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Trocas Solidárias, Moeda e Espiritualidade
Princípios da Economia Solidária

Armando de Melo Lisboa
(alisboa@matrix.com.br)
Andrea Viana Faustino
(andreavianafaustino@yahoo.com.br)
Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis

Sumário

Histórico dos autores
Resumo
Introdução
A desventura da moeda
As trocas solidárias mediadas pela moeda social
As trocas diretas
As trocas e a vida espiritual
Conclusões
Declaração de Princípios do Clube de Trocas Ecosol

1  Histórico dos autores

     Este artigo reflete nossa participação em inúmeros eventos e ações práticas com trocas solidárias e moeda social, tais como: oficina sobre moeda social ministrada por Marcos Arruda na Jornada Catarinense de Economia Popular Solidária em maio de 2000 em Florianópolis; seminário com Heloisa Primavera em Florianópolis, junho de 2000; feiras do Clube de Trocas ECOSOL em Florianópolis, desde 2000; encontros de trocas solidárias Chá das Fadas, desde 2000 em Florianópolis, SC; reuniões de trabalho latino-americanas sobre moeda social em Santiago do Chile e Buenos Aires Argentina, em maio de 2001; oficina sobre moeda social e trocas no Ecosust - encontro sobre novas tecnologias sustentáveis - realizados em 2002/2003/2004 em Garopaba (SC); Onda de Arte Planetária, em outubro de 2003, Florianópolis; encontros de trocas solidárias do Clube de Trocas Peri, desde 2003 em Florianópolis; encontro de trocas solidárias no Rio Tavares, em 2004/2005 em Florianópolis; encontros de trocas solidárias Aldeia da Terra, em 2004/2005 em Florianópolis; encontros de trocas solidárias da Rede Sorrisos em Balneário Camburiú em 2004; Primeiro Seminário de Verão AHIMSA de Economias Ecológicas e Solidárias, em 2004, Florianópolis; Encontro Nacional dos Grupos de Trocas Solidárias, em setembro de 2004, Mendes (RJ); oficina sobre trocas solidárias no Armazém Santa Bárbara, em dezembro de 2004 em Criciúma (SC); oficina sobre trocas solidárias e consumo responsável para alunos do segundo ano do CEFET, em 2005, Florianópolis; Encontros de Trocas Solidárias na Jornada de Eco-Ações UFSC, em abril de 2005; Mercado das Trocas Solidárias no Fórum Social Mundial, em janeiro de 2005 em Porto Alegre; Mercado das Trocas Solidárias na 1a Feira Nacional de Economia Solidária, em abril de 2006, São Paulo.

2  Resumo

     Neste artigo examinamos o papel das trocas solidárias dentro da economia solidária, as quais estão a recriar formas de comercialização reaproximando e reunificando produtores e consumidores enquanto prossumidores. Apontamos, nas conclusões, que os círculos de troca solidários permitem aos seus participantes voltarem a assumir seu poder pessoal e comunitário e ter controle sobre suas vidas, pois quebra o feitiço do dinheiro e possibilita redescobrir as pessoas ocultas numa relação de troca.

     Palavras-Chave: Trocas Solidárias; Moeda Social; Economia Solidária.

3  Introdução

     A economia solidária atualmente constitui-se num verdadeiro movimento social composto de inúmeras vertentes, tais como cooperativas de produção, de consumo ou de serviços, organizações de crédito solidário e fundos rotativos, empresas recuperadas através da autogestão. Porém, aqui destacamos o movimento das trocas solidárias, em geral praticadas nos Clubes de Troca com - e sem - o uso de moeda social.

     Nestes círculos de trocas solidárias1 são intercambiados bens acumulados (em bom estado de conservação e limpos) ou produzidos, tais como: cd's e discos de vinil; artesanato; bijoux; livros; espelhos; cesta para bicicleta; roupas; cortador de grama; lençol; canga; computador; bomba para tirar água de poço; aparelho de som; taças de cristal; roupas de cama e mesa; ervas medicinais; temperos; ferramentas; compotas, doces, geléias, queijos; grãos, verduras e hortaliças orgânicas; panos decorativos; bolos e tortas, pães integrais, biscoitos; tênis; tapetes; forno para cerâmica, forno para pães e bolos; biombo, luminária. Também circulam saberes e serviços: massagens; equipe para trabalhar com arte mosaico; pessoas que escrevam projetos sociais/artísticos; aulas de violão, de percussão, de música; aulas de costura; aulas de inglês, francês, alemão, ou matemática; tarô; aula de teatro; de yôga; de dança; aula de permacultura; reflexologia; reiki; mutirão para bioconstrução; vivências; cursos; aula de capoeira; aulas de astrologia; dentista.

     Estas trocas ocorrem, principalmente, através de FEIRAS, as quais se realizam periodicamente quando os associados expõem, em bancas e/ou cartazes, os produtos e serviços, efetuando-se as trocas. Quando não é possível o escambo (intercâmbio direto), para facilitar as trocas se utiliza apenas uma moeda social, uma espécie de vale que apenas media as trocas entre os sócios. Nestas feiras não apenas se intercambiam mercadorias, mas se convive e se fazem amizades, trocam-se idéias, desfrutando-se de um fraterno momento de partilha solidária. Para poder participar plenamente duma feira basta levar algo para trocar, mas é necessário formalizar a adesão aos princípios da economia solidária (veja anexo) e preencher um singelo cadastro. Mas, existem também as trocas pontuais que não são efetuadas nas feiras, seja entre vizinhos, seja entre amigos, familiares ou colegas, entre membros do mesmo Clube de Trocas ou de outros Clubes.

     No movimento das trocas solidárias encontramos duas formas de intercâmbio: as mediadas através de uma moeda social2, e as efetuadas diretamente. Nos tópicos abaixo examinaremos ambas formas. Ao final anexamos a Declaração de Princípios do Clube de Trocas Ecosol, de Florianópolis, cuja versão foi re-elaborada pelos autores.

4  A desventura da moeda

"Na América Latina são muitos os países
que têm uma moeda saudável, mas um povo doente."

(E. Galeano)

     No início da aventura humana e durante boa parte dela, inclusive atualmente, a troca - ou escambo - é utilizada, mesmo sem percebermos isto.

     A troca é o princípio da vida. Desde o primeiro momento de nossa vida intercambiamos o ar, através da respiração e nos relacionamos com o ambiente em que estamos. A qualidade do ambiente influi na nossa qualidade de vida, na nossa saúde. Assim, também as nossas trocas por artigos, serviços e saberes que garantam nossa vivência digna, precisam ser feitas com qualidade. A qualidade a que nos referimos aqui não é a do produto em si, o que é óbvio, mas sim a qualidade dos relacionamentos, dos laços que se podem construir quando se está trocando. Estamos nos referindo aqui a oportunidade de crescimento nos níveis físico, emocional e mental, pois quando trocamos estamos lidando com nossos sentimentos mais íntimos, como egoísmo, competição, apego, e, quando, através de nossa vontade, aprendemos a identificar estes sentimentos e emoções e a transformá-los em gratidão, amizade, doação, nosso processo como seres humanos em evolução acelera grandemente e melhoramos nosso bem estar, nossa qualidade de vida e dos que estão ao nosso redor.

     Como um meio para facilitar as trocas, surge a moeda (o dinheiro), palavra originária do nome da deusa romana Juno Moneta. Com o passar do tempo a moeda foi ganhando outras características, como a capacidade de ser especulada e acumulada, por exemplo. A maneira como utilizamos a moeda reflete nosso comportamento como seres humanos, nossos medos, nossos apegos e esperanças. Atualmente, no mundo globalizado há uma quantidade enorme de dinheiro que existe apenas nominalmente e, mesmo não existindo, este dinheiro está concentrado nas mãos de poucos, gerando inúmeros desconfortos para o bem estar do ser humano (seja para os que o tem, seja para as maiorias que não o tem).

     A crise da Argentina de 2000/2001 tanto revela que os trilhões de dólares que circulam no mundo virarão pó (não valem nada, portanto) se uma quantidade considerável de pessoas quiser liquidez ao mesmo tempo, quanto a importância das atuais pequenas "velas" elaboradas na escala humana que, diante do apagão, brilharão no escuro. Foi o que ocorreu com a rede dos clubes de troca lá existentes, as quais, diante do vácuo da moeda oficial que praticamente desapareceu, passaram a ser a única forma pela qual milhões conseguiam sobreviver no auge da crise.

     Uma das funções da moeda é evitar a troca direta. Quando vamos ao mercado formal, estabelecemos relação com o papel moeda, sem darmo-nos conta da existência de outro ser humano, que naquele momento pode estar no caixa efetuando a nossa compra. Em geral, no mundo moderno as trocas são feitas no mercado formal através da moeda oficial, o que causa uma certa estranheza e alguns consequentes desconfortos para as pessoas, pois a relação puramente mercantil mediada pelo dinheiro engendra um distanciamento entre o participantes do ato de troca, e não uma aproximação e união. Olavo Bilac [1] (1997), em seu ensaio sobre o dinheiro nos diz que "o maior crime do dinheiro é este: ele é o grande corruptor, o grande envenenador das almas, o grande prostituidor das consciências". O fenômeno da reificação do dinheiro pelo qual este ganha vida própria é bastante conhecido, já tendo sido desvelado por Marx na sua análise do fetichismo da mercadoria. Elevado a um fim em si mesmo, o dinheiro passa a dominar plenamente o ser humano, como um Deus secularizado.

     A socialização pelo dinheiro, celebremente descrita por Simmel [10] em 1900 na obra "A filosofia do dinheiro", por um lado é louvada porque permite desabrochar a individualidade, liberando o indivíduo do jugo e dos constrangimentos comunitários, possibilitando relações impessoais e estimulando a eficácia da racionalidade econômica e o espírito científico moderno. Mas, há um alto preço a pagar quando é apenas através da moeda que nos relacionamos, pois aqui estamos diante duma espécie de socialização asocial, a qual permite uma participação do indivíduo na sociedade de consumo, mas não o integra nas redes primárias de sociabilidade e apoio mútuo, gerando um indivíduo socialmente desintegrado, indiferente e alienado, afetivamente carente e neurótico. No extremo, esta forma moderna de socialização constitui uma socialização dessocializante, dessolidarizante, que nesta forma limite ameaça a continuidade da vida social.

     A forma de socialização engendrada através de relações puramente mercantilizadas e monetarizadas reveste-se duma espécie de "síndrome da grife": "se chego à sua casa de BMW tenho um valor A, se chego de ônibus valor Z. Sou a mesma pessoa, mas a mercadoria que me reveste passa a ter mais valor que eu, passa a me imprimir valor" (Fr. Betto).

     Vale resgatar Marx para entender como funciona o atual paradigma econômico, se queremos superá-lo. Descreve Marx que o capitalismo partiu da troca simples de mercadoria (M-$-M, mercadoria trocada por dinheiro para trocar por outra mercadoria), evoluindo para a forma capitalista, ou $-M-$ (onde dinheiro é trocado por mercadorias para obter, através da transformação destas e da troca do produto final, mais dinheiro), até atingir o ápice do circuito financeiro, onde o dinheiro é trocado simplesmente por dinheiro, $-$. Neste circuito financeiro o ser humano foi totalmente excluído.

     Além disso, o sistema financeiro moderno age como um dreno, um autêntico sanguessuga, gerando vazios monetários (30% dos municípios do Brasil não têm agência bancária3) que inviabilizam e empobrecem imensas regiões que se descapitalizam, concentrando recursos nas grandes capitais e centros financeiros. Ao invés do sistema bancário servir ao país, ele se serve deste, aumentando abusivamente seus lucros. "A causa da pobreza é a natureza voraz dos juros compostos", alertou Hodgskin [6] em 1825. Adenda ainda que "nenhum trabalhador, nenhuma força produtiva, nenhum engenho e arte podem satisfazer às exigências esmagadoras dos juros compostos" (1986: 327-328).

5  As trocas solidárias mediadas pela moeda social

     A moeda, milenar invenção da humanidade, deveria servir para facilitar nossas vidas e permitir uma dinâmica econômica mais saudável. Numa sociedade complexa ela é imprescindível e irrenunciável, assim como os tubos de cano para a condução de água. O dinheiro continua necessário, mas ele carrega muito sangue (pois advém da exploração) além de ser extremamente poderoso, agindo como um fetiche, um incrível imã que magnetiza nossos corações e mentes, deformando nossas relações e a própria condição humana. Como quebrar o seu feitiço? Como lidar com ele?

     As trocas feitas através da moeda social são uma alternativa concebida, distribuída e gerida pelos próprios usuários que, ao intensificar suas funções como meio de circulação, contribui para aprofundar nossas relações de colaboração. A moeda social tem uma relação mais transparente e direta com própria riqueza, nos permitindo ver que esta advém do trabalho. Como a moeda social não se torna a finalidade do ato econômico, nem busca servir como reserva de valor, nem mede apenas o valor de troca ou valor de uso, ela acaba por revelar o incomensurável valor de vínculo entre as pessoas. Uma diferença importante entre a moeda social e o dinheiro oficial, é que qualquer um pode fazer uso dela na medida em que tenha algo para oferecer, como um produto ou serviço, dentro do espaço onde ela circula, no qual sua aceitação é voluntária. Pois, lembra Hélder Câmara, "ninguém é tão pobre que não tenha nada para oferecer, ninguém é tão rico que não tenha nada que necessite".

     Em muitos casos a troca direta entre duas pessoas não é possível, pois ocorrem com frequência situações onde "tu tens algo que eu quero, porém o que eu tenho para trocar não te interessa ou não te é necessário". Neste caso a entrada duma terceira pessoa pode resolver o problema, ocorrendo uma negociada e difícil triangulação. Situações de trocas triangulares são comuns.

     Nestes casos, a introdução da moeda facilita e permite fluir rapidamente a transação. Aqui a moeda representa uma dívida que a coletividade que a utiliza possui para com seu detentor. Evidentemente, quando se trata da moeda social, tal esquema simbólico (o dinheiro enquanto um crédito) apenas pode funcionar se os intercambiantes se encontram frequentemente, quase que como parceiros, permitindo que seu portador resgate a dívida. Isto ocorre porque a moeda social tem circulação restrita, pois é aceita apenas entre aqueles que comungam da filosofia da economia solidária. Mas, nas ocasiões onde os atores dificilmente terão outra oportunidade de se encontrar e se relacionar, ficar com a moeda social equivale a ficar com um mico, trazendo insatisfação.

     Aliás, a teoria dos jogos está cansada de demonstrar que a ação coletiva efetuada cooperativamente é sinérgica, sendo a melhor opção individual nos arranjos onde as pessoas com alguma frequência se relacionam (a solidariedade é o melhor negócio).

     A moeda social, como toda e qualquer moeda moderna, exige confiança. Mas, no seu caso, esta é construída na convivência, através de encontros periódicos entre as pessoas. A moeda social só faz sentido quando há perspectiva temporal de continuidade, exigindo novos encontros quando aqueles que são credores (ou seja, portadores de moeda) poderão resgatar a dívida que aquele coletivo onde ela circula tem para consigo. Entretanto, nestes reencontros, ao mesmo tempo se constituirão novas dívidas, num perpétuo ciclo de endividamento.

     Este circuito de trocas é exatamente semelhante ao conhecido circuito da economia da dádiva, onde a reciprocidade é possível pela corrente temporal do dar-receber-retribuir, estabelecendo um processo sem fim onde o que importa é a relação de camaradagem que se estabelece, mais que o cálculo instrumental de ganhos e perdas. Os Clubes de Trocas são, provavelmente, os únicos clubes do mundo em que todos os membros quando ingressam, ao invés de pagar uma taxa para se associar, recebem uma certa quantia de moeda social. Assim, além de se garantir um grau mínimo de liquidez (de fluidez das mercadorias), gera-se um compromisso de cada participante colocar algo em circulação, desencadeando uma espiral de trocas sem fim. Como a reciprocidade está na base do laço social (Mauss), exercitá-la nos Clubes de Trocas é experienciar como é gratificante entrar em associação com o outro de forma desinteressada e livre.

     Portanto, fazer demonstrações, oficinas com moeda social, em determinadas ocasiões nas quais não há expectativa dos atores se reencontrarem, é como brincar de feira solidária com uso de moeda social construída só para aquele evento, o que poderá levar a experiência ao insucesso. Isto dificilmente dá bons resultados e dificilmente convencerá os curiosos que querem conhecer este outro sistema monetário, impossibilitando atingir seu caráter pedagógico de mostrar na prática uma outra forma de nos relacionarmos com a moeda. Acreditamos, portanto, que a prática de utilizar moedas sociais em eventos pontuais é válida apenas quando houver perspectivas daquele evento se repetir periodicamente, ou que ele se estenda por vários dias.

     Ela de fato faz sentido quando praticada por grupos de pessoas que tenham afinidades, articulados seja pela proximidade (bairros, comunidades, local de trabalho), seja pela ideologia, religião ou bom senso.

     O uso generalizado da moeda social como uma espécie de circulante local num determinado bairro possibilita romper com o círculo vicioso da pobreza e da miséria, o qual em grande parte é decorrente da escassez de moeda que inibe a produção e circulação da riqueza, tal como demonstra a experiência do Bairro Palmeira em Fortaleza, através do Banco Palmas, um banco popular (Segundo [9]; Magalhães, 2005).

     Nos círculos de trocas solidárias é muito difundida a história do caixeiro viajante que chega numa pequena e empobrecida cidade do interior, paga adiantado a hospedagem e vai imediatamente para um bar. Porém, lá no bar recebe uma chamada no seu celular, e terá de seguir viajem sem sequer ter entrado no quarto do hotel. Mas, o dinheiro da hospedagem (pois esta, paga antecipadamente, lhe é devolvida) circulou na cidade e permitiu fechar diversos circuitos econômicos, que, sem a presença do dinheiro, não se completam e travam, implodindo a economia local. Moral: aquela comunidade tem todas as condições para uma saudável e dinâmica vida econômica, mas a economia local não se consolida devido à escassez monetária.

     Nas associações de trocas solidárias ocorre uma mudança de paradigmas, pois o mito e o medo da escassez são transformados no paradigma da abundância (Primavera [8], 2003), possibilitando vivenciar a sinergia da vida. A lógica dominante na economia convencional é a da escassez, uma vez que o dinheiro nunca é suficiente para ser apropriado pelos produtores na medida de suas necessidades e acaba se acumulando na mão de poucas famílias e algumas grandes corporações que controlam as finanças do mundo todo. Já na economia solidária esta escassez de dinheiro é eliminada pelas trocas diretas e pelo uso das moedas sociais, pois não passa por inseguranças e controles externos, mas pela confiança mútua, a responsabilidade de cada um com o social, a cooperação e a solidariedade. Se, no esquema capitalista, a falta de moeda freia o desenvolvimento de regiões e indivíduos, na economia solidária, para além de superar este problema da liquidez monetária através da produção dos seus próprios circulantes, permitindo o empoderamento socioeconômico das comunidades organizadas em redes, pois evita o desperdício de recursos e capacidades, a introdução destas ferramentas potencializa a emancipação dos povos e a afirmação de uma outra sociabilidade, profundamente solidária.

     Podemos reaprender a nos relacionar cooperativamente, e isto envolve que nos reapropriemos do dinheiro, que o subordinemos aos nossos valores maiores. Carecemos de uma moeda planejada para promover a evolução humana, e não com a ótica mercadocêntrica voltada autisticamente para si própria e para a promoção da sua própria circulação, gerando fraudulentamente dinheiro através da troca de dinheiro.

     A experiência atual com moeda social nos indica algumas pistas seguras para que tenhamos este novo dinheiro, social e ético que permita redescobrir as pessoas ocultas numa relação de troca:

     Se, para Marx, o capital fixo acumulado nos meios de produção é "trabalho morto", para Weber o acúmulo de capital age como um "espírito coagulado" que continua a agir sobre o trabalho vivo, com "poder de obrigar os homens a servi-lo e a modelar suas vidas de maneira coercitiva", multiplicando-lhes a eficácia, mas também lhes impondo limites, esclarece Gorz [4] (2003: 58). Formatado conforme a lógica capitalista, o capital não age como um protocolo que poderia facilitar relações entre as pessoas, e destas com as coisas, para o desfrute e bem estar de todos.

6  As trocas diretas

"O que quer dizer cativar?
É uma coisa muito esquecida.
Significa criar laços ... "

(Saint Exupéry)

     No movimento das trocas solidárias encontramos também experiências de troca direta, as quais são uma oportunidade de substituir a competição pela cooperação e solidariedade, através das trocas de bens, serviços e saberes, sem o uso de moeda alguma, resgatando a forma de intercâmbio mais comum e antiga do mundo: o escambo. A não utilização da moeda seja ela oficial ou social, faz com que a troca direta sirva para compartilhar e não para acumular e para resgatarmos o sentido original da economia: cuidar da casa.

     Quando retiramos a moeda para estimular a troca direta, os laços de amizade e confiança são reforçados. Quando optamos pelas trocas, seja participando de um grupo de trocas solidárias, seja trocando um copo de açúcar com o vizinho, estamos seguindo o ritmo natural da vida, um pulsar universal medido pelas batidas do coração, que expande e contrai, assim como são os ciclos econômicos, assim como é a galáxia se movendo no universo. "Viver com a produção do vizinho permite sustentar a comunidade e criar laços de proximidade e de cuidados" (Souza [12], 2005: 8 ). Nas trocas solidárias geram-se e consolidam-se laços inter-pessoais, havendo uma intensa circulação de carinhos e cuidados mútuos.

     Nestes intercâmbios redescobre-se que o vínculo entre as pessoas é fundamental, pois é gerador de prazer, alegria de viver, paz, inspiração e criatividade, ou seja: que o vínculo tem valor, e este valor é incomensurável, muito superior ao materialista valor de troca (atualmente o único considerado no míope cálculo econômico).

     O espaço onde ocorrem as trocas diretas é muito mais do que um lugar para fazer intercâmbio bens e serviços, pois nelas também se trocam sonhos, utopias, alimentam-se razões de viver. É uma festa onde as pessoas se conhecem, criam novos projetos e perspectivas, a comunidade cresce em recursos e qualidade de vida, nascem novas amizades, a solidariedade naturalmente se faz presente, cresce a auto-estima, tanto no nível pessoal como comunitário.

     A economia solidária, através da prática da troca direta, inova em relação à economia oficial, pois gera um sistema baseado na confiança e na cooperação, um sistema econômico mais orgânico, humano e sustentável. Constroem-se relações humanas e econômicas onde prevalece um tempo em que o valor está nas pessoas e no trabalho delas, onde o ímpeto do ego de querer levar vantagem se desfaz quando se pode olhar nos olhos do outro reconhecendo a si mesmo na relação de troca.

     Já sabemos que grandes aglomerações de pessoas num mesmo espaço são insustentáveis em termos de qualidade de vida, qualidade de relacionamentos humanos, qualidade dos recursos naturais. Em pequenos grupos podemos estabelecer laços fortes de confiança e ter um tempo de qualidade (good time, como se diz nos países anglófonos) uns com os outros, trocando além de produtos, serviços e saberes, olhares, sorrisos e amorosidade. As trocas diretas funcionam muito bem em grupos pequenos e a prática de redes entre os grupos de trocas solidárias é uma constante neste movimento autônomo e popular, que tem sua iniciativa vinda da base e possui também a simpatia de entidades, movimentos sociais e do governo, ganhando cada vez mais adeptos de todas as classes sociais. A autonomia e apropriação do poder pessoal de cada um do grupo, faz com que a participação seja essencial para tocar adiante esse movimento e continuar construindo práticas em benefício de todos e para todos, libertando-se gradativamente da economia formal. Estamos em constante crescimento e a cada encontro vamos transformando nossas realidades.

     Neste processo de auto-enfrentamento, muitas pessoas descobrem seus dons e desenvolvem sua criatividade, pois um dos objetivos é fazer com que nossas necessidades de alimentos, roupas e outros sejam cada vez mais satisfeitas pelos itens e serviços que temos acesso nos encontros de trocas solidárias, possibilitando ir cada vez menos ao mercado formal. Responder as demandas concretas das pessoas do grupo produz impacto e avanços na organização da economia solidária. As pessoas são estimuladas a levar insumos, matéria-prima, alimentos, frutas do seu pomar ou do vizinho, verduras de sua horta e muitos passam a confeccionar seu espaço de cultivo para poder levar aos encontros de trocas solidárias, aproveitando e reaproveitando recursos que seriam futilmente desperdiçados.

     Os encontros de trocas solidárias são práticas construídas conjuntamente, onde o trabalho de facilitar é rotativo e cada um coopera com seu dom, seu conhecimento para a organização do evento. O sistema de comunicação pode ser realizado também como rede, onde cada pessoa que faz parte do grupo é responsável por contatar outras três pessoas.

7  As trocas e a vida espiritual

"A alma que está apegada a alguma coisa,
por mais bem que haja nela,
não pode chegar à liberdade da união divina.
Porque não tem importância se é uma corda grossa e forte,
ou um fino e delicado fio que prende o pássaro:
até que o grilhão se rompa,
o pássaro não pode voar"

(S. Juan de la Cruz)

     Se perguntamos e listarmos quais são os pilares de um novo modo de vida, certamente encontraremos, entre outros valores, os seguintes: Autonomia; Solidariedade, Ecologia, Desapego. Hoje muitos buscam um novo paradigma civilizatório pós-consumista, desenvolvendo o sentimento do desapego (Elgin [2], 1998). Sabemos que estamos num mundo de excesso e que temos de simplificar nossas vidas. Também somos muitos os que buscamos o ideal duma vida autônoma, independente e livre. E muitos mais são os que já estão a vivenciar a natureza como um imenso santuário, a experienciar uma profunda comunhão com a vida que nos sustenta. Este sonho duma vida simples, comunitária e natural sempre animou a humanidade.

     Entretanto, apesar desta mudança do nosso olhar, não podemos prescindir de algum grau de riqueza, continuamos imersos no mercado, numa complexa sociedade fundada na divisão do trabalho (o que significa que sempre teremos que negociar preços e vantagens), e mesmo numa sociedade alternativa algum tipo de sistema financeiro se fará presente.

     Temos uma grande dificuldade em lidar com a riqueza, a qual mais parece um ferro quente em nossas mãos. Muitos tendem a achar que podemos viver sem dinheiro, numa mítica comunidade auto-sustentada. Temos uma grande dificuldade em visualizar um sistema econômico alternativo válido macroeconomicamente. É um grave erro pensar que a economia não pode ser transformada, e nos restringirmos aos limites do nosso consumo eticamente e ecologicamente correto.

     Nossa visão holística muitas vezes esbarra no dualismo entre a vida material (economia) e a vida cultural/espiritual. Não podemos separar a economia (rotulada de materialista) da vida espiritual. Como bem afirmou Steiner [13] (1998), a economia humana corresponde apenas ao espectro visível da luz. É fundamental reconectar a economia com sua base natural e com seus fins últimos. Ou seja, a economia deveria ser apenas um instrumento a serviço da vida com qualidade, da cura, integrado na rede da vida. Isto aponta, portanto, para a ruptura com o domínio do economicismo sobre a vida social, bem como para superarmos o domínio crematístico do campo econômico (a economia enquanto pura manipulação de preços, possuída pela lógica da rapina e da busca de vantagens) na direção do sentido originário (e aristotélico) da economia, enquanto uma racionalidade moral e política a serviço do aprovisionamento material do oikos e da polis e do sustento da vida.

8  Conclusões

"A dádiva liga as pessoas"
(Caillé)
"O amor é a única coisa que cresce à medida que se reparte"
(Saint Exupéry)

     Nas trocas solidárias vivencia-se uma ruptura com a perspectiva utilitarista (na qual as coisas e pessoas existem apenas para serem possuídas, usadas e descartadas). "Sempre que não conseguimos reduzir as pessoas à condição de coisas, devemos excluí-las de nossas vidas. E o melhor meio de fazer isto é negar- lhes valor e atribuir-lhes um preço" (Mariotti [7], 2000: 124). É preciso quebrar a cosmovisão utilitarista, pois a riqueza não é a finalidade da vida mas um instrumento para ela.

     A natureza (assim como as pessoas) possui valor em si mesma, independente da utilidade econômica que tem para a sociedade. Castoriadis, um dos maiores pensadores políticos da contemporaneidade, já expressou este ethos muito bem: "Devemos ser jardineiros deste planeta. Cultiva-lo como ele é e pelo que é. Mas, o imaginário da nossa época é a expansão ilimitada, a acumulação de produtos do consumo. É isto que devemos destruir. É neste imaginário que o sistema se apóia". As trocas solidárias permitem reconectar a humanidade consigo mesma e com o cosmos, desenvolvendo uma percepção da unidade (= solidariedade), uma visão integrada.

     Reconectar a economia numa perspectiva pós-utilitarista é não esquecer o fundamental: habitamos simultaneamente em três casas (corpo, sociedade, planeta/cosmos). Três são as ecologias, sabiamente demonstrou Guattari. O universo da economia apenas está contido nesta escala intermediária.

     O que se quer com as trocas solidárias é um processo de re-humanização onde se parte das trocas mediadas pela moeda social (H-$-H), ou seja, da relação ser humano-mercadoria-ser humano, na qual a moeda volta a intermediar as relações humanas, para chegarmos no limite das trocas diretas (H-H), quando dois ou mais seres humanos se relacionam diretamente, estabelecendo relações plenas de confiança.

     A idéia central das trocas solidárias é tanto realizar trocas sem que nossas relações se mercantilizem totalmente, ou seja, sem que nos transformemos em meras mercadorias; quanto, simultaneamente, potencializar e tornar mais eficiente as próprias trocas e nossos empreendimentos. Assim, buscando ter controle sobre nossos intercâmbios, podemos construir através das inevitáveis relações mercantis, outros relacionamentos mais profundos, plenamente humanos, fraternos e duradouros; bem como um outro mercado mais denso, dinâmico e submetido aos nossos valores e ideais.

     Em geral, a maneira como no dia-a-dia lidamos com o dinheiro corrói nossas relações. Quantos casais, irmãos, pais e filhos discutem com fortes e desconcertantes emoções ao precisarem estabelecer qualquer tipo de relação monetária? O exercício prático das trocas solidárias pode ser visto como uma oportunidade de se desapegar de velhos hábitos, de desenvolver a autonomia e o poder pessoal, uma forma de praticar diária e gradativamente aquilo em que se acredita. Assim podemos transformar o senso comum do "tempo é dinheiro", onde o dinheiro dirige nosso destino, gera disputas, doenças, guerras e sofrimentos, em algo praticado que é parte de uma nova realidade, fortalecendo-a, permitindo viver prazerosamente o tempo como arte, pois tudo foi criado para existir bela e artisticamente, gerando soluções criativas para o bem viver.

     Como a solidariedade é intrinsecamente um ato de liberdade que não pode ter por base, em hipótese alguma, a coação, vivenciar nos círculos de trocas o compartilhamento dos bens, bem como a generosidade, ajuda-nos a compreender e a nutrir este exigente modo solidário de ser, condição sem a qual a economia solidária não pode existir.

     É parte da condição humana ocorrer conflitos nos relacionamentos. Infelizmente em muitos casos o movimento economia solidária (ecosol) não está preparado para enfrentá-los e superá-los, o que é grave e alarmante. Não basta estar imbuído da ideologia da ecosol para automaticamente viver de forma solidária. A dimensão psico-social dos valores e relacionamentos, fundamental para caracterizar uma dinâmica solidária, não se visibiliza meramente com indicadores econômicos, nem o espírito e a prática da autogestão são condições suficientes para viabilizá-la e caracterizá-la.

     Para atingirmos uma coexistência humana, fraterna e sincrônica, cabe trabalhar existencialmente / corporalmente (e não apenas no plano racional) a dimensão da afetividade, da ética e da subjetividade solidária através de dinâmicas de sensibilização e jogos cooperativos, bem como através da prática de trocas solidárias. Caso contrário, dificilmente romperemos com o ethos individualista/possessivo dominante.

     Trabalharmos uma outra subjetividade mais amorosa é fundamental para a consolidação da ecosol. De fato, ou temos uma efetiva presença duma lógica solidária amalgamada na ação econômica, ou não temos uma economia que seja solidária, por maior que seja nosso desejo. Afinal, buscamos com a economia solidária o que? Não lutamos por uma economia solidária apenas para construir uma nova ordem econômica. Esta é apenas uma pré-condição para alcançarmos uma nova cultura mais humana, verdadeiramente sólida. Mas, se esta meta não estiver já presente em nosso cotidiano, não conseguiremos estruturar uma outra economia verdadeiramente solidária. Ou seja, a construção desta outra economia se faz conjugadamente com a construção de novas relações e formas de viver.

     Infelizmente ocorre um viés ideológico que causa "cegueira" em muitos que estão a conduzir o movimento da ecosol. Este viés desqualifica as questões pessoais/emocionais postas (as quais, a nosso ver, são centrais na construção de qualquer coisa que queira ser solidária). Solidariedade é, em essência, um sentimento através do qual nos sentimos unido ao outro.

     Deixemos de agir como avestruzes. Se efetivamente queremos nos identificar com a palavra "solidária", se queremos contribuir na construção duma economia não capitalista, então temos que saber enfrentar os conflitos e crescermos com eles, e não camuflá-los, sempre na perspectiva de resolvê-los convivialmente. Carecemos de refletir com maturidade sobre nossas diferenças e incompatibilidades (muitas vezes de caráter egótico) que logo transformamos em antagonismos, de forma a aprendermos, modificarmo-nos e evoluirmos com as mesmas. Todos nós humanos estamos num processo evolutivo, de aprendizado. Se buscamos alcançar novas formas de vida social, temos que experimentá-las desde já. Ao enfrentarmos nossas desavenças, medos e egoísmos, constituiremos uma rede economia sólida (de solidus, donde se origina "solidariedade"), fundada em relações de confiança mútua.

     Mesmo com as diferenças pode-se criar uma linda música. Como cada um tem um dom, uma habilidade, uns são melhores para escrever, outros para cantar, outros para produzir pão, outros para pintar, outros para refletir, se cooperarmos conseguiremos construir um processo de materialização coletiva de um mundo mais agradável e confortável, um mundo onde todos ganhem. É incontável o número de pessoas que descobriram dons e desenvolveram seus talentos participando de Clubes de Trocas, passando inclusive a comercializar no mercado formal. Participar nas trocas solidárias traz emoções e sentimentos positivos, eleva a auto-estima, além de permitir sentir-se inserido num grupo (inclusão).

     As trocas solidárias possuem, portanto, uma fundamental dimensão pedagógica, pois não nascemos solidários (ainda que sem algum grau de solidariedade/generosidade o próprio ato de dar a luz estaria comprometido), mas nos fazemos tal5.

     Se a "economia moderna desencanta o mundo ao expulsar os valores dos objetos" (S. Latouche), a economia solidária, através das trocas, permite redescobrir os vínculos, e reencantar a vida. Como se pode fortalecer criar/recriar os vínculos? Incrivelmente e de uma forma paradoxal, para isto pode servir o dinheiro e o mercado, quando submetidos e subordinados ao controle social.

9  Declaração de Princípios do Clube de Trocas Ecosol

Clube de Trocas Ecosol
  1. As trocas devem facilitar nossa realização como seres humanos. Através da ajuda mútua, do trabalho, do conhecimento e do comércio justo fundado na confiança buscamos alcançar uma vida plena de sentido. O intercâmbio de bens e serviços é apenas um meio para isto;
  2. Substituímos a competição estéril, o lucro e a especulação pela cooperação, reciprocidade e solidariedade entre as pessoas. Ao eliminarmos a obsessão da busca de mais dinheiro, a riqueza circula mais livremente e se coloca ao alcance de todos;
  3. Nossos atos, produtos e serviços devem se conectar com a ética ecológica e bom senso. Tendo por base a confiança, a sinceridade e a amorosidade a economia solidária é uma oportunidade de crescimento mental, emocional e material, pois lidamos com nossos sentimentos mais íntimos (egoísmo, competição, apego). Aprender a identificá-los e transformá-los em amizade, gratidão, doação, acelerará nosso processo evolutivo;
  4. Para participar do ECOSOL basta vir aos encontros e feiras na condição de prossumidor(a), ou seja: como produtor(a) e consumidor(a) simultaneamente, sempre oferecendo e consumindo não apenas bens, serviços e saberes, mas também olhares, sorrisos, abraços, carinho, aconchego, idéias, valores, vida;
  5. Cada membro é responsável por seus atos, produtos e serviços. Sem consulta prévia, os integrantes não devem respaldar ou patrocinar ideológica e/ou financeiramente uma causa alheia ao Clube, em nome do Clube;
  6. Nossa organização é informal, divertida, artística e amorosa, havendo rotação permanente de papéis e funções. Nosso melhor exemplo é nossa transparência;
  7. Pertencer ao ECOSOL significa um exercício de cidadania planetária, pois estamos abertos a integrar redes com outros Clubes e a nos religarmos na teia da vida. Acreditamos que uma economia democrática, autogestionária e solidária possibilita construir uma globalização alternativa;
  8. Concebemos o progresso como consequência do bem estar sustentável, solidário e responsável da totalidade das pessoas que compõem a sociedade, como resultado da democratização da economia e da sociedade. A riqueza deve ser compartilhada porque ela é originada socialmente (todos somos seres co-criativos), pertencendo a todos assim como o ar, o mar e as estrelas. A cidadania e a paz somente poderão ser exercidas plenamente numa sociedade que possibilite iguais oportunidades a todos;
  9. Na socioeconomia solidária, nada se descarta, nada se presenteia: tudo se recicla, tudo se retribui.

Referências Bibliográficas

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Gorz, André (2003). Metamorfoses do trabalho. São Paulo: Annablume.
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Guattari, Félix (1991). As três ecologias. Campinas: Papirus.
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Hodgskin (1986). A defesa do trabalho contra as pretensões do capital. São Paulo: Nova Cultural (coleção Os Economistas).
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Mariotti, Humberto (2000). As paixões do ego. Complexidade, política e solidariedade. São Paulo: Palas Athena.
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Steiner, Rudolf (1998). Economia Viva. São Paulo: Antroposófica, 2a ed.
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Tofler, Alvin (1995). A terceira onda. Rio de Janeiro: Record.

Notas de Rodapé:

1 Gorz [3] (1998: 113) fala em "círculos de cooperação".
2 Ver a tese de doutorado de Claudia Soares [11] (2006).
3 Folha de São Paulo, 15.07.2001.
4 Esta é uma expressão elaborada por A. Tofler [14] (1995).
5 Retomar Paulo Freire aqui em muito ajudaria a ecosol. Quem faz a ponte entre a educação e a ecosol é o Marcos Arruda. Veja dele especialmente a trilogia através da qual está publicando sua tese de doutorado pela Vozes: "Humanizar o infra-humano. A formação do homem integral. Homo evolutivo, práxis e economia solidária". Ver também o Hugo Assmann que, junto com o Jung Sung, publicou "Competência e sensibilidade solidária. Educar para a esperança" (Vozes).