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Editora | Rosely M. Boschini | |
Assistente editorial | Rosângela Barbosa | |
Projeto gráfico | Marcelo Souza Almeida | |
Diagramação e fotolitos | Join Bureau | |
Capa | Túlio Fagim | |
Revisão | Márcia Melo |
A arte de viver em paz: por uma nova consciência, por uma nova educação / Pierre Weil ; tradutores Helena Roriz Taveira, Hélio Macedo da Silva. - São Paulo : Editora Gente, 1993 (1a edição).
1. Paz 2. Educação 3. Holismo I. Título.
Prefácio - Por uma Nova Educação 9
Metodologia 21 Uma Nova Concepção de Vida 25 A Visão Fragmentária da Paz 29 A Paz como Fenômeno Externo ao Homem 29 A Paz no Espírito do Homem 35 A Visão Holística da Paz 37 A Educação Fragmentária 38 A Visão Holística da Educação 39 A Educação Holística para a Paz 43 Metodologia Pedagógica 46 A Transmissão da Arte de Viver em Paz 49 O Processo de Destruição da Paz 50 O Paraíso Perdido 51 Metodologia Pedagógica 53 O Desenvolvimento da Paz Interior 65 A Paz do Corpo 66 A Paz do Coração 68 Os Métodos de Transformação Energética 70 Os Métodos de Estímulo Direto da Paz 74 A Paz de Espírito 75 Metodologia Pedagógica 80 A Arte de Viver em Paz com os Outros 81 As Três Manifestações Sociais da Energia 82 Metodologia Pedagógica 90 A Arte de Viver em Paz com a Natureza 92 Por uma Pedagogia Ecológica 93 Metodologia Pedagógica 99 Declaração de Veneza 107 Carta da Transdisciplinaridade 111 Declaração das Responsabilidades Humanas paraNunca, nos últimos quarenta anos, a paz esteve tão próxima da humanidade. Jamais ela foi tão palpável como hoje em dia. Sim, a violência pode ser banida já de todos os níveis da vida.
Mas é necessário que os homens escolham com audácia, imaginação e determinação o caminho da paz. Porque ele não é o único. Existe também a trilha sombria que conduz à desordem e à guerra.
Desde sua fundação, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) trabalha para estabelecer a paz nas consciências, porque entende que "as guerras nascem na mente dos homens, e é nela, primeiramente, que devem ser erguidas as defesas contra o ódio".
A Universidade para a Paz, criada pelas Nações Unidas na Costa Rica, manifesta seu reconhecimento a Pierre Weil pelo trabalho que vem desenvolvendo à frente da Fundação Cidade da Paz e da Universidade Holística Internacional de Brasília. É marcante a contribuição de Weil a um tema fundamental de nossa época: a educação para a paz.
Como ele sublinha em sua obra, depois de séculos ou mesmo milênios de silêncio, a educação para a paz enfim floresce neste planeta. Chegam a nós, sem cessar, notícias sobre o estabelecimento de cátedras para a paz e de novos ensinamentos a esse respeito. Existe, hoje, um grande interesse por esse assunto em diversos setores da atividade humana.
A essa eclosão de atividades aplica-se a observação de Leibniz, predizendo que a humanidade ficaria fascinada e seria absorvida pelas faculdades de análise da ciência de tal forma que, durante séculos, dissecaria a realidade e se esqueceria da síntese, do universal.
Mas ele previu, também, que a complexidade de nossas descobertas nos forçaria, mais cedo ou mais tarde, a retornar ao universal, à globalidade. O momento chegou, como demonstra todos os dias nossa nova abordagem em relação à Terra, à natureza, à comunidade humana, à unidade das ciências, ao caráter multidisciplinar da pesquisa e dos estudos.
Pierre Weil, assim, integra a educação para a paz à arte de viver, assunto que também é de complexidade infinita e requer um tratamento holístico.
O adjetivo "holístico" ainda assusta algumas pessoas. Que não se inquietem. Trata-se simplesmente da palavra grega "kath holikos", que se refere à totalidade, ao universal. Essa palavra foi consagrada na expressão "Igreja Católica", que quer dizer "Igreja Universal".
Não vou me debruçar sobre a obra para analisá-la. Cabe ao leitor e aos professores a tarefa de descobri-la, apreciar seu porte e sua importância e compartilhar, como espero, o entusiasmo que senti.
Encarregado que fui durante anos da coordenação das 32 instituições especializadas e de programas mundiais das Nações Unidas, tive de enfrentar a complexidade crescente do saber e das preocupações humanas, nos aspectos físico, científico, intelectual, moral, ético e espiritual.
Também eu, depois de longas reflexões e observações, fui levado a procurar um enfoque holístico para compreender e sintetizar o movimento da humanidade nesse sentido, ao longo dos séculos. Foi esse esforço de síntese que me valeu o Prêmio da Educação para a Paz da Unesco, em 1989. Muitas escolas já começam a aplicar essa visão holística de educação e foi-me dada a honra de batizar com meu nome algumas delas.
Pierre Weil e eu devemos grande reconhecimento à Unesco por sua acolhida benevolente a esses ensaios de ensinamento universal, que podem parecer utópicos a algumas pessoas hoje. Mas as utopias de hoje costumam ser as realidades de amanhã - a existência das Nações Unidas e o nascimento da Comunidade Econômica Européia são bons exemplos dessa constatação.
Um dia, a utopia de uma comunidade mundial, de uma nação terrestre unida, também será uma realidade. Como dizia Schopenhauer, "toda verdade passa por três estados: primeiro ela é ridicularizada, depois é violentamente combatida, finalmente, ela é aceita como evidente".
Em nome da Universidade para a Paz, envio sinceros agradecimentos a Pierre Weil e à Unesco. Queira Deus que esta obra seja a pedra angular para uma nova educação no limiar do terceiro milênio.
Durante os quase sessenta anos de existência da Organização das Nações Unidas, e mais particularmente da Unesco, inúmeras pesquisas foram feitas sobre as origens da guerra e os meios para estabelecer a paz no mundo.
Inspirada nessas conclusões e nos trabalhos de órgãos internacionais, uma pedagogia da paz está em plena gestação. Em todo o lugar, há educadores, cientistas e especialistas de diversas áreas trabalhando nesse projeto.
Mas por que tantos se põem a pesquisar esse assunto ao mesmo tempo? A resposta encontra-se na insatisfação que grande parte das pessoas vem apresentando quanto às formas tradicionais de pensar, sentir e relacionar-se. São indivíduos que rejeitam a fragmentação da vida que nos foi imposta ao longo de cinco séculos de império absoluto da razão.
Está nascendo, neste momento, uma nova percepção das coisas, que busca restituir a unidade ao conhecimento, com o objetivo de atingir a sabedoria e a plena consciência. Essa nova percepção é também chamada de "visão holística".
Mas, para que ultrapassemos o estágio atual, é preciso formar já os mestres da nova época. Em outras palavras, a educação deve começar pelos próprios professores. O exemplo de sua paz interior e sua habilidade para irradiá-la e desenvolvê-la permitirá que caminhemos rumo ao futuro. Afinal, como se pode pretender mudar os outros senão começando por nós mesmos?
Indicar aos educadores os meios pedagógicos pelos quais eles alcançarão a transformação da sua própria consciência e da de seus alunos é o objetivo principal deste manual.
Embora tenhamos nos inspirado em grande parte nos trabalhos da Unesco, o conteúdo desta obra é de nossa inteira responsabilidade1.
Esperamos que A Arte de Viver em Paz ajude a construir a nova visão que o momento requer. Se formos bem-sucedidos, estimularemos uma mudança profunda de atitude e de comportamento na população do planeta. O esforço terá, então, valido a pena.
Já se passaram quase quinze anos desde que escrevi a presente obra, em 1990.
Eu tinha uma relativa certeza do êxito do método, pois havia realizado em mim mesmo durante os vinte anos anteriores uma síntese entre o que aprendi com mestres ocidentais e orientais; ignorava naquela época que eu estava me adiantando às recomendações da Declaração de Veneza da Unesco. Eu estava também realizando os primeiros seminários da Arte de Viver em Paz (Avipaz).
Nesta nova edição, podemos afirmar que a experiência confirmou, num plano intercultural, o acerto da minha antevisão. Digo intercultural porque, neste longo espaço de tempo, houve inúmeras aplicações do seminário Arte de Viver em Paz não somente no Brasil, mas em várias partes do mundo.
No Brasil ele foi incorporado como seminário introdutório da Formação Holística de Base, uma formação de adultos que dura mais de dois anos na qual se aplica o modelo deste livro. E faz parte ainda de uma metodologia de Educação para a Paz e Plena Consciência intitulado Arte de Viver a Vida, também publicado sob forma de livro.
Foram milhares de pessoas que passaram por esse processo. Em acordos entre a Unipaz e secretarias de educação e contratos com empresas particulares, a Avipaz penetrou na educação pública e particular no Brasil todo.
Mais recentemente, além de formar jovens líderes, a Unipaz começou uma experiência muito bem-sucedida para seiscentos policiais do Distrito Federal, despertando valores reprimidos e contribuindo para dar ao policial, nesta época de violência, maior senso da sua responsabilidade humana. O plano vai se estender a outros estados. Esta experiência contou com o apoio da Unesco nas pessoas da senhora Marlova Jovchelovitch Noleto, coordenadora da Área de Desenvolvimento Social, Projetos Transdisciplinares e Programa de Cultura de Paz, e do senhor Jorge Werthein.
Em Vitória, a Avipaz foi aplicada a prisioneiros por Dalila Lublana, projeto que obteve transformações a ponto de levar os guardas a pedirem para participar da formação.
Convém ainda citar uma importante iniciativa no plano político e empresarial do prefeito de Altinópolis, o médico Marco Ernani. Após ter participado da Formação Holística de Base, Marco Ernani resolveu aplicar tudo o que aprendera na gestão do seu município. O espírito da Avipaz começa a reinar, nestes dois primeiros anos, em todo o município. Todos os professores de ensino público já fizeram a Avipaz, assim como todos os dirigentes da prefeitura.
Fora do Brasil, já em 1992 aplicamos a Avipaz num seminário da Unesco em Kartum, no Sudão, para muçulmanos africanos de língua inglesa de toda a África. O entusiasmo foi tamanho que me afirmaram que muito do que a Avipaz transmite Mohamed já falou.
Na Escócia, na comunidade de Findhorn, formamos os primeiros facilitadores de língua inglesa, alguns dos quais aplicam a Avipaz até hoje nas escolas públicas.
Este trabalho no Brasil tem necessitado da formação de facilitadores, o que exigiu trabalho especial de redação de manual metodológico e manual do participante. Esta contribuição bastante meticulosa e trabalhosa foi supervisionada por Lídia Rebouças, a quem somos muito gratos. Assinalamos também a preciosa contribuição de Felipe Ormonde espalhando a Avipaz em espanhol nos países da América Latina.
Em Israel, a Universidade da Paz (Unipaz) tem realizado com muito êxito experiências de aproximação entre árabes e judeus.
Na França, na Bélgica e em Portugal, a Unipaz realiza programas semelhantes com o grande público.
Uma experiência realizada em Paris pela Unipaz, com Roswitha Lanquelin, e sob a direção de Antonella Verdiani, da Unesco, com jovens imigrantes magrebianos em situação de risco, obteve um início de transformação graças ao desenvolvimento da sua criatividade artística e poética.
Durante estes quase quinze anos muitas coisas aconteceram no plano social e internacional: a queda do Muro de Berlim, a criação oficial da União Européia, com uma moeda única, o euro, a guerra do Kuwait, a do Afeganistão e a do Iraque, a destruição das torres gêmeas em Nova York em 11 de setembro de 2001, o aumento do terrorismo ligado ao narcotráfico, o aumento da camada de ozônio, o fenômeno El Niño e mais recentemente o La Niña, a Rio 92 e dez anos depois a Johannesburgo 2002, o enfraquecimento de certos acordos internacionais sobre o meio ambiente, entre outras.
Tudo isso nos levou a atualizar neste livro a Roda da destruição (pág. 54), o que nos mostrou quantas coisas mudaram, umas para melhor, outras para pior.
Entre os aspectos de melhora, convém destacar o aparecimento progressivo de uma geração de "mutantes", quer dizer, de seres tocados por uma crise existencial eventual e em plena transformação de consciência e de valores em direção à Paz, ao Amor e à Sabedoria.
Convém ainda assinalar que, sob influência do movimento feminista, estamos tomando consciência de que ainda nos encontramos imersos numa cultura masculina, dominada pelos homens, com repressão do feminino fora deles e dentro deles mesmos. Isso leva a uma ênfase na direção dos negócios do mundo na razão, no pensamento dialético, na efetividade, e a uma repressão do sentimento, do amor, da amizade, da ternura, da intuição e da afetividade. Com isso estamos começando a compreender que a mudança de paradigma preconizada e descrita neste volume é na realidade uma evolução da fase patriarcal para uma fase andrógina, na qual se reintroduzem e se recuperam o amor e outros valores femininos quase perdidos. Eu trato desta descoberta no meu livro O Fim da Guerra dos Sexos.
Nos Estados Unidos, o criador e ex-dirigente dos cartões Visa num mundo de 22.000 bancos tem descoberto por si mesmo a mudança de paradigmas e lançado internacionalmente o que ele chamou de aliança Caórdica, que consiste em introduzir o novo paradigma holístico nas empresas do mundo ainda dominadas pelo princípio mecanicista de mando/controle.
O presente livro foi publicado neste interregno em seis línguas: francês, inglês, espanhol, alemão, catalão e português.
Outro evento bastante positivo foi a instauração pela ONU e pela Unesco do Ano Internacional da Cultura de Paz, cujo desdobramento em Década de Educação para uma Cultura de Paz coloca em destaque a Avipaz como um dos instrumentos mais preciosos para auxiliar na instituição de uma Cultura de Paz no Mundo. Aliás, observei que dois dos organizadores do Ano Internacional haviam se inspirado na Avipaz quando participaram de um seminário em Paris. O movimento da Cultura de Paz no Brasil, sob influência de Jorge Werthein, assumiu proporção gigantesca, pois conseguiu mais de 6 milhões de assinaturas, sendo colocado em segundo lugar, depois da Índia. O embalo se traduz por inúmeros desdobramentos atuais em inúmeras universidades do Brasil.
Enfim, convém assinalar a publicação por Basarab Nicolescu do "Manifesto da Transdisciplinaridade", desdobramento da Declaração de Veneza que se desenvolveu paralelamente ao movimento holístico de mudança de paradigmas. O espírito da transdisciplinaridade está presente neste volume, incluindo a Carta Magna, nos Anexos.
Diante deste imenso esforço de educação, não é de estranhar, pois, que eu tenha sido distinguido em Paris, em 2000, com o Prêmio Unesco de Educação para a Paz e que nosso livro tenha sido indicado como expressão de um movimento pioneiro de síntese entre métodos fragmentados de Educação pela Paz pelo Bureau Internacional da Educação da Unesco, em Genebra.
Esta presente edição em português foi enriquecida, além desta introdução, de documentos preciosos, entre os quais a Declaração de Veneza, duas declarações a respeito da Cultura de Paz, de uma conclusão e de uma revisão bibliográfica.
Esperamos que o leitor aprecie as novas contribuições.