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"Aprendemos realmente o valor da meditação e sabemos que nada pode perturbar a nossa paz interior. Nas últimas semanas, durante as reuniões, ouvimos as sirenes prenunciadoras de ataques aéreos e o estrondo de bombas de ação retardada, mas nossos estudantes ainda se congregam e apreciam, de começo a fim, nosso ofício religioso, de tanta beleza."
Esta corajosa mensagem, escrita pelo líder do Centro de SRF em Londres, foi uma das muitas que recebi da Inglaterra e da Europa devastadas pela guerra durante os anos que precederam a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.
O dr. L. Cranmer-Byng, de Londres, ilustre editor da coleção de obras A Sabedoria do Oriente, escreveu-me em 1942:
"Lendo a revista East-West424, tive consciência da distância que parece existir entre nós; vivemos, aparentemente, em dois mundos diversos. A beleza, a ordem, a calma e a paz chegam a mim de Los Angeles, como um barco carregado das bênçãos e consolações do Santo Graal entra no porto de uma cidade sitiada."
"Vejo, como em sonhos, o bosque de palmeiras e o templo de Encinitas com sua amplidão de oceano e seu panorama de montanhas; e acima de tudo está a confraria de homens e mulheres de tendências espirituais - uma comunidade implantada na unidade, absorvida em trabalho criador e revitalizada pela contemplação ... Saudações a toda a Fraternidade, enviadas por um soldado raso, de sua torre de vigia, aguardando a aurora."
Uma Igreja de Todas as Religiões, em Hollywood, na Califórnia, foi construída por discípulos de SRF e consagrada em 1942. Um ano depois, fundou-se outra igreja, em San Diego, na Califórnia; e mais uma em Long Beach, também na Califórnia, em 1947.425
Uma das mais lindas propriedades rurais do mundo, mirífico país de flores, em Pacific Palisades, distrito de Los Angeles, foi doada à SRF em 1949. A propriedade, com uma área de 48.500 m2 é um anfiteatro da nature2a, cercado de colinas verdejantes. Um grande lago natural, jóia azul engastada num diadema de montanhas, deu à propriedade o seu nome de Santuário do Lago (SRF Lake Shrine). Um curioso moinho holandês abriga uma capela de SRF, impregnada de paz. junto de um jardim aquático, enorme roda hidráulica respinga sua preguiçosa música. Duas estátuas de mármore, provenientes da China, adornam o lugar - uma do Senhor Buda e outra de Kwan Yin (a personificação chinesa da Mãe Divina). Uma estátua de Cristo em tamanho natural, com suas vestes esvoaçantes e com seu rosto impressionantemente iluminado à noite, é visível no alto de uma colina, tendo, a seus pés, uma queda de água.
Aí, no Santuário do Lago, em 1950, ano que assinalou o trigésimo aniversário de SRF nos Estados Unidos426, consagrei um Monumento à Paz Mundial, em memória do Mahátma Gandhi. Um punhado de cinzas do Mahátma, remetidas da Índia, foi guardado como relíquia num sarcófago de pedra datando de mil anos.
Em Hollywood, em 1951, fundou-se um Centro da Índia, outro empreendimento de SRF. O vice-governador da Califórnia, sr. Goodwin J. Kníght, e o cônsul geral da Índia, sr. M. R. Ahuja, acompanharam-me no ofício religioso da consagração. No local, existe um auditório com capacidade para 250 pessoas427.
Os recém-chegados aos vários centros de SRF costumam solicitar maiores esclarecimentos sobre ioga. Ouço, às vezes, esta pergunta: "É verdade, conforme asseveram certas organizações, que a ioga não pode ser estudada com bons resultados através de material impresso, mas deveria ser praticada somente sob a orientação imediata de um instrutor?"
Na Idade Atômica, a ioga deve ser ensinada por um curso impresso de instruções, como as Lições de SRF, ou a ciência da libertação novamente se limitará a alguns eleitos. Seria, de fato, uma bênção inapreciável se cada estudante pudesse ter a seu lado um guru, na posse perfeita da sabedoria divina; mas o mundo é constituído de muitos "pecadores" e poucos santos. Como poderão as multidões, neste caso, receber o auxílio da ioga, a não ser pelo estudo, em seus lares, de instruções escritas por verdadeiros iogues?
A única alternativa seria ignorar o "homem comum" e privá-lo do conhecimento da ioga. Mas este não é o plano de Deus para a nova era. Bábají prometeu proteger e guiar todos os Kriya Yogis sinceros na senda para a Meta Suprema428. Precisa-se de centenas de milhares de Kríya Yogis e não apenas de meia-dúzía, para tornar realidade o mundo de paz e de abundância que aguarda os homens quando tiverem feito o esforço necessário para restabelecer seu "status" como filhos do Pai Divino.
Fundar no Ocidente uma organização como SRF, "uma colmeia para o mel espiritual", foi a tarefa que Sri Yuktéswar e Bábají me atribuíram. O cumprimento desta sagrada missão de confiança não tem sido isenta de dificuldades.
- Francamente, Paramahânsaji, valeu a pena? - Esta lacônica pergunta foi feita, certa noite, pelo dr. Lloyd Kennell, dirigente da Igreja de SRF em San Diego. Compreendi que era este o sentido da pergunta: - O senhor foi feliz nos Estados Unidos? Que tal as falsidades difundidas por pessoas mal orientadas, ansiosas de impedir a expansão da ioga? Que tal as decepções, as mágoas, os dirigentes de centros que não puderam dirigir, os estudantes que não puderam ser ensinados?
E respondi: - Abençoado o homem a quem Deus submete a provas! De vez em quando, Ele se recordava de pôr em meus ombros algum fardo. - Pensei, então, em todos os que permaneceram fiéis, e no amor, na devoção e no entendimento que iluminam o coração dos Estados Unidos. Devagar, com ênfase, prossegui: - Mas minha resposta é sim, mil vezes sim! Valeu a pena, muito mais do que sonhei, ver o Oriente e o Ocidente estreitarem sua proximidade pelo único vínculo duradouro, o espiritual.
Todos os grandes mestres da Índia, que demonstraram agudo interesse pelo Ocidente, compreenderam muito bem as condições modernas. Eles sabem que os problemas do mundo continuarão insolúveis enquanto todas as nações não assimilarem melhor as virtudes características do Oriente e do Ocidente. Cada hemisfério necessita daquilo que o outro tem a oferecer de melhor.
No decurso de minha viagem pelo mundo, observei com tristeza muito sofrimento429. No Oriente, acentuado sofrimento no plano material. No Ocidente, sobretudo, miséria mental e espiritual. Em todos os países repercutem os dolorosos efeitos de civilizações desequilibradas. A Índia e muitos outros países orientais poderão beneficiar-se imensamente se tratarem de competir com o senso prático de empresários, a eficiência material das nações ocidentais, como os Estados Unidos. Os povos ocidentais, ao contrário, necessitam compreender com maior profundeza a base espiritual da vida, e especialmente as técnicas científicas que a Índia desenvolveu, desde a antigüidade, para a comunhão consciente do homem com Deus.
O ideal de uma civilização equilibrada não é quimérico. Durante milênios, a Índia foi, simultaneamente, o país da luz espiritual e de bem distribuída prosperidade material. A pobreza dos últimos duzentos anos é, na longa história da Índia, apenas uma fase cármica passageira. Proverbial em todo o mundo, século após século, era a expressão "fausto das Índias"430. A abundância, material e espiritual, vem a ser uma manifestação da estrutura de ritá, lei cósmica ou justiça natural. Não há parcimônia no Espírito Divino, nem em Sua deusa dos fenômenos, a exuberante Natureza.
As Escrituras hindus ensinam que o homem é atraído para este planeta a fim de aprender, e aprender melhor em cada vida sucessiva, as infinitas variantes em que o Espírito pode, não só expressar-se através das condições materiais, mas também governá-las. O Oriente e o Ocidente estão aprendendo esta grande verdade, de maneiras diversas, e deveriam partilhar de bom grado, um com o outro, as Suas descobertas. Acima de qualquer dúvida, agrada ao Senhor que Seus filhos terrenos lutem por alcançar para o mundo uma civilização livre de pobreza, doença e ignorância espiritual. O esquecimento, pelo homem, de seus divinos recursos é resultado do uso incorreto de seu livre-arbítrio431 e causa primeira de todas as outras formas de sofrimento.
Os males atribuídos a uma abstração antropomórfica chamada "sociedade" podem ser imputados, mais realisticamente, a cada homem432. A utopia deve medrar na intimidade de cada peito humano, antes que possa florir em virtude cívica, pois as reformas internas conduzem naturalmente às externas. Um homem que se reformou a si mesmo, reformará milhares de outros.
As Escrituras do mundo, submetidas ao teste do tempo, são, em essência, uma só, inspirando o homem em sua jornada ascendente. Passei um dos períodos mais felizes de minha vida, ditando para Self-Realization Magazine minha interpretação de trechos do Novo Testamento. Implorei fervorosamente ao Cristo para que me guiasse na apreensão do verdadeiro significado de suas palavras, muitas das quais têm sido gravemente desvirtuadas durante vinte séculos.
Uma noite, quando silenciosamente me entregava à prece, minha sala de trabalho no eremitério de Encinitas inundou-se de luz azul cor-de-opala. Contemplei a forma resplandecente do abençoado Senhor Jesus. Parecia um jovem de vinte e cinco anos, com barba esparsa; seu longo cabelo preto, repartido ao meio, apresentava um halo de ouro cintilante.
Seus olhos eram eternamente maravilhosos; enquanto eu os fitava, eles se alternavam infinitamente. A cada mudança divina em sua expressão, eu compreendia intuitivamente a sabedoria que eles transmitiam. Em seu olhar glorioso, senti o poder que sustém miríades de mundos. Um Santo Graal apareceu-lhe na boca; desceu aos meus lábios e, a seguir, voltou a Jesus. Alguns momentos depois, ele pronunciou palavras belíssimas, tão pessoais em sua natureza que eu as guardo em meu coração.
Em 1950 e 1951, passei muito tempo em um retiro de SRF, próximo ao deserto de Mojava, na Califórnia, onde traduzi o Bhágavad-Gíta e escrevi um detalhado comentário433 aos seus versículos que abordam as várias sendas de ioga.
Referindo-se duas vezes434, explicitamente, a uma técnica iogue (a única mencionada no Bhálgavad-Gita, e a mesma que Bábají chamou, simplesmente, de Kriya Yoga), a maior Escritura da Índia proporciona duplo ensinamento, o moral e o prático. Em nosso mundo-sonho (um oceano), nossa respiração (uma tempestade específica da ilusão) produz a consciência de nossas formas de homens e de todos os outros objetos materiais (ondas individuais). O mero conhecimento filosófico e ético é insuficiente para despertar o homem do doloroso sonho de que sua existência é separada das outras: sabendo-o, o Senhor Krishna deu realce à ciência sagrada que possibilita ao homem dominar o seu corpo e convertê-lo, à vontade, em energia pura. A possibilidade desta proeza iogue não está além da compreensão teórica dos cientistas modernos, pioneiros de uma Idade Atômica. Já se provou que toda matéria é redutível à energia.
As Escrituras hindus exaltam a ciência porque é aplicável, sem exceção, a todos os homens. O mistério da respiração, é verdade, já foi algumas vezes desvendado, sem o emprego de técnicas iogues formais, como no caso de místicos não-hindus que possuíam poderes transcendentes de devoção ao Senhor. Tais santos do cristianismo, do islamismo e de outras religiões foram observados, de fato, em transe de imobilidade e ausência de respiração (sabikálpa samádhi)435, sem o qual ninguém pode penetrar nas primeiras fases da percepção de Deus. (Contudo, depois que um santo alcançou nirbikálpa, ou o mais elevado samádhí, acha-se irrevogavelmente estabelecido no Senhor - respire ou não, esteja imóvel ou ativo).
Frei Lawrence, místico cristão do século 17, conta-nos que teve seu primeiro vislumbre da experiência de Deus ao contemplar uma árvore. Quase todos os seres humanos viram uma árvore; poucos, infelizmente, viram, através dela, o Criador da árvore. A maioria é absolutamente incapaz de invocar aqueles poderes de devoção irresistíveis, possuídos sem esforço por alguns ekantins, santos de um só e supremo objetivo, encontrados em todas as sendas religiosas, sejam do Oriente ou do Ocidente. Entretanto, o homem comum436 não se acha, por isso, excluído da possibilidade de comungar com Deus. Para despertar a memória de sua própria divindade, ele de nada mais precisa que a técnica de Kriya Yoga, a observância diária dos preceitos morais e a aptidão de clamar sinceramente: "Senhor, anseio conhecer-Te!"
A ioga tem, assim, interesse universal porque permite a todos aproximar-se de Deus, pelo uso diário de um método científico, em vez de um fervor religioso que, para o homem comum, está além de seu alcance emocional.
Vários grandes mestres do jainismo na Índia têm sido chamados de tírthakaras, "construtores de vaus", porque revelam a passagem através da qual a humanidade desorientada pode atravessar e vencer os mares tempestuosos de samsára (a roda cármica, a recorrência de vidas e mortes). Samsára (literalmente, "boiando a favor" da correnteza dos fenômenos) induz o homem a tomar a linha de menor resistência. "Quem for, pois, amigo do mundo, é inimigo de Deus"437. Para tornar-se amigo de Deus, o homem deve vencer os demônios, isto é, os males de suas próprias ações ou carma, que sempre o incitam a uma desfibrada aquiescência às ilusões do mundo (máya). Quem se empenha numa busca séria é encorajado, pelo conhecimento da férrea lei do carma, a encontrar a saída, a liberação final de seus grilhões. Já que a escravidão cámica dos seres humanos tem sua raiz nos desejos das mentes obnubiladas por máya, o iogue se interessa pelo controle da mente438. E despoja-se de vários mantos de ignorância cármica, para contemplar-se a si mesmo em sua essência nativa.
O mistério da vida e da morte, cuja solução é o único objetivo da passagem do homem pela Terra, está intimamente entrelaçado com a respiração. Ausência de respiração é ausência de morte. Tendo experiência desta verdade, os antigos ríshis da Índia apoderaram-se desta chave única, a da respiração, e desenvolveram uma ciência, racional e exata, de não-respiração.
Não tivesse a Índia outra dádiva para oferecer ao mundo, e Kriya Yoga, só por si, bastaria como presente régio.
A Bíblia contém passagens reveladoras de que os profetas hebreus estavam cientes de ter Deus criado a respiração para servir de vínculo sutil entre o corpo e a alma. O Gênese afirma: "O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o alento de vida; e o homem tornou-se uma alma vivente"439. O corpo humano compõe-se de substâncias químicas e metálicas que também se encontram no "pó da terra". A carne do homem jamais poderia desenvolver qualquer atividade, ou manifestar energia e movimento, se não fossem as correntes vitais transmitidas pela alma ao corpo, por intermédio da respiração (energia gasosa). Nos homens não-iluminados, as correntes de vida, operando no corpo humano sob a forma de prana quíntuplo ou cinco energias vitais sutis, são manifestações da vibração Aum da alma onipresente.
O reflexo, a verossimilhança, da vida que, refulgindo nas células da carne, tem sua origem na alma, é a causa única do apego do homem ao corpo; é óbvio que ele não prestaria solícita homenagem a um punhado de argila. Um ser humano identifica-se falsamente com sua forma física porque as correntes vitais da alma são transportadas pela respiração para o interior da carne, com tamanha intensidde, que o homem toma o efeito pela causa, e supõe, idolatramente, que o corpo tem vida própria.
O estado consciente do homem associa-se à percepção do corpo e da respiração. No estado subconsciente, ativo durante o sono, a mente separa-se, temporariamente, do corpo e da respiração. Em estado superconsciente, o homem se liberta da ilusão de que a "existência" depende do corpo e da respiração440. Deus vive sem respirar; a alma criada à Sua imagem torna-se consciente de si mesma, pela primeira vez, apenas durante o estado de ausência de respiração.
Quando o carma evolutivo corta o laço respiratório entre corpo e alma, segue-se a transição abrupta denominada "morte"; as células físicas revertem à sua natural impotência. O Kriya Yogi, porém, corta o vínculo respiratório à vontade, com sabedoria científica, sem a rude intromissão da necessidade cármica. Senhor de experiência efetiva, o iogue já é cônscio de sua essência incorpórea e dispensa a insinuação, um tanto contundente da Morte, de que o homem anda mal-avisado ao depositar sua confiança no corpo físico,
Vida após vida, cada homem progride (em seu próprio passo, ainda que erradio), rumo à apoteose de si mesmo. A Morte, que não interrompe este avanço, simplesmente lhe oferece um ambiente de maior afinidade no mundo astral para nele se purificar de suas escórias. "Não se perturbe o vosso coração ... Na casa de meu Pai há muitas moradas"441. É deveras improvável que Deus tenha esgotado Sua faculdade inventiva ao criar este mundo, ou que, no seguinte, Ele nada tenha a oferecer de mais para o nosso interesse do que o arranhar de harpas.
A morte não é a destruição da existência, a derradeira fuga à vida; nem é a porta para a imortalidade. Quem perdeu o seu eterno Eu nos prazeres terrenos, não O recapturará entre os delicados encantos do mundo astral. Ali, acumula simplesmente percepções mais refinadas e adquire maior sensibilidade para o belo e o bom que são uma e a mesma coisa. É na bigorna deste planeta grosseiro que o homem deve forjar o imperecível ouro da identidade espiritual. Exibindo em sua mão esse ouro arduamente ganho, único presente aceitável para a Morte voraz, o ser humano conquista sua libertação definitiva dos ciclos de reencarnação física.
Durante muitos anos, dei aulas em Encinitas e Los Angeles sobre os Yoga Sutras de Patânjali e outras obras profundas da filosofia hindu.
- Mas por que tinha Deus de juntar alma e corpo? - perguntou-me, certa vez, um estudante. - Qual era o Seu objetivo ao imprimir o primeiro movimento a este drama evolutivo da criação? - Inúmeros outros homens fizeram as mesmas perguntas; filósofos procuraram, em vão, respondê-las satisfatoriamente.
- Deixe alguns mistérios para explorar na Eternidade - costumava dizer Sri Yuktéswar com um sorriso. - Como poderiam os limitados poderes de raciocínio do homem compreender os motivos inconcebíveis do Absoluto Incriado? A faculdade raciocinal no homem, limitada pelo princípio de causa e efeito do mundo dos fenômenos, desconcerta-se ante o enigma de Deus, o Sem Princípio, o Incausado. Contudo, embora a razão humana não possa sondar os mistérios da criação, cada um dos enigmas será afinal decifrado para o devoto pelo próprio Deus.
Quem anseia sincera e ardentemente pela sabedoria, contenta-se em iniciar sua busca pela aprendizagem humilde de um simples abecedário dos planos divinos, sem exigir prematuramente um gráfico matemático exato da "Teoria Einsteiniana" da vida.
"Nenhum homem jamais viu Deus (nenhum mortal sujeito ao "tempo", às relatividades de máya442 pode ter experiência do Infinito); o Filho Unigênito, que está no seio do Pai (a Consciência Crística, reflexo do Pai ou projeção exterior da Inteligência Perfeita que, guiando todos os fenômenos estruturais, através da vibração Aum, emergiu do "seio" ou das profundezas do Divino Incriado a fim de expressar a multiplicidade da Unidade) revelou (sujeitou à forma, manifestou) esse mesmo Pai"443.
"Em verdade, em verdade vos digo - explicou Jesus - o Filho por si mesmo nada pode fazer, mas apenas o que vê o Pai fazer: porque tudo o que o Pai fizer, o Filho também o faz"444.
A tríplice natureza de Deus, conforme Ele se revela no mundo dos fenômenos, é simbolizada nas Escrituras hindus por Brahma, o Criador, Vishnu, o Conservador, e Shiva, o Destruidor-Renovador. Sua atividade, trina e una, patenteia-se incessantemente através da criação vibratória. Como o Absoluto situa-se além dos poderes de concepção do homem, o hindu devoto adora-O nas augustas corporificações da Trindade445.
O aspecto universal de Deus, de criador-conservador-destruidor, não é Sua natureza última nem mesmo essencial (pois a criação cósmica é apenas Seu fila, esporte criador)446. Sua natureza intrínseca não pode ser compreendida, nem mesmo compreendendo-se todos os mistérios da Trindade, porque Sua natureza extrínseca, que se manifesta na criação atômica regida por leis, limita-se a expressá-Lo sem O revelar.
A natureza última do Senhor só é conhecida quando "o Filho sobe ao Pai"447. O homem liberto ultrapassa os reinos vibratórios e entra na Origem Sem Vibração.
Todos os grandes profetas permaneceram silenciosos quando solicitados a desvendar os segredos últimos. Quando Pilatos perguntou: "Que é a Verdade?"448, Cristo não respondeu. As indagações muito pomposas de racionalistas como Pilatos raramente procedem de um ardente espírito de pesquisa. Tais homens preferem falar com essa arrogância vazia que considera a falta de convicção sobre os valores espirituais449 como um sinal de "mentalidade aberta".
"Nasci para este fim e vim ao mundo para (servir) esta causa, a de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz"450. Nestas poucas palavras, Cristo falou volumes. Um filho de Deus "dá testemunho" com a sua própria vida. Ele encarna a verdade; se também a explica, trata-se de generosa redundância.
A verdade não é teoria, nem sistema especulativo de filosofia, nem súbita compreensão intelectual. A verdade é a exata correspondência com a realidade, Para o homem, a verdade é o inabalável conhecimento de sua natureza real, de sua alma ou Ser eterno. Jesus, em cada ato e palavra de sua vida, provou conhecer a verdade de seu ser - sua origem divina. Totalmente identificado com a Consciência Crística onipresente, ele podia dizer, em caráter final: "Todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz".
Buda também se recusou a lançar luz sobre as questões derradeiras da metafísica, assinalando secamente que os poucos momentos do homem na Terra seriam melhor empregados no aperfeiçoamento de sua natureza moral. O místico chinês Lao-tsé ensinou corretamente: "Quem sabe, não o diz; quem diz, não o sabe". Os mistérios últimos de Deus não se acham "abertos à discussão". A decifração de Seu código secreto é uma arte que o homem não pode comunicar ao homem; aqui, só o Senhor é o Mestre.
"Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus"451. Nunca fazendo alarde de Sua onipresença, o Senhor só é ouvido nos silêncios imaculados. Reverberando por todo o universo como vibração criadora Aum, o Som Primordial traduz-se instantaneamente em palavras inteligíveis para o devoto com Ele sintonizado.
O objetivo divino da criação, até onde a razão humana pode compreendê-lo, está exposto nos Vedas. Os ríshís ensinaram que cada ser humano foi criado por Deus como alma que manifestará, de modo ímpar, algum atributo especial do Infinito, antes de reassumir sua Absoluta Identidade. Todos os homens, assim dotados com uma faceta da Individualidade Divina, são igualmente amados por Deus452.
A sabedoria acumulada pela Índia, irmã mais velha das demais nações, é uma herança de toda a humanidade. A verdade védica, como toda verdade, pertence ao Senhor e não à Índia. Os ríshis, cujas mentes eram receptáculos puríssimos onde se verteram as divinas profundezas dos Vedas, foram membros da raça humana, nascido neste planeta, e não em outro, para servir a toda a humanidade. Distinções de raça ou de nacionalidade não têm sentido no reino da verdade, onde a única qualificação é a capacidade espiritual para recebê-la.
Deus é Amor; logo, Seu plano para a criação só pode ter raiz no amor. Não oferece este simples pensamento mais consolo ao coração humano que todos os raciocínios dos eruditos? Todo santo que penetrou no âmago da Realidade deu testemunho de que existe um planejamento divino do universo, pleno de beleza e de alegria.
Ao profeta Isaías, Deus revelou Suas intenções nestas palavras: "Assim será a palavra (Aum criador) que sair de minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei. Porque com alegria saireis e em paz sereis guiados; os montes e as colinas prorromperão em cânticos diante de vós e todas as árvores do campo baterão palmas"453.
"Saireis com alegria e sereis guiados em paz". Os homens do atribulado século 20 ouvem nostalgicamente esta promessa maravilhosa. A verdade total nela contida pode ser comprovada por todo devoto de Deus que desenvolva um esforço varonil para recuperar sua divina herança.
A função abençoada de Kriya Yoga no Oriente e no Ocidente está apenas em seu começo454. Possam todos os homens saber que existe uma técnica científica, definida, para o Encontro com Deus e a superação de toda miséria humana!
Ao enviar vibrações mentais de amor aos milhares de Kriya Yogis, esparsos pela Terra como jóias riátilas, quantas vezes penso, agradecido: Senhor, Tu deste a este monge uma grande família!
Disseminar entre as nações o conhecimento de técnicas científicas definidas para atingir a experiência pessoal e direta de Deus.
Revelar a unidade básica e a completa harmonia entre o Cristianismo original ensinado por Jesus Cristo e a Ioga original ensinada por Bhágavan Krishna; e mostrar que estes princípios são o fundamento científico comum a todas as verdadeiras religiões.
Apontar a divina e única estrada preferencial para a qual todas as sendas das verdadeiras crenças religiosas eventualmente se dirigem: a estrada preferencial da meditação em Deus, diária, científica e devocional.
Demonstrar a superioridade da mente sobre o corpo, e da alma sobre a mente.
Liberar o homem de seu tríplice sofrimento: doença física, desarmonias mentais e ignorância espiritual.
Promover a compreensão espiritual entre Ocidente e Oriente, e advogar o intercâmbio de suas características distintivas mais refinadas.
Harmonizar ciência e religião pelo conhecimento de que a Natureza e suas leis tiveram origem na Mente Divina: a Causa Primeira e Única.
Encorajar "o viver com simplicidade e o pensar com elevação"; e difundir o espírito de fraternidade entre todos os povos, ensinando-lhes o eterno alicerce de sua unidade: filiação a Deus.
Vencer o mal com o bem, a tristeza com a alegria, a crueldade com a bondade, a ignorância com a sabedoria.
Servir a humanidade como ao seu próprio Eu ampliado.