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Valores Humanos e a União dos Povos
A União dos Povos pela Alma do Futebol
Carlos Leite da Silva

Sumário

Valores unem os povos
Judeus, Palestinos e os valores humanos
    2.1  Yussuf e a esperança de união
    2.2  Yoshua, Natanael, educação e esporte
    2.3  Projeto esperança de paz
    2.4  Cultivando valores nas crianças
    2.5  Futebol motivando lágrimas de esperança
A União dos Povos pela Alma do Futebol
    3.1  Introdução e Agradecimento
    3.2  Fundamentação e razões para o projeto
    3.3  O Fenômeno Futebol
    3.4  A Alma do Futebol
    3.5  Estandartes dos Atributos da Alma do Futebol
    3.6  Alguns exemplos de como os atributos da Alma Humana se adequam aos da Alma do Futebol
        3.6.1  Irmandade
        3.6.2  Força
        3.6.3  Liberdade
        3.6.4  Paz
        3.6.5  O Futebol tem Alma e a Alma criou o Futebol
        3.6.6  Visão de um pormenor do Campeonato
    3.7  Um jogo para a obtenção dos recursos
    3.8  Como se distribuiriam os recursos?
        3.8.1  Projetos de âmbito humanitário

1  Valores unem os povos

LISTA DE EXEMPLOS
DE
ATRIBUTOS DA ALMA

1 Verdade 2 Salvação 3 Autocontrolo
4 Cumprimento 5 Vitória 6 Coordenação
7 Confortamento 8 Equidade 9 Assumpção
10 Ascensão 11 Logro 12 Temperança
13 Tranquilidade 14 Obediência 15 Justiça
16 Discernimento 17 Unidade 18 Impessoalidade
19 Altruísmo 20 Perfeição 21 Força
22 Retidão 23 Intuição 24 Vontade
25 Afirmação 26 Amizade 27 Aspiração
28 Vitalidade 29 Paz 30 Ação
31 Razão 32 Transmutação 33 Paciência
34 Reconciliação 35 Compreensão 36 União
37 Glória 38 Comunicação 39 Sabedoria
40 Subministro 41 Transformação 42 Alegria
43 Consagração

44 Aceitação 45 Comunhão 46 Harmonia
47 Complementação 48 Criatividade 49 Libertação
50 Contentamento 51 Vibração 52 Entrega
53 Adoração 54 Pureza 55 Outorgamento
56 Constância 57 Presença 58 Felicitação
59 Inspiração 60 Perseverança 61 Fortaleza
62 Consideração 63 Consumação 64 Concentração
65 Busca 66 Visão 67 Determinação
68 Valor 69 70 Tolerância
71 Hospitalidade 72 Inteligência 73 Expansão
74 Bondade 75 Intenção 76 Conselho
77 Clareza 78 Compaixão 79 Assistência
80 Entendimento 81 Piedade 82 Misericórdia
83 Conhecimento 84 Atrevimento 85 Realização
86 Perdão

87 Transcendência 88 Serviço 89 Redenção
90 Elevação 91 Ultimação 92 Agradecimento
93 Persuasão 94 Existência 95 Caridade
96 Sustentação 97 Lealdade 98 Liberdade
99 Balanço 100 Fidelidade 101 Decisão
102 Revelação 103 Atenção 104 Ordem
105 Justiça 106 Iluminação 107 Intercâmbio
108 Êxtase 109 Igualdade 110 Consciência
111 Recepção 112 Irmandade 113 Veracidade
114 Bênção 115 Sanação 116 Compensação
117 Reverberação 118 Beleza 119 Compartilhar
120 Responsabilidade 121 Esperança 122 Direção
123 Mediação 124 Trabalho 125 Versatilidade
126 Coragem 127 Progresso 128 Graça
129 Oportunidade

130 Congruência 131 Poder 132 Encontro
133 Fusão 134 Confraternidade 135 Mestria
136 Tenacidade 137 Consecução 138 Prosperidade
139 Produtividade 140 Equilíbrio 141 Presença
142 Proteção 143 Equanimidade 144 Luz
145 Abundância 146 Felicidade 147 Hospitalidade
148 Gozo 149 Prioridade 150 Bem-Estar
151 Esforço 152 Rendimento 153 Amor
154 Submissão 155 Humildade 156 Propriedade
157 Afinidade 158 Firmeza 159 Loquacidade
160 Habilidade 161 Destreza 162 Confiabilidade
163 Verbo 164 Audácia 165 Sublimação
166 Arte 167 Ciência 168 Honestidade
169 Honra 170 Iniciação 171 Sanidade
172 Resolução

2  Judeus, Palestinos e os valores humanos

2.1  Yussuf e a esperança de união

     Yussuf estava radiante. Ainda nem há quinze dias havia caído numa tristeza tão profunda que lhe parecia que os treze anos lhe tinham apagado não só a infância como a luz de viver. Ansiava ser já um homem, e do alto dos seus longos 13 anos já se achava um homem. Era agora a brincadeira preferida dele: ser homem. Por isso até se revoltava um pouco contra si próprio ao perceber que sua tristeza tinha começado precisamente no seu aniversário. A mãe tinha-o abraçado com um olhar cheio de amor e pena, enquanto o pai, cabisbaixo, quase não podendo olhá-lo nos olhos, lhe dizia: "Filho, você sabe que perdi o emprego, sabe que não me autorizam a ir ao outro lado ... os tempos estão difíceis ... não podemos lhe dar um presente. Melhores tempos virão. Deus é grande". Reparou que o olhar do pai brilhou, molhado, enquanto virava a cara para se esconder. Sentiu pena do pai e repetiu: "Deus é grande", apetecendo-lhe abraçá-lo com o amor que lhe tinha, mas já era um homem e, portanto, conteve-se, enquanto repetia em sua mente "Deus é grande!"

     Durante aqueles quinze dias vinha dizendo para si próprio que já era responsável e adulto, que era uma criancice, que só um bebê mimado é que poderia ficar triste por não ter um presentinho no seu aniversário. Mas, ao longo desse tempo, começou a perceber que não era essa verdadeiramente a sua tristeza. Sua pena, sua tristeza, que às vezes era raiva e dor, revolta e zanga, era ver o conflito, a guerra e o medo impregnando as ruas de sua cidade, pairando sobre a sua nação, penetrando as paredes frágeis de sua casa, ameaçando permanentemente quem ele amava. Não havia dúvida: Yussuf estava se tornando adulto.

     Hoje, porém, Yussuf estava radiante.

     Entrou de rompante em casa, chamando "Pai! Pai!". Em dois passos irrompeu na modesta sala, que era usada para as refeições no chão, vendo o pai inclinado sobre o pequeno rádio, onde absorvia as notícias.

     - Diga, Yussuf - respondeu o pai, sacudido do seu torpor. - Então não se tiram os chinelos? - repreendeu, mas num tom divertido porque naquele momento, de tão empolgado que vinha, o filho era como um pequeno sol que lhe entrava pelo casebre de poucas e diminutas janelas.

     - Ouça, papai! Antes de mais quero dizer que você já me tinha oferecido o presente de aniversário há seis meses.

     - Ah é?! Como assim?!

     - Quando você me levou nas férias à casa do tio. Primeiro, adorei a viagem, depois foi muito bom voltar a ver meus primos e, ainda por cima, o meu tio Ibrahim ter televisão a cabo, não há palavras: pudemos ver a copa do mundo de futebol! Não consigo pensar em melhor presente!

     Hassan sorriu, com a dor e preocupação aliviadas pela alegria do filho. "Deus é misericordioso!", pensou.

     - E então? O que deixou você agora tão alegre?

     - É que na escola o professor nos falou de uma atividade espetacular, um projeto que vai ser feito agora em todas as escolas ... e ele disse que vai ser feito nas escolas daqui e nas do outro lado também!

     Hassan perdeu o sorriso, uma leve sombra ocupou-lhe os olhos.

     - Explique lá isso, meu filho ...

     - Você se lembra da copa do mundo de futebol? Se lembra de que cada equipe, cada país, defendia um ... como é que eles diziam? ... atributo ... é isso ... um atributo da alma do futebol, que era um atributo da alma dos homens?

     - Sim, Yussuf ... - disse o pai, com algum desalento, onde se escondiam opiniões contraditórias, tão definidas como confusas, sobre o que ele tinha visto dessa história dos atributos da alma na última copa mundial.

     - Pois é, papai, as escolas vão fazer uma coisa parecida ou igual, tanto as nossas como as de lá, do outro lado ...

     - Hm ...

     - ... e depois os vencedores das nossas escolas vão jogar com os vencedores deles! ...

     Aí a sombra nos olhos de Hassan carregou-se ainda mais, enquanto baixava o olhar ao peso de apreensões com que não queria atalhar o entusiasmo do seu filho.

     - Tretas! - soltou Ahmed, irmão de Yussuf, com a irreverência dos seus 15 anos militantes, saindo do seu quarto, de onde escutara a conversa.

     - Ah é?! Então veja isto ...

     Yussuf puxou da sacola remendada pelo esmero da sua mãe e retirou um pano cuidadosamente dobrado. Abriu-o sacudindo-o. Era uma t-shirt verde com letras de um branco reluzente na semiobscuridade da sala. As letras diziam:

"UMA SÓ NAÇÃO: A TERRA
UMA SÓ RAÇA: A HUMANIDADE
UMA SÓ LÍNGUA: O AMOR
UMA SÓ MOEDA: O SERVIÇO"

     - A escola deu-me esta t-shirt e o professor disse que elas, com estas palavras, estão sendo feitas e entregues em escolas de todo o mundo para os alunos fazerem seus próprios campeonatos de futebol ...

     Virou a t-shirt.

     - Temos aqui este espaço para escrevermos o atributo que vai ser sorteado à minha turma. Os números também somos nós que pomos, acima desta frase.

     E apontou onde dizia

"O MUNDO ENTREGA A ESPERANÇA DA UNIÃO DE TODOS À PALESTINA"

     Ahmed, o irmão, interpelou-o bruscamente:

     - Espera lá! ... as camisolas em todo o mundo dizem isto!? ... isto da Palestina!? ...

     Yussuf riu.

     - Não! O professor explicou que para quem vive na França aparece França em vez de Palestina, e o mesmo acontece em todos os outros países ... cada um em sua própria língua.

     - Então você quer dizer que em Israel aparece "O Mundo entrega a Esperança da União de Todos a Israel"? - soltou Ahmed com uma gargalhada forçada. - Oh oh, estamos bem tramados se o mundo depende de Israel ... lá se vai a Esperança ...

     Yussuf não esmoreceu.

     - O professor também explicou por que foi escolhida esta frase. Lembram-se do que dizia aquele estandarte no início de todos os jogos da copa mundial?

     - "A União de Todos é a Alma do Futebol". - disse Hassan, pausadamente, dando uma entoação algo solene, enquanto Ahmed parecia mais acautelado nas suas reações, ao sentir a atenção crescente e interessada do pai.

     - E lembram-se de qual era o estandarte do país que venceu a copa, o atributo que ele representava?

     - Esperança ... - desta vez foi Ahmed quem falou, a meia-voz.

     - Pois é por isso que a t-shirt fala da "Esperança da União de Todos". A equipe vencedora da Taça da União representava a Esperança. Por isso até a próxima copa estes serão quatro anos dedicados à Esperança da União dos Povos. É bonito, não é?!

     Hassan e Ahmed só conseguiram assentir com leves gestos afirmativos de cabeça, ficando emudecidos num complexo de sentimentos.

     - Pai, o professor também disse que todos os familiares dos alunos que quisessem estavam convidados a irem assistir a uma reunião onde explicam o projeto, amanhã às nove horas da manhã ... você quer ir?

     - Vou tentar, Yussuf ... vou tentar - Hassan estava tendo um ligeiro vislumbre do alcance de tudo aquilo. Perguntou-se se seria somente o alegre envolvimento de Yussuf ou se deveria dar ouvidos ao que talvez fosse uma vozinha longínqua da própria esperança da sua alma que quereria vibrar a rebate daquela "Esperança da União de Todos".

2.2  Yoshua, Natanael, educação e esporte

     Yoshua sentia-se ansioso, meio alheado da grande confusão sonora dos alunos irrequietos que se apinhavam no salão principal multiusos da escola de seu filho Natanael. Relembrou, com uma pontada de angústia, como Miriam, sua filha mais velha, tinha rebentado em lágrimas quando Natanael, na noite anterior, dissera que os vencedores interescolas iriam jogar com os vencedores do "outro lado" e que ele iria fazer o máximo para ter essa oportunidade. Sentiu o coração oprimido ao lembrar-se do grito incontido da dor de Miriam: "Você vai estar com esses bandidos, esses monstros sem coração?", e fugiu da sala num choro convulsivo, com a mãe correndo atrás dela.

     Há dois anos, o namorado de Miriam tinha morrido num ataque suicida terrorista. Era já como um filho para eles, a dor continuava muito viva. Humedeceram-se-lhe os olhos enquanto pensava: "Mas também é a dor que me traz aqui ... ou talvez que já chega de tanto doer ... começará aqui uma nova oportunidade?"

     Natanael entregava-lhe essa esperança. Sorriu para o filho enquanto pensava como era estranho que Natanael não parecia envolvido nessa cadeia de ódios sem remissão. Parecia passar ao lado, não da dor, porque várias vezes o tinha visto chorar pelos acontecimentos que os atingiram diretamente e pelos que continuavam a afligi-los nesse dia-a-dia tão carregado de perspectivas de medo e morte. Seria talvez o resultado de Yoshua sempre ter lidado profissional e pessoalmente com palestinos e sempre ter incentivado seu filho a brincar com as crianças palestinas. Decerto que isso tinha levado Natanael a sentir-se criança no meio de crianças, pessoa no meio de pessoas, e não um superior ou um inferior que tinha que lutar contra o seu oponente por razões que não eram naturais, razões das quais se tinha perdido verdadeiramente o fio à meada: a uns interessava pensar que a coisa tinha começado no ovo sendo eles a galinha, e aos outros vice-versa. "Mas que interessa isso", pensava Yoshua, "se estes pequenos homens que começam agora a vida nada têm a ver com isso? É uma guerra tão antiga e estúpida que só espero que estas crianças nos redimam e nos curem".

     Vinha à reunião com muita expectativa. O que Natanael lhe havia transmitido tinha-o entusiasmado. O projeto da FIFA já lhe tinha parecido inestimável, há uns meses atrás, quando viu a copa mundial de futebol. "Não há dúvida: o mundo está doente e é necessária e urgente qualquer perspectiva de cura ... " E o que se passava desde há tanto tempo nas próprias ruas e cidades de Israel e da Palestina eram feridas expostas, sangrando sem parar, aparentemente sem solução à vista.

     Por isso ele tinha vibrado tão intensamente com as mensagens da copa mundial e tinha orado para que essas mensagens viessem a desencadear alterações na humanidade ... E, subitamente, surgia agora esta história das escolas. Yoshua estava suspenso na expectativa e maravilhado com a visão demonstrada pela FIFA, porque na realidade tudo começa na educação.

     Surgiu meia dúzia de professores que se sentaram atrás da mesa colocada no estrado, no nível superior da enorme sala. Um deles avançou para frente da mesa, mais perto do público, enquanto o vozerio se ia acalmando até chegar a um silêncio atento.

     - Senhoras, senhores, alunas, alunos ... como muitos saberão, o que vão ouvir agora nesta sala, nesta escola, está sendo dito ao longo destes próximos dias em todas as escolas de Israel. Mas o que muitos não saberão é que, também ao longo destes próximos dias, isto estará sendo transmitido por professores e agentes educativos em escolas de todo o mundo.

     - O projeto que vamos descrever é promovido globalmente pela FIFA, em conjunto com as mais diversas instituições estatais e privadas dentro de cada nação do planeta.

     - O projeto chama-se "A UNIÃO DE TODOS PELA ALMA DO FUTEBOL". Decerto notarão a similitude com o que presenciámos na última copa mundial de futebol, a qual decorreu sob a égide "A UNIÃO DOS POVOS É A ALMA DO FUTEBOL".

     - Este projeto decorre em duas vertentes básicas: por um lado é um projeto educativo; por outro lado é um promotor de ações humanitárias. Escolho começar pela exposição da segunda vertente: as ações humanitárias. Para não ser demasiado exaustivo e técnico, desde já informo que temos boletins informativos à disposição daqueles que queiram saber como serão centralizadas, geridas e distribuídas todas as receitas geradas pelo projeto. Para já e aqui só digo que as receitas serão geradas por jogos de apostas, à semelhança do que aconteceu durante a copa mundial, e também pela venda de quaisquer artigos que os alunos queiram criar à volta destes conceitos. Uma percentagem das receitas será entregue ao orçamento de cada escola relativa à qual foram feitas as apostas; outra parte será distribuída pelos vencedores das apostas e o valor restante será enviado para a gestão central, onde, a partir daí, será canalizado para os pontos do planeta mais carentes de recursos, na forma de medicamentos, alimentação e materiais educativos.

     - Toda a comunidade está convidada a participar neste jogo de apostas. Vão ver que, além de poderem preencher os boletins de apostas na própria escola, também poderão fazer isso em qualquer instituição bancária, onde os pagamentos das apostas são imediatamente revertidos para uma conta aberta para o efeito. Isto é possível graças a um convênio estipulado entre a FIFA e esses bancos.

     - Agora vamos lá ver como é este jogo. Sr. Ezra, por favor, pode ligar o retroprojetor? Espero que esteja visível para todos.

     - Penso que muitos se lembrarão do jogo de apostas que foi emitido em todo o mundo previamente à realização da fase final da última copa mundial de futebol. Como sabem, foram geradas receitas simplesmente astronômicas, que estão atualmente sendo usadas em intervenções humanitárias em regiões necessitadas. E, meus amigos, saibam desde já que este projeto que agora explico é devido substancialmente a essas receitas. Os equipamentos de futebol que os seus filhos lhes mostraram em casa são resultado direto de todo este movimento. Nos casos em que os agregados familiares se defrontam com nítidas dificuldades financeiras foi determinado também oferecer tênis e chuteiras, além das t-shirts e calções que foram entregues a todos. De acordo com a dimensão de cada escola, também estão sendo oferecidas aos estabelecimentos de ensino as bolas da FIFA, como esta que tenho aqui.

     O sr. Ezra fez aparecer o primeiro diapositivo na parede do fundo, que funcionava como tela, enquanto o orador se dirigia à mesa onde outro professor lhe entregou uma bola.

     - Como podem ver, é exatamente igual à bola usada na copa mundial, inclusive tem aqui as inscrições que vimos nessa altura.

     Na tela, a imagem ampliada da bola mostrava a todo o auditório a já famosa inscrição:

"UMA SÓ NAÇÃO: A TERRA
UMA SÓ RAÇA: A HUMANIDADE
UMA SÓ LÍNGUA: O AMOR
UMA SÓ MOEDA: O SERVIÇO"

     - Sr. Ezra, por favor, passe para o segundo diapositivo. Na outra face da bola vemos outra inscrição:

"A UNIÃO DE TODOS É A ALMA DO FUTEBOL"
"O MUNDO ENTREGA A ESPERANÇA DA UNIÃO DE TODOS A ISRAEL"

     - Lembram-se que no campeonato mundial, nesta face da bola, só estava a primeira frase, "A União de Todos é a Alma do Futebol", mas, no que respeita a esta nova bola distribuída para este projeto, foi inserida a segunda frase. Talvez alguns dos seus filhos já lhes tenham explicado como surgiu esta segunda frase: a equipa vencedora da copa era portadora do estandarte que tinha o atributo da Esperança, e como o campeonato é inspirado e dedicado à União de Todos, todas as nações, todos os homens, surge esta Esperança da União de Todos. Ou seja, durante estes quatro anos é este o ideal que sustenta e dirige todos os projetos humanitários da FIFA. A inscrição também nos diz que o mundo nos entrega a nós, Israel, esta Esperança da União de Todos os Povos. Isto é o mesmo que dizer que entrega a cada um dos israelenses a Esperança da União de todos os homens, israelenses e não israelenses. O que são as nações senão os homens que as constituem? Se não houvesse um israelense não haveria Israel, são as nossas almas que compõem a alma de Israel. Agora, esta entrega da Esperança da União que o mundo faz a Israel está sendo feita pelo mundo a cada uma das nações do planeta, ou seja, a cada um dos homens dessas nações. Então, se mesmo que não seja possível a alguém gastar dinheiro nas apostas, decerto lhe será possível, se assim o decidir, ter presente em seu pensamento, nas suas emoções e suas ações tentar viver o dia-a-dia no espírito da Esperança da União de todos. Esta seria a sua mais valiosa dádiva ao mundo, mais que o dinheiro que possa doar no jogo de apostas ou de qualquer outra forma.

     - Talvez se recordem de alguns dos outros atributos da alma que foram manifestados na copa do mundo: por exemplo, a Harmonia, a Paz, a Irmandade, a Amizade, a Sabedoria. Ou seja, se não tivesse sido o vencedor a Esperança, provavelmente estaríamos agora vendo a Paz da União de todos, ou a Sabedoria da União de todos, não é? Uma coisa é certa: que é a Esperança da União senão a Sabedoria da União ou a Irmandade da União? Sem a Amizade, sem a Harmonia, sem a Sabedoria, não há Esperança. É maravilhoso e mágico, vemos que todos os atributos existem contidos em cada um deles. Mas cada um deles tem um sabor e uma cor diferentes e é nesta Esperança da União de todos que somos agora convidados a concentrar-nos. O mundo está nos olhando, como nós estaremos olhando cada um dos que compõem o mundo, tentando perceber, compreender e aprender com cada um dos outros como se consegue viver verdadeiramente este espírito da Esperança da União de todos.

2.3  Projeto esperança de paz

     Hassan tinha deixado de sofrer com o calor e o sufoco da pequena multidão que se apinhava no salão principal da escola de Yussuf, tal era a sua atenção às palavras do professor Mohamed. Há uns bons minutos que Mohamed estava descrevendo os aspectos do projeto "A União de Todos pela Alma do Futebol" e Hassan ia vivendo emoções contraditórias pelo que estava ouvindo. Compreendia e ansiava por este espírito da Esperança da União de todos. Vivia constantemente isso com os vizinhos, ou melhor, quase constantemente. Quase todos se proporcionavam sustentação entre si, talvez por estarem irmanados na pobreza, nas dificuldades materiais e emocionais comuns, talvez por esse sentido de união que liga os que se sentem oprimidos por um invasor. Mas, precisamente por isto, era-lhe dolorosamente difícil fazer a transposição desse espírito da Esperança da União de todos para o Espírito da Esperança da União entre todos os povos. Havia demasiada dor e revolta para com alguns "todos" que não faziam parte da irmandade, para com aqueles que tantas vezes lhe pareciam querer combater o Islã. Mas em outros momentos os seus preconceitos atenuavam-se ao recordar tantos dos seus contatos e vivências com muitos israelenses com os quais se sentia acolhido e aceito em suas diferenças culturais, religiosas e de raça. Ele estava suficientemente sensibilizado para vez ou outra lhe ocorrer que se tivesse nascido israelense estaria do outro lado da barreira, sentindo também a revolta, o medo e a dor de ver os seus ameaçados e violentados pelas bombas suicidas. Mas demasiadas vezes o dia-a-dia lhe apagava esse discernimento e voltava a ser só um palestino esmagado pela revolta de ser oprimido, inferiorizado, invadido pelo usurpador. "Não há um fim para isto?", perguntava-se, "Será para sempre olho por olho, dente por dente, vida por vida? Não será só a morte o resultado desta equação?" Estava cansado e sofria mais que tudo pelos filhos quando imaginava que nada mais haveria para eles senão o que desde sempre lhes tinha sido garantido: dor, medo, violência, opressão, morte. Ah, sim, como aquela Esperança lhe fazia sentido!

     E o professor Mohamed continuava a sua dissertação, com toda a sala suspensa nas suas palavras:

     - Meus irmãos, eu sei que poucos entre nós terão possibilidade de pagar para jogar este jogo de apostas, mas, já lhes disse, o mais importante é jogarmos todos os dias o jogo da vida com esta Esperança no coração porque queremos que os nossos filhos venham a construir outra realidade, uma realidade de vida e não de sangue e morte. Então que lhes entreguemos esta Esperança da União, tal como o mundo a entrega à Palestina, entreguemo-la aos nossos filhos e netos, porque eles são a Palestina de amanhã. Que herança queremos deixar a eles, depois de partirmos?

     "Como, infelizmente, os nossos meios são escassos, seremos daqueles que mais beneficiarão dos recursos recolhidos pelo projeto da FIFA. Às nossas crianças serão oferecidos tênis e chuteiras, além das t-shirts e calções, coisa que muito mais raramente acontecerá em regiões como a Europa Central e Ocidental. Receberemos medicamentos e alimentos, receberemos livros, cadernos, esferográficas, e espero que muito mais de tudo o que possam imaginar para a educação das nossas crianças ... e tudo isso fruto dos jogos de apostas feitos em escolas por todo o mundo.

     "Olhem agora para este quadro. Estes foram os atributos da alma dos homens que foram representados pelos dezesseis países que participaram na fase final da última copa do mundo de futebol:

ESPERANÇA
VISÃO
IRMANDADE
CURA
FORÇA
AMIZADE
LIBERDADE
ORDEM
BELEZA
INSPIRAÇÃO
IGUALDADE
VERDADE
PAZ
CARIDADE
SABEDORIA
HARMONIA

     "Pois bem, além destes dezesseis atributos, há centenas mais, e serão os alunos que decidirão em conselho de turmas quais eles quererão representar nos seus próprios campeonatos de futebol. Também foi acordado pelos ministérios da educação da Palestina e de Israel que, pelo fato de sermos nações pequenas, com populações reduzidas que partilham território comum, haverá uma grande final entre os vencedores palestinos e os israelenses, como sinal da Esperança dos dois para o bem-estar das gerações presentes e vindouras.

     "O que foi proposto pela FIFA, se cada escola o quiser e como entender fazer, foi que o assunto do projeto fosse interdisciplinar, isto é, aproveitar-se esses conceitos dos atributos da alma em todas as disciplinas que fizesse sentido os alunos aprofundarem o assunto, fosse em filosofia, fosse no estudo das línguas, da religião, nas disciplinas ligadas à arte e trabalhos oficinais, enfim, onde quer que os alunos pudessem explorar os seus mais profundos desejos e anseios de vida e ser. Por outro lado, há tudo o que diz respeito diretamente ao próprio campeonato interturmas e interescolas, como, por exemplo, a criação e construção dos estandartes e logotipos, os quais seriam da responsabilidade criativa dos alunos.

     "Depois de os alunos decidirem os atributos a representar, a escola já estará em condições de emitir os seus boletins do jogo de apostas porque, como podem ver, já faz parte do jogo apostar a qual das turmas vai corresponder cada um dos atributos. Aliás, alguns provavelmente se lembram que também foi este o processo usado pela FIFA na copa do mundo, quando, na cerimónia do sorteio da distribuição das dezesseis equipes pelos quatro grupos, também se sortearam os atributos que cada uma representaria no campeonato.

     "Obviamente, esta escola já decidiu que avança com este projeto e estamos felizes por ver o entusiasmo com que as nossas crianças reagiram a isto. A mensagem está passada. Que tanto os alunos como os pais se divirtam com tudo isto, com este grande jogo que será planetário, e fiquem desde já contando que todos os anos teremos esta oportunidade, se Deus assim o quiser e se os homens assim decidirem escolher."

2.4  Cultivando valores nas crianças

     Aquele foi um ano diferente para quase todos, pelo menos para os alunos, professores e pais de alunos. Todo um concerto de novas emoções se veio imiscuir em suas vivências diárias. Mesmo oscilando entre emoções contraditórias, parecia que de uma forma generalizada quase todas as pessoas se iam confrontando com novas e diferentes possibilidades, outras visões se clarificavam deixando um travo de promessas luminosas nas mentes e no ar. Parecia que o encadeamento dos fatos estranhamente não era já tão determinável. Mas haveria alguma coisa concreta, alguma verdadeira alteração nesse encadeamento de fatos? Aparentemente não. Os bombistas suicidas continuaram querendo atalhar o seu caminho para o paraíso, não querendo perceber que estavam simplesmente a matar; o governo e exército israelense continuaram a destruir casas e eliminar vírus terroristas, em uma profilaxia defensiva, não querendo perceber que estavam simplesmente a matar. Os primeiros faziam-no pelo direito à liberdade (entre outras coisas) e os segundos faziam-no pelo direito à vida (entre outras coisas). Entretanto, uns e outros, lá iam seguindo sua senda de prenderem a vida, matarem a liberdade, prenderem a liberdade, matarem a vida ... Parecia estar como sempre, a rotina não queria desistir de se alimentar do terror.

     É, por fora parecia que tudo estava na mesma. Mas era estranho. Havia um novo sabor nas coisas, uma expectativa indefinível que estava crescendo ... crescendo para onde? ... vinda do quê? ... Alguns já se perguntavam se seria o fato de os seus garotos virem da escola com aqueles trabalhos, aquelas composições sobre os ideais, os tais atributos da alma que estavam explorando. Seria dos jogos de futebol onde os pais os viam a jogar, levando nas suas camisetas e nas suas intenções aquelas coisas tão belas, mas tão utópicas, como a Amizade, a Beleza, a Inspiração, o Serviço, a Sabedoria, a Pureza, o Conforto, a Misericórdia, o Amor, a Consagração, a Verdade, e tantas outras que os seus próprios filhos tinham escolhido defender? Bem, mal não lhes fazia, pensavam muitos pais ... e também muitos outros pensavam: "será que serão os nossos filhos a mudarem este estado de coisas?" ... e havia ainda alguns, muito poucos, que queriam pensar: "será que as coisas já estão mudando? ... será esta estranha e nova sensação o prenúncio da mudança?" Bem, pelo menos parecia que a Esperança da União estava cada vez mais acesa para muitos, mesmo que não o percebessem. Mas os mais idealistas, os mais sonhadores, se sentiam aproximando do cume dessa Esperança da União de Todos porque estavam na véspera do encontro final entre as suas crianças israelenses e palestinas no gramado de futebol. Seriam as crianças a entregarem-lhes uma nova direção? Seria amanhã finalmente um novo dia?

2.5  Futebol motivando lágrimas de esperança

     A bola rolou rápida ao longo da linha lateral, avançando para o extremo, parecendo que se poderia perder na linha de fundo. Mas Yussuf apercebeu-se do lateral direito israelense lançado em uma corrida desenfreada. Pareceu a Yussuf que era bem provável que o israelense chegasse a tempo e os seus companheiros ainda estavam afastados da defesa, tentando acompanhar a rápida deslocação de mais dois israelenses a caminho da grande-área.

     Não havia que hesitar, o israelense ia chegar à bola. De tão concentrado, não ouvia a multidão, cujo rumor crescia com a iminência da jogada perigosa. Yussuf lançou-se deslizando pelo chão, com todo o ímpeto.

     Natanael viu o zagueiro palestino se projetando em direção à bola. Tinha que tentar, era possível, estava mais perto que o zagueiro, só um pequeno desvio e podia assistir os dois colegas que vinham mais rápido que os jogadores palestinos, apanhados de surpresa pelo contra-ataque inesperado.

     Natanael conseguiu dar um pequeno desvio à bola, mas já não passou. Yussuf, ao deslizar, sem capacidade de reagir pela rapidez dos movimentos, viu os seus pés se erguerem até meio metro depois de terem tropeçado em uma parte irregular do gramado. Natanael sentiu um baque violento jogando sua perna esquerda contra a direita e perdeu-se em um torvelinho de rebolões incontroláveis. O estádio explodiu.

     No meio da cacofonia ensurdecedora destacaram-se insultos raivosos. Hassan ficou colado ao assento, lívido. Notou que o israelense sentado ao seu lado deu duas fortes palmadas nas pernas e gritou "Natan!!! Filho! ... mas que é isto?!", enquanto se levantava como uma mola e sacudia os braços com os punhos fechados. Mas Hassan já nem queria saber disso nem dos insultos que se multiplicavam no ar, ficando com os olhos presos em Yussuf que estava com uma atitude consternada. Ele sabia que o seu filho não era um fingido.

     Yussuf ficou três segundos sentado, levando as mãos à cabeça: tinha sido sem querer. Natanael tinha rebolado uns bons cinco metros e a própria velocidade voltou a pô-lo de pé, notando que não se tinha machucado. Com a irritação disparando-lhe no peito, mal se apercebeu das tonturas. Avançou célere para Yussuf com as mãos e dentes crispados.

     - Então, cara?!! - gritou Natanael, embatendo as mãos contra o peito de Yussuf e empurrando-o.

     - Filho!!! - gritou preocupado Hassan - Tenha calma!! - e olhou de relance para Yoshua, ao seu lado, que também o mirou, surpreendido.

     "Essa não, são os nossos filhos ... estou ao lado do pai do outro", pensou Yoshua, confundido pela coincidência, voltando a olhar para o campo com um ar zangado.

     - Desculpa, foi sem querer!! Foi sem querer!! - ia dizendo Yussuf para Natanael, sem tirar as mãos da cabeça e não fazendo o mínimo gesto de defesa.

     - E você não me viu chegando primeiro à bola? - rugiu Natanael, vermelho de raiva.

     - Os meus pés bateram num buraco no gramado ... me desculpa! - disse Yussuf, com um gesto apaziguador.

     Alguns objetos lançados do público começaram a cair à volta deles. Natanael esfregou a cabeça com as mãos, olhando para o chão, como que tentando dispersar a irritação. Respirou fundo, com as mãos nas ancas, e olhou nos olhos de Yussuf sentindo sua honestidade. Em simultâneo começaram a olhar para as bancadas em redor, despertando para a tempestade que atravessava o público, começando a perceber os insultos que choviam e notando que estes já não visavam Yussuf mas sim a Palestina e Israel.

     Então, encararam-se de novo, olhos nos olhos, e a surpresa com que se espelharam um no outro dizia um mundo de coisas, era incrível como tantas coisas cabiam em três segundos. De repente ficou tão claro, para um e para o outro, que eles não queriam fazer parte daquela história de ódio. Afinal o que era aquele jogo?

     E enquanto as línguas amaldiçoavam e as frustrações e a raiva eram lançadas em todas as direções daquela massa abandonada à reação emocional, Yussuf, lentamente, esticou a sua camiseta com ambas as mãos, frente a Natanael, para que ficasse bem clara e legível a palavra que aí estava escrita:

"IRMANDADE"

     Natanael reproduziu o mesmo gesto lento e apontou para a sua camiseta, enquanto olhava Yussuf. Na sua lia-se:

"PAZ"

     Completamente em sintonia, viraram-se ambos para o público, apontando as palavras das camisetas, os seus estandartes, os atributos que tinham vindo sentidamente defender.

     Ouviu-se o ruído esvaziando. Começou a estabelecer-se um silêncio estranho, onde um ou outro insulto se intimidaram, esmorecidos.

     Silêncio total.

     Alguém começou a bater palmas, pausadas, ritmadas.

     Outros se começaram a juntar, sempre ritmadamente, marcadamente.

     Em dez segundos o estádio inteiro fazia parte desse concerto unificado. Parecia que os corações de todos pulsavam junto com o bater ordenado das mãos. Yoshua e Hassan olharam-se, sorriram e estenderam as mãos, que apertaram comovidos, enquanto viam os filhos rindo e a quem se iam juntando todos os outros jogadores num abraço.

     Parecia que os homens queriam "A IRMANDADE DA PAZ". Ou será que era "A PAZ DA IRMANDADE"? Bem ... não é a mesma coisa?

>> FIM <<

3  A União dos Povos pela Alma do Futebol

3.1  Introdução e Agradecimento

     As páginas que se seguem visam apresentar o projeto A União dos Povos pela Alma do Futebol.

     Este projeto foi concebido tendo como palco de ação a fase final de todos os campeonatos de futebol (e outros desportos), mundiais ou continentais, bem como os subsequentes campeonatos organizados pela UEFA, FIFA e outras confederações.

     Ele pode e deve ser usado nas escolas de qualquer ponto do planeta, já que pretende ser uma ferramenta educadora das gerações, um passo a mais na extensa e vasta caminhada para se materializar o reino do Céu na Terra.

     Desejando que este seja um campeonato que marque o início de uma nova era para o Futebol e, principalmente, para a Humanidade, agradecemos aos elementos de outras nações e outros continentes as suas contribuições para o desenvolvimento desta ideia conforme se ia corporificando e crescendo em energia e vitalidade. Sem esses elementos, representando as suas nações, este projeto não teria sido criado nem formulado. Eis a União, eis a Alma comum.

3.2  Fundamentação e razões para o projeto

     O destino da humanidade tem sido construído por todas as gerações que nos antecederam e, no entendimento de alguns, essa construção contínua aponta em uma determinada direção subliminar, assente em arquétipos do supraconsciente coletivo. Entendem que, num só aparente paradoxo, esse destino e essa direção são construídos e decididos em livre arbítrio, geração após geração, indivíduo a indivíduo, dia após dia, momento após momento.

     Todas as gerações são corolário da História e todas dizem: "A História trouxe tudo até aqui, resultou nisto, aqui e agora". Mas, além dessa perspectivação e autoanálise das gerações quanto aos fundamentos e processos que criaram o presente da sua existência, também elas devem entregar-se a um labor visionário de produzir no presente e para o futuro cada vez maior Bem, cada vez mais Beleza, maior Harmonia.

     Todo este processo de gestação contínua tem implicado constantes "dores de parto" pela perseguição de um "estado de graça" que contém os mais variados atributos. A definição desse "estado de graça" tem tantas configurações como a quantidade de indivíduos que existem à face do planeta, porque - embora num primeiro plano esteja diretamente relacionada com as características dos contextos cultural, social, econômico, ideológico e de crenças religiosas dos grupos onde cada ser humano está inserido -, em última instância, reside individualizada no mais íntimo de cada um, com uma coloração e vibração de especificidade única, porque, tal como as impressões digitais são diferentes embora estejam presentes em todos, também sentimos as mesmas coisas em graus, formas e percepções diferentes uns dos outros: "Todos diferentes, todos iguais".

     Assim, essa grande visão de um labor para a unidade, paz ou perfeição humanas, pode ser chamada por uns como "solidariedade social", por outros como "humanismo", ou, por outros ainda, como "manifestação da essência divina".

     Portanto, não é tão importante a forma como cada indivíduo ou grupo humano concebe este labor ou este "estado de graça", mas, sim, verificar que essa ambição está indelevelmente inscrita na intimidade de todos, cada qual a vivendo com maior ou menor intensidade, com maior ou menor esperança, sob as mais diversas formas de crença. É claro como isto é visceral para o ser humano, sendo mesmo uma questão de sobrevivência.

     Então, no horizonte da realidade humana, surgem valores de tal universalidade que parecem sobrepor-se a qualquer especificidade ou subjetividade. São valores que deveriam abraçar o planeta por inteiro e onde aparentemente confluem as mais fortes necessidades dos seres humanos e nos quais ganha consistência a ideia de que na verdade todos somos um só. Neles todas as raças são uma única raça, as ideologias são uma só ideologia, os seres humanos podem rever-se em qualquer outro ser humano. Alguns, autênticos pilares do nosso supraconsciente coletivo, são, por exemplo, os seguintes:

     Irmandade: o ser humano, para sentir-se vivo e nutrido, necessita irmanar-se.

     Força: o ser humano, para sentir-se vivo e nutrido, necessita dar força e ser fortalecido.

     Liberdade: o ser humano, para sentir-se vivo e nutrido, necessita ser livre e entregar liberdade.

     Paz: o ser humano, para sentir-se vivo e nutrido, necessita ser pacífico e criar a paz.

     Estes princípios, se aparentam ser em escala microcósmica fulcrais para os indivíduos, valem macrocosmicamente para as nações e para o Planeta num todo.

     A Humanidade chegou a uma encruzilhada no seu destino.

     O advento da "aldeia global" planetária, com os fenômenos de massas sendo cada vez mais potenciados pelas novas tecnologias da informação, traduz-se num acúmulo de forças que, com o subjacente livre arbítrio de que o ser humano usufrui, tanto podem ser direcionadas num sentido autoaniquilador como num sentido autolibertador.

     Escusado será aprofundar aqui os exemplos flagrantes e diários dos dois sentidos em que esse potencial é utilizado e que embebem todas as vertentes, níveis e aspectos da nossa vivência diária e rotineira. Também nos parece escusado falar das proporções graves a que o uso de determinadas tecnologias (não só as da informação, mas também as assumidamente destrutivas, criadas originalmente para as ações de guerra) nos podem levar, levando-nos a considerar a infeliz possibilidade de se ultrapassar um determinado limite que se poderia traduzir no fim inglório desta "experiência humana".

     Então, se esse potencial é claramente passível de ser acionado em qualquer um desses sentidos (ou o benéfico ou o prejudicial), nós escolhemos tentar agir com inteligência construtiva e colocar a nossa criatividade ao serviço do maior bem possível, para o maior número de pessoas possível, pelo maior espaço de tempo possível.

     A humanidade começa a conseguir alçar-se da infância da consciência e parece começar a perceber que está em suas mãos alterar este estado de coisas. São muitas as forças benéficas que cada vez mais se estabelecem, erguem e afirmam, sensibilizando a opinião pública, incutindo-nos um sentido ecológico, determinando em crescente aperfeiçoamento a nossa escala de valores, direitos e responsabilidades, que nos parece importante dar-lhes incentivos para que vigorem ainda mais como forças atuantes.

     Nesta hora grave e que parece tão decisiva, todos os esforços que possam ser encetados a favor da paz e unificação globais poderão ser um apoio para auxiliar a humanidade a encaminhar-se para a realização do destino da sua mais bela esperança: o estabelecimento de uma nova era de paz e de libertação de um passado de enormes injustiças que teimamos em fazer persistir pelo presente e ameaçam permanecer para o futuro.

     Talvez fosse necessário compreendermos que as ações que possamos realizar para contribuir para a evolução da humanidade estejam proporcionalmente ligadas, em ordem crescente e direta, à evolução que consigamos imprimir na nossa interioridade. Esse pode ser o campo primordial de ação. Se tentarmos realizar a evolução em nós, então a nossa projeção para uma ação externa poderá reverberar e ter resultados duráveis ou significativos.

     Além disso, não é possível que qualquer um de nós, por muito consciente que seja, consiga mudar os outros de forma a mudar o mundo. A única pessoa que conseguimos mudar somos nós próprios e, sendo assim, esse pode ser o nosso verdadeiro campo de trabalho para a transformação. Se formos bem sucedidos nessa autotransformação, aí sim, talvez possamos conseguir de alguma forma contribuir para mudar o mundo. Entretanto, para tentar essa transformação interna, devemos valer-nos dos referenciais deixados e entregues por aqueles que sentimos, ou pressentimos, que a alcançaram ou que, pelo menos, possuíam uma visão do caminho a percorrer para essa meta maravilhosa. É então essa a pretensão deste projeto: sugerir referenciais e a energia sublime desses mesmos referenciais, como sustentação e pista para a tentativa da sensibilização, do despertar e da evolução do maior número de pessoas possível.

     Assim, pode ser que uma solução, uma chave preciosa para que a união global aconteça, seja que cada indivíduo encontre, afirme e manifeste os valores humanos que são comuns ao anseio de toda e qualquer alma à face do planeta, os valores que possam assegurar a ponte de união entre todos por serem valores comuns a qualquer indivíduo de qualquer religião, de qualquer crença, de qualquer cultura, de qualquer estatuto social. Estes valores são muitos, mas como exemplo contemplamos aqui dezesseis que corresponderiam às dezesseis equipas participantes na fase final do Campeonato da Europa. Os valores escolhidos a título de exemplo são os seguintes: Irmandade, Justiça, Força, Amizade, Realização, Liberdade, Ordem, Inspiração, Vontade, Igualdade, Verdade, Paz, Sabedoria, Harmonia, Vibração e Visão (no Anexo 3 entregamos uma lista de mais de cem atributos que poderiam ser avaliados para o mesmo propósito).

     Esta ideia surge como mais um reforço e ponte para a unificação dos Povos e Nações para a efetivação da globalização planetária, no que este conceito contém de mais puro e benéfico para a Humanidade.

     Pretende-se colocar esta ideia a um nível prático, dentro do contexto da mais justa equanimidade que se desejaria no movimento de aparente irreversibilidade da globalização. Este é um projeto que propõe entregar ações práticas para o que poderíamos designar como uma educação global, podendo portanto assumir dimensões planetárias, sendo-lhe subjacente um absoluto respeito pelas especificidades culturais de cada etnia ou povo. Aqui sugerimos uma ação que reforce a integração dos povos na percepção de que, na realidade, somos um único Povo, uma única Nação, uma única Humanidade, um único Planeta.

3.3  O Fenômeno Futebol

     O fenômeno do futebol, o desporto-rei, tem caminhado desde há alguns anos sob a égide do conceito do fair-play, um nobre conceito, mas tudo parece indicar que a face positiva deste desporto tem um potencial muito mais amplo e elevado do que aquele onde se têm centrado as atenções.

     A diversão, para o ser humano, reveste-se de uma aura imprescindível para a garantia da saúde física, mental e psíquica. É nossa convicção que a diversão nos é tão absolutamente necessária quanto a saúde e a educação. Aliás, nesta trilogia, esses campos de manifestação humana estão indissoluvelmente ligados, já que nenhum deles é uma experiência completa de vida sem os outros.

     Entretanto, dentro desse vasto âmbito da diversão, e mais especificamente no que respeita ao desporto, o futebol é o fenômeno que suscita maior prazer e despertar de emoções no seio de toda a humanidade.

     Centenas de milhões de pessoas estão suspensas nos milhares de jogos que todas as semanas acontecem mundo afora. Que potencial é este? Que papel cabe ao futebol assumir com tanta emocionalidade, tanta expectativa e inclusive tanta felicidade que se desprende desse fenômeno? Perante as evidências deste fato surpreendente, cabe insistir na pergunta: que papel caberá ao futebol assumir?

     Uma coisa parece clara: o futebol, por intermédio das suas associações, reúne em seu amplo abraço mais nações do que qualquer organismo político. É uma ponte que enlaça os povos; é, por excelência, um dos pretextos com o maior potencial pacífico para o encontro entre os povos, para o seu conhecimento e reconhecimento mútuos.

     O futebol é um embaixador dos mais sábios. Pela sua natureza neutra, aceita todos em seu seio. Pela sua natureza de diversão, desperta as mais apaixonadas emoções. Não se impõe como moda ou opinião, recebe todos nas suas diferenças e igualdades porque a todos deixa livres para a energia da criatividade, abraçando em si todos os estilos, táticas e técnicas que existem e existirão, todas docilmente submetidas a uma ordem comum.

     Porque assim parece ser, insistimos em perguntar mais uma vez: que papel poderia o futebol assumir? Se o futebol é um embaixador, não lhe poderia caber assumir mais definidamente essa função?

     É esta a nossa proposta na explanação deste projeto para a UEFA e a FIFA: imaginar que o fenômeno futebol se possa entronizar como um dos mais eficazes meios para contribuir para a unificação dos povos, com mais ênfase e acutilância do que as que já lhe cabem por inerência.

     A nossa proposta passa pela atribuição, a cada equipa participante na fase final deste campeonato, de um determinado atributo e anseio elevado da alma humana. Para isto seriam usados os valores que são ponte de união entre dois homens e entre dois povos, valores que independem das visões, crenças e opiniões particulares porque são valores onde todos se encontram e irmanam, porque são valores da alma - e a alma não tem raça, credo ou cor.

     Como não podia deixar de ser, estes atributos também são característicos do futebol no seu estado mais puro, ou, pelo menos, são dos maiores anseios da própria alma do futebol.

     Os valores propostos a título de exemplo são os seguintes:

Irmandade
Justiça
Força
Amizade
Realização
Liberdade
Ordem
Inspiração
Vontade
Igualdade
Verdade
Paz
Sabedoria
Harmonia
Visão
Vibração

     Comprovado que o Futebol é, praticamente em todo o Planeta, o desporto-rei, entendemos que poderia caber à UEFA, à FIFA e às outras Confederações assumirem-se cada vez mais como uma força diplomática global planetária, que poderia influenciar os povos no sentido da aproximação mútua, por serem forças diplomáticas que usufruem de uma conotação e natureza não políticas. Comprovando este potencial do Futebol, gostaríamos de deixar aqui o registro curioso e significativo de uma afirmação de uma diplomata portuguesa, Ana Gomes, ex-embaixadora de Portugal na Indonésia. O seguinte trecho é retirado da revista Visão (Portugal), de 18 de Outubro de 2001:

     Sobre as relações luso-indonésias, (Ana Gomes) aponta o contacto entre os desportistas, em especial o futebol, como uma das áreas a explorar. "A sério", diz, "o futebol tem aqui um potencial promocional e cultural de primeiro plano: os indonésios são loucos por futebol. Luís Figo para eles é um herói. Obrigam-me a saber das trajectórias de Rui Costa, Vítor Baía, Abel Xavier ... ".

     Esta declaração é tanto mais sintomática e surpreendente quando os portugueses, obviamente, são diretamente conotados com a declaração de independência de Timor-Leste.

     Imaginemos então que a UEFA e a FIFA decretassem que o Campeonato Europeu de Futebol de 2016, cuja fase final decorre na França, fosse realizado sob a égide do seguinte estandarte:

"A UNIÃO DOS POVOS É A ALMA DO FUTEBOL"

3.4  A Alma do Futebol

     Devido à estrutura psicológica do ser humano, um dos campos de atividade onde este mais se centra é o da diversão. Aqui, em potencial, o homem retempera-se, renova as suas energias e ânimo, transformando de alguma forma, e até certo ponto, os dramas pessoais e coletivos. Esse é o poder da diversão, a qual, quando não toma os contornos de alienação, lhe traz regeneração, saúde e equilíbrio a todos os níveis: uma das receitas simples para este ser complexo.

     Dentro da vasta abrangência da diversão, encontramos o desporto como das manifestações mais saudáveis e naturais, das que melhor cumprem o desígnio de criar harmonia: "mente sã em corpo são".

     Finalmente, dentro do desporto, deparamo-nos com aquele que foi globalmente eleito, com naturalidade, como o "desporto-rei": o Futebol.

     Este fenômeno, que é o fato de o Futebol representar um aglutinador de indivíduos e nações, parece ser um potencial maravilhoso para ser utilizado na criação de uma nova ordem global. É um fenômeno de tal ordem que, mesmo tendo raiz competitiva, é um pacificador em potencial. Embora se encontre nele uma nação competindo com outra, cada uma almejando de alguma forma sobrepor-se à outra, "conquistando-a" e "vencendo-a", a verdade é que de alguma forma se dá um encontro e um abraço entre elas, independentemente do resultado do jogo. Para lá da rivalidade e do jogo psicológico "superior/inferior", respira-se um mistério subjetivo de igualdade, por haver um encontro no mesmo terreno e com as mesmas "armas". Efetivamente, são duas nações que nessa hora se tocam, se interpenetram, sem os potenciais desfechos violentos derivados de diferenças culturais e políticas, talvez porque as regras do jogo impõem determinados limites onde se sabe que tudo se resume a uma "luta" de diferenças pacíficas, diferenças essas que poderão ser anuladas ou invertidas num próximo encontro. Parece haver sempre a esperança de realização subjacente, uma aceitação pacífica dos resultados, que poderão sempre ser alterados no futuro.

     Entretanto, para lá das mossas nos orgulhos nacionalistas, não houve sangue, não houve fome, não houve usurpações territoriais, não houve misérias que exterminaram vidas e violaram almas. Sente-se que, para lá de quaisquer "hooliganismos", a paz prevalece superior a todas essas "guerras" e que há como que um escoamento de energias de diferenciação que se acionaram e manifestaram, mas também, em simultâneo, como que um sutil abraço que prevalece superior a todas essas diferenças.

     Poder-se-ia dizer que aqui (na manifestação do Futebol) também se caminha sobre uma lâmina de dois gumes, porque, para todos os efeitos, não deixamos de ver nele os nacionalismos em confronto. Achamos que o Futebol também corre, embora inocentemente, o risco de servir de potenciador das diferenças, dos separatismos e das desigualdades. Mas essa é mais uma das razões que justificam plenamente a proposta que se apresenta, aqui e agora, à UEFA e à FIFA. A nossa proposta de fazer um Campeonato Europeu de Futebol de 2016 sob a égide do estandarte "A UNIÃO DOS POVOS É A ALMA DO FUTEBOL" é de, deliberadamente, levar o Futebol a afirmar-se como entidade de natureza pacificadora e unificadora num âmbito global planetário. Pode ser um passo que torne a ação deste desporto como assumidamente interventivo no desenvolvimento e defesa dos valores mais elevados da Humanidade. Por isso, parece fazer todo o sentido reconhecer que os princípios universais assentes na estrutura das almas dos indivíduos e das nações sejam a própria alma do Futebol. Daí dizermos que a alma do Futebol é composta, entre muitos outros, dos seguintes atributos:

     A Alma do Futebol é Irmandade

     A Alma do Futebol é Força

     A Alma do Futebol é Liberdade

     A Alma do Futebol é Paz

     Aproximamo-nos, assim, da ideia subjacente a este projeto.

     Expusemos até agora os pressupostos, as razões e justificações que alimentaram o delineamento deste projeto, para que se torne minimamente compreensível o potencial desta ideia, passando agora a descrever a operacionalidade, a forma com a qual esta ideia poderá ser revestida para se corporificar a desejável adesão da UEFA e da FIFA, assumindo-se como intervenientes diretos na construção de uma globalização que se pretende cada vez mais nivelada e equalitária.

     Sugerimos que essa seja uma das funções desses organismos, porque não os vemos como meros árbitros de uma qualquer convenção desportiva, mas sim como consistentes e válidos agentes sociais imprescindíveis nesta globalização. O Futebol inspira e respira uma ideia, e essa é a ideia da união dos Povos. Essa pode ser claramente uma função dos organismos UEFA e FIFA e, obviamente, das outras Confederações associadas.

3.5  Estandartes dos Atributos da Alma do Futebol

     Assim, imaginemos que a fase final do Campeonato Europeu de Futebol 2016, a ser realizada na França, seguiria o seguinte esquema:

     Por sorteio, a cada uma das nações presente nessa fase final é entregue o estandarte de um dos 16 atributos especificados no capítulo anterior (para outras possibilidades ver o Anexo 3). Esse sorteio poderia ocorrer em simultâneo com o sorteio de definição das equipas de cada grupo. A ideia é que cada equipa tenha inscrito na sua camiseta o atributo (valor) que lhe foi assignado por sorteio prévio, funcionando nos seus jogos como paladino desse atributo da alma, desse anseio para todo o homem, toda a alma, toda a nação, todo o planeta. Em cada jogo, as duas equipes, com os seus estandartes, jogariam por um motivo da alma, contido no anexo e também sorteado.

     Por exemplo, a Portugal poderia ter sido sorteado o estandarte da Inspiração e à França poderia ter sido atribuído o estandarte da Esperança. Entretanto, teria ficado deliberado que Portugal jogaria com a França. Assim, esse jogo seria designado da seguinte forma:

Jogo Estandartes em Jogo (em Encontro)
Portugal x França Inspiração na Esperança na
Esperança Inspiração

     Derivado de

Nação Estandarte
Portugal Inspiração
e
Nação Estandarte
França Esperança

     O sorteio também teria ditado que o motivo do encontro seria a Verdade, ou seja, além de ter sido atribuído um Estandarte a cada nação, daria passo à criação de um Estandarte para o próprio jogo, conferindo um valor marcadamente simbólico ao encontro dessas duas nações.

     Parece-nos extremamente importante que seja passado o sentido do encontro e não do confronto, ou seja, não diríamos que Portugal joga contra a França, mas sim que Portugal se encontra com a França, e vice-versa. Daí não podermos dizer que é um jogo em que a Inspiração vai competir com a Esperança, mas um jogo com um atributo muito específico (Inspiração na Esperança ou Esperança na Inspiração) que nasce da confluência do atributo Inspiração com o atributo Esperança, do encontro dos dois atributos.

     Entretanto, o jogo entre estas duas nações e a junção dos seus respectivos atributos produziria o lema do encontro, o qual, no exemplo, é construído com o atributo da Verdade. Teríamos então:

O encontro da Inspiração com a Esperança para o encontrar da Verdade.

     Neste caso, o lema inscrito no estandarte do jogo em questão poderia ser o seguinte:

"A VERDADE DA ESPERANÇA E DA INSPIRAÇÃO NA UNIÃO DOS POVOS"

3.6  Alguns exemplos de como os atributos da Alma Humana se adequam aos da Alma do Futebol

3.6.1  Irmandade

     Todos somos filhos da mesma Vida que nos criou, portanto, todos somos irmãos.

     A Alma de cada um e da humanidade é Irmandade.

     O Futebol é Irmandade

     A alma do Futebol é feita de fraternidade, onde primeiro se irmanam os elementos que compõem a própria equipa e, aos poucos, vão extravasando esse sentido para os elementos das outras equipas.

3.6.2  Força

     A força é a fonte da energia vital. Sem ela nada seria feito. Além de ser a fonte dessa energia de vida é também a constante sustentação dessa vida.

     A Alma de cada um e da humanidade é Força.

     O Futebol é Força

     A alma do Futebol é feita de força. Tanto cada jogador como cada equipa necessitam de força para a tentativa de realização do seu anseio, sendo essa força tanto física como psicológica.

3.6.3  Liberdade

     No que diz respeito a este glorioso atributo, a liberdade, o registro do movimento histórico fala por si. Multidões e gerações têm-se entregado para a consecução deste valor inestimável. Ainda está quase tudo por fazer porque, embora os homens tenham vindo a conseguir novas conquistas nesta senda, os egos, nos seus automatismos, vão encontrando e refazendo, em renovados contextos e manifestações, outras prisões. Mas nesse encarceramento as almas vão clamando pela sua libertação. Nenhuma criatura é feliz se não tiver liberdade.

     A Alma de cada um e da humanidade é Liberdade.

     O Futebol é Liberdade

     A alma do Futebol é feita de liberdade. Isto quase que parece surgir em oposição à ordem, mas não é assim porque, para além da obediência às diretrizes pré-estabelecidas, há o génio individual que se quer livre para que se possa manifestar e, como bem sabemos, tantas vezes fazer a diferença devido a esse movimento em liberdade.

3.6.4  Paz

     Sem estabelecer a paz, a humanidade não se realizará. Eis um dos grandes anseios da alma, um dos maiores anseios de cada homem, mulher, criança. Enquanto estivermos dispostos a levantar armas contra aqueles que não partilham das nossas visões, opiniões, crenças, estamos impedindo a possibilidade de unificação das inevitáveis diferenças e obstruindo a paz que tanto necessitamos para todos os campos da nossa vida.

     A Alma de cada um e da humanidade é Paz.

     O Futebol é Paz

     A alma do Futebol é feita de paz. É sempre uma sensação de plenitude que fica de um jogo que foi bem disputado, sem casos violentos, em que se viu os jogadores ocupados em jogar e desenvolver as suas técnicas individuais e de equipe e não em impedir agressivamente os adversários de fazerem o mesmo, colocando-lhes em risco a integridade física e até toda uma carreira caso aconteça uma maior infelicidade. O tempo útil de jogo é logo bem mais ampliado do que num jogo onde essa paz não se fez sentir, e, quase de certeza (ou como maior probabilidade), o jogo deverá ter sido muito mais belo e inspirado do que qualquer um onde tenha acontecido uma "guerra tribal".

3.6.5  O Futebol tem Alma e a Alma criou o Futebol

     Nesta dissertação quisemos demonstrar a ponte e analogia entre a alma humana e a alma do futebol. Quisemos mostrar como uma mergulha na outra, como uma se vale da outra, como têm anseios e naturezas comuns. É interessante ver que cada um dos atributos da alma que foram escolhidos contém todos os outros. Ou seja, por exemplo, não é difícil perceber que a Harmonia contém e é feita de Vibração, Força, Inspiração, Justiça, Paz, etc. Não é difícil perceber que a Irmandade contém e é feita de Esperança, Amizade, Sabedoria, ou outros, e que sempre assim se verifica com todo e qualquer atributo.

     Todos os outros atributos que não são aqui mencionados (ver outras possibilidades no Anexo 3) poderiam ter sido exemplificados e também neles se verificaria que todos os outros estão contidos.

     Este fenômeno vem reforçar o sentido de unidade e união almejado pela alma de cada ser para com as outras almas, pela alma de cada nação para com as outras nações, por todo o planeta, por toda a humanidade. E o futebol pode ser um belo e eficaz meio a serviço deste glorioso propósito de unificação.

3.6.6  Visão de um pormenor do Campeonato

     Para tornar as coisas mais inteligíveis e de alguma forma imaginar até onde se pode levar o conceito aqui explanado, vamos fazer uma projeção, uma descrição de como, na nossa visão, tudo se poderia processar.

     Assim nos encontramos, então, no início de mais um jogo. Vamos olhar e ver o que está a acontecer.

     "A multidão está ao rubro. As claques vão cantando e expressando a sua alegre expectativa. A vibração tudo preenche, a todos contagia. Está em perspectiva um dos jogos da primeira fase, um jogo de um dos quatro grupos das primeiras eliminatórias. Todas as possibilidades ainda estão em aberto e, dentro em pouco, algumas se definirão no retângulo verde que, para já, permanece lá em baixo vazio de jogadores. Vazio de jogadores, mas cheio do som das emoções que nele se vertem, bem como das coreografias e música que se ouve.

     No quadro eletrônico pode ler-se:

(Nação X) Liberdade x Paz (Nação Z)
O encontro da Liberdade com a Paz para o encontrar da Harmonia
"A Harmonia da Liberdade e da Paz na União dos Povos"

     Os paladinos da Liberdade (a Nação X) vão encontrar-se com os portadores do estandarte da Paz (a Nação Z). Há um grande propósito neste jogo, neste encontro: o jogo está dedicado à Harmonia. Este jogo é o encontro da Liberdade com a Paz para o encontrar da Harmonia, e tem como ação concreta criar meios e energia a todos os níveis para entregar a própria Harmonia do Alimento, da Saúde e da Educação ao Mundo. O mesmo se irá passar com todos os outros jogos deste campeonato, com os seus respectivos símbolos.

     Entretanto, também esta mensagem está expressa em cartazes imaginativos no relvado e nas coreografias que aí se desenvolvem.

     Grande parte do público adquiriu camisetas onde, além da bandeira da sua nação, está inscrita a mesma mensagem que se lê no grande painel eletrônico. Com a coordenação da UEFA/FIFA, há alguns elementos da organização dos jogos que, posicionados no nível das cadeiras mais baixas do público, começam a desdobrar imensos cartazes (onde se lê a mesma mensagem) que cobrem centenas de pessoas em simultâneo, passando-os aos espectadores mais próximos, os quais os vão passando sempre para os espectadores mais acima, até atingirem o topo das bancadas. Ainda é dado um efeito mais belo pelo fato de estes cartazes não estarem sendo transportados ao mesmo tempo, só se começando a desdobrar o próximo quando o anterior chega a um terço do seu percurso ascendente, o que faz com que todo o público consiga apreciar o espetáculo inusitado.

     Enquanto isto ocorre, nas diversas televisões de todo o mundo, os locutores e comentaristas, além dos pormenores desportivos, vão discorrendo sobre todo este novo conceito implementado pela UEFA e FIFA: as pontes entre as almas do futebol, das pessoas e do mundo. Debruçam-se também sobre os planos e projetos de todo este movimento se materializar em ações concretas na tentativa de minorar a fome e a doença mundiais, bem como providenciar meios para apoiar a educação mundial.

     À mesma hora, nas programações de outros canais de outros países, outros jogos estão sendo vistos (aqui vê-se o encontro da Inspiração x Sabedoria, ali vê-se o encontro da Justiça x Igualdade) mas em todos os encontros se projeta a ideia central: os estandartes de cada equipa que se encontram para dedicar o momento à manifestação de um terceiro atributo, o qual define o propósito do jogo e que será incorporado, na sua especificidade própria, à

"A União dos Povos pela Alma do Futebol"

     A festa, a expectativa, a emoção avançam para um clímax. Pressente-se a qualquer momento a entrada tão ardentemente esperada dos jogadores no gramado.

     E não se espera mais: eles começam a surgir do túnel de acesso dos balneários. A multidão explode em uma só aclamação.

     Como desde há uns anos, a partir de uma bela e inspirada ideia, cada jogador traz uma criança pela mão (uma das imagens que vale por mil palavras). Mas desta vez há uma novidade. Conforme os jogadores saem do acesso estreito, as duas filas, cada uma correspondendo a cada equipe, afastam-se e os jogadores deixam o público perceber que entre as duas filas eles seguram os seus estandartes. Uma das mãos estendida à criança e a outra segurando o estandarte. Cada estandarte tem a bandeira da nação e o atributo que ela vem entregar. Mas mais belo é ver que as duas equipas seguram em simultâneo os dois estandartes, as duas bandeiras, os dois atributos da alma, Liberdade e Paz, como se as duas fossem uma só, enquanto a equipe de arbitragem carrega o terceiro estandarte, o fruto deste encontro, a Harmonia.

     Desportivamente, uma das Nações será a vencedora, mas seja ela qual for, o conceito e o encontro já venceram inevitavelmente.

     O terceiro estandarte, aquele que simboliza o encontro, é transportado pela equipe de arbitragem, o ponto neutro que permite a manifestação do atributo em gestação, aplicando as regras do jogo que, ao serem cumpridas, revelam o próprio estandarte de cada equipa.

     Neste caso, estamos assistindo ao encontro da Liberdade com a Paz e os árbitros trouxeram o estandarte da Harmonia. A Harmonia do jogo será uma resultante imediata dos atributos Paz e Liberdade das duas equipas, ao não infringirem as suas leis e a arbitragem delas decorrente.

     Está dado o primeiro passo para que a unificação ganhe consistência e se venha a realizar em ações concretas.

     Pensamos que nesta breve dramatização se consegue ter um leve prenúncio das proporções que este conceito poderá suscitar. Seriam imagens que valeriam por milhares de palavras.

3.7  Um jogo para a obtenção dos recursos

     Tendo em vista que este projeto tem como propósito a abertura a uma nova consciência do papel do futebol para a União dos Povos e a execução de programas de apoio, a nível mundial, para a evolução do homem em áreas carenciadas, e que tal se dará pela ação do projeto acima explanado, propomos que, para a obtenção dos recursos necessários à sua implementação e para que outras receitas sejam apuradas e geradas para ações concretas ao nível da educação, da saúde e da alimentação, pelas vias que adiante sugeriremos, se desenvolva um jogo, parte do grande entretenimento que é o campeonato de futebol, no qual participariam todos os adeptos e que faria reverberar todo este novo movimento para uma nova consciência.

     Parece-nos que é uma fórmula que se pode traduzir em receitas volumosas para aplicação em programas nas áreas anteriormente definidas.

     A ideia é a da criação de um jogo de apostas (no Anexo 4 é entregue um possível esquema desse jogo), o qual poderia custar cinco euros. Este baixo custo é pensado de forma a garantir a adesão maciça das populações, já que os formulários deste jogo seriam distribuídos em todo o mundo, tendo as pessoas conhecimento claro e objetivo de que as receitas do jogo seriam empregues em ações de assistência social.

     Como se pode verificar, é um jogo de somas de parcelas onde seriam premiados os apostadores que atingissem as pontuações mais elevadas. Deveria haver um prêmio fixo percentual em relação às receitas, o qual seria dividido pelos apostadores que viriam a obter as tais pontuações mais elevadas, ou algum outro sistema de prêmios já experimentado.

     Uma sugestão interessante para a distribuição dos formulários seria fazê-la por intermédio da mídia, em jornais e revistas, ou por meio dos agentes de apostas e loterias espalhados pelo mundo, ou outros meios de distribuição aos quais se poderiam associar agentes de diversos tipos que quisessem contribuir para esta ação de cunho social.

     A partir da aplicação de todo este conceito aqui apresentado poderiam ser criados todos os produtos a comercializar antes, durante e após a realização da fase final deste Euro 2016 e dos posteriores campeonatos.

3.8  Como se distribuiriam os recursos?

3.8.1  Projetos de âmbito humanitário

     Finalmente, após esta abordagem a um projeto que pode ter contornos, desdobramentos e implicações enormes, chegamos ao momento da exemplificação da aplicabilidade dos recursos obtidos com esta ação.

     Uma possibilidade é a distribuição destes recursos poder ser feita posteriormente mediante concurso público, por meio do qual se proporiam as Organizações Não Governamentais (ONG) para o usufruto e aplicação desses dinheiros. A condição básica poderia ser que essas ONG's operassem nos âmbitos focados no projeto: nutrição, saúde, educação (por exemplo: Legião da Boa Vontade, UNESCO, Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras, etc., etc., etc.).

     Parece-nos importante a possibilidade da criação de uma comissão que faria a gestão e fiscalização de todo este processo. Esta comissão poderia ser constituída, por exemplo, por elementos da UEFA/FIFA, da Sociedade Civil, do Gabinete da Presidência da República, e outros.

     Dois exemplos de possíveis projetos:

     COMBATE À FOME:

     A título de exemplo, na área de combate à fome, alguns recursos poderiam ser utilizados para se criarem meios de recolha, transporte e distribuição, em países mais carenciados, dos excedentes agrícolas mundiais, em uma tentativa de se acabar ou minimizar o fato de toneladas e toneladas de bens alimentares serem despejados nas lixeiras ou destruídos.

     EDUCAÇÃO:

     Queremos deixar um só exemplo de como este conceito dos atributos da alma poderia ter continuidade mesmo no tempo que medeia entre cada campeonato:

     Todos os anos, na maioria dos estabelecimentos de ensino, são feitos campeonatos de futebol interturmas, e em alguns casos mesmo interescolas. Seria altamente benéfico e educativo se este conceito também aí fosse aplicado (a pequena história ficcionada presente no início do texto do presente projeto dá algumas indicações e pistas do possível funcionamento desses campeonatos).

     O princípio "A União dos Povos pela Alma do Futebol" deveria permear a distribuição de todos os recursos que adviessem da execução deste projeto e que deveriam ser discutidos em momento oportuno, caso haja uma adesão dos responsáveis da UEFA e da FIFA, de cuja concordância depende obviamente o desenvolvimento de toda esta proposta.

     O espírito do projeto é altruísta, utópico e de cunho evolucionário e é com esse espírito que gostaria que a sua insigne Organização faça parte deste projeto.