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Eu me preocupo bastante com um mundo que endeusa o bíceps, e que, de alguma maneira inexplicável, teme o cérebro.
Podendo viajar pelo mundo e conversar com as pessoas, eu tenho o hábito de fazer perguntas.
"Vocês acham que é bom tornar seus filhos mais fortes?"
É claro que sim. A resposta é tão óbvia que faz a pergunta tornar-se absurda.
"Vocês acham que é bom fazer suas crianças mais saudáveis?"
Claro que sim. Que pergunta mais tola.
"Vocês acreditam que é bom dar às nossas crianças mais conhecimento?"
Claro que sim. Aonde você quer nos levar com essas perguntas?
"Vocês acham que é bom fazer nossas crianças mais inteligentes?"
Há uma clara indecisão. A platéia se divide e demora a responder. Muitos rostos estão pálidos ou perturbados. Algumas cabeças acenam afirmativamente. A maioria dos sorrisos está nos rostos dos pais de crianças muito pequenas.
Por que será, em nome de tudo o que é sensato, que as pessoas têm medo de muita inteligência? Ela é a marca registrada dos seres humanos.
Este medo ficou registrado, anos atrás, numa entrevista de televisão à B.B.C.
Nós vínhamos dizendo que ensinamos crianças muito pequenas através de seus pais.
O entrevistador era inteligente, de olhos vivos, desembaraçado e cordial, mas estava claro que ele estava ficando muito preocupado com o rumo que a conversa estava tomando. Finalmente, ele não agüentou mais.
Entrevistador (acusadoramente): Me parece que você está propondo um tipo de elite!
E: Você confessa que está propondo a criação de um grupo de elite entre as crianças?
E: E quantas crianças você quer ter nessa sua elite?
E: Um bilhão? Quantas crianças existem no mundo?
E: Hã-hã, agora começo a entender - mas a quem você quer torná-las superior a?
N: Quero fazê-las superiores a si próprias.
E: Agora eu entendo o que você quer dizer.
Porque temos que encarar a inteligência como uma arma para ser usada entre as pessoas?
O que os gênios nos fizeram para que tenhamos tanto medo deles? Alguma coisa?
Que mal fez Leonardo da Vinci a nós com a Mona Lisa ou a Última Ceia?
Que mal nos fez Beethoven com sua Quinta Sinfonia?
Como foi que Shakeaspeare nos prejudicou ao escrever Henry V?
Que mal nos fez Franklin com a sua pipa e eletricidade?
Que regressão experimentamos com Miguelângelo e suas esculturas?
Que mal nos fez Salk com sua vacina que fez da pólio uma doença extinta?
Como ficamos prejudicados pela Declaração da Independência de Thomas Jefferson, que me faz chorar não importa quantas vezes eu a leia, ainda que eu a tenha decorado palavra por palavra há muito tempo?
Que tristeza pode nos causar o Mikado de Gilbert e Sullivan, que é capaz de iluminar o mais triste dos dias?
Como será que ficamos prejudicados pelo gênio prático de Thomas Edison, que sabia que o gênio é composto de um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração; e que esteve comigo no Deserto de Kalahari da última vez que eu visitei uma tribo de povos primitivos, iluminando a minha noite escura com uma simples lâmpada elétrica acionada por um pequeno gerador?
Esta é uma lista sem fim que se estende por países e oceanos e volta aos tempos imemoriais. Inclui os gênios consagrados e os desconhecidos de todos os lugares do mundo.
Faça a sua própria. Quem são os seus gênios favoritos e que mal lhe fizeram até hoje?
Ah! Gênios favoritos. E que tal os gênios malditos? Será que eu ouço um coro perguntar - e que tal os gênios malditos da história? Será que percebo uma pontinha de triunfo quando alguém diz, "Que você acha do Hitler?"
Gênio do mal, coisíssima nenhuma.
Experimente dizer assassino de multidões se deseja uma descrição de Hitler e de toda a sua laia através da história. Será que é preciso ser muito inteligente para incitar a insanidade em massa no homem, predador conhecido por Australopthecus Africanus Dartii, que há poucos dias atrás, que é como os geólogos descrevem tempo, empunhava um tacape e esmagava crânios?
Hitler foi um fracasso pelos seus próprios padrões, sem falar nos meus. Será que é objetivo dos gênios terminar num chão de concreto encharcado de gasolina e incendiado por sua própria ordem? Teria sido o seu objetivo morrer com a Alemanha em ruínas ao redor do seu corpo carbonizado?
Nós somos forçados a lidar com o paradoxo do gênio do mal somente se formos nos basear em definições arcaicas de gênios, medidas por testes de inteligência absurdos.
O gênio malévolo ou o gênio ineficiente são produtos da mesma perspectiva. Eles não são nada mais do que um erro monumental na maneira de medir a inteligência.
Por que nos deixamos guiar por definições que são patentemente - absurdas?
Para não mais temer os gênios, só é preciso medir os seus feitos.
Será que tememos o termo "elite", que significa "o melhor de um grupo"? Aparentemente, só quando se aplica à inteligência. Será pecado ser membro de uma elite física? Nunca na vida.
Nós tememos inteligência e endeusamos músculos.
Periodicamente nós atravessamos um processo divertido, que é proclamado pelos habitantes de todo o mundo.
Isto termina quando dispomos três jovens adultos um pódios de alturas diferentes e colocamos uma medalha em volta do pescoço de cada um. Então os proclamamos como crème de la crème, os três melhores do mundo. Esta mocinha é capaz do mais alto salto de todo o mundo. Este rapaz é o mais rápido corredor do mundo. Corações batem alto, olhos brilham repletos de lágrimas e peitos transbordam de orgulho a cada bandeira hasteada e cada hino executado. E se aquela bandeira e aquele hino são os do meu país, a alegria é então indescritível.
Será que eu estou menosprezando o elitismo acima de todos os elitismos chamado Olimpíadas?
Não, é claro que não. Eu acho que é bom. E algo de positivo que os nossos jovens sejam fisicamente superiores.
Nós acreditamos que todas as crianças deveriam ser fisicamente excelentes.
Em verdade, nós ensinamos os pais a fazerem precisamente isso.
Eu me preocupo demais com um mundo que adora músculos e teme a inteligência.
Durante minha vida, passei por muitas ruas, tarde da noite e sozinho, em diversos países. Nunca em todo esse tempo - enquanto passava por um beco totalmente escuro - jamais temi que alguém saísse das trevas ... e me dissesse alguma coisa muito inteligente.
Ou me fizesse uma pergunta brilhante.
Por outro lado, muitas vezes eu me preocupei, além da medida, com que cento e cinqüenta quilos de músculos pulassem sobre mim e me destroçassem.
Eu me preocupo com um mundo que endeusa os músculos e teme a inteligência.
Eu não posso deixar de pensar, a cada eleição presidencial, se todos estão com medo que o candidato republicano ou o democrata seja inteligente demais.
Não é o contrário que nos dá medo?
Alguém já temeu alguma vez que nossos senadores ou deputados fossem demasiadamente inteligentes?
Ou será que receamos que os nossos líderes possam não ter sabedoria suficiente? O mundo rolou de rir há dez anos ou mais quando um membro do congresso americano disse que o governo precisava de mais mediocridade. O que possuíamos era menos do que medíocre. Deveríamos ter rido ou chorado?