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Capítulo 3
Outras Visões sobre a Vontade


O Ato da Vontade, Psicossíntese
(Roberto Assagioli)

Trabalho de Psicologia Transpessoal
(Rita Felicetti)

Pesquisado na Internet
Outras Visões sobre a Vontade
    3.1  Vontade de Schopenhauer precede a vontade de Assagioli
    3.2  O extraordinário poder da vontade
    3.3  O poder da vontade espiritual

3.1  Vontade de Schopenhauer precede a vontade de Assagioli

     No sistema de Schopenhauer (1788-1860), filósofo pessimista em sua visão do mundo, a vontade é a última e mais fundamental força da natureza, que se manifesta em cada ser no sentido da sua total realização e sobrevivência. A vontade é a raiz metafísica do mundo e da conduta humana; ao mesmo tempo, a fonte de todos os sofrimentos. Sua filosofia é, assim, profundamente pessimista, pois a vontade é concebida como algo sem nenhuma meta ou finalidade, um querer irracional e inconsciente.

     Sendo um mal inerente à existência do homem, ela gera a dor, necessária e inevitavelmente, aquilo que se conhece como felicidade seria apenas a interrupção temporária de um processo de infelicidade e somente a lembrança de um sofrimento passado criaria a ilusão de um bem presente. Para Schopenhauer, o prazer é momento fugaz de ausência de dor e não existe satisfação durável. Todo prazer é ponto de partida de novas aspirações, sempre obstadas e sempre em luta por sua realização: "Viver é sofrer".

     Mas, apesar de todo seu profundo pessimismo, a filosofia de Schopenhauer [7] (1819) aponta algumas vias para a suspensão da dor. Num primeiro momento, o caminho para a supressão da dor encontra-se na contemplação artística. A contemplação desinteressada das ideias seria um ato de intuição artística e permitiria a contemplação da vontade em si mesma, o que, por sua vez, conduziria ao domínio da própria vontade.

     Na arte, a relação entre a vontade e a representação inverte-se, a inteligência passa a uma posição superior e assiste à história de sua própria vontade; em outros termos, a inteligência deixa de ser atriz para ser espectadora. A atividade artística revelaria as idéias eternas por meio de diversos graus, passando sucessivamente pela arquitetura, escultura, pintura, poesia lírica, poesia trágica, e, finalmente, pela música. Em Schopenhauer (1819), pela primeira vez na história da filosofia, a música ocupa o primeiro lugar entre todas as artes. Liberta de toda referência específica aos diversos objetos da vontade, a música poderia exprimir a Vontade em sua essência geral e indiferenciada, constituindo um meio capaz de propor a libertação do homem, em face dos diferentes aspectos assumidos pela vontade.

     No homem a vontade é algo de que ele tem consciência como vontade de viver e ao mesmo tempo consciência de permanente insatisfação com o que ele é. Depois do conhecimento da vontade, é o conhecimento da sua insatisfação com o que faz, de modo que a única salvação é a superação da vontade de viver. Para anular a vontade, Schopenhauer aponta a renúncia, como fazem os santos, e o nirvana da filosofia hindu (budismo e bramanismo). Ele propõe uma santidade cristã que é meio caminho para o nirvana hindu.

3.2  O extraordinário poder da vontade

     Ubaldi (1982) [10] afirmou que a personalidade humana foi construída no passado, pelos pensamentos e atos que longamente repetidos, com a técnica dos automatismos, se tornaram hábitos. O resultado das atividades humanas passadas encontra-se escrito, em síntese, em cada tipo individual. As qualidades e instintos atuais são o resultado de histórias vividas, possuindo uma velocidade adquirida na direção que eles representam e, por isso, a não ser que sejam corrigidas em outra direção, significa possuir um impulso e uma tendência a continuar da mesma forma no futuro, o fenômeno conhecido por destino.

     Uma parte do ser humano é ainda completamente animal, pois está entregue ao subconsciente. Como acontece quando se domesticam os animais, que se acostumam a viver em um ambiente diferente do seu ambiente natural, adquirindo assim, novos hábitos, novas qualidades e instintos, o mesmo acontece com o homem, com o mesmo método de transmissão para o subconsciente. Trata-se de um trabalho mecânico, automático, espontâneo, não sendo um produto reflexo da inteligência e da vontade. Confiado ao subconsciente, que de tudo vai tomando nota, absorvendo ou reagindo, constitui esforço de adaptação, fundamental para a vida defender-se e prosseguir. É da profundidade do subconsciente que, depois, tudo o que ali foi impresso pela longa repetição, volta à superfície em forma de instintos e qualidades, que se irão sobrepondo aos que já cada ser possui, lançando-os em direção diferente.

     O primeiro motor de tudo isso é a vontade, que assim pode livremente impulsionar a evolução, dirigida pela sua livre escolha. Pertence ao homem então o poder de se construir como quiser. É lógico, portanto, que pertença ao homem a responsabilidade e as consequências dessa escolha. Mas, é lógico também, que num fato assim tão importante como o da evolução, a escolha do caminho, o seu desenvolvimento e o ponto de chegada não possam ser confiados ao acaso ou à vontade de uma criatura que nada sabe, além dos problemas do momento e do seu pequeno mundo. Isto seria por em risco o resultado final do imenso trabalho reconstrutor do universo, trabalho grande demais para ser entregue ao capricho e ignorância de cada ser humano. Neste resultado último a criatura não pode influir, pois pertence só a Deus, resultado em que tudo não pode ser senão absoluto, determinístico, fatal.

     Ao lado da vontade do homem, à qual não é permitido atingir senão os resultados que lhe dizem respeito, isto é, a construção do indivíduo, há outra vontade, fixando os limites dentro dos quais, esta pode mover-se para que seja possível chegar, em qualquer caso, qualquer que seja a obra do homem, a resultados de salvação final e não de destruição, como poderia acontecer se a vontade do homem prevalecesse.

     Esta outra vontade, à qual, aliás, tudo está confiado, é a vontade de Deus. Dentro dela o homem está mergulhado, com liberdade de mover-se como um peixe num rio. O peixe pode deslocar-se para todos os lados, menos para fora do rio, estando o caminho já marcado por leis absolutas, tendo, em qualquer caso, que nadar na direção do mar. Assim, a criatura pode semear desordem à vontade, mas só para si, ao passo que nas linhas gerais, tudo está dominado por um poder maior e inalterável, que mantém sempre a ordem.

     Quando o homem pensa e opera num dado sentido, deixa entrar no sistema de forças que constituem a sua personalidade, outras forças, que ali se fixam, modificando, conforme sua natureza, esse sistema. Não pode esquecer que, em cada momento de sua vida, está construindo, com os seus atos, o edifício do seu EU, isto é, o espírito, a psicologia e também, como consequência, o corpo onde mora. Com que tijolos realiza esta obra? Que resultados poderá alcançar se, quando construir, em vez de utilizar pedra, só empregar lama informe e suja? Então, este ser humano será o fruto de sua própria vontade.

     O certo é que, depois de praticada uma ação, qualquer que seja a natureza, o homem terá de colher o resultado, seja bom ou mau. Se tiver semeado o bem, a alegria surge e ninguém dela o pode privar. Se tiver semeado o mal, o sofrimento virá como consequência e ninguém o poderá tirar. No caso de erro, há um só remédio: a dor estará ali para avisar de que errou. A frente há sempre um caminho virgem, em que terá oportunidade de endireitar o passado, mas o impulso renovador tem de partir de sua vontade, que é a primeira força geradora do destino. Informal.

     Olhando o fenômeno em seu conjunto, há duas transmissoras de vibrações e impulsos dinâmicos: a da vontade do EU humano e a da vontade de Deus. As emanações desses dois sistemas de forças se encontram e reagem um em relação ao outro. A Lei, representando a vontade de Deus, é o mais poderoso. A Lei é feita de ordem e de harmonia, e a cada dissonância ela reage em proporção desta (como faria um diretor com sua orquestra) para que tudo volte à posição correta, logo que o homem tenha ultrapassado os limites preestabelecidos. Por outro lado, o homem não pode deixar de perceber essa reação que se chama dor e, conforme sua natureza e grau de compreensão atingido, reage, revoltando-se, ou aceitando a prova para aprender a lição e não cair mais em erro.

     Por sua vez, a Lei percebe as novas vibrações e impulsos gerados por estes novos sentimentos da vontade do homem, toma nota de tudo, modificando as suas primeiras reações por meio de outras. Estas são transmissão de ondas de regozijo, se o ser voltou à ordem dentro dos limites da Lei, ou de sofrimento ainda maior se o ser continuou rebelando-se surdo ao aviso recebido. O aviso tem de ser entendido e o sofrimento cresce em proporção à surdez. E assim sucessivamente, tudo ecoa e se repercute, por ação e reação, num contato contínuo entre o homem e a Lei de Deus ou Lei de Causa e Efeito.

     Trata-se de dois mundos vivos, sensíveis, em contínuo movimento, como as ondas do mar, com fluxos e refluxos, cada um com suas deslocações e conforme as suas características, chegando cada qual a tocas os pontos nevrálgicos do outro sistema de forças. Verifica-se dessa forma, uma rede de impulsos, um colóquio de perguntas e respostas, um contato sutil por radiação que de longe liga e une no mesmo trabalho: na Terra, o homem que não quer evoluir e ser salvo, e nos Céus, Deus que quer sua evolução e redenção. E assim os dois sistemas de forças se excitam um ao outro e se explicam como cai do céu o merecido e fatal destino. Esta é a técnica do fenômeno da retificação do erro. Eis o jogo de forças. Por meio dele o mal volta à fonte que o gerou. E isso explica o porquê de: quem faz o mal o faz a si mesmo.

     A consequência mais importante da Lei de Causa e Efeito é que os erros cometidos no passado são as causa dos sofrimentos atuais, e podem ser corrigidos, significando a libertação da dor. Quando um homem inteligente entende a técnica deste fenômeno, é lógico que não deseje outra coisa senão corrigir os seus erros, para se libertar de suas tristes consequências. Quem compreende o verdadeiro significado de tudo, não cai mais no erro de julgar que tem mais valor o que possui do que aquilo que é. As qualidades boas ou negativas, não perecíveis com o corpo físico, antes inseparáveis da individualidade, é que construirão a vida futura.

     Tudo o que cada homem recebe na vida não é um fim em si mesmo, objetivando o seu gozo, mas sim um instrumento de experiência, aprendizado e evolução. O sentido do Sermão da Montanha, de Cristo, incompreensível para a psicologia humana, torna-se bem claro para quem entendeu a função equilibradora da Lei de Deus. É lógico ainda que aquele que julga ser objetivo de tudo somente a satisfação, não está em condição de compreender o verdadeiro significado do jogo da vida. Mas, se no mundo existe tanta luta pelas coisas materiais, isto não deixa também de ter seu sentido e utilidade, embora no seu nível inferior de evolução.

     Assim, por intermédio desta luta feroz se experimenta e se aprende. Os meios de que a Lei usa para ensinar são proporcionais ao grau de sensibilidade e compreensão atingidos pelo ser. Quando este evoluir até um grau mais elevado, a luta nesta forma terá que desaparecer, porque não terá mais escopo útil a atingir, nem razão para existir, tornando-se, pelo contrário, contraproducente e destruidora. Os níveis inferiores estão cheios de forças que, com a experimentação, se vão transformando em inteligência. Esta vai prevalecendo cada vez mais, chegando, aos planos superiores, a substituir totalmente a força, que não é mais necessária, porque a inteligência se desenvolveu suficientemente para chegar a compreender a vantagem da obediência espontânea à Lei.

3.3  O poder da vontade espiritual

     Viver e progredir interiormente constitui um grande desafio, mas todas as pessoas já vêm equipadas com uma ferramenta fundamental para vencê-lo: a vontade espiritual. Inesgotável, é ela quem vai levar a superar a teia de objetivos ilusórios que povoam a vida na matéria.

     A vontade espiritual é algo misterioso que só nasce quando se está livre de desejos pessoais de curto prazo. É a vontade espiritual que mantém as galáxias em movimento e alimenta a evolução de tudo o que existe. No entanto, ainda parece haver pouco espaço para ela na vida diária do cidadão moderno, frequentemente tumultuada pelo jogo das aparências e por obstáculos que ele cria em sua própria imaginação.

     Ter vontade é como voar: quando alguém voa baixo precisa enfrentar turbulências é ameaçado por obstáculos e arrisca-se a cair. Quando voa alto, o ar está menos denso. Não há turbulência. Gasta menos energia, tem uma visão mais ampla mundo e não corre o risco de bater em obstáculos ou desabar no chão. Erguendo o nível do vôo, pode-se definir objetivos duráveis e valiosos. Entre as recomendações dadas pelo místico cristão São João da Cruz para o pássaro solitário - símbolo da vontade da alma - estão a que ele voe ao ponto mais alto, não anseie por companhia e mantenha o seu bico voltado para os céus.

     Como manter o bico da vontade voltado para o céu? Primeiramente, não pode haver força de vontade sem paz interior. É preciso acalmar os desejos contraditórios - que tendem a anular-se uns aos outros - para que depois surja a vontade ativa que traz a serenidade e faz os supostos obstáculos desaparecerem às vezes inesperadamente. Em segundo lugar, não basta ter vontade. Se o objetivo não for formulado corretamente, ou se for nocivo, é melhor não ter vontade forte. Quando se voa baixo, é preferível que tenha pouca força, porque o desastre da queda será menor. A natureza proteje o homem contra sua própria ignorância e só permite o surgimento de uma vontade forte quando for elevada. Desse modo, vontade forte nada tem a ver com idéia fixa, teimosia ou obstinação cega - três formas perigosas de voar baixo mentalmente.

     Para voar alto, é preciso estar livre do passado e levar pouca bagagem pessoal. A multa por excesso de peso das expectativas e ansiedade é terrível. Quase todas as dificuldades que se enfrenta em viagem pela vida acontecem devido a apegos ao passado e ansiedades em relação ao futuro.

     O desenvolvimento da vontade dá várias vantagens: em primeiro lugar, livra das coisas que não interessam; depois eleva o viajante até o nível em que não há obstáculos ou turbulências; e, finalmente, permitem vencer os obstáculos que forem realmente inevitáveis na vida.

     "Nunca é o obstáculo em si que nos atrapalha, mas sempre o nosso desejo de que ele não estivesse lá"

     Isso foi dito pelo místico Carlos Aveline [4] em um artigo para a revista Nova Era (1996). A percepção exagerada dos obstáculos é produto da ignorância. O bom estrategista não vê obstáculos, apenas estuda as condições de terrreno. O sábio que conhece as circunstâncias pode mover-se nelas sem irritar-se ou ficar contrariado. Não há barreiras contra a ação de quem sabe o que quer e, além disso, formulou corretamente a sua meta. Guiado por uma vontade impessoal, o sábio avança, recua ou espera, sem perder a paz por um segundo. Ele olha para o céu e fica satisfeito com quaisquer condições meteorológicas. Pode fluir como o vento; lavar como a chuva; dominar como o relâmpago; ou aguardar impertubável, como uma rocha.

     Na maior parte dos casos em que alguém tem pressa ou se sente frustrada, está exagerando a importância do mundo externo. No mundo interior não há pressa. Lutar contra o ritmo da vida é inútil, e cada vez que uma situação decepciona alguém, ela tem a oportunidade de absorver mais uma lição de desapego, aprendendo a enxergar a realidade dos fatos. Isso inclui não deixar espaço algum para a auto-lamentação, nem para a pena de si mesmo. O mapa das dificuldades ao redor é também o mapa do caminho que leva ao território do êxito e da felicidade. Todos querem chegar lá, mas nem todos têm a vontade necessária para trilhar o caminho. Normalmente, a força de vontade esparramada e dividida em muitos objetivos pequenos e sem importância. Renunciar à dispersão permite reunir energias em torno de um só objetivo fundamental e aumenta radicalmente as chances de vitória.

     A esta altura, duas perguntas se impõem. Em primeiro lugar, o homem está disposto a eliminar a dispersão? A resposta é afirmativa. A própria experiência da vida leva a substituir gradualmente os objetivos mais ilusórios. A busca consciente de uma vida sábia apenas acelera e facilita esse processo natural que leva do falso para o verdadeiro.

     Em segundo lugar, como garantir que o objetivo não é ilusório? Para responder a esta questão é preciso mais tempo. Este ponto é fundamental porque, se o objetivo for ilusório, grande parte dos esforços terá sido mal aplicada, embora não haja esforço totalmente perdido na vida e sempre se aproveite alguma coisa da experiência. Para garantir que a sua meta não é ilusória, o homem deve chegar cabalmente à conclusão de que aquilo que pretende fazer é bom ao mesmo tempo para si e para os outros; não a curto, mas a longo prazo. Sua meta deve ser capaz de despertar-lhe orgulho quando, com 90 ou 100 anos de idade, você fizer um balanço de sua vida física antes de voar como um pássaro para níveis superiores.

     A meta deve ser boa ao mesmo tempo para si mesmo e para os outros, porque é impossível beneficiar a si mesmo de modo legítimo sem que isto tenha um impacto positivo sobre outras pessoas, e é impossível ajudar alguém sem ser beneficiado, internamente, pela energia do altruísmo. Na vida profissional e concreta, por exemplo, isto significa que deve-se escolher profissões em que se pode fazer bem aos outros, e em que não se faz mal a ninguém. Assim, o que é verdadeiramente bom para si, deve ser também bom para todos os outros.

     A definição das metas da vida faz com que surja uma vontade correspondente. Metas egoístas tendem a criar vontades egoístas, e vice-versa. Objetivos altruístas inspiram vontades mais puras, que produzem resultados de longo prazo e duradouros. Para estar livre da auto-ilusão, precisa-se levar em conta algumas verdades ao definir as metas de vida. Uma passagem de um texto budista recorda algumas verdades básicas das quais alguns preferem, consciente ou inconscientemente, fugir:

     "Primeiro, a velhice virá algum dia e eu não poderei evitá-la. Segundo é possível que eu adoeça e não posso evitar essa possibilidade. Terceiro, a morte física virá até a mim algum dia e eu não posso evitá-la. Quarto, todas as coisas que amo e aprecio estão sujeitas à mudança, à decadência e à separação, e eu não posso evitá-las. Quinto, eu sou o resultado das minhas próprias ações, e sejam quais forem os meus atos, bons ou maus, eu serei o herdeiro deles" (Budhananda [5], 1992, p. 33-34).

     Quando aceita-se estes cinco fatos, surge um contentamento incondicional de viver que tem como base sólida o desapego. Ele percebe a eternidade potencial de cada momento. A mente se ergue solta acima do jogo miúdo e da luta de pequenas vontades contraditórias. Aceita a fragilidade da existência no plano físico, e partir daí, pode usar todo o poder da vontade interior.

     Nos primeiros anos de vida, desperdiça-se grande quantidade de energia, mas aos poucos vai selecionando as metas que realmente interessam. Sabe que não pode fazer tudo de uma vez. Aceita que o tempo e a energia são limitados e aprende a usá-los com sabedoria.

     Quando organiza o poder da vontade, começa a reorganizar gradualmente cada aspecto de vida em função da estratégia central. Que tipo de alimentação é saudável, melhora a saúde e aumenta as possibilidades de uma vida longa e produtiva? Mas não basta saber o que comer. É preciso comer moderadamente.

     Descobre que algumas emoções aumentam a força interna e outras emoções levam à dispersão das energias. Pela observação, pode ir identificando e afastando aos poucos da vida as situações em que a paz interna é destruída. As emoções são inseparáveis do pensamento e quando estas duas correntes energéticas são unificadas por uma vontade maior, a paz, a coerência e o êxito vêm para ficar em suas vidas.

     Definir um objetivo e um plano de ação coerente em todos os níveis não é complicado. Sem dúvida é bem mais simples do que viver dividido entre pequenas metas inconsistentes de longo prazo.

     "Todos temos objetivos mesmo que não saibamos disso" (ROBBINS, 1995. p. 46). "Seja quais forem eles têm um efeito profundo sobre nossas vidas." Alguns desses objetivos são pouco inspirados. Precisa garantir a sobrevivência material, por exemplo. Quem pode ficar entusiasmado com uma perspectiva de vida tão limitada de pagar as contas no fim do mês?

     "O segredo que permite libertar seu verdadeiro poder é estabelecer objetivos suficientemente empolgantes para inspirar sua criatividade e acender sua paixão" (ROBBINS [9], 1995, p. 59).

     É preciso vencer desafios. Assim como uma meta altruísta liberta o pensamento do egoísmo, uma meta que seja simultaneamente elevada, desafiadora e realista faz surgir uma vontade poderosa e capaz de vitórias duráveis

     Essa meta geral, no entanto, deve traduzir-se em pequenos passos cotidianos. Ninguém consegue vencer um grande desafio, se não houver antes um processo preparatório. Uma viagem de mil quilômetros começa com o primeiro metro, e é preciso criatividade e determinação para colocar cada pequeno momento da vida em função da grande meta da sabedoria. Renunciando a pequenos confortos e a várias formas de dispersão mental ou emocional, aparentemente inocentes, vai-se reunindo mais forças magnéticas em torno do pólo consciente do ser. Vivendo cada momento como um desafio, pode-se usar nele toda a força interior disponível. Como a força espiritual não está no plano físico, o seu uso não provoca cansaço e é potencialmente inesgotável.

     À medida que o tempo passa, vai-se percebendo que a principal tarefa da vontade espiritual - e a mais difícil - consiste em libertar-nos de objetivos ilusórios. Quando se está livre de ilusões, a verdade pode aparecer naturalmente diante dos olhos, e a vontade se volta por si mesma em direção ao que é bom e correto.

     Para desenvolver a vontade espiritual, é preciso usá-la constantemente e renunciar ao desejo de viver em circunstâncias cômodas e agradáveis. E quando os primeiros frutos do uso correto da força de vontade já podem ser colhidos, deve-se é aumentar ainda mais o esforço, para que a colheita, no futuro, seja maior ainda. A força de vontade do ser humano tem um potencial extraordinário, e nada impede de fazê-la crescer cada vez mais rapidamente.

     O homem determina a sua própria destinação. A asseveração que o homem é levado pela corrente da evolução, sem a participação da sua vontade, significa separá-lo do Cosmos. A aspiração do espírito intensifica a coragem, saturando o homem com a energia do fogo. A força da vontade dá ao homem o degrau de maior aspiração e harmonia para a beleza, pois a falta de vontade é o caos. Sem vontade não há fé.

     A vontade do homem predetermina cada degrau da evolução da consciência. Não há condição que não possa se transformar em alegria. Esta qualidade está contida na vontade disciplinada. Não existe obstáculo que não possa ser vencido pela vontade humana. Existe uma distinção entre tensão e fadiga. Há grande semelhança entre estes diferentes estados. Durante a fadiga, alguns se queixam de confusão do pensamento, mas a tensão suprema leva à Graça Suprema.

     As correntes da vontade podem dirigir a aspiração às esferas superiores. O ato da vontade é um criador poderoso ... Na verdade, a vida é transmutada pelo espírito e pela vontade! A vontade circunda o homem com um véu salutar.

Referências Bibliográficas

[4]
Aveline, Carlos. "O Poder da Vontade Espiritual". Brasília, Nova Era, 1996.
[5]
Budhananda. "A mente e o seu controle". Calcutá, Filosofia Esotérica, 1992
[7]
Cobra, Rubem Q. - Arthur Schopenhauer. "Filosofia Contemporânea", Cobra Pages - www.cobra.pages.nom.br, Internet, 2003.
[9]
Robbins, Anthony. "Passos de Gigante". São Paulo, Record, 1995.
[10]
Ubaldi, Pietro. "A Lei de Deus, Obras Completas". Vol.17. Rio de Janeiro, Fundapu, 1982.