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A Yoga Supramental de Sri Aurobindo
Ensaios Divino e Humano
Volume 10 das

Principais Obras de Sri Aurobindo
Sri Aurobindo's Major Works

Sumário

Sete diretivas sobre Yoga Supramental
    1.1  Diretiva 1 [1928-1929]
        1.1.1  Diretiva 2 - [1928-1929]
        1.1.2  Diretiva 3 - [1928-1929]
        1.1.3  Diretiva 4 - [1930]
        1.1.4  Diretiva 5 - [1930]
        1.1.5  Diretiva 6 - [1930]
        1.1.6  Diretiva 7 - [1930-1940]

1  Sete diretivas sobre Yoga Supramental

Sete diretivas sobre Yoga Supramental
e para o "Caminho".
(de 1928 até 1940)
Seven drafts on Supramental Yoga
and for "The Path".

     Texto da Internet sobre "Yoga Integral [Integral Yoga]" transcrito da nova edição das "Principais Obras de Sri Aurobindo [Sri Aurobindo's Major Works]", volume 10 "Ensaios, Divino e Humano [Essays Divine and Human]", seção "A Yoga Supramental [The Supramental Yoga]", publicado pelo Ashram de Sri Aurobindo - Pondicherry.

1.1  Diretiva 1 [1928-1929]

     A Yoga supramental é um caminho de procura integral do Divino através do qual tudo o que nós somos é no final liberado da Ignorância, e suas formações não-divinas, em uma verdade além da Mente, uma verdade não apenas do mais alto status espiritual mas de uma auto-manifestação espiritual dinâmica no universo.

     O objetivo desta Yoga não é liberar a alma da Natureza, e sim liberar ambas a alma e a natureza pela sublimação na Consciência Divina da qual elas procedem.

     A intenção da Yoga ordinária é liberar a alma da Natureza ou, talvez algumas vezes, liberar a alma na Natureza.

     Nossa intenção é liberar ambas a alma e a natureza no Divino. Nossa intenção é passar da Ignorância para Luz Divina, da morte para Imortalidade, do Desejo para Felicidade auto-existente, da consciência humano-animal limitada para onisciência e consciência de Deus, da procura ignorante da Mente para o conhecimento auto-existente da Supramente, da vida semi animal obscura para força de Deus luminosa, da consciência material ... [sentença não completada]

1.1.1  Diretiva 2 - [1928-1929]

     É no elevado limiar no qual a dádiva pode se tornar absoluta que começa uma consciência gnóstica divina e os primeiros trabalhos autênticos e incondicionados da Natureza supramental.

1.1.2  Diretiva 3 - [1928-1929]

     A primeira palavra da Yoga supramental é dádiva; sua última palavra também é dádiva. É através de uma vontade da própria pessoa de se dar para o Divino eterno, por uma elevação até a consciência divina, por perfeição, por transformação, que a Yoga começa; é na inteira dádiva de si próprio que ela culmina; pois é somente quando é completa a doação do próprio ser (para Deus), que floresce a finalidade da Yoga, a inteira elevação ao Divino supramental, a perfeição do ser, a transformação da natureza.

1.1.3  Diretiva 4 - [1930]

     Toda Yoga tem um objetivo supremo; o seu propósito é a permanente liberação da ignorância e fraqueza desta limitada e sofrida consciência humana terrena, e, um escape ou um crescimento e mudança, que floresce em uma maior consciência além da mente, vida e corpo, em uma existência mais ampla e divina.

     Mas esta consciência maior é concebida distintamente por diferentes buscadores, pois em si mesmo ele é o infinito imensurável pela mente. É o Um, mas o um multifacetado, que apresenta a si mesmo em um milhão de aspectos. Para alguns ele aparece como um negativo permanente enorme, ou uma magnífica e alegre aniquilação de tudo que nós conhecemos como uma existência. Para outros ele é um Absoluto inqualificável; a aniquilação da personalidade e da natureza mundana é sua chave, e o silêncio, uma paz inefável, é o seu portal de entrada. Para outros ele é um Supremo, positivo além de todos os positivos, uma Existência, uma Consciência absoluta, uma Beatitude ilimitada. Para outros é o um Divino além de todas Divindades, uma Pessoa inefável da qual todos estas três coisas supremas são os atributos. E assim por diante em um capítulo sem fim. Assim como é o poder de nosso espírito e a casta de nossa natureza, assim nós conceituamos o Um Eterno e Infinito.

     Este Eterno e Infinito, sobre todas as formas como o conceituamos, é o objetivo último e único da Yoga. Existem outros objetivos menores que podem ser alcançados e que são procurados por muitos buscadores; mas eles são coroas do caminho lateral, ou mesmo flores dos desvios, e sua procura como um fim em si pode nos conduzir longe aparte ou longe do caminho do nosso lar eterno.

     O objetivo da Yoga supramental combina todos os outros, mas eleva e transforma os objetivos menores em uma parte da completude do objetivo supremo único.

     Este objetivo, não é que nós nos percamos, com tudo mais, em alguma inqualificação inefável, e sim que nós renunciemos ao ego para nos unir à nossa pessoa divina verdadeira que vive em unidade com o universal e infinito. O objetivo não é abolir a consciência, e sim intercambiar a ignorância por um Conhecimento supremo todo envolvente. O objetivo não é eliminar a alegria, e sim renovar o prazer humano de uma bem-aventurança divina sem tristeza. O objetivo não é desistir, e sim transformar toda natureza e existência mundana no poder da Verdade da Existência Divina. Asceticismo não é a condição final ou os meios característicos desta Yoga, embora ela não exclua, sempre que necessário, a auto-mestria ou esforço asceta.

     O objetivo e o coroamento do caminho supramental da Yoga é se tornar um em nosso ser absoluto com o Divino inefável e na manifestação de um movimento livre de seu ser, poder, consciência e alegria auto-realizadora. O objetivo é crescer em uma divina consciência da Verdade além da mente, em uma Luz além de todas as luzes humanas ou terrenas, em um Poder diante do qual as maiores forças do humano são uma fraqueza, em uma sabedoria da gnose inefável e a mestria de uma divindade de Vontade infalível e sem erros, em uma Felicidade que ao lado de todo o prazer humano é como o esplendor todo penetrante do sol imperecível ao lado do reflexo quebrado da chama de uma vela. Mas tudo isso não é para nosso ganho, e sim para o prazer do Amado Divino. Este é o objetivo e o coroamento do caminho supramental da Yoga.

     Esta mudança é algo na Natureza e não fora da Natureza. Esta mudança não é apenas possível, e sim inevitável para alma em crescimento. É o objetivo para o qual a Natureza em nós caminha através de todas as aparências de ignorância, erro, sofrimento e fraqueza.

1.1.4  Diretiva 5 - [1930]

     Toda Yoga humana é feita nas alturas ou níveis da natureza mental. Pois o humano é um ser mental em um corpo vivente. Mas a mente, mesmo se for capaz de refletir alguma luz da Verdade divina ou mesmo admitir algumas emanações de seu poder, é incapaz de incorporar esta Verdade.

     Existe uma eterna e dinâmica consciência da Verdade além da mente. Isto é o que nós chamamos de supermente ou gnosis.

     Pois a mente é ou pode ser uma buscadora da verdade, mas não a consciência da verdade em sua natureza inerente. O material original da mente não é feito de conhecimento, e sim de ignorância.

1.1.5  Diretiva 6 - [1930]

     A Yoga supramental é ao mesmo tempo uma ascenção da alma em direção a Deus e uma descida da Mente de Deus até a natureza incorpada.

     A ascenção [do humano] demanda uma centrada aspiração toda-abrangente, uma aspiração de elevação da alma, mente, vida e corpo. A descida [do divino] ocorre com o chamado de todo ser para o Divino infinito e eterno. Se este chamado e esta aspiração estiverem presentes, e se eles crescerem constantemente e aprenderem toda natureza, então, e somente então, a sua transformação supramental se torna possível.

     É preciso que haja uma abertura e uma dádiva de toda natureza para receber e entrar em uma consciência divina maior que já existe acima, além e englobando esta existência mortal semi-consciente. É preciso que haja também uma capacidade crescente de portar uma ação sempre mais forte e mais insistente da Força divina, até que a alma se torne uma criança nas mãos da Mãe infinita. Todos os outros meios, conhecidos de outra Yoga, podem ser usados, e, de tempos em tempos também são usados como processos subordinados desta Yoga. Mas os outros meios são impotentes sem as condições maiores, e, uma vez que estas condições estejam presentes, eles não são indispensáveis.

     No final vai ser descoberto que esta Yoga não pode ser suportada até o fim por qualquer esforço da mente, vida e corpo, por qualquer processo humano físico ou psicológico. Esta Yoga só pode ser suportada pela Shakti suprema [Mãe suprema]. Mas o caminho Dela é ao mesmo tempo muito misteriosamente direto e exteriormente intricado, muito grande, muito completo e sutil para ser seguido de modo compreensivo. O caminho [da Mãe Divina] é muito maior do que o que pode ser segmentado e é definido em uma fórmula por nossa inteligência humana.

     O humano não pode de seu próprio esforço fazer a si mesmo mais do que humano, mas ele pode clamar a descida da Verdade divina e seu poder para trabalhar nele. A descida da Natureza divina pode sozinha divinizar o receptáculo humano. Auto-doação para o Poder transmutador supremo é a palavra chave da Yoga.

     Esta divinização da natureza, sobre a qual nós falamos, é uma metamorfose. Esta divinização não é um mero crescimento até algum tipo de superhumanidade, e sim, uma mudança da falsidade de nossa natureza ignorante para verdade da natureza de Deus. O semideus vital ou mental, o Asura, Rakshasa e Pishacha, - Titan, gigante vital e demônio, - são superhumanos no ataque, na força, no movimento, e na ação de suas naturezas características, mas estas [naturezas] não são divinas e eles não são o divino supremo. Pois eles [os semideuses] somente vivem em um maior poder mental ou vital, mas eles não vivem na Verdade suprema, e somente a Verdade suprema é divina. Somente aqueles que vivem em uma consciência da Verdade suprema, e que a incorporam, são internamente feitos, ou senão refeitos, na imagem Divina.

     O objetivo da Yoga supramental é mudar para esta suprema consciência da Verdade, mas esta verdade é alguma coisa além da mente e esta consciência está muito acima da consciência da mente mais elevada. Pois a verdade da mente é sempre relativa, incerta e parcial, mas esta Verdade maior é peremptória e total. A verdade da mente é uma representação, sempre inadequada, frequentemente uma representação desviadora, e mesmo quando mais acurada, somente um reflexo, uma sombra da Verdade e não o seu corpo. A mente não vive na Verdade nem a possui, [a mente] somente procura [a Verdade] e no melhor dos casos alcança alguns fios do seu manto. A supramente vive na Verdade e [é] sua substância nativa, sua forma e expressão. Ela [a supramente] não tem que procurar [pela Verdadade], mas já a possui sempre automaticamente e é o que ela possui. Isto é precisamente o cerne da diferença.

     A mudança que é efetivada pela transição da mente para supermente não é somente uma revolução no conhecimento ou no nosso poder para conhecer. Se [esta mudança] é para ser completa e estável, ela deve ser também uma transmutação divina de nossa vontade, nossas emoções, nossas sensações, todos os poderes da vida e suas forças, e no final até mesmo da própria substância e funcionamento do nosso corpo. Somente então pode-se dizer que a supermente está na terra, enraizada na própria substância terrena e incorporada em uma nova raça de criaturas divinizadas.

     A supermente no seu mais elevado alcance é a Gnosis divina, a Sabedoria-Poder-Luz-Felicidade de Deus através do qual o Divino conhece, eleva, governa, e desfruta o universo.

1.1.6  Diretiva 7 - [1930-1940]

     Toda Yoga é, em sua própria natureza, um meio de passar da nossa consciência superficial de limitação e ignorância para uma Realidade mais ampla e profunda, de nosso ser, do mundo, e de uma Existência suprema ou total, que agora está para nós velada por esta superfície.

     Existe uma Realidade sublinhando todas as coisas, que talvez permeie todas as coisas, e que é talvez todas as coisas, mas de uma outra forma distinta do mundo que é visto por nós agora. Para esta Realidade estamos obscuramente nos movendo por nosso pensamento, vida e ações. Nós tentamos compreender e nos aproximar por nossa religião ou filosofia, no fim nós tocamos diretamente em alguma parte [desta Realidade] ou, podemos vivenciar alguma experiência espiritual completa. É essa experiência espiritual, é o método, é o alcance desta realização que nós chamamos Yoga.

     Mas a Realidade é um Absoluto ou um Infinito. Nossa consciência, mesmo nossa consicência espiritualizada é de um ser finito. Por consequência [de nossa finitude] é inevitável que nossa experiência espiritual não deve ser aquela da integralidade cristalina do Absoluto ou Infinito, mas um aspecto dela. Nós somos portanto, ao menos enquanto somos seres mortais, o humano cego da história tentando dizer o que o "Infinito Elefante" é em sua totalidade, por meio de nosso toque de uma parte dele, de algum membro do seu corpo espiritual, tanum svam. Um indivíduo experimenta-O [Infinito] como Ser ou Espírito. [O Infinito] pode parecer o seu próprio Ser no qual ele encontra sua realização espiritual, integridade, infinitude, perfeição. Pode parecer o Ser do universo no qual sua individualidade é perdida para sempre. Pode parecer um Ser transcendente no qual o Ego desaparece, mas o cosmos também é anulado para sempre no Infinito e Eterno sem forma. Outro indivíduo pode experimenta-lO como Deus. E Deus pode parecer o [conjunto de] Todos do Panteísta, um Espírito cósmico, uma Deidade individual, um Criador supracósmico; ou todos estes juntos. Um Deus Capital Pessoal pode ser a Forma espiritual na qual Ele apresenta a Si mesmo para nós ou preferivelmente Ele pode rejeitar formas de seu ser [e] re-solver seu próprio Ser em uma Existência impessoal. Mais ainda, cada um destes aspectos da Realidade pode ser experienciado variadamente, pois cada um se adapta à compreensão de nossa consciência, mesmo que possa ser muito aparente que estas diferentes variações se referem a mesma Realidade. Mas também podem [existir] outras realizações da Realidade tais como o Zero dos Budistas Nilistas o qual é também Todo misterioso, uma negação que é uma Permanência positiva. É um erro considerar estas variações como uma prova de que a experiência espiritual é irrealizável. Todas as religiões, todas as filosofias são igualmente sem esperança em suas tentativas de dar conta do Real e Último. A ciência em si mesma, apesar de todo seu material de positivismo físico factual, retrocede desconcertada de suas tentativas de tocar o Real e Último. É da natureza da Mente chegar a este resultado de certeza incerta. Nossa experiência é verdadeira mas ela não pode ser sozinha [toda] a experiência integral possível.