscal, arbitrará a gratificação que deve ser paga aos guarda-livros e caixeiros que for necessário empregar na escrituração da falência e mais negócios e dependências correlativas, com atenção ao seu trabalho e à importância da massa. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 841 - Fica entendido que todas as despesas e custas, que se fizerem nas diligências a que se proceder relativas à quebra com a devida autorização, devem ser pagas pela massa dos bens do falido (art. 876 n. 2). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
TÍTULO II
Da reunião dos credores e da concordata
Art. 842 - Ultimada a instrução do processo da quebra, o Juiz comissário, dentro de oito dias, fará chamar os credores do falido para em dia e hora certa, e na sua presença se reunirem, a fim de se verificarem os créditos, se deliberar sobre a concordata, quando o falido a proponha, ou se formar o contrato de união, e se proceder à nomeação de administradores.(Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
O chamamento a respeito dos credores conhecidos será por carta do escrivão, e aos não conhecidos por editais e anúncios nos periódicos: e nas mesmas cartas, editais e anúncios se advertirá, que nenhum credor será admitido por procurador, se este não tiver poderes especiais para o ato (art. 145), e que a procuração não pode ser dada a pessoa que seja devedora ao falido, nem um mesmo procurador representar por dois diversos credores (art. 822).
Art. 843 - O Curador fiscal, os administradores, e todos os credores presentes por si ou por seus procuradores assinarão termo no processo da quebra, de que se dão por intimados de todos os despachos do Tribunal do Comércio, que no mesmo forem proferidos em sessão pública, e das decisões do Juiz comissário, que estiverem patentes em mão do escrivão do processo. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 844 - Os credores que não comparecerem a alguma reunião para que tenham sido competentemente convocados, entende-se que aderem às resoluções que tomar a maioria de votos dos credores que comparecerão; contanto que, para a concessão ou negação da concordata, se ache presente o número dos credores exigidos no artigo 848. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 845 - Reunidos os credores sob a presidência do Juiz comissário, e presentes o Curador fiscal, e o falido por si ou por seu procurador, ou à sua revelia (art. 822), o mesmo Juiz fará um relatório exato do estado da falência e de suas circunstâncias, segundo constar do processo: e apresentada em seguimento a lista dos credores conhecidos, que estará de antemão preparada pelo Curador fiscal, e na qual se acharão inscritos os que se houverem apresentado, com os seus nomes, domicílios, importância e natureza de seus respectivos créditos (art. 873), assentando-se em continuação os credores que neste ato de novo se apresentarem, o referido Juiz proporá a nomeação de uma Comissão que haja de verificar os créditos apresentados, se a reunião os não der logo por verificados.(Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Esta Comissão será composta de três dos credores; e examinando os livros e papéis do falido no escritório onde se acharem, é obrigada a apresentar o seu parecer em outra reunião, que não poderá espaçar-se a mais de oito dias da data da primeira.
Os créditos dos membros da Comissão, serão verificados pelo Curador fiscal.
Art. 846 - Na segunda reunião dos credores, apresentados os pareceres da Comissão e Curador fiscal, e não se oferecendo duvida sobre a admissão dos créditos constantes da lista, e havidos por verificados para o fim tão somente de habilitar o credor para poder votar e ser votado, o Juiz comissário proporá à deliberação da reunião o projeto de concordata, se o falido o tiver apresentado. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Porém se houver contestação sobre algum crédito, e não podendo o Juiz comissário conciliar as partes, se louvarão estas no mesmo ato em dois Juizes árbitros; os quais remeterão ao mesmo Juiz o seu parecer, dentro de cinco dias. Se os dois árbitros se não conformarem, o Juiz comissário dará vencimento com o seu voto àquela parte que lhe parecer, para o fim sobredito somente, e desta decisão arbitral não haverá recurso algum.
Art. 847 - Lida em nova reunião a sentença arbitral, se passará seguidamente a deliberar sobre a concordata, ou sobre o contrato de união (art. 755). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Se ainda nesta reunião se apresentarem novos credores, poderão ser admitidos sem prejuízo dos já inscritos e reconhecidos: mas se não forem admitidos não poderão tomar parte nas deliberações da reunião; o que todavia não prejudicará aos direitos que lhes possam competir, sendo depois reconhecidos (art. 888).
Para ser válida a concordata exige-se que seja concedida por um número tal de credores que represente pelo menos a maioria destes em número, e dois terços no valor de todos os créditos sujeitos aos efeitos da concordata.
Art. 848 - Não é licito tratar-se da concordata antes de se acharem satisfeitas todas as formalidades prescritas neste Título e no antecedente: e se for concedida com preterição de alguma das duas disposições, a todo o tempo poderá ser anulada.(Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Não pode dar-se concordata no caso em que o falido for julgado com culpa ou fraudulento, e quando anteriormente tenha sido concedida, será revogada.
Art. 849 - A concordata pode ser reincidida pelas mesma causas por que tem lugar a revogação da moratória; procedendo-se em tais casos, e nos de ser anulados, pela forma determinada no artigo 902. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 850 - A concordata deve ser negada ou outorgada, e assinada na mesma reunião em que for proposta. Se não houver dissidentes, o Juiz comissário a homologará imediatamente: mas havendo-os assinará a todos os dissidentes coletivamente oito dias para dentro deles apresentarem os seus embargos; dos quais mandará dar vista ao Curador fiscal e ao falido, que serão obrigados a contestá-los dentro de cinco dias. Os embargos com a contestação serão pelo Juiz comissário remetidos ao Tribunal do Comércio competente, no prefixo termo de três dias depois de apresentada a contestação. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 851 - Apresentados e vistos os embargos, proferirá o Tribunal a sua sentença, rejeitando-os, ou recebendo-os e julgando-os logo provados. Todavia, se ao Tribunal parecer que a matéria dos embargos é relevante mas que não está suficientemente provada, poderá assinar dez dias para a prova; e findo este prazo, sem mais audiência que a do Fiscal, os julgará a final. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Da decisão do Juiz comissário que homologar a concordata, não haverá recurso senão o de embargos processados na forma sobredita: da sentença porém do Tribunal que desprezar os embargos dos credores que se opuserem à homologação, haverá recurso de apelação para a Relação do distrito, no efeito devolutivo somente.
Os prazos assinados neste artigo e nos antecedentes são improrrogáveis.
Art. 852 - A concordata é obrigatória extensivamente para com todos os credores, salvos unicamente os do domínio (art. 874), os privilegiados (art. 876) e os hipotecários (art. 879). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 853 - Os credores do domínio, os privilegiados e hipotecários, não podem tomar parte nas deliberações relativas à concordata; pena de ficarem sujeitos a todas as decisões que a respeito da mesma se tomarem. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 854 - Intimada a concordata ao Curador fiscal, e ao depositário ou depositários, estes são obrigados a entregar ao devedor todos os bens que se acharem em seu poder, e aquele a prestar contas da sua administração perante o Juiz comissário; ao qual incumbe resolver quaisquer duvidas que hajam de suscitar-se sobre a entrega dos bens, ou a prestação de contas; podendo referi-las à decisão de árbitros, quando as partes assim o requeiram. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
TÍTULO III
Do contrato de união, dos administradores, da liquidação e dividendos
Capítulo I
Do contrato de união
Art. 855 - Não havendo concordata, se passará a formar o contrato de união entre os credores na mesma reunião, se o falido não tiver apresentado o seu projeto (art. 846), ou em outra, quando o tenha apresentado, que o Juiz comissário convocará até oito dias depois que a sentença do Tribunal que a houver negado lhe for remetida. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 856 - Em virtude do contrato de união, os credores presentes nomearão de entre si um, dois ou mais administradores para administrarem a casa falida, concedendo-lhes plenos poderes para liquidar, arrecadar, pagar, demandar ativa e passivamente, e praticar todos e quaisquer atos que necessários sejam a bem da massa, em Juízo e fora dele. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
A nomeação recairá com preferência em pessoa que seja credor comerciante, e cuja divida se ache verificada; e será vencida pela maioria de votos dos credores presentes, correndo-se segundo escrutínio, no caso de se não obter sobre os mais votados em número duplo dos administradores que se pretenderem nomear; e se neste igualmente se não obtiver maioria, recairá a nomeação nos mais votados, decidindo a sorte em caso de igualdade de votos.
Nomeando-se mais de um administrador, obrarão coletivamente, e à sua responsabilidade é solidária.
Art. 857 - O administrador que intentar ação contra a massa, ou fizer oposição em Juízo às deliberações tomadas na reunião dos credores, ficará por esse fato inabilitado para continuar na administração, e se procederá a nova nomeação. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 858 - É permitido aos credores requerer diretamente ao Tribunal do Comércio a destituição dos administradores, sem necessidade de alegarem causa justificada, com tanto que a petição seja assinada pela maioria dos credores em quantidade de dividas. Dando-se causa justificada, a destituição pode ter lugar a requerimento assinado por qualquer credor, e até mesmo ex-ofício. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Capítulo II
Dos administradores, da liquidação e dividendos
Art. 859 - Os administradores, logo que entrarem no exercício das suas funções, examinarão o balanço que houver sido apresentado pelo falido ou pelo Curador fiscal (art. 817), e farão outro parecendo-lhes que não está exato. Reverão outrosim a relação dos credores, cujos títulos lhe serão entregues no prazo de oito dias; e à proporção que os forem conferindo com os livros e mais papéis do falido, porão em cada um a seguinte nota – Admitido ao passivo da falência de F. por tal quantia: - ou – Não admitido por tais e tais razões, segundo entenderem e acharem justo: esta nota será datada, e assinada pelos ditos administradores. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 860 - Oferecendo-se contestação sobre a validade de algum crédito, ou sobre sua classificação (art. 873), o Juiz comissário ordenará, que as partes deduzam perante ele o seu direito, breve e sumariamente, no peremptório termo de cinco dias; findos os quais devolverá o processo ao Tribunal do Comércio: e este, achado que a causa pode ser decidida pela verdade sabida, constante das alegações e provas, a julgará definitivamente; dando apelação, se for requerida, para a Relação do distrito, ou remeterá as partes para os meios ordinários, quando seja necessária mais alta indagação. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
No segundo caso, e sempre que no primeiro se interpuser recurso, poderá o Tribunal ordenar que os portadores dos créditos contestados sejam provisionalmente contemplados, como credores simples ou chirografários, nos dividendos da massa, pela quantia que ele julgar conveniente fixar (art. 888). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
As custas do processo, quando a oposição for feita por parte dos administradores e eles decaírem, serão pagas pela massa, mas sendo feito por terceiro, serão pagas por este.
Art. 861 - Constando pelos livros e assentos do falido, ou por algum documento atendivel, que existem credores ausentes, o Tribunal do Comércio decidirá, sobre representação dos administradores e informação do Juiz comissário, se devem ser provisionalmente contemplados nas repartições da massa, e por que quantia (art. 886). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 862 - Os administradores da quebra, sem necessidade de outro algum título mais que a ata do contrato da união, e independente da audiência do falido, procederão à venda de todos os seus bens, efeitos e mercadorias, qualquer que seja a sua espécie, e a liquidação das suas dividas ativas e passivas. A venda será feita em leilão público, precedendo autorização do Juiz comissário, e com as solenidades da Lei. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 863 - Nem o Juiz comissário e seu escrivão, nem os administradores e o Curador fiscal poderão comprar para si ou para outrem bens alguns da massa; pena de perdimento da coisa e do preço a benefício do acervo comum. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 864 - É permitido aos administradores vender as dividas ativas da massa que forem de difícil liquidação ou cobrança, e entrar a respeito delas em qualquer transação ou convênio que lhes pareça útil para o fim de apressar-se a liquidação, com tanto porém que preceda assentimento dos credores, e autorização do Juiz comissário. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 865 - Os administradores poderão chamar para o serviço da administração da massa os guarda-livros, caixeiros e mais empregados que possam ser necessários (art. 840). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 866 - Todas as quantias recebidas serão arrecadadas em caixa de duas chaves, uma das quais se conservará sempre no poder do Juiz comissário e outra na mão de um dos administradores; salvo o caso em que os credores se acordarem em serem depositadas em algum Banco comercial ou depósito público. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 867 - Os administradores apresentarão ao Juiz comissário de mês em mês uma conta exata do estado da falência e das quantias em caixa; e o Juiz mandará proceder à repartição ou dividendo toda vez que o rateio possa chegar a cinco por cento. As quantias pagas serão notadas nos respectivos créditos ou títulos, e lançadas em uma folha que os credores assinarão. O saldo a favor da massa determinará o ultimo rateio. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 868 - Ultimada a liquidação, o Juiz comissário convocará os credores para que reunidos assistam à prestação das contas dos administradores, cujas funções acabarão logo que as tenham prestado. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 869 - Se acontecer que, pagos integralmente todos os credores, fiquem sobras, serão estas restituídas ao falido, ou aos seus herdeiros e sucessores: e quando estes não apareçam, sendo chamados por editais e anúncios repetidos três vezes nos periódicos com intervalo de três dias, serão metidas em depósito público, por conta de quem pertencer. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 870 - Se os bens não chegarem para integral pagamento dos credores, na mesma reunião de que trata o artigo 868, proporá o Juiz comissário, se deve ou não dar-se quitação plena ao falido. Se dois terços dos credores em número, que representem dois terços das dividas dos créditos por solver, concordarem em a dar, a quitação é obrigatória mesmo a respeito dos credores dissidentes; e o falido ficará por este ato desobrigado de qualquer responsabilidade para o futuro.(Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 871 - Torna-se porém de nenhum efeito a quitação, se, dentro de três anos imediatamente seguintes, se provar que o falido fizera algum ajuste ou trato oculto com algum credor para o induzir a assinar a quitação com promessa ou prestação real de algum valor. E neste caso, tanto o falido como a pessoa ou pessoas com quem ele se conluiasse, poderão ser processados criminalmente como incursos em estelionato. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 872 - Os bens que o falido possa vir a adquirir de futuro quando os credores lhe não passem quitação, ficam sujeitos às dividas contraídas anteriormente ao seu falimento. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
TÍTULO IV
Das diversas especiais de créditos e suas graduações
Art. 873 - Os credores do falido serão descritos em quatro relações distintas, segundo a natureza dos seus títulos: na primeira serão lançados os credores de domínio: na segunda os credores privilegiados: na terceira os credores com hipoteca: e na quarta os credores simples ou chirografários. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 874 - Pertencem à classe de credores do domínio: (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
1 - Os credores de bens que o falido possuir por título de depósito, penhor, administração, arrendamento, aluguel, comodato, ou usufruto;
2 - Os credores de mercadorias em comissão de compra ou venda, trânsito ou entrega;
3 - Os credores de letras de câmbio, ou outros quaisquer títulos comerciais endossados sem transferência da propriedade (art. 361 n. 3);
4 - Os credores de remessas feitas ao falido para um fim determinado;
5 - O filho famílias, pelos bens castrenses e adventícios, o herdeiro e o legatário pelos bens da herança ou legado, e o tutelado pelos bens da tutoria ou curadoria;
6 - A mulher casada: I. pelos bens dotais, e pelos parafernais que possuísse antes do consórcio, se os respetivos títulos se acharem lançados no Registro do Comércio dentro de quinze dias subsequentes à celebração do matrimônio (art. 31): II. pelos bens adquiridos na constância do consórcio por título de doação, herança ou legado com a cláusula de não entrarem na comunhão, uma vez que se prove por documento competente que tais bens entrarão efetivamente no poder do marido, e os respectivos títulos e documentos tenham sido inscritos no Registro do Comércio dentro de quinze dias subsequentes ao do recebimento (art. 31);
7 - O dono da coisa furtada existente em espécie;
8 - O vendedor antes da entrega da coisa vendida, se a venda não for a crédito (art. 198).
Art. 875 - O depósito de gênero sem designação da espécie, e o dinheiro que vencer juros, não entram na classe de créditos do domínio; desta natureza são também as somas entregues a banqueiros para serem retiradas à vontade, vençam ou não juros. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 876 - São credores privilegiados aqueles cujos créditos procederem de alguma das causas seguintes:
1 - Despesas funerárias feitas sem luxo e com relação à qualidade social do falido, e aquelas a que dera lugar a doença de que falecera; (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
2 - Despesas e custas da administração da casa falida, tendo sido feitas com a devida autorização (arts. 833 e 841);
3 - Salários ou soldadas de feitores, guarda-livros, caixeiros, agentes e domésticos do falido, vencidas no ano imediatamente anterior à data da declaração da quebra (art. 806);
4 - Soldadas das gentes de mar que não estiverem prescritas (art. 449 n. 4);
5 - Hipoteca tácita especial;
6 - Hipoteca tácita geral.
Art. 877 - Tem o credor hipoteca tácita especial: (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
1 - Nos móveis que se acharem dentro da casa, para pagamento dos alugueis vencidos, e nos frutos pendentes, a respeito da renda ou foro dos prédios rústicos;
2 - Nas benfeitorias ou no seu valor, pelos materiais e jornais dos operários empregados nas mesmas benfeitorias;
3 - O credor pignoratício, na coisa dada em penhor;
4 - Na coisa salvada, o que a salvou pelas despesas com que a fez salva (art. 738);
5 - Na embarcação e fretes da ultima viagem a tripulação do navio (art. 564);
6 - No navio, os que concorreram com dinheiro para a sua compra, concerto, aprestos ou provisões (art. 475);
7 - Nas fazendas carregadas, o aluguel ou frete, as despesas e avaria grossa (arts. 117, 626 e 627);
8 - No objeto sobre que recai o empréstimo marítimo, o dador do dinheiro a risco (arts. 633 e 662);
9 - Nos mais casos compreendidos em diversas disposições deste Código (arts. 108,156, 189, 537, 565 e632).
Art. 878 - Tem hipoteca tácita geral em todos os bens do falido:
1 - O credor por alcance de contas de curadoria ou tutoria que o falido tivesse exercido;
2 - O credor por herança ou legado;
3 - O credor que presta alimentos ao falido e sua família, ou de ordem do falido, nos seis meses anteriores à quebra (art. 806).
Art. 879 - São credores hipotecários aqueles que tem os seus créditos garantidos por hipoteca especial (art. 806). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Todos os mais são credores simples ou chirografários.
TÍTULO V
Das preferenciais e distribuições
Art. 880 - Os credores preferem uns aos outros pela ordem em que ficam classificados, e na mesma classe preferem pela ordem da sua enumeração. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 881 - Não se oferecendo duvida sobre os credores de domínio (art. 874), nem sobre
os privilegiados (art. 876), o Juiz comissário poderá mandar entregar logo a coisa aos
primeiros, e aos segundos a importância reclamada.
A coisa será entregue na mesma espécie em que houver sido recebida, ou naquela em que
existir tendo sido sub-rogada: na falta da espécie será pago o seu valor. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 882 - Os privilegiados enumerados no artigo 876 em 1., 2., 3., e 4. lugar serão pagos pela massa, os da 5. espécie só podem ser pagos pelo produto dos bens em que tiverem hipoteca tácita especial, e até onde esta chegar somente, os da 6. espécie serão embolsados pela massa depois de pagos os privilegiados, que os preferirem; procedendo-se a rateio entre os últimos, dada a igualdade de direitos, e não havendo bens que bastem. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 883 - Os administradores podem remir os penhores a beneficio da massa; e não sendo possível remirem-se, o Juiz comissário fará citar os credores pignoratícios para os trazerem a leilão. A sobra, havendo-a, entrará na massa; mas se pelo contrário não bastar o seu produto, a diferença entrará em rateio entre os credores pignoratícios e chirografário. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 884 - Concorrendo dois ou mais credores com hipoteca especial sobre a mesma coisa, preferem entre si pela ordem seguinte: (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
1 - O que a hipoteca especial reunir o privilégio de hipoteca tácita especial ou geral por algum dos títulos especificados no artigo 877.
2 - O que for mais antigo na prioridade do registro da hipoteca.
Art. 885 - Aparecendo duas hipotecas registradas na mesma data, prevalecerá aquela que tiver declarada no instrumento a hora em que a escritura se lavrou. Se ambas houverem sido apresentadas para o registro simultaneamente, os portadores dos instrumentos entrarão em rateio entre si. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 886 - Os credores hipotecários a respeito dos quais se não der contestação, ou que tenham obtido sentença, serão embolsados pelo produto da venda dos bens hipotecados: a sobra, havendo-a, entra na massa; e pela falta ou diferença concorrem em rateio com os credores chirografários. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 887 - Quando acontecer que o credor hipotecário nada receba dos bens hipotecados por serem absorvido por outro que deva preferir na mesma hipoteca, entrará no rateio como credor chirografário. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 888 - Se antes de liquidado definitivamente o direito de preferência de algum credor privilegiado ou hipotecário se proceder a algum rateio, será contemplado na qualidade de credor chirografário; e a quota que lhe pertencer, ficará em reserva na caixa, para ter o destino que pela decisão final do processo deva dar-se-lhe. O mesmo se praticará a respeito de outro qualquer credor mandado contemplar provisionalmente nos rateios ou repartições (art. 860 e 861). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 889 - Os credores que tiverem garantias por fianças, serão contemplados na massa geral dos credores chirografários, deduzindo-se as quantias que tiverem recebido do fiador; e este será considerado na massa por tudo quanto tiver pago em descarga do falido (art. 260). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 890 - Os credores da quarta classe tem todos direitos iguais para serem pagos em rateio pelos remanescentes que ficarem depois de satisfeitos os credores das outras classes. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 891 - Nenhum credor chirografário que se apresentar habilitado com sentença simplesmente de preceito obtida anteriormente à declaração da quebra, tem direito para ser contemplado nos rateios. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 892 - O credor portador de título garantido solidariamente pelo falido e outros coobrigados também falidos, será admitido a representar em todas as massas pelo valor nominal do seu crédito; e participará das repartições que nelas se fizerem até seu inteiro pagamento (art. 391). (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
TÍTULO VI
Da reabilitação dos falidos
Art. 893 - O falido que tiver obtido quitação plena de seus credores pode pedir a sua reabilitação perante o Tribunal do Comércio que declarou a quebra. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 894 - A petição deve ser instruída com a quitação dos credores, e certidão do cumprimento da pena, no caso de lhe ter sido imposta. Se a quebra com tudo houver sido julgada com culpa, está no arbítrio do Tribunal, procedendo às averiguações que julgar convenientes, conceder ou negar a reabilitação. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 895 - O falido de quebra fraudulenta, não pode nunca ser reabilitado. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 896 - Da sentença de concessão ou denegação de reabilitação não há recurso. Todavia poderá reformar-se a sentença que a houver negado, no fim de seis meses, apresentado a parte novos documentos que abonem a sua regularidade de conduta.
Art. 897 - Reabilitado o falido por sentença do Tribunal competente, cessam todas as interdições legais produzidas por efeito da declaração da quebra. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
TÍTULO VII
Das moratórias
Art. 898 - Só pode obter moratória o comerciante que provar, que a sua impossibilidade de satisfazer de pronto as obrigações contraídas procede de acidentes extraordinários imprevistos, ou de força maior (art. 799), e que ao mesmo tempo verificar por um balanço exato e documentado, que tem fundos bastantes para pagar integralmente a todos os seus credores, mediante alguma espera. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 899 - O Tribunal do Comércio do distrito do impetrante, quando o requerimento se ache nos casos previstos no artigo antecedente, poderá expedir imediatamente uma ordem para sustar todos os procedimentos executivos pendentes, ou que de futuro contra ele se intentem, até que definitivamente se determine a moratória. E quer esta ordem se expeça quer não, o Tribunal nomeará logo dois dos credores do impetrante, que lhe pareçam mais idôneos, para verificarem a exatidão do balanço apresentado à vista dos livros e papéis, que o mesmo impetrante deve facultar-lhes no seu escritório; e com a nomeação mandará ao Juiz de Direito do Comércio a que pertencer, que chame à sua presença, em dia certo e improrrogável, a todos os seus credores que existirem no distrito de sua jurisdição para responderem à moratória; devendo o chamamento fazer-se por cartas do escrivão, e por editais ou anúncios nos periódicos. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 900 - Reunidos os credores no dia assinado, que não será nem menos de dez nem mais de vinte do em que a ordem do Tribunal tiver sido apresentada ao Juiz, e lida a informação dos credores sindicantes, que lha deverão remeter com antecipação, serão os mesmos credores e o impetrante ouvidos verbalmente por si ou seus procuradores: e reduzidas a termo a contestação e a resposta, tudo em ato sucessivo, o Juiz devolverá todos os papéis com o seu parecer ao Tribunal. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
O Tribunal, ouvido o Fiscal, concederá ou negará a moratória como julgar acertado; podendo, antes da decisão final, mandar proceder a qualquer exame ou diligência que entender necessária para mais cabal conhecimento do verdadeiro estado do negócio; sendo necessário para a concessão que nela convenha a maioria dos credores em número, e que ao mesmo tempo represente dois terços da totalidade das dividas dos credores sujeitos aos efeitos da moratória.
Art. 901 - Não pode em caso algum conceder-se moratória por maior espaço que o de três anos. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
O espaço conta-se do dia da concessão da moratória.
Art. 902 - Concedida a moratória, o Tribunal nomeará dois dos credores do indiciado para
que fiscalizem a sua conduta durante a mesma moratória: e esta será revogada a
requerimento dos Fiscais, ou ainda de algum outro credor, sempre que se provar, ou que o
impetrante procede de má fé e em prejuízo dos credores, ou que o estado dos seus
negócios se acha de tal sorte deteriorado, mesmo sem culpa sua, que o ativo não bastará
para solver integralmente as dividas passivas.
Nestes casos o Tribunal, revogada a moratória, procederá imediatamente a declarar a
falência, continuando nos mais atos ulteriores e conseqüentes. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 903 - O efeito da moratória é suspender toda e qualquer execução, e sustar a obrigação do pagamento das dividas puramente pessoais do indiciado: mas a moratória não suspende o andamento ordinário dos litígios intentados ou que de novo se intentem; salvo quanto à sua execução. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
A maioria não compreende as ações ou execuções intentadas antes ou depois da sua concessão, que procederem de créditos do domínio, privilegiados ou hipotecários; nem aproveita aos coobrigados ou fiadores do devedor.
Art. 904 - O devedor que obtiver moratória não pode atear, nem gravar de maneira alguma seus bens de raiz, móveis ou semoventes, sem assistência ou autorização dos credores fiscais. A contravenção a este preceito, não só anula o ato, mas pode determinar a revogação da moratória, se assim parecer ao Tribunal à vista da gravidade do caso. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 905 - A moratória em que deixar de cumprir-se alguma das formalidades prescritas neste Código, a todo o tempo pode ser anulada. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 906 - Da sentença do Tribunal do Comércio que negar moratória, só há recurso de embargos, pela forma determinada no artigo 851: haverá porém o de apelação para a Relação do distrito nos casos de concessão, no efeito devolutivo somente. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
TÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 907 - Das decisões do Juiz comissário, haverá recurso de agravo para o Tribunal do Comércio, devendo ser interposto no peremptório termo de cinco dias, e decidido no primeiro dia de Sessão do mesmo Tribunal depois da sua interposição. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 908 - As disposições deste Código relativamente às falências ou quebras, são aplicáveis somente ao devedor que for comerciante matriculado. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 909 - Todavia na arrecadação, administração e distribuição dos bens dos negociantes que não forem matriculados, nos casos de falência, se guardará no Juízo ordinário quanto se acha determinado pelo presente Código para as quebras dos comerciantes matriculados, na parte que for aplicável. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 910 - Os direitos e responsabilidades civis dos credores falidos passam para seus herdeiros e sucessores até onde chegarem os bens daqueles, e não mais. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 911 - Os menores herdeiros dos falidos, sendo legalmente representados por seus tutores ou curadores, não gozam de privilégio algum nos casos de quebra, e a respeito deles tem aplicação o disposto no artigo 353. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 912 - O presente Código só principiará a obrigar e ter execução seis meses depois da data da sua publicação na Corte. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
Art. 913 - A contar da referida época em diante, ficam derrogadas todas as Leis e disposições de direito relativas a matérias de comércio, e todas as mais que se opuserem às disposições do presente Código. (Vide Decreto-Lei nº 7.661, 1945)
TÍTULO ÚNICO
(Vide Decreto-lei n° 1.608, de 1939) e (Vide Lei n° 5.869, de 11.1.1973)
DA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA NOS NEGÓCIOS E CAUSAS COMERCIAIS
CAPÍTULO I
DOS TRIBUNAIS E JUÍZO COMERCIAIS
SEÇÃO I
DOS TRIBUNAIS DO COMÉRCIO
Art. 1º - Haverá Tribunais do Comércio na Capital do Império, nas Capitais das Províncias da Bahia e de Pernambuco, e nas Províncias onde para o futuro se criarem, tendo cada um por distrito o da respectiva Província.
Nas Províncias onda não houver Tribunal do Comércio, as suas atribuições serão exercidas pelas relações; e, na falta destas, na parte administrativa, pelas Autoridades Administrativas, e na parte judiciária, pelas Autoridades Judiciárias que o Governo designar (art. 27).
Art. 2º - O Tribunal do Comércio da Capital do Império será composto de um Presidente letrado, seis Deputados comerciantes, servindo um de Secretário, e três Suplentes também comerciantes; e terá por adjunto um Fiscal, que será sempre um Desembargador com exercício efetivo na Relação Rio de Janeiro.
Os tribunais das Províncias serão compostos de um Presidente letrado, quatro Deputados comerciantes, servindo um de Secretário, e dois Suplentes também comerciantes; e terão por adjunto um Fiscal, que será sempre um Desembargador com exercício efetivo na Relação da respectiva Província.
Art. 3º - Os Presidentes e os Fiscais são da nomeação do Imperador, podendo ser removidos sempre que o bem do serviço o exigir.
Os Deputados e os Suplentes serão eleitos por eleitores comerciantes.
Art. 4º - Os Deputados comerciantes e os Suplentes servirão por quatro anos, renovando-se aqueles por metade de dois em dois anos.
Na primeira renovação recairá a exclusão nos menos votados; decidindo a sorte em igualdade de votos.
Nos casos de vaga do lugar de Deputado ou Suplente comerciante, proceder-se-á a nova eleição; mas o novo eleito servirá somente pelo tempo que faltava ao substituto.
Art. 5º - Nenhum comerciante poderá eximir-se do serviço de Deputado ou Suplente dos Tribunais do Comércio; exceto nos casos de idade avançada, ou moléstia grave e continuada que absolutamente o impossibilite. Os que sem justa causa não aceitarem a nomeação, nunca mais poderão ter voto ativo nem passivo nas eleições comerciais.
Não é porém obrigatória a aceitação antes de passados quatro anos de intervalo entre o serviço da antecedente e nova nomeação.
Art. 6º - Não poderão conjuntamente no mesmo Tribunal os parentes dentro do segundo grau de afinidade em quanto durar o cunhado, ou do quarto de consangüinidade, nem também dois ou mais Deputados comerciantes que tenham sociedade entre si.
Art. 7º - Em cada Tribunal do Comércio haverá uma Secretaria com um oficial maior, e os escriturários e mais empregados que necessários sejam par o expediente dos negócios.
A primeira nomeação do oficial maior, escriturários e mais empregados será feita pelo Imperador, tendo preferência os que atualmente servem no Tribunal da Junta do Comércio, se tiverem a precisa idoneidade. As subsequentes nomeações e demissões dos oficiais maiores, escriturários e porteiros terão lugar por consulta dos respectivos Tribunais; aos quais fica pertencendo no futuro a livre nomeação e demissão de todos os mais empregados e agentes subalternos.
Art. 8º - Aos Tribunais do Comércio competirá, além das atribuições expressamente declaradas no Código Comercial, aquela jurisdição voluntária inerente à natureza da sua instituição, que for marcada nos Regulamentos do Poder Executivo (art. 27).
Art. 9º - Ao Tribunal do Comércio da Capital do Império é especialmente encarregada a estatística anual do comércio, agricultura, industria e navegação do Império; e para a sua organização se entenderá com os Tribunais das Províncias, e ainda com outras Autoridades que serão obrigadas a cumprir as suas requisições.
Art. 10 - Os negócios de mero expediente, poderão ser despachados por três Membros do Tribunal, sendo um deles o Presidente. Todos os outros o serão por metade e mais um dos Membros que o compuserem, compreendido o Presidente. Excetuam-se unicamente os casos de que tratam os artigos 806, 820 e 894 do Código Comercial, para a decisão dos quais é indispensável que o Tribunal se ache completo. Em todos os casos a maioria absoluta dos votos determina o vencimento.
Art. 11 - Haverá nas Secretarias dos Tribunais do Comércio um Registro Público do Comércio, no qual, em livros competentes, rubricados pelo Presidente do Tribunal, se inscreverá a matricula dos comerciantes (Cód. Comercial art. 4), e todos os papéis, que segundo as disposições do Código Comercial, nele devam ser registrados (Cód. Comercial art. 10 n.º 2).
Art. 12 - Os Presidentes dos Tribunais do Comércio das Províncias são obrigados a formar anualmente relatórios dos negócios que perante os mesmos Tribunais se apresentarem, com as decisões que se tomarem; e deles remeterão cópia ao Presidente do Tribunal da Capital do Império, com as observações que julgarem convenientes.
Art. 13 - O Presidente do Tribunal do Comércio da Capital do Império, formando pela sua parte igual relatório, os levará todos ao conhecimento do Governo, acompanhados das suas observações, para este providenciar como achar conveniente na parte que couber nas suas atribuições, e propor ao Poder Legislativo as disposições que dependerem de medidas legislativas.
SEÇÃO II
Da eleição dos Deputados comerciantes.
Art. 14 - Podem votar e ser votados nos Colégios Comerciais, todos os comerciantes (art. 4) estabelecidos no distrito onde tiver lugar a eleição, que forem cidadãos brasileiros, e se acharem no livre exercício dos seus direitos civis e políticos, ainda que tenham deixado de fazer profissão habitual do comércio.
Na primeira eleição, não havendo, pelo menos, vinte comerciantes matriculados no Tribunal da Junta do Comércio para formar o Colégio Comercial, serão admitidos a votar e ser votados os negociantes que tiverem ou se presumir terem um capital de quarenta contos.
Ficam porém excluídos de votar e ser votados aqueles comerciantes, que em algum tempo foram convencidos de perjúrio, falsidade ou quebra com culpa ou fraudulenta, posto que tenham cumprido as sentenças que os condenaram, ou se achem reabilitados.
Art. 15 - Nenhum comerciante pode ser Deputado ou Suplente, antes de trinta anos completos de idade, e sem que tenha pelo menos cinco anos de profissão habitual de comércio. A nomeação do Presidente não poderá recair em pessoa que tenha menos da referida idade.
Art. 16 - Os Tribunais do Comércio designarão a época em que deverá ter lugar a reunião do Colégio Eleitoral dos comerciantes; e será este presidido pelo Presidente do Tribunal.
A designação do dia da primeira eleição será feita pelo Ministro do Império na Corte, e pelos Presidentes nas Províncias.
SEÇÃO III
Do Juízo Comercial.
Art. 17 - As atribuições conferidas no Código Comercial aos Juizes de Direito do Comércio serão exercidas pelas Justiças ordinárias; às quais fica também competindo o conhecimento das causas comerciais em primeira instancia, com recurso para as Relações respectivas; com as exceções estabelecidas no Código Comercial para os casos de quebra.
Art. 18 - Serão reputadas comerciais, todas as causas que derivarem de direitos e obrigações sujeitos às disposições do Código Comercial, com tanto que uma das partes seja comerciante.
Art. 19 - Serão também julgadas na conformidade das disposições do Código Comercial, e pela mesma forma de processo, ainda que não intervenha pessoa comerciante:
I - As questões entre particulares sobre títulos da divida pública, e outros quaisquer papéis de crédito do Governo;
II - As questões de companhias ou sociedades, qualquer que seja a sua natureza ou objeto;
III - As questões que derivarem de contratos de locação compreendidos nas disposições do Título X do Código Comercial, com exceção somente das que forem relativas à locação de prédios rústicos ou urbanos.
Art. 20 - Serão necessariamente decididas por árbitros as questões e controvérsias a que o Código Comercial dá esta forma de decisão.
Art. 21 - Todo o Tribunal ou Juiz que conhecer de negócios ou causas do comércio, todo o árbitro ou arbitrador, experto ou perito que tiver de decidir sobre objetos, atos ou obrigações comerciais, é obrigado a fazer aplicação da Legislação comercial aos casos ocorrentes.
CAPÍTULO II
Da ordem do Juízo nas causas comerciais.
Art. 22 - Todas as causas comerciais devem ser processadas, em todos os Juízos e instancias, breve e sumariamente, de plano e pela verdade sabida, sem que seja necessário guardar estritamente todas as formas ordinárias, prescritas para os processos civis: sendo unicamente indispensável que se guardem as formulas e termos essenciais para que as partes possam alegar o seu direito, e produzir as suas provas.
Art. 23 - Não é necessária a conciliação nas causas comerciais que procederem de papéis de crédito comerciais que se acharem endossados, nas em que as partes não podem transigir, nem para os atos de declaração de quebra.
Art. 24 - Nas causas comerciais só se exige que seja pessoal a primeira citação, e a que deve fazer-se no princípio da execução.
Art. 25 - Achando-se o réu fora do lugar onde a obrigação foi contraída, poderá ser citado na pessoa de seus mandatários, administradores, feitores ou gerentes, nos casos em que a ação derivar de atos praticados pelos mesmos mandatários, administradores, feitores ou gerentes. O mesmo terá lugar a respeito das obrigações contraídas pelos capitães ou mestres de navios, consignatários e sobrecargas, não se achando presente o principal devedor ou obrigado.
Art. 26 - Não haverá recurso de apelação nas causas comerciais (art. 18) cujo valor não exceder de duzentos mil réis, nem o de revista, se o valor não exceder de dois contos de réis.
Art. 27 - O Governo, além dos Regulamentos e Instruções da sua competência para a boa execução do Código Comercial, é autorizado para, em um Regulamento adequado, determinar a ordem do Juízo no processo comercial; e particularmente para a execução do segundo período do artigo 1º e artigo 8º, tendo em vista as disposições deste Título e as do Código Comercial: e outro sim para estabelecer as regras e formalidades que devem seguir-se nos embargos de bens, e na detenção pessoal do devedor que deixa de pagar divida comercial.
Art. 28 - Os lugares de Presidente, Deputado e Fiscal dos Tribunais do Comércio, são empregos honoríficos, e os que os servirem só perceberão, por este título, os emolumentos que direitamente lhes pertencerem. Recaindo a nomeação de Presidente em Desembargador, este acumulará os dois empregos, mas só perceberá o seu ordenado se tiver exercício efetivo na Relação do lugar onde se achar o Tribunal do Comércio.
Os demais empregados dos mesmos Tribunais perceberão uma gratificação arbitrada pelo Governo sobre consulta dos respectivos Tribunais, e paga pela caixa dos emolumentos.
Art. 29 - O Governo estabelecerá a tarifa dos emolumentos que devem perceber os Tribunais do Comércio. Todas as multas decretadas no Código Comercial sem aplicação especial, entrarão para a caixa dos emolumentos dos respectivos Tribunais do Comércio.
Art. 30 - Fica extinto o Tribunal da Junta do Comércio. Os Membros do mesmo Tribunal serão aposentados com as honras e prerrogativas de que gozavam, e os vencimentos correspondentes ao seu tempo de serviço.
Os demais empregados do mesmo Tribunal, que não puderem ser admitidos nas Secretarias dos Tribunais do Comércio, continuarão a perceber os seus vencimentos por inteiro, enquanto não forem novamente empregados.
Mandamos portanto a todas as Autoridades, a quem o conhecimento, e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir, e guardar tão inteiramente, como nela se contém. O Secretário de Estado dos Negócios da Justiça e faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palácio do Rio de Janeiro aos vinte e cinco de junho de mil oitocentos e cinqüenta, vigésimo nono da Independência e do Império.
Este texto não substitui o publicado na CLBR, de 1850